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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 047555A
Data do Acordão: 13-02-2007
Tribunal: 2 SUBSECÇÃO DO CA
Relator: FERNANDA XAVIER
Descritores: SUSPENSÃO DE EFICÁCIA.
PENA DE DEMISSÃO.
MAGISTRADO.
MAGISTRATURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
GRAVE LESÃO DO INTERESSE PÚBLICO.
RESOLUÇÃO FUNDAMENTADA.
PROVIDÊNCIA CAUTELAR ANTECIPATÓRIA.
REGULAÇÃO PROVISÓRIA.
Sumário: I - Tendo sido indeferido, por decisão transitada em julgado, o
pedido de suspensão de eficácia da pena de demissão aplicada ao
Requerente, pedido que este formulara previamente ao recurso
contencioso interposto desse acto, ainda na vigência da LPTA, e
encontrando-se tal recurso pendente à data da entrada em vigor do
CPTA, pode o Requerente, ao abrigo do artº5º, nº2 da Lei 15/2002,
de 22.02 e dentro dos limites previstos no nº1 do artº124º do
CPTA, pedir a alteração do anteriormente decidido, como pode
requerer a adopção de qualquer outra providência cautelar prevista
ex novo no CPTA, desde que verificados os respectivos
pressupostos, já que foi intenção do legislador alargar a tutela
cautelar, com vista a assegurar a tutela jurisdicional efectiva já
consagrada no artº268º, nº4 da CRP.
II - O artº124º do CPTA permite a alteração, revogação ou
substituição da anterior decisão de adopção ou recusa de uma
providência cautelar, na pendência da causa principal, desde que «
com fundamento na alteração das circunstâncias inicialmente
existentes».
III - Porém, o requerimento formulado ao abrigo do artº124º do
CPTA, não produz os efeitos previstos no artº128º, nº1 e 2 do
mesmo diploma legal, ou seja, não impõe a suspensão automática
dos efeitos do acto, pois tendo o Requerente visto já ser recusada
no processo essa suspensão, por decisão judicial transitada em
julgado, e tendo o acto já sido executado, aquele requerimento, só
por si, não tem a virtualidade de extinguir os efeitos da referida
decisão judicial, que se mantêm até ao trânsito em julgado da
causa principal, a não ser que tal decisão seja alterada nos termos
do citado artº124º do CPTA.
IV - Não ocorre alteração das circunstâncias inicialmente
existentes que justifique a revogação, alteração ou substituição da
anterior decisão que indeferiu, no processo, o pedido de suspensão
de eficácia, se na ponderação dos interesses público e privado em
presença, o prejuízo para o interesse público com a concessão da
providência é incomparavelmente superior ao que o Requerente
teria com a sua recusa ( nº2 do artº120º do CPTA).
V - Já a ponderação desses interesses, na providência
antecipatória, requerida pelo Requerente, a título subsidiário, de
regulação provisória de uma situação jurídica, nos termos do

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artº112º, nº2, e) do CPTA, faz pender a balança para o lado do
Requerente, face à sua situação de grave carência económica.
VI - Pelo que verificando-se os pressupostos da concessão dessa
providência a que alude a alínea c) do nº1 do artº120º do CPTA, a
mesma é de conceder, embora na sua fixação se deva ter em conta
o disposto na 1ª parte do nº3 do mesmo preceito legal, que dispõe
que « as providências a adoptar devem limitar-se ao necessário
para evitar a lesão dos interesses defendidos pelo Requerente.»
Nº Convencional: JSTA00063928
Nº do Documento: SA120070213047555A
Data de Entrada: 06-04-2001
Recorrente: A...
Recorrido 1: CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Votação: UNANIMIDADE
Meio Processual: SUSPEFIC.
Objecto: AC PLENÁRIO DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE
2001/01/31.
Decisão: INDEFERIMENTO.
Área Temática 1: DIR ADM CONT - MEIO PROC ACESSÓRIO / SUSPEFIC.
Área Temática 2: DIR JUDIC / EST MAG.
Legislação Nacional: CPTA02 ART2 ART112 N1 N2 A E ART113 N1 ART120 N1 A C N3 N5 ART124 N1
ART128 N1 N2 ART129.
L 15/2002 DE 2002/02/22 ART5 N2.
LPTA85 ART76 N1 B ART77 N1 ART105 N1.
CONST97 ART268 N4.
Referência a Doutrina: MÁRIO AROSO DE ALMEIDA O NOVO REGIME DO PROCESSO NOS
TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS 2ED PAG304.
Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam, em conferência, os juízes da Secção de Contencioso


Administrativo do Supremo Tribunal Administrativo:
I- RELATÓRIO
A..., com os sinais dos autos, por apenso e como incidente do
recurso contencioso nº47555 que corre termos na 2ª Subsecção,
onde pede a anulação do acórdão do Plenário do Conselho Superior
do Ministério Público de 31.01.2001, que lhe indeferiu a
reclamação do acórdão da Secção Disciplinar do mesmo Conselho
de 14.12.2000, que lhe aplicou a pena disciplinar de Demissão,
vem requerer:
a) A concessão de providência destinada a suspender a eficácia da
pena disciplinar de demissão aplicada ao requerente, permitindo-
lhe exercer as funções de Procurador da República e ser
remunerado por elas;
b) Em alternativa, a regulação provisória da sua situação
económico-financeira mediante a determinação do pagamento, a
título provisório, do seu vencimento como magistrado do
Ministério Público, com a categoria de Procurador da República,
até ao termo do processo;
c) Finalmente e também em alternativa, a antecipação provisória
do pagamento da pensão de aposentação, a que sempre terá direito
nos termos do artº 15º da Lei nº 15/94, de 11 de Maio.

