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Análise e inversão de H/V (elipticidade) em estações

sismográficas da bacia do Pantanal para estimar a


profundidade do embasamento e velocidades das
camadas sedimentares

Disciplina pós-graduação IAG-USP: AGG5943 – Tópicos especiais em sismologia.

Aluno: Denise Silva de Moura.

Nº USP: 7599561.

Data: abril-maio de 2019.


SUMÁRIO

Resumo.............................................................................................................................................................2

1. Introdução....................................................................................................................................................2

2. Materiais e métodos.....................................................................................................................................4

2.1 Dados utilizados.............................................................................................................................4

2.2 Pré-processamento........................................................................................................................5

2.3 Cálculo da curva de elipticidade das ondas Rayleigh (H/V)...........................................................7

2.4 Inversão das curvas de elipticidade...............................................................................................7

2.5 Resolução por profundidade.........................................................................................................8

2.6 Adaptações nos códigos do método DOP-E e NA..........................................................................9

3. Resultados e discussões..............................................................................................................................10

3.1 Variações nas curvas de elipticidade...........................................................................................10

3.2 Curva de elipticidade para sismos...............................................................................................10

3.3 Perfil de velocidade na estação FRTB..........................................................................................11

3.4 Perfil de velocidade na estação AQDB.........................................................................................13

3.5 Perfil de velocidade na estação PTGB..........................................................................................14

3.6 Comparação entre os modelos produzidos nesse trabalho e estudos prévios..........................15

3.7 Análise detalhada dos parâmetros do DOP-E e inversão.............................................................16

4. Conclusões..................................................................................................................................................17

5. Bibliografia..................................................................................................................................................17

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Resumo

O objetivo desse trabalho é determinar a aplicabilidade do cálculo e da inversão de medidas de


elipticidade de ondas Rayleigh, para determinar a espessura e a Vs das camadas da bacia do Paraná. São
utilizadas três estações sismográficas, nas bordas nordeste e noroeste, e uma central, AQDB, FRTB e PTGB,
respectivamente. Através de uma metodologia, aplicada pela primeira vez em estações da placa Sul-
Americana, foi possível calcular valores de espessura sedimentar e perfis de velocidade para essas três
estações, com uma melhor resolução nas estações AQDB e PTGB. Os valores encontrados são compatíveis
com os apresentados em estudos prévios, confirmando a aplicabilidade do método para essa bacia e,
indiretamente, outras bacias sedimentares semelhantes. Há ainda a necessidade da averiguação dos
parâmetros utilizados a fim de confirmar os resultados.

1. Introdução

A Bacia do Paraná está localizada no Brasil meridional e em parte da Argentina, Paraguai e Uruguai
(figura 1). Ela começou a ser formada no Ordoviciano, tem atualmente uma extensão de 1.500.000 km² e
cerca de 7 km profundidade no depocentro. Há 130 Ma cerca de 80% da extensão atual da bacia foi
coberta pela Província Magmática do Paraná, dando origem à Formação Serra Geral. Em termos de
evolução essa bacia costuma ser dividida em seis super sequências, como apresentado nas figuras 1 e 2.
A complexidade geológica dessa bacia, devido à sua extensão continental, longo período de
deposição e ao magmatismo sin deposicional dificultam os estudos sobre a Bacia do Paraná. A dificuldade
de se obter medidas e interpretações com precisão sobre a região motiva a busca e a análise independente
de diferentes dados, que é o caso deste estudo.
A inversão de curvas de elipticidade de ondas Rayleigh, com dados de ruído ambiental, através do
grau de polarização (Berbellini et al., 2018) é uma nova metodologia que pode contribuir na análise das
camadas e principalmente do embasamento de bacias sedimentares. O objetivo desse trabalho é
determinar a aplicabilidade dessa inversão para determinar a espessura e a Vs das camadas da bacia do
Paraná.

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Figura 1: Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná, com a profundidade do embasamento (Milani,
2004). Super sequências sedimentares utilizadas neste trabalho.

