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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 1ª Câmara Cível

Processo N. AÇÃO RESCISÓRIA 0719128-66.2018.8.07.0000


AUTOR(S) ROSIVALDO PEREIRA LOPES
RÉU(S) MANOEL PEREIRA LOUZEIRO
Relator Desembargador SEBASTIÃO COELHO

Acórdão Nº 1179442

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. OBJETO. VÍCIO INSANÁVEL. CITAÇÃO


POR EDITAL. CARÊNCIA DE AÇÃO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. HIPÓTESE DE
QUERELA NULLITATIS. EXTINÇÃO DO PROCESSO RESCISÓRIO SEM RESOLUÇÃO
DO MÉRITO.

1. O meio adequado para se buscar a anulação do processo por ausência de citação é a querela
nullitatis e não a ação rescisória, a qual possui o rol taxativo previsto no art. 966 do Código de
Processo Civil.

2. A querela nullitatis, também chamada de ação declaratória de inexistência de sentença, é utilizada


para sanar vícios que culminem na invalidade de todo o processo.

3. Pretendendo a nulidade do processo em decorrência de vício de citação por meio de ação rescisória,
verifica-se a falta de condição da ação pela inadequação da via eleita, acarretando sua extinção nos
termos do art. 485, VI, do Código de Processo Civil.

4. Preliminar acolhida e Ação Rescisória extinta sem resolução do mérito.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, SEBASTIÃO COELHO - Relator, FÁTIMA RAFAEL - 1º Vogal, MARIA
DE LOURDES ABREU - 2º Vogal, JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS - 3º Vogal, GETÚLIO
MORAES OLIVEIRA - 4º Vogal, ROMEU GONZAGA NEIVA - 5º Vogal, LEILA ARLANCH - 6º
Vogal, GISLENE PINHEIRO - 7º Vogal e ALVARO CIARLINI - 8º Vogal, sob a Presidência do
Senhor Desembargador GILBERTO DE OLIVEIRA, em proferir a seguinte decisão: PRELIMINAR
DE INADMISSIBILIDADE POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA ACOLHIDA. AÇÃO
RESCISÓRIA JULGADA EXTINTA SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. MAIORIA, de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 10 de Junho de 2019

Desembargador SEBASTIÃO COELHO


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de Ação Rescisória proposta por ROSIVALDO PEREIRA LOPES (autor) contra a
sentença (id: 5999982, p. 183/191) proferida pelo Juízo da 1ª Vara Cível de Taguatinga no processo nº
2009.07.1.016838-2, objeto do Cumprimento de Sentença 0702520-69.2018.8.07.0007, que condenou
o autor (2º réu no processo de origem) a ressarcir o réu (autor no processo de origem) o valor de
R$ 8.000,00 (oito mil reais) acrescido de correção monetária e juros de mora.

Eis o teor da sentença rescindenda:

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE em parte o pedido inicial para:

1 - DECRETAR a rescisão do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda de Imóvel de fls.


11/12, por culpa exclusiva do segundo requerido, determinando o retorno das partes ao status quo
ante.

2 - CONDENAR o segundo requerido ROSIVALDO PEREIRA LOPES a ressarcir ao requerente o


valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), acrescido de correção monetária, desde o momento do
desembolso, e de juros moratórios no importe de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação.

Em consequência, resolvo o mérito, nos termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil.

JULGO EXTINTO o processo, sem a resolução do mérito, em relação ao primeiro requerido


ANTONIO JOAQUIM ULHOA GONCALVEZ, nos termos do art. 267, VI, do CPC.

Em face da sucumbência recíproca, mas não proporcional, condeno as partes ao pagamento das
despesas processuais, devendo o autor arcar com 30% (trint a por cento) e o segundo requerido com
70% (setenta por cento). Compensem-se os honorários advocatícios que fixo em R$ 2.000,00 (dois mil
reais), na forma do artigo 20, caput e § 4º, c.c artigo 21, ambos do Código de Processo Civil. Custas
com exigibilidade suspensa quanto ao autor, nos termos do art. 12, da Lei n. 1.060/50. Cobrança de
honorários com a ressalva do art. 3º, V, da mesma lei.

Deixo de arbitrar honorários em favor do primeiro requerido, porquanto este não apresentou defesa.

Cálculos na forma do artigo 475-B, do CPC. Cumprimento de sentença nos termos do art. 475-J, e
seguintes, do CPC.

Após o trânsito em julgado e o efetivo cumprimento, proceda-se baixa na distribuição e remetam-se ao


arquivo.

Processo sentenciado pelo NUPMETAS-1.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.


Sustenta o autor, em suas razões (id: 5999947), o cabimento da presente demanda em razão de erro de
fato e violação manifesta da norma jurídica (art. 966, V e VIII, do CPC).

