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Tecnologias da Informação na Comunicação:

para onde estamos caminhando?


Taís Marina Tellaroli
Universidade Metodista de São Paulo

Resumo a forma de produção e disseminação de in-


formações pautado no dispositivo comunica-
Este artigo tem como proposta discutir a
cional todos-todos, no qual não existe apenas
Sociedade do Conhecimento com base na
um emissor, mas sim milhares.
mudança de paradigma causada pelas Tec-
Todas as mudanças serviram de inspiração
nologias da Informação na Comunicação
aos teóricos que nomearam a sociedade com
(TIC’s). Com o advento da World Wide Web,
diversos termos, cada qual seguindo uma
os processos comunicacionais ganham novos
linha de pensamento. A sociedade do século
formatos (blogs, jornais on-line, fotologs,
XXI também é conhecida como Sociedade
twitter, Orkut, entre outros) e possibilidades
da Informação, Sociedade em Rede, So-
(hipertexto, interatividade, memória, veloci-
ciedade Global, Sociedade Tecnológica, So-
dade etc.) trazendo novos sentimentos e
ciedade do Conhecimento, Sociedade Pós-
angústias aos homens. A ansiedade de in-
Industrial, Aldeia Global1 , entre outros. Se-
formação causada pela avalanche de infor-
gundo Sebastião Squirra (2006), é vasto
mações digitais é um problema a mais a
o território da Sociedade da Informação e
ser administrado por aqueles que adentraram
os autores “enfocam o assunto dos mais
o mundo da tecnologia. Questões como
diferentes ângulos e objetivos e com os
acesso, identidade virtual e direitos autorais
mais diferentes pressupostos teóricos e seg-
são outros pontos discutidos neste trabalho.
mentação científica” (SQUIRRA, 2006, p.
Palavras-chave: Internet, Tecnologia,
4). Para se chegar à Sociedade do Con-
Ciberespaço, Ansiedade de Informação.
hecimento, de acordo com Koichiro Mat-
A sociedade atravessa um período de
suura (2005), é preciso quebrar cinco bar-
transformações culturais, mercadológicas e
1
econômico-sociais ao longo de sua existên- “Aldeia Global” foi o conceito usado pelo
cia. Nos últimos anos, porém, a mudança canadense Marshall Mcluhan, no livro “O meio é a
mensagem”, para explicar a interligação de todas as
foi surpreendente, motivada pelo advento
regiões do planeta através da revolução tecnológica
das Tecnologias da Informação na Comu- das telecomunicações permitindo comunicação ime-
nicação (TIC’s). Com destaque surge um diata, mas, na época, o autor elegeu a Televisão como
novo meio de comunicação – o computador meio integrado globalmente.
com conexões via Internet – que modifica
2 Taís Marina Tellaroli

