Você está na página 1de 14

1 de dezembro de 2019 – 1º Domingo do Advento – Ano A

LEITURA I Is 2, 1-5
Leitura do Livro de Isaías
Visão de Isaías, filho de Amós, acerca de Judá e de Jerusalém: Sucederá, nos dias que
hão-de vir, que o monte do templo do Senhor se há-de erguer no cimo das montanhas e
se elevará no alto das colinas. Ali afluirão todas as nações, e muitos povos acorrerão,
dizendo: «Vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacob. Ele nos
ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas. De Sião há-de vir a lei,
e de Jerusalém a palavra do Senhor». Ele será juiz no meio das nações e árbitro de
povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices.
Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão-de preparar para a guerra.
Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor.
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL 121 (122), 1-2.4-5.6-7.8-9 (R. cf. 1)


Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.
Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor,
segundo o costume de Israel,
para celebrar o nome do Senhor;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.
Pedi a paz para Jerusalém:
«Vivam seguros quantos te amam.
Haja paz dentro dos teus muros,
tranquilidade em teus palácios».
Por amor de meus irmãos e amigos,
pedirei a paz para ti.
Por amor da casa do Senhor,
pedirei para ti todos os bens.
LEITURA II Rom 13, 11-14
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Vós sabeis em que tempo estamos: Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a
salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé. A noite vai
adiantada e o dia está próximo. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das
armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, evitando comezainas e
excessos de bebida, as devassidões e libertinagens, as discórdias e ciúmes; não vos
preocupeis com a natureza carnal, para satisfazer os seus apetites, mas revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo.
Palavra do Senhor.
EVANGELHO Mt 24, 37-44
+ Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Como aconteceu nos dias de Noé,
assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio,
comiam e bebiam, casavam e davam em casamento,
até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que
a todos levou. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que
estiverem no campo, um será tomado e outro deixado; de duas mulheres que estiverem a
moer com a mó, uma será tomada e outra deixada. Portanto, vigiai, porque não sabeis
em que dia virá o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que
horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa. Por
isso, estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho
do homem.
Palavra da salvação.

Reflexão:
Advento significa manter-se à espera de alguém que está para chegar. É o espaço
litúrgico das quatro semanas que precedem, como preparação, a solenidade do Natal.
Durante muito tempo acreditou-se que a humanidade esperou durante quatro mil anos a
vinda do redentor, tantos como os que mediaram entre o pecado de Adão e a vinda de
Jesus Cristo na nossa carne.

A Liturgia faz dele um tempo de preparação para o grande acontecimento do Natal.