Alega a nulidade de sua citação por edital no processo de origem, pois não foram esgotadas as
tentativas de citação, haja vista que, além de não terem sido realizadas diligências em todos os
endereços localizados, não foram utilizadas todas as formas de citação em tais endereços.

Ressalta que, dos 06 (seis) endereços encontrados, não houve tentativa de citação em 03 (três) deles,
sendo que um dos endereços é o endereço profissional do autor há mais de 16 (dezesseis) anos.

Reitera que, no endereço residencial do autor, onde reside há mais de 22 (vinte e dois) anos, a tentativa
de citação pelo Oficial de Justiça teria restado infrutífera em razão do exíguo espaço de tempo para
cumprimento da diligência, conforme certidão anexa.

Aduz que foi condenado no processo nº. 0001891-54.2009.8.07.0007 sem que pudesse exercer o direito
constitucional ao contraditório e à ampla defesa, diante da citação inválida.

Requer a concessão de tutela de urgência para que seja determinada a suspensão da tramitação do
Cumprimento de Sentença nº. 0702520-69.2018.8.07.0007, nos termos do artigo 300 do CPC, haja
vista as nulidades apontadas no processo de origem (probabilidade do direito) e o fato de que já foram
iniciados os atos expropriatórios (risco da demora).

No mérito, requer a confirmação da tutela e a procedência da presente ação, para, nos termos do artigo
968, inciso I, rescindir a sentença proferida nos autos 0001891-54.2009.8.07.0007, com a
desconstituição da coisa julgada e a determinação de rejulgamento do feito na origem.

Requer ainda a produção de provas documentais e testemunhais, bem como a realização de audiência
conciliatória.

Preparo e depósito regulares (id. 6641915).

Pela decisão (id: 6699985) recebi a presente ação rescisória, deferindo a tutela de urgência para
suspender a tramitação do cumprimento de sentença nº. 0702520-69.2018.8.07.0007 até o julgamento
de mérito desta ação.

Contestação (id: 7057064) apresentada espontaneamente, na qual o réu suscita preliminar de


inadmissibilidade da ação rescisória, por inadequação da via eleita e falta de interesse processual,
argumentando ser cabível a querela nullitatis insanabilis ao caso concreto, pois, se inválida a citação,
todo o processo estará viciado, o que atrairia a aplicação da ação declaratória de inexistência de
sentença.

No mérito, sustenta que utilizou de todos os meios postos à sua disposição para localizar o endereço do
réu (ora autor da rescisória), inclusive por meio de pesquisas disponíveis ao Poder Judiciário, não
havendo que se falar em qualquer nulidade da citação por edital.

Assevera que, somente após frustradas as tentativas de citação, foi utilizada a regra prevista no artigo
256 do CPC, que restringe a citação ficta ao réu desconhecido ou incerto, ou que, como teria
acontecido no processo de origem, esteja em local ignorado, incerto ou inacessível.

Salienta que, apesar da citação ficta, o autor foi defendido na origem pela Defensoria Pública, por
intermédio da Curadoria de Ausentes, de maneira que o direito ao contraditório e à ampla defesa foram
respeitados.

Aduz que a presente ação rescisória não está ancorada em nenhuma das hipóteses do art. 966, do CPC.
Ao final requer a concessão dos benefícios da gratuidade de Justiça, por ser o réu hipossuficiente nos
termos da lei. Requer ainda o acolhimento da preliminar suscitada, indeferindo-se a petição inicial.
Subsidiariamente, pede seja julgada improcedente a presente demanda, bem como seja dada
continuidade à tramitação do processo de origem.

Intimado a apresentar réplica (id: 7124271), o autor quedou-se inerte (id: 7559815).

Por meio das petições ids: 7837807 e 7860069, as partes comunicaram que não pretendem produzir
novas provas.

Intimadas a apresentar alegações finais, apenas a parte ré peticionou (id: 8400658), transcorrendo em
branco o prazo para o autor (id: 8405111).

É o relatório.

Brasília-DF, 7 de maio de 2019 16:58:10.

Desembargador SEBASTIÃO COELHO


Relator

VOTOS

O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da Ação Rescisória.

A preliminar de inadmissibilidade deve ser acolhida.

O ordenamento jurídico dispõe de dois institutos capazes de sanar vícios da sentença transitada em
julgado, a ação rescisória e a querela nullitatis, cada uma com suas especificidades e hipóteses de
cabimento.

O art. 966 do Código de Processo Civil dispõe sobre as hipóteses de cabimento da ação rescisória.
Confira-se:

Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;

III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de
simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;

IV - ofender a coisa julgada;

V - violar manifestamente norma jurídica;


VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser
demonstrada na própria ação rescisória;

VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou
de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.