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Alega para o efeito, que estão preenchidos os pressupostos da
concessão das providências cautelares requeridas:
Quanto ao «fumus boni iuri» alega, em síntese, que face à Decisão
de Não Pronúncia do Tribunal da Relação de Lisboa, de
07.04.2003, confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça, por
acórdão de 22 de Junho de 2006, relativamente aos mesmos factos
valorados no processo disciplinar que afastou o requerente de
funções, e ao acórdão do Plenário do CSMP de 11.07.2006, que
autorizou a revisão da pena de demissão, parece evidente que não
só não é manifesta a falta de fundamento da pretensão
impugnatória do agora Requerente como ainda é provável a sua
procedência.
E isto porque não se tratando de um comportamento
administrativo, a sua validade, nem sequer é susceptível de
apreciação pela jurisdição administrativa, relevando, neste aspecto,
as conclusões dos tribunais judiciais.
Existe, assim, uma contradição insanável entre a decisão
disciplinar que considera ter existido um acto ilegal e ilícito e as
decisões judiciais que julgaram o mesmo comportamento legal,
adequado e lícito.
Logo, a probabilidade desta decisão ser materialmente inválida é
bastante elevada, tal parecendo suficiente para dar como
preenchido o requisito «fumus boni iuri», quer na versão menos
exigente, quer na versão mais exigente.
Quanto ao requisito «periculum in mora», também considera estar
preenchido, pois a concessão das providências requeridas são a
única forma de evitar a criação de uma situação de facto
consumado: a absoluta penúria do requerente.
Os factos que suportam a decisão disciplinar de Demissão que lhe
foi aplicada reportam-se ao ano de 1993, quando o requerente
exercia funções de Delegado do Procurador da República, na
comarca de ....
Em consequência da referida punição, desde 27 de Fevereiro de
2003 que o ora Requerente cessou todas as suas funções como
magistrado do MP, com perda de vencimento, sem segurança
social e assistência médica.
Alega não ter bens, nem rendimentos, e as pequenas poupanças
que fez já se esgotaram e os familiares e amigos a que tem
recorrido não podem, por impossibilidades materiais, manter a sua
solidariedade.
Que pretendeu, mas foi-lhe negado o exercício da advocacia, face
à natureza das infracções imputadas ao recorrente, pelo CSMP.
Também não pode recorrer ao crédito bancário, não só por não ter
garantias para a sua concessão, mas também pela simples razão de
que não teria como o pagar.
Desenha-se para o Requerente uma única saída: ter de desistir do
presente recurso contencioso de modo a poder activar a faculdade
concedida pelo artº 15º da Lei da Amnistia de 1994 (Lei 15/94 de

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11.05) e auferir a reforma a que sempre teria direito.
Ou seja, chega-se à conclusão insustentável de que o requerente
para poder sobreviver tem de renunciar ao direito constitucional de
tutela jurisdicional efectiva dos seus interesses e direitos.
Refere que o CSMP, na deliberação em que então reconheceu que
o diferimento da execução da pena de demissão seria gravemente
prejudicial para o interesse público, fundou tal posição no prestígio
e na imagem do Ministério Público.
Neste momento, em que se sabe que, do ponto de vista criminal,
nenhuma censura há a fazer ao comportamento do Requerente, não
é possível deixar de concluir que a manutenção da situação actual
causa danos à imagem, prestígio, bom nome e consideração do
Requerente incomensuravelmente superiores aqueles que
supostamente causaria à imagem do MP a continuação do
exercício de funções.
Considera, pois, que não existe razão para o impedir de exercer
funções e, portanto, para a atribuição do efeito suspensivo ao
recurso.
Se assim se não entender, o que não concebe, entende que sempre
os pedidos alternativos formulados deverão proceder, pois não é
possível deixar de ponderar a situação económica em que se
encontra e que, só por si, justifica, medidas urgentes, ainda que
provisórias.
Tal regulação provisória permitiria, pelo menos, afastar o perigo
imediato de grave carência económica do Requerente e sua
família, não causando qualquer prejuízo ao interesse público, já
que, no demais, a situação manter-se-ia inalterada.
Por outro lado, o artº 15º da Lei 15/94, de 11.05, aplicável ao caso,
tendo em conta o momento da prática do mandado de detenção
censurado, permite a substituição da pena de demissão por
aposentação compulsiva, num prazo subsequente ao trânsito em
julgado das decisões judiciais que tenham apreciado a validade da
sanção.
Em qualquer caso, o Requerente tem o direito de requerer a sua
aposentação, por isso, tendo em conta os danos económicos já
indicados, pede seja antecipada a pensão de aposentação, de modo
a permitir obter uma fonte de rendimento susceptível de assegurar
a sua sobrevivência.
A manutenção da situação actual permite a continuação de danos
irreparáveis na esfera jurídica do Requerente incompatíveis com a
tutela judicial efectiva. Por ironia, o recurso à tutela contenciosa
impede o Requerente de se aposentar.
As providências requeridas não determinam o mais leve dano para
o interesse público.
*
Notificada a entidade requerida para, querendo, deduzir oposição,
veio a mesma juntar aos autos uma “Resolução Fundamentada”,
datada de 08 de Janeiro de 2007, onde refere que «a materialidade

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assente no processo disciplinar e no processo crime permite
concluir que a prestação funcional do Requerente provocou uma
grave depreciação da imagem abalou o prestígio da Magistratura e
dos serviços do Ministério Público», que «já após a prática dos
factos que determinaram a pena de demissão o CSMP aplicou ao
Requerente por acórdão da Secção Disciplinar de 19.07.2006, a
pena de inactividade por um ano, por factos cometidos no
exercício de funções de magistrado do MP na comarca de ..., no
período compreendido entre 1995 e 1999, por violação com
negligência dos deveres profissionais de zelo, obediência e
lealdade», pelo que «o regresso do Requerente ao serviço afectará
gravemente o interesse público que exige uma prestação funcional
que não ponha em momento algum em crise, o rigoroso
cumprimento da lei e o respeito pelos deveres de isenção,
imparcialidade, objectividade, legalidade e honestidade».
O Requerente foi notificado da Resolução Fundamentada, tendo
requerido o seu desentranhamento, por falta de fundamento, já que
se não verificam os pressupostos do nº1 do artº 128º do CPTA e a
condenação da entidade requerida como litigante de má fé, nos
termos do artº456º, nº2, a) do CPC.
A entidade requerida, notificada do referido requerimento pelo
Requerente, veio aos autos pronunciar-se sobre tais pedidos,
concluindo pela sua improcedência.
Inexistindo prova a produzir, vêm os autos à conferência, para
decisão.
*
II - OS FACTOS:
Com vista à decisão do presente incidente, consideram-se
provados os seguintes factos:
a) Por acórdão da Secção Disciplinar do CSMP de 14 de
Dezembro de 2000, foi aplicada ao aqui requerente, a pena
disciplinar de Demissão, concluindo-se que «revelou falta de
honestidade no tratamento privilegiado que deu à participação
apresentada por ... contra ..., o que integra a infracção disciplinar
prevista no artº 159º, nº1, alínea b) da Lei Orgânica do Ministério
Público vigente à data dos factos (Lei 47/86, de 15 de Outubro) e
actualmente no artº 95º nº1 b) do Estatuto do Ministério Público
aprovado pela Lei nº60/98, de 27 de Agosto». (cf. fls.49 a 59,
maxime fls. 59 dos autos principais, que aqui se dão por
integralmente reproduzidas).
b) O Requerente reclamou para o Plenário do CSMP, que por
acórdão de 31 de Janeiro de 2001, indeferiu in totum a reclamação
(cf. fls.145 a 149 dos autos principais, que aqui se dão por
integralmente reproduzidas).
c) O Requerente requereu ao CSMP, em 12.02.2001, a Revisão da
pena disciplinar de Demissão, tendo tal pedido sido indeferido
liminarmente por acórdão de 04 de Abril de 2001 (cf. fls.162 a 166
do processo principal e fls.18 a 33 do rec..../03, em apenso).