1. O Senhor virá
a) Vem para nos salvar. «Sucederá, nos dias que hão-de vir, que o monte do templo do
Senhor se há-de erguer no cimo das montanhas e se elevará no alto das Colinas.»
O profeta Isaías anuncia um movimento universal de conversão, figurado na multidão
que vai ao encontro da colina sagrada de Jerusalém onde se encontrava o Templo.
Jerusalém é a figura da Igreja onde encontramos Jesus Cristo, o verdadeiro Templo vivo
do Pai. Ele mesmo dirá, poucos dias antes da Paixão, referindo-Se ao Seu Corpo:
«Destruí este templo e Eu o reedificarei em três dias.» S. João tem o cuidado de nos
dizer que Ele Se referia ao Templo do Seu Corpo.
Durante milhares de anos, a humanidade esperou pela vinda do Redentor. Sem a luz de
Deus, a vida foi-se degradando, de tal forma que nasceram as diversas formas de
escravatura.
Logo depois da queda dos primeiros pais, Deus fez raiar a esperança, prometendo uma
luta sem tréguas entre a Mulher — Maria Imaculada — e a serpente, a descendência
desta e a da Mulher, que seria o Redentor e os que O seguem.
Foi a situação desesperada dos homens, figurada na escravidão do Egipto e no Cativeiro
de Babilónia, que levou os Patriarcas e Profetas e todos os justos do Antigo Testamento
a suspirar pela vinda do Messias. Precisávamos urgentemente da Sua vinda para nos
recuperar a graça santificante perdida, e a luz da doutrina da Salvação.
Este princípio do Advento formula para nós algumas perguntas:
Sentimos a falta de Jesus Cristo na nossa vida e procuramo-l’O, à semelhança dos
nossos antepassados na fé que suspiravam pela Sua vinda? Como está a vida espiritual
de cada um de nós, na relação com Ele? Podem acontecer diversas hipóteses:
• Vida em pecado mortal habitual, sem a graça santificante, verdadeira negação do
Baptismo.
• Tibieza. É o estado de coma na vida espiritual: parece-nos que o doente está bem,
porque não se queixa, mas encontra-se em perigo de vida.
• Mediocridade calculista. Há quem viva assim a sua relação com Deus, pesando
cuidadosamente o que há-de entregar a Deus e mantendo-se cautelosamente à distancia,
não vá Ele abusar da confiança.
Esta atitude é uma negação radical da aliança. Ela é uma doação incondicional, À
semelhança do que acontece na aliança do matrimónio.
b) Salvação para todos. «Ali afluirão todas as nações e muitos povos ocorrerão,
dizendo: «Vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacob. Ele nos
ensinará os seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas.»
O profeta Isaías não fala de uma caminhada individual, isolada, mas de uma multidão
que vai ao encontro do monte Sião, onde se encontra o Templo. Nesta caminhada, a
solidariedade de uns para com os outros é fundamental. É o contrario de uma
competição em que cada um — porque só um recebe o prémio — se alegra em que os
outros fiquem para trás.
O Baptismo tem como efeito tornar-nos membros de uma família; a dos filhos de Deus.
Uma das notas essenciais do perfil de uma família é a solidariedade, a preocupação de
uns pelos outros, a comunhão de alegrias e tristezas, a corresponsabilidade nas tarefas
para que todos estejam bem.
Daí que não há verdadeiro cristianismo sem que nos preocupemos com os outros, indo
ao encontro deles.
Mais uma vez, o profeta Isaías formula-nos perguntas: Que lugar ocupam os outros na
minha acção e na ajuda que lhes presto? Sou sensível ao descaminho em que se
encontram tantas pessoas?
«Um segredo. — Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. —
Deus quer um punhado de homens «seus» em cada actividade humana. — Depois…
«Pax Christi in regno Christi» — a paz de Cristo no reino de Cristo.» (S. Josemaria,
Caminho, n.º 301).
Neste Advento que agora começa — o último para muitas pessoas — quem me
proponho aproximar de Deus, por uma confissão bem feita que leve à mudança de vida?
Todas as vezes que falece uma pessoa de família, os outros são assaltados por este
pensamento: ”Se eu soubesse… teria tratado esta pessoa com maior atenção, carinho e
amizade!” Então façamo-lo já.
• Na família. O primeiro testemunho é o de uma amizade profunda e espírito de serviço
humilde e desprendido.
• No emprego. Esperam e nós um bom trabalho profissional em todos os momentos e
uma camaradagem leal com todos.
• Na roda de amigos. Uma amizade nunca desmentida leva a uma grande sinceridade
nas relações humanas.
c) Trará a verdadeira paz e alegria. «Converterão as espadas em relhas de arado e as
lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão-de
preparar para a guerra.»
Quem lê a Bíblia e os historiadores (por exemplo, Flávio Josefo) verifica que Terra
Santa foi sempre um lugar muito conturbado ao longo dos séculos.
Por isso, a grande aspiração do Povo de Deus era alcançar uma paz estável. Em geral, a
guerra que o incomodava estava relacionada com as suas infidelidades ao Senhor.
A paz é a tranquilidade na ordem, na harmonia, no amor. Não tem nada a ver com o
silêncio e aparente tranquilidade impostos pelas armas, pelo medo, ou qualquer outro
modo de opressão.
Se considerarmos que a violação dos direitos da pessoa é uma forma de guerra,
podemos dizer que neste mundo nunca gozamos de uma paz perfeita. Mas a paz tem a
raiz no coração de cada um de nós. Ela alimenta-se da nossa fidelidade aos planos de
Deus.
Por isso, podemos falar de paz com Deus, connosco mesmos e com os outros,
resumindo tudo na paz de consciência.
Quem não está com a consciência em paz, semeia constantemente o desassossego à sua
volta. Hoje estamos em guerra declarada, nas suas várias manifestações, porque tudo o
que se opõe aos planos de Deus é uma declaração de guerra.
2. A Salvação está próxima
a) Combater o sono. «Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação
está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé. A noite vai adiantada e o
dia está próximo.»
As palavras de S. Paulo da Carta aos Romanos, proclamadas na segunda leitura, soam
como uma trombeta militar chamando os soldados para o combate.
«O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é
uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca
desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada.
Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os
outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce
alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e
permanente, que correm também os crentes.
Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta
não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós,
esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.» (Francisco,
EA Evangeli Guadium, n.º 2).
O sono na vida espiritual tem um nome: tibieza. Este lamentável estado da alma parece-
se com o estado de coma na vida corporal: a pessoa parece que não tem nada de
especial, porque está serena, mas encontra-se em grave perigo de vida. Possivelmente,
enquanto está assim inconsciente de tudo o que a rodeia, sonha com um mundo de
felicidade, mas este sonho não corresponde à liberdade.
S. João, no Livro do Apocalipse foi encarregado pelo Senhor de escrever aos sete
Bispos — Anjos — das Igrejas da Ásia Menor. A um deles, o Bispo de Laodiceia,
vítima desta doença espiritual, S. João escreve palavras que nos ajudam a compreender
melhor o que é a tibieza.
«Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!
Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.
Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um
desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro
provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não
apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas.
Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que
estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa,
e com ele cearei, e ele comigo.» (Apocalipse 3:15-20).
• S. João, por ordem de Deus, não se dirige a um pecador escandaloso, mas a um bispo.
Na verdade, a tibieza é uma doença das almas com alguma preocupação de
espiritualidade; querem viver em graça, fugir do pecado mortal, mas não se importam
de cometer pecados veniais e limitam cuidadosamente a sua generosidade para com
Deus. O demónio anestesia as almas pela recusa sistemática em fazer a vontade de
Deus.
• «porque és morno, e não és frio nem quente». Um autor espiritual ajuda-nos a
diagnosticar esta doença. «Luta contra essa frouxidão que te faz preguiçoso e desleixado
na tua vida espiritual. – Olha que pode ser o princípio da tibieza…, e, na frase da
Escritura, os tíbios, Deus os vomitará.» (S. Josemaria, Caminho, 325).
«És tíbio se fazes preguiçosamente e de má vontade as coisas que se referem ao Senhor;
se procuras com cálculo ou “manha” o modo de diminuir os teus deveres; se não pensas
senão em ti e na tua comodidade; se as tuas conversas são ociosas e vãs; se não
aborreces o pecado venial; se ages por motivos humanos.» (S. Josemaria, Caminho,
331).
• Almas que vivem iludidas. «Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada
tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu.»
b) Atenção aos sinais. «Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso
Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o
ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa.»
Há nas palavras de Jesus uma chamada de atenção para os sinais que o Senhor nos envia
e um convite ao esforço para os decifrar.
• A chave da leitura. Somos filhos de Deus e Ele ama-nos com loucura. Tudo quanto
nos acontece nesta vida nunca é sinal de castigo, mas de amor. As pessoas são
propensas a interpretar como castigo tudo aquilo que não está de acordo com aquilo que
gostam: uma doença, um contratempo económico, a morte de um familiar…
Tudo deve ser examinado, partindo do princípio de que tudo quanto acontece tem sinal
do amor de Deus.
• Os sinais que Deus nos envia. Precisamos de implorar a ajuda do Espírito Santo, com
os Seus sete dons, para decifrarmos correctamente estes sinais que o Senhor nos envia.
São mensagens de enamorado, de um Pai que nos ama com loucura.
• A nossa atitude perante estes sinais. Devemos manifestar ao Senhor o nosso profundo
agradecimento e pensar na Sua presença como poderemos corresponder a tanto amor, o
que é que Ele nos pede concretamente, por meio daquele sinal que nos envia.
• Elegância no trato com Deus. Por efeito de uma cultura que vem de longe, do
negativo, do pessimismo, quando nos falam de alguma coisa desagradável que
aconteceu a alguém, instintivamente pensamos nos seus defeitos e pecados, para logo a
seguir carimbar esse acontecimento como um castigo pelo modo de ser da pessoa ou
pelos seus pecados.
Vale a pena lembrar o que aconteceu a Santa Teresa de Jesus, a reformadora dos
Carmelos. Vivia a santa carregada de dívidas, com saúde muito precária, difamada por
toda a Espanha como se andasse a levar raparigas de um lado ao outro para a
prostituição, ameaçada pela Inquisição que desconfiava da autobiografia que ela
escrevera em obediência ao confessor, acertou de ela se deslocar a Burgos, para fundar
um novo Carmelo. Ia doente, cansada e com sofrimento interior por tudo o que se disse.
O rio Alazón transbordava e foi com duras penas que conseguiram passá-lo, não sem
que Teresa caísse à água gelada e apanhasse um banho completo. Ao mesmo tempo,
uma voz soou aos seus ouvidos: “Teresa, é assim que eu trato os Meus amigos!” E logo
ela, com a sua habitual espontaneidade: “Por isso Tendes tão poucos, Senhor!”
c) Estejamos preparados. «Por isso, estai vós também preparados, porque na hora em
que menos pensais, virá o Filho do homem.»
A vigilância é uma virtude muito recomendada por Jesus no Evangelho. Recorre aos
costumes da época em que viveu a Sua vida mortal entre nós, para nos explicar em que
consiste: estar com os rins cingidos — as pessoas atavam um cinto para levantar a
túnica, de modo que não impeça de caminhar —, de cajado na mão — e lâmpadas já
acesas, à espera do menor sinal para empreender a caminhada.
A vigilância cristã não é um estar temeroso e receoso do que pode acontecer quando se
der o nosso encontro com o Senhor.
É antes aquela expectativa de duas pessoas enamoradas que aguardam com alegria e
quase impaciência o encontro com quem se ama. Esta atitude interior traduz-se em
normas de piedade:
• Exame de consciência. Para que estejamos sempre prontos para acolher o Senhor que
nos procura, precisamos de examinar todas as noites a nossa vida, para ver como vai a
nossa vida, tal como o comerciante, antes de encerrar o dia, Vê como está a
contabilidade, se teve prejuízo ou lucro.
Todas as noites, antes de nos entregarmos ao sono, façamos a nós mesmos três
perguntas: Que fiz hoje de bem? Que fiz de mal? Que poderia ter feito melhor? O texto
não é de um santo, mas de um escritor pagão: Séneca, preceptor do imperador Nero.
• Oração. Intensifiquemos continuamente a nossa intimidade com o Senhor, por meio da
oração. O texto do cântico Rorate, próprio do Advento, ajuda-nos a fazê-lo: “Ó céus,
rociai do alto e as nuvens chovam o Salvador.” Pedimos depois ao Senhor que não se
irrite ao ver a nossa indigência. A nossa alma devia ser um jardim de flores, de virtudes.
Mas é um deserto.
• A missa dominical. É o grande encontro com o Senhor que vem ao nosso encontro em
cada Domingo para nos encher de coragem, com a Palavra e com o Seu Corpo e
Sangue.
Imitemos Nossa Senhora que, em profundo recolhimento, sem descurar os seus deveres
de esposa e dona de casa, aguardou com alegria o nascimento do menino que trazia no
seu seio virginal.
Oração Universal ou dos Fiéis
Irmãos e irmãs:
Peçamos ao Pai, que está nos céus, que as próximas solenidades do Natal tragam luz e
esperança ao coração de cada ser humano, dizendo (ou: cantando), com toda a
confiança:
R. Ouvi-nos, Senhor.
Ou: Cristo, ouvi-nos. Cristo, atendei-nos.
Ou: Senhor, venha a nós o vosso reino.
1. Pelos pastores e fiéis da santa Igreja,
para que vivendo dignamente, como em pleno dia,
sejam sinal da vinda próxima do Senhor,
oremos.
2. Pelas nações do mundo inteiro e seus governos,
para que, abandonando os caminhos da guerra,
convertam as armas em instrumentos de paz,
oremos.
3. Por todas as Igrejas e comunidades cristãs,
para que se revistam dos sentimentos de Jesus
e apressem a reconciliação tão desejada,
oremos.
4. Pelas crianças e jovens dos grupos de catequese,
para que em Cristo, Filho de Deus e de Maria,
descubram Aquele que dá sentido às suas vidas,
oremos.
5. Pelos que, nesta comunidade (paroquial) ou em qualquer outra,
estão de vela junto aos doentes e aos moribundos,
para que o Senhor seja a sua recompensa,
oremos.
(Outras intenções: grandes problemas mundiais; catecúmenos …).
Senhor, nosso Deus,
não nos deixeis andar sonolentos, no meio das injustiças deste mundo, mas dirigi o
nosso coração e o nosso olhar para Aquele que nos vem trazer a paz.
Por Cristo Senhor nosso.