Já a querela nullitatis é uma ação declaratória de inexistência da sentença, utilizada para sanar vícios
que culminam na invalidade de todo o processo.

No caso, o que se pretende é a declaração de nulidade do processo, sob a alegação de nulidade da


citação por edital no processo de origem, pois não foram esgotadas as tentativas de citação, fato que
deve ser alcançado por meio da querela nullitatis.

Sobre o assunto, leciona Elpídio Donizetti¹:

(...) a ação com base na querela nullitatis veicula pretensão de natureza negativa, por meio da qual
almeja a parte a declaração de inexistência de relação jurídica processual, naquelas hipóteses
extremas de ausência de pressupostos processuais relacionados à própria existência do processo
(nulidades insanáveis).

A doutrina costuma arrolar como pressupostos processuais, cuja falta implica inexistência de relação
processual, os seguintes: investidura de juiz, demanda e citação. Justamente em razão de os vícios
decorrentes da falta desses pressupostos acarretarem a inexistência da relação jurídica processual,
fala-se em vícios transrescisórios – além da rescisão -, porquanto inexistindo relação jurídica, não há
o que rescindir ou desconstituir.

(...) O STJ entende que não é possível o ajuizamento de ação rescisória para se discutir efeitos
transrescisórios, faltando, nesse caso, interesse de agir à parte autora.[1]

Em julgamento de caso semelhante sob minha relatoria, restei vencido ao reconhecer possível a
aplicação do princípio da fungibilidade no caso de ação rescisória ajuizada com fim de querela
nullitatis, em acórdão que restou assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. OBJETO. ACÓRDÃO QUE RESOLVE AÇÃO DE


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM. FUNDAMENTO. VÍCIO INSANÁVEL
PROVENIENTE DA NÃO CITAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. CARÊNCIA DE
AÇÃO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE LITISCONSORTE
PASSIVO. NULIDADE INSANÁVEL.RECONHECIEMTNO. HIPÓTESE DE QUERELA
NULITATISINSANABLIS. EXTINÇÃO DO PROCESSO RESCISÓRIO, SEM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO. NECESSIDADE.

1. A ação rescisória consubstancia instrumento destinado ao controle da legalidade e legitimidade da


coisa julgada, estando seu cabimento adstrito às hipóteses que legitimam seu manejo como forma de
tutela e resguardo da segurança jurídica, consubstanciando pressuposto de sua admissibilidade, a
seu turno, a subsistência de sentença de mérito transitada em julgado sob a bitola do devido processo
legal (CPC, art. 485).

2. Emergindo a causa de pedir alinhavada como sustentação do direito rescisório invocado da


subsistência de vício insanável maculando o processo no qual emergira a sentença rescindenda por
ter transitado a ação sem o aperfeiçoamento do litisconsórcio necessário que lhe era inerente e
citação da respectiva litisconsorte qualificada como necessária, a sentença, conquanto formalmente
transitada em julgado, não é acobertada por esse manto, pois, reconhecido o vício, deve ser reputada
inexistente, tornando inviável que seja perseguida sua desconstituição via de pretensão rescisória.

3. Derivando a causa de pedir de vício insanável que maculara o processo e a sentença cuja
desconstituição é perseguida, a prestação almejada deve ser perseguida via do instrumento
adequado para esse desiderato, que é a ação de nulidade insanável – querella nullitatis insanabilis
-, pois insubsistente a gênese da ação rescisória, que é a sentença de mérito transitada em julgado
sob as garantias do devido processo legal, determinando o manejo da rescisória a afirmação da
carência de ação da autora por inadequação do instrumento manejado.

4. Considerando que a competência para processar e julgar a ação de nulidade insanável como
instrumento apropriado para invalidação de sentença acoimada de vício insanável é reservada ao
órgão jurisdicional de primeiro grau de jurisdição, inexiste lastro para se admitir a rescisória como
sua sucedânea legítima e assegurar-lhe trânsito junto ao órgão colegiado do tribunal competente
para conhecer, processar e julgar ação rescisória, pois a aplicação do princípio da fungibilidade tem
como premissa elementar a competência do mesmo órgão jurisdicional para conhecer do instrumento
adequado para obtenção da tutela pretendida via do instrumento inadequadamente elegido.

5. Carência de ação da autora afirmada. Ação rescisória extinta, sem julgamento de mérito.
Preliminar acolhida. Maioria.Grifo nosso.