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d) O Requerente requereu em 15.02.2001, a suspensão de eficácia
da deliberação referida em b), o que deu origem ao P. ... deste
STA, que correu termos na 1ª Secção e que foi apensado a estes
autos.
e) Por acórdão de 10.05.2001 foi indeferida a providência referida
em b), tendo o Requerente interposto recurso para o Tribunal
Constitucional e para o Pleno da Secção, tendo o primeiro, por
decisão sumária de 23.10.01, não tomado conhecimento do recurso
e o segundo, julgado inexistente a invocada oposição de julgados,
por acórdão de 19.02.2003, transitado em julgado (f. p...., em
apenso).
f) O Requerente interpôs, em 06.04.2001, recurso contencioso do
acórdão do Plenário referido em b), o que deu origem ao processo
principal (rec. 47.555) e em 24.03.2003 interpôs recurso
contencioso da deliberação referida em c), que deu origem ao
processo apenso (rec. .../...).
g) Por despacho de 07 de Abril de 2003, proferido nos autos de
instrução que correram termos contra o aqui Requerente, no
Tribunal da Relação de Lisboa e que respeitam aos factos objecto
do processo disciplinar onde foi aplicada a decisão aqui
suspendenda, foi decidido não pronunciar o arguido, aqui
Requerente, pela prática do crime de corrupção passiva para acto
ilícito, p. e p. pelo artº 420º, nº1 do C. Penal de 1982, também
punido na versão vigente pelo artº372º, nº1 e determinar o
oportuno arquivamento dos autos (cf. fls. 314 a 334 dos autos
principais, que aqui se dão por integralmente reproduzidas).
h) A decisão judicial referida em g), foi confirmada, em recurso,
por acórdão do STJ de 22.06.2005, que transitou em julgado (cf.
fls. 386 a 400 dos autos principais, que aqui se dão por
integralmente reproduzidas).
i) Face às decisões judiciais referidas em g) e h), o requerente
requereu, de novo, a revisão da decisão disciplinar que o puniu
com a pena de demissão impugnada no processo principal, o que
foi autorizado por acórdão do Plenário de 11.07.2006 (cf. fls. 409 a
420 dos autos principais, cujo teor aqui se dá por integralmente
reproduzido).
j) O Requerente cessou todas as suas funções como magistrado do
MP, no dia 27 de Fevereiro de 2003, data em que foi determinada,
pelo CSMP, a execução da decisão impugnada no processo
principal, ao abrigo do artº 80º, nº1 da LPTA (doc. nº1 junto com o
r.i., maxime seu Ponto 1 do “Aditamento à Tabela”).
k) Ao Requerente foi-lhe negada a inscrição na Ordem dos
Advogados, conforme ofício de notificação, onde se refere, em
resposta ao requerimento do Requerente de 25.09.2003, o
despacho que sobre o mesmo recaiu e que ali se transcreve:
«considerando a natureza das infracções imputadas ao requerente
pelo CSMP que revelam da parte do mesmo « Uma conduta
particularmente grave, violadora dos deveres de isenção,

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imparcialidade, objectividade, legalidade estrita e honestidade…»,
bem como o efeito atribuído ao recurso interposto para o STA,
nego ao requerente o levantamento da suspensão e a consequente
inscrição como advogado, o que faço nos termos da alínea e) do
nº1 do artº7º do Regulamento de Inscrição de Advogados e
Advogados Estagiários» (cfr. doc. nº2 junto com o r.i.)
l) Nem o Requerente, nem a sua mulher, declararam qualquer
rendimento para efeitos de IRS, no ano de 2005 (doc. nº3 junto
com o r.i.).
m) O presente processo foi instaurado como incidente ao recurso
contencioso referido em f), em 13.12.2006 (cf. fls.1).
*
III - O DIREITO
1. Embora o Requerente formule no início e no final do seu
requerimento inicial, três pedidos de adopção de providências
cautelares, em sucessiva alternativa, resulta da sua alegação que
cada pedido formulado é apresentado ao Tribunal para ser tomado
em consideração, somente no caso de não proceder o pedido
anterior, pelo que estamos, não perante pedidos alternativos, como
diz, mas sim perante um pedido principal e dois pedidos
subsidiários, como claramente resulta dos artº 61º e 65º do
requerimento inicial e do artº 469º, nº1 do CPC.
Por isso, serão apreciados pela ordem indicada, sendo que a
procedência de um prejudica a procedência do seguinte.
2. O pedido principal, identificado no intróito do requerimento
inicial como a adopção de providência cautelar conservatória de
atribuição de efeito suspensivo ao presente recurso, mais não é do
que a renovação do pedido de suspensão de eficácia da pena
disciplinar de demissão que lhe foi aplicada e é objecto do
processo principal, como resulta da sua fundamentação e o mesmo
acaba por expressamente requerer a final.
Ora, como decorre das alíneas d) e e) do probatório supra, o
Requerente já viu indeferido, nestes autos, idêntico pedido, que
formulou previamente à interposição do recurso contencioso, em
Janeiro de 2001, no âmbito ainda da vigência da LPTA.
Ou seja, o Requerente vem renovar, agora como incidente e no
âmbito do CPTA, o pedido de suspensão de eficácia do acto
contenciosamente impugnado nos autos e que lhe aplicou a pena
disciplinar de demissão.
A primeira questão que se põe é, pois, a de saber, se tal pedido, que
o Requerente viu inicialmente indeferido, pode ser renovado
durante a pendência do processo.
A resposta, parece, terá de ser afirmativa face ao artº 5º, nº2 da Lei
nº15/2002, de 22.02, embora dentro dos limites previstos no nº1 do
artº 124º do CPTA.
Com efeito, dispõe o citado artº5º, nº 2 que «Podem ser requeridas
providências cautelares ao abrigo do novo Código, como
incidentes, de acções já pendentes à data da sua entrada em

