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Para uma vida

não-fascista
Margareth Rago
Alfredo Veiga-Neto
(Organizadores)

Para uma vida


não-fascista
Estudos Foucaultianos
Copyright © 2009 Os autores

coordenador da coleção estudos foucaultianos


Alfredo Veiga-Neto
conselho editorial da coleção estudos foucaultianos
Alfredo Veiga-Neto (UFRGS); Walter Omar Kohan (UERJ); Durval Albuquerque Jr. (UFRN);
Guilherme Castelo Branco (UFRJ); Sílvio Gadelha (UFC); Jorge Larrosa (Univ. Barcelona);
Margareth Rago (Unicamp); Vera Portocarrero (UERJ)
projeto gráfico de capa e miolo
Diogo Droschi
capa
Christiane Costa
(sobre imagem de Martine Franck © Magnum Photos/LatinStock)
editoração eletrônica
Waldênia Alvarenga Santos Ataíde
revisão
Alfredo Veiga-Neto

Revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico.

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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Para uma vida não-fascista / Margareth Rago, Alfredo Veiga-Neto, organizadores. –


Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2009. – (Coleção Estudos Foucaultianos)

Bibliografia.
ISBN 978-85-7526-440-9

1. Artigos filosóficos 2. Fascismo 3. Filosofia francesa 4. Foucault, Michel, 1926-


1984 - Crítica e interpretação I. Rago, Margareth. II. Veiga-Neto, Alfredo. III. Série.

09-10342 CDD-194
Índices para catálogo sistemático:
1. Artigos : Filosofia francesa 194
Sumário

9 Apresentação: Para uma vida não-fascista


Margareth Rago
Alfredo Veiga-Neto
13 O Currículo e seus três adversários: os funcionários
da verdade, os técnicos do desejo, o fascismo
Alfredo Veiga-Neto
27 A vida como obra de arte: o sujeito como autor?
Ana Maria de Oliveira Burmester
35 Foucault e as novas figuras da biopolítica:
o fascismo contemporâneo
André Duarte
51 Figurações de uma atitude
filosófica não-fascista
Carlos José Martins
63 Escultura da carne: o bem-estar e as
pedagogias totalitárias do corpo
Carmen Lúcia Soares
83 Dietética e conhecimento de si
Denise Bernuzzi de Sant’Anna
95 A Bela ou a Fera: os corpos entre a identidade
da anomalia e a anomalia da identidade
Durval Muniz de Albuquerque Júnior
117 Foucault-antifascista, São Francisco de
Sales-Guia e atitudes de parresiasta
Edson Passetti
135 Foucault e os estudos queer
Guacira Lopes Louro
143 Anti-individualismo, vida artista: uma análise não-fascista de
Michel Foucault
Guilherme Castelo Branco

153 Sobre política e discursos (neuro)científicos no Brasil


contemporâneo: muitas questões e algumas respostas
inventadas a partir de um escrito de Michel Foucault
Heliana de Barros Conde Rodrigues

169 Tomar distância do poder


José G. Gondra

187 Foucault e o cinismo de Manet


José Luís Câmara Leme

201 Combater na imanência


Luiz B. Lacerda Orlandi

209 O “livro-teatro” jesuítico: uma leitura a partir de Foucault


Magda Maria Jaolino Torres

239 Max Weber, Michel Foucault e a história


Márcio Alves da Fonseca

253 Dizer sim à existência


Margareth Rago

269 (Des)educando corpos: volumes, comidas,


desejos e a nova pedagogia alimentar
Maria Rita de Assis César

281 Foucault e a Antiguidade: considerações sobre


uma vida não-fascista e o papel da amizade
Pedro Paulo A. Funari
Natália Campos

291 A escrita como prática de si


Norma Telles
305 Tornar-se anônimo. Escrever anonimamente
Philippe Artières

325 Abjeção e desejo. Afinidades e tensões entre a


Teoria Queer e a obra de Michel Foucault
Richard Miskolci

339 Psiquiatrização da ordem: neurociências, psiquiatria e direito


Salete Oliveira

349 Leitura dos antigos, reflexões do presente


Salma Tannus Muchail

363 Entre Édipos e O Anti-Édipo: estratégias


para uma vida não-fascista
Sílvio Gallo

377 Os investimentos em “capital humano”


Susel Oliveira da Rosa

389 “Todo homem é mortal. Ora, as mulheres


não são homens; logo, são imortais.”
Tania Navarro Swain

403 Além das palavras de ordem: a comunicação


como diagnóstico da atualidade
Tony Hara

415 Do fascismo ao cuidado de si: Sócrates e a


relação com um mestre artista da existência
Walter Omar Kohan

427 Os autores
Apresentação

Para uma vida não-fascista


Margareth Rago
Alfredo Veiga-Neto

No prefácio ao conhecido livro de Deleuze e Guattari, intitulado O


Anti-Édipo: introdução a uma vida não-fascista, Foucault qualifica o conjunto
de princípios que enuncia brevemente como uma “arte de viver contrária
a todas as formas de fascismo”.1 Tema que nos apresentou há décadas,
as “estéticas da existência” criadas no universo histórico da Antiguidade
Clássica implicam a constituição de si e das relações com o outro orientadas
pela temperança, pela autonomia e pela expansão das práticas da liberdade.
Ser cidadão, nesse contexto, exige um intenso trabalho de transformação
subjetiva, cuidadosa elaboração de si, escultura do próprio eu, inclusive e
sobretudo para um exercício digno da política e para a própria experiência
da vida em comum. Em nossos tempos, essas discussões apontam tanto
para uma crítica radical às atuais práticas políticas (ditas) democráticas,
quanto para o exame dos estatutos da própria democracia, tal como hoje
ela é entendida e colocada em ação. Essas discussões apontam, também,
para a possibilidade da criação de modos libertários de vida.
Talvez não seja demasiado lembrar que até recentemente a formação
dos cidadãos nas sociedades modernas passava sobretudo pelo ensino da
obediência, da submissão e da docilidade. Foi isso que levou Foucault
a caracterizar, num primeiro momento, as sociedades modernas como
disciplinares; e, logo depois, a caracterizá-las também como sociedades de
segurança, pautadas pelas lógicas da biopolítica e da governamentalidade.
Na medida em que tais processos foram se recobrindo, se articulando e
se reforçando mutuamente, o filósofo entendeu a Modernidade como,

