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INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

QUESTIONÁRIO DO SEMINÁRIO IV
Extinção da Obrigação Tributária, Compensação e Repetição de
Indébito

27 de agosto de 2019
QUESTÃO 01

Paulo de Barros1 nos ensina que, para se criar uma obrigação tributária, e
consequentemente um crédito tributário, seria necessária a presença de um sujeito ativo
(com direito subjetivo de exigir uma prestação), um sujeito passivo (dever jurídico de
cumprir uma prestação) e um objeto. Desses três elementos nasce um vínculo que é
responsável pelo concebimento da obrigação tributária e do crédito tributário. Se um
desses elementos deixar de existir, aquele vínculo também deixa, extinguindo, dessa
forma, a obrigação e o crédito.
Nesse sentido, há uma crítica à expressão “extinção do crédito tributário”, porque,
quando um daqueles elementos somem da relação jurídica, não só o crédito irá ser extinto,
mas também a obrigação e todo traço do vínculo jurídico. “A extinção do crédito é
concomitante ao desaparecimento do vínculo obrigacional”2.
Também conforme doutrina desse autor, a qual tem minha concordância, não seria
correto separar as 11 causas de extinção do art. 156 em modalidades de fato e de direito
(momento em que somente prescrição e decadência seriam causas de direito e o resto de
fato).
Ele relembra que todas as onze hipóteses de extinção, de algum modo, são
jurídicas, estando dessa forma dentro do direito. A partir do momento que os fatos sociais
adentraram o mundo jurídico (desde até a primeira notificação do lançamento, linguagem
prevista no ordenamento jurídico), os atos se tornaram de direito. A partir do momento
em que o fato social foi expresso em um documento jurídico, todos os fatos a partir daí
se tornariam de direito. São todos fatos carregados de juridicidade.
É certo que algumas modalidades podem ser consideradas como verdadeiros
institutos jurídicos, como o pagamento, a compensação, a transação, a remissão, a
prescrição e a decadência. Mas todos eles são jurídicos, estão carregados de fatos
jurídicos3.

QUESTÃO 02

O art. 165 do CTN já expressa que a pessoa legítima para pleitear a repetição de
indébito é o sujeito passivo da obrigação (é o contribuinte de direito).

Todavia, existem casos em que o sujeito passivo substitui (na prática) a pessoa
que efetivamente irá arcar com o tributo indevido. Assim, o sujeito passivo (contribuinte
de direito) transfere o valor adimplido ao Fisco para os seus clientes, incorporando tais
quantias dentro dos valores dos serviços ou mercadorias. Entretanto, mesmo aqui, a

1
Curso de Direito Tributário, p. 451- 452.
2
Idem, p. 453.
3
Idem, p. 455.
responsabilidade de pleitear a repetição de indébito é do sujeito passivo (contribuinte de
direito).

O art. 166 do CTN afirma que a restituição de tributos que comportem


transferência de encargos financeiros a terceiros, somente será feita a quem prove haver
assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este
expressamente autorizado.

Para muitas pessoas esse artigo poderia causar confusão, mas resta claro que, por
mais que tenha transferido o encargo para terceiro (tendo este terceiro autorizado ou não
a transferência), há aqui uma relação civil, uma relação privada entre o contribuinte de
direito e o contribuinte de fato. O Fisco nada tem a ver com a relação dos dois.

Tanto é assim que o art. 123, também do CTN, afirma que as convenções
particulares não podem ser opostas à Fazenda Pública, por não ter nenhum efeito
modificativo dos termos da relação obrigacional tributária4. A responsabilidade do
pagamento do tributo é do sujeito passivo de direito.

Posteriormente, o sujeito de fato poderá entrar com uma ação regressiva ao sujeito
de direito. Tudo no meio privado. O Fisco, repito, nada tem a ver com a relação entre os
dois. “O terceiro que suporta o ônus econômico do tributo não participa da relação jurídica
tibutária,”5

Desse modo, o art. 166 deve ser interpretado com o art. 123 do CTN, para que não
haja incompreensões.

Por conseguinte, considero acertada a interpretação feita no Resp n. 903.394/AL


(anexo I), já que ratificou meus argumentos e ainda apresentou mais, afirmando que os
contribuintes de fato não obtêm legitimidade ativa numa restituição de indébito. Por outro
lado, discordo totalmente do Resp. n. 1.299.303.

Isto porque, se no primeiro foram apresentados argumentos de que TODOS os


contribuintes de fatos não têm a legitimidade ativa na restituição de indébito, seguindo a
linha de raciocínio acima exposta, não poderia o Tribunal, num segundo julgamento,
afirmar que os contribuintes de fato (de fornecimento de energia) seriam legítimos na
repetição de indébito. Ora, contribuinte é contribuinte, independentemente do tipo de
relação (seja de distribuição de bebida ou de fornecimento de energia elétrica). Não é
porque são contribuintes de fato de energia elétrica que o art. 123 deve ser ignorado. Os
casos são diferentes, mas as circunstâncias são as mesmas.

QUESTÃO 03

É bom relembrar o que diz o art. 3° do CTN:

4
MACHADO, Hugo de Brito. Inoponibilidade das convenções particulares à fazenda pública:
inteligência do art. 123 do CTN. Revista do Curso de Mestrado em Direito da UFC. Fortaleza: Edições
Universidade Federal do Ceará, semestral, 2009/2, p. 64.
5
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário – Linguagem e Método. 2. Ed. São Paulo, 2008, Ed.
Noeses, pág. 583.
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
(grifo meu)

Percebe-se que a expressão “em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir”
recebeu um destaque especial. Essa passagem deixa claro que a forma de pagamento de
um tributo é pela moeda, em dinheiro. Em contrapartida, logo após se afirma “ou cujo
valor nela se possa exprimir”, deixando em aberto para outros tipos de pagamento. Por
isso que não acredito que a dação em pagamento de bens imóveis alteraria este artigo.