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Figura 2: Carta estratigráfica da Bacia do Paraná com indicação das super sequências (Milani et al., 2007).

2. Materiais e métodos

2.1 Dados utilizados

Na etapa de cálculo da curva de elipticidade por ruído ambiental utilizei um período de um mês de
dados, a partir de 01 de janeiro de 2018, em 3 estações sismográficas brasileiras: FRTB, AQDB e PTGB
(figura 3). A quantidade de dados se mostrou suficiente, e devido ao tempo de processamento optei por
não utilizar mais dias. A quantidade de dados necessária, um intervalo de dias a poucas semanas, foi
apresentada por Berbellini et al. (2018).

Os sismogramas nas 3 componentes foram baixados por hora, utilizando o programa


arclinkClient.py, desenvolvido por Bruno Colaço - IAG-USP. Esse programa baixa os dados e interpola os
gaps.

Com a finalidade de comparação utilizo um grid de espessura sedimentar para a Bacia do Paraná
desenvolvido por Dragone et al. (2017) por meio de dados de poços (figura 3).

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Figura 3: Mapa de espessura sedimentar com posição das estações sismográficas utilizadas neste trabalho.
Abaixo do nome de cada estação estão os valores de espessura sedimentar retirados do modelo utilizado.
Contorno das bacias sedimentares: Paraná – laranja, Chaco-Paraná – magenta e Pantanal – roxo.

2.2 Pré-processamento

O pré-processamento foi feito com o programa Obspy (Beyreuther et al., 2010) em três etapas: (1)
preparação dos dados para a remoção da resposta do instrumento, (2) remoção da resposta do
instrumento, (3) decimação dos dados para serem compatíveis com a entrada do programa DOP-E, que
calcula a curva de elipticidade por período.

Na fase (1) foi removida a média e a tendência, aplicado um taper e utilizado um filtro passa
banda. Nos dados de ruído ambiental o filtro foi: (0.05, 0.06, 1, 2) Hz e nos de terremotos: (0.008, 0.01,
0.1, 0.2) Hz. Na fase (2) foi removida a resposta do instrumento com o arquivo RESP de cada estação. Na
última fase de pré-processamento (3) foi feita a decimação do dado com o fator 49 (figuras 4 e 5). Os
arquivos brutos com taxa de amostragem de 100 Hz contém 360.000 pontos (1 hora), depois da decimação
a frequência foi para cerca de 2Hz e a quantidade de pontos para 7347. O programa DOP-E exige o máximo
de 8162 dados por entrada.

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a)

b) c)

Figura 4: Exemplo de dado utilizado. (a) Três componentes de dado bruto e depois do pré-processamento.
Espectros de amplitude da componente HHN, (b) dado bruto e (c) pré-processado.

Figura 5: Exemplo de sismo utilizado, três componentes de dado bruto e pré-processado. Sismo de 10
janeiro de 2018 às 3h00 (UTM). Filtro passa banda (0.008, 0.01, 0.1, 0.2) Hz e decimado 7x7. Foram usados
5 sismos na estação FRTB.

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2.3 Cálculo da curva de elipticidade das ondas Rayleigh (H/V)

O estudo da elipticidade das ondas Rayleigh foi introduzido por Nogoshi e Igarashi (1971) e
divulgado por Nakamura (1989), a metodologia se baseia no cálculo da razão entre os espectros de
amplitude das componentes horizontal e vertical dos sismogramas (SESAME, 2005). O espectro horizontal
é calculado pela a média quadrática das componentes norte e leste.

O método utilizado neste trabalho (Berbellini et al., 2018) também calcula a curva de elipticidade,
mas através de uma técnica desenvolvida por Schimmel e Gallart (2004) que se baseia no grau de
polarização (DOP). O procedimento de cálculo do DOP foi adaptado para reconhecer segmentos de
sismograma que descrevem um movimento elíptico retrógrado (Schimmel et al., 2011), característico de
ondas Rayleigh. Posteriormente, esse procedimento foi denominado de DOP-E (Berbellini et al., 2018),
para enfatizar que somente são consideradas as partes do sismograma onde o movimento elíptico vertical
retrógrado tem inclinações máximas de 10° no semi-eixo maior.