01º Domingo do Advento - Ano A

1 Dezembro 2019

ANO A
1.º DOMINGO DO ADVENTO
Tema do 1.º Domingo do Advento
A liturgia deste domingo apresenta um apelo veemente à vigilância. O cristão não deve instalar-se no
comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença; mas deve caminhar, sempre atento e
vigilante, preparado para acolher o Senhor que vem e para responder aos seus desafios.

A primeira leitura convida os homens - todos os homens, de todas as raças e nações - a dirigirem-se à
montanha onde reside o Senhor. É do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que resultará um
mundo de concórdia, de harmonia, de paz sem fim.
A segunda leitura recomenda aos crentes que despertem da letargia que os mantém presos ao mundo
das trevas (o mundo do egoísmo, da injustiça, da mentira, do pecado), que se vistam da luz (a vida de
Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que caminhem, com alegria e esperança, ao encontro de Jesus, ao
encontro da salvação.
O Evangelho apela à vigilância. O crente ideal não vive mergulhado nos prazeres que alienam, nem se
deixa sufocar pelo trabalho excessivo, nem adormece numa passividade que lhe rouba as
oportunidades; o crente ideal está, em cada minuto que passa, atento e vigilante, acolhendo o Senhor
que vem, respondendo aos seus desafios, cumprindo o seu papel, empenhando-se na construção do
"Reino".

LEITURA I - Is 2, 1-5
Leitura do Livro de Isaías
Visão de Isaías, filho de Amós,
acerca de Judá e de Jerusalém:
Sucederá, nos dias que hão de vir,
que o monte do templo do Senhor
se há de erguer no cimo das montanhas
e se elevará no alto das colinas.
Ali afluirão todas as nações
e muitos povos ocorrerão, dizendo:
«Vinde, subamos ao monte do Senhor,
ao templo do Deus de Jacob.
Ele nos ensinará os seus caminhos
e nós andaremos pelas suas veredas.
De Sião há de vir a lei
e de Jerusalém a palavra do Senhor».
Ele será juiz no meio das nações
e árbitro de povos sem número.
Converterão as espadas em relhas de arado
e as lanças em foices.
Não levantará a espada nação contra nação,
nem mais se hão de preparar para a guerra.
Vinde, ó casa de Jacob,
caminhemos à luz do Senhor.

AMBIENTE
O texto de Is 2,2-4 encontra-se - com algumas variantes e uma adição - em Mi 4,1-3, o que parece
favorecer a hipótese de uma fonte comum, anterior a Isaías e a Miqueias, na qual os redatores dos dois
livros se teriam inspirado (embora haja quem defenda, mais simplesmente, que o texto original é de
Isaías e que Miqueias apenas o reproduziu com variantes).

Pelo conteúdo estamos, provavelmente, diante de um oráculo inspirado nas grandes movimentações de
peregrinos que, por alturas das festas, sobem para Jerusalém. Imaginemos, como hipótese, que o poeta
contempla desde o monte Sião a chegada das caravanas israelitas que acorrem em peregrinação para
celebrar uma festa popular - por exemplo, a festa das Tendas... Ele nota que essas caravanas procedem
de todas as partes do território habitado pelo Povo de Deus; vê-las convergir para a cidade santa, subir
pela colina em direção ao Templo onde reside Deus; à medida que se aproximam, o poeta ouve
distintamente os "cânticos de ascensão" com que os peregrinos saúdam o Senhor e pedem a paz para
Jerusalém e para toda a nação... Subitamente, na fantasia do poeta, a cena transforma-se: ele vê, num
futuro sem data definida, uma multidão de povos de todas as raças e nações que, atraídas por Jahwéh,
se dirigem ao encontro da salvação de Deus. É, provavelmente, um "sonho" destes que dá origem a este
oráculo escatológico. Estamos diante de um dos oráculos mais inspirados, mais profundos e mais
bonitos de todo o Antigo Testamento.

MENSAGEM
O nosso oráculo é o poema da paz universal e da convergência de todos os povos à volta de Deus.

Na visão do profeta, o "monte do Senhor" (o monte do Templo) eleva-se e transforma-se no centro do


mundo, sobressaindo entre todos os montes, não por ser o mais alto, mas por ser a morada de Jahwéh
(vers. 2a.b). De todas as partes do mundo vêem-se convergir caravanas de povos e de nações que
avançam, confluem e sobem montanha acima, ao encontro do Senhor (vers. 2c-3a)... Quem foi que os
convocou, que força os atrai?

A resposta está no próprio cântico que acompanha a caminhada de toda esta gente: eles vêm atraídos
pela força irresistível da Palavra de Deus; querem conhecer o ensinamento (Torah) e ser instruídos nos
caminhos de Jahwéh (vers. 3b.c.d.e). A Palavra salvadora e libertadora de Jahwéh atrai e agarra todos os
povos que percorrem os caminhos do mundo, lança-os num movimento único e universal, reúne-os à
volta de Deus.

À medida que todos se juntam à volta de Deus, escutam a sua Palavra e aprendem os seus caminhos, as
divisões, as hostilidades, os conflitos da humanidade vão-se desvanecendo. Primeiro, eles aceitam a
arbitragem justa e pacífica de Deus (vers. 4a); depois, compreendem que não são necessárias armas: as
máquinas de guerra transformam-se em instrumentos pacíficos de trabalho e de vida (vers. 4b.c.d). Do
encontro com Deus e com a sua Palavra, resulta a harmonia, o progresso, o entendimento entre os
povos, a vida em abundância, a paz universal.

