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Editora Tribo | Selo Máquina
Rua Alexandre Câmara, 1884 | Natal (RN)
Contato
themisslima@gmail.com
Projeto editorial
Editora Tribo | Máquina
Capa e diagramação
John Willian Lopes
Revisão
Maria do Socorro Furtado Veloso
Emanoel Barreto
Autores
Adri Torquato Jussara Felix
Aline Anúzia Letícia Clemente
Allan Almeida Letícia Medeiros
Alysson Bala Lucas Cortez
Ana Beatriz Leão Luiza de Paula
Ana Clarice Marcela Palhares
Anderson Galvão Maria Vasconcelos
Antônio de Pádua Maurílio Medeiros
Eduarda Fernandes Mycleison Costa
Elias Bernardo Nathália Souza
Eliza Hikary Paula Cunha
Felipe Salustino Paulo André
Gabriel Leme Pedro Afonso
Geraldo Cordeiro Pedro Brandão
Hennan Mesquita Pedro Maciel
Isabelle Nayara Priscila Lima
Jefferson Bernardino Ranyere Fonseca
Jefferson T. Rocha Ruth Andrade
Jéssica Danielle Lima Sebastião Monteiro
José Filho Virgínia Fróes
Juliana Lima
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
V443d
Veloso, Maria do Socorro Furtado
Depoimentos para uma história da imprensa potiguar [recurso eletrônico]
/ organizadores: Maria do Socorro Furtado Veloso, John Willian Lopes. –
Natal : Editora Tribo, 2018.
199 p. : PDF ; 13 MB.
CDD-070.43
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“Somos a memória que temos e a
responsabilidade que assumimos”
José Saramago
Apresentação
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Graça Pinto Coelho - “O prazer é todo meu,
companheiro”
Antônio de Pádua, Hennan Mesquita, Paulo André e Pedro
Brandão.........................................................................................112
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Albimar Furtado
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jornalística no que tem de mais viva e dinâmica, a maior
frustração foi não conseguir fazer bons títulos.
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Início da vida profissional, com os repórteres Helio Cavalcanti, Anamaria Cocentino, Dailor
Varela e Nathanael Virginio, todos da Tribuna do Norte (1968). [Foto: Anderson Lino / Acervo
pessoal]
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mais um!’. Mas teve uma ideia muito boa. Me perguntou
se eu tinha curso de datilografia, se batia bem à máquina
e respondi que não. E então ele disse: “Você vai, todos os
dias, copiar as matérias que saem no jornal para começar
a se familiarizar com a datilografia”. Isso foi bom porque,
sem perceber, eu comecei a aprender as técnicas da redação
de um jornal e, paralelo a isso, ouvia os papos da redação.
Discutíamos o texto, a foto, o lide [primeiro parágrafo de
um texto noticioso]. Tudo isso era aprendizado.
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que foi outra grande escola porque se você não se limitar ao
óbvio, faz grandes coisas. A política, nossa, essa é que é.
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Com Chico Buarque de Holanda, que fez show em Natal em 28 de novembro de 1973, no
América. Cantou a musica Cálice, que logo após seria censurada. [Foto: Clovis Santos / Acervo
pessoal]
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ele. Tive a certeza de que estava certo porque o copidesque
leu a matéria e me disse: “Mestre, isso está muito bom!”
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pendurou e fotografou. No dia seguinte, Luiz Maria Alves
foi chamado ao quartel por causa da matéria. O general
perguntou: “Alves, essa matéria...você leu isso direito?
Leia!”. Ele respondeu que não viu nada. “Alves, essa matéria
é em cima das Forças Armadas. É que não estamos tendo
a aprovação da população etc.” Alves disse que o texto não
fazia nenhuma referência aos militares. O general respondeu:
“Não precisa, Alves. Compare o texto com essa foto. Olhe o
cinturão”. Para fazer o boneco de Judas, o fotógrafo pegou as
roupas do irmão, que estava servindo nas Forças Armadas.
O general queria saber quem tinha feito a matéria. No
final, Alves afirmou: “A responsabilidade pela publicação é
minha.’’
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Com Câmara Cascudo, em entrevista para o Diário de Natal.
[Foto: Clovis Santos / Acervo pessoal]
Bastidores da política
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José Agripino e Lavoisier Maia. Quando eu olhei, pensei:
“Tem alguma coisa errada”. Havia um programa político na
Rádio Poti, que era no mesmo prédio. Ele ia chegando para
dar uma entrevista para a rádio. Me chamou e perguntou:
“Albimar, ficou com raiva de mim?”. Eu respondi: “Não, você
é a matéria-prima da gente, estou achando ótimo. Vai!”. No
outro dia, assumiu a adesão e desmentiu tudo.
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tribo indígena da Amazônia. Passaram por lá, a raptaram
ainda criança e ela nunca se recuperou disso. Fiquei muito
tempo impressionado com o sofrimento da jovem. Ela
perdeu a identidade. Isso mexeu comigo.
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Entrevista com o Edmilson Lucas da Silva, o Binquedo do Cão, para reportagem especial em O
Poti. [Foto: Acervo pessoal]
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era muito amigo do Cascudo. Fui fazer uma matéria com
o professor sobre a Ribeira. Quando eu cheguei lá, disse:
“Professor, vi fulano indo embora. Como o senhor vê
isso?”. Ele me respondeu: “Meu filho, deixe eu primeiro me
emocionar”. Ele estava com a audição já um pouco ruim,
mas não perdia o bom-humor.
