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Rogério Rozolen
University of São Paulo
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All content following this page was uploaded by Rogério Rozolen on 08 April 2015.
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO
CONFORTO TÉRMICO HUMANO
SÃO PAULO
2011
ROGÉRIO ROZOLEN ALVES
SÃO PAULO
2011
FIGURA DA CAPA: Desenho de Kovarsky, 1948 – The New Yorker Magazine, Inc.
(Extraído do livro: Solar control & shading devices, de Olgyay & Olgyay, 1957).
Agradeço a todas as pessoas com as quais aprendi e continuo aprendendo muito em
todos estes anos de trabalhos e estudos na Faculdade e Departamento de Geografia.
Agradeço a todos sem exceção. OBRIGADO!
À Profª Dr.ª Ligia Vizeu Barrozo pela participação na banca examinadora. OBRIGADO!
Ao Prof. Dr. Frederico Luiz Funari, pelas conversas e material disponibilizado para esta
pesquisa. OBRIGADO!
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5
2. OBJETIVOS......................................................................................................... 7
3. JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 7
Figura 01: Relação dos principais ventos mundiais e relação com a temperatura e umidade. 13
Figura 02: Representações de figuras humanas nos oito lados da Torre dos Ventos em Atenas. 15
Figura 04: Construções das habitações dos povos ancestrais pueblos, em Mesa Verde, Colorado. 24
Figura 09: Escala de temperatura efetiva básica (para homens despidos da cintura para cima). 36
Figura 10: Escala de temperatura efetiva normal (para pessoas normalmente vestidas). 37
Figura 13: Carta do Índice de Tensão Térmica, proposto por Lee (1956). 45
Figura 15: Limites permitidos de exposição de calor previsto pelo índice WBGT. 47
Figura 24: Limites de zona de conforto para ambientes no verão e no inverno, em países de clima temperado e quente. 71
Figura 25: Distribuição quantitativa dos trabalhos pesquisados ao longo dos anos. 101
2
LISTA DE TABELAS
LISTA DE REDUÇÕES
DI - Discomfort Índex
DM - Draught Model
HU – Humidex
3
ITS - Index of Thermal Stress ou Índice de Fadiga Térmica
OT - Operative Temperature
P4SR - Predict 4-Hours Sweat Rate ou Taxa de Suor Prevista para 4 horas
TO – Temperatura Ótima
4
1. INTRODUÇÃO
5
cuja presença contribui para o processo de arrefecimento do ar através da
evapotranspiração. Além disto, o total de energia produzida pelos carros, edifícios,
indústrias e equipamentos em geral corroboram o quadro de aquecimento gerado
nas áreas urbanizadas.
Segundo Barroso-Krause et al (2005:7), nos grandes centros urbanos ocorreu
recentemente uma variação importante em seu microclima, em função da mudança
do ritmo das atividades humanas, devido aos milhares de deslocamentos diários dos
automóveis, a refrigeração (ou aquecimento) e a iluminação intensiva dos edifícios e
dos locais públicos. Além disto, a presença de milhares (nas maiores cidades,
milhões) de seres humanos constitui hoje fonte geradora de calor, além de ser
responsável por tipos diversos de poluição (sonora, visual, ambiental).
A estes fatores se aliam situações geográficas especiais, quando devido à
configuração do relevo e orientação das vertentes, podemos observar a pequena
dispersão de poluentes, ou insolação excessiva em certos pontos da área urbana,
por exemplo. No caso de São Paulo, em Atenas e na Cidade do México, situadas em
uma depressão e fora do alcance dos ventos de alta velocidade, há um acúmulo de
subprodutos das atividades humanas, gerando um adensamento dos gases e uma
situação de poluição muito forte.
Para Tarifa & Armani (2001:50) a trajetória do Sol e as variações diurnas e
noturnas dos ventos, associado à orientação das ruas e outros fatores como o
tamanho das edificações, cria rugosidades, volumes que podem redefinir os
topoclimas urbanos. As trocas radiativas e fluxos de ar, tanto interna como
externamente, são fundamentais para a compreensão do aquecimento-resfriamento
nas áreas próximas às superfícies do solo e dos lugares onde o homem vive.
6
2. OBJETIVOS
3. JUSTIFICATIVA
7
4. BASE TEÓRICA – O CONFORTO TÉRMICO
8
responsável pelo aparecimento e proliferação de algumas doenças, como apontado
em Lacaz et al. (1972:39):
Para simbolizar a influência do clima no aparecimento
das doenças, em geral, existe em Atenas a chamada Torre
dos Ventos, construída provavelmente em 50 a.C., por
Andronikos de Kyrrhos, astrônomo na Macedônia. Ela
possui oito lados, representando os oito ventos principais
da Grécia. Em cada lado existe uma estátua, mostrando a
influência do vento correspondente sobre o Homem.
9
de luz que nos incomoda. Depreendemos daí que só existe
um conforto, global, indefinível, mas várias fontes,
independentes (mas capazes de se somarem) de
desconforto. Assim, o que nos preocupa na realidade não
é o conforto, mas o desconforto. É este que devemos bem
conhecer, para melhor determinarmos suas causas. Desta
forma, poderemos, no projeto nosso de cada dia, projetar
mecanismos para evitar ou minorar suas conseqüências.
2
American Society of Heating, Ventilating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers
10
são mais favoráveis termicamente, onde o corpo humano possa gastar menos
energia em processos de adaptação.
Há diversas concepções na definição do que vem a ser um ambiente
confortável ou não para o homem. Para se definir quais os parâmetros para o cálculo
de índices e escalas para os diversos graus de conforto e desconforto em ambientes
fechados e abertos, desde o início do século XX foram iniciadas pesquisas para o
estabelecimento de zonas de conforto ideais ao ser humano. É difícil se estabelecer
zonas de conforto, uma vez que há diversas variáveis envolvidas na elaboração dos
índices, além da subjetividade e adaptação do homem ao meio em que vive. Isto
será abordado nos capítulos posteriores.
Atributos climáticos
Radiação solar
A radiação é o principal meio de propagação de energia na superfície e
atmosfera terrestres, uma vez que é por meio da radiação que a energia do Sol
chega à Terra. A radiação solar corresponde à emissão de energia sob forma de
ondas eletromagnéticas que se propagam à velocidade da luz (MENDONÇA &
DANNI-OLIVEIRA, 2007:33).
Quase 99% da radiação solar que chega ao topo da atmosfera são
constituídos de ondas curtas (AYOADE, 1996:25). Na composição espectral, a
radiação da faixa visível apresenta cerca de 45% desta composição e a radiação
infravermelha representa 46%. Os outros 9% são compostos da radiação
ultravioleta. A radiação solar que incide no topo da atmosfera é variável e depende
de três fatores: do período do ano, da hora do dia e da latitude.
A radiação infravermelha ou termal é emitida por todos os corpos aquecidos
pela radiação solar (em onda curta). A emissividade destes corpos, (radiação
absorvida e transformada em calor), é liberada em onda longa. A atmosfera e a
11
superfície terrestre também absorvem parte da radiação de ondas curtas e emitem
radiação termal.
Temperatura do ar
Segundo Ayoade (1996:50), a temperatura pode ser definida em termos do
movimento de moléculas, uma vez que a temperatura será mais elevada quanto
maior for o deslocamento molecular. É definida em termos relativos tomando-se por
base o grau de calor que um corpo possui. A temperatura é a condição que
determina o fluxo de calor que passa de uma substância para outra. O calor desloca-
se de um corpo que tem uma temperatura mais elevada para outro com temperatura
mais baixa.
A distribuição da radiação solar na Terra não é homogênea. As áreas que
apresentam maior insolação no globo terrestre (regiões intertropicais) apresentam as
temperaturas mais elevadas, e as regiões polares e temperadas apresentam as
temperaturas mais baixas (além disto, existem as variações sazonais). Essas
diferenças térmicas ocasionam as diferenças de pressão, gerando as circulações
atmosféricas.
Movimento do ar
Os ventos são gerados a partir da variação de pressão, ocorrendo o seu
deslocamento a partir das áreas de alta pressão em direção às de baixa,
estabelecendo-se assim um equilíbrio barométrico entre elas. A velocidade do vento
é controlada pelo gradiente de pressão entre estas áreas, ou seja, quanto maior o
gradiente de pressão, maior velocidade terá o vento.
Quanto à direção, segundo Mendonça & Danni-Oliveira (2007:76) “em
conseqüência dos ventos trazerem consigo as características térmicas e
higrométricas (umidade) do ambiente onde se originam, recebem o nome da direção
do local de onde procedem”.
