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Organizado por Jorge Ferreira e

Lucilia de Almeida Neves Delgado

O Brasil
Republicano
0 tempo da ditadura - regime militar e
movimentos sociais em fins do século XX

Livro 4

6a edição

M VIIJZAÇÂO B R A S IL EIR A

Rio de Janeiro
2013
Crise da ditadura militar e o processo de
abertura política no Brasil, 1974-1985
Francisco Carlos Teixeira da Silva
Professor titular de história moderna e contemporânea. Laboratório
de F.studos do Tempo Presenre/TEMFO. Universidade do Brasil/UFRJ.
Am s l n t a ç ã o
Id I Al JURAS £ ABERTURAS POLÍTICAS

America do Sul e ditadura militar tornaram-se, ao longo das décadas de 1960


H |U70, quase termos sinônimos. A multiplicação dos regimes militares, com
t|MH típicas características, em especial as acusações de violações aos direitos
liiHiMiios, ocupou as décadas dc 1960 e 1970 por todo o continente sul-ame-
||i ano — com exceção da Venezuela e Colômbia —, para entrar em crise nos
ttllok IPSO, quando uma série de aberturas políticas reinstalou regimes repre-
WMIrttivos na maioria dos países do continente. O entendimento de como tais
tflilmeS — em seu apogeu amplamente temidos por suas populações — entra-
Mm cm crise, alguns puramente em colapso, implica não só analisar tais pro-
ttfisus de crise, seus atores e condicionamentos principais, como ainda entender
H(ifrtpria natureza das ditaduras no nosso continente. Nesse sentido, a histó-
IM irecnte desses países — o nosso tempo presente —, tendo o Brasil à frente,
tHPirec uma reflexão aprofundada, no sentido de reviver as condições que per-
HHIInmi a implantação das ditaduras, bem como a natureza e o alcance de sua
itliiil política e econômica, visando, desta forma, ao seu entendimento e tam-
Iiími ti impedir a instrumentalização do esquecimento como arma política contra
Nt democracias. Assim, contra o esquecimento da história do tempo presente
=«■rnquecimento apenas paradoxalmente pregado pelos responsáveis pelas
(Incluras e pelos condutores das transições em direção às aberturas democrá-
|ltiJ> —, propomos um voltar-se cuidadoso sobre uma história que é, ao mes-
||m lempo, recente e esquecida: os processos de redemocratização.
Assim, a insistência numa memória da crise das ditaduras deverá, (a) em
fifmeim lugar, construir o lugar da violência e do arbítrio na história recente

24 5
>H
0 MN A S ) L Ht P U Q I I C A N O

dos povos latino-americanos — para alem dos interesses imediatos dos polM
ticos que articularam as chamadas aberturas, convencidos dos méritos {eilíj
alguns casos em proveito próprio) do esquecimento; (b) em segundo /;r£rf({l
dever-se-á assegurar a multiplicidade dos lugares de fala, dos diversos ator
qualificados como enunciadores de urna memória dos chamados anos de chutm
bo-, (c) devemos ter claro que boa parte do que nos próximos anos será deiHfr
minado de história terá agora a delimitação de sua legitimidade como
histórico, o que nos exige, por fim — como historiadores —, (d) um í7<jf(}ii
engajamento em direção à salvação de acervos, depoimentos, arquivos e luglli
res de memória — atingidos claramente como alvos a serem destruídos (Ml
nome da unidade nacional. Em torno de arquivos e lugares de memórlrt)
ameaçados pela ainda onipotente ação das forças militares e policiais nfí
continente -— as diversas negativas em abrir e tornar públicos arquivos
pelos políticos engajados no esquecimento, trava-se hoje uma acirrada lllfi
pela preservação de uma memória do tempo presente.

A CRISE DAS DITADURAS <\

O final dos anos 1970 e a década de 1980 assistiram, por toda a Amérltf
Tqj
Latina, a um intenso movimento de redemocratização, com a substituiçfllj
das ditaduras militares que desde várias décadas dominavam o panoraffll
político continental, não sendo o Brasil um caso único ou modelar do pffl
cesso de transição democrática, embora, é claro, guarde, como veremos, Ind
meras especificidades.
Uma certa semelhança com as transformações em curso no Leste EufOj
peu dominado pelos regimes do socialismo real, desde 1985 com a ascemàl
de Mikhail Gorbachev, pode ser assinalada na América do Sul dez anos Af|!
tes, desde 1974 e 1975 e particularmente a partir de 1976, com a ascemjl
de Jimmy Cárter à presidência americana: crítica ao predomínio de um ptffi
tido oficial — ou instituição que faça as vezes deste partido; recuo do cofli
trole do Estado sobre a economia; estabelecimento da liberdade de expresíi
e de organização e denúncia da atuação de polícias políticas responsáveis P«l|
repressão das dissidências. A assunção ao poder de Mikhail Gorbachev aCfli

2 4 6
ipMJllllli HPfi

( M I J l DA DI T ADURA MU I t AN « 0 M 0 f. 1 1 1 0 D I: A B l R T U RA P OL l T I C A

Iprmi tal processo a uma velocidade inesperada, culminando, entre 1989 e


|9 9 l, com a derrubada dos redimes do socialismo real.1
I >a mesma forma, uma firme ação de Jimmy Cárter em favor dos direitos
humanos abriu novos espaços para a atuação das oposições no Brasil e em
Indo o continente.2Tal visão, muito comum nos meios de comunicação e em
(diurnas análises dos chamados brazilianists, impõe uma série de dificulda-
ilt% embora guarde também boas chaves de análise dos processos locais de
dhrrtura.
No caso latino-americano, o processo de luta pela democracia e a crise
(hl* ditaduras já haviam, em verdade, iniciado bem antes, ao menos desde
|474, a partir de dois pontos distintos de ação: de um lado, a formulação
I l,it .i de um processo de inserir o Brasil num Estado de Direito, conforme o
l,iii/rt() Geisel-Golbery e, de outro, a formidável vitória eleitoral do M D B
hii I ^74, o único partido de oposição permitido pelo regime.
Vemos, assim, desde já os principais atores em presença no longo jogo
piilú ico denominado abertura: a pressão exterior, representada principalmen-
: |r pelo governo Cárter e, também, os condicionantes da economia mundial;
li projeto de abertura do poder militar, traduzido na estratégia Geisel-Golbery,
H ,i ação autônoma, porém condicionada, da oposição. Estes são os princi­
pais atores em presença, embora não necessariamente únicos, ao longo dos
rUins 1970 e 1980, em torno da ampla luta sobre a forma, objetivos e ritmo
ila abertura, ou transição, do regime militar implantado em 1964 em dire­
t o a um Estado de Direito.
Devemos ainda ter em mente que o fenômeno das ditaduras sul-america-
V uas não foi exclusivo dos anos 1960, embora sejam neste momento regimes
r Npccíficos e, da mesma forma, as aberturas — como a processada em 1945-
|V4ft — também já estivessem presentes em nossa história. A novidade resi­
tie nos atores em cena — pressão externa; militares e oposição civil, num
Contexto de Segunda Guerra Fria.3
Um primeiro ciclo de ditaduras latino-americanas pode ser identificado
üiiiíi
IM década de 1930. Foi nesse momento, sob o impacto duplo da crise eco-
Hii1". IlAmica mundial de 1929 e do desafio à hegemonia britânica sobre o conti-
llpnte, com o advento de novos imperialismos (do Terceiro Reich alemão e
lios Estados Unidos, em especial), que as tradicionais formas de dominação
,
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0 I NA 1 1L I t M J S U C A N O

nas repúblicas latino-americanas, baseadas em suas largas plantaciones vnl<


tadas para a exportação, entraram em colapso. Entretanto, o fim humilbrtll«
te das experiências autoritárias e fascistas europeias, em 1945, implicou unirik
ampla recuperação democrática no continente, com o caso exemplar do llra»[|
em 1945, através de uma primeira experiência de transição democrática m'i ,j
continente.4 Assim, não partilhamos a opinião daqueles, como Jacqnes Litui» '
bert, que apostam numa continuidade secular, desde as guerras de indejí jjf|n jl
dência, no início do século X I X , até os nossos dias, dos regimes autoritárEoij
no continente, propondo uma linha de perfeita continuidade entre as ditfl» 1
duras caudilhescas do século X I X e as ditaduras militares da segunda metfltlf 1
do século X X .5 A nosso ver, os regimes autoritários que se instalaram Mi) ■
América Latina logo depois da independência — e seriam modelares os l
sos da Argentina e do Paraguai — têm características próprias, suficiente» j
para distingui-los dos regimes militares contemporâneos. Assim, as ditadil* :(■
ras latino-americanas não seriam nem enfermidades políticas nem tampouco ■ !j'|
estado patológico, como bem observa Rouquié,6 vigentes no continente sob í
a forma de uma tara ou incompetência ibérica, católica e barroca, como dirlrt 1
Caetano Veloso. nf
ijl
Assim, a nosso ver, o caudilhismo ou caciquismo do século X IX e do iníclO"
do século X X teriam entrado em crise em face das formas muito mais eficietv
1
tes e profissionais de ditaduras militares, não se apresentando como altern#»^
tivas viáveis para as sociedades já em acelerado processo de modernização
do pós-1945.7 Neste sentido, as acusações de atraso e caudilhismo feitas contri j
algumas forças políticas, como o trabalhismo no Brasil, refletem bem maij 0 j
nível de concorrência entre diversas correntes do que uma análise real do( I
processos políticos em curso.8
No caso brasileiro, os militares reatualizariam, em contato com as força»!
americanas e sua ideologia de segurança nacional decorrente da guerra fria/1
e mais tarde na Escola das Américas e outros centros de treinamento, seu»!
ideais de intervenção salvacionistas, agora diretamente vinculados ao clim#
jj
de enfrentamento Ocidente/Oriente decorrente da guerra fria. Assim, A;
pretensa continuidade histórica entre caudilhismo e ditadura militar mal en*:',
cobre um cerro preconceito de caráter antiibérico, de tradição weberianfl,
ao opor um certo pendor democrático dos povos protestantes e de origeffl

2 4 8
trtllí Ü A ÜI TAOUHA MIUTA* ( O P UI ) C H I O () t ABERTURA POLÍTICA

Itnrir-turopeia a uma tradição ibérica do maiido.J Cabe ainda destacar que


iUnplos setores do empresariado moderno, por todo o continente, viram nos
( M ilit a r e s uni esteio para a estabilidade, o crescimento e a segurança de seus

projetos econômicos.s
Assim, entre 1945 e 1964 inúmeros golpes, deposições de presidentes,
plonunciamientos e quarteladas são produzidos por uma baixa oficialidade
(Hl rema mente politizada e fortemente envolvida no clima de anticomunismo
liplco da guerra fria. Neste sentido, desempenha um papel central a criação
p a atuação da Escola Superior de Guerra, a ESG, centro de formulação e
planejamento de um regime militar capaz de regenerar a nação. Daí emanam
11« princípios básicos que constituirão a ideologia da segurança nacional, fun­
damental na constituição da ditadura de 1964 e de forte impacto sobre o
continente. Entretanto, coube ainda à ESG formular, com originalidade —
ipicr dizer, sem copiar qualquer modelo americano — , um viés desenvolvi-
titentista e autonomista, característico do nacionalismo existente nos círcu­
lo« militares, criando a tensão permanente no interior da própria instituição.
|'or nutro lado, ao longo das lutas travadas durante o processo de abertura,
muros grupos militares desempenharam um forte papel, como a chamada
I 'imunidade de informações e o grupo áulico, montado em torno do poder,
principalmente durante o governo do general João Figueiredo.
lais são os atores principais e seus condicionantes a serem considerados
lia reconstrução do cenário da redemocratização no Brasil: a pressão externa
p os condicionantes da economia mundial, na qual o Brasil já se inseria de
Inrma determinante e definitiva; os militares e seus condicionantes institu-
ttonais, compreendidos como a corporação e seus organismos e, por fim, a
aposição, representada pelo M D B e seus condicionantes inscritos na cultura
puHiica envolvente.1'1
Estavam, assim, desde o início dos anos 1970, já escalados os atores prin-
tlpais do processo de abertura, bem como seus condicionantes políticos,
econômicos e institucionais. Cabe agora uma análise de tais atores e seus
projetos.