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(02/05/1974 a 15/03/1975. Achava Cortez uma figura
extraordinária, mas não gostei da experiência. Depois,
no governo Geraldo Melo, fui pressionado a ir para a
assessoria. Falei que não queria, não gostava. Mesmo assim,
fui conversar com o Geraldo. Passei um ano com ele.
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Ana Maria Concentino
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federal Almir Cocentino e da supervisora pedagógica
Zuleide de França Cocentino. Fez parte da segunda turma
de formandos pela Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza,
fundada em 1962 e que deu origem ao curso de Comunicação
Social da UFRN. Sua trajetória profissional incluiu os
principais jornais da capital, com passagem pela Tribuna do
Norte e Diário de Natal. Depois atuou como professora na
UFRN, onde também se doutorou em Educação. Sua tese
resultou no livro Virando a página (EDUFRN, 2006); na
obra, analisa o uso de jornais como ferramenta de estudos
em sala de aula.
A força motriz
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Ana Maria Concentino integrou a segunda turma de Jornalismo da Faculdade Eloy de Souza:
“Logo veio a censura e a universidade se recolheu”. [Foto: Jéssica Danielle Lima]
Primeiros passos
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construíam as matérias e o jornal era vendido semanalmente
nas bancas da cidade. Eu esperava também encontrar essa
experiência, porém, a minha entrada no curso coincidiu com
o início do governo militar [1964]. Luiz permaneceu por
pouquíssimo tempo. Logo veio a censura e a universidade se
recolheu. Ninguém podia dizer muita coisa.
Na diagramação
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tipo noticioso, com grande valorização da reportagem.
Na Tribuna, trabalhei com Woden Madruga, Cassiano
Arruda Câmara, Albimar Furtado, Ariadne França, João
Gualberto Aguiar. Cassiano era editor, pauteiro, e nos
incentivava muito. Tinha o dom de transformar um tema
simples em uma grande matéria. Comecei como repórter,
mas posteriormente também acabei atuando como
diagramadora. Cobria inicialmente as pastas relacionadas
a educação, tribunal de justiça, fórum criminal e também
recebia uma pauta para os finais de semana.
Dificuldades
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profissional responsável por selecionar as matérias que
seriam ou não publicadas, e o nosso era Luiz Carlos
Guimarães. A editoria mais marcante era a de esportes, mas
os repórteres trabalhavam com todo tipo de matéria. Não
existia computador, o que tínhamos era uma máquina de
datilografia. Na Tribuna do Norte existia apenas um telefone
fixo, que funcionava com certa dificuldade. Também não
havia carros disponíveis para uso; íamos para todo lugar de
ônibus. Cassiano nos falava sempre: “Repórter que se preze
não faz entrevista por telefone”. Dávamos conta de três,
quatro matérias por dia. Era difícil. A diagramação era feita
em uma folha milimetrada. Era complicado, exigia muitos
cálculos, uma tarefa totalmente manual. Tive muita ajuda do
chefe da oficina para fazer tudo. A máquina de compor os
textos era a linotipo, enquanto a monotipo confeccionava os
títulos. Você colocava as letras de uma em uma. Usávamos
clichês de madeira com metal para imprimir as fotografias.
Não havia catalogação e as dificuldades eram de toda ordem.
Os anos de chumbo
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Tese de doutorado resultou no livro “Virando a página”, que trata do jornal como ferramenta
em sala de aula. [Foto: Jéssica Danielle Lima]
A verdadeira vocação
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Natal. Cheguei a escrever as minhas matérias e produzir as
fotos para elas, o que é péssimo. É muito complicado fazer
uma entrevista e fotografar ao mesmo tempo. Vivi essa
experiência, mas não gostei.
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Reportagens produzidas por Ana Maria, ao longo da carreira; questões da educação receberam
atenção especial. [Foto: Reprodução]
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os professores - que por sua vez, ensinavam aos alunos.
Explicávamos o que era um jornal, o que era uma editoria. A
nossa finalidade com o ensino da leitura de jornal, na sala de
aula, era de que o estudante desenvolvesse percepção crítica.
Foi um sucesso total. As pessoas ficavam loucas quando
o pacote de jornal chegava. Os meios de comunicação, de
modo geral, tinham glamour. Eu me entusiasmei tanto que
fiz a minha tese de doutorado com base no uso do jornal
dentro da sala de aula.
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Tenho um sentimento de saudade dos tempos passados:
gostaria de reencontrar as pessoas com quem estudei e
trabalhei. A Tribuna era muito divertida. Cassiano nos
alegrava e apesar de trabalharmos muito, tudo era muito
legal. Também tive o prazer de conviver com Newton
Navarro. Ele escrevia crônicas para o jornal. Lembro-me
de uma vez em que ele chegou bêbado e me pediu para
datilografar uma crônica sua. Foi me dizendo tudo certinho,
com ponto e vírgula. Era muito interessante.
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Carlos Peixoto
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para o restabelecimento da democracia no país, mas ainda
testemunhou certa cautela no exercício da liberdade de
expressão e da atividade jornalística. Trabalhou depois na
então Rádio Cabugi e dedicou-se, em seguida, ao jornal
Tribuna do Norte, no qual exerce hoje o cargo de diretor de
Jornalismo.
A inspiração de Tintim
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Carlos Peixoto na redação da TN, em 1996. Para ele, “jornalismo é precisão e estilo”.
[Foto: Acervo pessoal]
Jornais na ditadura
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estava caminhando para aquilo que o ex-presidente
Ernesto Geisel chamava de “uma abertura lenta e gradual,
progressivamente gradual”. As pessoas ainda eram presas.
