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INTRODUÇÃO
Apocalipse! Talvez o livro menos lido em todo o Novo Testamento. É provável que a
maioria dos cristãos nunca tenham lido esse livro, ou, se o leram, o fizeram apenas
nos três primeiros capítulos. Possivelmente esse desprezo para com o Apocalipse
deve-se à visão que as pessoas têm dele.
Por que esse título? Porque é assim que a maioria de nós vê tal livro. Embora não
tendo lido o Apocalipse, ou lendo pequenos trechos dele, grande parte das pessoas
crê que ele fala do fim do mundo, com estrelas e prédios caindo sobre suas cabeças.
Além disso, ele falaria do grande sofrimento pelo qual os cristãos passarão, e isso não
é nada bom para qualquer pessoa, e além do mais, esse dado estaria em contraste
com a vida vitoriosa da qual o resto do Novo Testamento fala. O Apocalipse também é
um vilão por que ele fala de Dragão, Besta, Falso Profeta, 666 como número da Besta,
dando a impressão que todos eles um dia, de modo inesperado, surgirão correndo
atrás dos cristãos para matá-los, e isso gera pânico em muitas pessoas.
Todos esses livros compõem a literatura apocalíptica. Ela procura transmitir uma
mensagem de fé e esperança para aqueles que estão sofrendo. O próprio termo
apocalipse, que significa revelação, indica isso. Através desses livros, seus autores
querem revelar o propósito de Deus àqueles que são perseguidos por sua fé. O
objetivo dos livros é mostrar a verdadeira realidade a fim de fornecer forças para
continuar na luta. Isso se dá através de imagens muito coloridas e simbólicas. Por
exemplo, a simbologia dos números: três, sete, doze, mil anos, cento e quarenta e
quatro mil. A figura de animais: dragão, besta, leão, urso, cordeiro. Na realidade,
parece uma linguagem secreta, em código. De fato, era isso mesmo. Para aqueles
que perseguiam, esses livros não tinham sentido. Mas para aqueles que escreviam ou
liam, eram cheios de significado.
Nosso problema hoje, é que nos sentimos como aqueles que perseguiam os cristãos.
Não conseguimos entender a mensagem do Apocalipse. Para que o compreendamos,
é necessário conhecer um pouco do contexto em que o livro surgiu, e, principalmente,
conhecer o Velho Testamento, de onde a grande maioria das imagens é tirada.
Mas também é importante saber que o livro interpreta vários de seus símbolos. Ex:
1,12 com 1,20; 12,3 com 12,9; 17,3 com 17,9.
Até algum tempo atrás havia um consenso quanto a afirmação de que os cristãos na
Ásia estavam passando por perseguições e que o livro foi enviado nesse contexto. De
fato, o livro fala de perseguição: o próprio João está exilado numa colônia penal em
Patmos devido a perseguição religiosa - 1,9; os cristãos estão passando por
tribulações: 2,9-10; morte - 2,13; 6,9. Porém hoje questiona-se que houvesse uma
perseguição de caráter geral aos cristãos. O que existiria seriam problemas
localizados. Seguindo este ponto de vista, o escritor veria nesses problemas
esporádicos sinais de um grande confronto que estava para se dar: Estado Romano x
Igreja. O Apocalipse teria, então, a função de servir como um alerta para despertar os
cristãos para a realidade de que esse confronto estava começando, embora alguns
não concordassem com tal postura. Dentro dessa perspectiva este livro é altamente
relevante para nós. Pode ser que convivamos bem com a sociedade, com as
estruturas, etc. Mas isso não revelará um certo conformismo de nossa parte? O
Apocalipse serve para nos questionar em nossas posturas.
Embora seja muito difícil de se chegar a um consenso, há alguns dados que podem
ser observados. Todos os estudiosos admitem que o livro tem uma forte ênfase sobre
o número sete. Há:
CONCLUSÃO
O objetivo desta aula foi fazer uma primeira apresentação do Apocalipse. Espero que
tenhamos podido perder um pouco o medo deste livro tão belo e entendermos alguns
fatos relativos a ele que nos ajudem a compreendê-lo melhor. Uma última palavra. É
significativa a posição que o Apocalipse tem no cânon bíblico. Sendo o último livro, é
nele que confluem todas as esperanças, lutas e vivências do povo de Deus. Nele
encontramos a última chance de expressão de vida cristã. E neste livro, ou se está ao
lado de Deus, ou contra Ele. Para seu autor, quem é “morno” corre o risco de ser
vomitado pelo Senhor Jesus (Ap 3,16). Nesse sentido, sua leitura e estudo são
desafiadores para nós. Esse desafio é importante, pois motiva-nos a crescer diante de
nosso Deus e Pai na avaliação de nosso compromisso com Ele.