De acordo com Hipócrates (CAIRUS & RIBEIRO JR., 2005:133), os ventos
têm grande influência na saúde das pessoas graças à sua origem, pois “a
localização malsã de um povo pode trazer-lhe determinados malefícios, que
poderiam ser remediados através da orientação das construções em função dos
12
ventos e do Sol”. Na figura 01, temos a representação dos principais ventos no
mundo, e suas características termo-higrométricas.
Figura 01: Relação dos principais ventos mundiais e relação com a temperatura e umidade
(Fonte: Rosen, 1979:146 apud Sartori, 2000)
13
NOTUS: vento sul, quente e muito chuvoso, era representado por um homem
jovem segurando uma jarra d’água.
ZEPHYRUS: vento oeste, muito quente no verão, mas na primavera seu calor
é favorável à vegetação. Era representado pela figura de um atrativo homem
jovem de fisionomia agradável, nu, exceto por uma grande capa cheia de
flores.
14
Figura 02: Representações de figuras humanas nos oito lados da Torre dos Ventos em Atenas (50
a.C.). Cada uma delas simboliza um tipo de vento predominante na cidade grega e sua influência no
ser humano. (Adaptado de Sartori, 2000).
15
De acordo com Ruas (2002:58), a influência dos ventos pode ser benéfica,
quando o aumento da velocidade do ar provoca uma desejável aceleração nos
processos de perda de calor corporal, ou prejudicial, quando a perda de calor é
indesejável, provocando o resfriamento excessivo do corpo inteiro, ou de uma de
suas partes, efeito internacionalmente conhecido como draught.
Umidade relativa
É a unidade de medida mais utilizada para se referir à umidade presente no
ar, indicando o seu grau de saturação. Contudo, é influenciada pela temperatura do
ar, sendo que seu valor (representado em porcentagem) é inversamente
proporcional à medida térmica. Conceitualmente, segundo Ayoade (1996:143), “a
umidade relativa é a razão entre o conteúdo real de umidade de uma amostra de ar
e a quantidade de umidade que o mesmo volume de ar pode conservar na mesma
temperatura e pressão quando saturado”.
O valor da umidade relativa do ar pode variar de acordo com a alteração nos
registros de temperatura, sem que isto signifique alteração nos valores de umidade
absoluta do ar, ou seja, o conteúdo de umidade presente em uma parcela de ar
pode permanecer o mesmo.
Controles climáticos
Os fatores ou controles climáticos podem ser aqui elencados considerando a
escala sinóptica (latitude, por exemplo) e as escalas locais, topo e microclimáticas
(altitude, relevo, vegetação, tipo de solo, exposição das vertentes, arquitetura das
construções).
Conforme se avança em direção às altas latitudes, há diminuição da
temperatura do ar. Além disto, nas regiões tropicais não há grande variação anual
das temperaturas e pluviosidade, diferentemente das regiões temperadas, quando
se percebe variações sazonais mais acentuadas. A distância ao oceano também é
um fator a ser destacado, uma vez que as amplitudes térmicas nas regiões costeiras
são muito menores do que nos locais situados no interior do continente. A altitude
16
também influencia nas diferenças de temperatura, uma vez que a cada 100 metros
há diminuição de cerca de 0,6ºC na temperatura.
A cobertura vegetal e o tipo de solo influenciam nas diferenças térmicas,
devido à capacidade de absorção da radiação solar, através dos diferentes albedos
(asfalto, gramado, concreto, corpos d’água, solo exposto etc.). Além disto, uma área
com densa vegetação serve de proteção contra os ventos, formando uma barreira
natural, além do sombreamento. As árvores caducifólias oferecem sombra e
proteção contra o ofuscamento no verão e “deixa” penetrar os raios de solares no
inverno, devido à queda das folhas. Contudo, deve-se ter cautela ao analisar o papel
da vegetação em um ambiente urbano, conforme aponta Azevedo (2001:184):
Azevedo (op. Cit) alerta para o fato da presença da vegetação ter o efeito
inverso nos ambientes urbanos, uma vez que os estômatos das plantas (local por
onde as plantas realizam a regulação de temperatura) se fecham nos períodos de
umidade baixa, exatamente para cessar a perda de água para o ar. Como os
vegetais têm reduzido albedo e elevada superfície específica, acabam convertendo
a luz solar em calor sensível e radiação de onda longa para o ambiente urbano.
Deste modo, a sensação de amenização do calor acaba não ocorrendo, conforme se
esperaria.
Devemos relevar a importância da exposição das vertentes, pois aquelas com
a face voltada ao nascer do Sol (orientadas para Norte/Leste) recebem maior
insolação do que as voltadas para a face Sul (para o hemisfério Sul do planeta). A
arquitetura das construções também tem influência, pois as áreas urbanas
interferem no sombreamento de alguns locais, além de alterar o balanço de radiação
devido à composição dos materiais que podem absorver mais calor. Nas áreas
extremamente verticalizadas, as atividades humanas exercem importante papel no
aquecimento do ar próximo à superfície, na ausência de insolação.
17
4.3 O homem
3
Aqui foi preservada a ortografia utilizada à época.
18
oxigênio extraído do ar. O corpo pode ser comparado a uma fornalha que utiliza o
alimento como combustível (FUNARI & AZEVEDO, 2004:153). Conforme a Norma
ISO 7730/1994, é possível identificar diversos valores associados ao tipo de
atividade desempenhada pelo indivíduo, chamada taxa de metabolismo (Tabela 01).
19
Condução: processo pelo qual o calor flui de uma região de determinada
temperatura para outra temperatura mais baixa, dentro de um meio (sólido,
líquido ou gasoso) ou entre meios diferentes em contato físico direto.
20
Efeitos termo-regulatórios
constrição dos vasos sanguineos da
dilatação dos vasos sanguineos da pele
pele
calafrios suor
EFEITOS DO CALOR
EFEITOS DO FRIO
Distúrbios consequenciais
redução do volume de urina. Sede e
aumento do volume da urina
desidratação.
redução do apetite
Falhas regulatórias
queda de temperatura do corpo aumento da temperatura do corpo
Figura 03: Efeitos fisiológicos e físicos de acordo com a variação térmica. Elaborado pelo autor,
adaptado de Lee, 1958 apud Vasconcelos, 1988.
O aspecto subjetivo deve ser lembrado aqui, pois cada indivíduo reage de
uma forma às condições de tempo. Alguns são mais tolerantes aos rigores do frio e
calor, dependendo do grau de aclimatação. Para o habitante de uma zona
temperada do globo, como o Canadá, a temperatura de 15ºC pode ser tida como
razoável e confortável, ao contrário de um morador do semi-árido nordestino
brasileiro, acostumado com temperaturas elevadas e escassez de chuvas.
Certamente este sofreria com a temperatura mencionada.
21
Segundo Araújo (1996:39), “a taxa metabólica para certas atividades que
envolvem movimentos tende a ser mais alta para as pessoas obesas, e por essa
razão elas tendem a preferir ambientes mais frios durante essas atividades. Também
a gordura subcutânea é um excelente isolante térmico.”
Entre os idosos, as pesquisas demonstram que estes preferem ambientes
mais quentes quando comparados aos mais jovens, uma vez que o metabolismo
basal cai ligeiramente com o avanço da idade. A diferença na taxa de calor
metabólico entre pessoas de 20 e 65 anos é de aproximadamente 5 w/m 2 (ARAÚJO,
1996:39).
4.4 O habitat
22
as simples, quanto as triplas. São impermeáveis à água, à
neve e aos ventos (...). Permanecem no mesmo lugar
durante o tempo em que o pasto for suficiente para o gado.
Quando já não é mais suficiente, deslocam-se para outra
região.
23
Figura 04: Construções das habitações dos povos ancestrais pueblos, em Mesa Verde, Colorado,
EUA. Hoje o lugar foi transformado em Parque Nacional, aberto a visitações.
(Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/83/Cliff_Palace-Colorado-Mesa_Verde_NP.jpg)
24
Inúmeros outros exemplos podem ser elencados em todo o mundo e seu uso
atualmente é mais difundido nos países africanos. De acordo com cada região e sua
geografia, há um tipo de habitação respeitando essas características.
No Sudão e no Mali (áreas com predomínio do clima desértico), as casas
recebem proteção da intensa radiação solar, com aberturas para facilitar a
passagem dos ventos. No Congo, muitas casas são suspensas, devido ao excesso
de chuvas e presença de muitos cursos fluviais. Assim também ocorre na Indonésia
(Ásia) e na Amazônia (América do Sul), com casas suspensas por palafitas.