Lembro-me que uma das primeiras coberturas que fiz foi
de uma manifestação dos servidores públicos, em frente
à Assembleia Legislativa, e a polícia baixou o cacete lá.
Lançou bomba de gás lacrimogêneo, bateu no pessoal, em
alguns colegas. Os movimentos sociais, sindicatos, imprensa
e partidos de esquerda lutavam por liberdade.
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devolveu. Tanto é que nós não temos exemplares dos
seis primeiros meses em que o jornal circulou, porque os
militares nunca restituíram essas edições.
Questão de estilo
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O jornalista (de pé) em conversa com o chefe de reportagem Dionísio Outeda, o editor de artes
Carlos Bezerra e a editora Yara Okubo. [Foto: Acervo pessoal]
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O esquema envolvia advogados, intermediários e,
inclusive, juízes, todos posteriormente afastados. Foi um
processo investigativo demorado, até que reuníssemos todo
o material necessário. Foram dois meses de apuração, fato
que no formato jornalístico atual talvez não seja possível.
Essa é uma das reportagens que guardo como especial. Não
que eu ache que foi a melhor que já fiz, nem que foi a mais
bem escrita, mas é uma das quais guardo boas lembranças.
É a que eu destacaria como sendo a da minha vida, pelas
mudanças que trouxe.
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Peixoto reunido com parte da equipe em 1996, para discutir a reforma gráfica e editorial da TN.
[Foto: Acervo pessoal]
ainda me serve.
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há cerca de dez meses, quando o presidente do jornal, o
ex-deputado Henrique Eduardo Alves, foi preso, a notícia
ocupou espaço na primeira página. Não foi manchete.
Tinha uma manchete e tinha a notícia. Eu não podia dar
a manchete com fotos da prisão do presidente do jornal,
por exemplo, mas esse era um fato jornalístico incontestável.
Tinha de estar ali.
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tese para contestar a informação. Eu acho que este é o
grande desafio de hoje. Os jornalistas, enquanto grandes
profissionais de imprensa, estão mais expostos ao seu público
do que estavam antes.
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do Louvre, ou podemos entrar na Biblioteca do Congresso
dos Estados Unidos. Sem sair daqui de onde nós estamos.
Isso é a grande conquista dessa era. É a democratização
não só do acesso à informação, como também da produção.
Assim, você pode fazer todo esse roteiro que a gente falou,
sair e escrever uma crônica ou um ensaio ou comentários de
qualquer um deles e jogar na sua rede social para dividir com
várias pessoas. E você, sendo jornalista, pode dar um cunho
profissional aos seus comentários, fazer disso uma matéria,
uma reportagem, uma crônica, e compartilhar com o seu
público. Isso é maravilhoso. Essa foi a grande mudança.
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Peixoto: “Hoje, mais do que nunca, precisamos de jornalistas porque a diversidade de
informações disponível é muito maior do que a de vinte ou trinta anos atrás”.
[Foto: Acervo da Tribuna do Norte]
Linha de montagem
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escreve o texto, o cara edita naquele espaço que tem e pronto.
Se houver alguma ponta solta, a gente tenta recuperar e dar
continuidade no dia seguinte. Por conta do próprio ritmo.
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de ler, me emprestava livros e me falava de filatelia. Quando
meu filho nasceu e começou a frequentar o meu local de
trabalho, Mussolini começou a despertá-lo para o gosto pela
filatelia também. A gente tinha uma brincadeira. Eu entrava
no arquivo da Tribuna e ele perguntava: “Quantos habitantes
tem em Natal?”. Eu respondia: “260 mil habitantes” e ele
dizia: “Mas eu garanto a você que não tem dez mil almas”
(risos). Natal é isso.
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Cassiano Arruda
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quando algum menino fala em sair de casa, é um desespero”.
Os pais insistiam para que se tornasse médico e político.
Então, após o término do ensino médio, o mandaram à
Bahia para prestar vestibular para medicina.
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Cassiano Arruda na infância: os pais queriam que ele estudasse medicina.
[Foto: Acervo pessoal]
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rouca e firme, nos deparamos com um televisor ligado na
TV Câmara, pilhas e pilhas de jornal sobre a mesa, duas
máquinas de escrever, uma prateleira onde estão livros,
premiações e fotos – algumas icônicas, em que aparece ao
lado de Fidel Castro e do Papa João Paulo II, por exemplo.
Objetos que falam e contam histórias. Histórias de uma vida
inteira dedicada ao jornalismo. E tal cenário, com tal figura
à nossa frente, parecia nos intimidar. Até que Cassiano
nos disse: “Agradeço por vocês terem interesse nas minhas
histórias e por terem se lembrado de mim”.
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O jornalismo em Natal
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O jornalista com um entrevistado, na redação da Tribuna, onde ingressou em 1963.
[Foto: Acervo pessoal]
Preso na ditadura
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Fui preso pela Redentora Revolução em 16 de maio de
1969. Era editor-chefe da Tribuna do Norte. O comando
militar da época queria pegar o Agnelo Alves, que era prefeito
de Natal. Pensaram que se me apertassem eu diria que a
coluna do jornal era escrita por ele, o que de fato era. Mas
o dedo-duro, na época, não merecia o respeito de ninguém,
diferente dos delatores de hoje. Então, não contei. Passei 50
dias na prisão. A melhor coisa que me aconteceu foi o fato
de meu carcereiro ter sido colega de sala na faculdade. E
todo mundo esculhambava com ele, menos eu. Ele foi gente
boa comigo. Bem, sintetizando, fui preso por simplesmente
ser jornalista.