2 A9
0 SN A I I L A l AU B LI C AN 0

0 ATOR EXTERNO E SEUS CONDICIONANTES

Muitos autores valorizam amplamente a pressão externa sobre os pafscB fw|i


americanos, cm especial em relação ao respeito aos direitos humanos, euh
um elemento estrutural das aberturas políticas no continente.11 Cabe,
dúvida, esclarecer previamente os móveis da ação americana e a mudanÇH d|j
expectativas entre as administrações anteriores, em especial de NíSotH-j'
Kissinger, fomentadores de golpes militares, e após 1976, com Jimmy Cârlíf|i
O conjunto de ditaduras militares no continente seria fortemente abnlmlit
! quando da mudança da política externa americana, na era pós-Guemt dtl'
Vietnã, em direção a uma estratégia global capaz de recuperar a hegemoíll#
norte-americana por outros meios que não o simples putsch militar, O Inpil
pacto da derrota no Vietnã, após anos de divisão da sociedade americail#
de perda de prestígio mundial, ao lado do drama de Watergate, impunhfllfj I
um importante turning-point da política externa dos Estados Unidos.
O país saíra da guerra pelo acordo de cessar-fogo — Acordo de Paris d|t
.TiHl
1973 — por demais dividido e, ao mesmo tempo, com seu prestígio de caitlrííj
ift?
peão do mundo livre absolutamente desacreditado, em especial quando dfl
queda de Saigon em 1975. O anticomunismo primário, a crença numa d**;
sastrada teoria do dominó, bem como anos seguidos de apoio às ditaduni#;
mais liberticidas do mundo (Indonésia, Chile, Haiti, Irã imperial, Congo etc.),i
mostrara-se não só ineficaz, como ainda danoso para os objetivos de longCI'
prazo dos Estados Unidos. As mudanças operadas na política externa flfl j
período final de Nixon, de forma revolucionária, obra de Henry KissingciVj
embora tivessem rendido bons resultados (Détente, aproximação com a Chi*;
na Popular, acordos SALT com os russos, reorganização dos interesses atlâtí*'
ticos etc.), mostravam-se ainda limitadas e, na verdade, haviam permitidflij
que os russos estabilizassem seu domínio na Europa através da Détente e d#'
Ata de Helsinque.12
Este voltar-se para uma Realpolitik da era Nixon fora acompanhadO|
entretanto, por uma notável degradação, no plano interno, dos padrões étl*'S
cos do fazer política, lançando aos olhos da nação práticas até então desço*1'
nhecidas e que culminariam no Escândalo de Watergate, entre 1973 e 1974(l
no caso das escutas clandestinas na Casa Branca e nas relações promíscuai!

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( H I S t DA DI T ADURA MI U T A R • 0 M I H M K I DI A t I R T UK A ROLfl I CA

t-niu o mundo do big bussiness (com n queda do vice-presidente Spiro Agnew


PU,), () fracasso do governo (ferakl Ford em realinhar-se com a confiança
tlii opinião pública americana acaba por permitir o fim do domínio republi-
Mim c o retorno da grande aliança democrata ao poder, com a eleição de
|||umy Cárter em 1976.
A campanha eleitoral realizada por Jimmy Cárter bem como sua prática
Administrativa apontavam para uma importante virada na estratégia ameri-
tiiiui, visando simultaneamente: (a) d recuperação do prestígio mundial ame-
htiiHo, com nítida associação entre política externa americana e direitos
(lllinanos; (b) a criar condições suficientes para retornarão enfrentamento com
ri União Soviética, de forma a projetar eficazmente a hegemonia global ame-
t l l illM .
A formulação de tais objetivos, em grande parte sob orientação do asses-
tnr de segurança nacional de Cárter, Z . K. Brzezinski, impunha, desde logo,
IMU elemento-chave para seu êxito: a credibilidade. Um ponto favorável, fun­
damental para garantir tal êxito, centrava-se na própria figura do presidente
dm listados Unidos (e sua atuante esposa), capaz de despertar simpatia e
yuníiança, após anos de experiência com Richard Nixon. Por outro lado, a
tdiiácia da nova doutrina externa americana dependia da sua própria uni­
versalidade, da consideração da universalidade dos valores morais e éticos
defendidos pelos Estados Unidos. Assim, a denúncia das violações dos direi­
to* humanos, da liberdade de expressão e organização na União Soviética
deveria ser acompanhada de uma crítica similar aos antigos aliados latino-
AMicricanos, que exerciam sobre seus povos um poder algumas vezes mais
Violento do que o de algumas ditaduras comunistas da Europa.
A prova de sinceridade, e por conseguinte da eficácia da nova estratégia
Americana, advém com a intensificação da guerra popular capitaneada pelos
Mtulinistas contra a ditadura de Anastácio Tachito Somoza, na Nicarágua.13
Na verdade, por todo o continente, os regimes ditatoriais esperavam uma
Ação clássica dos Estados Unidos, tal como as intervenções diretas (como
lotam os casos na Guatemala ou na República Dominicana) ou indiretas (como
Ho brasil, em 1964, ou no Chile, em 1973). Entretanto, malgrado todas as
hesitações e críticas, a administração Cárter manteve-se coerente e permitiu
a formação de um governo popular na Nicarágua.

i
l;1
2 5 1
r 0 IKAIll AtHUMUCANO

Os Estados Unidos sinalizavam, desta forma, que o longo histórico dfl


apoio às ditaduras militares latino-americanas havia se encerrado. Tais go«:
vernos deveriam, sinceramente, empenhar-se em reformas em direção à redo*
mocratização — no falar político do continente, cra o momento das aberturüi
—, capazes de estabelecer regimes democráticos estáveis. O sinal mais evl»
dente da sinceridade da política americana se dá quando, após inúmero#:,i
contatos secretos, Washington adverte publicamente o general-presid^ntl
Ernesto Geisel sobre a violação dos direitos humanos no Brasil. A resposta 4
imediata, e marca caracteristicamente o isolamento, a partir de então, dai
ditaduras; o general brasileiro denuncia os acordos de cooperação com ol
Estados Unidos. Nesta fase, Geisel, imbuído do nacionalismo militar, e cioso
dos preceitos de soberania nacional, enfrentou claramente os Estados Uni»
dos, com suas pretensões de reorganizar a hegemonia mundial pós-Vietnfl,,
Sem dúvida, as medidas mais irritantes de Geisel para com os americano#,1]!
em especial o Acordo Nuclear com a Alemanha, e o desprezo por seus pre*
ceitos de política externa — reconhecimento da China Popular, de Angola •
Moçambique, condenação de Israel na O N U — ajudaram os americanos t
apoiar a oposição interna no país.
E claro que a retórica americana sobre direitos humanos jamais colocotl
seriamente em risco, por exemplo, a ditadura de Pinochet no Chile, de lon»j
ge o mais odioso dos regimes militares no continente. Da mesma forma, noj
caso brasileiro as críticas ao governo Geisel encobriam uma nítida oposição
ao Acordo Nuclear assinado com a Alemanha, bem como ao extremo esta»
tismo e intervencionismo praticados pelo Brasil, inclusive com o estabeleci»
lj
mento de reserva de mercado em áreas de interesse americano. ifii
O turning-point da política americana não explica, isoladamente, as di»jl
versas aberturas latino-americanas a partir do início da década de 1980, como;
da mesma forma não é o único ator externo no processo de abertura brasilei­
ro. Na verdade, o continente fora fortemente batido pela crise e a recessão
da economia mundial, os chamados condicionantes externos. A longa depres»
são, óbvia a partir da Guerra do Yom Kippur, de outubro de 1973, que troui
xe consigo o bloqueio petrolífero, torna absolutamente frágil a situação
econômica da América Latina. Tal fato, o primeiro impacto petrolífero so*
bre a economia brasileira — o segundo será a partir da Guerra lrã-Iraque(

2 5 2
Liiiiaiiiuiui

C H I S lí D A D I T A D U R A MIUTAN I Q M O C M IU UH A D t H T U MA P U L l T I C A

filtre 1y80 e 1988 —, tem sitio fortemente valorizado. Contudo, devería­


mos, para entendê-lo em toda a sua dimensão, somar ao impacto do petró- j_
Ivodc 1973 a crise dos juros externos em 1982. Embora o choque dos preços
ilti petróleo tenha sido importante, em 1973, a abundância de capitais exis­
tentes no mercado internacional permitiu uma certa navegação sem turbu­
lências por pelo menos um ano, entre 1973 e 1974 — exatamente na passagem
tio governo Médici para o governo Geisel —, o que nos faz crer que a crise
petrolífera não desempenha um papel fundamental nas origens da crise po­
lítica da dominação militar no país.14 Na verdade, para vários analistas, in-
t lusive alguns atores internos — como o ex-ministro Delfim Netto —, a crise
)!: mundial, com recessão, de 1982, atingiu muito mais profundamente as eco­
nomias latino-americanas, em especial abrasileira, do que a crise do petróleo.
Devemos, em verdade, fazer algumas distinções. E claro que o nível de
i
endividamento dos países sul-americanos, principalmente o Brasil, estava por
demais elevado, e o aumento dos juros americanos, com a atração dos capi­
tais disponíveis para os títulos garantidos pelo Tesouro americano, criou as
toiidições para o encerramento de um ciclo virtuoso de crescimento no con­
tinente. 15
Alguns países, entretanto, como foi o caso do Brasil sob a administração
(irisei, tentaram fazer frente à crise, propondo estratégias alternativas ao
estrangulamento do crescimento econômico, como veremos mais à frente.
Entretanto, é importante notar que se o impacto da crise petrolífera de 1973
luto foi tão terrível quanto parece, sua continuidade em meados dos anos

|;[i: 1970 acabou por sangrar fortemente a economia brasileira. Muito rapida- 1
I1, mente o país tornou-se exportador de capitais, obrigando-se a um esforço ^
li:
ircscente de aumentar as exportações para financiar as importações de pe­
tróleo e, ao mesmo tempo, fazer face às obrigações decorrentes do endivida- I
mento externo.
Assim, o final da década de 1970 já assiste aos primeiros sinais de esgo­
tamento dos modelos econômicos latino-americanos, praticados, até então,
tom sucesso. As exportações que haviam feito da Argentina e Uruguai países
de nível europeu ou o Milagre Brasileiro, modelo da eficiência das ditaduras
militares, mostram-se incapazes de manter um processo de crescimento
mitossustentado.