Observa-se que nas grandes cidades do mundo, devido ao estilo arquitetônico
obedecer a padrões ocidentalizados, com o uso de estruturas de alvenaria, este tipo
de construção para habitação é mais raro atualmente. De acordo com Lee
(1957:123):
25
Figura 06: Tipos de casas de diversas zonas climáticas. Adaptado de Griffiths, 1976 apud Ayoade,
1996.
26
Descrevendo três antigos assentamentos urbanos em regiões climáticas
distintas (quente-seca, quente-úmida e temperada), Olgyay (1963) apud Dumke
(2007) observa a diversidade dos traçados, que “se distinguem nos âmbitos
espacial, temporal e socioeconômico”. Verifica-se na figura 07 como a geometria das
unidades individuais e o afastamento entre elas se refletem nos conjuntos de
características regionais, constituindo respostas claras às exigências climáticas de
cada local. Assim, as comunidades criam uma configuração urbana apropriada para
cada conjunto de exigências do clima. Segundo ele (DUMKE, 2007:154):
Figura 07: Conjuntos urbanos em regiões de climas distintos. Da esquerda para a direita: Aldeia no
oásis de Veramin, no Irã (clima quente e seco); Aldeia de Bari, no Sudão (clima quente e úmido);
Bairro em Zurique, na Suíça (Clima temperado). Fonte: Olgyay, 1963 apud Dumke, 2007.
27
Na Europa, por exemplo, o aquecimento era primitivo. As casas no século XVI
só tinham uma lareira ou um forno no cômodo principal e nenhum aquecimento no
restante da casa. No inverno, este cômodo com suas paredes de alvenaria pesada e
com um chão de pedra era bem frio. Roupas volumosas não eram moda, mas uma
necessidade térmica (RYBCZYNSKI, 1996:33).
O surgimento da palavra “conforto” no contexto do bem-estar doméstico não
é, tampouco, de interesse meramente lexicográfico. Há outras palavras da língua
inglesa com este sentido – “cozy” (aconchegante), por exemplo – mas elas surgiram
mais tarde. O primeiro documento de que comfort significasse um nível de
comodidade doméstica é do século XVIII (op. Cit., 1996:35).
Houve avanço neste sentido, pois como afirma Rybczynski (op. Cit) “(...) muita
coisa realmente mudou nas casas. Algumas mudanças são óbvias – os progressos
do aquecimento e da luz que se devem às novas tecnologias”. Alguns cômodos
usados como quartos, no século XVII, possuíam fornos que resultavam em grande
diferença no conforto térmico no ambiente, observado inicialmente nos países
escandinavos. Além disto, na Idade Média, não havia a separação da casas para
moradia e para o trabalho, servindo assim para ambos os usos.
Segundo Haußerman & Siebel (1996:19) apud Gondran (2007), a moradia
moderna surge estabelecendo quatro marcas principais: a família de duas gerações
como união social, a separação entre morar e trabalhar, a polaridade entre
privacidade e publicidade e a apropriação privada através de compra ou aluguel. Isto
gerou um processo de nivelamento das diferenças entre vários grupos sociais,
culturais, e entre cidade e a área rural.
Deve-se levar em conta o calor de onda longa emitido pelos materiais
construtivos, de modo a minimizar os efeitos do frio ou calor excessivos. Na tabela
03, vemos a temperatura da superfície dos materiais, e as diferenças entre a
temperatura do ar e as superfícies construtivas.
28
Tabela 03: Temperatura superficial dos materiais.
Fonte: ASTM E 1980-98 apud Mello, Martins e Sant’Anna Neto, 2009:31)
4.5 A vestimenta
4
http://www.master.iag.usp.br/conforto/parametros_do_CT.html
30
Tabela 04: Isolamento térmico para peças de roupa (ISO 7730/1994 apud RUAS, 2002)
31
5. ÍNDICES DE CONFORTO E CARTAS BIOCLIMÁTICAS
Segundo com Funari (2006), dezenas de índices, ábacos e diagramas
específicos são utilizados de acordo com o tipo de trabalho de pesquisa elaborado.
Conforme visto nos capítulos anteriores, as variáveis do conforto térmico são
diversas, podendo assim ser elencadas: elementos climáticos, atividade
desenvolvida pelo indivíduo, condições de saúde, condições de aclimatação,
vestimenta, ambiente etc.
Deste modo, quando há mudança de algumas ou até mesmo de todas as
variáveis acima descritas, resulta em combinações que proporcionam uma grande
variedade de condições diferentes. Devido a isto, foram desenvolvidos índices que
agrupam as condições que proporcionam as mesmas respostas, facilitando assim o
estudo e aplicação. Porém é difícil abarcar em um único índice o padrão de conforto
ou neutralidade térmica ideal que possa ser aplicado a qualquer ser humano.
Segundo Fanger (1970) apud Xavier (1999:10),
32
com o aumento de 20º para 24ºC, o rendimento do trabalho físico do operário
diminuía 15%. Com 30ºC de temperatura ambiente, e umidade de 80%, o
rendimento caía 28%.
Anteriormente, o escocês John Scott Haldane (1904), sugeriu a temperatura
de bulbo úmido como um índice de estresse térmico, baseado em seu trabalho sobre
as condições térmicas nas minas em Cornwall, na Inglaterra.
Segundo Lim (1983) apud Pietrobon et al. (2001), pode-se perceber que o
desenvolvimento, durante a primeira metade do século XX, concentrou-se na
definição das variáveis que afetam o conforto térmico, mas não lhes foram dadas
igual ênfase nos diversos índices e escalas. Afirma que, na sequência, o
desenvolvimento na área de conforto térmico é uma extensão dos conceitos iniciais,
auxiliados por equipamentos mais sofisticados, através de condições ambientais
controladas ou pesquisas de campo. Esclarece, ainda, que enquanto alguns poucos
índices tenham sido desenvolvidos recentemente, os estudos continuam a se
conduzir em pesquisas de campo, câmaras climáticas controladas e alguns dos
resultados destas pesquisas têm sido adotados sob a forma normativa.
O termo “sensação de conforto térmico” foi introduzido no período de 1913 a
1923 e o termo “zona de conforto” é introduzido pelo professor John Sheppard, no
Teacher´s Normal College, em Chicago (ROHLES et al., 1966 apud OLIVEIRA,
2003:14).
Em ordem cronológica, segue uma série de trabalhos e pesquisas referentes
aos estudos de Conforto Térmico, com desenvolvimento de índices e cartas
bioclimáticas, visando estabelecer parâmetros para a obtenção de zonas de
conforto, em diversas regiões do mundo. O levantamento dos trabalhos foi realizado
até o ano de 2010. Procurou-se elencar o maior número possível de pesquisas nas
quais algum índice tenha sido criado ou aprimorado. Outros trabalhos com a
aplicação destes métodos também foram relacionados, a fim de evidenciar quais são
os mais utilizados. Lembra-se que este levantamento bibliográfico tem como
limitações a barreira lingüística, já que em sua maior parte as pesquisas provêm do
idioma inglês ou português. Certamente diversas obras em idiomas menos
acessíveis, como o germânico, o russo e o mandarim, por exemplo, enriqueceriam
mais este trabalho.
33
HALDANE (1905) – O escocês John Scott Haldane sugeriu a temperatura de
bulbo úmido como um índice de estresse térmico, baseado em seu trabalho sobre as
condições térmicas nas minas em Cornwall, Inglaterra (Report to Secretary of State
for the Home Department on the Health of Cornish Miners, em 1904).
5
Em inglês, Kata-thermometer.
6
Em inglês, Effective Temperature.
34
Figura 08: Representação original da Temperatura Efetiva (HOUGHTEN & YAGLOU, 1923 apud
AULICIEMS & SZOKOLAY, 1997)
35
normal. Nesses ábacos, as temperaturas efetivas eram obtidas em função da
velocidade do ar e das temperaturas de bulbo seco e úmido (Figura 10).
Figura 09: Escala de temperatura efetiva básica (para homens despidos da cintura para cima).
Fonte: Laboratori di Strumentazione Industriale, (1997:36) apud Ruas (2002).
