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O juiz das garantias e a tunnel vision —

Parte 11
20 de setembro de 2021.

Por Cristiano Zanin Martins e Graziella Ambrosio

A Lei nº 13.964/2019, que alterou artigos do Código de Processo


Penal (CPP), estabeleceu, entre outros pontos, a figura do juiz das
garantias. Por esse novo regramento, dois juízes diferentes passam a atuar
no procedimento criminal: um durante a fase investigatória (juiz das
garantias) — até o recebimento da denúncia (artigo 3º-C) — e outro na
fase processual (juiz do processo). Visando a garantir a imparcialidade do
juiz do processo, ocorre o afastamento desse julgador dos elementos
produzidos na fase de investigação com o objetivo de evitar sua
contaminação pelas diligências havidas durante a fase preliminar da
persecução penal, o que poderia interferir de forma crucial em seu
julgamento.

Assim, caberia ao juiz das garantias decidir, durante a fase


investigatória, sobre a prisão provisória, a prorrogação da prisão
preventiva, a busca e apreensão domiciliar, a intercepção telefônica, o
afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico, o acesso a
informações sigilosas, além de outras medidas envolvendo a obtenção de
provas que restrinjam direitos fundamentais dos investigados (artigo 3º-
B). O juiz das garantias também teria a função de receber ou não a
denúncia elaborada pelo Ministério Público nas ações penais

1
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-set-20/zanin-ambrosio-juiz-
garantias-tunnel-vision-parte. Acesso em: 21/09/2021.
incondicionadas ou queixas-crimes, no caso de ações penais de natureza
privada.

O novel instituto do juiz das garantias, porém, teve seu início de


vigência suspenso em 2020 por liminar cautelar deferida pelo ministro
Luiz Fux na ADI 6.298/DF, requerida pela Associação dos Magistrados
Brasileiros e por outros. Nada obstante, o tema deve retornar ao debate na
maior instância do Poder Judiciário em breve.

Há posições divergentes sobre a implantação do juiz das


garantias no Brasil. Para aqueles que defendem o juiz das garantias, esse
modelo teria o mérito de assegurar a imparcialidade do julgador da ação
penal. Já os contrários à incorporação do instituto ao processo penal
brasileiro — como as entidades corporativas ligadas à magistratura e ao
Ministério Público — se apegam, entre outras razões, a eventuais
dificuldades estruturais do Poder Judiciário, pois muitas comarcas do país
têm apenas um juiz.

No entanto, um dos principais fundamentos a legitimar a


incorporação do juiz das garantias ao sistema penal brasileiro, e que não
é debatido na doutrina pátria, é psicológico, mais especificamente,
decorrente do fenômeno conhecido como tunnel vision ("visão de túnel").
Segundo Keith Findley, professor da Faculdade de Direito da
Universidade de Wisconsin, o tunnel vision "é uma tendência humana
natural que é particularmente perniciosa ao sistema de justiça
criminal" [1].

Para compreendermos o conceito de tunnel vision, importante


transcrever uma das pesquisas realizadas para analisar a influência desse
fenômeno cognitivo no procedimento criminal. Barbara O’Brien,
professora da Faculdade de Direito da Universidade de Michigan,
conduziu um estudo com 108 estudantes universitários que foram
recrutados para participar de uma pesquisa sobre a tomada de decisão em
investigações criminais [2]. Os participantes receberam cópia de um
arquivo de uma investigação criminal sobre uma invasão domiciliar e um
tiroteio, contendo um conjunto diversificado de materiais como
fotografias de vários suspeitos, declarações de testemunhas, relatórios
balísticos e um mandado judicial para revista no apartamento de um
suspeito. Os participantes, então, foram orientados a ler a primeira metade
desse arquivo, que correspondia ao início das investigações, com poucas
evidências concretas sobre a identidade do criminoso.

Ao final dessa primeira etapa, os participantes foram divididos em


dois grupos. Apenas um desses grupos foi instado a formar uma hipótese
de culpa para um dos suspeitos, recebendo a seguinte orientação: "É início
das investigações e há muito mais a fazer, mas com base no que você sabe
agora, quem você acha que é a pessoa mais provável que atirou na
vítima? Está tudo bem se você não tem certeza, apenas declare sua melhor
hipótese sobre quem fez isso". Em seguida, foi solicitado aos integrantes
desse grupo para "explicar os motivos pelos quais você acha que essa
pessoa pode ser a culpada". Após indicarem o suspeito, todos os
participantes foram orientados a ler a segunda metade do arquivo da
investigação criminal, que continha outras provas do crime.

