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Sex on the beach

O gosto de ter um orgasmo em Ipanema por apenas 12 dólares e sem levar nenhuma
multa por atentado ao pudor.
André aprendeu a fazer seus drinks com seu pai e podia praticar na boate que
trabalhava. Era um dos poucos humanos que ainda tinha alguma forma de trabalho. Os djs
haviam sido os primeiros a serem trocados por máquinas depois do lançamento dos atomic
chips artísticos, que faziam com que conseguissem não apenas reproduzir os padrões de
músicas como também criar novos. Por mais esforçado que fosse um dj, ele não conseguiria
criar uma setlist completamente nova por dia. E não se engane, eles também faziam drinks,
mas André possuía um carisma que nem a máquina conseguia reproduzir ao fazer sempre
mais do que o esperado do seu cliente. Já amanhecendo depois de uma festa na praia artificial
de um lago na cidade, o dinheiro ainda não havia sido depositado em sua conta.
- Ellias, cadê a porra do meu dinheiro? – Dizia ao seu chefe, um coroa de 115 anos,
mas tentava se manter jovial com inúmeras operações com nanocerurgiões e aplicações de
células troncos.
- Cala a boca, Dedé. Tu não ta vendo que tô em crise? Vou ter que usar uma máscara
agora! Olha que caralha ta acontecendo! – Apontando pra um pé de galinha em seu rosto que
parecia de um adolescente de propaganda anti acne dos anos 2000. – Daqui a pouco vou ter
que fazer aquelas merdas de plástica e ficar com a cara de um saco de mercado esticado,
buceta.
- Não me importa se tu cair morto, só quero a droga do meu dinheiro. – Dizia mostrando
em seu Gwatch o holograma de sua conta bancária.
- Olha como fala comigo. Tu não é indispensável, não. O contador parece que viciou de
novo em um CommWarrior. Se eu descobrir quem o trafica que ta passando esses tripwires,
ele ta desligado, entendeu? Definitivo. – Contava quatro notas de cinquenta e dava na mão
dele. – Tu vai receber o resto quando conseguir trazer um novo defender decente pra’quela
bagaça.
Depois de fitar um olhar furioso à Ellias, resmungou alguns xingamentos saindo do
prédio. Pegou sua autobike e posicionou o destino até em casa. Gerava a energia através de
suas pedaladas, mas dirigir era uma tecnologia que havia morrido há anos. Se impressionava
de se quer lembrar que o sol nascia à leste. André morava no setor Tuag²yok, era um bairro
perigoso, mas onde apesar de raro, a empresa licitada de segurança Azast ainda prestava
serviços.
- Gina, tu ta aí? - Procurava sua colega de casa. Dividia seu flat enquanto não tinha
condições de pagar um pra si. – Aquele antivício que tu me passou não pegou no CounTI lá da
firma. Ele ta com um Worm pego por um Tripwire ou algo assim
- Tu não tinha me falado que ele tava fundo na merda, Déda! - De um dos quartos, saía
uma guria de moicano roxo. – Tchau, bebê... A gente se vê por aí, ok? – Suavizava a voz,
enquanto envergonhada, uma mulher que a acompanhava saia da casa pela mesma porta que
André havia entrado fumando um charuto de maconha derby sabor harsheys’n.
- Não devia ter colocado uma gravata na porta ou algo do tipo?
- E eu lá tenho cara de quem usa gravata? – E fazia um gesto para ele segui-la ao seu
quarto.
Seu quarto estava emulado com a paisagem do telhado do antigo congresso da cidade.
A vista era estupenda, mas assim que ela puxou o interruptor próximo à porta, voltou a ser o
mesmo quarto entupido de tralhas e luzes neon ao qual era familiarizado. Enquanto ela
buscava em uma pilha de cartuchos montados em cima de uma escrivaninha de metal
iluminada por uma lamparina de lava um novo antivírus que fosse capaz de resolver o
problema.
- Esse aqui vai servir. Peguei de um vapt que tava desembarcando a Betty que você
acabou de conhecer. – Vapt era uma sigla para Veículos Automáticos de Pontos
Transmutáveis. Uma espécie de carro não poluentes sem motoristas que eram chamados por
aplicativos de intercelulares, gwatchs ou películas de retinas avançadas com acesso à rede.
- Valeu, Gina. Tu salvou minha pele. O miserável do Ellias não queria nem liberar a
grana pela noite passada. Como se já não bastasse ter que ouvir daqueles engomadinhos do
NaPraiaLunar cantadas e sobre como eles podiam pagar um automixer de drinks com a
mesada deles.
- Tem certeza que não quer fazer uma graninha extra? Tu é habilidoso com as mãos,
acho que tu pode fazer uma boa parceria.
- Vô passar. O velho pode ser babaca, mas ainda é limpo. Nada contra sua revenda de
peças resgatadas de máquinas fora do seguro.
- Tem certeza que ele é limpo? A gente pode conferir em dois pulos. Ligar FPC. – Uma
grande tela apareceu em uma das paredes e em frente às mãos de Gina, um teclado
holográfico translúcido.
- O que você ta fazendo?
- Bom, vamo ver o quão o velho diz a verdade pra ti. – Dizia enquanto digitava alguns
códigos e à tela se conectava a máquina de Contador que era utilizada na casa de festas.
- Foi você que hackeou o CounTI!? Porra, Gina
- Relaxa, bebê. Irrastreável. E tecnicamente, você que passou esse vírus pra ele
quando acessou ele com seu Gwatch pra registrar sua conta bancária.
- Mas que... – Antes de terminar, ao olhar à tela. Via várias transações em nome de
contas fantasmas surgindo.
- Aqui está, Deda. Aqui como seu querido chefinho realmente ganha grana. Reprodução
de arquivo emulativo. - Ellias gravava os ambientes particulares de orgias da festa e vendia
para pervertidos através da rede profunda. Em inúmeras das vezes, pediam simulações com o
bartender.
- Você vendeu os direitos do seu pau, cara. No momento que tu fez o contrato com ele.
Ele é seu cafetão virtual, haha.

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