(Acórdão n.877554, 20140020283333ARC, Relator: SEBASTIÃO COELHO, Relator


Designado:TEÓFILO CAETANO, Revisor: GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA, 1ª Câmara Cível,
Data de Julgamento: 25/05/2015, Publicado no DJE: 02/07/2015. Pág.: 69)

Ademais, por ocasião dos debates que resultaram no acórdão transcrito, um dos pontos que impediram
a aplicação do princípio de fungibilidade ao caso é a distinção de competência para o ajuizamento da
demanda, pois enquanto a ação rescisória tem foro no Tribunal, a querela nullitatis é de competência
do Juízo de primeiro grau.

Nesse diapasão, acompanhando a evolução jurisprudencial deste Tribunal, verifico ser caso de adotar
o citado posicionamento e acolher a preliminar arguida.

No caso, falece ao autor o interesse na rescisão do julgado, pois pretende a declaração de nulidade do
processo por inteiro, por não ter sido adequadamente citado para compor o pólo passivo da lide
original.

A doutrina e a Jurisprudência são uníssonas em adotar o rol do art. 966 do Código de Processo Civil
(antigo 485) como taxativo, com o fim de privilegiar a segurança jurídica das decisões transitadas em
julgado. Assim, por não estar a nulidade ou ausência de citação dentre uma das hipóteses previstas no
dispositivo citado, verifico a falta de interesse de agir do autor, no quesito inadequação da via eleita.

Nesse sentido, os seguintes julgados deste Tribunal:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. OBJETO. VÍCIO INSANÁVEL PROVENIENTE DA


NÃO CITAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. CARÊNCIA DE AÇÃO.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. HIPÓTESE DE QUERELA NULITATIS. EXTINÇÃO DO
PROCESSO RESCISÓRIO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.

1. O meio adequado para se buscar a anulação do processo por ausência de citação é a querela
nullitatis e não a ação rescisória, a qual possui o rol taxativo previsto no art. 485 do Código de
Processo Civil.

2. A querela nullitatis, também chamada de ação declaratória de inexistência de sentença, é utilizada


para sanar vícios que culminem na invalidade de todo o processo.
3. Pretendendo a nulidade do processo em decorrência de vício de citação por meio de ação rescisória,
verifica-se a falta de condição da ação pela inadequação da via eleita, acarretando sua extinção nos
termos do art. 267, IV e VI do Código de Processo Civil.

4. Preliminar acolhida e Ação Rescisória extinta sem resolução do mérito.

(Acórdão n.933767, 20140020135817ARC, Relator: SEBASTIÃO COELHO, Revisor: GILBERTO


PEREIRA DE OLIVEIRA, 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 11/04/2016, Publicado no
DJE: 14/04/2016. Pág.: 107/112)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. AUSÊNCIA DE


CITAÇÃO. HIPÓTESE DE QUERELA NULLITATIS INSANABILIS. PROCESSO EXTINTO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ARTIGO 267 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

1. Há litisconsorte necessário quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o
juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes, caso em que a eficácia da sentença
dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo. Inteligência do artigo 47 do Código de
Processo Civil.

2. A ação rescisória pressupõe (i) a existência de decisão de mérito com trânsito em julgado; (ii) o
enquadramento nas hipóteses taxativamente previstas no artigo 485 do Código de Processo Civil; e
(iii) o seu ajuizamento antes do decurso do prazo decadencial de dois anos (CPC, art. 495).

3. Constatada a ausência de citação, "não há que se falar em coisa julgada na sentença proferida
em processo em que não se formou a relação jurídica apta ao seu desenvolvimento. É que nessa
hipótese estamos diante de uma sentença juridicamente inexistente, que nunca adquire a
autoridade da coisa julgada. Falta-lhe, portanto, elemento essencial ao cabimento da rescisória,
qual seja, a decisão de mérito acobertada pelo manto da coisa julgada. Dessa forma, as sentenças
tidas como nulas de pleno direito e ainda as consideradas inexistentes, a exemplo do que ocorre
quando proferidas sem assinatura ou sem dispositivo, ou ainda quando prolatadas em processo em
que ausente citação válida ou quando o litisconsorte necessário não integrou o polo passivo, não se
enquadram nas hipóteses de admissão da ação rescisória, face a inexistência jurídica da própria
sentença porque inquinada de vício insanável." (AR 569/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES)

4. A nulidade de sentença por ausência de citação do litisconsorte passivo necessário é, portanto,


causa impeditiva do seu trânsito em julgado, podendo contra ela ser oposta, a qualquer tempo,
exceção de nulidade, mediante ação declaratória de inexistência de citação, apelidada de querela
nullitatis insanabilis.

5. Ação rescisória extinta sem julgamento do mérito.

(Acórdão n.545733, 20100020014644ARC, Relator: J.J. COSTA CARVALHO, Revisor:


FERNANDO HABIBE, 2ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 10/10/2011, Publicado no DJE:
07/11/2011. Pág.: 209). Grifo nosso.