Os resultados desse estudo mostraram que os participantes que


indicaram um suspeito do crime logo no início das investigações: a)
mostraram melhor memória para fatos consistentes (em oposição a
inconsistentes) com a teoria de que o suspeito previamente indicado por
ele era culpado; b) interpretaram informações ambíguas consistentes com
a culpa do suspeito indicado por eles; c) lembraram como verdadeiras
mais provas que condenavam seu suspeito e como falsas as provas que
tendiam a inocentá-lo; d) escolheram mais linhas de investigação que
focavam em seu suspeito e menos etapas investigativas direcionadas a um
suspeito alternativo; e e) mudaram suas atitudes sobre a utilidade e
confiabilidade de certos tipos de provas (por exemplo, o depoimento de
testemunha ocular), dependendo se tal prova apoiava ou minava suas
hipóteses prévias de culpa. Os resultados mostraram que o simples ato de
nomear um suspeito e gerar motivos para essa suspeita — algo que
policiais, membros do Ministério Público e juízes que concedem medidas
restritivas de direitos individuais na fase investigatória costumam fazer —
influencia o julgamento do caso. A pesquisa, portanto, sugere que o tunnel
vision é atuante no procedimento criminal, podendo prejudicar a precisão
da investigação e do próprio julgamento penal.

Assim, conforme ensina o professor Keith Findley, o fenômeno


do tunnel vision tem sido entendido como aquela tendência humana
natural, produzida devido a certos vieses cognitivos, que conduzem os
atores do sistema de Justiça Criminal a focar em um suspeito e, em
seguida, selecionar, filtrar ou superestimar as provas disponíveis contra
ele, ao mesmo tempo em que ignoram ou suprimem provas contrárias ou
outras linhas de pesquisa. Trata-se, portanto, de um fenômeno que faz com
que os agentes se concentrem em uma determinada conclusão ou premissa
particular e, então, ao olhar para as provas do caso, agarram-se a essa
premissa, fazendo com que as demais provas pareçam concordantes com
ela [3].

No mesmo sentido, Mark Godsey, professor da Faculdade de


Direito da Universidade de Cincinnati, afirma que o tunnel vision ocorre
toda vez que os diferentes atores do sistema desenvolvem uma crença ou
suspeita inicial, agarram-se a ela e, então, interpretam toda a informação
posterior de maneira tal que seja consistente ou confirme a crença inicial.
Esclarece que esse fenômeno é uma tendência humana natural, pois os
vieses cognitivos são parte da maneira como funciona o cérebro humano,
sendo capaz de afetar a qualidade das investigações criminais, das
evidências obtidas e, como consequência necessária, a qualidade das
decisões que os juízes tomam com base nessas informações [4].

Devido ao tunnel vision, os atores do sistema penal — policiais,


membros do Ministério Público e juízes — se concentram em uma ideia
ou premissa pré-existente específica e, por meio dela, as provas do caso
são analisadas e integradas, obtendo-se sempre conclusões consistentes
com a hipótese inicial. Assim, as provas consistentes com a ideia inicial
são superestimadas em seu valor e relevância, e, pelo contrário, aquelas
que são inconsistentes ou que vão contra a hipótese inicial são
rapidamente rejeitadas ou consideradas pouco confiáveis. Dessa forma, o
fenômeno acaba impactando profundamente as decisões dos diversos
atores do sistema criminal.

Referências bibliográficas
FINDLEY, Keith A. Tunnel vision. In CUTLER, Brian
Cutler. Conviction of the innocent: Lessons from psychological research.
Washington, D. C.: American Psychological Association, 2012.

GODSEY, Mark. Blind injustice. Oakland: University of California


Press, 2017.

O’BRIEN, Barbara. Prime suspect: An examination of factors that


aggravate and counteract confirmation bias in criminal
investigations. Psychology, Public Policy, and Law, n. 15, 2009, p. 315–
334.

ROMÁN, Víctor B. Visión de túnel: notas sobre el impacto de sesgos


cognitivos y otros factores en la toma de decisiones en la justicia
criminal. Revista de Estudios de La Justicia, n. 34, jun. 2021, p. 17-58.

