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A ética obscurantista e o espírito do imbecil

Não se deve achar que uma pessoa que defende o fascismo, não o faça
ideologicamente, tampouco, que tal pessoa não esteja sendo racional ou moral ao fazê-
lo. Uma pessoa que defende esse tipo de situação possui valores, em geral
conservadores, e reacionários, são também indivíduos medrosos das mudanças que a
história propõe. Defender o fascismo é componente cultural de pessoas que
desenvolveram uma espécie de ética obscurantista, aqui o conceito vem em oposição às
luzes, ao fenômeno histórico do Iluminismo (séculos XVII e XVIII), que propõe a razão
e a ciência como centro do homem, postulando, assim o antropocentrismo no lugar do
teocentrismo e por extensão o geocentrismo no lugar do heliocentrismo.

Mudanças revolucionárias, mas que são negadas pelos obscurantistas, pessoas


que, ainda, insistem nos valores e visão de mundo típicos do homem medieval, mas com
as esquizofrenias do homem moderno; a saber, a necrofilia que é uma espécie de gosto
mórbido pelas coisas, a idiotia que se resume em tentar provar o absurdo de que a Terra
é plana, o vazio conceitual e verborrágico baseado em palavrões, xingamentos e
discurso de ódio. Dessa feita, o obscurantismo carrega em sua ética valores
preconceituosos, racistas, machistas e xenófobos, o fazem de maneira fundamentalista,
dogmática e no limite religiosa. Fazem uso mordido das redes sociais para operar suas
agressões contra o mundo da razão, da ciência e da universidade pública em geral. Em
nome da sua ética obscurantista vociferam contra a marginalidade urbana exigindo rigor
leis draconianas de disciplina e de ordem para combater a criminalidade, fermentando o
espírito fascista da nossa conturbada estrutura democrática. Esse tipo de regime leva ao
mal, leva a um Estado-nação que está acima da lei, vide os desmandos do TRF-4 de
Primeira Instância, um Estado dentro do Estado que julga com base em convicções e
não nas provas, o próprio STF e um Legislativo desacreditado, inerte e comandado por
pessoas de baixíssimo nível moral e intelectual.

A filósofa alemã Hanna Arendt (1906-1975), nos convida a pensar contra o mal
e o obscurantismo do nosso tempo e a falta de pensamento racional, no que ela chamou
de totalitarismo, um Estado acima da lei, que age sem limites, que vê as pessoas como
meios, que se entende no direito de intervir e direcionar a sociedade, reescrever a
história, etc. Esse totalitarismo é promovido por sociopatas, no caso hoje de um guru
astrólogo (estampado na capa da revista IstoÉ com o título “O IMBECIL”, 10,
maio/2019, edição nº 2576) ou governante acéfalo, homofóbico, machista, racista e que
defende o livre porte de revólver para matança desenfreada do seu povo. Esse tipo de
governante organiza o aparato burocrático e arrebanha pessoas comuns para seu
exército genocida, aqui uma clara referência ao nazismo estudado por Arendt, mas que
pode ser transplantado para o Brasil do ano de 2019. É fácil desumanizar uma pessoa
quando há um aparato burocrático por trás, levando pessoas comuns a compactuarem
com atos horrendos propagados pelo fascismo, como por exemplo o povo alemão que
colaborou com o nazismo e o exemplo atual em que o povo brasileiro colabora com o
obscurantismo fascista. Devemos ficar atentos à seguinte lição de Arendt: o
totalitarismo, (desumanização, obscurantismo) é o mal do nosso tempo. Temos que
combater essas trevas o tempo todo (PANELLI, s/d).

O Iluminismo ainda está muito longe dessas almas que consomem a ética
obscurantista de vertente fascista como alimento para sua escuridão e a sua
desumanidade, fazem do irracionalismo suas virtudes políticas e consolidam a barbárie
como modus operandi. As relações virtuais potencializam e complementam a existência
necrófila do espírito fascista, a naturalização idiotizada do ódio e da agressão ao outro;
leia-se aqui, negros, índios, putas, mendigos, ateus, “comunistas” (sic), ou qualquer
inimigo interno que pode ir do lobo (Thomas Hobbes 1588-1679), passando pelo rato e
pelo besouro e chegando ao vírus, note-se que houve uma redução na escala do
potencial agressor ou do inimigo interno. Com o problema final de que o último inimigo
agora é capilar, microscópico, age no corpo físico (gripe) e no corpo virtual (trojan). O
medo do pseudo-inimigo faz com que o obscurantista crie mecanismos discursivos de
defesa que é o constante ataque à humanidade, à razão, à filosofia por fim à
universidade pública, lugar de luzes!

Tais seres obscurantistas vivem nas margens dos grupos sociais humanos, foram
ou são relegados ao seu universo virtual, precisam ficar escondidos nas sombras, pois
não suportam o debate cara a cara, odeiam o contraditório, as subjetividades alheias,
pois têm medo de que a razão prevaleça sobre sua ética obscurantista e que destrua seu
espírito fascista o último reduto de sua existência. O indivíduo reduzido pela retórica
obscurantista luta por sua escravidão voluntária ao fascismo como se fosse sua
emancipação de uma vida vazia, ou cheia de raiva, fracasso, medo e frustrações.

Em nome dessa ética obscurantista pessoas insanas e vingativas tentam destruir a


razão, querem a todo custo acabar com a universidade, pois essa representa ao mesmo
tempo a ciência e a luz, por outro escancara o fracasso e a fraqueza dos obscurantistas.
Cabendo à universidade mais do que resistir, existir, colocar esses seres das trevas em
seus devidos lugares fétidos de esgoto e enxofre de onde nunca deveria ter saídos. O
sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) vai buscar explicação para a realidade social
valendo-se da religião no que chamou de ética protestante e o espírito do capitalismo em
livro homônimo (1905).

Considerando-se tais elementos culturais, religiosos ou misteriosos enquanto


fenômeno explicador de uma certa realidade sócio-histórica podemos aferir que essa
conjuntura de ódio, medo, frustrações e violência está relacionada com posturas éticas
de obscurantismo e o espírito fascista. Desse modo podemos compreender o que leva
tais seres a se comportarem de maneira tão abjeta, covarde, desumana e imbecil. Aqui
fico com a posição da revista supracitada para adjetivar esses seres obscurantistas:
“imbecis”.

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