Da mesma forma, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NULIDADE DA CITAÇÃO EM AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA


NOVA. QUERELA NULLITATIS INSANABILIS. CABIMENTO.

1. A ausência de citação não convalesce com a prolação de sentença e nem mesmo com o trânsito em
julgado, devendo ser impugnada mediante ação ordinária de declaração de nulidade. A hipótese não
se enquadra no rol exaustivo do art. 485 do Código de Processo Civil, que regula o cabimento da
ação rescisória.

2. Recurso especial a que se dá provimento.

(REsp 1333887/MG. Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
25/11/2014, DJe 12/12/2014).

Ante o exposto, ACOLHO A PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE por inadequação da


via eleita e extingo o feito, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VI, do Código de
Processo Civil.

Condeno o autor ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez
por cento) sobre o valor da condenação.

É como voto.

[1] In: Curso de Direito Processual Civil. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. p. 875-877.

A Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL - 1º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - 2º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS - 3º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - 4º Vogal

Voto no mesmo sentido da divergência.

O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - 5º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - 6º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 7º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - 8º Vogal

Senhor Presidente,

O autor alega a nulidade de sua citação por edital no julgado cuja rescisão pretende ver acolhida.
Sustenta, para tanto, não terem sido esgotadas as tentativas de citação pelas vias regulares.
Nesse contexto, de fato, caso venha a ser constatado que a hipótese ora em exame é de nulidade da
citação por edital, restaria configurada a nulidade da sentença, situação que afasta, a princípio, a
possibilidade de ajuizamento de ação rescisória.

A respeito do assunto, merecem destaque as lições de Pontes de Miranda[1], que tratou da diferença
entre a sentença nula e o provimento jurisdicional rescindível, posição plenamente aplicável à atual
sistemática processual civil:

“A sentença que se vai rescindir, se por outra razão não é nula, é sentença, válida mas rescindível.

Os despachos e sentenças de que cogita o art. 486 do Código de Processo Civil, são também
despachos e sentenças válidos, se bem que se possam rescindir.

Se ocorre que há causa para decretação de nulidade e causa para a decretação de rescisão, primeiro se
há de julgar a ação de nulidade, ainda incidente, devido ao princípio da subsidiariedade. A ação
rescisória é ação subsidiária. Se a sentença é nula, não se precisa rescindir. Quem pode empuxar e
afastar o obstáculo não precisa empregar machado ou outro instrumento cortante.

A decisão rescindente não é declarativa, mas sim constitutiva negativa. O que deixa de ser ou o que
não era passa a ser. No momento em que passa em julgado a decisão favorável proferida em ação
rescisória, a sentença que existia deixou de existir. Nenhum efeito da sentença rescindida pode
perdurar se toda a sentença foi rescindida.”

Ocorre que, a situação jurídica em exame também revela ter havido violação à norma jurídica.

Nesse contexto, é conveniente lembrar que a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça
aplica o princípio da fungibilidade nos casos de ocorrência da querela nulitatis insanabilis, ao
assimilá-la à ação rescisória. A propósito, examinem-se os seguintes precedentes promanados daquela
Colenda Corte:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO REGULAR NA SEGUNDA
INSTÂNCIA. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. POSSIBILIDADE.

1. Ação rescisória ajuizada em 16.12.2011. Recurso especial atribuído ao gabinete em 25.08.2016.


Julgamento: CPC/1973.

2. Cinge-se a controvérsia a definir a possibilidade do manejo da ação rescisória, no caso de


reconhecimento de nulidade absoluta, pela falta de intimação do procurador do recorrente acerca dos
atos processuais praticados no segundo grau de jurisdição.

3. Ausente o vício do art. 535, II do CPC/73, rejeitam-se os embargos de declaração.

4. A exclusividade da querela nullitatis para a declaração de nulidade de decisão proferida sem regular
citação das partes, representa solução extremamente marcada pelo formalismo processual.

Precedentes.
5. A desconstituição do acórdão rescindendo pode ocorrer tanto nos autos de ação rescisória ajuizada
com fundamento no art. 485, V, do CPC/73 quanto nos autos de ação anulatória, declaratória ou de
qualquer outro remédio processual.

6. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 1456632/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em


07/02/2017, DJe 14/02/2017)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, V, C/C ART. 487, II, DO CPC.
PRELIMINARES: IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA, DECADÊNCIA,
PREQUESTIONAMENTO, LITISCONSÓRCIO, QUERELA NULLITATIS. CISÃO PARCIAL DE
EMPRESA POSTERIORMENTE AO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. SOLIDARIEDADE PASSIVA
QUANTO AOS DÉBITOS DA SOCIEDADE CINDIDA. OBRIGAÇÃO DA RÉ DE COMUNICAR.
IMPOSSIBILIDADE DE ALEGAR NULIDADE. AÇÃO RESCISÓRIA IMPROCEDENTE.