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vigor».
Por sua vez, dispõe o citado nº1 do artº 124º que «A decisão
tomada no sentido de adoptar ou recusar a adopção de
providências cautelares pode ser revogada, alterada ou
substituída na pendência da causa principal, por iniciativa do
próprio tribunal ou a requerimento de qualquer dos interessados
ou do Ministério Público, quando tenha sido este o requerente,
com fundamento na alteração das circunstâncias inicialmente
existentes».
Embora o citado artº 5º, nº2 se refira expressamente a acções
pendentes à data da entrada em vigor do CPTA, pode questionar-se
se foi intenção do legislador restringir aquela possibilidade de
requerer providências ao abrigo do novo Código apenas às acções
então pendentes, ou se, se quando se refere acções, pretendeu
abranger quaisquer processos, incluindo os recursos contenciosos.
Sem prejuízo de melhor estudo, que a natureza urgente do
processo não comporta, afigura-se-nos razoável admitir que, pode
não ter sido por acaso, que se referiu acções e não processos
pendentes, como se fez no nº1 do mesmo preceito, para recusar a
aplicação do novo diploma aos processos pendentes.
E até se justificará a restrição, se pensarmos que na vigência da
LPTA, o uso de meios cautelares estava praticamente limitado à
suspensão de eficácia dos actos contenciosamente impugnados e,
portanto, aos recursos contenciosos, pelo que poderá ter-se querido
permitir assim, que as acções instauradas na vigência da LPTA e
ainda pendentes, pudessem beneficiar do novo regime cautelar do
CPTA, tanto mais que os processos cautelares podem agora ser
instauradas como preliminar ou como incidente do processo
principal (cf. artº113º, nº1 do CPTA). Seguindo esta linha de
raciocínio, o legislador pretenderia, assim, afastar os recursos
contenciosos pendentes à data da entrada em vigor do CPTA, o
que também encontra alguma justificação no facto de, nestes
recursos, contrariamente às acções, os recorrentes já terem tido a
possibilidade de utilizar o meio cautelar que lhe é próprio e que,
então, tinha de ser requerido prévia ou simultaneamente com o
recurso - a suspensão de eficácia do acto (cf. artº 77º, nº1 da
LPTA).
No entanto, e agora numa outra perspectiva, não faz muito sentido
excluir “tout court” a possibilidade de, nos recursos contenciosos
pendentes à data da entrada em vigor do CPTA, se requererem as
providências previstas agora naquele diploma, pelo menos aquelas
que não eram permitidas antes, desde logo, porque a intenção
expressamente declarada do legislador e concretizada
designadamente nos artº 2º e 112º do CPTA, foi permitir um
alargamento da tutela cautelar com vista a assegurar a tutela
jurisdicional efectiva, já consagrada no artº 268º, nº4 da CRP, daí
que até se permita hoje que o tribunal adopte outras providências
em cumulação ou em substituição das requeridas, respeitado o

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contraditório, quando tal se revele necessário a evitar a lesão dos
interesses defendidos pelo requerente e seja menos gravoso para os
demais interesses públicos ou privados em presença (cf. artº 120º,
nº3 do CPTA).
Também o facto de o Requerente ter já visto indeferida uma
providência de suspensão de eficácia do acto impugnado, não
parece obstar hoje a que renove tal pedido, desde que as
circunstâncias iniciais se tenham alterado.
Com efeito, o CPTA permite no nº1 do seu artº 124º, que «a
decisão tomada no sentido de adoptar ou recusar a adopção de
providências cautelares pode ser revogada, alterada ou
substituída na pendência da causa principal, por iniciativa de
próprio tribunal ou a requerimento de qualquer dos interessados
ou do Ministério Público, quando tenha sido este o requerente,
com fundamento na alteração das circunstâncias inicialmente
existentes.»
Portanto, prima facie, parece de interpretar o citado artº 5º, nº2 da
Lei 15/2002, de 22.02, pelo menos, no sentido de que o mesmo
não impede, face aos artº 2º, 112º, 113º, nº1 e 124º do CPTA, que
o recorrente contencioso que tivesse pendente o recurso à data da
entrada em vigor do CPTA e tivesse já requerido no mesmo e visto
ser indeferida a providência de suspensão de eficácia do acto,
possa vir agora, na vigência do CPTA, requerer outras
providências previstas ex novo nesse diploma, desde que
verificados os respectivos pressupostos, claro, e ainda requerer, ao
abrigo do artº 124º do CPTA, a alteração, revogação ou
substituição da anterior decisão de indeferimento da suspensão,
desde que «com fundamento na alteração das circunstâncias
inicialmente existentes» como exige aquele preceito legal.
O que nos resolve, para já, a admissibilidade dos pedidos
formulados pelo ora Requerente, designadamente a renovação do
pedido de suspensão de eficácia do acto e permite que o Tribunal
os aprecie, face ao CPTA, o que se passa a fazer.
*
3. Previamente, porém, haverá ainda que resolver outra questão
suscitada pelo Requerente e que respeita ao pretendido
desentranhamento da Resolução Fundamentada, apresentada pela
entidade requerida ao abrigo do nº1 do artº 128º do CPTA, como
expressamente dela consta, com vista a evitar a execução imediata
do acto suspendendo.
O Requerente insurge-se contra essa junção aos autos, por
considerar que se trata de um acto inútil, sem qualquer
fundamento, uma vez que não corresponde ao tipo de acto previsto
no nº1 do artº 128º do CPTA, porque não visa afastar qualquer
efeito suspensivo automático que, no caso, não ocorre, e porque
nunca poderia impedir um qualquer efeito suspensivo
eventualmente determinado por decisão judicial expressa.
A entidade requerida veio pronunciar-se pela necessidade de tal