reiras: abismo digital (onde há ausência de sar de ser um romance ficcional, o termo
conexão/acesso), abismo cognitivo, conhec- ciberespaço foi trazido para a realidade das
imento restrito a algumas regiões, equili- tecnologias digitais e aplicado para definir
brar conhecimento com propriedade intelec- o espaço virtual. O ciberespaço é consid-
tual e, por fim, quebrar preconceitos devido erado um lugar no qual a sociedade inter-
às diferenças sociais, culturais, divisão de age ao utilizar ferramentas de comunicação
gêneros etc. diferentes da mídia tradicional, um espaço
Apesar de a Sociedade do Conhecimento onde as mensagens tornam-se interativas e se
estar longe de atingir a totalidade da pop- metamorfoseiam pela rede.
ulação devido à exclusão digital e analfa- A mídia tradicional não facilita a troca de
betismo, já está em um caminho sem volta informações entre emissor e receptor, mas
quando o computador pessoal transformou- no interior do ciberespaço é possível inter-
se em computador conectado, colocando as agir, pois existem ferramentas digitais, dis-
pessoas na era da conexão em rede, onde positivos como o hipertexto, multimídia in-
as informações estão mais disponíveis e terativa, mundos virtuais, tecnologias que
acessíveis. A comunicação na plataforma se desenvolvem constantemente e atraem a
digital tornou-se novidade em alguns aspec- atenção dos receptores para o mundo conec-
tos. Surgem suportes inovadores para a tado. Segundo André Lemos (2003), o de-
troca de informações como: o e-mail (cor- senvolvimento tecnológico vai permitir no-
reio eletrônico), salas de bate-papo (pessoas vas formas de sociabilidade, transformando
de qualquer lugar do mundo podem conver- as relações do homem com as tecnologias
sar pela Internet), jogos em rede (pessoas da comunicação e informação e também
em computadores localizados em qualquer a relação do homem com o espaço e o
lugar do planeta disputam jogos pela rede), tempo. "Cada transformação midiática altera
blogs (diários pessoais), fotologs (compartil- nossa percepção espaço-temporal, chegando
hamento de fotos pela Internet), jornais on- na (sic) contemporaneidade a vivenciar-
line (migração da mídia tradicional para a mos uma sensação de tempo real, imedi-
mídia digital). Ocorre uma grande trans- ato, 'livre', e de abolição do espaço físico-
formação devido à convergência das mídias geográfico" (LEMOS, 2003, p. 14). A sen-
trazida pela tecnologia digital. sação de tempo real dá-se, nessa nova so-
ciedade, devido à velocidade instantânea no
envio e recebimento de mensagens via com-
1 Ciberespaço: mundo conectado
putador, o acesso à informação é imediato.
Usada pela primeira vez pelo escritor
canadense de ficção científica William Gib- Castells (1999) define o tempo virtual,
son, no livro Neuromancer (publicado em tempo que, devido às tecnologias da comu-
1984), a palavra ciberespaço (cibernético nicação, oferece a flexibilidade da comuni-
+ espaço) serviu para criar um lugar não- cação instantânea e possibilita o diálogo em
territorial, sem fronteiras, composto por mil- tempo real. Hoje, as notícias são disponibi-
hares de informações que circulam em um lizadas "ao vivo", tanto pela TV, Internet, rá-
conjunto de redes de computadores. Ape- dio, no mesmo momento em que ocorrem.

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Já a abolição do espaço físico ocorre pela A Internet como meio de comunicação


fluidez das redes digitais, um ponto pode ressalta aos olhos características já conheci-
comunicar-se com qualquer outro ponto in- das das mídias tradicionais, a diferença está
dependente de lugar físico. na potencialidade de tais elementos. A inter-
O ciberespaço é apresentado por Britto atividade, por exemplo, é conhecida através
(2005) como um espaço público, local onde do rádio, veículo que estimula a participação
são debatidos temas sobre a coletividade, dos ouvintes pelo uso do telefone, porém são
aflorando a opinião pública e o interesse recursos muito limitados, assim como os jor-
público, apesar de esse espaço possibilitar nais impressos que recebem cartas e também
o debate entre diversos setores da sociedade telefonemas dos leitores.
(governo, sociedade e terceiro setor), sua ar- A interatividade dinamiza a participação
quitetura está sendo construída por milhões dos consumidores na geração de serviços e
de pessoas, porém sofre a interferência de se- na constituição de novos mercados de in-
tores oligárquicos da sociedade mundial. formação e divertimento. Para isso, é vital
simplificar os dispositivos de conexão dos
usuários com os veículos, seja através de lig-
2 Internet como plataforma de
ações telefônicas, fax ou e-mail (DIZARD,
comunicação 2000, p. 233).
Na década de 1990, a Internet começou a se A interatividade pela Internet exibe difer-
espalhar pelo mundo, conectando pessoas e entes capacidades tecnológicas e de inter-
servindo de plataforma para disseminação de ação: sincrônica, no caso das salas de bate-
informações, em 1996, já era usada com fre- papo e assincrônica quando utiliza correio
quência nos países desenvolvidos. Ainda na eletrônico e fóruns.
década de 1990, segundo Dizard (2000, p. Outra ferramenta que se destaca na rede
24), a rede expandiu-se 50% a cada ano com é o hipertexto, pois remete o leitor a diver-
a conexão de 300 milhões de computadores sos caminhos ao acessar uma página na In-
pessoais em mais de 150 países. Desde a ternet. As primeiras ideias sobre o hipertexto
sua popularização, há mais de 15 anos, a In- são relacionadas ao físico e matemático Van-
ternet vem conquistando espaço em todo o nevar Bush (1945) ao publicar, em 1945, o
mundo, assumindo as relações de comércio, artigo “as we may think”2 . O autor propõe
divulgação de informações, tornando-se um em seu projeto “Memex” (Memory exten-
canal de relacionamento entre pessoas de di- sion) um aparelho dotado de memória para
versas localidades e promovendo a comuni- armazenar diversos tipos de informação que
cação. No início de sua expansão, a Internet permita o elo entre os documentos, execu-
distribuía apenas dados impressos e algumas tando o processo de busca por informações,
informações gráficas, mas essa limitação de- por associação, assim como o cérebro hu-
sapareceu e vem sendo intensificada devido mano. O “Memex” consiste em uma es-
ao recurso multimídia capaz de manipular crivaninha que poderia armazenar, na forma
dados em vídeo, voz e impresso (DIZARD, 2
“Segundo a nossa maneira de pensar”. Tradução
2000, p. 27). da autora.

