Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nº USP: 7599561.
Resumo.............................................................................................................................................................2
1. Introdução....................................................................................................................................................2
2. Materiais e métodos.....................................................................................................................................4
2.2 Pré-processamento........................................................................................................................5
3. Resultados e discussões..............................................................................................................................10
4. Conclusões..................................................................................................................................................17
5. Bibliografia..................................................................................................................................................17
1
Resumo
1. Introdução
A Bacia do Paraná está localizada no Brasil meridional e em parte da Argentina, Paraguai e Uruguai
(figura 1). Ela começou a ser formada no Ordoviciano, tem atualmente uma extensão de 1.500.000 km² e
cerca de 7 km profundidade no depocentro. Há 130 Ma cerca de 80% da extensão atual da bacia foi
coberta pela Província Magmática do Paraná, dando origem à Formação Serra Geral. Em termos de
evolução essa bacia costuma ser dividida em seis super sequências, como apresentado nas figuras 1 e 2.
A complexidade geológica dessa bacia, devido à sua extensão continental, longo período de
deposição e ao magmatismo sin deposicional dificultam os estudos sobre a Bacia do Paraná. A dificuldade
de se obter medidas e interpretações com precisão sobre a região motiva a busca e a análise independente
de diferentes dados, que é o caso deste estudo.
A inversão de curvas de elipticidade de ondas Rayleigh, com dados de ruído ambiental, através do
grau de polarização (Berbellini et al., 2018) é uma nova metodologia que pode contribuir na análise das
camadas e principalmente do embasamento de bacias sedimentares. O objetivo desse trabalho é
determinar a aplicabilidade dessa inversão para determinar a espessura e a Vs das camadas da bacia do
Paraná.
2
Figura 1: Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná, com a profundidade do embasamento (Milani,
2004). Super sequências sedimentares utilizadas neste trabalho.
3
Figura 2: Carta estratigráfica da Bacia do Paraná com indicação das super sequências (Milani et al., 2007).
2. Materiais e métodos
Na etapa de cálculo da curva de elipticidade por ruído ambiental utilizei um período de um mês de
dados, a partir de 01 de janeiro de 2018, em 3 estações sismográficas brasileiras: FRTB, AQDB e PTGB
(figura 3). A quantidade de dados se mostrou suficiente, e devido ao tempo de processamento optei por
não utilizar mais dias. A quantidade de dados necessária, um intervalo de dias a poucas semanas, foi
apresentada por Berbellini et al. (2018).
Com a finalidade de comparação utilizo um grid de espessura sedimentar para a Bacia do Paraná
desenvolvido por Dragone et al. (2017) por meio de dados de poços (figura 3).
4
Figura 3: Mapa de espessura sedimentar com posição das estações sismográficas utilizadas neste trabalho.
Abaixo do nome de cada estação estão os valores de espessura sedimentar retirados do modelo utilizado.
Contorno das bacias sedimentares: Paraná – laranja, Chaco-Paraná – magenta e Pantanal – roxo.
2.2 Pré-processamento
O pré-processamento foi feito com o programa Obspy (Beyreuther et al., 2010) em três etapas: (1)
preparação dos dados para a remoção da resposta do instrumento, (2) remoção da resposta do
instrumento, (3) decimação dos dados para serem compatíveis com a entrada do programa DOP-E, que
calcula a curva de elipticidade por período.
Na fase (1) foi removida a média e a tendência, aplicado um taper e utilizado um filtro passa
banda. Nos dados de ruído ambiental o filtro foi: (0.05, 0.06, 1, 2) Hz e nos de terremotos: (0.008, 0.01,
0.1, 0.2) Hz. Na fase (2) foi removida a resposta do instrumento com o arquivo RESP de cada estação. Na
última fase de pré-processamento (3) foi feita a decimação do dado com o fator 49 (figuras 4 e 5). Os
arquivos brutos com taxa de amostragem de 100 Hz contém 360.000 pontos (1 hora), depois da decimação
a frequência foi para cerca de 2Hz e a quantidade de pontos para 7347. O programa DOP-E exige o máximo
de 8162 dados por entrada.
5
a)
b) c)
Figura 4: Exemplo de dado utilizado. (a) Três componentes de dado bruto e depois do pré-processamento.
Espectros de amplitude da componente HHN, (b) dado bruto e (c) pré-processado.
