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ESTUDO SOBRE VARIAÇÃO DA BASE QUÍMICA DO ADITIVO

PLASTIFICANTE NO CONCRETO AUTO ADENSÁVEL

Roberta Diel [1]


Eduardo Roberto Batiston [2]

[1] Acadêmica do Curso de Engenharia Civil, Universidade Comunitária Regional de


Chapecó, e-mail: robertadiel@unochapeco.edu.br.
[2] Doutor em Engenharia Civil, Universidade Comunitária Regional de Chapecó, e-
mail: erbatiston@unochapeco.edu.br.

RESUMO
O concreto auto adensável vem sendo um grande aliado para a construção civil,
principalmente por possuir características únicas como sua capacidade de executar
formas complexas, diminuir o número de trabalhadores, entre outros. Para que um
concreto convencional se torne um concreto auto adensável é necessário o uso de
aditivos, sendo que estes estão presentes no mercado em diversas marcas e
características. A base química do aditivo tem grande influência nos resultados do
concreto, como o tempo de pega e resistência a compressão. Para este estudo foram
avaliadas as características do concreto auto adensável quando utilizado aditivo
plastificante de base química lignosulfonato e naftaleno e aditivo superplastificante de
base química policarboxilato. Para a avaliação das características reológicas do concreto
foram realizados os ensaios de espalhamento, caixa L e funil V, comparando os
resultados experimentais com os valores disponíveis na literatura. Além disso, corpos de
prova foram moldados para avaliar a resistência à compressão do concreto em diferentes
idades no estado endurecido. Os resultados obtidos mostram o aditivo superplastificante
de base química policarboxilato como o mais eficiente, sendo que este apresentou em
todas as etapas boa fluidez e coesão, homogeneidade e em nenhum momento apresentou
segregação. Os resultados no ensaio de compressão também se mostraram superiores
quando comparados aos concretos com utilização dos aditivos lignosulfonato e
naftaleno.

Palavras-chave: Concreto auto adensável. Aditivo. Base química.


1 INTRODUÇÃO

Já há algum tempo vêm-se estudando a possibilidade de criar novos tipos de misturas


que melhorem o desempenho do concreto. Essa preocupação surgiu através da
verificação de que o concreto convencional possui algumas deficiências e em alguns
casos não consegue atender o que lhe é solicitado.

Nesse contexto surge o concreto auto adensável (CAA), que é capaz de preencher as
formas e passar por obstáculos apenas com a ação do seu peso próprio, não necessitando
de nenhum meio de adensamento.

Entre as principais vantagens encontradas quando se faz o uso do CAA está a economia
pela ausência de vibração, melhor trabalhabilidade do concreto, redução do número de
trabalhadores na etapa de concretagem e a possibilidade de deixar o ambiente de
trabalho mais tranquilo devido a ausência de ruídos ocasionados pelos equipamentos de
adensamento.

Os materiais utilizados para a produção do CAA podem ser os mesmos utilizados para a
produção de concretos convencionais, apenas utilizando maior quantidade de finos e
também aditivos plastificantes e superplastificantes, proporcionando maior facilidade de
bombeamento, homogeneidade, resistência e durabilidade.

Definir o tipo de aditivo e conhecer sua base química altera e explica diretamente os
resultados finais do concreto. As bases químicas encontradas nos aditivos plastificantes
e superplastificantes são os lignossulfanatos, melanina, naftaleno e policarboxilato.

O que deve ser observado com cautela no uso de aditivos é a dosagem utilizada, sendo
esta uma relação entre aditivo e cimento. Essa relação ocorre pois o sucesso do uso do
aditivo está diretamente ligado ao tipo de cimento utilizado na mistura, pois podem
ocorrer incompatibilidades. A quantidade ideal de aditivo pode ser observada em testes
laboratoriais, sendo observado o momento em que a mistura não apresenta melhora na
fluidez, conhecido como o ponto de saturação. A partir desse ponto o concreto pode
apresentar segregação ou exsudação além de um tempo excessivo para efetuar a pega.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Antes de produzir o concreto realizou-se a caracterização dos materiais, gerando a curva
granulométrica do agregado miúdo e graúdo, valores de massa específica, massa
unitária e material pulverulento.