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de microfilmagens, centenas de documentos. Hoje, trabalha-se com a ideia de Web semân-


“Em cima há telas translúcidas inclinadas, tica, uma extensão da web em que permitirá
em que o material pode ser projetado para aos homens e aos computadores trabalharem
fácil leitura. Há um teclado, e conjuntos de de forma cooperativa, onde as palavras e os
botões e alavancas” (BUSH, 1945, online). conteúdos disponíveis na Internet terão sen-
Vannevar Bush já imaginava - há 64 anos tido e serão perceptíveis ao homem e ao
- o que hoje chamamos de computador, computador.
porém, com algumas diferenças. A escrivan- Douglas Engelbart3 foi o responsável por
inha teria ampla capacidade para armazenar desenvolver uma série de inovações tec-
documentos, mas por serem microfilmes não nológicas como o processador de texto, a
poderiam ser editados como hoje é feito em utilização de redes, a interface de janelas
muitos textos online. Para nos orientarmos (windows) e o mouse. As interfaces trans-
diante da quantidade abundante de documen- formaram o computador, antes usado como
tos, Bush propôs a criação de “elos de as- máquina de cálculos em um instrumento de
sociação” que conectavam esses documentos interação e manipulação cognitiva universal.
como “trilhas” e não como links. Com o mouse, a partir dos movimentos da
As trilhas, em outras palavras, são um mão, foi possível adentrar o ambiente virtual
meio de organizar informação que não segue permitindo ao leitor zapear pelo documento.
os ditames estritos, inflexíveis, do sistema O hipertexto ganha outra qualidade ao adi-
decimal de Durvey ou outras convenções hi- cionarmos sons e imagens aos links, pas-
erárquicas. [...] O que tornava um naco de sando a ser chamado de hipermídia. A
informação valioso, sugeriu [Bush], não era hipermídia como linguagem apresenta al-
a classe ou espécie mais abrangentes a que guns traços que a definem como tal, uma de-
pertencia, mas suas conexões com outros da- las é a hibridização de linguagens, o que já
dos (JOHNSON, 2001, p. 89). foi definido anteriormente como convergên-
Muito do que foi pensado por Bush faz cia das mídias, tanto é verdade que se encon-
parte das técnicas de busca por dados na tram hoje as versões digitais do rádio, jornal
Internet. No “Memex”, o usuário, à me- etc., apesar de a TV ainda não estar integrada
dida que explora o espaço-informação da es- às redes.
crivaninha, cria “trilhas de interesse”, assim, A hipermídia é a junção de todos os
quanto mais é usada, mais associativa fica e elementos de multimídia4 ao hipertexto e,
por fim, seus documentos ficam todos amar- quando adicionamos a interatividade ao pro-
rados por elos. 3
Douglas Engelbart publicou, em 1963, o livro
Segundo Johnson (2001, p. 92), a intu- “Um enquadramento conceitual para o desenvolvi-
ição central da ideia de Bush não foi real- mento do intelecto humano” (A conceptual frame-
izada ainda na Internet, um instrumento para work for the augmentation of man’s intellect). No
a abertura de trilhas. “A maioria dos nave- projeto AUGMENT ele propôs o NLS On Line Sys-
tem (sistema em linha) um dispositivo com caracterís-
gadores para a web ainda segue obediente-
ticas hipertextuais.
mente os links que lhes foram fornecidos, 4
Talvez o primeiro antecessor da multimídia
não oferecendo em troca nenhum meio para tenha sido o cinema ao unir texto e imagem. A mul-
a criação de trilhas associativas próprias”. timídia apresenta-se como sendo uma linguagem de

