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O Código do Procedimento

Administrativo

Aprovado pelo Decreto-Lei nº 4/2015,


de 07 de janeiro.
O acréscimo das tarefas cometidas à
Administração Pública, nos mais
amplos sectores da vida, bem como
a necessidade de reforçar a sua
eficiência e garantir a participação
dos cidadãos nas decisões que lhes
digam respeito, fez com que
surgisse a necessidade de disciplinar
o PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO.
O 1.º Código resulta, aliás, de uma
imposição constitucional.

Artigo 267º, nº 5 da Constituição da


República Portuguesa.
ARTº 267º C.R.P. Estrutura da administração

5. O processamento da actividade administrativa


será objecto de lei especial, que assegurará a
racionalização dos meios a utilizar pelo
serviços e a participação dos cidadãos na
formação das decisões ou deliberações que
lhes disserem respeito;
OBJECTIVOS DO CPA

1. Disciplinar a organização e o
funcionamento da Administração Pública,
procurando racionalizar a actividade dos
serviços;

2. Regular a formação da Administração, por


forma a que sejam tomadas decisões justas,
legais, úteis e oportunas;
3. Assegurar a informação dos interessados
e a sua participação na formação das
decisões que lhes digam directamente
respeito;

4. Salvaguardar a transparência da acção


administrativa e o respeito pelos direitos e
interesses legítimos dos cidadãos;

5. Evitar a burocratização e aproximar os


serviços públicos das populações.
A codificação das normas da actividade
administrativa tem sempre a grande
vantagem de permitir ao cidadão
comum e aos órgãos e funcionários da
Administração saber quais as regras por
que se devem pautar, para conhecerem
os seus direitos e deveres uns para com
os outros.
ARTIGO 1º
DEFINIÇÕES DE:

•PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

•PROCESSO ADMINISTRATIVO
ELEMENTOS QUE COMPÕEM O
PROCEDIMENTO

• Conjunto de atos e formalidades (definição


de ato administrativo ;
• Sucessão destes, de forma ordenada e
encadeada, lógica e cronológica;
• Tendentes à formação da vontade da
Administração Pública;
• À sua manifestação e execução.
IDEIAS A RETER:

• Todos os atos e formalidades tem uma


finalidade: a formação da vontade da
Administração, sua manifestação e
execução;

• Todos os atos surgem como causa e


efeito uns dos outros;
• O procedimento administrativo visa
controlar internamente a administração,
porquanto antes de se manifestar, a mesma
tem de praticar um certo número de atos e
formalidades;
• Visa introduzir maior eficácia à ação
administrativa, através da adoção de
princípios de racionalidade;
PROCESSO ADMINISTRATIVO

Conjunto de documentos devidamente


ordenados em que se traduzem os atos e
formalidades que integram o procedimento
administrativo.(vide art.64.º ncpa)
Ou seja:

Conjunto de documentos que dão


suporte físico (documental) e jurídico
aos atos praticados e às formalidades
observadas no procedimento.
Artigo 2.º
(Âmbito de aplicação)
1 – As disposições do presente Código
Respeitantes aos princípios gerais, ao
procedimento e à atividade administrativa
são aplicáveis à conduta de quaisquer
entidades, independentemente da sua
natureza, adotada no exercício de poderes
públicos ou regulada de modo específico por
disposições de direito administrativo.
Regula-se neste artigo o campo de aplicação
das normas do CPA.