36
Figura 10 – Escala de temperatura efetiva normal (para pessoas normalmente vestidas)
(Fonte: Szokolay, 1980 apud Stipen, 2007)
7
Em inglês, Corrected Effective Temperature
37
que significa Temperatura Equivalente. Ele considerava o calor irradiado e
desprezava a umidade relativa do ar em suas análises, elaborando deste modo um
aparelho para medir este índice, o Espateoscópio ou Eupatheoscope. Segundo Sá
(1938) apud Oliveira (2003:47), Dufton desconsidera a umidade do ar por pensar
que a mesma pode ser considerada desprezível para ambientes internos na
Inglaterra, porém ele relata que a umidade é um fator importante para temperaturas
acima de 28,9ºC. Também foi conhecida como Temperatura Equivalente Britânica
(BET)8.
8
Em inglês, British Equivalent Temperature
9
Em inglês, Equivalent Warmth (EW).
38
GAGGE, HERRINGTON & WISLOW (1937) – Desenvolveram a Temperatura
Operativa10, originalmente uma medida do efeito físico das paredes circundantes e a
temperatura do ar ambiente.
10
Em inglês, Operative Temperature (OT).
11
Em inglês, Index of physiological effect (Ep).
12
Em inglês, Wind Chill Temperature Index (WCTI)
39
Tabela 05: Índice Wind Chill.
(Fonte: http://www.fundacentro.sc.gov.br/windchill/metod_twc.php#)
40
McARDLE et al. (1947) – Com a colaboração de outros pesquisadores foi
desenvolvido para o Hospital Nacional de Londres a Taxa de Suor Prevista para 4
horas13. Foi utilizada para prever a perda de suor através de diversas condições,
levando em consideração a roupa e a taxa de energia consumida (Figura 11).
13
P4SR, do inglês Predict 4-Hours Sweat Rate
41
MISSENARD (1948) – Desenvolveu a Temperatura Resultante14 (RT), quando
incluiu os efeitos da umidade e movimento do ar em pesquisas com indivíduos com
e sem vestimenta. De acordo com Monteiro & Alucci (2007:45), utilizando os
experimentos similares aos usados por Houghten, porém com maior período de
duração, chegou-se a respostas mais satisfatórias e coerentes quando comparadas
a Temperatura Efetiva. De acordo com Araújo (1996), a primeira definição prática
deste índice foi a de que a temperatura de globo reproduzia o comportamento de um
corpo humano. Em 1935, Missenard demonstrou que os coeficientes de transmissão
por radiação e convecção do corpo humano são os mesmos para o diâmetro de
90mm do termômetro de globo (para o ar parado). Segundo Givoni (1976) a RT é
precisa para climas moderados, mas não se aplica às condições tropicais, pois não
leva em conta os efeitos de resfriamento do movimento do ar acima de 35ºC e dos
80% de umidade relativa (Figura 12).
14
Em inglês, Resultant Temperature.
42
Figura 12: Nomograma de Temperatura Resultante, de Missenard (1948)
(Fonte: Auliciems & Szokolay, 1997)
15
Em inglês, Equivalent Effective Temperature.
43
RAO (1952) – Por meio de estudos em Calcutá (Índia), incorporou a umidade
e a velocidade do ar para a determinação da Temperatura Efetiva na localidade.
16
Em inglês, Mean Radiant Temperature.
44
IET)17. Este inclui a energia despendida e as trocas por radiação entre o operário e
seu entorno. Segundo Araújo (1996:13), os autores partiram da teoria do equilíbrio
térmico e suas equações, além de experiências com pessoas expostas a
determinadas condições ambientais, do calor produzido por metabolismo e da
capacidade evaporativa do ambiente.
Figura 13: Carta do Índice de Tensão Térmica, proposto por Lee (1956).
(Fonte: Auliciems & Szokolay, 1997)
17
Em inglês, Heat Stress Index (HSI)
45
OLGYAY & OLGYAY (1957) – Os irmãos Aladar e Victor publicaram o livro
Solar Control and Shading Devices, onde discorrem sobre os padrões arquitetônicos
de várias partes do mundo e métodos para projetos de edificações, levando em
consideração a insolação incidente, além de outras variáveis ambientais. Ressaltam
para a importância do uso de dispositivos de sombreamento, utilizando cartas
solares para definir a orientação do habitáculo e padrões construtivos a serem
desenvolvidos de modo a minimizar ou aproveitar melhor os efeitos da radiação
direta. Desenvolvem a carta bioclimática (Figura 14), para habitantes de zonas
temperadas dos Estados Unidos.
Figura 14: Carta Bioclimática de Olgyay, para regiões de clima temperado. (Olgyay & Olgyay, 1957)
46
YAGLOU & MINARD (1957) – Idealizaram o Índice de Bulbo Úmido e
Termômetro de Globo18. Este índice inclui os efeitos da radiação solar e terrestre,
temperatura do ar, umidade e velocidade do vento. É adotado pela NR1519 do
Ministério do Trabalho no Brasil, para avaliação de ambientes de trabalho (Figura
15).
Figura 15: Limites permitidos de exposição de calor previsto pelo índice WBGT.
18
Em inglês, Wet Bulb Globe Temperature – WBGT
19
BRASIL. Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora n° 15. Atividades e Operações
Insalubres. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/Empregador/segsau/Legislacao/Normas/>. Acesso em 10/06/2011.
20
Em inglês, Equatorial Comfort Index (ECI)
47
Figura 16: Nomograma do Índice de Conforto Equatorial de Webb.
Fonte: Auliciems & Szokolay, 1997
21
Em inglês, Discomfort Índex (DI).
22
É uma unidade utilizada para relacionar a temperatura do dia para as demandas de energia de ar
condicionado. O valor representa o número de dias em que a temperatura excedia 23,8ºC.
48
PEGUY (1961) – Conforme Funari (2006), o autor desenvolveu neste trabalho
um índice denominado Temperatura Ótima (TO), normalmente utilizado para se
estabelecer o saldo de calor ambiental em determinado ambiente (TO=32-0,18 UR).
49
Figura 17: Índice esquemático bioclimático (OLGYAY, 1963)
50
grupos de dez pessoas, cinco homens e cinco mulheres, expostos, por três horas, a
diferentes condições de teste. Foram englobadas setenta e duas condições
diferentes, que resultaram da combinação de nove temperaturas de bulbo seco com
oito valores de umidade relativa. As pessoas vestiam uma roupa padrão e
executavam atividades sedentárias. A velocidade do ar mantida no ambiente
controlado era inferior a 0,2 m/s e a temperatura superficial das paredes era igual à
temperatura de bulbo seco. A sensação térmica das pessoas foi obtida através do
voto escrito, que era colhido após uma hora de exposição e depois a cada meia hora
até que fossem completadas as três horas. A escala utilizada foi a seguinte: 1 -
Muito frio; 2 – Frio; 3 - Levemente frio; 4 – Confortável; 5 - Levemente quente; 6 –
Quente; 7 - Muito quente23.
GIVONI & BERNER (1967) – De acordo com Koenigsberger et al. (1977 apud
DUMKE, 2002), estes autores criaram em Israel o Índice de Fadiga Térmica24,
baseado em um modelo biofísico considerando todos os fatores térmicos subjetivos
e objetivos do sistema térmico humano. O modelo trata dos mecanismos de troca de
calor entre o corpo e o meio, nos quais pode ser computada a tensão térmica total,
somando-se a metabólica e a ambiental.
23
Em diversos estudos, o trabalho é citado e referenciado como Rohles et al, quando na verdade
este não é o primeiro autor.
24
Em inglês, Index of Thermal Stress (ITS). Em muitas publicações, encontra-se esta referência como
sendo de um trabalho de Givoni, em 1962 (Índice de Stress Térmico), como já citado neste capítulo.
51
McNALL et al. (1967) - Uma boa contribuição ao estudo do conforto térmico
foi oferecida por este deste trabalho, que definiu, a partir de uma amostra de
quatrocentas e vinte pessoas de ambos os sexos, a temperatura de neutralidade
térmica e o intervalo de conforto para as atividades leve, média e pesada (XAVIER,
2006:16).
52
AULICIEMS (1969) – Para este trabalho foram coletados dados referentes à
sensação térmica de 624 crianças adolescentes da Inglaterra (378 meninos e 246
meninas). Foram utilizados para as medições das variáveis ambientais o
psicrômetro de Assmann (temperatura e umidade relativa), Catatermômetro
(movimento do ar), e radiação (termômetro de globo). A pesquisa, realizada no
inverno, utilizou a escala de Bedford (1936), a partir da qual a sensação térmica era
apontada através de avaliações variando desde Muito Quente (+3) a Muito Frio (-3).
Ao final, os resultados apontaram uma zona de conforto que indicava 60% das
crianças em situação de conforto, com temperaturas de bulbo seco entre 15 e 21ºC.