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cesso multimidiático, também encontramos o abismo digital que existe no Brasil e no


a hipermídia. É latente a aproximação entre mundo. Em âmbito nacional, dados5 do
multimídia e interatividade, tanto é que nos Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI)
Estados Unidos foi criada a Interactive Mul- revelam que 54 milhões de brasileiros aces-
timedia Association – IMA – “que reconhece sam a Internet, e mais da metade das pessoas
como característica fundamental da multimí- pesquisadas6 já acessaram ao menos uma vez
dia, ou hipermídia, não só a imbricação das a rede. O IBGE revela que, em um ano
mais variadas mídias, como a participação (de dez./2007 a dez./2008), houve um au-
consequente do usuário no processo de com- mento de 14,7% no número de pessoas que
preensão de algum tema” (BAIRON, 1995, acessam a Internet em casa. Em julho de
p. 19). A hipermídia significa a integração 2008, o Brasil quebrou seu próprio recorde
de sons, textos, imagens de todos os tipos em tempo de navegação na Internet por pes-
dentro do ambiente de informação digital. A soa: com 24 horas e 54 minutos. No mundo
convergência das mídias foi responsável por os números de acesso à rede impressionam.
fazer a junção desses elementos em um só O número de usuários de computador
ambiente, a digitalização também foi respon- vai dobrar até 2012, chegando a 2 bilhões.
sável pelo fluxo de informações no sistema A cada dia, 500 mil pessoas entram pela
hipertexto. primeira vez na Internet, a cada minuto
A Internet, além de oferecer ao usuário in- são disponibilizadas 20 horas de vídeo no
teratividade, hipertexto, hipermídia, garante YouTube e cada segundo um novo blog é cri-
velocidade de acesso a informações, espaço ado. Em 1982 havia 315 sites na Internet.
para armazenamento de conteúdo e poten- Hoje existem 174 milhões7 .
cialidades que antes não eram possíveis dev- .
ido à rigidez dos meios de comunicação. Apesar da expansão e avanço
de acesso à internet no Brasil e no mundo,
ainda existem abismos digitais. Dos 183,9
3 Caminhos da sociedade
milhões de brasileiros, ainda há muitos indi-
conectada: acesso, ansiedade de víduos que não usam e não entendem o fun-
informação, identidade virtual e cionamento da rede. A falta de acesso limita
direitos autorais 5
Dados da Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias
da Informação e da Comunicação no Brasil 2007,
3.1 Acesso publicada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnolo-
gias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) do
Quem está conectado ao ambi- Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
ente virtual usufrui de todas as ferramentas 6
Foram realizadas entrevistas em 17 mil
e processos de interação citados, mas hoje domicílios em zonas urbanas no Brasil, com pessoas
nem todas as pessoas têm acesso à banda a partir de 10 anos de idade.
7
Estatísticas, dados e projeções atu-
larga, pode comprar ou sabe operar um com-
ais sobre a Internet no Brasil. Disponível
putador. Primeiramente, deve-se ressaltar em: http://www.tobeguarany.com/
internet_no_brasil.php. Acesso em:
interface de textos, sons, imagens, músicas, cinema,
28 mai. 2009.
vídeo, fotografia, etc.