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Resolução, que, na ausência de oposição ao pedido, que não
deduziu, devia acautelar a eventualidade de o requerente pretender
retomar o exercício de funções – condição indispensável para a
também pedida atribuição de retribuição mensal correspondente.
Vejamos:
Entendemos que o Requerente tem razão quanto à inexistência, no
presente caso, de qualquer efeito suspensivo automático do seu
requerimento a renovar o pedido de suspensão de eficácia do acto.
Com efeito, o Requerente já viu, neste processo, indeferido o efeito
suspensivo agora pretendido, por decisão judicial, transitada em
julgado e há que respeitar essa decisão judicial, enquanto inexistir
outra que a revogue, altere ou substitua, nos termos hoje permitidos
pelo artº 124º do CPTA.
O que significa que até à decisão desta providência cautelar aquela
decisão judicial mantém os seus efeitos, não tendo, naturalmente, o
requerimento inicial apresentado pelo Requerente e aqui em
apreciação, a virtualidade de, por si só, extingui-los.
Portanto, não há o risco, suposto na Resolução Fundamentada
apresentada pela entidade requerida e agora por ela declarado, de o
Requerente reiniciar funções antes da decisão deste processo
cautelar.
O atrás decidido, porém, não impõe o desentranhamento da
Resolução, por inútil, como alegado pelo Requerente.
É que, embora, como referimos, não exista, no presente caso, a
necessidade da referida Resolução para evitar a suspensão
automática dos efeitos do acto, que, em princípio, decorreria, com
a mera notificação à entidade requerida, do requerimento de
suspensão de eficácia, nos termos dos nº1 e 2 do artº 128º do
CPTA, o certo é que, consubstanciando a Resolução o
reconhecimento, pela entidade requerida, de que a adopção da
providência de suspensão de eficácia do acto prejudica gravemente
o interesse público, e não tendo a entidade requerida apresentado
contestação, aquela Resolução terá, pelo menos, o efeito de evitar o
semi-cominatório previsto no nº5 do artº 120 do mesmo diploma
legal, ao dispor, que «na falta de contestação ou alegação de que a
adopção das providências cautelares pedidas prejudica o interesse
público, o tribunal julga verificada a inexistência de tal lesão,
salvo quando esta seja manifesta ou ostensiva.».
Isto entendendo-se, como parece resultar claro da letra do preceito,
que a alegação a que se alude no mesmo, é coisa diferente da
contestação, pois senão não se referiam ambas e, sendo assim, tal
alegação só pode referir-se à Resolução Fundamentada a que alude
o citado artº 128º.
E, se assim for, como parece, pelo menos essa utilidade, aquela
Resolução terá, no presente caso.
Consequentemente, também não se justifica a requerida
condenação da entidade requerida, como litigante de má fé, sendo
que, de qualquer modo, é manifesto que a actuação da entidade

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requerida resulta de uma interpretação das normas legais recentes,
que embora se rejeite, não se revela de tal modo grosseira, e muito
menos dolosa, que justifique a pretendida sanção, atento o disposto
no nº2 do artº 456º do CPC.
*
4. Passemos, então, a apreciar o pedido principal:
O Requerente vem pedir, em primeiro lugar, a suspensão de
eficácia da decisão disciplinar impugnada no processo principal.
Tal decisão aplicou ao Requerente a pena de demissão das
funções, que vinha exercendo, de magistrado do Ministério
Público.
Como já se referiu, o Requerente já viu indeferido, no processo
principal, o pedido de suspensão de eficácia do acto, por acórdão
da 1ª Secção deste STA de 10.05.2001, proferido no âmbito de
anterior providência de suspensão de eficácia, requerida aquando
da instauração do processo principal, acórdão que veio a transitar
em julgado em Fevereiro de 2003, após recurso para o Tribunal
Constitucional, que dele não conheceu e para o Pleno da 1ªSecção,
por oposição de julgados, que considerou não existir a invocada
oposição.
E, como se mostra igualmente provado, na sequência desses
acórdãos, o acto impugnado já foi executado em finais de
Fevereiro de 2003, produzindo todos os seus efeitos, estando o
Requerente afastado do serviço e sem vencimento desde o mês de
Março de 2003.
Ora, a providência de suspensão de eficácia inicialmente requerida
foi indeferida por acórdão do STA de 10.05.2001, com os
seguintes fundamentos, que se transcrevem:
«O acto cuja suspensão de eficácia vem pedida, foi praticado pela
autoridade recorrida, em 31.01.01, confirmando o acórdão de
14.12.2000 da sua Secção Disciplinar, aplicando ao ora requerente
a pena de demissão, por se entender que o seu comportamento
profissional, como Procurador da República no Círculo de ...
violou gravemente os deveres de isenção, de imparcialidade, de
objectividade, de legalidade estrita e de honestidade, uma vez que
pôs ao serviço de interesses particulares os meios e poderes que
legalmente lhe estavam atribuídos, considerando-se tal conduta
incompatível como estatuto de magistrado.
Estando, neste processo, vedada ao tribunal a apreciação da
realidade e exactidão dos pressupostos do acto cuja execução vem
pedida, vejamos se, do teor do acto cuja suspensão vem pedida se
se verificam ou não cumulativamente, como entendimento pacífico
da jurisprudência deste STA, os requisitos p. nas três alíneas do
nº1 do artº 76º da LPTA, sendo certo que a não verificação de um
dos requisitos impõe o insucesso do pedido, tornando
desnecessária qualquer indagação sobre a verificação dos restantes.
Sem dúvida que a privação de vencimentos, única fonte de
rendimento do requerente e com que provém à satisfação das