1
FOUCAULT, Michel “Introdução à vida não-fascista”. In: Gilles Deleuze e Félix Guattari. Anti-Oedipus:
Capitalism and Schizophrenia. New York: Viking Press, 1977, p. XI-XIV. Traduzido por Wanderson
Flor do Nascimento. Revisado e formatado por Alfredo Veiga-Neto.

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entre outras coisas, um modo de vida pautado pelo assujeitamento ou
sujeição, algo bem diferente das sofisticadas práticas de subjetivação dos
antigos, que ele nos convida a conhecer.
Nessa direção, para além da crítica ao instituído, para além dos des-
locamentos produzidos nas formas do pensamento e da ação, o filósofo
insiste: “Libere-se das velhas categorias do Negativo que o pensamento
ocidental sacralizou”, recomendando ao mesmo tempo um forte inves-
timento na potencialização dos desejos e da ação criadora. É porque
acredita no mundo e porque aposta na vida que Foucault se esforça tanto,
milita tanto; é também por isso que ele atemoriza e, muitas vezes, irrita.
A vida sedentária lhe causa horror; já os nômades incomodam e assustam
os sedentários.
“Não caia de amores pelo poder”, adverte Foucault. Olhar aten-
ciosamente para a antiga cultura greco-romana, como faz em O Uso dos
prazeres e O Cuidado de Si, não busca restaurar experiências de vida que
tanto se diferenciam das que se construíram na Modernidade. Mas permite
encontrar outros modos de produção da subjetividade, outras formas de
formação do indivíduo, outros modos de pensar a relação de si para consigo
e para com o outro; igualmente, permite pensar a própria política, para
fora do poder. Novas possibilidades se anunciam, no momento mesmo em
que a analítica foucaultiana do poder é amplamente assimilada, tornando
mais visíveis e legíveis as capturas biopolíticas na Contemporaneidade. O
pensador do poder e do sujeito cede espaço ao “filósofo da liberdade”,
chamando a atenção para as temáticas do cuidado de si inscritas na vida
comunitária dos antigos.
Essas problematizações nos motivaram a reunir um grupo de inquietos
pensadores para continuar a pensar, discutir, ler, dialogar e escrever com
esse filósofo libertário. Assim foi pensado o V Colóquio Internacional Michel
Foucault: “Por uma vida não-fascista”, realizado entre os dias 11 e 14 de
novembro de 2008, no IFCH da UNICAMP, dando sequência a vários
outros encontros realizados em anos anteriores. Graças aos apoios recebidos
da FAPESP, da CAPES, do Programa de Pós-Graduação em História e
da FAEPEX da UNICAMP, mais de 300 pesquisadores e pesquisadoras
se reuniram para assistir a mais de 30 palestrantes e com eles dialogar, em
torno do pensamento de Michel Foucault.
Tão diferentes entre si em inúmeros aspectos, esses pesquisadores
aproximam-se na vontade de suscitar novos acontecimentos, como diria
Deleuze. Mas também se encontram na crítica ao crescimento desenfreado

10 Para uma vida não-fascista


das formas biopolíticas de controle social, na denúncia da violência das
formas da exclusão e estigmatização que imperam socialmente e na tentativa
de explicar como foi que a antiga autogestão da esfera dos negócios e da
política se transformou na conhecida gerência dos bens privados das elites,
em especial das que se apropriam do Estado e das instituições, implantando
absurdos regimes de verdade como naturais, absolutos e universais.
Acreditando que é possível construir modos de vida libertários,
fortalecemo-nos com Foucault. Afinal, as pistas e as saídas estão indicadas
em vários momentos da sua produção; cabe a nós, desdobrá-las, aproveitá-
las e, quando necessário, atualizá-las. De certa maneira, em tudo isso está
sempre implicada uma vontade de superação, uma vontade de irmos além
daquele que lemos, daquilo que estudamos e, até mesmo, de irmos além
daquilo que somos.
Ao organizarmos este livro, esperamos contribuir para a edificação
de formas não-fascistas de pensamento e de vida. Também em parte por
isso, respeitamos (ao máximo possível, sempre que possível) os formatos
das notas de rodapé e das referências bibliográficas que cada autora e
cada autor adotou em seu respectivo capítulo. Respeitamos, também as
formas com que grafaram termos filosóficos ainda não dicionarizados na
língua portuguesa.
Com este livro, esperamos dar mais ânimo e elementos para quem
quiser compreender e, com isso, combater todos esses adversários que
cada vez mais se atravessam em nossos caminhos, sejam eles os ascetas
políticos, os técnicos do desejo ou o próprio fascismo. Com este livro – e
parafraseando Michel Foucault –, queremos contribuir para a anulação das
muitas formas de fascismo, sejam aquelas formas imensas que se abatem
sobre nós e nos sufocam, sejam aquelas formas minúsculas e sutis que nos
assombram e nos mantêm presos e submissos a nós mesmos.

Apresentação: Para uma vida não-fascista 11

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