Este quadro é o reverso de Babel... Na história da torre de Babel (cf. Gn 11,1-9), os homens escolheram o
confronto com Deus, o orgulho e a autossuficiência; e isso conduziu à divisão, ao conflito, à confusão, à
falta de entendimento, à dispersão... Agora, os homens escolheram escutar Deus e seguir os caminhos
indicados por Ele; o resultado é a reunião de todos os povos, o entendimento, a harmonia, o progresso,
a paz universal. Quando se realizará esta profecia?

ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão pessoal, considerar os seguintes elementos:
 O sonho do profeta começa a realizar-se em Jesus. Ele é a Palavra viva de Deus, que Se fez carne e
veio habitar no meio de nós, a fim de trazer a "paz aos homens" amados por Deus (cf. Lc 2,14); da
escuta dessa Palavra, nasce a comunidade universal da salvação, aberta a todos os povos da terra
(cf. At 2,5-11), de que fala a leitura que nos é proposta. Se é verdade que todo o processo tem a
marca da iniciativa divina, também é verdade que o homem tem de responder positivamente à
ação de Deus: tem de escutar essa proposta, acolhê-la no coração e na vida, partir ao encontro de
Deus (a leitura fala de uma peregrinação à montanha sagrada). Estamos a começar o tempo de
preparação para acolher Jesus (Advento) e a proposta de salvação que, através d'Ele, o Pai quer
fazer aos homens: estamos dispostos a ir ao seu encontro, a acolhê-l'O, a escutar a sua Palavra, a
aderir a essa proposta de vida que Ele veio fazer?
 Um olhar, ainda que desatento, ao mundo que nos rodeia, revela que estamos muito longe dessa
terra ideal de justiça e de paz, construída à volta de Deus e da sua Palavra - apesar de Jesus, a
Palavra viva de Deus, ter vindo ao nosso encontro há já dois mil anos... O que é que está a impedir
ou, pelo menos, a atrapalhar a chegada desse mundo de justiça e de paz? Nisso, eu não terei a
minha parte de responsabilidade? Que posso eu fazer para que o sonho de Isaías - o sonho de
todos os homens de boa vontade - se concretize?

SALMO RESPONSORIAL - Salmo 121 (122)


Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram:


«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.

Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor,


segundo costume de Israel, para celebrar o nome do Senhor;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.

Pedi a paz para Jerusalém:


«Vivam seguros quantos te amam.
Haja paz dentro dos teus muros,
tranquilidade em teus palácios».

Por amor de meus irmãos e amigos,


pedirei a paz para ti.
Por amor da casa do Senhor,
pedirei para ti todos os bens.
LEITURA II - Rom 13, 11-14
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Vós sabeis em que tempo estamos:
Chegou a hora de nos levantarmos do sono,
porque a salvação está agora mais perto de nós
do que quando abraçámos a fé.
A noite vai adiantada e o dia está próximo.
Abandonemos as obras das trevas
e revistamo-nos das armas da luz.
Andemos dignamente, como em pleno dia,
evitando comezainas e excessos de bebida,
as devassidões e libertinagens, as discórdias e os ciúmes;
não vos preocupeis com a natureza carnal,
para satisfazer os seus apetites,
mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.

AMBIENTE
Quando Paulo redige a Carta aos Romanos, está em Corinto, no termo da sua terceira viagem
missionária... Prepara-se para partir para Jerusalém com o produto da coleta que organizou na
Macedónia e na Acaia em benefício dos "santos de Jerusalém que estão na pobreza" (1 Cor 16,1; cf. Rom
15,25-26). Paulo acha que terminou a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e quer, agora, levar o
Evangelho ao ocidente. Estamos no ano 57 ou 58.

O pretexto da carta é preparar a ida de Paulo a Espanha (cf. Rom 15,24)... Na realidade, Paulo aproveita
para contactar a comunidade de Roma e para apresentar aos romanos (e aos crentes, em geral) os
principais problemas que o preocupam... Estamos numa altura em que o perigo da divisão ameaça a
Igreja: de um lado, estão as comunidades de origem judeo-cristã e, de outro, as comunidades pagano-
cristãs; uns e outros têm algumas dificuldades de entendimento e há um perigo real de cisão. Paulo
escreve, então, sublinhando a unidade da fé e chamando a atenção para a igualdade fundamental de
todos - judeo-cristãos e pagano-cristãos - no processo da salvação.

A primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36) é de carácter dogmático e procura mostrar
que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente; a segunda parte (cf. Rom 12,1-15,13)
é de carácter prático e exorta judeo-cristãos e pagano-cristãos a viver no amor.

O texto que hoje nos é proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de exortar os cristãos que
pertencem à comunidade de Roma ao amor mútuo (cf. Rom 13,8-10), Paulo pede-lhes que estejam
vigilantes e preparados, a fim de acolher o Senhor que vem.

MENSAGEM
Referindo-se à "hora" que os cristãos estão a viver, Paulo pede-lhes que se levantem "do sono, porque
a salvação está agora mais perto". Ao dizer que a salvação está perto, o que é que Paulo está a sugerir?

Paulo pensava, certamente, na vinda mais ou menos iminente de Jesus Cristo, a fim de concluir a
história da salvação; no entanto, a ausência de especulações apocalípticas mostra claramente que o
interesse de Paulo não é no "quando" e no "como", mas no significado e nas consequências dessa
vinda. O facto que aqui interessa é, portanto, que os cristãos estão a viver os "últimos tempos" (que
começaram quando Jesus deixou o mundo e encarregou os discípulos de serem testemunhas da
salvação diante dos homens) antes da vinda de Jesus... Quais as consequências disso?