Os concretos foram avaliados no estado fresco através dos ensaios de espalhamento,


caixa L e funil V conforme NBR 15823 (ABNT, 2010). Para avaliar a resistência a
compressão foram moldados 09 corpos de prova para cada traço e os mesmos rompidos
em 07, 21 e 28 dias, sendo rompido 03 corpos de prova em cada idade. Todos os
ensaios foram realizados no Laboratório de Tecnologia do Concreto da
UNOCHAPECO.

O traço base foi calculado por Soares (2014), sendo este obtido com o método
experimental de Tutikian e Dal Molin (2004). Somente o aditivo foi utilizado em
proporções diferentes em cada traço, podendo ser verificado na tabela 01 abaixo.

Tabela 01 – Traços utilizados


Relação
Traço Brita Areia Cimento Água cimento/aditivo

Referência 813,7 kg 970,7 kg 356,9 kg 221,27 litros 0%

Lignossulfonato 813,7 kg 970,7 kg 356,9 kg 221,27 litros 1,50%

Naftaleno 813,7 kg 970,7 kg 356,9 kg 221,27 litros 1,20%

Policarboxilato 813,7 kg 970,7 kg 356,9 kg 221,27 litros 0,60%

Determinados todos os pesos dos materiais constituintes do traço de concreto, os


mesmos foram separados, pesados na balança e levados até a betoneira, podendo assim
dar início a mistura e realização dos testes propostos.

O primeiro teste realizado foi o de espalhamento, onde a base do equipamento foi


posicionada em piso nivelado e então o cone de Abrams foi preenchido com o concreto
até o topo. O cone foi erguido cuidadosamente para que o concreto se espalhasse pela
base e realizou-se a medida de dois diâmetros desse espalhamento e realizado uma
média entre os dois valores (figura 01).
Figura 01 – Ensaio de espalhamento

O próximo ensaio foi o Caixa L, onde o equipamento foi preenchido com concreto e
então a comporta existente no equipamento foi aberta permitindo que o concreto
passasse pelas armaduras. O resultado do ensaio é uma relação entre a altura do
concreto na saída da comporta e a altura do concreto no final da caixa (figura 02).

Figura 02 – Ensaio caixa L

O último ensaio realizado com o concreto fresco foi o Funil V, onde o funil foi
preenchido com concreto e em seguida a porta localizada na parte inferior do funil foi
aberta para que o concreto escoasse. Então o cronômetro foi acionado, gerando assim o
tempo exato que o concreto levou para escoar completamente conforme figura 03.
Figura 03 – Ensaio funil V

Após a realização de todos os ensaios foram preparados os corpos de prova, sendo que
os corpos de prova com o concreto referência foram preenchidos com a concha côncova
até a sua metade e realizado adensamento manual com 12 golpes e após preenchido o
restante e efetuado mais 12 golpes. No caso dos concretos com aditivo, os mesmos
foram despejados nos corpos de prova com a concha côncova, sem utilização de
nenhum meio de adensamento.

Os corpos de prova foram desmoldados em 24 horas e colocados em uma caixa com


água para o processo de cura.

Chegada a idade para que estes fossem rompidos os mesmos foram retirados da água,
realizado a retífica dos corpos de prova e então o teste de resistência a compressão.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 Ensaio de espalhamento

Com o teste de espalhamento pôde-se avaliar a fluidez do concreto, verificando qual


traço alcança o resultado mais próximo ao indicado por autores que constam na
bibliografia de Tutikian (2004) conforme mostra a figura 04.
Figura 04 - Resultados do teste de espalhamento

70
Teste de espalhamento
64 67 68

centímetros

13,5

O concreto referência não alcançou um resultado para tornar-se um concreto auto


adensável. Os demais concretos com uso de aditivo apresentaram bons resultados de
espalhamento, proporcionando boa fluidez, sem ocorrência de segregação ou exsudação.

3.2 Ensaio Caixa L

Analisando os resultados deste ensaio foi possível verificar a capacidade de passagem


do concreto através de obstáculos, comparando-os com a relação encontrada pelos
principais autores conforme mostra a figura 05.

Figura 05 - Resultados do ensaio Caixa L

Ensaio Caixa L
1
0,91 0,93
0,8
H2/H1

0
Com o concreto referência não foi possível finalizar o ensaio, pois este concreto não
passou completamente pelas armaduras e não chegou ao final da caixa. Os demais
traços apresentaram uma passagem pelos obstáculos de forma homogênea, apresentando
boa fluidez e coesão, sem ocorrer segregação.