2 5 3
9 IRAIIL R í P U i l, i 6 ANO

Sem capacidade de exportar, incapazes de oferecer produtos competi W


vos e com as fontes de financiamento cortadas, estes países apresentam-MtJ
no início dos anos .1980, em colapso. O exemplo mais didático, pelo (tlr
gannsmo de sua economia bem como de sua crise, é o Brasil, quando o gciltf*
ral-presidente João Figueiredo anuncia, em 1982, a incapacidade do paÍK il#
fazer frente às suas dívidas. j
Todo um ciclo de crescimento econômico encerrava-se nesse momdtfíí
com o modelo econômico esgotado. A crise do milagre econômico, 1drj|4r
mente baseado na repressão sindical, no arrocho salarial e na repressão ptlr
lítica, arrastava consigo a credibilidade dos militares e as bases social» dá
aceitação da ditadura, tal como fora praticada durante o chamado Mílii(tNJ1
Brasileiro.
A questão colocada por inúmeros autores sobre as relações entre abt>rU(t
ra e crise do modelo econômico precisa ser avaliada com cuidado. Em flll|
de 1973, quando se consolida a opção Geisei de sucessão a Médici, e portai^
to se dá como aceite o retorno da linha castelista ao poder — inclusive COflf
Golbery do Couto e Silva — , a crise ainda não é um dado presente, e o Bfrtull
apresenta índices de crescimento superiores a 10% ao ano, Na verdade, |tj!j|j;
cenário econômico otimista (e aqui tendem à mesma posição o gencrsH
Leônidas Pires Gonçalves e o próprio Geisei) tenderia a facilitar a transigi
Assim, na sua origem, não é a crise que condiciona a abertura; ao contráHOjiijfljjji
foi a eficiência econômica do governo Médici que favoreceu a sucessão Gcl»í|d
Golbery e, portanto, o projeto de abertura do regime. A crise econômica
isso sem dúvida, condicionar o ritmo da abertura, levando a opinião píiblltfl fl!
a voltar-se em sua maioria contra o regime militar,16 rll
m m

O ESTADO E A OPOSIÇÃO: OS ATORES INTERNOS


:!
;ii t.
f
Os dois principais atores internos em presença no jogo político da abertílMÍ fjil
foram, de um lado, o grupo militar constituído em torno do projeto Geisíliilsj
Golbery (ao qual deveríamos somar alguns outros generais, como Orlandlll
Geisei e João Figueiredo), herdeiros da linha política denominada casteihii
e interessados numa imediata reconstitucionalização do regime militar, c, Jfl

2 5 4
U lll DA D I î A D U « A M U I Í M I t) M I H t l K I D ( A fl E NT U HA POL Í T I C A

Mlllin liido, as forças políticas de oposição organizadas em torno do único


jHlHldo político de oposição, o M l) li, tendo à frente homens como Tancredo
Nt'Vrs, Ulysses Guimarães, José Richa, Fernando Henrique Cardoso, Franco
Muliloro, entre outros. Tal quadro, entretanto, não encerra toda a dirnen-
*So múltipla e fluída do processo político da abertura. No campo do Estado,
HUM série de políticos, como Petrônio Portella e Marco Maciel, empresários,
jiflu como as federações das indústrias — Fiesp à frente —, desempenharam
IIlh Importante papel, A Arena, depois PDS, o partido oficial da ditadura,
fltrihnn por ser o centro de inúmeras atuações fundamentais para o prosse-
lililinciUo do projeto de retorno à democracia, inclusive com sua implosão
(jlhivés do enfrentamento José Sarney versus Paulo Maluf, ou com o surgi-
Mrmo de quadros que seriam fundamentais na própria e paradoxal oposi-
^Aimio regime, como Severo Gomes e Teotônio Vilela. Por sua vez, no campo
llil npnsição, o M DB acabou por ser empurrado ern direção a uma atuação
ntiiis firme diante do regime militar por uma sociedade civil extremamente
(ilttiinizada, com os sindicatos, a Igreja, a imprensa, os artistas e auniversida-
llr desempenhando um ativo papel de crítica ao regime e, mesmo, ao seu
jimjeto de abertura política. Assim, tais atores, o grupo Geisel-Golbery e o
Ml til, apoiado na sociedade civil, e ancilarmente a própria Arena/PDS tive*
íriiii de aceitar, ao longo do percurso, dividir e ampliar o elenco de partici-
(iiiiitcs e negociadores, a ponto de, no seu auge — durante a campanha das
jllrr/íís Já — , incorporar toda a rua, ocupada por cidadãos exigindo demo-
lifiicia, ao processo de negociação política.
Para muitos autores, tal processo nunca esteve presente na abertura em
[ffmos de uma dialética Estado/projeto Geiseí Golbery, com seus condido-
Urttiles institucionais e MDB/sociedade civil, com seus condicionantes po-
llllcns.17 Baseando-se em entrevistas dos principais atores do projeto
(it»lsei-Golbery — como o próprio general Geiseí, Golbery, Leônidas Pires
(jimçalves, Aureliano Chaves e outros — , insiste-se na tese, formulada por
(iih atores, de que a abertura foi um projeto do poder — o esquema Geiseí
£<-’ conduzido conforme seus formuladores e sem alterações de rumo. O ex-
IMliístro Delfim Netto talve2 seja o exemplo extremo de tal formulação:

2 5s
D «HAilL mruuLICANO

[A oposição] nem ajudou nem atrapalhou [a abertura]. A abertura foi intM|


decisão interna [dos militares]. É irrelevante [a oposição]. Quando ouço (|
nosso Franco Montoro dizer: “ Nós conquistamos a democracia” , eu moiTf) j
de dar risadas. Porque não conquistaram coisa nenhuma.1*

1
Na verdade, faz parte da postura conservadora a recusa de pensar a cidadlM
nia, e os demais atores políticos, como parte do processo político e, ácrctl(t
tar com firmeza que evoluem num cenário vazio, onde são capazes d f
controlar todas as falas.
Vamos procurar esclarecer e ampliar a análise de tal processo.

A ABERTURA COM O PROCESSO POLÍTICO: ABERTURA OU ABERTURAS?

■ifjj
O processo histórico da abertura política no Brasil, entre 1974 e 1985, fi,l|
precedido de outros ensaios de reconstitudonalização do regime, temadtH
pelo poder militar e malogrados. Nas sucessões de Castelo Branco, em 196?),'
e de Médici, entre 1973 e 1974, esboçaram-se propostas de abertura poHlu í
: ca que foram rapidamente descartadas, Taís insucessos condicionaram fori'#*;
-: mente o projeto que afinal seria adotado por Geisel e Golbery, com seu carátffjjj
lento, gradual e seguro, visando exatamente a evitar os recuos antes vividdKij
A ditadura militar viu, logo após um período inicial de aceitação, um verti»
I ginoso crescimento da oposição. Parte das classes médias que haviam apolljjj
do o golpe, amedrontadas por uma forte propaganda da Igreja Católica J
as famosas Marchas da Família com Deus pela Liberdade —, afasta-se til)
governo quando este mostra a verdadeira face, com as amplas cassações tt |
profunda repressão aos sindicatos e demais órgãos de representação trabu
Ihista. Os vultosos recursos enviados pelos Estados Unidos e pela Alemanllí
Ocidental para a propaganda anticomunista, antes e imediatamente apó* (Ü
golpe — através da ação do Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Socia]n|t.
fachada montada por militares, entre os quais Golbery do Couto e Silva, tli;i
Escola Superior de Guerra, e que associa grande número de empresários (i
tarde, sob a ditadura, dará origem ao SNI, Serviço de Nacional de InformL
ções, polícia política que deu origem a inúmeros quadros da ditadura* ind^

2 5 6
(, K I 1 ( D* DITADURA M I kl f A N I 0 M B U I I O Dt AltltTURA fOLlTICA

tlvf tinis generais-presidentes) mV» conseguem melhorar a aceitação da desa-


HTilititda ditadura, causando especial mal-estar a dureza da política econô-
líilwl, A constante ação da oposição, capaz de reunir estudantes, líderes ;
lldhti thadores e intelectuais, que ocupam as ruas do Rio de Janeiro e São Paulo i
t*lili'r 1966 e 1968, acentua a crise do regime militar.19
A derrota da linha defensora do retorno aos quartéis — o general Caste- J
|n Branco e os profissionais — leva ao poder a ala mais radical — a chamada
linha-dura — das Forças Armadas, sendo seu líder, o general Costa e Silva, ,
Indicado presidente. A reação e a resistência — civil e, mais tarde, armada — !
rtuthaiu por convencer os militares de que o arremedo de democracia orga-
hl/ado desde o golpe de 1964 era inútil e mesmo contrário aos interesses da
urdem. As grandes manifestações de rua no Rio de janeiro (a Passeata dos
t nu Mil), bem como as greves operárias nos centros industriais de São Pau-
jii, abalam o consenso no interior das forças militares e a credibilidade da
tlíiRse média na saída golpista. Uma ampla frente de artistas e intelectuais
jti mluz uma verdadeira cultura da resistência, em que o teatro, a música po­
pular (a era da famosa canción de protesta latino-americana, com nomes como
Vtctor Jara, Mercedes Sosa, Inti lllimani, Chico Buarque de Hollanda, Pablo
Mii.més, Geraldo Vandré), a literatura, somados à ação de professores e es-
lililantes, isolam a ditadura de seus apoios populares iniciais.20 Assim, em
196H, no bojo de uma profunda crise econômica e da perda de controle das
Inus c avanço da guerrilha urbana — sequestro do embaixador dos Estados
Unidos, por exemplo — , produz-se o chamado golpe dentro do golpe, quan-
ilu uma junta militar impede a posse do vice-presidente, o mineiro Pedro
Alrixo, no afastamento por motivos de saúde do general Costa e Silva, e impõe
Ho país uma dura série de medidas policiais, consolidadas, numa sexta-feira
11(dezembro, 1968, início de uma longa noite de terror), no chamado Ato
IdRtitucional nü 5, arcabouço durável da ditadura no Brasil.21 Encerrava-se
llrsta forma trágica a ilusão de alguns militares, políticos e empresários orga-
IK/.idos em torno do que se denominou, por convenção facilitadora, linha
IHlstelista.22 Tais homens acreditavam numa intervenção breve dos militares
Itrt política, agindo de forma cirúrgica contra a subversão e o comunismo e
t*lti seguida retornando, cobertos de glórias, aos quartéis. A complexidade
ild vida política nacional, a busca de um novo modelo político, como prati-

2 57
r 0 «HAUL ((1‘ UUI CANO

cado pelos ultraliberais Bulhões de Carvalho-Roberto Campos, acaba por crlrtl


uma série de liames e dificuldades que inviabilizam uma primeira abertlirfl
política sob Castelo Branco e que deveria levar ao poder um hábil polítlofb
da U D N : Bilac Pinto.
A primeira abertura política no Brasil, após 1964, falhara.
O fracasso da proposta castelista acaba por aprofundar o envolvimcilRI:
dos militares — o processo do golpe dentro do golpe. Para muitos militarf»)
a culpa residia integralmente nas oposições, que não teriam entendido tJ;!
projeto de Castelo Branco. Entretanto, o impacto econômico e social drt|ii
reformas ditas saneadoras da dupla Bulhões-Campos, a brutal redução dc dl* í
reitos sociais dos trabalhadores acampanhada pela redução do valor real doí'
salários, poucas vezes entra na análise feita por estes mesmos militares, N# j
verdade, dá-se, de forma explícita, uma divisão de tarefas: aos militares Cd'
beria a segurança e a defesa dos ideais de 1964 — todos formulados em tff» :jjj|
mos castelistas — e aos economistas, o saneamento financeiro do país: 'Jjf
podem falar o que quiserem da revolução, mas todo o programa econôl|||i jj
co-financeiro nós entregamos aos ditos ‘sábios da escritura’ : Bulhões, Cainpii^ qj
Delfim etc.”23 Na verdade, colocava-se uma questão candente: a possibilldpèfl
de de abertura política durante um processo duro e rigoroso de reform«
beral de uma sociedade extremamente estatista. O projeto de abcrttH,|:j»
castelista estava, desta forma, fadado ao fracasso.