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o avanço econômico, tecnológico e de ex- Informação”, que o fascínio que os homens


pansão do conhecimento por não propiciar a têm pela tecnologia faz com que eles se es-
todos a participação de debates e compartil- queçam do principal: de que o objetivo das
hamento de conteúdo. informações é o de informar. Para que isso
ocorra, as pessoas devem tomar consciência
3.2 Ansiedade de informação de que elas são as principais responsáveis
por gerar, distribuir e compartilhar conteúdo
Para os 53% dos brasileiros que estão conec- de maneira ordenada, porém devem pensar
tados, cabe a eles administrar todas as em como essas informações podem dissemi-
plataformas de conteúdo a que têm acesso. nar o conhecimento.
Muitas vezes a demanda de dados é maior do
que a capacidade de recepção do indivíduo
e então surge a “ansiedade de informação”. 3.3 Identidade virtual
Wurman (1991, p.34) define-a como resul- No mundo virtual, as pessoas se metamor-
tado da distância entre o que compreende- foseiam pela rede através de avatares (repre-
mos e o que achamos que deveríamos com- sentação gráfica do usuário da internet), per-
preender diante de tanto conteúdo. “É o fis em sites de relacionamento, e se transfor-
buraco negro que existe entre dados e con- mam no que quiserem ser, assumindo espel-
hecimento, e ocorre quando a informação hos de si mesmas. Recuero (2007) identifica
não nos diz o que queremos ou precisamos esse fenômeno como um recurso das pessoas
saber”. Freud (apud BASTOS, 2008, on- se libertarem de opressões e pré-conceitos
line) define a palavra “ansiedade” como o sociais, buscando na rede aquilo que na vida
medo de algo incerto e sem objetivo; hoje real é tido como proibido.
o medo está no inesperado, no que fazer com O ciberespaço possibilitou com que as
tudo o que é disponibilizado na rede. Bas- pessoas pudessem ser o que quisessem ser,
tos (2006) sugere que, para reverter a an- sem afetar (de um modo geral) a sua vida
siedade de informação, é preciso planejar, no universo off-line. Desta forma, além de
definir prioridades em relação ao que aces- ser um ambiente seguro, é um ambiente de-
sar, qual conteúdo é relevante para a pessoa sprovido da obrigação da identidade “real”,
ampliar seu conhecimento. ou seja, ninguém precisa identificar o seu
A Internet oferece desde conteúdos ricos verdadeiro nome dentro deste universo (RE-
em conhecimento a lixo digital, por isso CUERO, 2007, p. 6).
Daum (2006, p.1) se refere à Era da Infor- .
mação como um fiasco e de um provincian- Ao adentrarem o ciberespaço, as pessoas
ismo intelectual. “A razão por que alguns de podem participar de grupos e comunidades,
nós não tomamos conhecimento de notícias estreitando laços sociais com desconheci-
importantes é que há notícias demais circu- dos, apenas por afinidade ou interesse de al-
lando. Quanto mais informação disponível, gum assunto específico. As redes sociais são
mais desinformados ficamos.” Paralelo às definidas como um conjunto de “atores” –
considerações de Daum, Davenport (2001) pessoas, grupos ou instituições – e suas tro-
discute, na introdução do livro “Ecologia da cas no ciberespaço são capazes de “produzir

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e complexificar laços sociais” (RECUERO, Os direitos autorais já geraram e ainda