25
Trabalho publicado em 1971, pela Organização das Nações Unidas.
53
principalmente entre os órgãos governamentais e teve uma distribuição reduzida nos
meios acadêmicos.
O método foi desenvolvido a partir de uma pesquisa para obter informações
básicas sobre o impacto do clima nas condições de conforto e projeto ao longo do
ano. Os meses foram classificados em uma escala de conforto de cinco pontos
(ASHRAE, 1997; ISO, 1995 apud GONÇALVES et al., 2003). Identificaram-se os
meses em que eram utilizadas estratégias bioclimáticas de aquecimento ou
resfriamento. A pesquisa demonstrou uma variação da zona de conforto em função
da temperatura média anual. Bedford (1961) já havia demonstrado que a zona de
conforto varia com a temperatura média mensal (TMA). Posteriormente, Humphreys
(1975) comparou diversos estudos de campo e equações de regressão,
relacionando a temperatura de conforto com a média mensal. A fim de simplificar a
análise de conforto, foram estabelecidas três faixas para a TMA (maior que 20ºC;
entre 15 e 20º C; menor que 15ºC) e quatro faixas para a umidade relativa (0-30%;
30-50%; 50-70%; 70-100%). Os limites de conforto foram estabelecidos para o
período diurno e noturno, considerando variações na vestimenta e taxa metabólica.
As temperaturas médias mensais máximas e mínimas são comparadas com
os limites de conforto, obtendo-se um diagnóstico inicial de estresse térmico (quente,
confortável e frio). Os dados mensais de estresse térmico, em conjunto com as
informações sobre o clima, definem um grupo de "indicadores" bioclimáticos para o
projeto. Foram definidos seis indicadores (três relacionados com climas úmidos e
três com climas áridos). As recomendações de projeto são, então, obtidas a partir da
análise do número de meses ao longo do ano em que cada indicador é aplicável.
Inicialmente, são obtidas recomendações em termos de forma, orientação e
espaçamento entre os edifícios e, em seguida, obtêm-se recomendações para os
componentes construtivos, como tamanho e posição de aberturas, características
térmicas de paredes e coberturas.
Dentre as limitações desta metodologia, destaca-se que foi desenvolvida para
climas quentes. Dentre as vantagens, salienta-se que apresenta um processo
metodológico explícito, conjugando dados climáticos, análise de conforto térmico e
indicação de estratégias bioclimáticas, além de possuir dados de entrada
simplificados e padronizados: a análise é feita a partir de dados geralmente
disponíveis para muitos centros urbanos, inclusive em nível global, já que se baseia
em dados da rede meteorológica mundial, gerados e tratados segundo um mesmo
54
procedimento por todas as estações climatológicas participantes da rede. Outro
ponto favorável é a praticidade, já que produz recomendações relativas a
componentes construtivos (GONÇALVES et al., 2003).
26
Em inglês, Predicted Mean Vote (PMV)
27
Em ingles, Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD)
55
Figura 19: Porcentagem de insatisfeitos em função do PMV (Fonte: Fanger, 1970 apud Stilpen, 2007)
56
convecção e evaporação, se comparado ao ambiente real, considerando o mesmo
teor de superfície molhada e temperatura média da pele.
A ET* é representada graficamente em função da temperatura do ar, da
temperatura radiante média e da umidade. A representação se dá através de linhas
onde o teor de umidade da pele é constante. Essas linhas são numericamente
identificadas pelo correspondente valor da temperatura do ar no ponto do seu
cruzamento com a linha de umidade relativa de 50 %. Os gráficos são específicos
para cada combinação de vestimenta, atividade física e velocidade do ar, tendo em
vista que é impossível criar um ábaco universal devido à dependência da ET*
dessas variáveis; na figura 20 é possível observar as linhas de ET* para duas
atividades diferentes.
Figura 20: Representação da Nova temperatura Efetiva. Fonte: ASHRAE (1997) apud Ruas (2002)
57
GAGGE, NISHI & GONZALEZ (1972) – Definiram a Nova Temperatura Efetiva
Padrão29. Ruas (2002:39) explica que a SET é a temperatura uniforme de um
ambiente imaginário, sem vento, com temperatura igual a temperatura média
radiante, em que uma pessoa com vestimenta padrão para aquela atividade, com a
mesma temperatura média e teor de superfície molhada da pele, teria a mesma
perda de calor que no ambiente real. A atividade é a mesma no ambiente real e no
imaginário e a vestimenta é padrão para aquela atividade.
29
Em inglês, New Standard Effective Temperature (SET)
58
Figura 21: Carta bioclimática de Olgyay adaptada para climas quentes
(KOENIGSBERGER et al, 1977).
59
da sensação térmica em indivíduos nas localidades, em condições de tempo quente
e seco. Obteve-se uma correlação significativa da sensação térmica com a
temperatura de globo.
60
HUMPHREYS (1978) - Com resultados de aproximadamente sessenta
estudos de campo, realizados em diversas regiões do mundo, o pesquisador
observou que as temperaturas preferidas nos interiores das edificações
apresentavam acentuada dependência em relação às médias mensais das
temperaturas externas. Para ambientes sem climatização artificial, esta dependência
poderia ser expressa por uma equação linear (RORIZ, 2003:339). Para ambientes
sem condicionamento térmico artificial, Humphreys identificou a seguinte equação:
TC = 11.9 + 0.534 TME, sendo: TC: temperatura média confortável em ambiente
interior (ou temperatura “neutra”, TN); e TME: temperatura média mensal do
ambiente exterior.
61
da umidade relativa do ar. Vale ressaltar que o índice em questão considera apenas
as variáveis temperatura e umidade do ar, não considerando a velocidade do ar,
efeitos da radiação térmica e parâmetros do indivíduo (atividade e vestimentas). O
Humidex é utilizado pelo Serviço Meteorológico do Canadá (2000) como alerta para
a população. O índice classifica situações desde “sem desconforto” até “golpe
térmico iminente”. (MONTEIRO & ALUCCI, 2007:46).
30
Em alemão, Klima Michel Model (KMM)
31
O nome Michel foi adotado no modelo por ser muito comum na Alemanha.
62
ALUCCI (1981) – Discorre sobre os critérios utilizados na construção de
habitações em grande escala, em diversas partes do Brasil, já que não leva em
consideração (na maioria das vezes) o comportamento térmico dos materiais das
edificações. O objetivo do trabalho foi determinar para as diversas regiões do estado
de São Paulo recomendações aplicáveis a unidades habitacionais térreas, que
atendam às exigências higrotérmicas dos usuários. Deste modo, produziu-se um
conjunto de recomendações (para verão e inverno) concernentes às características
térmicas de coberturas, paredes e janelas dos habitáculos, além da orientação da
edificação. A regionalização estadual ocorreu com base no zoneamento agrícola. Os
dados meteorológicos externos foram obtidos junto ao DAEE (Departamento de
Águas e Energia Elétrica de São Paulo). A autora utilizou a Temperatura Efetiva em
seu trabalho.
63
NORMA ISO 773032 (1984) - Conforme Bogo et al. (2004:16), adota as
pesquisas de Ole Fanger para recomendar que em espaços de ocupação humana, o
PPD deve ser menor que 10%. Corresponde a uma faixa de variação do PMV de -
0,5 a +0,5. De acordo com Ruas (2001:45), o PMV e os intervalos de conforto para o
verão e para o inverno são dados em função de um índice térmico chamado de
temperatura operante (To) definida como a temperatura uniforme de um ambiente
imaginário no qual uma pessoa trocaria o mesmo calor por radiação e convecção
que no ambiente real não uniforme. Esta norma internacional sofreu uma atualização
em 1994. A nova versão incluiu a limitação da umidade relativa ao intervalo entre 30
e 70%, modificou as recomendações para a velocidade média do ar em atividades
sedentárias, que passou a ser dada em função da temperatura do ar e da
intensidade da turbulência.
32
ISO Significa International Organization for Standardization e serve para normatizar e padronizar
uma série de serviços e produtos.
64
climáticas australianas, concluindo que a técnica proposta pela ISO não pode ser
usada universalmente, já que as temperaturas de neutralidade térmica obtidas foram
inferiores às previstas pelo PMV.
33
Em inglês, Tropical Summer Index (Tsi)
65
Figura 22: Índice de verão tropical. Fonte: Sharma & Sharafat (1986).
66
O sistema desenvolvido pelo autor permite o cálculo de limites específicos
para a zona de conforto de uma dada região distintamente, dependendo somente
das temperaturas médias do mês mais quente e do mês mais frio da região
estudada. A base de dados climáticos adotada pelo método de Szokolay é simples.
