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Acórdão Nº 1183185
EMENTA
1. A imposição de multas ou astreintes tem por objetivo coagir o devedor a satisfazer, com maior
retidão, a prestação de uma obrigação de fazer ou não fazer fixada em decisão judicial, visando dar
efetividade ao decisum (artigo 537, §1º, do CPC).
2. Conquanto seja possível a fixação de multa diária pelo descumprimento de obrigação determinada
em sede de tutela antecipada, deve ser fixado prazo razoável ao cumprimento da medida imposta, a
teor do que dispõe o artigo 537 do CPC, sob pena de inexigibilidade da multa.
3. Ante a sucumbência recursal, devem os honorários advocatícios ser majorados, nos termos do art. 85
§ 11º do CPC.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de apelação interposta por ANA APARECIDA DOS SANTOS contra sentença proferida em
ação de cobrança de multas diárias fixadas em sede de tutela antecipada em obrigação de fazer ajuizada
pela ora apelante em face de AMIL ASSISTENCIA MEDICA INTERNACIONAL S.A.
Na inicial, a autora narrou que propôs ação de obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada,
visando o restabelecimento do plano de saúde, uma vez que necessita da retirada da mama direita, com
a devida reconstituição mamária, em razão de câncer de mama diagnosticado em 02/05/2017.
Relatou que foi proferida decisão nos referidos autos deferindo parcialmente o pedido de tutela de
urgência, nos seguintes termos: “(...) DEFIRO PARCIALMENTE o pedido de tutela de urgência para
determinar que a ré restabeleça o plano de saúde da autora, nas mesmas condições que gozava
anteriormente, mantendo-a no plano coletivo pelo período de seis meses, contados da data do
falecimento do titular, à custa da autora, nos termos do art. 30, §§1º e 3º, da Lei 9.656/98, sob pena de
multa diária de R$1.000,00.”
Ressaltou que o mandado de citação foi cumprido em 21/07/2017, todavia, ao tentar marcar consulta
médica no Hospital Brasília – DF, em 25/07/2017, foi-lhe negado atendimento, em razão da exclusão
do plano de saúde.
Destacou a gravidade da patologia em questão e a necessidade de majorar o valor das astreintes, como
forma de coagir a ré a cumprir a decisão liminar.
Regularmente intimada, a ré não se manifestou, razão pela qual foi deferida na decisão de Id. 8294866
o bloqueio via Bacenjud da quantia de R$4.000,00.
A ré apresentou impugnação no Id. 8294874, alegando que não foi designado prazo para cumprimento
da obrigação na decisão que deferiu a tutela de urgência, apesar de ter sido estipulada multa diária para
o caso de descumprimento.
Destacou que a jurisprudência pátria entende que, no caso de ausência de fixação de prazo para
cumprimento da obrigação, a multa diária é inexigível. Colacionou julgados em respaldo a sua tese.
Ao final, informou que foi comprovado o cumprimento em prazo razoável da tutela antecipada na ação
principal, razão pela qual pleiteou o desbloqueio dos valores penhorados ou a expedição de alvará para
levantamento do valor da penhora, com a consequente extinção do processo.
Eventualmente, defendeu que o prazo para cumprimento da decisão seria de cinco dias, contados da
intimação da ré, a teor do que dispõe o artigo 218, §3º, do CPC; bem como deveria ser contado em dias
corridos, nos termos do artigo 219, § un., do CPC, tendo como termo final o dia 25/07/2017.
A sentença de Id. 8294881 acolheu a impugnação para rejeitar o pedido de execução da multa fixada
anteriormente.
Ao final, condenou a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes
fixados em 10% sobre o valor da causa, nos termos do artigo 85, §2º, do CPC, ressalvando a suspensão
da exigibilidade, em razão da gratuidade de justiça.
A autora apela no Id. 8294884 alegando que o presente caso se enquadra no disposto no §3º do artigo
231 do CPC, razão pela qual o cumprimento da obrigação deveria ter sido imediato, a partir da
intimação da ré, que se deu no dia 21/07/2017.
Eventualmente, aduz que, não tendo o magistrado a quo fixado prazo para cumprimento da decisão,
este seria de cinco dias corridos, a teor do que dispõe o artigo 218, §3º, e 219, § un., ambos do CPC.