EUFORIA ECON OM ICA, REPRESSÃO E ABERTURA POLÍTICA iijt

A Junta Militar, após a morte de Costa e Silva, dá posse na presidência il|


República a um general desconhecido do público — embora bastante pu[MI*j
lar entre os militares e considerado uma ponte entre a linha-dura t Of-
castelistas. Garrastazu Médici, saído da presidência do Serviço Nacional d ! !
Informações (SNI), reuniria em suas mãos a maior concentração de potltiíflfjjjj
já vista na história do país; inicia um grandioso projeto econômico — I ||tl
gunda revolução industrial no país — , afastando-se assim dos ultralíbtTillfr
que haviam inspirado o golpe de 1964 e o governo Castelo Branco. Rentídliíj
radas as condições de crescimento econômico e as linhas de finandaniPlUjll

2 58
Ulltt DA DITADURA MlilTAH ( 0 PK0 C( I I 0 0 li A B E R T U R A POLlTICA

Itlltrnudonais, tranquilizadas pola consolidação do poder militar e o con-


Ifnlt* tias forças sindicais no país, inicia-se um amplo projeto de de sen volvi-
Hlplito nacional — a verdadeira doutrina da E S G —, voltado para a construção
do llrasil Cirande ou Brasil Potência.1*
I ) projeto desenvolvimenrista de Médici estender-se-ia até a gestão Geisel,
tfiiirmlo no desenvolvimento da indústria petroquímica, da química fina,
do" eletrônicos, além de uma espantosa rede de obras públicas de infraes-
illihiru — rodovias, pontes, melhoria dos portos e aeroportos, além da in-
dllMria bélica. Com Geisel, as fontes alternativas de energia receberão imenso
iipnln, cm especial com a construção de hidrelétricas como Itaipu e Tucuruí,
FpdcA de transmissão de energia, o Proálcool, o Acordo Nuclear com a Ale-
Mtiitilia, além da consolidação da indústria bélica no país, lançando o país no
imllisivo clube dos dez países mais industrializados do mundo.
A continuidade da política de concentração de renda, a teoria do bolo (se-
Ipimln a qual é preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois dividi-lo), o
lUiuclio salarial e sindical e a continuidade do fechamento político acabam
(Hrlcrando a reação política, com o aprofundamento da guerrilha urbana e
hii iil. Para os militares, foram “eles” (a oposição) que impediram um segundo
|*N*|rto de abertura, agora sob a égide de Médici. Aproveitando-se do sucesso
HkiMlAniico do Milagre Brasileiro, do clima de euforia gerado pela vitória na
l opa do Mundo de 1970 e da maciça propaganda em torno do Brasil Potên-
fM [Brasil, ame-o ou deixe-o!, dizia o slogan autoritário do regime), ter-se-ia
HiliNcguido realizar ao final da gestão Médici a transição para um regime de-
IMiicr.itico. Entretanto, conforme as palavras do general Leômdas, “ (...) eles
tmiieçaram com as bombas e os assassinatos!” . Também o general França
|)uiningue$, comandante militar de Brasília nos anos 1970, defende a tese de
Ijur o ministro do exército de Médici, Orlando Geisel — de quem era genro
propunha uma abertura política no final do governo Médici: “ {...) o perío­
do ideal para a volta da democracia era o fim do governo Médici. O próprio
Méili ei achava isso. Era a melhor hora de fazê-la. Não havia oposição alguma
tlriiim das Forças Armadas. Só não foi feita por causa desses atos provocativos,
Ktus guerreiros. Guerrilhas, assaltos a bancos, greves. Isso atrasou a abertura.”2J
O ponto de vista dos atores militares, embora não problematize a ques-
|An, prende-se claramente a um projeto de abertura limitado e conduzido

2 5 9
r 0 MAIIl M PUBLI C ANO

pelo alto, do qual estariam excluídas as forças de oposição, que então proCtf
ravam na revolta aberta contra o regime a realização do projeto de abcrttlfi
considerado verdadeiramente democrático.
I É neste sentido, na esteira dos sequestros de embaixadores estrangeirai;
j no país, que é editada uma nova Lei de Segurança Nacional — que será, m*ili
tarde, copiada por outras ditaduras latino-americanas — , em 18 de sett
bro de 1969, com o estabelecimento da pena de morte e o banimento
crimes políticos, institutos recusados até então em todas as constituições wj
: publicanas do país. Da mesma fornia, é instituído o exílio interno, com tNf
"j
oponentes enviados para o meio da selva, lembrando os mecanismo* i|f
banimento interno da URSS. A polícia, civil e militar, os órgãos de infonildJ
ção e os mecanismos de punição das Forças Armadas — os famosos Inquérltnl
Policiais Militares (IPMs) — adquirem maior fôlego e agem com desenvoltllfltoj1
sequestrando, torturando e matando opositores. Com apoio do empresarittiltyj
que financia os quadros da repressão, e treinamento militar americano — tf;
famoso caso Dan Mitrione — , surge a Operação Oban, responsável por llltfj
grande número de sequestros e assassinatos. Por todo o país surgem os cllJI*
macios Destacamentos de Operações e Informações e os Centros de OpefH*
ções de Defesa Interna (os DOI-Codis), íntima associação entre empresariadtfj]
e militares, e onde se pratica a tortura em larga escala. A vida pública tmtffj
bém é atingida, desde 1969, com a militarização da polícia e a expansão vl*
chamada Polícia (ou Brigada) Militar, polícia aquartelada e fardada, que pn(»:
sa a ser responsável pelo policiamento ostensivo. Em pouco tempo, a PN(
tornar-se-ia sinônimo de truculência, incompetência e corrupção.26 ij'|
Manipulando habilmente os meios de comunicação, criando a imagítUi
do Brasil grande potência — o lema do governo é: Brasil, ame-o ou deixe^f}
— , capitalizando a vitória do Brasil no campeonato mundial de futebol <l|
1970, o governo atinge grande sucesso. Sem qualquer limite ou condicio|l|t|
mento trabalhista ou sindical, praticando violento arrocho salarial, o govefi
no gere o chamado Milagre Brasileiro, um crescimento contínuo, ao longtf
do início da década de 1970, com taxas anuais em torno de 11%. O movfWj
mento sindical é inteiramente decapitado, e os sindicatos e federações (ítfj:
trabalho, colocados sob intervenção. Só são autorizados a funcionar dtilfj
partidos políticos, a Arena — Aliança Renovadora Nacional, oficialista —»f
1
2 6 0
M U I DA DITADURA MI LI TAR | 0 M U C IU tl Dt AUCKTURA POLÍ TICA

tiM im , Movimento Democrático Brasileiro, de oposição consentida. A ação


jwtldária é, entretanto, severamente controlada, com censura prévia à im-
(tlMis.i, prisão e desaparecimento de parlamentares (como o caso de Rubens
tViíVit} e cassação de mandatos.27

A AM ItTURA LENTA, GRADUAL E SEGURA

A luta em torno da sucessão do general Médici (1969-1974), organizada ao


lliiigo de 1973, foi sem dúvida o primeiro ato de enfrentamento entre o pro-
|p|o oficial de abertura e a oposição no novo contexto político do país. Su-
jttua se no campo oposicionista, mais ou menos a esta altura, a ideia de uma
tlvinocratização via a derrubada da ditadura militar, com a crise dos experi-
ttlrnios militarizados da guerrilha urbana e a paralisia da tentativa de uma
lllirmlha rural (que duraria, no Araguaia, de 1972 até 1975), ao mesmo tempo
crescia a compreensão de que o espaço político, mesmo restrito, era, nas
umdíções vigentes, o único caminho da mudança. Um certo desdém, e mes-
lllu descrédito, que envolvia inicialmente o M D B , como oposição do regi-
Mir, começa a ser substituído pela noção de um M DB autêntico, com um
iirnjeto pacífico, parlamentar e democrático de transição para a democracia. l-
Da mesma forma, o poder militar tem um projeto. Com amplo controle
»nbre o país em termos de segurança interna, mesmo em face da persistência
»|u loco guerrilheiro em Xambioá, e com índices de crescimento acima de
|l)% — que a crise do petróleo logo tragaria —, Médici e a cúpula militar
L-
»rntinm-se suficientemente fortes para operar a transição para um regime
»(institucional. O ministro do Exército de Médici, o general Orlando Geisel,
t>n general Golbery do Couto e Silva trataram de construir pontes entre as
illiiis facções militares, castelistas e a linha-dura, visando à constitucionalização
ilii regime. A escolha do sucessor de Médici recaiu sobre a figura de Ernesto
(irisei, general com uma longa folha de serviços ao país e à revolução.
A escolha de Geisel, facilitada pela ação de seu irmão Orlando, muito
ftnpular entre os duros do regime, obedecia a uma série de quesitos básicos,
(iiimi o desempenho nas diversas etapas da vida militar, uma excelente ex-
jirriência na área de administração pública — Sarney dirá que foi o único
0 M * 11 L MEPUSl t C ANO

tecnocrata a tornar-se presidente do país — , além de um sentido nato ti


ordem e disciplina, herdados de rígida educação luterana.
Na verdade, Ernesto Geisel era um general político, com grande vivânçl
nas esferas de poder, tendo sido membro do Conselho de Segurança Nadijtj
nal, em 1948; passara pelo Gabinete Militar de Café Filho, em 1955; adltll
nistrara a refinaria de Cubatão; fora membro do Conselho Nacional dl
Petróleo e chefe do Gabinete Militar em 1961 e entre 1964 e 1967, Np
Castelo Branco, quando se associou intimamente a Golbery do Couto e SítvH|
Afastado durante o período Costa e Silva e Médici, quando esteve no Supr
mo Tribunal Militar e na direção da Petrobras (1969-1973), retorna sob f
proteção da dupla Orlando Geisel-Golbery como a figura suficientemciiMl'
forte para realizar a abertura política no país. O perfil dc Geisel é importaftí
te, neste sentido, posto que seu apego natural à disciplina era uma forma (j|i
constranger quaisquer tentativas de desafio, como fora feito antes a Castoli
Branco por Costa e Silva.
Assim, Geisel e Golbery deveriam, no período de 1974 a 1979, org;ttl||
zar a constitucionalização do país, tendo como meta a distensão lenta, jf\ .
dual e segura. Tratava-se, em verdade, de realizar a volta organizada rtOjjj
quartéis, enquanto o regime ainda tinha prestígio e alguma força criativa, A
própria definição do processo encontra um de seus melhores intérprete*
figura do general-presidente:

■f
(...) essas três condições, acho que se justificam por si mesmas. Por que 4
tem que ser lenta? Porque não pode ser uma abertura abrupta. Porque Cfl
um problema maior com a área que é favorável à revolução. Sobretudo a df
que havia nas Forças Armadas, que era a tal chamada linha-dura. Ela tinhí d
ser gradual, progressiva. E tinha que ser segura, porque nós não podiam
admitir uma abertura que depois não funcionasse e voltasse o regime de
ceção. Era preciso que ela fosse montada e organizada de maneira que rep.
sentasse uma solução definitiva.28

O projeto de abertura, assim elaborado, deveria claramente comportar


rantias básicas para o regime: evitar o retorno de pessoas, instituições e p
tidos anteriores a 1964; proceder-se em um tempo longo — seu caráter lert

2 6 2
I C! A DI TADURA M I I. I 1 A R I I) K MJ [ I I I U [) t APCI ' TUNA POL Í T I CA

i*«, tir mais ao menos dez anos, n que implicaria a escolha ainda segura do|
!j| , j
Il h mm ir do próprio Geisel e a incorporarão a uma nova constituição — que ,
MÍhi deveria de maneira alguma ser fruto de uma constituinte — das cham a-,
dri» salvaguardas do regime, as medidas necessárias para manter no futuro I
tuna determinada ordem, sem o recurso à quebra da constitucionalidade.
l'odemos, assim, perceber claramente que o projeto de abertura repre-
IHliava uma volta ao Estado de Direito, a re constitua o nalização do regime,
tíliíR não exatamente a redemocratízação do país. Ao contrário de outros
«toemos de abertura, no Brasil os militares liberalizantes não contaram com
« apoio da oposição — pelo menos da chamada oposição autêntica — na sua
lliM pela reconstitucionalízação. Em suas origens, o alcance e o ritmo da
i)Ih'i lura ficavam muito aquém do que a oposição desejava. Dessa forma, para
ttt principais formuladores do projeto de abertura, a oposição seria um es-
Inrvn aos seus objetivos, obrigando-os a manobrar gradualmente, num per- 1
(Imnnite stop-and-go, entre os bolsões de resistência à mudança no interior
tln« quartéis — radicais, porém sinceros, no dizer do próprio Geisel — e a
. lijinxiçàn, desejosa de imprimir um ritmo mais acelerado e uma maior ampli­
tude ao processo de abertura.
A própria eleição de Geisel, feita sob a forma de Colégio Eleitoral, irn- '
jdiRlo ao país pela Emenda Constitucional de 1969, e já com a clara promes-
M ilr liberalização, desencadeou o primeiro ato da nova oposição no Brasil.
(tllHundo todo o espaço possível, num contexto de severa censura aos meios
tlp comunicação, o MDB lançou a anticanditadura de Ulysses Guimarães e
jtiirhosa Lima Sobrinho, abrindo espaço para o debate e manifestações de
t(a»contentam en to público sob o lema de Navegar é preciso, viver não é pre-
çliuí No Colégio Eleitoral, Geisel obteve uma grande maioria, confirmando
| lupremacia da Arena (quatrocentos votos contra 76 de Ulysses/Barbosa Lima
luhtiuho, e 21 abstenções).
De posse de informações produzidas por seus próprios órgãos de espio-
tMgem, dando conta de uma provável aceitação pela opinião pública dos atos
;ju governo, a ditadura realiza eleições para o Parlamento em 1974, passo
;Í; irtante para testar as instituições do país. As urnas, malgrado as limita- j
yftcn ila censura, dão estrondosa vitória à oposição, com a eleição de 16 se- j
Hítlures e 187 deputados do M DB: “ {...) foi aí a primeira sinalização de que !

2 6 3
0 I « A1H fl CPUB11CANQ t m u o a piMouRA M !U M í I « i>#(Jcr»ío ut AimtTUHA co l I tica
T
I
o povo estava insatisfeito com aquele tipo de regime (...) foi [assim] o oçrtfli j t n» urgmentos mais atuantes da sociedade civil — como a ABI, OAB, CNBB
mento popular que empurrou tudo!” 2“, afirma o deputado Thaïes Eanuilhp, ] t 4 universidade — deveriam conformar-se com o ritmo do arranjo interno
presidente do M D B e depois companheiro de Tancredo Neves na Itmt |wl| , ! tUn próprias Forças Armadas e não avançar num projeto autônomo de
redemocratização do país. li" (fdpmocratização.
A vitória da oposição, denominada de ressaca cívica nacional, divítlii R A abertura deveria, assim, permanecer sob a tutela militar, limitada e lenta,
poder militar e abala o projeto original de abertura. O grupo de militares |)li!(hu não durante todo o processo. Os principais passos iniciais para sua
linha-dura se rearticula em torno da comunidade de informações, os CliU, flK ; j-tilicrnização, ainda sob Geisel, tais como a supressão do AI-5 — e a incor-
DOI-Codis e mesmo no interior do ministério do Exército, com o miitUjr^] ;j jinhtçílo na Constituição das chamadas salvaguardas do regime ou, para a
Sílvio Frota à frente. Aumentam os atos de violência, em especial em S{|t| ; !j! tipmiçáu, o entulho autoritário —, o fim da censura à imprensa e por fim a
Paulo (assassinato do jornalista Vladimir Herzog e do sindicalista 1 iiiiuiiu, esta já no governo do general João Figueiredo, eram as provas cabais
Fiel Filho, num quartel do II Exército). dit Iniciativa, e mesmo primazia, do governo numa primeira fase do processo
tli>abertura política, malgrado a presença intensa da oposição, como no caso
dti mmpanha da anistia. Um pouco mais tarde, contudo, com as sucessivas
A DINÂMICA PRÓPRIA DO PROCESSO DE ABERTURA Hlíin.is eleitorais e m l9 7 6 e !9 7 9 da oposição, bem como a onda de atenta-
|jl!

T iIhh praticados pelos bolsões radicais, porém sinceros e que culminariam no
Alguns dos atores centrais do processo de abertura no lado do poder miliMfc rilcntudo do Riocentro, em 1981, e na consequente demissão de Golbery e,
T!
como Geisel, Leônidas Pires Gonçalves, Aureliano Chaves, entre os príntih (iltlliti, na doença de Figueiredo, em 1983, a iniciativa, numa segunda fase do
pais, insistem — numa linha exatamente oposta à tese de Thales Ramalho «rt jltui esso de abertura, passaria das mãos do poder militar para a sociedade
que o processo de abertura sempre esteve sob completo controle militar § l |vil, ensejando as grandes mobilizações de massa para a campanha dasDire-
foi todo o tetnpo devidamente monitorado. Neste sentido, a oposição e | 1,1» j,t! ou da eleição de Tancredo Neves, com o governo perdendo a iniciati-
sociedade civil organizada não desempenharam nenhum papel de relevA|)it Vit das reformas.
cia, bem ao contrário: “ (,..) o que atrapalhava muito era a oposição. Ao titi' Ainda no governo Geisel, as pressões e as contrapressões, repetindo ura
vés de compreender o meu objetivo, de compreender a minha intenção, ei| princípio de física sempre lembrado pelos militares, se fizeram fortemente
fazia questão de ser muitas vezes uma oposição virulenta.”20 jUTscines. A chamada comunidade de informações intensificou, no Rio e em
Na verdade, o projeto Geísel-Golbery supunha, para seu completo éxiíí t,Ín Paulo, o combate contra o PCB, considerado a verdadeira alma das vitó-
to, a subordinação completa da sociedade civil aos objetivos e prazos establF t las do M DB. Na verdade, o PCB — vedada sua existência legal — praticava
lecidos pelo poder e jamais revelados ao público. O próprio Geisel afirmarlli mnílo entrismo no M D B , e vários deputados eleitos tinham algum tipo de
que “ (•■■) não havia projeto algum (...)”, apenas a consciência da necessidtiíllf! filiação ao velho Parti dão.32 Operações feitas em Campo Grande, no Rio de
de mudança e ao mesmo tempo de que não se poderiam contrariar fortíl' [itnriro, e várias ações contra simpatizantes em São Paulo, apontavam para
interesses existentes no interior da corporação: “ (...) por outro lado, havífll'1 lim.i ação organizada, uma estratégia central, contra a oposição comunista
parte da área militar, alguns grupos que eram contrários à abertura. Qutf Utipaz de desestabilizar o projeto de abertura. Tais procedimentos culmina-
dizer: gostariam de permanecer na situação revolucionária em que vivíM fdin na prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog, em 26 de outubro de
mos.” 31 Eram tais grupos que condicionavam a própria abertura e que dfll!|| (975, seguida da morte do operário Manuel Fiel Filho, em 17 de janeiro de
vam ao processo político sen caráter de lento, gradual e seguro. Ora, a oposjçflfl |*J76 nas instalações do Codi de São Paulo. Tais mortes, embora não fossem
v!''(
2 6 4 2 6 5
0 tl MA * I L M P U H U C A N Q

as únicas, revoltaram a sociedade, já exausta do aparente imobilismo


reformas e da continuidade da impunidade dos agentes da chamada cottlU
nidade de informações, lançando parcelas ainda maiores da população |f|
oposição ao regime militar, Geisel intervém rapidamente, numa tentativa l
reafirmar seu poder perante a corporação e a sociedade, demitindo o i||
mandante do II Exército, o general Ednardo d’Ávila Melo. Embora este llR
estivesse diretamente envolvido nos procedimentos de torturas e maus-tf|
tos, Geisel, retomando um princípio da hierarquia militar, o considerrtVjí
responsável pelo que se passava sob seu comando:

Houve um fato, por exemplo, que marcou muito. Um fato extremam*!)1


desagradável, que foi a exoneração do comandante do II Exército em üél
Paulo. Porque, contrariamente à minha orientação, ali a repressão estavi
exercendo de uma maneira absurda, estúpida (...) Aquilo foi um verdatlíll
assassinato!53

Geisel comprovava, assim, as razões de sua escolha para a presidência,


O afastamento de D ’AviIa Melo não paralisou, contudo, a repressão pi
lítica, como também não se buscaram os verdadeiros culpados pela morte '
Herzog e Fiel Filho. Ainda em 1976 dar-se-ia o chamado Massacre da Lap|
quando militantes do PCdoB foram mortos em ação policial-militar. No»í
caso não deveria haver represálias, posto tratar-se de mortes em combate, n{j
jargão militar.
Em meados de 1976, começaram os ataques à bomba em sedes de initl
tuições civis de caráter oposicionista. A primeira bomba explodiu em 29
agosto de 1976 na ABI, enquanto outra era encontrada na OAB, amba»
Rio de Janeiro. Os atentados eram atribuídos a um pretenso grupo de opi
sição à abertura, a Aliança Anticomunista Brasileira, organização até en
desconhecida. Malgrado o apelo do general-presidente à ordem e à discipl
na, atentados continuaram a acontecer contra a oposição, como a bonibjl
colocada, em 1978, no altar da igreja de Santo Antônio, em Nova Iguaçl
Rio de Janeiro. Tratava-se de uma diocese comandada por dom Adria
Hipólito, um notável defensor dos direitos humanos, que por sinal já hay|
sido sequestrado e humilhado por militantes da extrema direita.