O nº 1 deste artigo diz-nos que as disposições


do CPA, respeitantes aos princípios gerais, ao
procedimento e à atividade administrativa,
são aplicáveis á conduta de quaisquer
entidades, independentemente da sua
natureza, adotada no exercício de poderes
públicos ou regulados de modo especifico (..)
Artigo 2.º
Âmbito de aplicação
(continuação)

2- A parte II do Presente código é aplicável ao


funcionamento dos órgãos da Administração
Pública.
3-Os princípios gerais da atividade administrativa e
as disposições do presente código que concretizam
preceitos constitucionais, são aplicáveis a toda e
qualquer atuação da administração Pública, ainda
que meramente técnica ou de gestão privada.
Art.20.º do C.P.A
(Órgãos) *

1- São órgãos da Administração Pública os centros


institucionalizados, titulares de poderes e deveres,
para efeitos da prática de actos jurídicos imputáveis
à pessoa coletiva.
Os órgãos são dotados de competências, isto
é, de um conjunto de poderes funcionais
conferidos por lei para o desempenho das
atribuições da pessoa colectiva em que está
integrado.

Atribuições são os interesses públicos cuja


realização cabe à pessoa colectiva com vista
à prossecução dos seus fins específicos.
Nesta matéria predomina o princípio da
especialidade das pessoas colectivas. Cada
uma delas é criada para a prossecução de um
fim específico.

Por outro lado, os próprios órgãos só podem


deliberar no âmbito das suas competências e
para a realização das atribuições da pessoa
colectiva da qual fazem parte.
Quanto aos órgãos da Administração Pública,
vejamos o que nos diz o nº 4 do artigo 2º:

a) Os órgãos do Estado e das Regiões Autónomas


que exercem funções administrativas a título
principal;
b) As autarquias locais e suas associações e
federações de direito público
c) As entidades administrativas independentes
d) Os institutos públicos e as associações públicas.
São Órgãos Centrais do Estado:
• O Presidente da República;
• A Assembleia da República;
• O Governo ;
• Os Tribunais.

O Governo é o principal órgão permanente e


directo do Estado com carácter
administrativo. Os demais, sendo órgãos do
Estado, não são órgãos da Administração.
Contudo, mesmo esses Órgãos, apesar de
terem vocação eminentemente política,
legislativa, jurisdicional ou consultiva,
podem praticar actos materialmente
administrativos, caso em que ficam
obrigados à aplicação das regras contidas no
CPA.
5. As disposições do presente Código,
designadamente as garantias nele reconhecidas aos
particulares, aplicam-se subsidiariamente aos
procedimentos administrativos especiais.
RESUMO: do artigo 2º ncpa:
N.º1- Clarifica que as disposições do C.P.A
respeitantes aos princípios, ao procedimento e á
atividade Administrativa, são aplicáveis a todas as
entidades que exerçam a função administrativa.

N.º2- Clarifica que o regime da parte II é


exclusivamente aplicável ao funcionamento dos
órgãos da Administração Pública.

N.º 3- Clarifica que mesmo no âmbito da actuação


técnica ou de gestão privada, a Administração está
sempre sujeita aos princípios gerais da actividade
Administrativa e aos preceitos constitucionais
concretizados em disposições do Código.
N.º 4 – Elenca as entidades que integram a
Administração Pública para efeitos de se
enquadrarem no âmbito de aplicação do C.P.A.
Acrescenta ao elenco anteriormente existente, a
alínea c), de forma a prever especificamente as
entidades administrativas independentes, assim
desfazendo quaisquer eventuais dúvidas.

N.º 5 – Estende supletivamente o regime do C.P.A


aos procedimentos administrativos especiais, no que
toca ás garantias reconhecidas aos particulares.
No caso de existirem "procedimentos especiais", as
disposições do Código só se aplicam
subsidiariamente (supletivamente) i. é , para
preencher eventuais lacunas ou para lhes fornecer a
regulamentação de que careçam.
Artigo 3º
Princípio da legalidade

1. Os órgãos da Administração Pública devem


atuar em obediência à lei e ao direito, dentro
dos limites dos poderes que lhes forem
conferidos e em conformidade com os
respetivos fins.
Este é um princípio básico do Direito;
decorre do artigo 266º, nº 2 da CRP.
VISA:
•Assegurar o princípio da submissão da
Administração à lei = Primado do poder
legislativo,

• Garantir os direitos e interesses legítimos


dos particulares.
A sua violação gera:

•Invalidade – Nulidade, anulabilidade do ato;

• Responsabilidade Civil da Administração;

• Responsabilidade Disciplinar ou Criminal, etc.