As temperaturas usadas são as médias das máximas e máximas mensais que são
armazenadas junto com o desvio padrão das mesmas. Conforme Szokolay (1995)
apud Barbosa (1997:38), o uso desta base de dados é simples, propiciando quase a
mesma confiabilidade de uma base de dados horários, com a vantagem de sua fácil
utilização.
67
conforto. Analisam também os índices e cartas bioclimáticas, os projetos
arquitetônicos e as respectivas adaptações/adequações às condições higrotérmicas
e de ventilação nos ambientes construídos.
68
Foi considerado o metabolismo no verão e inverno igual a 140 W/m² para o
dia e 80 W/m² para a noite; a roupa igual a 0,5 clo para o verão (dia e noite), e 1,0
clo para o inverno de dia e 1,5 clo para o inverno de noite; a velocidade de ventos foi
considerada igual a 1,0 m/s para o verão durante o dia e à noite, e para o inverno a
velocidade de ventos foi considerada igual a 1,0 m/s durante o dia e 0,1 m/s à noite.
Concluiu-se que os diversos métodos estudados não divergem quanto às condições
extremas (no caso do inverno em Porto Alegre) porque são óbvias. Todavia, quanto
aos limites de conforto (durante o período de verão em Porto Alegre), existem
divergências, pois os métodos não coincidem principalmente nos horários de
transição entre dia e noite.
69
Figura 23: Diagrama de conforto da ANSI ASHRAE (1992)
70
GIVONI (1992) - O autor reavaliou o conforto em edifícios sem
condicionamento (naturalmente ventilados). Haja vista que os moradores destas
edificações aceitam mais facilmente uma grande variação térmica como normal,
então se fez necessário criar uma nova carta bioclimática (Figura 24), para países
em desenvolvimento (STILPEN, 2007:20). Para Givoni, as propostas de limites de
confortos estabelecidas até aquele momento tratavam de uma zona de conforto
universal, com os mesmos limites em todos os tipos de clima, desconsiderando o
processo de adaptação e a variação das respostas fisiológicas de cada indivíduo,
em diferentes regiões. Conforme Givoni (1992) apud Dumke (2002:59), os “padrões
de conforto convencionais” não se aplicam em regiões quentes e úmidas. As
pessoas que vivem nestas regiões preferem temperaturas mais altas (reflexo da
aclimatação).
Assim, os limites sugeridos para a zona de conforto térmico de países com
clima quente e em desenvolvimento são: no verão em situação de umidade baixa, a
variação de temperatura pode ser de 25°C a 29°C, e em umidade alta de 25°C a
26°C, podendo chegar a 32ºC com ventilação de 2,0 m/s; no inverno, os limites são
de 18 °C a 25°C; com relação à umidade, os limites são de 4,0 g/kg a 17g/kg e 80%
de umidade relativa (GIVONI, 1992 apud WEILLER, 2008:70).
Figura 24: Limites de zona de conforto para ambientes no verão e no inverno, em países de clima
temperado e quente. Fonte: Givoni, 1992.
71
CROOME, GAN & AWBI (1992) - Estudaram o conforto térmico de um
escritório sob condições de ventilação natural em Montreal, Canadá, no inverno. Os
resultados mostraram que, quando as janelas e/ou portas estavam abertas, houve
uma grande dispersão dos votos ao longo da escala de sensações térmicas. No
entanto, o contrário ocorreu com o PMV obtido a partir da Equação de Conforto de
Fanger, sugerindo que a equação subestimou as sensações térmicas para a
situação em questão (STILPEN, 2007:23).
72
pelas cadeiras, quando na posição sentado. Considerando que o referido isolamento
pode representar um adicional de 0,15 clo numa vestimenta de verão de 0,5 clo,
então o seu efeito seria equivalente a um aumento de 1,5 °C na temperatura
operante (STILPEN, 2007).
TANABE & KIMURA (1994) – De acordo com Ruas (2002:44) estes autores
apresentaram uma revisão dos efeitos da temperatura do ar, da umidade e da
velocidade do ar no conforto térmico, para climas quentes e úmidos. O estudo foi
baseado em experiências laboratoriais japonesas e concluiu que o PMV superestima
a sensação térmica quando a velocidade do ar é superior a 0,5m/s e que este índice
não expressa adequadamente a sensação de conforto em condições de umidade
alta, pois a porcentagem de insatisfeitos é significativamente maior quando a
umidade relativa é de 80%, se comparadas a valores de 40% e 60%.
73
amplitude térmica, obtendo assim áreas definidas, para indicar as estratégias
bioclimáticas a serem utilizadas em cada zona (ANDRADE, 1996:27).
34
Sigla para Comfort Formula.
74
BLAZEJCZYK (1996) – Propõe o Modelo MENEX35, que consiste na troca de
calor entre o homem e o ambiente. Monteiro (2008:65) analisa o modelo que utiliza o
balanço térmico do corpo humano, considerando a produção de calor metabólico por
meio da ISO 8996 (1990) e as trocas com o meio. Realiza o cálculo das perdas
evaporativas da pele, considerando um coeficiente de ponderação por sexo (1,0
para homens e 0,8 para mulheres), calcula as perdas por radiação de onda longa
pela pele e usa o cálculo da radiação solar através de modelos específicos. O autor
propõe três critérios para avaliar os resultados: consideração da carga térmica,
esforço fisiológico do organismo e estímulo devido à intensidade da radiação solar.
35
Sigla em inglês para Man Environment Heat Exchange Model
75
usuários urbanos. Os resultados demonstraram que a sensação térmica dos
entrevistados é influenciada pelo tempo de exposição ao sol, e a sensação térmica
mais desconfortável concentra-se nas proximidades dos cruzamentos de vias
(PEZZUTO, 2007:33).
76
GOULART et al. (1997) – Desenvolvem trabalho no qual são pesquisados os
dados climáticos de catorze cidades brasileiras, para utilização no projeto de
edificações, aplicando a metodologia do Ano Climático de Referência (TRY36).
36
Test Reference Year, que foi preparado pelo National Climatic Center e o Typical Meteorological
Year (TMY) elaborado pelo Sandia Laboratories nacidade de Albuquerque, Estados Unidos.
77
cidade de São Carlos (SP), e a repercussão sobre a percepção de conforto. Este
método foi utilizado, pois, para o autor, é o único proposto para a adequação do
espaço construído, levando em consideração a escala geográfica, as condições
biológicas envolvidas e a disponibilidade das técnicas construtivas existentes. Aliado
aos dados meteorológicos obtidos para o trabalho, analisou-se também os tipos de
tempo atuantes (por meio de cartas sinópticas), na avaliação do desempenho
térmico das edificações. Ao final discorre sobre algumas soluções para situações
mais críticas de desconforto, além da proposta de um zoneamento climático para o
Brasil.
78
radiação solar pelo homem, seja em espaços urbanos, ou mesmo em áreas
arborizadas montanhosas (LAMBERTS e ANDREASI, 2003).
37
Munich Energy-Balance Model for Individuals
38
Em inglês, Physiological Equivalent Temperature (PET)
79
quente. Como procedimento adotou-se medições horárias de temperatura de bulbo
seco em três edificações durante nove meses. Estas edificações diferem na forma,
orientação, uso, fechamentos laterais e cobertura tanto em transmitância quanto em
capacidade térmica. A análise dos dados demonstrou que a inércia térmica pode ser
uma estratégia importante para os meses de inverno, com efeito positivo no verão
quando usado em fechamentos laterais da edificação. Caso a cobertura possua
inércia, é mais importante evitar o ganho térmico decorrente da radiação solar, seja
por barreiras radiantes, seja pelo uso de isolamento térmico. As edificações foram
monitoradas de abril a dezembro de 1998.
80
XAVIER & LAMBERTS (1999) – Procura apresentar uma proposta de zona de
conforto obtida a partir de pesquisa de campo realizada com estudantes do 2º grau
em Florianópolis (SC), tendo em vista as reais sensações térmicas relatadas pelos
estudantes, e o percentual mínimo de pessoas desconfortáveis nas salas de aula,
em função das variáveis ambientais. Comparando-se a zona de conforto proposta
pelos dados obtidos no trabalho, com a proposta por Givoni, (1992), para países em
desenvolvimento, observou-se que, ao contrário dos estudos deste autor, os
estudantes pesquisados apresentam-se mais sensíveis com relação às variações da
temperatura do ar. O limite inferior da temperatura, para conforto, foi de ordem de
20°C, enquanto o previsto por Givoni era da ordem de 18ºC. O limite superior da
temperatura, para conforto, foi da ordem de 26°C, ao passo que o previsto pelo autor
era da ordem de 29ºC.