2 6 6
Eflm D A OI TADUKA MI L I T A* ( 0 N I K U I O n* M t R t U R A POL Í T I CA

t ) descontentamento popular iivoliiniavá-se não só em função da lenti-


lM" da ahertura política. O impacto da crise do petróleo, de 1973, fora ig-
Itnhldo por quase dois anos, mantendo o governo o mesmo ritmo de
Wltllvliliimento e expansão monetária, lançando as bases de unia grave crise
iklllüTl. Fm 1975, já não era mais possível ignorar os efeitos negativos da crise,
|t li nnieral Geisel incumbe o ministro do Planejamento, Reis Velíoso, de
lilllrtiil/,ar as estratégias de resistência, culminando no II Plano Nacional de
m*M'itvolvimento (PND), que deveria cobrir o período entre 1975 e 1979.
ínliise seria dada ao Programa Nacional do Álcool (Proálcool), ao Acordo
Nllilfiir com a Alemanha e à acelerada construção das usinas hidrelétricas
tir Iftiipu e Tu cu ruí, alternativas energéticas à vulnerabilidade do país em
hdiição ao petróleo. Já com recursos escassos, o governo abre o país à
pjmpeeção do petróleo por companhias estrangeiras. Pela última vez o Bra-
ill iiprescntava uma face desenvolvimentista, com intensa política industrial
p Ji' construção de ínfraestrutura.
Visando a evitar novas vitórias da oposição, o ministro da Justiça de Geisel,
ti notório Armando Falcão, elabora uma nova legislação eleitoral — a Lei
! MiAn feita sob medida para evitar o acesso da oposição aos meios de
; tnintmicação, em especial na T V Assim, enquanto a extrema direita militar,
UI radicais, porém sinceros, avançam e procuram limitar ainda mais o proje-
|n Inicial de abertura, o próprio governo se esforça para dividir e inviabilizar
H vida da oposição. Tais medidas, denominadas de casuísmos, se constituí-
Fiiin em grande parte das chamadas salvaguardas do regime ou o entulho
autoritário.
V. um momento de impasse, em que a oposição, fortalecida pelas vitórias
|HH urnas, exige maiores concessões, e o poder militar, pressionado na sua
MMiignarda pela linha-dura, procura manter o controle do processo de aber-
Ini >1, bem como de seus objetivos iniciais. O impasse avoluma-se e a crise
tnJudc em abril de 1977, quando, após uma série de desentendimentos entre
d MDB e os projetos do governo, Geisel acusa a oposição de montar uma
illKulura da maioria, negando-se a votar alterações desejadas da Constitui-
çrtn. Assim, fecha o Congresso Nacional e edita uma série de medidas de al-
(fNçáo da ordem constitucional. É o Pacote de Abril.
Ulysses Guimarães, líder do M D B , desempenhou um papel central na

2 6 7
0 MAHL AMUILICANO

estratégia de enfrentamento di> projeto oficial de abertura conduzido p#j


Geisel. Visando a centralizar em suas mãos, e na sua voz, o enfrentamcil
com o poder, Ulysses trazia para si a função de responder aos atos imperljj
de Geisel. Visava principalmente a evitar que os deputados autênticos, Pi
pondendo isoladamente aos atos do poder, se tornassem objeto de cassitç
políticas, como foi o caso de Alencar Furtado e Marcos Tito, em 1977,
sim, certo de que na sua posição de líder do M DB não seria tocado, tratUV9
A
de responder de forma dura e direta aos atos arbitrários conduzidos ptf||
poder, chegando a chamar Geisel de “ Idi Amin louro”, em alusão ao eiu||
cruel e cômico tirano de Uganda. Entre Geisel e Ulysses desenvolver-»fl*||
uma intensa, profunda e insuperada inimizade. Para Geisel, o papel de Uly«
seria o mais nefasto possível no processo de abertura:

[Ulysses] foi o elemento que mais me prejudicou no problema da abertlí


(...) O Ulysses nunca quis compreender o problema da abertura. Ele achtiVi
estou fazendo uma ilação agora, que se promovia pessoalmeme, teria m«|i
liderança. Isso era um problema pessoal dele, prejudicando possivelmente I
problema nacional.54

Por sua vez, o líder da oposição brasileira, engrandecido nas vitórias eleí
rais e nos desafios do poder, considerava sua tarefa de vida restabelecof
t democracia no país: “ Os militares nunca gostaram de mim” , afirmaria Ulyni
l em 1988, dando ele mesmo as razões: “ [porque] temos ódio à ditadura! Ód|l
e nojo! Amaldiçoamos a tirania, onde quer que ela desagregue homem
nações, principalmente na América Latina!” 55A dura retórica de Ulysses,«
estratégia de trazer para si a responsabilidade de responder ao arbítrio
estratégia jamais compreendida pelo presidente Geisel — , acabariam pi
afastá-lo de qualquer negociação possível com o poder, que se voltaria pi
uma liderança considerada mais construtiva e moderada — Tancredo Nevtfl
Os medos de Geisel se confirmariam com extrema rapidez. O projeto dj
abertura estava ameaçado pelos próprios integrantes da corporação e ta
bém pelos membros do próprio governo Geisel. Desde um bom tempo, ;|
ministro do Exército, general Sílvio Frota, vinha denunciando a continui
de da ação subversiva no país, ameaçando inclusive a divulgação de noffli

2 6 8
I N I t t DA DI TADUAA MI I I T AU I 0 M I K M I O Dí A I Ü R 1 U A A POL l T I C A

llv nniiunistas nos órgãos do governo. Tratava-se de uma estratégia de reor-


D4HIMr as forças militares na sua periferia e desestabilizar Geisel, criando as
JWldiçôes para sua indicação como sucessor do presidente. Tal desafio, como
no caso da tortura e morte no D O Í em São Paulo, não foi bem recebi-
f|tt por Cieisel, que demitiu o seu ministro do Exército, que in extremis ainda
(filiou um golpe militar contra o presidente. Logo em seguida o chefe do
Udhlnetc militar, general Hugo de Abreu, desafiará o presidente ao postular
d micrssâo, o que culminaria em outra crise institucional. Assim, após um
lllli In de grande dinamismo, o processo de abertura política se veria parali-
Iridn por uma série de crises institucionais geradas no interior do próprio
|inilt't' militar. Por sua vez, a crise financeira e econômica avolumava-se,
»liquanto a nova liberdade de expressão, em especial em torno da imprensa
HiMl/i — um grupo importante de jornais de oposição, tais como O Pasquim,
ISilltikii, Versus, Movimento, Opinião etc. — , denunciava o endividamento
tin piiís e a persistência da ação da comunidade de informações.
Ik-sta forma, um balanço do processo de aberrura sob Geisel é extrema-
HlPhte difícil: autoritário — confundia disciplina e ordem com uma visão
Imperial do poder —, pôde perceber as condições de crise do país e propor
#IU!fnativas em torno de um projeto soberano e constitucional. Talvez a
Wrllior síntese de sua personalidade seja ainda a realizada pelo Jornal do Brasil
!M época da sua morte: o ditador da abertura!
ttli I ) candidato de Geisel e Golbery à sucessão presidencial era o então che-
tr do SNI, general João Baptista Figueiredo, tido muito mais como um ho­
mem da corporação do que como um político. Figueiredo tomou posse em
11 de março de 1979, após enfrentar uma pequena dissensão no interior da
Aitii.i e do próprio esquema militar, com uma chapa concorrente, apoiada
|it>|u MDB, formada pelo general Euler Bentes e o líder revolucionário de
|*JM, Magalhães Pinto.
I Jm dos principais pontos da agenda de Figueiredo era a anistia, item funda­
mental para a retomada do processo político da abertura, cada vez mais sob ris­
en de ultrapassagem do governo pelo movimento popular. Pelas ruas, salas de
itiila, clubes, igrejas mobilizava-se a população em torno do lema Anistia, ampla,
(jeta/e irrestrita — surgindo diariamente nos jornais uma história da cassação de
ril^im militar constitucionalista, político legalista ou professor universitário.

2 6 9
o k Ka m mtiuinucANo

Decretada pelo governo, sem negociação com a oposição, em 2H


agosto de 1979, a anistia assegurou que não haveria revanchismos — ttll
das principais preocupações das Forças Armadas —, pois o perdão fl
consentiria que os militares envolvidos com a repressão fossem julgiul
ou condenados por aros praticados em nome do governo ou das ForÇ||
Armadas.
Um novo personagem surgiu, sob o governo Figueiredo, com toda d ft;‘
ça no cenário político: as lideranças sindicais. O cenário econômico cnctilfi
trado por Figueiredo era de crise financeira avançada, com dezenas de grf
e exigências de aumentos salariais, levando à crise e à demissão da equi|l
econômica originalmente montada.
A anistia deveria ter devolvido ao governo a iniciativa do processo t|i
abertura política, retirando da oposição sua bandeira de mobilização pojil
lar. Contudo, partirá da oposição militar, de direita, centrada na própria c<1|
poraçâo, o mais contundente ataque à autoridade do general Figueiredo. Hl
face da ameaça de a oposição definitivamente tomar a liderança do proctfMÍ
de abertura, e em face da perda dos privilégios de que gozava sob o regllHl
militar, a comunidade de informações retomou seu projeto de desestablllí#
a abertura. Em 4 de outubro de 1979, uma bomba destruiu o carro do jorntó
lista de oposição Hélio Fernandes, enquanto o bispo de Nova Iguaçu vollflVÉ
a ser alvo de um atentado. No ano seguinte, 1980, várias atentados à boMtlff
foram realizados. Em 27 de agosto de 1980, uma bomba explode na AH1
matando uma funcionária, Lyda Monteiro. Neste mesmo dia, mais dois affll
tados ocorrem no Rio de Janeiro, um no jornal Tribuna Operária e outro
prédio da Câmara Municipal, ferindo funcionários que trabalhavam no Ity:
cal. Dezenas de bancas de jornais, nas ruas centrais do Rio de Janeiro, N{
incendiadas, como aviso para paralisarem a venda de jornais de oposiçH]
Líderes da oposição, como o recentemente anistiado Leonel Brizola, são fliVI
de bombas, como também lideranças da sociedade civil, como o advogitíl
Sobral Pinto. Grandes espaços públicos são alvo de atentados, como a qilfll
dra da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, onde se realizaria poli
depois um ato público da oposição. I
Tais atos terroristas anunciavam aquele que deveria ser o maior ato
intimidação da oposição: o atentado no Ríocentro.

2 7 0 ' i
t, dI * r DA DITADURA MILITAR I 0 * R0 C« 11 0 0 t AltRTURA POllTICA

|<Ntr foi sem dúvida o ato mais audacioso e, se bem realizado, o mais cruel
glli liMTorista da história do país. Na noite de 30 de abril de 1981, no espaço
fjp li1litro de convenções denominado Riocentro, Zona Oeste do Rio de Ja-
ftPlin, foram colocadas diversas bombas durante um show promovido em
' fílllHMiioração ao Dia do Trabalho.
( )x acontecimentos do Riocentro, entretanto, não corresponderam aos
ptriiin* traçados pelos militares que promoveram a ação, pois uma das bom-
í jiiit explodiu no interior do carro onde estavam o sargento Guilherme Perei-
ji Ir «Io Rosário, que faleceu no local, e o capitão Wilson Machado, ambos do
ifpnlitcamento de Operações de Informação (DOI), órgão do 1 Exército
Imlladn no Rio de Janeiro.
As pressões para a apuração severa dos acontecimentos uniram a socie-
Jrttlr aivi! e provocaram forte conflito no interior do próprio governo. A falta
t|p estorço e interesse de apurar o acontecimento, por parte do general
huunrcdo — diferente mente do que Geisel havia feito em sua gestão — ,
At tlbmi marcando o governo, e retirando de cena o velho general Golbery
t|h ( Imitoe Silva, vencido por uma facção áulica, representada pelo general
Mnlnros, do SNI, e o general Newton Cruz, do comando militar de Brasília.
O projeto de abertura de Geisel e Golbery estava doravante órfão.
O IPM que deveria apurar o caso foi arquivado sob a alegação de “ falta
|jp indícios de autoria” . Decididamente o governo do último general-presi-
llrHtr perde dinamismo, a crise econômica torna-se obsedante, levando o país
g drerctar a moratória de suas dívidas em 1983.