2. Os atos e formalidades praticados em estado de
necessidade, com preterição das regras
estabelecidas neste Código, são válidos, desde que
os seus resultados não pudessem ter sido
alcançados de outro modo, mas os lesados têm o
direito de ser indemnizados nos termos gerais da
responsabilidade da Administração.
ESTADO DE NECESSIDADE
Elementos chave:

1. Situação grave e anormal;


2. Obrigatoriedade de agir para não comprometer o
interesse geral;
3. Impossibilidade de observância das leis
ordinárias.
Artigo 4.º

Princípio da prossecução do interesse público e


da proteção dos direitos e interesses dos cidadãos

Compete aos órgãos administrativos prosseguir o


interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
Este princípio resulta diretamente do preceito
constitucional contido no artigo 266º, nº 1 da
CRP.

Administração Pública
Artigo 266.º
(Princípios fundamentais)

1. A Administração Pública visa a prossecução do


interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
Enquanto o preceito constitucional contem
uma visão finalista sobre esta matéria, o
preceito do C.P.A aborda-a do ponto de vista
da competência.

Podemos então concluir que o interesse


público domina a atividade administrativa,
constituindo o seu fim último.
DEFINIÇÃO DE INTERESSE PÚBLICO:

Consiste na satisfação das necessidades


coletivas, correspondendo ao fim público e ao
bem comum, o qual naturalmente, muitas
vezes não coincide com a totalidade de toda
uma comunidade.
O INTERESSE PÚBLICO DIVIDE-SE EM:
• PRIMÁRIO: o qual compete aos órgãos
governativos políticos e legislativos,

• SECUNDÁRIO: definido o interesse público


pelo legislador, compete à Administração a
sua execução. Por exemplo: segurança
pública; educação; transportes coletivos, etc.
(Artigo 5.º )
Princípio da boa administração

1-A Administração Pública, deve pautar-se por


critérios de eficiência, economicidade e
celeridade.

2- Para efeitos do disposto no número anterior, a


administração Pública deve ser organizada de
modo a aproximar os serviços das populações e de
forma não burocratizada.(V.art.7.º/3 do RRCECE)
Art. 41.º da C.D.F.U.E
Direito a uma boa administração
1-Todas as pessoas têm direito a que os seus
assuntos sejam tratados pelas instituições, órgãos e
organismos da união, de forma imparcial,
equitativa e num prazo razoável.

2- Este direito compreende, nomeadamente:


a. O direito de qualquer pessoa a ser ouvida antes de
a seu respeito ser tomada qualquer medida
individual que a afete desfavoravelmente
b. O direito de qualquer pessoa a ter acesso aos
processos que se lhes refiram, no respeito pelos
legítimos interesses da confidencialidade e do
segredo profissional e comercial;

c. A obrigação, por parte da administração, de


fundamentar as suas decisões.

3-Todas as pessoas têm direito à reparação por parte


da União, dos danos causados pelas suas instituições
ou pelos seus agentes no exercício das respetivas
funções, de acordo com os princípios gerais comuns
ás legislações dos Estados-Membros.
Código Europeu da Boa Conduta
Administrativa*

• Não se trata de um instrumento


jurídicamente vinculativo em si mesmo,
mas na parte em que se sobrepõe ao direito
a uma boa administração (art. 41.º
C.D.F.U.E), acaba por ter esse papel, ainda
que de forma interposta. (1)
• Na prática diz aos cidadãos o que significa
o direito a uma boa administração.
* O Código Europeu de Boa Conduta
Administrativa, foi aprovado em
setembro de 2001 pelo Parlamento
Europeu.