Figura 5: Exemplo de sismo utilizado, três componentes de dado bruto e pré-processado. Sismo de 10
janeiro de 2018 às 3h00 (UTM). Filtro passa banda (0.008, 0.01, 0.1, 0.2) Hz e decimado 7x7. Foram usados
5 sismos na estação FRTB.
6
2.3 Cálculo da curva de elipticidade das ondas Rayleigh (H/V)
O estudo da elipticidade das ondas Rayleigh foi introduzido por Nogoshi e Igarashi (1971) e
divulgado por Nakamura (1989), a metodologia se baseia no cálculo da razão entre os espectros de
amplitude das componentes horizontal e vertical dos sismogramas (SESAME, 2005). O espectro horizontal
é calculado pela a média quadrática das componentes norte e leste.
O método utilizado neste trabalho (Berbellini et al., 2018) também calcula a curva de elipticidade,
mas através de uma técnica desenvolvida por Schimmel e Gallart (2004) que se baseia no grau de
polarização (DOP). O procedimento de cálculo do DOP foi adaptado para reconhecer segmentos de
sismograma que descrevem um movimento elíptico retrógrado (Schimmel et al., 2011), característico de
ondas Rayleigh. Posteriormente, esse procedimento foi denominado de DOP-E (Berbellini et al., 2018),
para enfatizar que somente são consideradas as partes do sismograma onde o movimento elíptico vertical
retrógrado tem inclinações máximas de 10° no semi-eixo maior.
Berbellini et al. (2018) propõem calcular curvas independentes para cada estação, não
dependendo de grandes redes, como outras metodologias exigem (Maranó et al., 2017). Outra vantagem
dessa técnica é a diminuição da interferência da onda Love nas medidas, que causa uma superestimação
da elipticidade na técnica utilizada por Nakamura (1989) e aplicada no projeto europeu SESAME-GEOPSY
(http://sesame.geopsy.org/).
A etapa de cálculo da curva de elipticidade é denominada por Berbellini et al. (2018) como
“measurement”. Os programas para essa etapa e para a seguinte, de inversão, estão disponíveis no GitHub
do Andrea Berbellini (http://github.com/berbellini/DOP-E/).
Segundo Berbellini et al. (2018), o método de inversão de elipticidade de ondas Rayleigh, mesmo
com a aplicação da técnica de inversão não linear, se mostra dependente de um prévio conhecimento da
área, da velocidade das camadas ou de sua espessura.
7
O cálculo do modelo se baseia na seguinte função de custo:
(1)
Onde o primeiro termo é o misfit entre o modelo observado e teórico e o segundo é o termo de
regularização. diobs é o dado observado, gi (m) é a elipticidade teórica, calculada pela técnica do modo
normal (Herrmann, 2013) para o modelo m. σiD é o desvio padrão, Nm é o número de medidas, NL é o
número de camadas, A é o fator de escala e ʋs é a velocidade da onda S.
As entradas na inversão NA são três: (I) a saída do DOP-E, um arquivo com períodos (T), valores de
H/V e o desvio padrão, (II) o modelo de referência na região, no caso, o CRUST 1.0, para isso utilizei o
programa getCN1point.f do próprio site do modelo (https://igppweb.ucsd.edu/~gabi/crust1.html) e (III)
valores de máximo e mínimo de espessuras e Vs para as camadas mais rasas, para definir esses valores
considerei a geologia local das estações, as camadas e as velocidades são baseadas nas super sequências
da Bacia do Paraná (figuras 1 e 2).
Esse trabalho restringiu o estudo em altas frequências (até 10 segundos), como consequência, a
resolução dos modelos se restringe aos primeiros quilômetros de profundidade (Lin et al., 2014) (figura 6).
Considero que os modelos são representativos até cerca de 10 km. Abaixo dessa profundidade a inversão
se torna coerente com os dados do modelo global CRUST 1.0 devido, principalmente, a ausência de dados
na curva de elipticidade para essas profundidades, e então, o modelo de inversão se adequa facilmente ao
modelo inicial.
Além da restrição de profundidade, considero que as camadas mais rasas tem maior influência nas
curvas de elipticidade. Testes de sensibilidade mostram que variações de cerca de 15% na Vs de uma
camada de 500m na superfície são identificáveis pelo método. Há certamente uma maior sensibilidade de
variações de velocidade nas camadas mais rasas.