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antigo, no qual se utilizava o clichê para reproduzi-las, não
era possível. Pois bem, cheguei no Diário com esse cenário
na redação. E, aliás, acabava de ser promovido de cavalo a
burro, pois deixei de ser editor-chefe na Tribuna para me
tornar repórter e fotógrafo lá. Foram dois anos assim, até
que em 1972, sem planejamento algum, comecei a escrever
a coluna Roda Viva.
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Cassiano (na foto, com Aluízio Alves) foi preso na ditadura militar, quando era editor-chefe da
Tribuna do Norte. [Foto: Acervo pessoal]
dado que Luiz Maria Alves chegou para mim e disse: “Ele
volta com a coluna dele, mas a Roda Viva continua”. No
início, não era nem assinada, ou seja, não tinha nome do
autor. Mas, com o tempo eu comecei a escrever uns artigos
com os quais Alves não concordava. Então ele me mandou
assinar, uma vez que não aprovava meu posicionamento,
mas me deixava pensar o que quisesse. A coluna se firmou,
ganhou credibilidade e passou a ser respeitada. E assim foi
por 32 anos, até eu ser demitido em 22 de abril de 2009,
antes que as más decisões dos Diários Associados, donos do
Diário de Natal, assassinassem o jornal.
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Na minha época de repórter no Diário, eu tinha uma
vantagem nos dias de dificuldade nas pautas, pois, aqui em
Natal, vivia um homem chamado Luís da Câmara Cascudo
e eu tinha acesso a ele. O filho de Cascudo, Fernando Luís,
montou a primeira agência em estilo moderno chamada
Vésper Propaganda, e lá foi o meu primeiro emprego. Na
agência eu tinha o apelido de “assistente da diretoria” e uma
das minhas atribuições era passar na casa de Cascudo duas
vezes por semana, pegar sua correspondência, levá-la para
os Correios, e recolher as que estivessem lá. Nos dias que
ele estava com tempo, ficávamos conversando e eu sequer
voltava a trabalhar. Cascudo era um cara que sabia de tudo.
Hoje, digo aos meus filhos que ele era o meu Google, com
a diferença de ser mais completo e confiável. Todavia, nos
dias que ele não estava para conversa, dizia logo: “Vá baixar
em outro terreiro”.
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O período no rádio
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Em conversa com o general João Baptista Figueiredo, último presidente nomeado pelo regime
militar. [Foto: Acervo pessoal]
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Mas eu não tinha mais saco, daí entrei com o pedido de
aposentadoria porque, além disso, queriam que eu desse
três disciplinas para deixar os outros doutores, que tinham
sido contratados, usarem seu tempo com pesquisa. Estou
esperando até hoje o resultado de tais pesquisas. Não sei
o que foi feito. Uma grande coisa que a faculdade me deu,
entre as muitas outras, foi me aproximar da turma jovem.
Foi uma forma de retardar um pouco meu envelhecimento.
O Novo Jornal
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pago. Pagava pouco, mas pagava pela tabela do sindicato.
Então, se não fiz um jornal melhor, foi porque não tive
talento. Mas aquilo que eu achava certo e que quis fazer, eu
fiz.
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Emanoel Barreto
Um portador de grandes
notícias
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inglês, aqui traduzida livremente para o português, nos
instruía: “Antes de sua boca falar, deixe seu cérebro fazer a
edição”. Ao entrar, fomos saudados com grandes matérias
emolduradas na parede; a carta que recebeu do Vaticano,
agradecendo por suas publicações na passagem do Papa
João Paulo II por Natal; os CDs do rock que revolucionou o
cenário musical mundial, Beatles, Rolling Stones... Paredes
decoradas por livros do chão ao teto, todos lidos, transformam
o ambiente num local aconchegante. A máquina de escrever
marcada pelo tempo, mas ainda assim em destaque sobre
a prateleira, nos fez sentir como se estivéssemos diante de
uma porta entreaberta, apenas nos dando o breve vislumbre
de todo o conhecimento armazenado por meio dela e que
poderíamos, através de seu guardião, Emanoel Barreto,
alcançar.
O primeiro da família
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Meados dos anos 1980: Barreto na redação da Tribuna, entre a jornalista Conceição Almeida e o
fotógrafo Giovanni Sérgio. [Foto: Acervo pessoal]
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intitulado “Os mortos são estrangeiros”. Ele lia o texto como
se estivesse interpretando um texto teatral, e enquanto lia,
eu tinha de ir datilografando. No final do teste, leu meu
texto, fez algumas perguntas de conhecimentos gerais e me
aprovou. Fui contratado para trabalhar de madrugada, de
meia-noite às seis da manhã, para traduzir telegramas de
um idioma com o qual não estava familiarizado. Abri mão
da vaga num concurso público da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para o qual havia sido aprovado, e fui
trabalhar no Diário de Natal.
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Cobertura de crimes
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Emanoel Barreto (à esquerda) com Osório Almeida (ao centro) entrevistando Astor Piazzolla (à
direita), no Hotel dos Reis Magos, em 1976. [Foto: Acervo pessoal]
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Recebi a informação de que alguém havia sido assassinado
no Canto do Mangue, nas Rocas. Chegando ao local, havia
uma corda impedindo a passagem. Determinado a não
perder a matéria, levantei a mão como que segurando uma
carteira de jornalista e gritei “Diário de Natal”. Os policiais
que cercavam o local autorizaram a passagem. Quando
adentrei no local, vi a cena: uma mulher nua esfaqueada do
pescoço até os pés, e o profissional do Itep jogando o corpo
na maca, para transportar. Entrei na cena do crime, que era
o banheiro, havia sangue nas paredes da altura do rosto até
o chão, marcas de mãos tingidas de sangue nas paredes. O
assassino, conhecido como Mansinho, era presidiário e viera
da Penitenciária Central João Chaves escoltado por apenas
um soldado, para encontrar-se com a mulher. Como numa
história de Nelson Rodrigues, ela era amante de Mansinho
e do soldado. Creio que isso foi o detonador de toda a
situação.