Desde o Tratado de Lisboa (2009), que a


Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia, tem o mesmo valor
jurídico dos tratados.
Questão: Poderão os cidadãos demandar a
Administração, pedindo o controle judicial da
legalidade, com base na violação deste princípio???

Os princípios jurídicos assumem diferentes formas


de concretização e só os de maior densificação,
permitem que sobre eles recaia um amplo controlo
judicial.

Pelo contrário os de elevado grau de indeterminação,


impedem o controlo judicial ou só em situações
muito específicas é que o possibilitam.
Artigo 5.º
(Princípio da boa administração)

Não tem uma densidade administrativa suficiente,


à face do nosso ordenamento jurídico de só por si,
possibilitar o controle da legalidade.

*Dever jurídico imperfeito – Prof º. Marcelo


Rebelo de Sousa.
Artigo 6.º
Princípio da igualdade

1 – Nas suas relações com os particulares, a


Administração Pública deve reger-se pelo
princípio da igualdade, não podendo privilegiar,
beneficiar, prejudicar, privar de qualquer direito ou
isentar de qualquer dever ninguém em razão de
ascendência, sexo, raça, língua, território de
origem, religião, convicções políticas ou
ideológicas, instrução, situação económica ,
condição social ou orientação sexual.
O princípio da igualdade, sendo um princípio
básico de um Estado de Direito Democrático
vem plasmado nos artigos 13º e 266º, nº 2 da
nossa Constituição.
Tem uma base de direito fundamental.
Consagra-se, assim, a proibição absoluta de
discriminação, o que implica que as decisões
da administração devem ser tomadas segundo
critérios objetivos.
Art.º 7.º
Principio da proporcionalidade

1-Na prossecução do interesse público, a


Administração Pública deve adotar os
comportamentos adequados aos fins prosseguidos.

2- As decisões da Administração que colidam com


direitos subjetivos ou interesses legalmente
protegidos dos particulares só podem afetar essas
posições, na medida do necessário e em termos
proporcionais aos objetivos a realizar.
Este princípio limita a discricionariedade da
Administração.*

De acordo com ele, deverá existir adequação


dos meios empregues, com o fim que se
pretende alcançar.

*Contem a regra sobre a proibição do excesso.


Artigo 8.º
Princípio da justiça e da razoabilidade

A administração pública deve tratar de forma


justa todos aqueles que com ela entrem relação, e
rejeitar soluções manifestamente desrazoáveis ou
incompatíveis com a ideia de direito,
nomeadamente em matéria de interpretação das
normas jurídicas e das valorações próprias do
exercício da função administrativa.(v.arts.58.º e 60.º
cpa)
Artigo 8.º
Princípio da razoabilidade

Não se apresenta suficientemente concretizado


para permitir o controle judicial por parte dos
tribunais administrativos.

Caberá á doutrina e á jurisprudência, de forma


ainda mais relevante, concretizar o conteúdo deste
princípio.
Será muito duvidoso que o juiz administrativo possa
controlar certa política pública, designadamente em
áreas técnicas de controle de políticas públicas, com
fundamento no facto de a mesma política violar a
boa administração ou com base no facto de ser
desrazoável.
Entendimento:
Apenas com base noutras normas jurídicas ou com
base noutros princípios gerais da atividade
administrativa, que não apenas a invocação do
Princípio da boa administração ou da
razoabilidade é que poderá existir o controlo
judicial pelos Tribunais Administrativos.
Art.º 9.º
(Princípio da imparcialidade)

A administração pública deve tratar de forma


imparcial aqueles que com ela entrem em relação,
designadamente considerando com objetividade
todos e apenas os interesses relevante no contexto
decisório e adotando as soluções organizatórias e
procedimentais indispensáveis à preservação da
isenção administrativa e à confiança nessa
isenção.
Estabelece-se aqui a obrigatoriedade da
Administração não tomar partido, inclinar os
pratos da balança ou beneficiar amigos ou
conhecidos, prejudicando inimigos, devendo
sempre pedir-se escusa se a imparcialidade
estiver posta em causa .
A IMPARCIALIDADE IMPLICA:

• Objectividade;
• Exclusividade;
• Neutralidade;
• Isenção;
• Independência;
• Transparência.
Artigo 10.º
(Princípio da boa fé)

1 – No exercício da atividade administrativa e em


todas as suas formas e fases, a Administração
Pública e os particulares devem agir e relacionar-se
segundo as regras da boa fé.