3.3 Ensaio Funil V

Com o teste do funil V foi possível verificar a capacidade de preenchimento do


concreto, analisando o tempo de escoamento recomendado por diversos autores de
acordo com a figura 06.

Figura 06 - Resultados do teste Funil V

Ensaio Funil V
11,3
10
9,1
8,6
Segundos

Com a realização do teste com o concreto referência verificou-se que o mesmo não
escoou completamente do funil, sem chegar a um resultado final. Os traços com uso de
aditivo apresentaram resultados satisfatórios de acordo com os autores, não ocorrendo
bloqueio na saída do funil, apresentando boa fluidez e escoando rapidamente.

3.4 Resistência a compressão

Os primeiros corpos de prova foram rompidos ao 07 dias, apresentando os resultados


que podem ser verificados na figura 07.
Figura 07 - Compressão aos 07 dias

Ensaio compressão
7 dias

26,42

17,67
14,94 15,12
MPa

Referência Lignosulfonatos Naftaleno Policarboxilato

Aos 21 dias foram rompidos mais 03 corpos de prova para cada traço, apresentando os
resultados que podem ser verificados na figura 08 abaixo.

Figura 08 - Compressão aos 21 dias

Ensaio compressão
21 dias
29,53

20,45
18,73
15,59
MPa

Referência Lignosulfonatos Naftaleno Policarboxilato

Os resultados do ensaio de compressão aos 28 dias são considerados os mais


importantes, seus valores podem ser verificados na figura abaixo (figura 09).
Figura 27 - Compressão aos 28 dias

Ensaio compressão
28 dias

31,45

21,74 22,41 22,30


MPa

Referência Lignosulfonatos Naftaleno Policarboxilato

Rompidos todos os corpos de prova pôde-se notar expressivo aumento na resistência


conforme a idade do concreto em todos os casos e o melhor desempenho do concreto
com adição de policarboxilato em todas as idades.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização de todas as etapas propostas no estudo, apresentação e discussão dos


resultados é possível afirmar que todos os traços com utilização de aditivos atendem aos
requisitos da literatura técnica para concreto auto adensável, possuindo as três
propriedades básicas: fluidez, habilidade passante e resistência à segregação.

Nos testes de espalhamento, caixa L e funil V, que avaliam as propriedades do concreto


no estado fresco, todos os traços com uso de aditivo atingiram bons resultados. O traço
de concreto com adição de superplastificante policarboxilato alcançou os melhores
resultados, ficando sempre muito próximo ao sugerido pela bibliografia. O traço
referência que foi produzido sem aditivo não passou nestes testes, tornando clara a
influência dos aditivos e confirmando que é o emprego de aditivos que torna um
concreto auto adensável.

Com a análise dos resultados do ensaio de resistência mecânica do concrteo, ficou


evidente a superioridade do concreto com aditivo policarboxilato. Este obteve os
melhores resultados de resistência em todas as idades, apresentando um crescimento
significativo aos 28dias. Os demais traços também atingiram bons resultados, mantendo
proximidade com os resultados do concreto referência.

Além dos testes realizados, também foi avaliado o tempo de pega de cada traço de
concreto, onde o único que apresentou retardo significativo foi o concreto com
plastificante lignossulfonato. Os corpos de prova preenchidos com este concreto
necessitaram de 48 horas para que pudessem ser desmoldados, os demais traços
puderam ser desmoldados após 24 horas. Este plastificante é utilizado em larga escala
no mercado e apesar deste efeito retardador ainda pode ser considerado uma boa opção,
já que nos demais testes seus resultados foram satisfatórios.

Portanto verificou-se que os aditivos empregados tem a mesma finalidade, porém


apresentam resultados diferentes em condições de preparo iguais. Outro fator
importante foi a relação cimento/aditivo, onde o aditivo superplastificante
policarboxilato também obteve destaque. No concreto produzido com este aditivo a
relação foi de 0,6% enquanto nos concretos com uso de plastificantes lignossulfonato e
naftaleno esta relação chegou a 1,5%.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉNICAS. NBR 15823/2010:


Requisitos para classificação, controle e aceitação do CAA no estado fresco. Rio de
Janeiro, 2010.
TUTIKIAN, B.F. Método para dosagem de concretos auto-adensáveis. 2004.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Faculdade de Engenharia - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.

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