1. A impugnação ao valor da causa deve ser rejeitada por já haver trânsito em julgado sobre a questão.

2. O prazo decadencial para o ajuizamento da ação rescisória inicia-se quando não for mais cabível
recurso do último pronunciamento judicial, nos termos da Súmula 401/STJ.

3. Admite-se ação rescisória por violação de lei, mesmo que a decisão rescindenda não tenha emitido
juízo sobre o dispositivo supostamente violado. Na ação rescisória dispensa-se o prequestionamento.
Precedentes.

4. Nas ações rescisórias integrais devem participar, em litisconsórcio unitário, todos os que foram
parte no processo cuja sentença é objeto de rescisão.

5. Por alegada inexistência de citação, é possível debater-se a ausência de litisconsortes passivos


necessários e a conseqüente anulação do feito rescindendo, tanto em ação rescisória quanto por meio
de querela nullitatis, pois neste caso há concurso de ações.

Precedentes.

6. Operada a cisão parcial, cria-se um vínculo de solidariedade passiva das sociedades beneficiárias
quanto aos débitos anteriores da sociedade cindida, atingindo todas as sociedades interessadas (§ 3º
art. 42 CPC).

7. Ocorrida a cisão parcial posteriormente ao ajuizamento da ação que pleiteava rescisão contratual e
indenização, era obrigação da parte ré comunicar ao Juízo o fato, portanto há impossibilidade de
alegar a nulidade que deu causa (art. 243 do CPC).

8. Ação rescisória improcedente.

(AR 3.234/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
27/11/2013, DJe 14/02/2014)

Observa-se ainda que o referido entendimento também tem sido adotado por este Egrégio Tribunal de
Justiça e especificamente por esta Egrégia Câmara:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO RESCISÓRIA. ACÓRDÃO
RESCINDENDO. GÊNESE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBJETO. ATOS ADMINISTRATIVOS
PRATICADOS PELA SECRETARIA DE GESTÃO ADMINISTRATIVA DO DISTRITO
FEDERAL RELATIVOS A CONCURSO PÚBLICO. DESCONSTITUIÇÃO DO CERTAME.
CARGO. AUDITOR FISCAL TRIBUTÁRIO. EDITAL Nº 228/1993- IDR. PRETENSÃO
RESCINDENDA. CAUSA DE PEDIR. ERRO DE FATO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO À
TEORIA DO FATO CONSUMADO. INEXISTÊNCIA DE ERRO. INSUBSISTÊNCIA.
SENTENÇA PAUTADA PELOS ELEMENTOS QUE GUARNECIAM OS AUTOS. PRAZO DE
VALIDADE DO CERTAME. EXPIRAÇÃO. CONVOCAÇÃO E POSSE DE CANDIDATOS
POSTERIORMENTE. DECLARAÇÃO DE NULIDADE DOS ATOS IMPUGNADOS.
CANDIDATOS BENEFICIADOS PELOS ATOS ADMINISTRATIVOS ARROSTADOS.
CONSEQUÊNCIA DA INVALIDAÇÃO. EXONERAÇÃO. LITISCONSORTES PASSIVOS
NECESSÁRIOS. QUALIFICAÇÃO. CITAÇÃO. AUSÊNCIA. NULIDADE ABSOLUTA.
RECONHECIMENTO. PEDIDO RESCIDENDO. ACOLHIMENTO. ACÓRDÃO
DESCONSTITUÍDO. PRELIMINARES. CARÊNCIA DE AÇÃO. ERRO DE FATO. AFERIÇÃO
EM ABSTRATO. PRESENÇA. ADEQUAÇÃO, NECESSIDADE E UTILIDADE DA
PRETENSÃO. TEORIA DA ASSERÇÃO. RESOLUÇÃO DO PEDIDO. MATÉRIA RESERVADA
AO MÉRITO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO.
FUNDAMENTO. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. VÍCIO INSANÁVEL.
INCONPLETUDE DA RELAÇÃO PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE
LITISCONSORTRES PASSIVOS NECESSÁRIOS. COISA JULGADA MATERIAL. INCURSÃO
PELO DIREITO MATERIAL. PRETENSÃO RESCISÓRIA. ADMISSIBILIDADE NO PLANO
ABSTRADO. CONCURSO DE AÇÕES - RESCISÓRIA E QUERELA NULLITATIS. OPÇÃO
PELA RESCISÓRIA. CABIMENTO.