2 – No cumprimento do disposto no número anterior,


devem ponderar-se os valores fundamentais do
direito, relevantes em face das situações
consideradas, e, em especial, a confiança suscitada
na contraparte pela actuação em causa e o objetivo a
alcançar com a actuação empreendida.
Com este princípio pretende-se reger as boas
relações entre a Administração Pública e os
particulares, cimentando relações de
confiança.

O órgão ou agente não pode agir de má-fé,


usando expedientes menos próprios, por
acções ou omissões com o objectivo de
enganar o administrado.
Artigo11.º
(Princípio da colaboração com os particulares)

1 – Os órgãos da Administração Pública


devem atuar em estreita colaboração com os
particulares, cumprindo-lhes designadamente,
prestar aos particulares as informações e os
esclarecimentos de que careçam, apoiar e
estimular as suas iniciativas e receber as suas
sugestões e informações.(v.art.82.º e segs)

2 – A Administração Pública é responsável pelas


informações prestadas por escrito aos
particulares, ainda que não obrigatórias.
Este princípio está intimamente relacionado
com o princípio plasmado no artigo seguinte,
ou seja, com o princípio da participação.

O direito de participação dos particulares na


gestão da Administração vem aflorado no art.
267, nº 1 da CRP.
Artigo 12º
Princípio da Participação

Os órgãos da Administração Pública devem


assegurar a participação dos particulares, bem
como das associações que tenham por objecto a
defesa dos seus interesses, na formação das
decisões que lhes digam respeito, designadamente
através da respetiva audiência nos termos do
presente Código.(vide artigos 121.º e segs)
Este direito de participação dos particulares
na gestão da Administração, decorre do
direito consagrado no art. 48º, nº 2 da CRP,
que confere ao cidadão o estatuto de elemento
fundamental na formação da decisão pública
e da participação democrática.
Artigo 13º
(Princípio da Decisão)

1 – Os órgãos da Administração Pública têm o


dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da
sua competência que lhes sejam apresentados, e
nomeadamente, sobre os assuntos que aos
interessados digam directamente respeito, bem
como sobre quaisquer petições, representações,
reclamações ou queixas formuladas em defesa da
Constituição, das leis ou do interesse público.

* Estabelece-se aqui o dever de pronúncia da


Administração.
2 – Não existe o dever de decisão quando, há
menos de dois anos contados da data da
apresentação do requerimento, o órgão competente
tenha praticado um ato administrativo sobre o
mesmo pedido formulado pelo mesmo particular
com os mesmos fundamentos.

3- Os órgãos da Administração pública podem


decidir sobre coisa diferente ou mais ampla do que
a pedida, quando o interesse público assim o exija.
(vide art.58.º cpa)
Este princípio da decisão conduz à prática do
ato administrativo e como tal está também
intimamente relacionado com o regime do
denominado ATO TÁCITO DE
DEFERIMENTO, cujo enquadramento feito
pelo código, nos remete para o âmbito da
decisão e outras causas de extinção do
procedimento administrativo
Historicamente o ato tácito surge para evitar a
ausência de controlo dos silêncios e omissões
das estruturas da Administração Pública,
impedindo que esta encontre no silêncio uma
forma de evitar ser fiscalizada pelos tribunais.