[1] FINDLEY, Keith A. Tunnel vision. In CUTLER, Brian


Cutler. Conviction of the innocent: Lessons from psychological research.
Washington, D. C.: American Psychological Association, 2012. p. 303.

[2] O’BRIEN, Barbara. Prime suspect: An examination of factors that


aggravate and counteract confirmation bias in criminal
investigations. Psychology, Public Policy, and Law, n. 15, 2009, p. 315–
334.

[3] FINDLEY, Keith A. Op. cit. p. 304.

[4] GODSEY, Mark. Blind injustice. Oakland: University of California


Press, 2017. p. 172.

O juiz das garantias e a tunnel vision —


Parte 22
20 de setembro de 2021.

Por Cristiano Zanin Martins e Graziella Ambrosio

Para o professor Keith Findley, o tunnel vision decorre de


distorções cognitivas, também conhecidas como vieses cognitivos, que
são reforçados por pressões institucionais e políticas [1]. Sobre as
distorções que comumente ocorrem nos processos mentais, esclarece o

2
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-set-20/opiniao-juiz-garantias-tunnel-
vision-parte. Acesso: 21/09/2021.
referido professor que o viés de confirmação e o viés
retrospectivo explicam como e por que o tunnel vision é tão onipresente,
mesmo em atores bem intencionados do procedimento penal.

O viés de confirmação, segundo explica o professor Keith Findley,


é a tendência humana natural de buscar, selecionar, interpretar, relembrar
e valorar informações de uma forma que seja consistente e apoie as
crenças, expectativas ou hipóteses pré-existentes. Assim, ao testar uma
hipótese ou conclusão, as pessoas tendem a buscar informações que
confirmem suas crenças e evitar informações que refutem essas crenças,
além de se apresentarem resistentes a mudanças, mesmo em face de novas
evidências que comprometam totalmente suas hipóteses iniciais [2].
O viés de confirmação, a propósito, dá causa ao fenômeno conhecido
como selective stopping [3], segundo o qual os policiais encerram
imediatamente as investigações ou simplesmente param de investigar
quando, em seu conceito, descobrem provas suficientes para apoiar sua
hipótese principal. Assim, o fenômeno pode causar uma investigação
abortada prematuramente ou um caso encerrado antes mesmo de
considerar a existência de informações que contradigam a hipótese
investigativa.

Um caso famoso de selective stopping é o de Marvin Anderson.


Convencidos por uma identificação precoce, embora falha, de
testemunhas oculares, polícia e promotores buscaram provas que
confirmariam a culpa de Marvin e nunca procuraram outra hipótese
viável. Mesmo quando se deparavam com provas ambíguas ou fracas
contra Marvin, a polícia e os promotores interpretavam-nas como
poderosamente incriminatórias. E quando confrontados com provas
contrárias ao envolvimento de Marvin no crime, como depoimento de
testemunhas e o álibi, eles procuravam desacreditar ou minimizar essas
provas. A avaliação precipitada de culpa de Marvin persistiu a tal ponto
que levou as autoridades a rejeitar a confissão do verdadeiro criminoso.

Sobre o viés retrospectivo, o professor Keith Findley afirma que é


um produto do fato de que a memória é um processo dinâmico de
reconstrução. Memórias não são tiradas de nossos cérebros totalmente
formadas, ao contrário, elas são montadas a partir de pequenos pedaços de
informações quando nos lembramos de um evento. Essas pequenas
informações sobre um evento ou situação estão constantemente sendo
atualizadas e substituídas em nossos cérebros por novas em formação. A
informação atualizada é então usada cada vez que reconstruímos uma
memória relevante, fazendo com que a conclusão final pareça
predeterminada ou mais provável do que poderíamos imaginar no início.
Entendido de outra maneira, o processo é aquele em que um indivíduo
reanalisa um evento para que o início do estágio do processo se conecte
causalmente ao fim [4].