Por outro lado, Paulo de Barros6 expressa que “o sistema não admite a prestação
in natura”, ou seja, o sistema não admite pagamento o pagamento por meio de entrega
de bens. Agora aqui sim existiria a contradição ao art. 3°, só aceitando se existisse uma
lei complementar dispondo sobre a dação de pagamento em bens imóveis e móveis (desde
que não fira o princípio da licitação e do interesse público).

E foi assim que ocorreu no caso dos bens imóveis, após a criação da Lei
Complementar n. 104/01, seriam válidas a prestação in natura dos bens imóveis (dação
em pagamento de bens imóveis como causa extintiva do crédito tributário (e também
obrigação)).

A meu ver, mesmo antes dessa lei complementar, a dação em pagamento de bens
imóveis (e até móveis) eram válidas. Isto porque tais bens podem ser expressos em
moeda, conforme determinado pelo art. 3°. No entanto, caberia à Fazenda Pública analisar
se os Princípio da Licitação e do Interesse Público estariam sendo desrespeitados. Para
mim, os dois tipos teriam aplicação jurídica.

QUESTÃO 04

Para melhor entendimento do que seria a Compensação tributária, pego


emprestada a definição expressa no art. 368 do Código Civil “Se duas pessoas forem ao
mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações se extinguem, até onde
se compensarem”.
O Direito Tributário acolheu essa definição, mas deixou claro que a compensação
como forma extintiva somente seria aceita se uma lei autorizasse, conforme redação do
art. 170 do CTN. Outra peculiaridade no Direito tributário é que, no parágrafo único do
mesmo artigo, admite-se a compensação com dívidas vincendas.
Desse modo, o direito subjetivo à compensação tributária nasce a partir do
momento em que lei autorizando esta forma de extinção seja editada, validada e entre em
vigor. Depois de vigente a lei, “o direito de proceder à compensação será o do surgimento,
no mundo do direito, do fato do pagamento indevido e do consequente fato relacional do
débito do fisco”7.

6
Curso de Direito Tributário, p. 457- 458.
7
CONRADO. Paulo Cézar. Compensação Tributária e Processo, p. 144
No caso dado em exemplo, a lei que limita a compensação, se comparadas à
legislação até então vigente, realmente impactam o exercício do direito de compensar,
mas só referente aos casos surgidos após a vigência dessa segunda lei. Por outro lado,
todos aqueles casos que possibilitaria a compensação ocorridos antes da vigência da
segunda lei possuem direito adquirido. Casos antes da segunda lei – há direito adquirido.
Casos após a vigência da lei – limitam a compensação.

QUESTÃO 05

Convém, de antemão, exprimir que a Súmula n. 212 do STJ veda a concessão de


liminar para autorizar a compensação. Após, a LC n. 104/01 trouxe o art. 170-A para o
CTN, deixando claro que é preciso o trânsito em julgado da sentença autorizativa de
compensação. Decisão falha, já que algo que, por uma liminar já poderia deixar de existir,
espera-se o transito em julgado. Se o juiz entendesse no final do processo de que não seria
caso de compensação, era somente anular a compensação. Nenhum risco traria ao erário.8
De todo modo, não é possível a compensação de indébito discutido em ação
judicial antes do trânsito em julgado.

QUESTÃO 06

a) Acredito que sim, a homologação é requisito para a extinção da relação


obrigacional, se não for homologada, o art. 41, §4º, da IN 1.300/2012 já deixa
claro que há uma confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para a
exigência dos débitos indevidamente compensados.
b) Seria quando o sujeito passivo adultera ou omite informações ao Fisco.
Quando isso ocorre, será aplicada multa isolada de 100 %, conforme art. 18, §
16.
c) Acredito que fere os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, isto
porque o percentual é extremamente elevado, fazendo com que o contribuinte
se sinta receoso que questionar o Fisco em qualquer situação, ferindo também
o princípio da petição. Sim, é inconstitucional. Se o débito só pode ser extinto
com a homologação (transitado em julgado) da compensação, não teria como
existir o débito que já tenha sido objeto de compensação não homologada.

QUESTÃO 07

A meu ver, sim, é possível em direito subjetivo no caso acima.


O direito subjetivo ocorre quando uma pessoa é titular de um direito e entende que
poderá acionar a justiça para a validação desse direito.

8
MOREIRA, André Mendes. Extinção do Crédito tributário: uma análise crítica, p.14.
Por mais que tenha havido recurso repetitivo em uma causa semelhante, o juiz
deverá analisar seus fatos e, consequentemente, seu direito subjetivo. No entanto, fica a
chance desse pedido ser deferido será mínima. Mas isso não limita seu direito de lutar
pelo o que acha certo. Qualquer pessoa pode entrar na justiça, mas isso não quer dizer
que a decisão pretendida irá ocorrer.

QUESTÃO 08

a) Objeto
b) Objeto
c) Direito subjetivo e dever jurídico correlatado.
d) Direito subjetivo de que é titular o sujeito pretensor
e) Direito subjetivo e dever jurídico cometido ao sujeito
f) Direito subjetivo e dever jurídico cometido ao sujeito
g) Objeto
h) Direito subjetivo e dever jurídico
i) Objeto
j) Direito subjetivo e dever jurídico
k) Direito subjetivo e dever jurídico
l) Objeto

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