8
Figura 6: Comparação de kernels de sensibilidade para o método H/V comparado com o método de
dispersão de velocidade de fase calculado com base no modelo 1D PREM (Dziewonski e Anderson, 1981)
sem a camada oceânica. (a) e (b) kernels para ondas Rayleigh de 8 segundos. (c) e (d) kernels para ondas
Rayleigh de 16 segundos .
Algumas variações tiveram que ser feitas nos códigos de inversão, modificando parâmetros que
fixam valores de espessura e velocidade. As modificações feitas deixam o modelo dependente somente
dos parâmetros de entrada, baseado nas super sequências da Bacia do Paraná. Os valores de Vs e
profundidade se baseiam na literatura (Milani, 2004) e no modelo CRUST 1.0 (figura 7).
Figura 7: Modelo CRUT1.0 para diferentes tipos crustais. Os tipos considerados pelo modelo global para as
estações utilizadas neste trabalho são o Proterozóico inferior/médio e Proterozóico superior. As
velocidades apresentadas são Vp e estão em km/s.
9
3. Resultados e discussões
O cálculo das curvas de elipticidade (DOP-E) se estabilizou com um mês de dados nas estações
AQDB e PTGB, mas o desvio padrão na curva da estação FRTB se manteve alto. Fiz testes com 14 dias e
retirando dias com ruídos anômalos e sismos nessa estação, para analisar a dependência da técnica para
com os dados de entrada (figura 8). A curva mais estável e com menor desvio padrão foi calculada com um
mês de dados e sem sismos ou ruídos anômalos (figura 8c).
a) b)
c)
Figura 8: Curvas de elipticidade calculadas para a estação FRTB com diferentes arquivos de entrada. (a) 14
dias, (b)31 dias e (c) 31 dias sem horas com ruídos anômalos e sismos. O procedimento de pré-
processamento nos três casos foi igual, mesmos filtros e decimação.
Calculei a curva de elipticidade para sismos, como apresentado por Berbellini et al. (2018), para
complementar os maiores períodos e também, como forma de conferir os valores de elipticidade onde as
curvas se encontram. Novamente utilizei a estação FRTB, com a intenção de melhorar os resultados dela.
Utilizei 5 sismos para esse procedimento.
10
O cálculo da curva de elipticidade com sismos foi compatível com os mesmos períodos calculados
com os dados de ruído ambiental. Certamente, com mais sismos haveria uma melhor cobertura de
frequências, pois com 5 eventos somente quatro períodos foram amostrados (figura 9). Os resultados
dessa análise estão além do proposto nesse projeto, por amostrarem regiões mais profundas que as
camadas sedimentares de interesse. Por esse motivo, não dei continuidade no cálculo da curva de
elipticidade por sismos, porém, foi possível demonstrar sua aplicabilidade, além de conferir os valores de
elipticidade para os períodos por volta de 10 s.
Figura 9: Curva de elipticidade calculada para a estação FRTB com dados de ruído ambiental e terremotos.
A estação FRTB está localizada na divisa entre os estados de SP e PR, na borda Nordeste da Bacia
do Paraná. Segundo estudos prévios (Dragone et al., 2017) a espessura sedimentar abaixo desta estação é
de cerca de 1,77 km.
A estação apresentou a menor linearidade na curva de elipticidade com relação às três utilizadas
neste estudo. As tentativas de melhorar os resultados estão detalhadas em 3.1 deste texto. Proponho duas
hipóteses para explicar esses resultados: (I) alguma estrutura geológica está afetando o movimento das
partículas, dificultando o método de encontrar o padrão vertical elíptico retrógrado, ou (II) é necessária
uma maior quantidade de dias de ruído ambiental ou de uma melhor seleção dos mesmos.
Fiz a inversão para a curva de elipticidade de um mês de dados selecionados. O misfit máximo não
foi considerado, e mesmo que o valor de espessura sedimentar tenha se ajustado em 1,7 km, muito
próximo do esperado, ainda considero necessária a reavaliação das medidas de H/V para esta estação
(tabela 1 e figura 10).
11
Tabela 1: Valores de espessura e Vs para as camadas sedimentares e crustais abaixo da estação FRTB.
Espessuras em km e Vs em km/s.
12
3.4 Perfil de velocidade na estação AQDB
A estação AQDB está localizada no estado do MS, na borda Noroeste da Bacia do Paraná e próxima
à borda sudeste da Bacia do Pantanal. A espessura sedimentar, esperada em torno de 1,05 km, foi
calculada no modelo em 1,16 km, porém a velocidade na última camada pode já ser característica de rocha
do embasamento, o que traria o embasamento para 0,8 km (tabela 2 e figura 11). Valores mais ajustados
de Vs para essas camadas são necessárias para diminuir a ambiguidade.