*Isto em especial, antes da ação (especial) de


condenação à prática do ato devido (lei
n.º15/2002 de 22-02).
Há, assim, por parte da Administração a
obrigação de sempre decidir sobre os pedidos
formulados pelos particulares.

Todavia, a Administração pode tomar


posições sobre questões que não tenham sido
suscitadas, mas que se relacionem com o
pedido.

PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO
Este princípio está associado a um outro
princípio: o da oficiosidade, segundo o qual
não é exigível da parte do particular uma
petição, um requerimento, para que haja
impulso processual.
O princípio do inquisitório (art.58.º), permite à
Administração recorrer a todos os meios de
prova em direito permitidos e a todas as
diligências necessárias para a descoberta da
verdade, podendo decidir sobre matérias
conexas, com o pedido do particular.
O dever legal de decidir tem uma exceção (nº
2 do artigo 13º), a qual necessita da
verificação dos seguintes pressupostos:
• Que o órgão competente;
• tenha praticado;
• um ato administrativo;
• há menos de dois anos;
• sobre o mesmo pedido e com os mesmos
fundamentos;
•formulado pelo mesmo requerente.
Artigo 14.º
Princípios aplicáveis à administração eletrónica

1- Os órgãos e serviços da Administração Pública


devem utilizar meios eletrónicos no desempenho
da sua atividade, de modo a promover a eficiência
e a transparência administrativas e a proximidade
com os interessados.
Artigo 15.º
Princípio da gratuitidade

1 – O procedimento administrativo é
tendencialmente gratuito, na medida em que leis
especiais não imponham o pagamento de taxas por
despesas, encargos ou outros custos suportados
pela Administração.

2 – Em caso de insuficiência económica a


Administração isenta, total ou parcialmente, o
interessado do pagamento das taxas ou das
despesas referidas no número anterior.
3- A insuficiência económica deve ser provada
nos termos da lei sobre apoio judiciário*,
com as devidas adaptações.
( Lei n.º 34-E/2004 de 20-12) *

A regra é a de que o acesso à administração seja


tendencialmente, gratuito.

O não pagamento das taxas devidas poderá


implicar a extinção do procedimento - 133º,
nºs 1 e 2.
Só assim não será nos casos de comprovada
insuficiência económica do requerente, tal
como resulta do nº 3 deste artigo 15º.

Há, pois, que aplicar o regime da Lei sobre


Apoio Judiciário, previsto na Lei nº 34-
E/2004, de 20 de Dezembro.
Artigo 16.º
(Princípio da responsabilidade)

A administração responde, nos termos da


lei*, pelos danos causados no exercício da
sua actividade.

*Regime da responsabilidade civil do Estado e demais


pessoas colectivas, aprovado pela Lei n.º 67/2007 de 31-12, na
redacção dada pela Lei n.º 31/2008 de 17 de Julho.
Artigo 17º
Princípio da administração aberta
1 – Todas as pessoas têm o direito de acesso aos
arquivos e registos administrativos, mesmo
quando nenhum procedimento que lhes diga
diretamente respeito, esteja em curso, sem
prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à
segurança interna e externa, à investigação
criminal, ao sigilo fiscal e à privacidade das
pessoas.
2 – O acesso aos arquivos e registos
administrativos é regulado por lei.*
* lei nº 26/2016, de 22 de Agosto (LAIA)
Consagra-se aqui o princípio da administração aberta
ou do chamado arquivo aberto - artº 268º, nº 2 CRP.

Todas as pessoas e não apenas aquelas que tenham


interesse directo ou legítimo em qualquer
procedimento, podem ter acesso á informação que
desejem, através da consulta directa aos arquivos e
registos administrativos.
Este princípio é paradigma de uma administração
que se pretende transparente, estando intimamente
relacionado com outros princípios:
•Imparcialidade
• Justiça
• Proporcionalidade
• Colaboração
• Participação.
Abarca qualquer tipo de documento,
independentemente da sua forma, origem ou
modo como se manifesta (mapas, projectos,
rascunhos, ficheiros, etc.).