Acrescenta que, em 27/07/2017, foi expressamente determinado que a ré apresentasse em cinco dias a
comprovação do cumprimento da decisão que antecipou os efeitos da tutela, tendo tal prazo
transcorrido sem qualquer manifestação.
Salienta que, embora o descumprimento da decisão tenha ocorrido por um lapso temporal maior do que
cinco dias, a multa foi fixada em R$4.000,00 na decisão proferida em 17/11/2017.
Ao final, requer o conhecimento e provimento do recurso para que a ré seja condenada ao pagamento
da multa de R$4.000,00.
É o relatório.
VOTOS
Cuida-se de apelação cível interposta por ANA APARECIDA DOS SANTOS em face de sentença
que, nos autos da ação de cobrança de multas diárias fixadas em sede de tutela antecipada em
obrigação de fazer ajuizada pela ora apelante em face de AMIL ASSISTENCIA MEDICA
INTERNACIONAL S.A., acolheu a impugnação da ré para rejeitar o pedido de execução das
astreintes.
Ao final, condenou a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes
fixados em 10% sobre o valor da causa, nos termos do artigo 85, §2º, do CPC, ressalvando a
suspensão da exigibilidade, em razão da gratuidade de justiça.
Cinge-se a presente questão à análise da possibilidade de cobrança do valor de R$4.000,00, atinente às
multas diárias, em razão de suposto descumprimento da tutela de urgência deferida parcialmente nos
autos da ação de obrigação de fazer nº 0702293- 92.2017.8.07.0014.
Acerca do tema, impende destacar que a imposição de multas ou astreintes tem por objetivo coagir o
devedor a satisfazer, com maior retidão, a prestação de uma obrigação de fazer ou não fazer fixada em
decisão judicial, visando dar efetividade ao decisum (artigo 537, §1º, do CPC).
Compulsando os autos, verifica-se que o Juízo a quo proferiu decisão na ação de obrigação de fazer
no Id. 8274253 deferindo parcialmente a tutela antecipada requerida pela autora, nos seguintes termos:
“Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE o pedido de tutela de urgência para determinar que a ré
restabeleça o plano de saúde da autora, nas mesmas condições que gozava anteriormente,
mantendo-a no plano coletivo pelo período de seis meses, contados da data do falecimento do titular,
à custa da autora, nos termos do art. 30, §§1º e 3º, da Lei 9.656/98, sob pena de multa diária de
R$1.000,00.”
Dessa forma, observa-se que houve a fixação das multas diárias ora cobrada, contudo não foi
estipulado prazo para cumprimento da obrigação na referida decisão.
A teor do que dispõe o artigo 537 do CPC deve ser fixado prazo razoável para o cumprimento da
medida imposta. Veja-se:
“Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de
conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja suficiente
e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito.”
(g.n.)
2. Não fixado prazo para o cumprimento da obrigação de fazer, não cabe a incidência da multa
cominatória uma vez que ausente o seu requisito intrínseco temporal.
3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1361544/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 05/10/2017)” (g.n.)
1. O recurso especial que indica violação do artigo 535 do Código de Processo Civil, mas traz
somente alegação genérica de negativa de prestação jurisdicional, é deficiente em sua
fundamentação, o que atrai o óbice da Súmula nº 284/STF.
2. De acordo com o art. 461, § 4º, do Código de Processo Civil, o juiz poderá, em medida liminar ou
na própria sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for
suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do
preceito.
4. Recurso especial provido. (REsp 1455663/PE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07/08/2014, DJe 25/08/2014)” (g.n.)
Considerando que o despacho que determinou o prazo para cumprimento da obrigação se refere a
período posterior ao cobrado no presente feito (Id. 8294858), a manutenção da sentença que rejeitou o
pedido de execução de multa cominatória de R$4.000,00 é medida que se impõe.
Quanto ao pedido de majoração das astreintes, a via judicial eleita não é adequada para apreciação da
questão, tratando-se o presente feito de execução de multas anteriormente fixadas.
Em razão da total improcedência da apelação da autora, majoro em 2% (dois por cento) os honorários
advocatícios fixados em sentença, percentual o qual se soma àquele fixado na origem, nos termos do
artigo 85, §11, do CPC, ficando suspensa a exigibilidade, em face do benefício da gratuidade de
justiça concedido.
É como voto.