A fASE FINAL DA ABERTURA: OPOSIÇÃO POPULAR E PARTIDOS POLÍTICOS


(Mí IWMEM A INICIATIVA!

líiiiutc dos sinais evidentes de saturação e decrepitude da ditadura, o movi-


Rlriitn popular cresce e ocupa as ruas. Primeiro fora em torno da luta pela
. nnlLlia e o retorno dos exilados, depois em prol das eleições diretas (o movi-
Ulfflitn Diretas Já !, em 1983). Desempenha um papel fundamental na per-
frfpçáo dos militares o desfecho, no início dos anos 1970, das ditaduras na
llrdeia e em Portugal, onde os regimes ditatoriais — em especial, os coronéis

2 7 1
0 I » A1 1L MPUI UI CANO

gregos — não foram capazes de preparar sua retirada do poder e acabara


por ser levados para a prisão. Ao contrário, a solução pactuada na Espanl
oferecia um modelo que desde logo cativou os militares e a direita latiu
americana. O desaparecimento de Franco, el caudillo, permite a reorganl
ção da direita tradicional, não fascista, em torno da monarquia e do partltl
Union de Centro Democrático, tendo Adolfo Suárez como seu líder. Em to "
no do imperativo da reconstrução institucional do país, e sem uma dcrrof
eleitoral da direita (vitória da U C D nas eleições de 1976), criam-se as colidí
ções para a assinatura, por parte de todas as forças vivas da sociedade c»p(i|
nhola, do chamado Pacto de Mancloa, em 1978. Entretanto, ao contrdH
das ditaduras latino-americanas, a direita — eleitoral mente forte na Espaillll
— negocia a legalização de todos os partidos, inclusive o tradicional PC Klltj
panhol e, fundamental, a autonomia das nacionalidades históricas existciljfí
na Espanha. Ou seja, numa situação confortável, o governo de transição
Adolfo Suárez oferece mudanças estruturais profundas, algumas vezes avflili
çando além das propostas da República de 19.16.
Na América Latina, em especial no Brasil, fala-se então insistente mepl
em pactuar a transição, embora com um contexto inverso. Os partido»
direita, inclusive de apoio à ditadura, como o Partido Democrático Sotfli
(PDS — herdeiro da Arena), são frágeis e não oferecem garantias estável» <|
funcionamento democrático. O pacto na América Latina é, neste momoill
apenas uma forma de deter as aberturas políticas mais democráticas e gar<W$
tir uma tutela militar continuada sobre a sociedade, como é evidente no Cf
chileno.36 êt
Ao contrário de Adolfo Suárez na Espanha, o governo do general Ja
Figueiredo é marcado pela inépcia econômica, com a declaração da ri)4
ratória brasileira (1983), e a continuada impunidade da chamada coflHj
nidade de informações (conjunto de militares engajados nos órgão»
repressão e espionagem política), que organizava os inúmeros atentflil
contra personalidades e instituições da oposição. Entretanto, em face (I
uma intensa mobilização popular, as ruas das principais capitais brasil
ras são tomadas por multidões contrárias ao regime, e no Rio de Janelflji
centro tradicional de oposição ao regime, um milhão de pessoas exl((ffi
eleições Diretas Já !

i illl
2 7 2
m m DA DITAÜUHA M I I I TA K I ft M O C I U Q Bl ARIRTURA C0 L I T I C A

A proposta de Diretas Jd ! representava um rompimento radical com a


Hlwittihi limitada e pactuada que o regime vinha implantando e levaria, através
tltl eleição de um presidente pelo voto direto, com uma Constituinte, a uma
; fupiiirn constitucional extremamente desfavorável para as forças que implan­
ts am a ditadura militar no país.
I) regime militar não tinha nem recursos nem projetos para a crise do
ini projeto de abertura, e recolhia-se, de forma acabrunhada, ao imobilismo,
lliqinmto manifestações de massa ocupavam as ruas. Para muitos, inclusive
Hl rtturcs militares, entre 1981 e 1983 Figueiredo foi atingido por inúmeras
(fltlssimdes em face das quais não soube reagir: o atentado do Riocentro, a
ileiitissão de Golbery do Couto e Silva e o seu próprio infarto. Seu retorno
éu poder foi constrangedor diante das hipóteses de renúncia em favor do
llthintc vice-presidente, Aureliano Chaves, um homem liberal voltado para
£ Ihinsição nos moldes Geisel-Golbery. Para piorar o quadro, o presidente
tu! tomado de depressão persecutória, particularmente em relação ao vice-
jttfHdcnce, e deixou-se enredar pelas intrigas áulicas dos generais Medeiros
(i Newton Cruz, além dos velhos companheiros do SNI.
Foi nesse clima que se organizou a transição final entre a ditadura e um
ffUlme democrático-representativo, num momento em que o governo per-
lllil toda a iniciativa e permitia, por inércia e inapetência, que os partidos de
Hpintição e as ruas das grandes cidades ditassem o ritmo da abertura. A ques­
ito básica, então, residia na forma que tal transição assumiria em sua fase
tliml, com seus riscos e consequências. Guillermo O ’ Donnell distingue, nes-
ic processo, duas formas clássicas de transição: uma, rápida, com forte rup-
ItlH com o autoritarismo vigente, denominada transição por colapso; outra,
. Iflilti e gradual, segura para as forças até então no poder, fruto de acordo
>lllt'e os setores conservadores no poder e as forças moderadas na oposição.
|tiM seria denominada transição pactuada. O primeiro tipo ocorreu na Grécia,
Aihrntina e Bolívia. O segundo tipo, de transição acordada ou pactuada, deu-
(P mi Espanha, Chile e Brasil.37
li hem verdade que a substituição da campanha das Diretas Já! — em tor-
jju ilii votação da Emenda Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições
lllti'tas para presidente da República — pela campanha pró-eleição de
, tiniercdo Neves pelo voto indireto — no mesmo Congresso que negara as

2 7 3
0 IM A III» i m* U H U C A N U

eleições diretas — mostraria unta nova fase, um novo arranjo político, fl||
cluindo alguns dos atores anteriores, como o PT, e somando outros, coniOI
dissidência do PDS.-58
O então jovem Partido dos Trabalhadores, o PT, fora um dos elemctltfll
centrais de mobilização popular na campanha das Diretas Já !, sendo o rm
ponsável, em boa medida, pela incorporação ao debate político de ampln
segmentos de trabalhadores, tanto no campo como na cidade. Agora, dtldl|
o caráter conciliador de Tancredo Neves, sua posição centrista e seu coniflH
vadorismo pessoal, o PT considerava-se incapaz de apoiar a nova campanltM
Embora tivesse exercido, desde o primeiro momento, uma inequívoca oplli
sição à ditadura militar, Tancredo Neves representara um papel-chave l)D
estratégia de abertura lenta, gradual e segura preconizada por Geisel, GolbcM
e Petrônio Portella — interlocutor frequente de Tancredo. A saída de Tancredl
Neves do M D B , a grande frente de oposição, e a fundação do Partido Popi|ij
lar, o PP, em 1978, como interlocutor qualificado da ditadura, deram ao Mtíl
ministro da Justiça de Getúlio Vargas a pecha de “linha auxiliar do projétil
governista” . O PP reuniria não só a ala conservadora do ex-M DB, como allfè
da vários setores do PDS, ex-Arena, mal colocados no partido-base da dl<
tadura em virtude de dificuldades e rivalidades locais, sern nada acrescentljf
ao ideário liberal da abertura.
j
O retorno do PP, em 1981, ao seio do M D B , agora PM DB, em face d|
proibição de coligações — mais um dos casuísmos do governo, o c|Mf
eternizaria o PDS no poder! —, não foi inteiramente pacífico, criando mAlü
estar em vários setores do próprio PMDB. Ora, nessas condições, o PT vlj
na candidatura de Tancredo uma transição conservadora e pactuada coitl 4
autoritarismo.
'IH
As desconfianças do PT tornam-se maiores quando o PMDB acolhe nOjl
seus quadros o senador José Sarney, ex-presidente da Arena e do PDS, Ulfl
dos notáveis do regime militar. Na verdade, José Sarney entrara em rota dl
colisão com a ala mais conservadora e, principalmente, fisiológica do PD.HJ
ao ser atropelado pela candidatura de Paulo Maluf à Presidência da Repúbliclj!
I
(...) o M aluf foi justamente tido pelo nosso grupo como um empecilho pAM
que esse projeto [a abertura pactuada] tivesse coroamento. Porque nós sabUl

2 7 4
C* I»I DA DITADURA MUITA» t 0 M U tM IO t)H A 11 R T U R A P O t l T I C A

mos que ele reacenderia toda aquela ideologia. Havia aquela sistemática que
sc tinha adotado no sentido d.i transição. Do fechamento do ciclo e uma trans­
missão consensual do poder. Tancredo sempre surgia como um nome que
pudesse ser também aceito pelo próprio governo, encaminhado pelo próprio
governo.”