Existem, porém, restrições a este direito, as


quais estão consagradas na parte final deste
preceito, bem como no próprio preceito
constitucional que lhe serve de suporte.
1-Defesa Nacional e Segurança do Estado;
2- Relações exteriores e com organizações
internacionais;
3- Segredos comerciais, financeiros ou fiscais;
4- Segredos judiciais;
5- Procedimentos penais e prevenção da
criminalidade;
6- Dossiers pessoais ou médicos;
7- Informação que revele ser atentatória da vida
privada.
Artigo 18.º
Princípio da proteção de dados pessoais

Os particulares têm direito à proteção dos seus


dados pessoais e à segurança e integridade dos
suportes, sistemas e aplicações utilizados para o
efeito, nos termos da lei.*

* Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro.


Artigo 19.º
Princípio da cooperação leal com a união europeia

1- Sempre que o direito da União Europeia


imponha à Administração pública a obrigação de
prestar informações, apresentar propostas ou de,
por alguma outra forma, colaborar com a
Administração Pública de outros estados-
membros, essa obrigação deve ser cumprida no
prazo para tal estabelecido.
Artigo 19.º
Princípio da cooperação leal com a união europeia

2- Na ausência de prazo específico, a obrigação


referida no número anterior é cumprida no quadro
da cooperação leal, que deve existir entre a
Administração Pública e a União Europeia.
CAPÍTULO II
Da relação jurídica procedimental

Artigo 67.º
Capacidade procedimental dos particulares

1 – Os particulares têm o direito de intervir


pessoalmente no procedimento administrativo ou
de nele se fazer representar ou assistir, através de
mandatário.
2 – A capacidade de intervenção no procedimento,
salvo disposição especial, tem por base e por
medida a capacidade de exercício de direitos
segundo a lei civil, a qual é também aplicável ao
suprimento da incapacidade.

O direito de intervir num procedimento


administrativo afere-se, em geral, pela capacidade
jurídica.
LEGITIMIDADE:
(Artigo 68 º)
Têm legitimidade para iniciar o procedimento ou
para nele se constituírem como interessados, os
titulares de direitos, interesses legalmente
protegidos, deveres, encargos, ónus ou sujeições, no
âmbito das decisões que nele forem ou possam ser
tomadas, bem como as associações, para defender
interesses coletivos ou proceder à defesa coletiva de
interesses individuais dos seus associados, que
caibam no âmbito dos respetivos fins.
Artigo 82.º
Direito dos interessados à informação

1 – Os particulares têm o direito de ser


informados pelo responsável pela direcção
do Procedimento, sempre que o requeiram,
sobre o andamento dos procedimentos que
lhes digam directamente respeito, bem
como o direito de conhecer as resoluções
definitivas que sobre eles forem tomadas.
O direito à informação aqui previsto, alicerça-
se no art. 268º, nº 1 da CRP.

Este é um direito característico de uma


Administração aberta, transparente e abrange
toda e qualquer fase do procedimento
administrativo.

O seu incumprimento pode ser fonte de


responsabilidade civil pelos danos
eventualmente causados e ilegalidade do acto.
2 – As informações a prestar abrangem a
indicação do serviço onde o procedimento se
encontra, os actos e diligências praticados, as
deficiências a suprir pelos interessados, as
decisões adoptadas e quaisquer outros elementos
solicitados.