Berbellini et al. (2018) propõem calcular curvas independentes para cada estação, não
dependendo de grandes redes, como outras metodologias exigem (Maranó et al., 2017). Outra vantagem
dessa técnica é a diminuição da interferência da onda Love nas medidas, que causa uma superestimação
da elipticidade na técnica utilizada por Nakamura (1989) e aplicada no projeto europeu SESAME-GEOPSY
(http://sesame.geopsy.org/).

A etapa de cálculo da curva de elipticidade é denominada por Berbellini et al. (2018) como
“measurement”. Os programas para essa etapa e para a seguinte, de inversão, estão disponíveis no GitHub
do Andrea Berbellini (http://github.com/berbellini/DOP-E/).

A entrada para o programa são os sismogramas preparados no pré-processamento. O cálculo é


feito individualmente para cada estação. Os parâmetros usados neste trabalho foram os mesmos adotados
por Berbellini et al. (2018), adaptados para detectar, extrair e caracterizar ondas Rayleigh de modo
fundamental a partir de dados de ruído ambiental. Esses valores são apresentados nos materiais
suplementares à publicação (https://academic.oup.com/gji/article/216/3/1817/5222650).

2.4 Inversão das curvas de elipticidade

O programa de inversão utilizado para correlacionar a curva de elipticidade com um modelo de


profundidade x Vs é denominado “Neigbourhood Algorithm”. Esse programa utiliza inversão não linear por
busca direta (Sambridge, 1999), mais informações podem ser encontradas na página do Malcolm
Sambridge (http://rses.anu.edu.au/~malcolm/na/). O pacote original do NA pode ser baixado no site do
iEarth (http://www.iearth.org.au/codes/NA/download/).

Segundo Berbellini et al. (2018), o método de inversão de elipticidade de ondas Rayleigh, mesmo
com a aplicação da técnica de inversão não linear, se mostra dependente de um prévio conhecimento da
área, da velocidade das camadas ou de sua espessura.

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O cálculo do modelo se baseia na seguinte função de custo:

(1)

Onde o primeiro termo é o misfit entre o modelo observado e teórico e o segundo é o termo de
regularização. diobs é o dado observado, gi (m) é a elipticidade teórica, calculada pela técnica do modo
normal (Herrmann, 2013) para o modelo m. σiD é o desvio padrão, Nm é o número de medidas, NL é o
número de camadas, A é o fator de escala e ʋs é a velocidade da onda S.

As entradas na inversão NA são três: (I) a saída do DOP-E, um arquivo com períodos (T), valores de
H/V e o desvio padrão, (II) o modelo de referência na região, no caso, o CRUST 1.0, para isso utilizei o
programa getCN1point.f do próprio site do modelo (https://igppweb.ucsd.edu/~gabi/crust1.html) e (III)
valores de máximo e mínimo de espessuras e Vs para as camadas mais rasas, para definir esses valores
considerei a geologia local das estações, as camadas e as velocidades são baseadas nas super sequências
da Bacia do Paraná (figuras 1 e 2).

2.5 Resolução por profundidade

Esse trabalho restringiu o estudo em altas frequências (até 10 segundos), como consequência, a
resolução dos modelos se restringe aos primeiros quilômetros de profundidade (Lin et al., 2014) (figura 6).
Considero que os modelos são representativos até cerca de 10 km. Abaixo dessa profundidade a inversão
se torna coerente com os dados do modelo global CRUST 1.0 devido, principalmente, a ausência de dados
na curva de elipticidade para essas profundidades, e então, o modelo de inversão se adequa facilmente ao
modelo inicial.