Jornalismo sensacionalista
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a câmera fecha, aumenta a sensação e, consequentemente,
o poder que aquele fato tem de impressionar. O fato
narrado já é um fato novo porque as minhas emoções estão
impregnadas naquela narrativa. O Diário de Natal tinha
uma tradição de jornalismo policial muito forte, mas eu
nunca fiz uma matéria que fosse, assim, sensacionalista.
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esses programas passam a ser porta-vozes do povo. Como
os parlamentares falham miseravelmente, esses programas
passam a cumprir a função dos partidos políticos, que não
nos representam ou representam muito mal. Esses jornais
excitam as emoções mais primitivas que nós temos.
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O jornalista na redação do semanário “Dois Pontos”, do qual foi editor. [Foto: Acervo pessoal]
que tinha uma vista privilegiada para o local onde ele estava,
uma casa pertencente à Igreja.
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“O presidente Geisel é um safado”
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não era comunista coisa nenhuma. Geisel, foi pessoalmente
libertar o prisioneiro”.
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dos políticos. Não pensem que porque têm o telefone do
governador, vocês são amigos dele ou porque frequentam
ambiente de empresários, pertencem a este ambiente.
Não se deixem encantar pelo canto da sereia. Outra coisa:
entrevistou uma pessoa, deixe guardado. Informação é
poder. Se sabem de uma coisa que alguém não precisa saber,
não digam. Nem sobre sua vida pessoal. Só falem o que for
necessário. Pessoas podem querer usar vocês para alcançar
objetivos. É muito importante ter cuidado, pois uma
informação mentirosa pode quebrar você. Cuidado para não
manipularem textos seus. Cuidado com colegas invejosos.
E não se deve escrever com raiva. Sendo preciso agir com
firmeza, deve-se redigir com indignação.
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Gerson de Castro
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chegou à Tribuna do Norte como uma espécie de repórter
especial na área de polícia, além de editor. Foi na Tribuna
que teve o seu primeiro contato com a cobertura de política.
Por ser um repórter especial, atuava em várias editorias
como as de esporte, cidade e cultura. Em 1988, com a
saída do jornalista Osair Vasconcelos da Agência Estado,
que pertencia ao Estadão, foi convidado a atuar como
correspondente. A contratação definitiva só aconteceu em
1989, quando teve de sair da Tribuna.
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como as de São Gonçalo do Amarante, Currais Novos e
Ceará-Mirim. Atuou também na assessoria da Femurn
(Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte),
na Secretaria de Segurança Pública no governo Geraldo
Melo (1987), em campanhas eleitorais a partir de 1990,
destacando a de Wilma de Farias, em 2006, e foi Secretário
de Comunicação da então prefeita de Natal, Micarla de
Souza, em 2012.
A escolha da profissão
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Em 1985, no setor 5 do campus da UFRN, com colegas do curso de Jornalismo e o professor
Cassiano Arruda Câmara. [Foto: Acervo pessoal]
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No ocaso da ditadura
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Em 2013 e 2014, Gerson foi chefe de redação da recém-criada TV Metropolitano e se tornou o
primeiro apresentador do noticiário “Primeira Página”, transmitido ao vivo.
[Foto: Acervo pessoal]
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O Diário de Natal pagava em envelopes, por quinzena. E aí
vem uma coisa engraçada, que preciso contar: na segunda
quinzena de setembro, o chefe de departamento pessoal,
Luís Sena, mandou perguntar quem era Gerson de Castro,
na redação. Quando cheguei lá, ele disse: “Você não gosta
de dinheiro, não? Já tem três pacotes aqui. Três quinzenas
e você não vem receber dinheiro”. E pensar que eu estava
me sacrificando, sabe Deus como, indo para o trabalho sem
saber que estava contratado, e já recebendo salário.
Acho que foi o dia que tive mais dinheiro na minha vida.
Me lembro de ir para casa e fazer uma festa. Até feira eu fiz.
Então, meu início no Diário foi muito feliz. Fiquei lá até
janeiro de 1986.
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O Estado de São Paulo, tinha deixado o cargo e passado a
trabalhar na TV Cabugi. Como deixou a correspondência,
o cargo ficou vago e alguém indicou meu nome. Então,
Carlos Garcia me chamou para ser freelancer. Passei quase
um ano trabalhando assim, e ganhando bem, porque cada
vez que fazia um material, ganhava pelo que produzia. Era
a época do governo Geraldo Melo, o PMDB era muito
forte. Minha primeira matéria publicada no Estado de São
Paulo foi uma entrevista, um resumo de uma entrevista com
Ulysses Guimarães, em 1988. Eu tinha deixado a área de
polícia, tinha sido convidado para ser chefe de reportagem
da Tribuna do Norte, virei correspondente freelancer do
Estadão, e no ano seguinte, no último dia de agosto de 1989,
quando havia acabado de ganhar, uns 24 dias antes, dia 7 de
agosto, minha segunda filha, recebi a confirmação de que
estava efetivado como correspondente do Estadão.