3 – As informações solicitadas ao abrigo do


presente artigo são fornecidas no prazo máximo
de 10 dias.
VERTENTES:

1. O direito de informar;

2. O direito de se informar;

3. O direito de ser informado.


O particular tem, ainda, o direito de consultar
ou examinar pessoalmente o processo, desde
que este não contenha matéria sigilosa e
confidencial e o direito de recolher do
processo os elementos que careça bem como
obter certidões ou reproduções autenticadas
dos documentos que o integrem.
RESULTA:

Artigo 83.º
Consulta do processo e passagem de certidões

1 – Os interessados têm o direito de consultar o


processo que não contenha documentos
classificados, ou que revelem segredo comercial
ou industrial ou segredo relativo à propriedade
literária, artística ou científica.
2 – O direito referido no número anterior abrange
os documentos nominativos relativos a terceiros,
sem prejuízo da proteção dos dados pessoais nos,
nos termos da lei.

3 – Os interessados têm o direito, mediante o


pagamento das importâncias que forem devidas,
de obter certidão, reprodução ou declaração
autenticada dos documentos que constem dos
processos a que tenham acesso.
Estão excluídos do direito de informação:
n Questões de índole sigilosa;
n Segredo de Estado;
n Relativas à segurança interna e externa
daquele;
n Investigação criminal;
n Reserva e intimidade da vida pessoal.
E Ainda:
n Processos que contenham documentos
classificados;
n Revelem segredos comerciais ou
industriais;
n Segredos relativos a propriedade literária,
artística ou científica.
Artigo 84.º
Certidões independentes de despacho

1 – Os serviços competentes são obrigados a


passar aos interessados, independentemente de
despacho e no prazo máximo de 10 dias a contar
da apresentação do requerimento, certidão,
reprodução ou declaração autenticada de
documentos de que constem, consoante o pedido,
todos ou alguns dos seguintes elementos:
a) Data de apresentação de requerimentos,
petições, reclamações, recursos ou documentos
semelhantes;
b) Conteúdo desses documentos ou pretensão
neles formulada;
c) Andamento que tiveram ou situação em que se
encontram os documentos a que se refere o n.º 1;
d) Resolução tomada ou falta de resolução.

2 – O dever estabelecido no número anterior não


abrange os documentos classificados ou que
revelem segredo comercial ou industrial ou
segredo relativo à propriedade literária, artística ou
científica.
3- Quando os elementos constem de
procedimentos informatizados, as certidões,
reproduções ou declarações, previstas no n.º 1 são
passadas, com a devida autenticação, no prazo
máximo de três (3) dias, por via eletrónica ou
mediante impressão nos serviços da
Administração.
Este artigo contempla as situações em que o
interesse do requerente é directo e inequívoco.
O funcionário passará a certidão em função
dos termos em que ela se pretende justificar,
independentemente de despacho do dirigente
do serviço.
Fora dos casos das alíneas a) a d) a certidão
não pode ser emitida sem ser precedida de
despacho.
Artigo 85.º
Extensão do direito de informação

1 – Os direitos reconhecidos nos artigos 82.º a 84.º


são extensivos a quaisquer pessoas que provem ter
interesse legítimo no conhecimento dos elementos
que pretendam.

2 – O exercício dos direitos previstos no número


anterior depende de despacho do dirigente do
serviço, exarado em requerimento escrito,
instruído com os documentos probatórios do
interesse legítimo invocado.
A informação pode ter dois destinatários:

• Os que têm interesse directo - artigo 82.º


• Os que têm interesse legítimo - artigo 85º,
nº 1.*

O interesse legítimo* é o que deriva de uma


situação conexa com aquela que forma o
objecto do procedimento.
O particular requerente terá de demonstrar possuir os
requisitos necessários para que o seu interesse seja
considerado legítimo.

Neste caso e ao contrário do que ocorre com as


situações do art. 82º, em que a informação é
concedida automaticamente, a extensão do direito à
informação consagrada neste preceito pressupõe uma
análise do requerimento do particular e dos
elementos de prova desse interesse.
Exemplo:
O vizinho do requerente de uma licença de
construção habitacional possui um interesse
legítimo em saber o que vai ser edificado na
zona envolvente da sua casa.

Por isso mesmo, pode pedir informação acerca


do estado do processo e evolução que o mesmo
teve.

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