Durante esse processo, a prova consistente com o resultado relatado


é elaborada, e as provas inconsistentes com o resultado são minimizadas
ou descontadas. O resultado desse processo de rejeição é que o resultado
dado parece inevitável ou, pelo menos, mais plausível do que resultados
alternativos. O viés retrospectivo pode reforçar o foco prematuro ou
injustificado em um suspeito inocente. Uma vez que um suspeito se torna
o foco de uma investigação, isto é, uma vez que a polícia ou os promotores
chegam a um resultado em suas próprias buscas para determinar quem eles
acreditam ser o culpado, o viés retrospectivo sugeriria que, pensando bem,
esse suspeito parece ter sido o inevitável e provável suspeito desde o
início, ainda que novas informações digam o contrário. Por erros de
cognição, as pessoas tendem a produzir falsas sensações de inevitabilidade
e previsibilidade.

Por fim, o professor Keith Findley adverte que as pressões


institucionais inerentes ao sistema adversarial e as explícitas escolhas
políticas de muitas maneiras reforçam as tendências naturais em direção
ao tunnel vision no sistema de Justiça Criminal. O sistema adversarial,
segundo o professor, tem muitas virtudes. Mas um subproduto desse
modelo adversarial é a polarização dos participantes que impõe pressões
sobre eles para dogmaticamente perseguirem seus próprios interesses ou
suas próprias avaliações dos resultados adequados de seus casos,
exacerbando os vieses cognitivos naturais [5]. O sistema acusatório
brasileiro, sobretudo na sua versão mais atual, também assumiu essa
tendência, sobretudo no modelo lavajatista.

No mesmo sentido, Víctor Román afirma que fatores internos e


externos se combinam para gerar um ambiente que obriga os agentes do
sistema penal a encontrar um culpado e encerrar rapidamente os casos.
Dessa forma, não apenas se exacerbam os vieses cognitivos que disparam
o tunnel vision, como, em termos práticos, podem ocorrer descuidos na
condução das investigações com prisões equivocadas, desproporções no
desenvolvimento das diligências, falhas na condução dos processos e erros
de estratégias. O pesquisador afirma que esses agentes sofrem pressões
externas das vítimas e dos movimentos pró-vítimas, da comunidade em
geral, dos meios de comunicação em massa, das instituições aos quais
estão vinculados e, inclusive do mundo político [6].

Para Víctor Román, como se não bastasse o tunnel vision, a esse


fenômeno se somam questões bastantes pessoais dos agentes
encarregados do procedimento penal, como por exemplo, o fenômeno
da ambição cega [7] segundo a qual quanto mais difícil parece um caso
ou quanto mais evidências de defesa houver, mais ambição para obter a
condenação existirá por parte desses agentes, uma vez que esses casos
difíceis conferem prestígio, reputação e, ao final, todos querem ser os
heróis de suas respectivas unidades. Além disso, existem objetivos
individuais que afetam a tomada de decisões, como querer ser promovido,
transferido, optar por uma posição de liderança etc. No caso norte-
americano, aparecer como um promotor duro ou implacável contra o
crime e enviar uma mensagem clara aos cidadãos são extremamente
relevantes, especialmente nos casos em que são eleitos pela população.

Víctor Román adverte que é impossível [8] que as pessoas se


sobreponham por sua própria vontade aos efeitos do tunnel vision, pois os
vieses cognitivos são uma questão inerente à natureza humana. Mesmo
quando informados e instruídos a tentar ignorar os efeitos desse
fenômeno, é surpreendente como os agentes do sistema penal são
tendenciosos em considerar apenas as provas que favorecem um
determinado suspeito e nenhuma prova em contrário. Portanto, sendo o
sistema de Justiça composto por seres humanos, e não por máquinas,
infelizmente não basta a educação desses agentes, sendo imprescindível a
imposição de regras de procedimento que possam reduzir os obstáculos
que ameaçam a capacidade do sistema de identificar e condenar
adequadamente os culpados.

Conquanto reconheça que as soluções para o problema do tunnel


vision sejam complexas, o professor Keith Findley afirma que, dado que
policiais, promotores e juízes são seres humanos, não se pode esperar que
reconheçam e corrijam todos os vieses cognitivos aos quais estão
naturalmente sujeitos, devendo o sistema impor princípios legais e regras
de procedimento que obriguem esses agentes a olhar para fora do túnel e
encontrar o verdadeiro culpado. Nesse sentido, o professor afirma
que "uma maior transparência em todas as etapas do processo criminal
pode ser a forma mais poderosa de se combater o tunnel vision" [9]. E
esclarece que, "em casos criminais, maior transparência significa o
fornecimento para os réus do conjunto mais completo possível de
informações sobre a investigação" [10]. Pois afirma que, "armada com
informações investigativas completas, a defesa pode pelo menos ter uma
chance de resistir às hipóteses policiais pré-concebidas sobre a
identificação do suspeito" [11]. Além de os atores terem um incentivo
para olhar para fora do túnel, a transparência também ajuda a modificar
os efeitos de preconceitos sobre os tomadores de decisão, pois as
pesquisas mostram que quando as pessoas sabem que suas ações estão
sendo observadas e elas serão responsabilizados publicamente, elas
tendem a exibir menos preconceito em suas estratégias. Assim, ao menos
em teoria, quanto mais investigações policiais forem conduzidas de forma
aberta e observável, mais provável será resistir às tendências infundadas
dos investigadores [12].