O valor de Vs máximo para a primeira camada teve que ser reconsiderado nesta estação, a
convergência somente foi possível com Vs da primeira camada igual a 3,5 km/s. As hipóteses que faço para
esse resultado são três: (I) os sedimentos na região são bem compactados, e os valores altos de Vs
estariam de acordo com o esperado, (II) a espessura sedimentar é muito pequena para que o método seja
acurado, (III) os valores usados para velocidade das outras camadas estão forçando esse ajuste no modelo.
13
Tabela 2: Valores de espessura e Vs para as camadas sedimentares e crustais abaixo da estação AQDB.
Espessuras em km e Vs em km/s.
A espessura sedimentar para a região da estação PTGB era esperada em cerca de 3,5 km, e no
modelo final a espessura foi ajustada em 3 km (tabela 3 e figura 12). Atribuo essa diferença, de 500 m, na
estação com a curva mais linear e com menor desvio padrão médio, à camada de basalto, que certamente
afeta a propagação das ondas.
Tabela 3: Valores de espessura e Vs para as camadas sedimentares e crustais abaixo da estação PTGB.
Espessuras em km e Vs em km/s.
14
Figura 12: Modelo de camadas para a estação PTGB.
Os valores de profundidade utilizados como base de comparação foram amostrados de uma grade
calculada com a interpolação de medidas de poços (Dragone et al., 2017). Há ainda muitas incertezas
atreladas aos valores de profundidade da Bacia do Paraná. Os valores de espessura ajustados nos modelos,
que foram calculados nesse trabalho, estão sintetizados na figura 13, a seguir.
15
Figura 13: Modelos de espessura e Vs calculados pelo método H/V para as estações FRTB, AQDB e PTGB.
Valores de Vs em km/s indicados nos perfis.
Os parâmetros do DOP-E e da inversão, como foi mencionado no item 2.3 deste texto, foram
mantidos como no trabalho de Berbellini et al. (2018). Certamente modificações nesses parâmetros, como
sugeridas pelo mesmo autor, devem ser feitas, a fim de conseguir a melhor resposta e mais assertiva
possível do método, mas que devido ao longo tempo de processamento em cada etapa desse projeto, não
foram possíveis de serem testadas (cerca de 6 horas para cada cálculo do DOP-E, foram testadas diferentes
bandas de frequência e diferentes quantidades de dias até chegar às apresentadas neste relatório).
16
4. Conclusões
5. Bibliografia
Berbellini, A., Schimmel, M., Ferreira, A. M., & Morelli, A. (2018). Constraining S-wave velocity using
Rayleigh wave ellipticity from polarization analysis of seismic noise. Geophysical Journal
International, 216(3), 1817-1830.
Beyreuther, M.; Barsch, R.; Krischer, L.; Megies, T.; Behr, Y.; Wassermann, J. (2010). ObsPy: A Python
Toolbox for Seismology. SRL, 81(3), 530-533. DOI: 10.1785/gssrl.81.3.530.
Lin, F. C., Tsai, V. C., & Schmandt, B. (2014). 3-D crustal structure of the western United States: application
of Rayleigh-wave ellipticity extracted from noise cross-correlations. Geophysical Journal International,
198(2), 656-670.
Milani, E. J. (2004). Comentários sobre a origem e evolução tectônica da Bacia do Paraná. In: MANTESSO-
NETO V, BARTORELLI A, CARNEIRO CDR & BRITO NEVES BB (Eds.). Geologia do continente sul-
americano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida, São Paulo, Beca. p. 265-279.
Milani, E. J.; Melo, J. H. G.; Souza, P. A.; Fernandes, L. A. França, A. B. (2007). Bacia do Paraná. Boletim
de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287.
Nakamura Y. (1989). A method for dynamic characteristics estimation of subsurface using microtremor on
the ground surface. Quaterly Report Railway Tech. Res. Inst., 30-1, 25-30.
Nogoshi M.; Igarashi, T. (1971). On the amplitude characteristics of microtremor (part 2) (in japanese with
english abstract). Jour. Seism. Soc. Japan, 24, 26-40.
SESAME European research project (2005). Guidelines for the implementation of the H/V spectral ratio
technique on ambient vibrations - measurements, processing and interpretations. Deliverable D23.12.
17