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Em 2011, na rádio 95 FM, ao lado de Salatiel de Souza, Paulo Wagner e Mariana Vieira, Gerson
apresentou o “Jornal da Manhã”. Na foto, o jornalista entrevista o então deputado Betinho
Rosado. [Foto: Acervo pessoal]
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Reportagem inesquecível
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O jornalismo e a tecnologia
Gerente de TV
Livro de crônicas
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Os jornalistas Rubens Lemos Filho e Vicente Serejo farão
apresentação e prefácio, respectivamente. Falta reunir as
crônicas. Elas já estão todas prontas e falam de jornalismo,
política, cinema e futebol. Se Deus quiser, lançarei ainda
em 2018. Também pretendo lançar, daqui a alguns anos,
meu primeiro romance. Luiz Maria Alves será um dos
personagens.
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O papel e o futuro do jornalismo
Reconhecimento e realizações
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Graça Pinto Coelho
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Graça Pinto conta que foi copidesque antes de ingressar no curso de Jornalismo da UFRN.
[Foto: Acervo pessoal]
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do Norte, e foi atuante nas manifestações estudantis, na
primeira metade dos anos 1980, pela volta das eleições
diretas para presidente da República.
O início
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Passei no vestibular em 1981, na UFRN. Minha função era
receber as notícias via telex e reescrever para o jornal do
próximo dia. Nessa época, quem trabalhava comigo era o
Carlos Eduardo Alves [ex-prefeito de Natal], que até hoje
chamo de Tata. Digo que ele foi meu estagiário (risos), mas
era um dos donos do jornal. A gente trabalhava com isso
de pegar o telex de outras agências de notícias e escrever as
matérias. No momento em que passei no vestibular, comecei
a fazer reportagem.
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A vida nas redações foi marcada, também, por intensa militância política. Graça foi uma das
fundadoras do PT no Estado. [Foto: Acervo pessoal]
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do Estado, para fazer novas filiações. Montanhas era uma
cidade muito importante para nós porque era o local onde
residia Damião França Pinheiro, um trabalhador rural que
foi o primeiro candidato ao Senado pelo PT-RN.
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assuntos, e respondia.
Hora de ir embora
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Jornalista viveu no Sudeste e teve passagens pelos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Jornal do
Brasil e revista IstoÉ. [Foto: Acervo pessoal]
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controle político no interior.
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Graça Pinto no plenário da Assembleia Legislativa do RN: experiência na cobertura de temas
políticos. [Foto: Acervo pessoal]
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para redação (risos).
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a informação, como uma manchete.
A transição
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efetiva na UFRN e deixei os outros trabalhos.
Memórias da redação
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José Zilmar
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Um ano e meio após o início da prática na Tribuna,
em 1984 encerrou-se a experiência como aprendiz.
Contudo, como tinha realizado um bom trabalho, houve um
movimento junto á direção do jornal pela sua contratação.
Ingresso no jornalismo
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José Zilmar no começo da carreira, na redação da Tribuna. [Foto: Acervo pessoal]
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empresas. Mas, hoje correm atrás dos estudantes.
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Imprensa sindical: Zilmar foi assessor do Sindicato dos Petroleiros do RN.
[Foto: Acervo pessoal]
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Na imprensa sindical
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Encontro com Câmara Cascudo, pouco antes da morte do folclorista: momento inesquecível da
carreira. [Foto: Acervo pessoal]
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Prudente de Moraes. Foi bem triste.
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Zilmar entrevista o então jogador Romário, do Vasco da Gama. [Foto: Acervo pessoal]
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Ilusões perdidas
Liberdade de empresa
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ao mesmo tempo.
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Nunca tinha dado aula em faculdade. Foi aí que comecei a
despertar para projetos de mestrado e doutorado. Tudo isso
aconteceu depois dos 40 anos.
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Desafios na Comunica
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Maurício Pandolphi
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com os pés (Sebo Vermelho), onde relata as suas experiências
profissionais em forma de contos. Maurício Pandolphi
conta que escolheu este título para homenagear Henrique
Lobo, um grande jornalista das décadas de 30 a 60. “Em um
dia comum de gravação, Henrique pediu que parássemos
a gravação e nos disse: ‘Meninos, também se fala com os
pés.’ Não entendi o que queria dizer com isso. Mas ele
logo nos explicou o que significava: aproximar e afastar
o microfone para dar noção de profundidade. Deu a
entender que falar não é só com a garganta. É falar com
o corpo, é se expressar, se aproveitar de tudo que você
tem. Nunca me esqueci das palavras do Lobo. Então,
quando decidi contar algumas das minhas experiências
profissionais ao longo da minha vida, resolvi homenagear o
mestre”.
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Gravação de aulas de rádio do Projeto Saci, no Instituto de Pesquisas Espaciais, em São José dos
Campos, em 1972. [Foto: Acervo pessoal]
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Casos marcantes, na ditadura
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soube que participasse de alguma militância partidária.
Naqueles anos, apenas dois partidos, Arena e MDB, eram
admitidos no país. Numa sexta-feira, cerca de quatro da
tarde, Luiz saiu para ir à padaria e sumiu. Ele foi sequestrado
pelo serviço de segurança do governo militar, como muitos
outros jornalistas foram naqueles anos de chumbo. Eu notei
que ele não havia aparecido ainda e nem tinha chegado a ir
à padaria, então resolvi ligar para um oficial conhecido, que
me respondeu com a maior frieza: “Esqueçam esse cara. Ele
nunca existiu”. Luiz Paulo reapareceu dois meses depois, do
mesmo jeito que tinha saído, mas estava quase cego de um
olho e com a coluna estropiada pelo pau-de-arara.