81
HACKENBERG (2000) - desenvolveu pesquisa em ambientes industriais
(condicionados, com ventilação forçada e ventilação natural), visando avaliar a
sensação térmica dos trabalhadores em edificações. O trabalho também verificou a
influência das variáveis ambientais e pessoais nas respostas dos trabalhadores e a
aplicabilidade dos questionários da ISO 10551 em cultura diferente da que lhe deu
origem (STILPEN, 2007:40).
39
Índice de Sensação Térmica - Thermal Sensation (TS)
82
natural. Ressalta que as construções com paredes de tijolos proporcionam maior
conforto aos ocupantes do ambiente.
HUMPHREYS & NICOL (2002) – Defendem uma revisão da norma ISO 7730,
para corrigir erros na determinação do índice de conforto PMV em climas quentes.
Os autores esclarecem que o desvio se deve a erros nas variáveis estimadas
(vestimenta e metabolismo). Também ressaltam que o modelo da ISO 7730 não é
válido para situações de transiente térmico, apenas regime permanente (STILPEN,
2007:30).
83
HAVENITH, HOLMÉR & PARSONS (2002) - Na avaliação do conforto térmico
nos edifícios, o uso da PMV é bastante popular. Para este modelo, os dados sobre o
clima, roupas e a produção de calor metabólico são obrigatórios. O artigo discute a
representação e medição de parâmetros de roupas e taxa metabólica no contexto
PMV. Vários problemas são identificados e para alguns destes são indicadas
soluções. Para o isolamento de vestuário foi mostrado que os efeitos do movimento
do corpo e do movimento do ar são tão grandes que eles devem ser contabilizadas
de modelos de previsão de conforto para ser fisicamente precisos. Também os
algoritmos para troca de calor convectiva em modelos de previsão devem ser
reconsiderados.
84
das exigências de conforto térmico para as pessoas com deficiência física comparou
as respostas com as de pessoas sem deficiência. Verificou-se que existem
diferenças entre pequenos grupos com e sem deficiência física. No entanto, há
maior necessidade de considerar as necessidades individuais das pessoas com
deficiência física.
40
Sigla do inglês Adaptive Comfort Standard
85
Para a definição dos pontos, foram considerados aspectos de uso e ocupação
do solo e características de estrutura das edificações. A partir dos dados obtidos
comparou-se as temperaturas externas e internas e a umidade dos pontos de coleta,
que demonstraram a influência da estrutura urbana na alteração das variáveis
climáticas ligadas ao conforto. O índice utilizado foi o da Temperatura Efetiva, com
base nos dados. Foi possivel evidenciar a inadequação das construções da cidade
ao clima local. Os materiais utilizados nas construções armazenam calor durante o
dia que é liberado através da radiação de ondas longas, aquecendo o ar interno da
edificação, a qual apresentou o maior índice de dias com desconforto no período
noturno.
86
DUMKE (2002) – Avaliou o desempenho térmico de habitações populares em
Curitiba (PR), analisando moradias com diferentes padrões construtivos. As
moradias (ocupadas durante o estudo) foram monitoradas com medições de
temperatura e umidade relativa, durante o inverno e o verão. A intenção era
demonstrar que as habitações de interesse social devem ser adequadas a cada
região, não podendo ser de um mesmo material para todo o Brasil.
41
Sigla para Draught Model
87
atividade) em um índice que pode ser usado para prever a sensação térmica média
de um grande grupo de pessoas. O segundo prevê a porcentagem de ocupantes
satisfeitos com o projeto local, a partir de três variáveis físicas (temperatura e
velocidade média do ar e intensidade de turbulência). O trabalho indica que o
modelo de PMV nem sempre é bom para avaliar a sensação térmica real,
particularmente em ambientes de estudo de campo. Discrepâncias entre real e
previsto nas sensações térmicas refletem, em parte, as dificuldades inerentes à
obtenção de medidas precisas de isolamento de roupa e nível de atividade. Quanto
ao Draught Model, destaca algumas limitações metodológicas e contextuais que
prejudicam a precisão das previsões do modelo. Entre os mais interessantes foram
os estudos recentes que sugerem que o movimento do ar pode ser percebido como
agradável, em vez de desconforto indesejado, em temperaturas mais altas.
88
NICOL (2004) - Propõe a abordagem adaptativa para estudar o conforto
térmico em locais de clima tropical, haja vista que o PMV superestima a sensação de
calor nestas regiões (STILPEN, 2007:30).
89
estudados, apenas o ambiente já climatizado anteriormente atingiu níveis
satisfatórios, o que não ocorreu nos demais locais.
90
relativa, além de entrevistas concomitantes às medições acerca da sensação
térmica dos transeuntes. O índice empregado foi o de Temperatura Efetiva, que,
segundo os autores, se mostrou adequado, conjuntamente com as entrevistas, para
a identificação de faixas de conforto humano. Houve diferenciação dos valores de
temperatura do ar, temperatura efetiva e umidade relativa do ar, em relação aos
locais de observação/medição, mostrando a influência do Parque Trianon, que
apresentou valores térmicos mais baixos em relação às áreas com maiores taxas de
urbanização/verticalização situadas no seu entorno, com diferenças de até 3ºC em
determinados horários, para os dois episódios analisados.
91
ALMEIDA (2005) – Utiliza o programa ARQUITROP v3.0 (sistema42 integrado
de rotinas e banco de dados para a análise de conforto térmico) e o TropLux (para
analisar o desempenho luminoso). O estudo ocorreu em Maceió (AL), em
edificações de um conjunto habitacional popular. Confirma a tendência a desconforto
nestas moradias, demonstrando uso de material inadequado para as condições
climáticas da região.
42
RORIZ, M. e BASSO, A. ARQUITROP, versão 3.0. São Carlos, SP,
1989.<http://ufsc.br/downloads/tabela_software.html>
43
Sigla em francês para Calcul d’Ouvrages Multizones Fixe à une Interface Expert.
92
SIQUEIRA et al. (2005) - Apresenta uma metodologia para se estimarem os
dias típicos de projeto, por meio do tratamento estatístico dos dados climáticos, para
inverno e verão (com utilização de dados horários das variáveis climáticas).
Sugerem o uso de pelo menos dez anos de dados para se chegar a uma
caracterização razoável do local de instalação da construção.
93
FUNARI (2006) – Na tese, o autor desenvolve um Índice de Sensação
Térmica Humana (IST), de acordo com a variação dos tipos de tempo, utilizando
como ano padrão 1996 (representativo da década de 1991-2000). Fez uso da
metodologia proposta por Missenard (1948), com modificação para o emprego da
correção para a velocidade do vento, utilizando o ábaco de Temperatura Efetiva.
Para o estabelecimento dos tipos de tempo, utilizou-se de Cartas Sinópticas da
Marinha do Brasil, além da metodologia de Monteiro (1969, 1971, 1973), para a
elaboração da análise rítmica. Os dados meteorológicos foram coletados do IAG
(Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP). Na tabela a
seguir, adotada pelo autor, estão discriminadas as classes do Índice de Sensação
Térmica. Como observado na tabela 06, as classes 1, 2 e 3 representam
resfriamento muito elevado a frio; as classes 4 e 5 correspondem a um desconforto
pelo frio; as classes 6, 7 e 8 representam a zona de conforto; as classes 9 e 10
abrangem desconforto pelo calor; a classe 11 representa um aquecimento elevado
com possibilidade de “stress térmico”.
94
BALTAR (2006) - Avalia a influência de parâmetros construtivos na demanda
e consumo de energia elétrica para fins de condicionamento térmico ambiental. Os
parâmetros construtivos avaliados englobam tipos de vidros, cores externas das
fachadas e revestimento interno das paredes. As análises foram realizadas através
do programa de simulação termo energética EnergyPlus. O estudo foi realizado em
um hospital no município de Lajeado (RS), constatando a influência dos materiais
construtivos no conforto do ambiente edificado.
95
utilizou o programa Analysis Bio44 para a análise dos parâmetros climáticos, obtidos
junto ao CPTEC/INPE45. A zona de conforto térmico de Givoni (1992) para países
com clima quente e em desenvolvimento (com índices de temperatura entre 18°C e
29°C) foi escolhida como representativa para pessoas adaptadas aos climas
existentes no Brasil. Segundo o autor, a tipologia das habitações investigadas em
seu trabalho proporciona desempenho térmico tão insatisfatório que o desconforto é
menor no lado externo da moradia.