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necessidades e encargos do seu agregado familiar é susceptível de
lhe causar prejuízos de difícil reparação.
Porém, a controvérsia nestes autos é colocada quanto à (in)
verificação do requisito da al. b), ou seja, a determinação se a
suspensão (não) determina grave lesão do interesse público.
Quanto à verificação deste requisito, com formulação negativa,
interessa, desde já, dilucidar que não está em causa um interesse
público genérico, implícito, aliás, em todos os actos
administrativos, nem interessa a identificação do interesse público
que, em concreto, torne imperativa a não suspensão do acto em
causa.
Para que a lesão do interesse público seja susceptível de não
permitir a suspensão de eficácia, interessa que tal lesão se possa
qualificar como grave, se opere o preenchimento de tal conceito
indeterminado no caso concreto, atendendo aos fundamentos do
acto, às razões invocadas pelas partes, à prognose das repercussões
que, sobre os interesses que o exercício do poder sancionatório
visa preservar, terá a paralisação da execução da pena, atendendo-
se, designadamente, nos interesses de prevenção geral, no reflexo
no regular funcionamento dos serviços e na defesa da sua imagem
e prestígio.
Não estando o tribunal na interpretação do conceito de gravidade
vinculado pelos juízos formulados pela entidade pública ora
requerida, entremos na apreciação da (in) verificação deste
requisito.
Fundamentalmente, o ora requerente foi punido disciplinarmente e
com pena expulsiva, por, no exercício das funções de Delegado do
Procurador da República na comarca de ..., nos finais de 1993, ter
recebido uma participação criminal apresentada por uma pessoa
das suas relações de amizade pessoal, de ter de imediato ordenado
à funcionária que, iludindo os procedimentos legais de distribuição
processual, o processo lhe fosse concluso e de em tal processo, em
contrário do seu habitual critério em outros processos e da não
existência de pressupostos justificativos, ter ordenado a detenção
do arguido para que lhe fosse presente, visando assim no intuito de
proporcionar vantagens negociais ao seu indicado amigo.
Ora, não podem restar dúvidas sobre a gravidade do
comportamento por que o ora requerente foi punido
disciplinarmente.
Se os deveres de isenção e imparcialidade obrigam todos os
funcionários públicos, a sua violação grosseira por quem exerça
funções do magistrado do MP é de extrema gravidade,
incompatível com o estatuto de magistrado.
Mesmo tendo em conta que os factos ocorreram cerca de sete anos
da prolação do acto punitivo, a suspensão da respectiva execução,
neste momento, teria graves repercussões na imagem e no prestígio
da magistratura do MP, em especial e no serviços de administração
da justiça, sendo certo que está inviabilizada a manutenção da

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relação funcional.
Desta forma, temos de concluir que o deferimento da pretensão
lesaria gravemente o interesse público que preside à actuação
funcional dos magistrados do MP, a quem o respeito escrupuloso
pelos deveres de isenção, imparcialidade, objectividade, legalidade
e honestidade, é condição essencial do prestígio da sua actuação e
sua imagem pública de enorme sensibilidade em tais questões, pelo
que se tem por inverificado o requisito da al. b) do nº1 do artº
76ºda LPTA.
Pelas razões expostas acorda-se em indeferir o pedido de
suspensão de eficácia formulado nestes autos.»
Como se vê, o anterior pedido de suspensão de eficácia foi
indeferido, por se ter considerado que não se verificava o requisito
previsto na alínea b) do nº1 do artºx76º da LPTA, então aplicável,
já que o deferimento da pretensão do requerente lesaria
gravemente o interesse público, face à natureza dos factos por que
foi punido e às graves repercussões que tal suspensão teria na
imagem e no prestígio da magistratura do MP, em especial, mas
também nos serviços de administração da justiça, e por isso, estar
inviabilizada a manutenção da relação funcional.
Ou seja, a suspensão foi decretada, por se ter considerado haver
grave prejuízo para o interesse público na continuação do
exercício, pelo Requerente, das suas funções como magistrado do
MP, e, portanto, que não se verificava um dos requisitos então
exigidos pelo artº 76º,nº1 da LPTA, o da alínea b), a saber «a
suspensão não determine grave lesão do interesse público», sendo
que os requisitos ali exigidos eram cumulativos.
A questão que agora se coloca é a de saber se as circunstâncias que
levaram ao indeferimento da providência se alteraram, de modo a
justificar também uma alteração dessa decisão judicial anterior,
nos termos permitidos pelo já citado nº1 do artº 124º do CPTA.
Ora, não obstante ter ocorrido uma alteração da lei aplicável, já
que a LPTA foi revogada pelo CPTA, que prevê a mesma
providência cautelar conservatória de suspensão de eficácia dos
actos administrativos, mas com algumas alterações nos respectivos
pressupostos (cf. artº 120º do CPTA) e de terem, efectivamente,
sido proferidas as decisões penais a que alude o requerente e que
se mostram devidamente documentadas no processo principal,
nenhuma dessas circunstâncias impõe, para já, a alteração do então
decidido.
Senão vejamos:
O pedido de suspensão de eficácia de um acto administrativo está
hoje expressamente previsto no artº 112º, nº2, a) do CPTA e, no
caso de o acto ter sido já executado, no artº 129º do CPTA.
A suspensão de eficácia de actos administrativos, tenham eles já
sido executados ou não, depende, em qualquer caso, do
preenchimento dos pressupostos do artº 120º do CPTA e, portanto,
em particular, da ponderação dos interesses públicos e privados em

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presença a que se refere o seu nº2. Cf. Mário Aroso de Almeida, O
Novo Regime do Processo nos Tribunais Administrativos, 2ª edição, p. 304

Dispõe este preceito legal, na parte agora relevante:


1. Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, as
providências cautelares são adoptadas:
a) Quando seja evidente a procedência da pretensão formulada ou
a formular no processo principal, designadamente por estar em
causa a impugnação de acto manifestamente ilegal, de acto de
aplicação de norma já anteriormente anulada ou de acto idêntico a
outro já anteriormente anulado ou declarado nulo ou existente;
b) Quando, estando em causa a adopção de uma providência
conservatória, haja fundado receio de constituição de uma situação
de facto consumado ou da produção de prejuízos de difícil
reparação para os interesses que o requerente visa assegurar no
processo principal, e não seja manifesta a falta de fundamento da
pretensão formulada ou a formular nesse processo ou a existência
de circunstâncias que obstem ao seu conhecimento de mérito;
c)….
2. Nas situações previstas nas alíneas b) e c) do número anterior, a
adopção da providência ou das providências será recusada quando,
devidamente ponderados os interesses públicos e privados em
presença, os danos que resultariam da sua concessão se mostrem
superiores àqueles que podem resultar da sua recusa, sem que
possam ser evitados, ou atenuados pela adopção de outras
providências.
(…)
Hoje, contrariamente ao que acontecia face à LPTA, há
possibilidade de decretar qualquer providência cautelar apenas
verificado o requisito “fumus boni iuri”, desde que seja evidente a
procedência da pretensão formulada ou a formular no processo
principal, nos termos da alínea a) do artº 120º, supra transcrita.
Nesse caso, não há necessidade de verificar a existência do
segundo requisito, previsto nas restantes alíneas do citado preceito
legal, ou seja, o “periculum in mora” .
Ora, essa evidência de procedência do processo principal deve,
naturalmente, poder ser facilmente constatada pela simples leitura
da petição, ou resultar, de forma inequívoca e, portanto, sem
qualquer esforço exegético, de qualquer documento junto ao
processo.
O recurso contencioso interposto pelo aqui Requerente tem por
fundamento vários vícios de que padeceria a decisão disciplinar
impugnada, vícios de procedimento, de forma e de fundo, sendo
que a complexidade do processo (que já teve alegações
complementares, onde foram arguidos novos vícios face à junção
do processo instrutor, que tem oito volumes, e articulados
supervenientes com junção de decisões penais que motivaram a
autorização pela entidade requerida do pedido de revisão da
decisão disciplinar aqui impugnada, ainda pendente) não se

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compadece, como é bom de ver, com esse tipo de análise, não se
podendo ter por manifesta a procedência da pretensão do
requerente formulada no recurso, nem face às decisões penais de
não pronúncia juntas aos autos, como pretende o Requerente, dado
a reconhecida autonomia entre o processo disciplinar e o processo
criminal e a conhecida polémica sobre os efeitos da decisão penal
no processo disciplinar, questão suscitada no processo principal e
que nele foi apreciada, nem face ao acórdão proferido hoje no
processo principal, que julgou procedente o recurso e anulou o
acto.
Portanto, não se verificando o referido pressuposto, fica arredada,
a possibilidade de concessão da providência com fundamento na
citada alínea a) do artº 120º do CPTA.
*
Quanto à alínea b), o requisito de “fumus boni uiri” é muito menos
exigente, uma vez que apenas se exige que não seja manifesta a
falta de fundamento da pretensão formulada ou a formular no
processo principal ou que não existam circunstâncias que obstem
ao seu conhecimento de mérito.
É que tal preceito aplica-se apenas às providências conservatórias,
como é o caso, e como estas se destinam a manter o status quo
existente à data do acto contenciosamente impugnado, a exigência
aqui é menor quanto à aparência de bom direito.
Exige-se ainda, neste caso, a verificação de outro requisito, o
“periculum in mora”, decorrente de existir fundado receio de
constituição de uma situação de facto consumado ou da produção
de prejuízos de difícil reparação para os interesses que o
Requerente visa acautelar com o processo principal.
Só que, não basta a verificação desses dois requisitos, para a
concessão da providência, que no caso e sem esforço se têm por
verificados, há ainda que ponderar os interesses, público e
privado, em presença, devendo a providência ser recusada quando
os danos que resultariam da sua concessão se mostrem superiores
aqueles que podem resultar da sua recusa, sem que possam ser
evitados ou atenuados pela adopção de outras providências (cf.
citado nº2 do artº 120º).
Ora, os prejuízos que decorrerão para o interesse público do
regresso imediato do Requerente às funções de Procurador da
República, caso a sua pretensão formulada no processo principal
venha ainda a improceder, serão extremamente graves para a
imagem e o prestígio da justiça e da magistratura, tanto mais que o
Requerente já está afastado das funções desde 2003, por este
tribunal ter considerado, já então, que existia grave prejuízo para o
interesse público na sua continuação ao serviço, face à gravidade
dos factos por que foi punido disciplinarmente, incompatível com
as funções de magistrado do MP.
É certo que, hoje mesmo, como se referiu, foi proferido acórdão,
no processo principal, a conceder provimento ao recurso

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contencioso e a anular a decisão disciplinar aqui impugnada, mas
tal acórdão, obviamente, ainda não transitou em julgado e a lei
atribui efeito suspensivo ao eventual recurso que dele venha a ser
interposto (artº 105º, nº1 da LPTA). O que significa que a situação
do Requerente, relativamente à sua pretensão formulada nestes
autos, não está ainda definitivamente definida, pois se o estivesse o
presente processo cautelar teria perdido qualquer utilidade, já que
visa precisamente acautelar a utilidade do acórdão que defina, com
trânsito em julgado, a sua situação (cf. nº1 do artº 112º do CPTA).
Assim, e para o que aqui interessa, que é a ponderação de
interesses publico e privado em presença, o que importa um juízo
de proporcionalidade, forçoso é concluir que os prejuízos para o
interesse público, que a eventual concessão da providência
acarretaria, caso a decisão de procedência do processo principal,
agora proferida, viesse a ser revogada, seriam incomparavelmente
superiores, aos prejuízos que o Requerente sofreria com a recusa
da suspensão do acto, caso a decisão de procedência venha a
transitar.
Já quanto à suspensão da eficácia do acto, na parte que respeita ao
não pagamento ao Requerente do respectivo vencimento, a questão
seria diferente.
Aí, pelo contrário, os danos que resultariam para o interesse
público da concessão da providência, nessa parte, são
manifestamente inferiores aos danos que sofreria o Requerente
com a sua recusa, já que se verifica uma grave situação de carência
económica deste, que não recebe vencimentos desde Março de
2003 e não tem outros rendimentos para prover ao seu sustento e
da sua família.
Porém, não pode haver suspensão parcial da eficácia do acto que
aplicou uma pena de demissão, já que tratando-se de uma pena
expulsiva, e sendo o pagamento do vencimento uma mera
decorrência do vínculo laboral, não podendo subsistir sem a
existência desse vínculo, cessando este, o vencimento não se pode
manter.
De resto, sendo a suspensão de eficácia do acto uma providência
conservatória, visando, pois, conservar o status quo e, portanto, no
caso, a relação laboral existente à data em que o acto suspendendo
foi praticado, a suspensão parcial do acto só quanto ao vencimento,
nunca poderia lograr esse desiderato. Aliás, em rigor, já não se
trataria de suspender a eficácia do acto, já que o requerente
continuaria demitido, mas de pagar um vencimento, sem prestação
efectiva laboral, o que não tem base legal.
Portanto, face ao exposto, indefere-se a requerida suspensão de
eficácia.
*
5. Passamos a conhecer o primeiro pedido subsidiário:
Para o caso de não proceder a requerida suspensão de eficácia, o
Requerente veio requerer uma providência cautelar antecipatória,