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Maio de 1976: Maurício Pandolphi (à direita) na estreia como repórter esportivo de campo, pela
TVU, sendo entrevistado pelo repórter Carlos Alberto, da Rádio Nordeste, no estádio Castelão.
[Foto: Acervo pessoal]
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preservara a compostura e se manteve firme em seu posto
durante a confusão: um cão pastor alemão enorme, chamado
Lobo (risos). Nós só saímos da valeta quando ouvimos
os rosnados e os gritos de desespero do traficante que
foi atacado pelo Lobo e teve o traseiro dilacerado. Então
voltamos à rua todos sujos de merda, com as pernas bambas,
ainda. Milagrosamente ninguém foi atingido. Passado
o susto, entramos na viatura e voltamos para a cidade. O
traficante veio sentado entre o tenente e eu, de lado, com a
bunda estraçalhada. Levamos o infeliz para a Santa Casa da
Misericórdia, para que lhe costurassem o traseiro, e depois
voltamos para a delegacia, onde o tenente teria um relatório
para preencher e eu, uma reportagem para concluir.
A cobertura de polícia
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moto caída no acostamento, mas não vi a vítima. Então
perguntei ao policial rodoviário onde estava o corpo e ele
me respondeu: “Você está pisando nele”. O coitado tinha
morrido provavelmente no início da madrugada e no meio
daquela neblina, dezenas de motoristas haviam passado
sobre o corpo, sem perceber. Restava do motoqueiro apenas
uma massa sangrenta espalhada pelo asfalto, uma mistura de
roupas, ossos, sangue e tecidos humanos. Eu fiquei chocado
ao ver aquilo, mas fiz a minha matéria ali mesmo.
Da TV Saci à TV Universitária
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Com o técnico e sonoplasta Bill Boy, no estúdio da FM Universitária, em dezembro de 2000.
[Foto: Acervo pessoal]
remotas do estado.
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A produção do Saci foi enorme, entre 1971 e 1975.
Aqueles foram anos dourados para nós. Eu, que cheguei lá
com experiência apenas em jornalismo, me tornei radioator,
teleator, contrarregra e até redator. Foi uma verdadeira
faculdade informal, que completava o jornalismo.
Grandes temas
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Pandolphi caracterizado como o palhaço Arlequim, personagem das teleaulas do Projeto Saci,
em 1973. [Foto: Acervo pessoal]
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Era conectado à Agência Estado, que nos repassava notícias
internacionais da France Press.
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Maurício Pandolphi (à direita) com o diretor da Superintendência de Comunicação da UFRN,
Márcio Capriglione, e o reitor Ótom Anselmo, na inauguração da FM Universitária, em 2001.
[Foto: Acervo pessoal]
FM Universitária
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de Lima apresentou um projeto para uma emissora FM,
mas também foi frustrada. O curioso é que, enquanto lutava
para criação e aprovação de uma simples rádio, em 1972
a Universidade recebeu aprovação para uma emissora de
televisão.
Mensagem na garrafa
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forma. Decidi fazer a matéria que ninguém queria fazer.
Fui ao Instituto de Biologia Marinha da UFRN e descobri
a existência da corrente do Golfo de Benguela, que sai do
sul da África e termina nas costas do Nordeste brasileiro.
Fui também ao local da descoberta da garrafa e simulei sua
chegada à praia de Ponta Negra.
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Osair Vasconcelos
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Nascido em Macaíba em 26 de abril de 1954, Osair José
Vasconcelos de Medeiros sempre mostrou interesse pela
leitura. Quase optou pelo curso de Direito, mas a paixão
pelas notícias falou mais alto: decidiu que seria jornalista.
Ingressou na Universidade em 1975, mesmo ano que
criou - com alguns colegas de turma - um jornal mural,
que funcionou apenas algumas semanas. Eram tempos de
censura, mesmo dentro de uma universidade.
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Na primeira plataforma marítima da Petrobras, no Rio Grande do Norte, em 1977. À esquerda,
Ricardo Rosado. [Foto: Acervo pessoal]
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acreditar que escrever é uma necessidade humana. Essa
inevitabilidade, julga, o levou a escolher a carreira.
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Na editoria de esportes
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Em 1977, na cobertura da última viagem do trem de passageiros entre Natal e Recife.
[Foto: Acervo pessoal]
Carreira na reportagem
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ótima. Fiz muitas matérias boas. Eu gostava de futebol
desde criança. Tive a chance de me deparar com caras, que,
quando eu era criança, colava a figurinha deles no álbum.
De repente, eles estavam na minha frente. Me dava um
arrepio. Uma das grandes coisas do jornalismo é exatamente
essa: você conversar com um gari, uma pessoa praticamente
invisível na sociedade, e obter uma grande matéria, e amanhã
você cobrir o presidente da República, um ministro, um
governador, um artista famoso. Isso enriquece a gente de
forma inigualável.
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Na posse do governador Geraldo Melo, entrevistando Aluízio Alves para a Globo.
[Foto: Acervo pessoal]
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A fundação da TV Cabugi
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Em 1975, conhecendo os problemas do recém-inaugurado Conjunto Habitacional de Candelária.
[Foto: Acervo pessoal]
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Nós três fazíamos esse trabalho. O marketing naquela época
era muito difícil, não tinha muito material. A campanha era
feita basicamente em jornais.