Além da restrição de profundidade, considero que as camadas mais rasas tem maior influência nas
curvas de elipticidade. Testes de sensibilidade mostram que variações de cerca de 15% na Vs de uma
camada de 500m na superfície são identificáveis pelo método. Há certamente uma maior sensibilidade de
variações de velocidade nas camadas mais rasas.

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Figura 6: Comparação de kernels de sensibilidade para o método H/V comparado com o método de
dispersão de velocidade de fase calculado com base no modelo 1D PREM (Dziewonski e Anderson, 1981)
sem a camada oceânica. (a) e (b) kernels para ondas Rayleigh de 8 segundos. (c) e (d) kernels para ondas
Rayleigh de 16 segundos .

2.6 Adaptações nos códigos do método DOP-E e NA

Algumas variações tiveram que ser feitas nos códigos de inversão, modificando parâmetros que
fixam valores de espessura e velocidade. As modificações feitas deixam o modelo dependente somente
dos parâmetros de entrada, baseado nas super sequências da Bacia do Paraná. Os valores de Vs e
profundidade se baseiam na literatura (Milani, 2004) e no modelo CRUST 1.0 (figura 7).

Figura 7: Modelo CRUT1.0 para diferentes tipos crustais. Os tipos considerados pelo modelo global para as
estações utilizadas neste trabalho são o Proterozóico inferior/médio e Proterozóico superior. As
velocidades apresentadas são Vp e estão em km/s.
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3. Resultados e discussões

3.1 Variações nas curvas de elipticidade

O cálculo das curvas de elipticidade (DOP-E) se estabilizou com um mês de dados nas estações
AQDB e PTGB, mas o desvio padrão na curva da estação FRTB se manteve alto. Fiz testes com 14 dias e
retirando dias com ruídos anômalos e sismos nessa estação, para analisar a dependência da técnica para
com os dados de entrada (figura 8). A curva mais estável e com menor desvio padrão foi calculada com um
mês de dados e sem sismos ou ruídos anômalos (figura 8c).

a) b)

c)

Figura 8: Curvas de elipticidade calculadas para a estação FRTB com diferentes arquivos de entrada. (a) 14
dias, (b)31 dias e (c) 31 dias sem horas com ruídos anômalos e sismos. O procedimento de pré-
processamento nos três casos foi igual, mesmos filtros e decimação.

3.2 Curva de elipticidade para sismos

Calculei a curva de elipticidade para sismos, como apresentado por Berbellini et al. (2018), para
complementar os maiores períodos e também, como forma de conferir os valores de elipticidade onde as
curvas se encontram. Novamente utilizei a estação FRTB, com a intenção de melhorar os resultados dela.
Utilizei 5 sismos para esse procedimento.

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O cálculo da curva de elipticidade com sismos foi compatível com os mesmos períodos calculados
com os dados de ruído ambiental. Certamente, com mais sismos haveria uma melhor cobertura de
frequências, pois com 5 eventos somente quatro períodos foram amostrados (figura 9). Os resultados
dessa análise estão além do proposto nesse projeto, por amostrarem regiões mais profundas que as
camadas sedimentares de interesse. Por esse motivo, não dei continuidade no cálculo da curva de
elipticidade por sismos, porém, foi possível demonstrar sua aplicabilidade, além de conferir os valores de
elipticidade para os períodos por volta de 10 s.

Figura 9: Curva de elipticidade calculada para a estação FRTB com dados de ruído ambiental e terremotos.

3.3 Perfil de velocidade na estação FRTB

A estação FRTB está localizada na divisa entre os estados de SP e PR, na borda Nordeste da Bacia
do Paraná. Segundo estudos prévios (Dragone et al., 2017) a espessura sedimentar abaixo desta estação é
de cerca de 1,77 km.