2007a, p. 2). Os laços sociais, formados geram muita polêmica e guerra nos tri-
dentro de comunidades, blogs etc., podem bunais de artistas contra sites que divulgam
ser fortes ou fracos. Laços fortes acontecem seus materiais sem permissão. A seguinte
quando há investimento de tempo entre os notícia mostra o que constantemente vem
participantes através da troca de mensagens, ocorrendo no mundo: “O Tribunal do
criação de laços de intimidade, confiança e Distrito de Tóquio concederam (sic) [...]
reciprocidade, já os laços fracos são aqueles aproximadamente R$ 340.000,00 a 11
em que a pessoa é uma desconhecida, não http://www.animepro.com.br/noticias.php?
ocorrendo interação constante. IdNoticia=79&Data=102007artistas de
Na rede é possível ser o que se quiser ser, mangás em um processo contra dois
trocar informações com indivíduos perten- websites e duas companhias de Internet
centes a um mesmo grupo de interesse e/ou que disponibilizavam seus trabalhos sem
afinidade do que o seu, participar de comu- permissão online”8 .
nidades e conhecer pessoas que antes não se- Tudo gira em torno, hoje, dos direitos
ria possível contatar devido às distâncias ge- de propriedade intelectual, “é a apropri-
ográficas e à falta de oportunidade. Com a ação do intelecto, do volátil ou até mesmo
plataforma digital cabe ao indivíduo desco- das ideias. É a proteção do investimento”
brir quais suas preferências e desvendar cam- (PARANAGUÁ, p. 123). Para quem publica
inhos e trilhas que sejam adequadas ao seu um livro ou grava uma música, automatica-
gosto. mente deixa de ganhar com a venda do ma-
terial devido à facilidade de cópia pela In-
3.4 Direitos autorais ternet, por isso muitos artistas proíbem sua
inserção no ciberespaço, mas, apesar disso,
o conteúdo circula ilegalmente na rede.
O ciberespaço traz à tona outra questão:
a cópia e reprodução não autorizadas de
conteúdos, músicas, vídeos, entre outros. 4 Considerações finais
Quando você compra o CD da sua banda A Internet propiciou um mundo interconec-
favorita, copia as músicas para o seu com- tado, rompeu barreiras de tempo e distância
putador e as repassa para um iPod, Pendrive, – migrando do meio geográfico (físico) para
ou outro dispositivo para ouvi-las em outras o meio virtual oferecido pelas redes –, a con-
plataformas, está praticando pirataria. Se- vergência dos sistemas de comunicação, tec-
gundo a lei brasileira, ao fazer tal cópia, você nologias da informação e o crescimento das
é considerado um “pirata”, mesmo tendo redes integradas tornam-se responsáveis pela
pagado pelo CD. Quando a lei brasileira transição de uma sociedade antes voltada à
foi criada, a tecnologia ainda era incipiente,
8
não previa tal situação e considera, portanto, Artistas de mangás brigam por direitos
autorais. 22 out. 2007. Disponível em:
qualquer tipo de cópia de um produto com
http://www.animepro.com.br/noticias.php?
direitos autorais como um crime. IdNoticia=79&Data=102007 Acesso em: 29 mai.
2009.

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8 Taís Marina Tellaroli

indústria para uma sociedade agora baseada execesso-de-informacao/. Acesso em:


na informação e no conhecimento. 28 mai. 2009.
Este trabalho apresentou aspectos do
ciberespaço, as inovações que vieram agre- BRITTO, Rovilson. Ciberespaço e espaços
gadas à mudança da plataforma física para a públicos de debate e embate. In:
virtual e quatro consequências que hoje estão XXVIII Congresso Brasileiro de Ciên-
em discussão: acesso, ansiedade de infor- cias da Comunicação, NP 08, Tecnolo-
mação, identidade virtual e direitos autorais. gias da Comunicação e da Informação,
O abismo digital que existe no Brasil, Rio de Janeiro, 2005. Acesso em: 21
onde grande parte da população não tem jan. 2007.
acesso à banda larga, empaca e atrasa o BUSH, Vannevar. As we
desenvolvimento de regiões brasileiras ao may think.Disponível em
excluírem pessoas de participarem da con- www.theatlantic.com/unbound/flashbks/
strução do conhecimento. Aos poucos, a computer/ bushf.htm. Acesso em: 03
sociedade busca maneiras de interagir neste jun. 2009.
ambiente e descobrir meios para que a rede
não se burocratize e perca sua fluidez de in- CASTELLS, Manuel. A sociedade em
formações e conteúdo que possui. Novas leis rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
serão necessárias para garantir a propriedade
intelectual de artistas e dar subsídios técni- DAUM, Meghan. A Era da Informação é
cos aos juristas para definir até onde as ações um fiasco. OESP-Vida&, 09 abr. 2006,
na rede podem ir. Apesar de a rede ser um p.A27.
ambiente livre e aberto, é preciso definir lim-
DAVENPORT. Thomas H. Informação e
ites que controlem os crimes on-line e com-
seus dissabores: uma introdução. In:
batam os abusos praticados por quem não
Ecologia da informação. São Paulo, Fu-
busca apenas o conhecimento.
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