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traduzida na determinação da atribuição provisória do seu
vencimento de magistrado do MP, com a categoria de Procurador
da República, até que o processo termine, dado ser provável que a
sua pretensão formulada no processo principal venha a proceder e
atento a sua grave carência económica e a inexistência, neste caso,
de qualquer lesão para o interesse público, já que, no demais, a
situação se manteria inalterada.
Essa providência está expressamente prevista na alínea e) do nº2
do artº 112º do CPTA, que dispõe que as providências cautelares a
adoptar podem consistir, designadamente na «Regulação
provisória de uma situação jurídica, designadamente através da
imposição à Administração do pagamento de uma quantia por
conta de prestações alegadamente devidas ou a título de
reparação provisória.»
É precisamente o caso, já que se a acção for definitivamente
julgada procedente, o Requerente poderá, em execução do julgado,
vir formular pretensão indemnizatória para ressarcimento de
eventuais danos sofridos com o acto anulado.
Ora, nos termos da alínea c) do nº1 do artº 120, «Quando, estando
em causa a adopção de uma providência antecipatória, haja
fundado receio de constituição de uma situação de facto
consumado ou da produção de prejuízos de difícil reparação para
os interesses que o requerente pretende ver reconhecidos no
processo principal e seja provável que a pretensão formulada ou a
formular nesse processo venha a ser julgada procedente.»
No presente caso, estão reunidos os dois requisitos exigidos por
este preceito legal.
Como já referimos, a propósito do pedido de suspensão de eficácia,
face ao alegado pelo Requerente, que não foi sequer contestado
pela entidade requerida e está sumariamente demonstrado, a sua
situação é de grave carência económica, pelo que se tem por
verificado o «periculum in mora».
Nas providências antecipatórias, o «fumus boni iuri» é mais
exigente que nas providências conservatórias, pelo que não basta
que não seja manifesta a falta de fundamento da pretensão
formulada no processo principal, tem de ser provável que a
pretensão formulada venha a ser julgada procedente.
Ora, como também já referimos, hoje mesmo, foi proferido
acórdão no processo principal, a conceder provimento ao recurso
contencioso e a anular a decisão disciplinar que aplicou ao
Requerente a pena de demissão, o que, só por si, revela uma alta
probabilidade da sua pretensão vir a sair vencedora.
Igualmente, e como já se demonstrou atrás, na ponderação dos
interesses público e privado em presença, neste caso, a balança
pende, sem dúvida, para o lado do Requerente.
Aliás, não tendo havido contestação da entidade requerida, nem
alegação de que esta concreta providência prejudicaria o interesse
público, e não sendo, pelas razões já referidas, manifesta ou

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ostensiva essa lesão, sempre o tribunal teria de julgar verificada a
sua inexistência, nos termos do nº5 do artº 120º do CPTA.
Pelo que, verificando-se os pressupostos da concessão da
providência antecipatória, requerida, há apenas que decidir agora o
montante a fixar.
Ora, o Requerente pede que lhe seja pago, a título provisório, o seu
vencimento como magistrado do MP, com a categoria de
Procurador da República, até ao termo do processo.
No entanto, a lei determina que as providências cautelares a
adoptar se devem limitar ao necessário para evitar a lesão dos
interesses defendidos pelo requerente (1ª parte do nº3 do artº 120º
do CPTA).
Tratando-se, no caso, de uma providência cautelar antecipatória,
que pretende regular provisoriamente uma situação jurídica através
de uma imposição à Administração do pagamento de prestações
por conta de prestações alegadamente devidas ou a título de
reparação provisória, a importância a fixar, não tem, obviamente,
que corresponder a essas prestações, e, no caso, não tem que
corresponder ao vencimento de Magistrado do MP, com a
categoria de Procurador da República, mas, como vimos, apenas
ao necessário para evitar a lesão dos interesses defendidos pelo
Requerente, sendo certo que, face aos elementos de que dispomos
(estatuto social, situação de casado, cônjuge sem rendimentos),
considera-se adequado para o efeito, o pagamento ao Requerente
de uma importância mensal, que se fixa em 2000, até à decisão
definitiva do processo principal.
E, nessa medida, concede-se a requerida providência antecipatória,
ficando, assim, prejudicada a apreciação do segundo pedido
subsidiário.
*
IV - DECISÃO
Termos em que acordam os juízes deste Tribunal em:
a) Julgar improcedente o pedido formulado, a título principal,
de suspensão de eficácia da decisão disciplinar impugnada.
b) Julgar parcialmente procedente o primeiro pedido
formulado a título subsidiário, e em consequência, condenar a
entidade requerida a pagar ao Requerente, a título provisório,
a importância mensal de 2.000, com efeitos a partir da
presente data e até ao trânsito em julgado do processo
principal.
b) Julgar prejudicado o segundo pedido formulado também a
título subsidiário.
Custas pelo requerente (artº 453º, nº1 do CPC).
Lisboa, 13 de Fevereiro de 2007. Fernanda Xavier (relatora) –
Angelina Domingues – São Pedro.

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