1. Alinhados os argumentos içados como hábeis a ensejar a apuração de que o julgado arrostado
emergira de erro de fato passível de afetar a resolução que empreendera, alinhavando o autor, pois,
causa de pedir compatível e apta a lastrear a pretensão desconstitutiva formulada por se enquadrar a
causa de pedir numa das hipóteses que a legitimam, a apuração se o aduzido encontra respaldo
material deve ser procedida em sede de exame meritório, e não sob o prisma da apuração das
condições da ação por demandar a apreensão do vício inoculador revolvimento da resolução
empreendida.

2. Emergindo a causa de pedir alinhavada como sustentação do direito rescisório invocado da


subsistência de vício insanável maculando o processo no qual emergira a sentença rescindenda por ter
transitado a ação sem o aperfeiçoamento do litisconsórcio necessário que lhe era inerente e citação de
litisconsortes qualificados como necessários, denotando a incompletude da relação processual,
afigura-se viável que seja perseguida sua desconstituição via de pretensão rescisória.

3. Conquanto emergindo da imputação de vício insanável ao processo do qual emergira a coisa


julgada, ensejando a germinação de coisa julgada ilegal por ter derivado de violação de literal
disposição normativa, legitimando a formulação de pretensão anulatória sob a forma da querela
nullitatis, o fato de o vício também se enquadrar nas situações que legitimam a rescisão, pois
coisa julgada ilegal é coisa julgada formada com violação à lei, confere lastro à opção da parte
pela via rescisória, se manifestada dentro do prazo decadencial, obstando a afirmação da sua
carência de ação derivada da alegação de inadequação da via instrumental eleita (CPC, art. 966,
V). Precedentes do STJ.

4. Conquanto não encarte resolução volvida ao reconhecimento do direito demandado, pois tem como
premissa a subsistência de vício insanável que maculara o processo originário, o acórdão que, em sede
de ação civil pública, declara a nulidade de atos administrativos praticados no ambiente de concurso
público, afetando diretamente o direito material dos candidatos beneficiados pelos atos impugnados,
podendo conduzir à sua exoneração, é passível de revolvimento pela via rescisória sob a premissa de
que violara norma jurídica, notadamente porque a resolução que empreendera obsta a propositura de
demandas individuais destinadas ao reconhecimento da legitimidade do certame e do direito subjetivo
à investidura ostentado pelos reputados aprovados e investidos (CPC, arts. 966, § 2º, I).

5. O erro de fato apto a aparelhar a rescisão da coisa julgada é caracterizado quando a sentença admitir
um fato inexistente ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido, consoante a
regulação do art. 966, VIII, do estatuto processual vigente, sendo imprescindível para a qualificação
do vício, em qualquer de suas variantes, que não tenha subsistido controvérsia nem pronunciamento
judicial sobre o fato que teria ensejado o erro em que incidira o julgado.

6. Os elementos que guarnecem os autos é que se transmudam no universo dentro do qual deve ser
prolatada a sentença e resolvido o conflito de interesses estabelecido entre os litigantes, não podendo
fatos e documentos estranhos ao processo, consoante comezinha regra de direito processual, serem
considerados para a resolução da causa, ensejando que, em tendo a sentença sido pautada pelo que
emergia dos autos, não incorrera em erro de fato, infirmando a possibilidade de ser desconstituída por
não estar acoimada por aludido vício, notadamente porque a interpretação das provas de conformidade
com o princípio da persuasão racional e subsunção dos fatos à norma, não derivando da
desconsideração de fato existente ou do alinhamento de fato inexistente, não são passíveis de ser
assimilados como erro de fato apto a conduzir à desconstituição da coisa julgada.

7. Conquanto, em regra, não seja necessária a formação de litisconsorte passivo necessário em ação
que verse sobre questões pertinentes a concurso público, aviada ação civil pública com o objetivo de
invalidação de todos os atos administrativos praticados na condução de certame concluído e
encerrado, com a posse dos aprovados, ensejando a apreensão de que os afetados pela prestação
almejada são identificados e terão o direito subjetivo afetado pela pretensão, a pretensão enseja a
deflagração de situação em que os concorrentes investidos se qualificam como litisconsortes passivos
necessários, devendo necessariamente ser integrados à relação processual, notadamente porque, diante
dos efeitos preclusivos que a coisa julgada irradiará, não os assistirá direito de se valerem de
instrumentos individualizados com o escopo de defender a legitimidade da sua investidura (CPC, art.
114).

8. Aviada e processada ação civil pública cujo desiderato fora a invalidação de atos praticados no
ambiente de concurso público que resultara na reversão da posse e investidura dos concorrentes, a
ausência de citação dos aprovados e investidos encerra vício insanável, maculando o trânsito
processual e determinando a desconstituição da coisa julgada, pois, na conformidade do devido
processo legal, ninguém pode ser privado dos seus bens ou direitos sem que esteja integrado à relação
processual e exercite o direito à defesa que lhe é assegurado.