A estação apresentou a menor linearidade na curva de elipticidade com relação às três utilizadas
neste estudo. As tentativas de melhorar os resultados estão detalhadas em 3.1 deste texto. Proponho duas
hipóteses para explicar esses resultados: (I) alguma estrutura geológica está afetando o movimento das
partículas, dificultando o método de encontrar o padrão vertical elíptico retrógrado, ou (II) é necessária
uma maior quantidade de dias de ruído ambiental ou de uma melhor seleção dos mesmos.

Fiz a inversão para a curva de elipticidade de um mês de dados selecionados. O misfit máximo não
foi considerado, e mesmo que o valor de espessura sedimentar tenha se ajustado em 1,7 km, muito
próximo do esperado, ainda considero necessária a reavaliação das medidas de H/V para esta estação
(tabela 1 e figura 10).

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Tabela 1: Valores de espessura e Vs para as camadas sedimentares e crustais abaixo da estação FRTB.
Espessuras em km e Vs em km/s.

Modelo inicial Modelo final CRUST 1.0


Espessura Vs Espessura Vs Espessura Vs
GW III ou solo 0 – 0.3 0.5 – 2.5 0.3 2.5 0.1 1.07
GW I 0.1 – 1.5 2.0 – 3.0 0.5 3.0
Paraná 0 – 0.5 2.5 – 3.5 0.5 2.5 1.4 2.13
Rio Ivaí 0 – 0.4 3.0 – 4.0 0.4 3.0
Crosta superior 10.7 3.0 – 4.0 10.7 3.6 13.43 3.54
Crosta média 12.03 3.0 – 4.5 12.03 3.07 13.03 3.74
Crosta inferior - - 3.53 3.74 13.03 4.05
13.03 4.05

Figura 10: Curva de Elipticidade e modelo de camadas para a estação FRTB.

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3.4 Perfil de velocidade na estação AQDB

A estação AQDB está localizada no estado do MS, na borda Noroeste da Bacia do Paraná e próxima
à borda sudeste da Bacia do Pantanal. A espessura sedimentar, esperada em torno de 1,05 km, foi
calculada no modelo em 1,16 km, porém a velocidade na última camada pode já ser característica de rocha
do embasamento, o que traria o embasamento para 0,8 km (tabela 2 e figura 11). Valores mais ajustados
de Vs para essas camadas são necessárias para diminuir a ambiguidade.

O valor de Vs máximo para a primeira camada teve que ser reconsiderado nesta estação, a
convergência somente foi possível com Vs da primeira camada igual a 3,5 km/s. As hipóteses que faço para
esse resultado são três: (I) os sedimentos na região são bem compactados, e os valores altos de Vs
estariam de acordo com o esperado, (II) a espessura sedimentar é muito pequena para que o método seja
acurado, (III) os valores usados para velocidade das outras camadas estão forçando esse ajuste no modelo.

Figura 11: Modelo de camadas para a estação AQDB.

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Tabela 2: Valores de espessura e Vs para as camadas sedimentares e crustais abaixo da estação AQDB.
Espessuras em km e Vs em km/s.

Modelo inicial Modelo final CRUST 1.0


Espessura Vs Espessura Vs Espessura Vs
GW III ou solo 0 – 0.2 0.5 – 2.5 0 1.4 0.5 1.07
GW I 0 – 0.6 2.0 – 3.5 0.4 3.5
Paraná 0 – 0.4 2.5 – 3.5 0.4 2.5 0.4 2.13
Rio Ivaí 0 – 0.4 3.0 – 4.0 0.36 3.0
Crosta superior 10.7 3.0 – 4.0 10.7 3.38 10.7 3.53
Crosta média 12.03 3.0 – 4.5 12.03 3.74 12.03 3.71
Crosta inferior - - 10.44 3.93 10.7 3.93

3.5 Perfil de velocidade na estação PTGB

A estação PTGB apresentou a maior linearidade na curva de elipticidade, e consequentemente,


melhor ajuste na inversão. Essa é a única, das três estações utilizadas neste estudo, que tem a formação
Serra Geral como uma das camadas abaixo. Para esta camada, considerei um intervalo de 3 a 4,5 km/s, e
com um valor de Vs = 4,07 km/s a espessura da Fm. Serra Geral foi ajustada com 900 m, valor compatível
com perfis da bacia (Milani, 2004).

