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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
9.' REGIÃO

TRT-PR-MS-00476-200S-909-09-00-S
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Acórdão n° AC.20360/0 6
EMENTA: MANDADO DE
SEGURA~ÇA. EXECUÇÃO
PROVISORIA. PENHORA EM
DINHEIRO. SUBSTITUIÇÃO POR
LETRAS FINANCEIRAS DO
TESOURO. POSSIBILIDADE. A douta
maiona dos integrantes da Seção
Especializada deste Tribunal Regional,
considerando a diretriz firmada na Súmula
n" 417 do Colendo Tribunal Superior do
Trabalho, tem admitido a substituição da
penhora em dinheiro por Letras
Financeiras do Tesouro, quando se trate de
execução provisória, por se tratar de título
de liquidez imediata. Precedentes.
Mandado de segurança admitido e
concedido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de MANDADO DE


SEGURANÇA N° TRT-PR-MS-00476-200S-909-09-00-S, em que figuram como
impetrante HSBC BANK BRASIL S.A. - BANCO MÚLTIPLO, impetrada
EXCELENTÍSSIMO JUIZ TITULAR DA 118 VARA DO TRABALHO DE
CURITIBA e interessado ADILSON LUIZ CANAL!.

I. RELATÓRIO

Trata-se de mandado de segurança impetrado contra ato do


Excelentíssimo Juiz Valdecir Edson Fossatti, titular da l l" Vara do Trabalho desta
Capital, nos autos n.? 2.324/2003, por meio do qual, após manifestação da
litisconsorte, determinou a penhora em dinheiro do impetrante, em prejuízo da
nomeação de Letras Financeiras do Tesouro para a garantia do Juízo (fi. 132).
Em suas razões, acompanhadas de documentos, o impetrante
alega, em linhas gerais, que o bloqueio de dinheiro em execução provisória fere o
direito líquido e certo de que a execução se processe pelo modo menos gravoso papa
devedor, por força do que dispõe o art. 620 do Código de Processo Civil (CPC). "-
\

elm/as
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9.' REGIÃO

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Requereu concessão de liminar para o efeito de determinar a


substituição do dinheiro pelos títulos públicos ofertados como garantia da execução (fl.
10).
Atribuiu à causa o valor de R$ 10.000,00.
O Excelentíssimo Juiz Arion Mazurkevic, relator originário,
indeferiu o pedido de concessão liminar por entender que as Letras Financeiras do
Tesouro não possuem liquidez imediata, o que afastaria a aplicação da Orientação
Jurisprudencial n. o 62 da Egrégia Subseção 2 Especializada em Dissídios Individuais
do Tribunal Superior do Trabalho - SBDI-2ffST (atual item IH da Súmula n? 417), e
porque a execução provisória se submete às mesmas regras da execução definitiva, o
que impõe a observãncia da ordem de nomeação prevista no artigo 655 do Código de
Processo Civil (fls. 143/144).
A autoridade apontada como coatora manifestou-se nos autos
(fl. 152), assim como o litisconsorte (fls. 153/158).
O Ministério Público do Trabalho, em parecer do Ilustre
Procurador Regional, Doutor André Lacerda, opinou pelo acolhimento da pretensão
formulada pelo impetrante.
É o relatório.

11. FUNDAMENTAÇÃO

ADMISSIBILIDADE

Presentes os pressupostos de constituição e de


desenvolvimento válido e regular do processo e as condições para o seu exercício,
admito a ação de segurança.

MÉRITO

O impetrante sustenta que a constrição do numerano


circulante em suas agências bancárias afronta o disposto no artigo 620 do CPC, que
impõe ao juiz a condução da execução pelo modo menos gravoso para o devedor,
mormente por se tratar de execução provisória e por ter o impetrante nomeado à
penhora outros bens de sua propriedade.

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De acordo com o disposto no artigo 882 da Consolidação das


Leis do Trabalho (CLT), incumbe ao executado, ao fazer a nomeação de bens,
observar a ordem estabelecida no artigo 655 do CPC, que, desrespeitada, devolve ao
credor o direito à indicação (art. 656). Na espécie, os documentos acostados com a
petição inicial indicam que o impetrante ofereceu à penhora Letras Financeiras do
Tesouro Código Selic, de sua propriedade (fls. 123/125), não aceita pelo exeqüente,
ensejando pedido de que fosse penhorado o numerário que circula no estabelecimento
bancário do impetrante (fls. 131).
Considerando a gradação prevista no artigo 655 do CPC,
segue-se, no meu modo de ver, que a penhora somente poderia recair sobre outro bem
se demonstrado que o executado não possui dinheiro, hipótese que parece improvável
em se tratando de instituição financeira que possui agência em praticamente todo o
globo terrestre.
Demais disso, a impossibilidade de penhora em dinheiro,
principalmente no caso do impetrante, dá-lhe tranqüilidade para demandar por anos a
fio, como tem demonstrado a experiência, tirando, em contrapartida, dado o caráter
alimentar dos salários, a daquele que deveria ser objeto de proteção por parte da
Justiça do Trabalho, com reflexos deletérios na sua vida familiar, social e profissional.
Some-se a esses argumentos o fato de o artigo 882 da CLT
não estabelecer distinção entre execução definitiva ou provisória ao determinar que o
executado, por ocasião da nomeação de bens à penhora, observe a ordem preferencial
constante do artigo 655 do CPC. Assim sendo, consoante elementar regra de
hermenêutica, onde a lei não distingue não cabe ao intérprete fazê-lo.
No tocante à invocação do disposto no artigo 620 do CPC, há
que se ter presente que tal preceito legal não pode ser interpretado isoladamente, senão
em conjunto com o artigo 612 do mesmo Código, segundo o qual a execução realiza-
se no interesse do credor. Não é outro o entendimento de MANOEL ANTONIO
TEIXEIRA FILH0 1 , que assim se pronuncia sobre o tema em apreço:

"Data venia, se algum direito liquido e certo deve ser


invocado em tais episódios, esse direito é, sem dúvida do
credor, e está representado pelo art. 882, da CLT, combinado
com o art. 655, do CPC. Note-se que a disposição contida

I Mandado de Segurança na Justiça do Trabalho. 2' ed. São Paulo: LTr, 1994, p. 194.

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texto trabalhista, no sentido de que se o devedor não pagar a


quantia que constitui objeto da execução poderá garanti-Ia
mediante o depósito correspondente, atualizado e acrescido
das despesas processuais que houver, ou nomear bens à
penhora 'observada a ordem preferencial estabelecida no art.
655 do Código de Processo Civil' é imperativa, e, não,
facultativa. Por outras palavras, a lei manda que o devedor
atenda à referida ordem preferencial; não diz, pois, que ele a
respeitará se assim desejar - até porque a execução se
processa, sempre, no interesse do credor, conforme o
princípio inscrito no art. 612, do CPC. O credor tem, por isso,
preeminência jurídica, ficando o devedor em um ontológico
estado de sujeição ao comando que se esplende da sentença
exeqüenda e das correspondentes transformações que ela se
destina a realizar no terreno da realidade prática,
nomeadamente, de caráter patrimonial".

Por essa razão, aliadas àquelas expendidas pelo


Excelentíssimo Juiz relator que me antecedeu, entendo que a determinação de penhora
em dinheiro não se reveste de nenhuma ilegalidade ou arbitrariedade a justificar a sua
cassação. Entretanto, esta Seção Especializada tem adotado posicionamento
diametralmente oposto ao ora esposado, admitindo que, na hipótese de execução
provisória, deve ser aplicada a diretriz sufragada no item III da Súmula 417 do C.
TST, que assim está redigida:

"417. MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA EM


DINHEIRO. (conversão das Orientações Jurisprudenciais nOs
60,61 e 62 da SDI-II - Res. 137/2005 - Dl 22.08.2005)
( ... )
III - Em se tratando de execução provisória, fere direito
líquido e certo do impetrante a determinação de penhora em
dinheiro, quando nomeados outros bens à penhora, pois o
executado tem direito a que a execução se processe da forma
que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC.
(ex-OJ n° 62 - inserida em 20.09.2000)."

No caso específico dos autos, esta Seção Especializada ~


acolhendo a tese da impetrante, como ocorreu no julgamento dos Processos TRT-;.J

1.1.005
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fi. 5

00517-2004-909-09-00-2, TRT-MS-00171-2005-909-09-00-3 e TRT-MS-00343-


2005-909-09-0-9, relatores os Excelentíssimos Juízes Ana Carolina Zaína, Fatima T.
L. Ledra Machado e Marco Antônio Víanna Mansur, decidindo por conceder a
segurança e suspender a ordem de bloqueio de numerário, determinando que a garantia
do Juízo recaísse sobre as Letras Financeiras do Tesouro oferecidas à penhora, ao
argumento de que ficaria a critério do credor resgatar os títulos públicos no momento
que melhor lhe conviesse.
Diante do exposto, concedo a segurança para ordenar o
levantamento da penhora incidente sobre numerário da impetrante nos autos n" 02324-
2003-011-09-00-8 (RT n? 2324/2003) e determinar a sua transferência para os bens
nomeados pelo impetrante (Letras Financeiras do Tesouro), sem prejuízo de sua
substituição no momento em que a execução tomar feição definitiva.

m, CONCLUSÃO
RESOLVE a Seção Especializada do Tribunal Regional do
Trabalho da 93 Região, por unanimidade de votos, ADMITIR a ação e, no mérito, por
maioria de votos, vencidos os excelentíssimos juízes Arion Mazurkevic (revisor) e
Benedito Xavier da Silva, CONCEDER a segurança para ordenar o levantamento da
penhora incidente sobre numerário da impetrante nos autos n" 02324-2003-011-09-00-
8 (RT n" 2324/2003) e determinar a sua transferência para os bens nomeados pelo
impetrante (Letras Financeiras do Tesouro), sem prejuízo de sua substituição no
momento em que a execução se tornar definitiva. Sem custas.
Sem custas.
Intimem-se.

,c
c->: ANDRÉ LACERDA ---
Procurador Regional do Trabalho

1.1.005

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