Antes de serem batizados, os cristãos viviam nas trevas e a sua vida estava pontuada pelo egoísmo
(excessos de comida e de bebida, devassidões, libertinagens, discórdias e ciúmes); mas, com o Batismo,
eles nasceram para uma nova realidade... É para essa realidade de uma vida nova, liberta do egoísmo e
do pecado, que eles devem acordar definitivamente, enquanto esperam o Senhor que vem: quando o
Senhor chegar, deve encontrá-los despidos do velho mundo das trevas; e deve encontrá-los atentos e
preparados, revestidos dessa vida nova que Cristo lhes ofereceu, vivendo na fé, no amor, no serviço.

Fundamentalmente, há aqui um convite a que os crentes vivam este "tempo" como um tempo último e
definitivo, que tem de ser um tempo de caminhada ao encontro de Jesus Cristo e ao encontro da
salvação.

ATUALIZAÇÃO
Considerar as seguintes questões:

 A questão fundamental que está em jogo neste texto é a da conversão: os crentes são convidados
a deixar a vida das trevas e embarcar, decididamente, na vida da luz... As "trevas" caracterizam essa
realidade negativa que produz mentira, injustiça, opressão, medo, cobardia, materialismo (e que é
uma realidade que toca tantas vezes, direta ou indiretamente, a nossa existência); a "luz" é a
realidade de quem vive na dinâmica de Deus... Falar de "conversão" implica falar de uma
transformação profunda das estruturas e dos corações... Quais são, na sociedade, as estruturas que
são responsáveis pelas "trevas" que envolvem a vida de tantos homens? O que é que na Igreja é
menos "luminoso" e necessita de conversão? O que é que em mim próprio é necessário
transformar com urgência?
 Quase todos nós somos pessoas razoáveis e sérias e não andamos todos os dias em bebedeiras,
devassidões, libertinagens e discórdias; mas, apesar da nossa bondade e seriedade, é possível que
o cansaço, a monotonia, a preguiça nos adormeçam, que caiamos na indiferença, na inércia, na
passividade, no comodismo; é possível que deixemos correr as coisas e que esqueçamos os
compromissos que um dia assumimos com Jesus e com o "Reino"... É para nós que Paulo grita:
"acordai!; renovai o vosso entusiasmo pelos valores do Evangelho; é preciso estar preparado -
sempre preparado - para acolher o Senhor que vem".
 Há também, neste texto, um convite à esperança: "o Senhor vem! A noite vai adiantada e o dia está
próximo". Deus não nos abandona; Ele continua a vir ao nosso encontro e a construir connosco
esse mundo novo de justiça e de paz... Por muito que nos assustem as trevas que envolvem o
mundo, a presença de Deus garante-nos que a injustiça, a exploração, a morte não são o final
inevitável: a última palavra que a história vai ouvir é a Palavra libertadora e salvadora de Deus.

ALELUIA - Salmo 84, 8


Aleluia. Aleluia.
Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.

EVANGELHO - Mt 24, 37-44


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Como aconteceu nos dias de Noé,
assim sucederá na vinda do Filho do homem.
Nos dias que precederam o dilúvio,
comiam e bebiam, casavam e davam em casamento,
até ao dia em que Noé entrou na arca;
e não deram por nada,
até que veio o dilúvio, que a todos levou.
Assim será também na vinda do Filho do homem.
Então, de dois que estiverem no campo,
um será tomado e outro deixado;
de duas mulheres que estiverem a moer com a mó,
uma será tomada e outra deixada.
Portanto, vigiai,
porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.
Compreendei isto:
se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão,
estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa.
Por isso, estai vós também preparados,
porque na hora em que menos pensais,
virá o Filho do homem.

AMBIENTE
Os capítulos 24 e 25 do Evangelho segundo Mateus apresentam o último grande discurso de Jesus
antes da sua paixão e morte. Para compô-lo, Mateus reelaborou o chamado "discurso escatológico" de
Marcos (cf. Mc 13), ampliando-o e mudando substancialmente o tema central: se no discurso
transmitido por Marcos a questão principal é a dos sinais que precederão a destruição de Jerusalém e
do Templo, no discurso reelaborado por Mateus a questão central é a da vinda do Filho do homem e
das atitudes com que os discípulos devem preparar a dita vinda.
Esta mudança de perspetiva pode explicar-se a partir da situação em que vivia a comunidade de Mateus
e com as suas necessidades. Estamos na década de 80. Passaram dez anos sobre a destruição de
Jerusalém e ainda não aconteceu a segunda vinda de Jesus. Os crentes estão desanimados e
desiludidos... O evangelista contempla com preocupação os sinais de abandono, de desleixo, de rotina,
de esfriamento que começam a aparecer na comunidade e sente que é preciso renovar a esperança e
levar os crentes a comprometer-se na história, construindo o "Reino". Nesta situação, Mateus descobre
que as palavras de Jesus encerram um profundo ensinamento e compõe com elas uma exortação
dirigida aos cristãos. Esta exortação fundamenta-se numa profunda convicção: a vinda do "Filho do
homem" é um facto certo, ainda que não aconteça em breve; enquanto não chega o momento, é
preciso preparar este grande acontecimento, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus.