A espessura sedimentar para a região da estação PTGB era esperada em cerca de 3,5 km, e no
modelo final a espessura foi ajustada em 3 km (tabela 3 e figura 12). Atribuo essa diferença, de 500 m, na
estação com a curva mais linear e com menor desvio padrão médio, à camada de basalto, que certamente
afeta a propagação das ondas.

Tabela 3: Valores de espessura e Vs para as camadas sedimentares e crustais abaixo da estação PTGB.
Espessuras em km e Vs em km/s.

Modelo inicial Modelo final CRUST 1.0


Espessura Vs Espessura Vs Espessura Vs
Solo 0 – 0.3 0.5 – 2.5 0 1.92 0.5 1.07
Serra Geral 0.5 – 1.5 3.0 – 4.5 0.9 4.07 - -
GW I 0.1 – 1.0 2.0 – 3.5 0.9 3.27
Paraná 0 – 0.9 2.5 – 3.5 0.4 3.25 3.52 2.13
Rio Ivaí 0 – 0.8 3.0 – 4.0 0.78 3.24
Crosta superior 12.6 3.0 – 4.0 12.6 3.68 12.6 3.54
- - 1.05 3.54
Crosta média - - 12.51 3.74 12.51 3.74
Crosta inferior 12.14 4.05 12.14 4.05

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Figura 12: Modelo de camadas para a estação PTGB.

3.6 Comparação entre os modelos produzidos nesse trabalho e estudos prévios

Os valores de profundidade utilizados como base de comparação foram amostrados de uma grade
calculada com a interpolação de medidas de poços (Dragone et al., 2017). Há ainda muitas incertezas
atreladas aos valores de profundidade da Bacia do Paraná. Os valores de espessura ajustados nos modelos,
que foram calculados nesse trabalho, estão sintetizados na figura 13, a seguir.

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Figura 13: Modelos de espessura e Vs calculados pelo método H/V para as estações FRTB, AQDB e PTGB.
Valores de Vs em km/s indicados nos perfis.

3.7 Análise detalhada dos parâmetros do DOP-E e inversão

Os parâmetros do DOP-E e da inversão, como foi mencionado no item 2.3 deste texto, foram
mantidos como no trabalho de Berbellini et al. (2018). Certamente modificações nesses parâmetros, como
sugeridas pelo mesmo autor, devem ser feitas, a fim de conseguir a melhor resposta e mais assertiva
possível do método, mas que devido ao longo tempo de processamento em cada etapa desse projeto, não
foram possíveis de serem testadas (cerca de 6 horas para cada cálculo do DOP-E, foram testadas diferentes
bandas de frequência e diferentes quantidades de dias até chegar às apresentadas neste relatório).

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4. Conclusões

Dados de ruído ambiental e 5 eventos telesismicos, em três estações localizadas em diferentes


porções da Bacia do Paraná, foram utilizados para verificar a aplicabilidade do método de cálculo e
inversão de curvas de elipticidade apresentado por Berbellini et al. (2018). Os modelos resultaram em
valores de espessura sedimentar compatíveis com estudos prévios. Na estação FRTB foi ajustada uma
espessura de 1,7 km, enquanto na literatura é previsto um valor de cerca de 1,7 km. Para a estação AQDB
a espessura resultante foi 1,16 km e se esperava 1,05 km. A estação PTGB apresentou a maior discrepância
nos valores de espessura, no modelo calculado o valor foi de 3 km, enquanto, nos estudos prévios a
espessura era de 3,5 km. Essa discrepância na estação AQDB foi relacionada à presença da Fm. Serra Geral.

5. Bibliografia

Berbellini, A., Schimmel, M., Ferreira, A. M., & Morelli, A. (2018). Constraining S-wave velocity using
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