9. Ação rescisória admitida. Preliminares rejeitadas. Pedido acolhido. Unânime.

(Acórdão n.1075676, 07010932920168070000, Relator: TEÓFILO CAETANO 1ª Câmara Cível,


Data de Julgamento: 20/02/2018, Publicado no DJE: 05/03/2018) (Ressalvam-se os grifos)

Por fim, convém observar a doutrina de José Miguel Garcia Medina[2] ao discorrer a respeito da
distinção entre a querela nulitatis insanabilis e a ação rescisória, justamente no ponto a respeito da
possível fungibilidade entre ambas, com o intuito de evitar prejuízos à parte:

“Na doutrina e na jurisprudência, costuma-se chamar tal ação de actio nulitatis ou de querela nulitaitis.
Há muita controvérsia acerca do acerto do uso dessas expressões, contudo. Preferimos não usar tais
termos, registrando, porém, que, ao menos na doutrina e na jurisprudência brasileiras, eles têm sido
empregados para designar a ação – ou, às vezes, até a alegação incidental – de inexistência jurídica ou
de ineficácia, decorrente da ausência de citação.
Afirma-se, de todo modo, que a alegação de ausência de citação não se circunscreve ao prazo para
ajuizamento da ação rescisória.

Não há procedimento próprio para se veicular tal pedido, que, como princípio deve ser apresentado ao
próprio juízo em que se proferiu a sentença (isso é, “o juízo que proferiu a decisão supostamente
viciada). Não prejudica a ação a circunstância de a parte tê-la nomeado como anulatória. É viável o
pedido, ainda, se veiculado através de impugnação à execução de sentença (art. 525, § 1o, I, do
CPC/2015), por ação civil pública ou, até, por mandado de segurança.

Embora adequado o caminho da ação declaratória, deve-se admitir a ação rescisória, pois, no mínimo,
terá havido violação manifesta à norma jurídica, ao se proferir decisão contra o réu não citado.

(...)

Concordamos que, no caso, não se teria, rigorosamente, a formação da coisa julga, motivo pelo qual
faltaria um dos requisitos para que se admitisse a ação rescisória (decisão “transitada em julgado”, cf.
art. 966, caput, do CPC/2015). No entanto, não se pode desprezar o fato de que tal decisão, ao mesmo
aparentemente, transitou em julgado, e, além disso, não há previsão legal de remédio processual
específico para se suscitar tal vício. No mesmo processo em que foi proferida a decisão acima
mencionada, manifestou-se o STJ, posteriormente, no sentido de que, “tendo a finalidade dos referidos
atos aqui praticados sido alcançada, o aproveitamento desses atos na eventual ação declaratória de
inexistência de citação não apresenta prejuízo para qualquer das partes. Por tal razão, permite-se a
aplicação ao caso dos princípios da instrumentalidade das formas e do aproveitamento racional dos
atos processuais, que norteiam o sistema das nulidades no direito brasileiro”. Decidiu-se, ainda, que a
simples extinção do processo sem resolução do mérito, fundada na inadmissão da ação rescisória,
configura “desrespeito aos princípios da celeridade e economia processuais, pois o não
aproveitamento dos atos processuais validamente praticados na nova ação a ser iniciada no juízo
competente demandará maior dispêndio de tempo e atividade jurisdicional”. Diante disso, o STJ
determinou o envio dos autos ao juízo de 1.º grau, “a fim de que a presente ação seja reautuada como
ação declaratória de inexistência de citação”.”

Nós mesmos entendemos que, no caso, não chegou a formar-se a coisa julgada. No entanto, é
inegável que, ao menos aparentemente, há sentença formalmente transitada em julgado, e, sob
esse prisma, poderia o réu não citado supor que poderia valer-se de ação rescisória, pois a
decisão proferida em tal ambiente viola manifestamente a norma jurídica, já que proferida
contra o réu a despeito de esse não ter sido citado (art. 966, V, do CPC/2015).

A favor do réu que utiliza a ação rescisória pode-se afirmar, ainda, que a lei processual não dispõe
sobre meio processual típico para se arguir a ausência de citação (salvo a impugnação ao cumprimento
de sentença, cf. art. 525, § 1.º, I, e art. 535, I do CPC/2015).” (Ressalvam-se os grifos)

Feitas essas considerações, peço vênia ao Eminente Relator para admitir a presente ação rescisória e
permitir, assim, a análise de seu mérito.

[1] MIRANDA, Pontes de. Tratado da ação rescisória e de outras decisões. 5. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1976, p. 448.

[2] MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. 3. ed. São Paulo: RT, 2017, p.
1001-1002.
DECISÃO

PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA ACOLHIDA.


AÇÃO RESCISÓRIA JULGADA EXTINTA SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. MAIORIA

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