A linguagem destes capítulos é estranha e enigmática... Trata-se, no entanto, de um género usado com
alguma frequência por alguns grupos judeus e cristãos da época de Jesus. É a linguagem "apocalíptica",
porque o seu objetivo é "revelar algo escondido" ("apocaliptô"). Em muitas ocasiões, esta revelação é
dirigida a comunidades que vivem numa situação de sofrimento, de desespero, de perseguição; o
objetivo é animá-las, dar-lhes esperança, mostrar-lhes que a vitória final será de Deus e dos que lhe
forem fiéis.

MENSAGEM
Para Mateus, a vinda do Senhor é certa, embora ninguém saiba o dia nem a hora (cf. Mt 24,36); aos
crentes resta estar vigilantes, preparados e ativos... Para transmitir esta mensagem, Mateus usa três
quadros...

O primeiro (vers. 37-39) é o quadro da humanidade na época de Noé: os homens viviam, então, numa
alegre inconsciência, preocupados apenas em gozar a sua "vidinha" descomprometida; quando o
dilúvio chegou, apanhou-os de surpresa e impreparados... Se o "gozar" a vida ao máximo for para o
homem a prioridade fundamental, ele arrisca-se a passar ao lado do que é importante e a não cumprir
o seu papel no mundo.

O segundo (vers. 40-41) coloca-nos diante de duas situações da vida quotidiana: o trabalho agrícola e a
moagem do trigo... Os compromissos e trabalhos necessários à subsistência do homem também não
podem ocupá-lo de tal forma que o levem a negligenciar o essencial: a preparação da vinda do Senhor.

O terceiro (vers. 43-44) coloca-nos frente ao exemplo do dono de uma casa que adormece e deixa que
a sua casa seja saqueada pelo ladrão... Os crentes não podem, nunca, deixar-se adormecer, pois o seu
adormecimento pode levá-los a perder a oportunidade de encontrar o Senhor que vem.

A questão fundamental é, portanto, esta: o crente ideal é aquele que está sempre vigilante, atento,
preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde oportunidades, porque não se deixa distrair com
os bens deste mundo, não vive obcecado com eles e não faz deles a sua prioridade fundamental... Mas,
dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e com sentido de responsabilidade.

ATUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode partir dos seguintes dados:

 O que é que significa para nós "estar vigilantes", "estar atentos", "estar preparados" para acolher o
Senhor? Significa ter a "alminha" na "graça de Deus" para que, se a morte chegar de repente, Deus
não consiga encontrar em nós qualquer pecado não confessado e não tenha qualquer razão para
nos mandar para o inferno? Significa, fundamentalmente, acolher todas as oportunidades de
salvação que Deus nos oferece continuamente... Se Ele vem ao meu encontro, me desafia a cumprir
uma determinada missão e eu prefiro continuar a viver a minha "vidinha" fácil e sem compromisso,
estou a perder uma oportunidade de dar sentido à minha vida; se Ele vem ao meu encontro, me
convida a partilhar algo com os meus irmãos mais pobres e eu escolho a avareza e o egoísmo,
estou a perder uma oportunidade de abrir o meu coração ao amor, à alegria, à felicidade...
 O Evangelho que nos é proposto apresenta alguns dos motivos que impedem o homem de
"acolher o Senhor que vem"... Fala da opção por "gozar a vida", sem ter tempo nem espaço para
compromissos sérios; quanta gente, ao domingo, tem todo o tempo do mundo para dormir até ao
meio dia, mas não para celebrar a fé com a sua comunidade cristã... Fala do viver obcecado com o
trabalho, esquecendo tudo o mais; quanta gente trabalha quinze horas por dia e esquece que tem
uma família e que os filhos precisam de amor... Fala do adormecer, do instalar-se, não prestando
atenção às realidades mais essenciais; quanta gente encolhe os ombros diante do sofrimento dos
irmãos e diz que não tem nada com isso, pois é o governo ou o Papa que têm que resolver a
situação... E eu: o que é que na minha vida me distrai do essencial e me impede, tantas vezes, de
estar atento ao Senhor que vem?
 Neste tempo de preparação para a celebração do nascimento de Jesus, sou convidado a recentrar a
minha vida no essencial, a redescobrir aquilo que é importante, a estar atento às oportunidades
que o Senhor, dia a dia, me oferece, a acordar para os compromissos que assumi para com Deus e
para com os irmãos, a empenhar-me na construção do "Reino"... É essa a melhor forma - ou
melhor, a única forma - de preparar a vinda do Senhor.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1.º DOMINGO DO ADVENTO


(em parte adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA meditada ao longo da semanA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 1º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus
deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da
semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num
grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.

2. GESTO DE RECOLHIMENTO E DE ACOLHIMENTO:


O gesto-símbolo para este primeiro domingo poderia ser: começar por nos sentarmos em silêncio,
depois do presidente da assembleia ter dito, por exemplo: "Irmãos e irmãs, façamos silêncio, é preciso
vigiar, o Senhor vem...". Depois, após um bom momento de recolhimento, entoa-se o cântico de
entrada seguido da palavra de acolhimento; ou o presidente profere umas palavras de acolhimento,
seguindo-se o cântico de entrada.

3. FAZER A PROCISSÃO DO LIVRO DA PALAVRA.


Depois da oração de coleta, que conclui o rito de abertura da celebração, o lecionário é trazido do
fundo da igreja por um leigo, rodeado de quatro crianças com velas acesas ou lamparinas. Depois da
leitura do Evangelho, o lecionário é colocado, aberto, num lugar preparado e visível para toda a
assembleia.