O tunnel vision, portanto, não é apenas um produto de tendências


psicológicas, mas também de múltiplas forças externas que incluem
pressões institucionais e políticas sobre a polícia, o Ministério Público e
os juízes, particularmente com relação a crimes de ampla divulgação na
mídia. Não raras vezes, os magistrados são pressionados a conceder
medidas restritivas de direitos fundamentais em investigações prematuras
como forma de supostamente "contribuir" com o trabalho dos
investigadores para a busca da verdade. Tais julgadores, como sugerem as
pesquisas apresentadas, não devem em hipótese alguma atuar na fase
processual, sob pena de se comprometer decisivamente sua
imparcialidade no julgamento do caso.

Assim, em conclusão, o tunnel vision é o fundamento psicológico


inafastável que impõe a adoção do juiz das garantias no sistema penal
brasileiro — para além de todos os aspectos estritamente jurídicos que têm
sido amplamente debatidos. Isso porque, conforme bem elucida Víctor
Román, o tunnel vision não está presente apenas no momento de
interpretar uma determinada prova em particular. Pelo contrário, uma vez
que certa prova é interpretada de forma tendenciosa — o que poderia
ocorrer na atuação do magistrado na fase pré-processual —, ela
necessariamente afetará a análise ou interpretação de evidências
subsequentes, bem como o processo de integração de todas as provas do
caso — ocorrendo, assim, uma espécie de contaminação cruzada e
crescente [13], que ilustra a forma como as decisões iniciais que levam ao
erro, por sua vez, levam a outros erros, que parecem reforçar a validade
da primeira decisão e vice-versa.

Ou seja, o juiz das garantias deve ser entendido como uma regra
procedimental indispensável para combater os indesejáveis efeitos
do tunnel vision no sistema criminal, sendo, em razão disso, urgente a
revogação da liminar deferida na ADI 6.298/DF e a consequente
implementação do instituto, tal como previsto na Lei nº 13.964/2019.

Referências
FINDLEY, Keith A. Tunnel vision. In CUTLER, Brian
Cutler. Conviction of the innocent: Lessons from psychological research.
Washington, D. C.: American Psychological Association, 2012.

GODSEY, Mark. Blind injustice. Oakland: University of California Press,


2017.

O’BRIEN, Barbara. Prime suspect: An examination of factors that


aggravate and counteract confirmation bias in criminal
investigations. Psychology, Public Policy, and Law, n. 15, 2009, p. 315–
334.

ROMÁN, Víctor B. Visión de túnel: notas sobre el impacto de sesgos


cognitivos y otros factores en la toma de decisiones en la justicia
criminal. Revista de Estudios de La Justicia, n. 34, jun. 2021, p. 17-58.

[1] FINDLEY, Keith A. Op. cit. p. 306.

[2] Ibidem, p. 307 e 309.

[3] Para mais informações sobre o selective stopping consultar o livro “In
doubt: The psychology of the criminal justice process” de Dan Simon.

[4] FINDLEY, Keith A. Op. cit. p. 310-312.

[5] Ibidem, p. 313.


[6] ROMÁN, Víctor B. Visión de túnel: notas sobre el impacto de sesgos
cognitivos y otros factores en la toma de decisiones en la justicia
criminal. Revista de Estudios de La Justicia, n. 34, jun. 2021, p. 33.

[7] Ibidem, mesma página.

[8] Ibidem, p. 49.

[9] FINDLEY, Keith A. Op. cit. p. 318.

[10] Ibidem, mesma página.

[11] Ibidem, mesma página.

[12] Ibidem, p. 319.

[13] ROMÁN, Víctor B. Op. cit. p. 21-22.

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