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Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn, Quem guia nos ares
Im dunkeln die Goldorangen glühn, [...] A frecha imprumada,
Kenst du es wohl? Ferindo uma presa,
Dahin! dahin. Com tanta certeza,
Möcht ich... ziehn. (Goethe)1
Na altura arrojada
Onde eu a mandar?
Minha terra tem palmeiras,
- Guerreiros, ouvi-me,
Onde canta o Sabiá;
- Ouvi meu cantar.
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
IV
Nosso céu tem mais estrelas,
Quem tantos imigos
Nossas várzeas têm mais flores,
Em guerras preou?
Nossos bosques têm mais vida,
Quem canta seus feitos
Nossa vida mais amores.
Com mais energia?
Quem golpes daria
Em cismar, sozinho, à noite,
Fatais, como eu dou?
Mais prazer encontro eu lá;
- Guerreiros, ouvi-me;
Minha terra tem palmeiras,
- Quem há, como eu sou?
Onde canta o Sabiá.
V
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Na caça ou na lide,
Em cismar – sozinho, à noite –
Quem há que me afronte?!
Mais prazer encontro eu lá;
A onça raivosa
Minha terra tem palmeiras,
Meus passos conhece,
Onde canta o Sabiá.
O imigo estremece,
E a ave medrosa
Não permita Deus que eu morra,
Se esconde no céu.
Sem que eu volte para lá;
–Quem há mais valente,
Sem que desfrute os primores
Mais destro do que eu?
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
VI
Onde canta o Sabiá.
(Coimbra, julho 1843.) Se as matas estrujo
Co os sons do Boré,
Mil arcos se encurvam,
3) O CANTO DO GUERREIRO Mil setas lá voam,
I Mil gritos reboam,
Aqui na floresta Mil homens de pé
Dos ventos batida, Eis surgem, respondem
Façanhas de bravos Aos sons do Boré!
Não geram escravos, - Quem é mais valente,
Que estimem a vida - Mais forte quem é?
Sem guerra e lidar.
– Ouvi-me, Guerreiros, VII
– Ouvi meu cantar.
Lá vão pelas matas;
II Não fazem ruído:
O vento gemendo
Valente na guerra E as matas tremendo
Quem há, como eu sou? E o triste carpido
Quem vibra o tacape Duma ave a cantar,
Com mais valentia? São eles – guerreiros,
Quem golpes daria Que faço avançar.
Fatais, como eu dou? Quem golpes daria
- Guerreiros, ouvi-me; Fatais, como eu dou?
-Quem há, como eu sou? - Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?
VIII
1"Conheces o país onde floresce o limoeiro?/ Por entre a rama E o Piaga se ruge
escura ardem laranjas de ouro,/[...]/ Conheces?/ Oh! Partir!Partir/ No seu Maracá
Para lá [...] ir!”(“Mignon”. Wilhelm Meister.) A morte lá paira
GONÇALVES DIAS – POEMAS INDIANISTAS – LB III – Romantismo – noturno – Gonçalves Dias – Prof. Vagner Camilo - 2017
Quando os astros derramam sobre a terra E co’os sons das Harpas d’anjos
Merencório luzir. De minha Harpa os sons casar!
Manitô — Manitô — cobriste o teu rosto O guerriers! ne laissez pas ma dépouille au corbeau!
Com denso velâmen de penas gentis; Ensevelissez-moi parmi des monts sublimes,
E jazem teus filhos clamando vingança Afin que l'étranger cherche, en voyant leurs cimes,
Quelle montagne est mon tombeau!
Dos bens que lhes deste da perda infeliz.
V.Hugo. “Le Géant”.
I
Teus filhos valentes, temidos na guerra,
Gigante orgulhoso, de fero semblante,
No albor da manhã quão fortes que os vi!
Num leito de pedra lá jaz a dormir!
A morte pousava nas plumas da frecha,
Em duro granito repousa o gigante,
No gume da maça, no arco tupi.
Que os raios somente puderam fundir.
E hoje em que apenas a enchente do rio
Dormido atalaia no serro empinado
Cem vezes hei visto crescer — abaixar.
Devera cuidoso, sanhudo velar;
Já restam bem poucos dos teus qu'inda possam
O raio passando o deixou fulminado,
Dos seus, que já dormem, os ossos levar.
E à aurora, que surge, não há de acordar!
Teus filhos valentes causavam terror
Co'os braços no peito cruzados nervosos,
Teus filhos enchiam as bordas do mar,
Mais alto que as nuvens, os céus a encarar,
As ondas coalhavam de estreitas igaras
Seu corpo se estende por montes fragosos,
De frechas cobrindo os espaços do ar.
Seus pés sobranceiros se elevam do mar!
Já hoje não caçam nas matas tão suas
De lavas ardentes seus membros fundidos
A corça ligeira — o trombudo coati.
Avultam imensos: só Deus poderá
A morte pousava nas plumas da frecha,
Rebelde lançá-lo dos montes erguidos,
No gume da maça — no arco tupi.
Curvados ao peso, que sobre lhe 'stá.
O Piaga nos disse que breve seria,
E o céu, e as estrelas e os astros fulgentes
Manitô, dos teus a cruel punição;
São velas, são tochas, são vivos brandões,
E os teus inda vagão por serras, por vales,
E o branco sudário são névoas algentes,
Buscando um asilo por ínvio sertão!
E o crepe, que o cobre, são negros bulcões.
Manitô — Manitô — descobre o teu rosto,
Da noite, que surge, no manto fagueiro
Bastante nos pesa da tua vingança;
Quis Deus que se erguesse, de junto a seus pés,
Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
A cruz sempre viva do sol no cruzeiro,
Teus filhos que choram tão grande tardança.
Deitada nos braços do eterno Moisés.
11) CAXIAS
Perfumam-no odores que as flores exalam,
Bafejam-no carmes de um hino de amor
Quanto és bela, ó Caxias! - no deserto,
Dos homens, dos brutos, das nuvens que estalam,
Entre montanhas, derramada em vale
Dos ventos que rugem, do mar em furor.
De flores perenais,
És qual tênue vapor que a brisa espalha
E lá na montanha, deitado dormido
No frescor da manhã meiga soprando
Campeia o gigante, — nem pode acordar!
À flor de manso lago.
Cruzados os braços de ferro fundido,
A fronte nas nuvens, os pés sobre o mar!
Tu és a flor que despontaste livre
II
GONÇALVES DIAS – POEMAS INDIANISTAS – LB III – Romantismo – noturno – Gonçalves Dias – Prof. Vagner Camilo - 2017