4. BILHETE DE EVANGELHO.
Aos homens sem armas, Deus promete a vitória da Paz. Um homem desarmado é um homem
vulnerável... mas ele pode também desarmar os violentos que lhe fazem face. Jesus veio precisamente
desarmar os homens. Apresenta-Se como "Príncipe da Paz". Proclama felizes os construtores de Paz,
porque a Paz é uma obra: faz-se a Paz, infelizmente também se faz a guerra. Neste período da nossa
história marcado pela violência, apresentemo-nos sem armas: apenas com a da reconciliação, dando um
passo; a do diálogo, escutando e falando; a do respeito, olhando e ousando falar; a da solidariedade,
estendendo a mão... Os desarmados não são pessoas que baixam os braços dizendo: "nunca se
conseguirá!" A vitória é-lhes assegurada pelo próprio Deus: "Glória a Deus e paz na terra aos homens
por Ele amados!"

5. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.


Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a
oração.
No final da primeira leitura:
Bendito sejas, Deus nosso Pai! Numa humanidade ferida pelas espadas e pelas lanças das querelas e das
guerras, Tu revelaste o caminho da paz, comunicando a Palavra e instruindo o teu povo.
Nós Te pedimos pelas Igrejas espalhadas por todo o universo: que elas irradiem a tua luz para traçar no
mundo o caminho da paz.
No final da segunda leitura:
Deus Nosso Pai, nós Te bendizemos pelo tempo da salvação: Tu nos anuncias o fim da noite e a vinda do
dia, e em cada domingo se torna presente a ressurreição do teu Filho, Jesus, nosso irmão.
Nós Te pedimos por nós mesmos: guarda-nos das atividades das trevas, reveste-nos para o combate da
luz, reveste-nos do Senhor Jesus.
No final do Evangelho:
Nós Te damos graças, ó Pai, pela tua vigilância e pela tua solicitude: mesmo nas infelicidades da nossa
terra, Tu vigias os teus fiéis, com atenção e bondade.
Nós Te pedimos ainda: que o teu Espírito nos torne atentos e preparados, que o teu Filho Jesus nos
encontre em situação de vigilância, na oração e na atenção ao próximo.
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística III, por se relacionar mais explicitamente com os textos da liturgia
da Palavra de hoje...

7. PALAVRA EXPLICADA 1: SIÃO.


SIÃO. É a antiga denominação do lugar de Jerusalém, antes da instalação dos Hebreus. Em sentido
estrito, este nome designa a colina sul da cidade, mas foi estendido em seguida a toda a cidade (2Re
19,31). É aplicado, em particular, ao lugar do templo (Is 2,3, primeira leitura deste domingo), como lugar
da presença de Deus (Am 1,2). A população da cidade era chamada "Filha de Sião", como é indicado
pelos Evangelhos para a entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21,5 e Jo 12,15, que citam Zac 9,9 e Is 62,11).
Nas visões cristãs do mundo que virá, o monte Sião é transposto para o céu, para a grande reunião da
multidão dos eleitos (os 144.000 segundo Ap 14,1), na cidade celeste do Deus vivo (Heb 12,22). Antigas
tradições cristãs situavam igualmente, nesta mesma colina de Sião, o local (chamado cenáculo) no qual
Jesus tinha celebrado a Ceia, considerando também como o lugar onde se encontravam os apóstolos no
Pentecostes (At 2,1). Nesta compreensão, Sião era, pois, o lugar de nascimento da Igreja. Na liturgia,
isso orientou a compreensão dos salmos, que evocam Sião e a sua aplicação à Igreja.

8. PALAVRA EXPLICADA 2: VIGÍLIA.


VIGÍLIA. A oração na noite é uma originalidade cristã, como testemunham já os Atos a propósito da
prisão de Pedro (12,12), depois de Paulo e de Silas (16,25), e a propósito do encontro de Troas (20,7). Por
volta do ano 250, um regulamento de comunidade ("Tradição Apostólica" 41) justificava a vigília pela
parábola do cortejo nupcial e o convite de Cristo a vigiar (Mt 25,6.13), para acrescentar: "os antigos que
transmitiram a tradição ensinaram-nos assim que a esta hora toda a criação repousa um momento para
louvar o Senhor: os astros, as árvores, as águas e todos os anjos, com as almas dos justos. Eis a razão
pela qual aqueles que creem devem apressar-se em rezar a esta hora". Do século IV veio-nos o
testemunho de São Basílio de Cesareia: "Entre nós, durante a noite, o povo levanta-se para se dirigir à
casa de oração. Depois de passar a noite numa salmodia repartida em vários coros e na qual intercalam
orações, quando o dia começa já a aparecer, todos juntos, numa só voz e num só coração, fazem subir
para o Senhor o salmo da confissão".

9. ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS: Pensar em Jesus!


Durante a celebração, se houver a coroa de Advento com as quatro velas, pode-se pedir às crianças
para acender a primeira vela, com uma palavra de introdução. Mas pode-se também pensar em algo
relacionado com as palavras de Jesus no Evangelho: "na hora em que menos pensais..." No fundo, ao
longo dos dias, pensamos regularmente em Jesus? Um modo de fazer as crianças pensar em Jesus é
entregar a cada uma, no final da celebração, uma pequena carta, com o título: "Advento 2016 - Eu
penso em ti, Jesus!" E, por baixo, as crianças anotarão, durante a semana, os momentos em que terão
pensado em Jesus.

10. PALAVRA PARA O CAMINHO.


Vigiai! Para esperar o quê? Ou quem? Que esperamos concretamente? Vigiai! Como no tempo de Noé
ou de Jesus, estamos absorvidos por tantos interesses! Vigiai! A vida é curta! Paulo indica-nos alguns
meios muito práticos para ficar vigilantes e reorientar a nossa espera. Vigiai! Em tempo de Advento, em
cada dia da semana que nos é dada para viver!

Você também pode gostar