0 ex-governador de São Paulo acumulava uma amplíssima pauta de acusa­


r e s , principalmente no terreno da probidade administrativa, além de tecer
Itn interior do PDS linhas de dependência e clientelismo que colocavam em
lisco as bases eleitorais já consolidadas de outros cardeais do partido. Mas,
Hi ima de tudo, a candidatura M aluí implicava a aliança com o grupo áulico
t> linha-dura — os generais Nevvton Cruz/Medeiros/Aguiar — do sistema,
timirarios à abertura. Assim, a insistência do governador de São Paulo pode-
lla, perigosamente, romper a frágil arquitetura inicial de Golbery/Geisel e
iln "primeiro” Figueiredo — até 1983 —, lançando o país em agruras eco­
nómicas e financeiras, numa transição por colapso. O nome de Tancredo Neves
»lirgia — no vazio das possíveis candidaturas de Aureliano Chaves, Rubens
1 iidvvig ou Andreazza, malogradas por inapetência de Figueiredo, e de
iVirAnio Portella, tolhida pela morte do líder político de Geisel — como o
tlnico palatável pela maioria dos militares, do PDS e do empresariado:

(...) Ulysses havia se colocado numa posição absoluramente contrária, agres­


siva faos militares] (...) Então tornava-se difícil essa coisa para ele. De manei­
ra que, quando Maluf apareceu (...) sua candidatura significaria o fracasso
desse projeto rodo que se rinha, porque ele significava uma continuidade,
muito preso a esse sistema.40

fí nesse momento, diante do vazio de ação, com o presidente fechado no


Planalto e sem iniciativas, que os partidos políticos tomam a direção do pro-
tesso de abertura. Não era mais a abertura de Geisel e Golbery, mas a aber­
tura dirigida por um colegiado de cardeais, com anos de política, de vários
partidos: Sarney, Tancredo, Aureliano, Franco M ontoro, Brizola, Marco
Maciel, Miguel Arraes, Antônio Carlos Magalhães, entre outros, que se unem
para evitar retrocessos ou rupturas. Claro, sendo agora os partidos os res-

2 7 5
0 H H A I 11, HM> U I* L I C A NO
[|
:í)j
ponsáveis pela direção da abertura, as pressões populares, o clamor das rMi
contagiam e imprimem, também, seus interesses ao movimento. Muito p
ticularmente, num movimento corretivo da deriva centrista e moderada i|'
a abertura adquirira, surge um poderoso movimento — este com ativa pai
cipação do PT — em prol de uma Assembleia Nacional Constituinte, capi
de impor a marca popular na transição pactuada.
Sarney havia se comprometido, junto aos notáveis do partido, com tl|]
prévia aberta no interior do PDS, para a escolha a ser realizada na convi
ção partidária, que deveria fechar o caminho de Maluf até a presidêncU
projeto de José Sarney através da prévia partidária deveria garantir Ui
revigoramento partidário e um despertar de vocações no interior do pari
do, garantindo, assim, uma transição controlada para um regime coniítlHj
cional e representativo, de cunho conservador, “ sem os militares” !
As práticas malufistas, que ameaçavam a integridade do PDS, conseguira
entretanto, obstar a estratégia de Sarney e alcançar a indicação para disptlli
com Tancredo a presidência.41 E nesse momento que Sarney, aconsclhrtd
por Aureliano Chaves, assume a responsabilidade de romper a unidade p|"
tidária e garantir a eleição de Tancredo:
M
(...) Agora, por que nós indicamos o Sarney? (...) porque de teve a responi
bilidade de fazer a cisão (...) Ele e o Jorge Börnhausen lideraram a cítAit
direito. Ora, o Sarney tinha sido presidente do PDS. Então nada melhor pi
caracterizar uma união [com o PMDB] que ser o Sarney, rccentementc pfl
dente do PDS (...).42

Pela primeira vez sem a tutela direta dos militares, a direção do PDS tonii!
a iniciativa política, diante do processo de abertura, criando uma crístt
qual emergeria vitoriosa a chapa Tancredo-Sarney. A atuação de Paulo
com os setores remanescentes da chamada linha-dura, reafirmava naqiwl
momento as práticas de conchavo típicas do auge do autoritarismo, genuti
o risco de fragmentação da ampla frente conservadora. Divididos, em
momento de acelerada transição, surgia o risco de todos os envolvido»
atos arbitrários cometidos sob a ditadura, da violação dos direitos huniflfll
até a malversação do patrimônio público, serem chamados à responsabilidtuJl

2 7 6
li ií
f I) 111 I) A D I T A D U R A MILHA* t 0 M 0 C I 110 D t ARÍ RTUHA POLl TI CA

Km transições não devidamente pactuadas, como na Grécia e na Argen­


tina, os comandantes militares, os generais-presidentes e os tecnocratas
iMl/ adores dos projetos econômicos haviam sido levados a julgamento e à
: jjilUãu,
li ima va-se, assim, imprescindível uma ampla negociação entre a opo-
tl^Ao r a base governista quanto aos termos e alcance da transição em cur­
ti) hm lo Maluf era, neste momento, justa ou injustamente, acusado de
èllllholizar o pior do regime militar, permitindo que outros notáveis do sis-
jlií |»nia fizessem um desembarque honroso do esquema de poder vigente. Por
jji t|lit vrz, homens com forte inserção regional, reconstrutores de capitanias
| (nunlitárias, porém com legitimidade eleitoral — como o próprio Sarney
| mu Antônio Carlos Magalhães —, surgiram como interlocutores válidos para
lt oposição.
A desautorização de Sarney dentro do PDS, comandada por Maluf, o im-
para a retirada do partido em 11 de junho de 1978, criando uma situação
jt il|i LDsc insuportável no interior do PDS. Uma parte viva do PDS, formada
jii jtiu políticos que, malgrado as origens no autoritarismo militar, haviam sabi-
\ t)n organizar bases políticas regionais, e vinham se caracterizando por bons
! ||«rinpenhos eleitorais e administrativos, ficara na difícil situação de se man-
|»l no partido, em que já não via nenhum futuro, ou acompanhar Sarney a um
|Mllldo — o PMDB — em que não teria nenhum espaço. Este era o dilema de
jtiilllicos do porte de Marco M aciel, Antônio Carlos Magalhães, Jorge
(luiiihaiisen, Hugo Napoleão, Olavo Setúbal, Aureliano Chaves, entre outros.
; 1*1» ltomens tinham acesso aos grandes veículos de comunicação de massas,
jj, nu »Mema financeiro — uma das bases do autoritarismo — e aos comandos
militares, constituindo-se, assim, em interlocutores privilegiados. A solução foi
(idltllmente negociada. Embora permanecessem no PDS, votariam no candi-
rfrtliiilo PMDB, Tancredo Neves, caso fosse garantida pela oposição uma tran-
IW h »uh controle. A garantia de uma transição que não escapasse ao controle
tin* elites políticas do regime agonizante seria feita através da incorporação do
jjtliiprio José Sarney como vice-presidenre, na chapa do PMDB, além da indi-
W » ile alguns dos principais políticos do PDS para o futuro ministério, pon-
I;|ji |m* iiicrtados em negociação direta com Tancredo Neves e Aureliano Chaves,
‘Jí; t alguns outros cardeais do PMDB e do PDS — era o Acordo de Minas:

2 7 7
0 M A m P U P U 1 U C A N Q

(,,,} a essência do Acordo: cm primeiro lugar, nós deixamos claro que o mw


acordo não foi a resultante de uma articulação político-parti d ária, mm
responsabilidade que cada um de nós tinha em relação ao futuro do pu(i (, ,,^
Ele [Tancredo Neves] espontaneamente me escreveu uma carta, atruvdN d|
qual reconhece o papel que nós desempenhamos no processo político a litvilf:!
dele e o compromisso que ele assumira de tratar os companheiros do l’ l'l. *»]()
pé de igualdade com os do PM DB 43 !

Ulysses Guimarães, o senhor Diretas Já !, alma da oposição brasileira ijqrj


rante quase duas décadas, entra em eclipse diante da ascensão fulgurfllllf |
de Tancredo. Este, melhor negociador, mais moderado, conseguira i'u(i
turar a ampla aliança que encerraria o ciclo militar da vida republicai)!:
brasileira: .1.
|||
(...) Tancredo cra um sábio. Sabia conversar, sabia ícr, sabia rezar, sabia Ctfi!
mer e beber, sabia rir, sabia ironizar, sabia não ter medo, sabia ser clrli)f)T
para os amigos amargurados, sabia ver o mar, sabia ouvir os passarhihjtjjii!
imaginar com o vento, namorar as estrelas, sabia ser suave na forma e fop||jjj
na ação. Forte como uma linha reta e doce como a curva do rio. Pelo bim|$jjj
pela verdade foi implacável no cumprimento da terrível sentença: não aí tAl
política sem fazer vítimas. Tancredo também foi um bruxo. Hipnotizado (HK
seu sortilégio, presto meu depoimento sobre o convívio contraditório •pirl
tivemos: cu amava, admirava e temia Tancredo.44

No fundo sentindo-se uma das vitimas de Tancredo, o melhor momento


Ulysses ainda viria, como artífice da Constituição que restauraria a dci)t(J|tj]
cracia no Brasil.
O grupo dissidente do PDS constituiu-se, então, era oposição ao utll
dato oficial do partido, Paulo Maluf, e formou a Frente Liberal, que IP));
tarde se retirará do PDS, fundando o Partido da Frente Liberal, o PFL
aliança partidária entre o PMDB de Tancredo e os dissidentes liberais do I
é denominada Aliança Democrática (AD).
É nesse quadro que o PT não só se nega a compor uma frente cofl) |
oposições, como ainda acusa a frente oposicionista de capitulação diante J|:
interesses conservadores.

2 78

lii
'»«■uhhiwikiwniip

l K I 1 1 £} A D I T A D U R A M I LI t A R I 0 M 0 e I 11 0 Dl AítKÍURA POLÍTICA

0 r.spaço da esquerda oposicionista c1 rapidamente ocupado pelo Parti-


tin Democrático Trabalhista (PDT), de Leonel Brizola. Com o comando do
Klo dc Janeiro e grande representação nos estados do Sul do país, Brizola
lliltmi manifestações de massa em favor da chapa Tancredo-Sarney, enquan-
(-H a iTrntc Liberal organiza ações similares no Nordeste. A própria respeita-

lílitdildc e tradição de Tancredo em Minas Gerais, ao lado de lideranças


HpirNsivas como Aureliano Chaves, garantem a segunda bancada federal
Ipi liiul.i em torno da chapa do PM DB. A representação de São Paulo é dis-
(Uthtd.i por Maluf e as lideranças do PMDB paulista, corno Franco Montoro
t |'(inmndo Henrique Cardoso.
Lm 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral consagra Tancredo Neves
flMtm presidente do Brasil, com 480 votos contra 180 de Paulo Maluf.
A ilitadura iniciada21 anos antes, comum golpe contra a Repúblicacons-
Hlili ional, chegava ao fim. O último general presidente não passaria a faixa
jMcMdcndal ao seu sucessor, retirando-se do Palácio do Planalto pela porta
tlu* Inndos.
( ómeçava a Nova República.

Hui as
I Diiroselle, jean-Baptiste. T o u t E m p ir e P é rira . Paris, A. Colin, 1992, p. 284 e segs. e
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124, e do mesmo autor: Trabalhadora do Brasil. O imaginário popular. Riu df }
neiro, Editora FGV, 1997.
9. Podemos comparar com as declarações do general argentino Martin Balzn, qtiAlhi
denuncia os apelos constantes “ (...) a ustedes son ta reserva moral (..,)” e outrun fttftj
mas clássicas de arregimentação golpista, El Clartn (Buenos Aires), “ Los Arcliit»i||;
de la represión cultural” , 24/3/1996, p. 14; e do general Leônidas Pires Gonçnlvnty!
figura-chave no processo de abertura brasileira: “Nunca fomos intrusos na Hi«lrtH|:
deste país, sempre instrumento da vontade nacional (...) Nós fomos chamado« M lj
sociedade aos berros!”, in Costa Couto, Ronaldo (1999, p. 241).
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29. Thales Ramalho, entrevista, in idem, (p. 306).
30. General Ernesto Geisel, entrevista, in idem (p. 212).
31. idem, (p. 209).
32. Ver, sobre o assunto, Ferreira, Marieta de Moraes et alii (orgs.) (2001).
33. General Ernesto Geisel, entrevista, in Costa Couto, Ronaldo (1999, p. 210).
34. Idem, p. 213.
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4i (lovernador Aureliano Chaves, entrevista, in Costa Couto, Ronaldo (1999, p. 100).
4 I, Itlcm, op. cit., p. 99.
44 l llysscs Guimarães, “ Glorioso Tancredo, pobre Tancredo”. Discurso na Constituin-
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