44
Software desenvolvido pelo Laboratório de Eficiência Energética de Edificações LABEEE/UFSC
45
Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais.
46
Architectural Energy Corporation (2005).
96
orientação das vertentes do relevo e ventos superficiais), do fator urbano (uso do
solo, distribuição socioespacial das habitações) e de sua correlação, elaborou-se a
setorização espacial da cidade. Os valores de temperatura do ar e de umidade
relativa do ar, coletados in situ em 16 locais selecionados, em agosto de 2006, foram
comparados aos dados obtidos por estações meteorológicas, espacializados,
analisados por meio de gráficos comparativos e avaliados segundo os modelos de
conforto térmico de Sorre (1984), Givoni (1992) e Aroztegui (1995). Utilizou também
a Termografia de Superfície, obtida por imagem de satélite Landsat 5, para
comparação entre a temperatura da superfície e a temperatura do ar. Confrontando-
se os graus de desconforto térmico à classificação das condições e qualidade de
vida dos locais amostrados, verificou a existência um duplo desconforto – devido ao
frio, e amplitudes térmicas elevadas – nos espaços em que a população mais pobre
se estabelece.
47
Architectural Bioclimatic Classification
97
zonas predefinidas e as respostas construtivas vernáculas. Ao todo, foram definidas
e detalhadas oito zonas bioclimáticas.
LEÃO (2007) – Em sua dissertação a autora cria uma carta bioclimática para
Cuiabá (MT). Utilizou dados de médias mensais de temperatura do ar para o período
1990 a 2004, coletados na Estação Meteorológica oficial no próprio município, para
a determinação do Ano Climático de Referência para Cuiabá, ou TRY 50. A
metodologia consiste na eliminação de anos de dados climáticos que contenham
temperaturas médias mensais extremas (altas ou baixas). Posteriormente foram
coletados dados horários de temperatura de bulbo seco e temperatura de bulbo
úmido na Estação Meteorológica para o ano de 1994, eleito como ano de referência.
Esses dados foram utilizados na plotagem da carta e obtenção das estratégias
bioclimáticas necessárias para correção do clima local, através do software Analysis
Bio. Os resultados finais concluíram presença de 19,5% de horas de conforto e
80,5% de desconforto para o TRY de Cuiabá. As estratégias bioclimáticas mais
indicadas foram sombreamento (94,7%), ventilação (56,2%), resfriamento
evaporativo (20,2%) e massa térmica para resfriamento (19,6%).
48
Comercializado desde 1975, o programa é desenvolvido em linguagem FORTRAN.
49
Desenvolvido em linguagem C++.
50
Test Reference Year
98
PEZZUTO (2007) – A autora investiga o papel do uso do solo no conforto de
espaços abertos, na área urbana de Campinas (SP). Para isso, utiliza-se de dados
provenientes de medidas móveis e fixas de temperatura e umidade, além da
aplicação de questionários.
51
Segundo o autor, (apud Echenique, 1975), o modelo preditivo visa prognosticar o futuro, seja por
meio de extrapolações em que se manifesta a continuação da tendência atual, seja por meio de
condições em que mecanismos de causa e efeito são especificados. Ele justifica o uso destes
modelos no trabalho, especificamente os modelos preditivos condicionais, uma vez que o objetivo é a
obtenção de uma ferramenta para previsão de uma situação futura hipotética.
99
PEREIRA & ASSIS (2010) – Avaliam os modelos de índices adaptativos para
uso nos projetos arquitetônicos climáticos, para aplicação no Brasil. Após várias
comparações realizadas, verificou-se que a temperatura neutra resultante das
equações propostas por Auliciems (1981) e DeDear & Bragger (2002) apresentam
melhor resultado. Apesar de algumas vantagens, para os autores os índices
adaptativos possuem limitações na determinação das condições de conforto térmico
dos usuários de uma edificação, por considerar apenas a temperatura do ar como
variável.
100
Foram revistas 197 pesquisas no total. Destas, 63% correspondem a
publicações estrangeiras. Na figura 25 é possível observar que a maior parte dos
trabalhos analisados foi publicada após 1980. Do total, 106 trabalhos, ou seja, mais
da metade deles, foram elaborados entre 1991 e 2010.
70 66
60
50
40
Trabalhos
40
30
22
20 16 16
14
11
10 7
3
1 1
0
1900 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
1971 - 1980
1981 - 1990
1991 - 2000
2001 - 2010
Figura 25: Distribuição quantitativa dos trabalhos pesquisados ao longo dos anos. Org. pelo autor.
101
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
102
valores preconcebidos nos modelos não se comprovaram na prática, quando
aplicados aos indivíduos.
Devem ser considerados para o cálculo e definição de índices para
determinadas localidades o fator temporal. Após muitos anos, o padrão alimentar
das pessoas pode se modificar, fazendo com se tornem obesas, por exemplo,
influenciando assim, na taxa metabólica e na resposta fisiológica ao calor/frio. Deste
modo, poderia haver uma revisão na determinação das zonas de conforto de certas
localidades, levando-se em consideração esta variável. Por isso parece ser bastante
razoável o constante aprimoramento ou calibração dos índices e diagramas para
cálculos de conforto preexistentes.
Inicialmente a maior parte dos trabalhos utilizava a Temperatura Efetiva nos
cálculos de conforto. Após o trabalho de Fanger (1970), preferencialmente é
utilizado o PMV, na maioria dos estudos, apesar da crítica de alguns autores ao
método, principalmente daqueles que pregam os modelos adaptativos. Porém,
diversos autores perceberam que a aplicação de alguns índices não poderia ser
extrapolada para outras regiões climáticas diferentes do local de origem da aplicação
inicial. Deste modo, desenvolveram adaptações e publicaram trabalhos visando o
aperfeiçoamento no estabelecimento de outros métodos para o cálculo do conforto.
A carta bioclimática de Olgyay (1963) é de fácil utilização e sua aplicação se mostra
bastante eficaz, porém sofre críticas de alguns autores, pois não é possível aferir o
grau de desconforto individual. Em paralelo, outros defendem que ela só pode ser
aplicada a regiões de clima temperado, apesar da correção proposta por
Koenigsberger (1973), para climas quentes.
Alguns índices são utilizados com mais freqüência apenas devido à
simplicidade na obtenção de dados, como o Discomfort Index, de Thom (1959), onde
é necessária somente a temperatura de bulbo seco e bulbo úmido, obtidas com dois
termômetros simples. Porém não considera a influência do vento, a temperatura
radiante e atividade individual.
Os modelos adaptativos foram utilizados a partir da década de 1980,
relacionando temperaturas interiores de projeto ou limites aceitáveis de temperatura
com parâmetros meteorológicos ou climatológicos exteriores, considerando também
a percepção e a adaptação do indivíduo ao clima no qual vive (levando em conta a
aclimatação).
103
Notou-se que, principalmente a partir da década de 1980, os índices e
modelos para o cálculo de conforto foram sendo modificados a partir dos
preexistentes, não havendo elaboração de outros métodos que diferissem em
grande parte dos anteriores. Muitos softwares foram desenvolvidos com a era da
informática, visando calcular áreas de conforto, principalmente em ambientes
externos nas cidades.
Algumas dificuldades foram encontradas ao longo da pesquisa. Destaca-se
que em diversos casos, os autores e seus respectivos trabalhos não foram
encontrados, sendo que em muitas vezes os anos de publicação estavam trocados
ou até mesmo o conteúdo dos artigos eram diferentes dos citados em outras obras.
Em alguns artigos foi possível notar a confusão que se faz entre o nomograma de
Temperatura Efetiva e suas correções e o Discomfort Index, de Thom (1959), sendo
comumente tratados como a mesma coisa.
Cabe destacar ainda os limites do trabalho, uma vez que devido ao extenso
levantamento bibliográfico, não foi possível uma análise mais profunda com relação
aos índices de conforto e cartas bioclimáticas, quanto à aplicação e eficácia dos
mesmos. A maior parte das equações que deram origem aos métodos não consta
neste trabalho, uma vez que seria necessário um maior aprofundamento no
entendimento dos mesmos por parte do autor. Adotou-se como critério a escolha de
trabalhos diversos ao redor do mundo, procurando elencar estudos realizados em
todos os continentes, utilizando diversas formas de índices de conforto. Percebeu-se
que a maioria dos trabalhos pesquisados foi desenvolvida por arquitetos e
engenheiros, sendo pouca a produção da Geografia neste campo,
comparativamente.
104
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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