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Na Coojornat, da qual foi um dos fundadores, entrevistando Lena Frias, repórter do Caderno B
do Jornal do Brasil. [Foto: Acervo pessoal]
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mal-estar que ele passou em Natal. Não eram momentos
históricos, mas eram acontecimentos dentro de momentos
históricos. O poder dos militares estava em declínio, mas
ainda era feroz.
Sempre inquieto
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bem curto e aquela foto enorme. O nome do jornal, o título
e aquela foto. O jornalismo me permitiu fazer essas coisas.
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Tácito Costa
Incansável divulgador da
cultura potiguar
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biblioteca Zila Mamede.
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Equipe da revista Préa: fotógrafo Anchieta Xavier, motorista Érico, Tácito Costa e o jornalista
Gustavo Porpino. [Foto: Acervo pessoal]
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na Escola Winston Churchill, de 1977 a 1979. Terminei o
primeiro grau no interior, e vim fazer o segundo aqui. Porém,
eu não tivera muita sorte, digamos assim, porque minha
mãe me matriculou à noite, na esperança de eu conseguir
trabalho durante o dia. O lado ruim era que a qualidade
do ensino do Churchill era melhor à tarde e de manhã; à
noite já era o pessoal que trabalhava. Isso me prejudicou um
pouco.
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Nos tempos da faculdade
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Participando de coletiva concedida pela então governadora Rosalba Ciarlini.
[Foto: Acervo pessoal]
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editor do jornal Dois Pontos, e fui trabalhar na chefia de
reportagem por dois anos. Posteriormente, fui convidado
pelo jornalista Woden Madruga, presidente da Fundação
José Augusto, para a assessoria de imprensa. Nessa época
também fui pauteiro na recém fundada TV Potengi (depois
Band TV).
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Tácito durante debate sobre literatura com o poeta Afonso Romano de Sant’Anna.
[Foto: Acervo pessoal]
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Revista Preá: experiência marcante
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Comecei de forma muito simples, com cem acessos por
dia. Hoje, a gente tem dez mil seguidores. O site conseguiu
reunir os intelectuais da cidade em torno desse veículo:
lá publicam poemas, suas crônicas. Grandes confusões
aconteceram entre intelectuais, por questões ligadas à arte, à
cultura e à estética. Desde o início eu pensei no Substantivo
a longo prazo, para ser a minha aposentadoria. Mas, como eu
já trabalhava em assessoria, então não tive a preocupação de
viabilizar o projeto financeiramente, indo atrás de anúncios,
embora o site tenha potencial.
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esgotamento do regime e dos anseios do povo por liberdade,
a imprensa, mesmo tímida, foi importante no processo
de redemocratização. A grande conquista foi com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, que ganhou
um capítulo inteiro para promover as garantias e direitos da
Comunicação Social.
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Valdir Julião
Repórter de carteirinha
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por editoria. “Posso fazer de tudo, só não gosto muito de
economia”, resume.
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Valdir Julião (centro) com o jornalista Carlos Morais e o radialista Cláudio Amaral, durante
um congresso de cronistas esportivos em Salvador, em 1986. [Foto: Acervo pessoal]
Reportagens marcantes
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foi entrevistar um diretor do América, sem saber nada. Foi
uma daquelas matérias de se jogar no lixo, mas a gente
precisa fazer para pegar experiência. Estava chovendo, não
me deram carro, não me deram nada. Tive de pegar o carro
do meu pai emprestado para fazer essa matéria na sede do
clube.
No jornalismo esportivo
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Valdir Julião com um rádio de pilha no ouvido, acompanhando um jogo do América-RN no
antigo estádio Machadão, no começo dos anos 80. [Foto: Acervo pessoal]
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Depois desse período fui para o semanário Dois Pontos,
trabalhar como subeditor, a convite de Roberto Guedes.
Esse jornal foi fundado em 1985 por Marco Aurélio de
Sá. Carlos Moraes, que havia trabalhado comigo no A
República, me convidou para atuar na área de esportes da
Tribuna do Norte, onde eu iria ganhar um pouco mais. Fui
para lá depois de seis anos dessa proposta, em 1989. Dessa
vez o cenário mudou: pela primeira vez fui trabalhar com
política, uma área totalmente nova na minha vida. Foi no
dia 7 de setembro, em pleno feriado.
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Em foto dos anos 1990, o jornalista entrevista o então presidente da Assembleia Legislativa do
RN, Álvaro Dias, hoje prefeito de Natal. [Foto: Acervo pessoal]
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entrar. Arquitetei um plano para conseguir as informações.
Combinei com um amigo para ele ficar lá embaixo, que eu
subiria como “funcionário” da empresa, para ouvir o que as
pessoas falavam. Deu certo. Descobriram minha identidade
depois que eu já havia conseguido a lista dos mortos. Só
a gente tinha essa informação e não disponibilizamos para
mais ninguém. É um detalhe simples, mas é para vocês
verem como funciona o jornalismo. Tem de ter aptidão,
ouvir e estar no momento certo.
Mito da imparcialidade
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Valdir Julião recebendo de Ricardo Motta uma placa em homenagem ao Dia do Jornalista, em
2017. [Acervo pessoal]
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Agradecimentos
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A vida é a cidade que somos. E este livro, na geografia
a que se propôs, nos parágrafos de seus mapas redigidos,
nos traz a cartografia biográfica de jornalistas; doze
mulheres e homens, seus perfis, histórias e lembranças. Tudo
detalhado no que fizeram e viram, ousaram e realizaram
ao caminhar em suas próprias ruas e estradas, becos e casas,
projetos e dias.
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