Já foi visto que, de acordo com o próprio nome do livro (Apocalipse = “revelação”- 1,1),
o escritor procura apresentar o real sentido da vida cristã e do sofrimento através de
uma “revelação” de Jesus Cristo. Mas o escritor também se apresenta como profeta
(22,9) e caracteriza seu livro como profecia (1,3; 22,19). Qual a importância disso para
o entendimento do texto?
A importância é muito grande, visto que dependendo da definição que temos de
profecia, será o tipo de interpretação que faremos do livro. O que é profecia para
você?
Hoje em dia é muito comum o conceito de profecia como “predição do futuro”. É algo
semelhante ao horóscopo, às profecias de Nostradamus ou coisa assim. Tal visão
também é muito influenciada pelos místicos que fazem previsões e pelas práticas
pentecostais, onde a previsão do futuro, como profecia, ocupa lugar de destaque. Mas
será que é isso que o escritor do Apocalipse tem em mente quando chama seu livro de
“profecia”?
• Uma mensagem que aponta para a vinda final de Jesus Cristo. Ela segue aqui a
perspectiva pela qual o Velho Testamento era interpretado: cristologicamente, isto é,
vendo nele predições que apontavam para Jesus Cristo (Lc 24,44). O Apocalipse
segue essa linha apresentando uma visão “cristológica” da história, afirmando que
Jesus controla a história e indicando que os eventos relativos a sua segunda vinda
“estão próximos” (1,3). Na realidade, para o Novo Testamento, desde que Jesus
encarnou e ressuscitou, ele “já está chegando”. É por isso que o escritor pode falar do
julgamento sobre Roma como algo muito próximo. Porém o livro não fala de
acontecimentos “particulares”, mas de ações de Jesus que se darão como
conseqüência de sua segunda vinda.
Após essas considerações sobre a profecia no Apocalipse, podemos ver por que o seu
autor usa o gênero apocalíptico e refere-se ao livro como profecia. Seu objetivo
através da apocalíptica é chamar a atenção para as tribulações que estão por vir e
fornecer fortalecimento e conforto aos que sofrem. Para dar autoridade a essa
mensagem, dá a ela a categoria de profecia.
Visto que a profecia não pode ser vista como um mero “narrar de eventos futuros”,
estando, pelo contrário, mais ligada ao presente, podemos, portanto, concluir que o
Apocalipse não é um livro que narra apenas acontecimentos “futuros”. Essa
constatação permite-nos agora buscar uma visão que substitua essa abordagem
futurista que se faz ao livro.
O Apocalipse não tem uma seqüência cronológica, onde um fato vem “depois” do
anterior até chegar à segunda vinda de Jesus Cristo. Pelo contrário, o livro fala do
conflito eminente com o império, e procura dar forças para o povo cristão ser fiel e, ao
mesmo tempo, é uma palavra de condenação ao império romano e seu imperador que
exige ser adorado como Deus.
• A identidade do imperio romano e a perseguição dos cristãos por ele (capítulos 12-
14).
É claro na passagem: o “passado” (12,5), através do nascimento de Jesus, o
“presente” (12,17), na perseguição da igreja pelo dragão (Satanás), e o “futuro” (14,14-
20, compare com Mt 13,24-30.36-43).
4. Conclusão (22,6-21).
Além dos dados acima que mostram o paralelismo progressivo, há um outro recurso
para mostrar o desenvolvimento do clima de tensão do livro. São as palavras ira e
cólera de Deus. A “ira” aparece em 6,16.17; 11,18, e “cólera” em 14,19; 15,1.7; 16,1.
Elas vem juntas para enfatizar o sentimento de Deus em 14,10; 16,19 e 19,15.
Esse tipo de uso que não respeita a cronologia não é estranha à Bíblia. Dois exemplos
servem para ilustrar: Is 6,1-13. Este texto fala da vocação de Isaías. Mas então, ele
não deveria estar no começo do livro? Cronologicamente, sim, mas teologicamente,
não. O autor fala da dureza do povo (6,9-13) diante da mensagem do Senhor. Para
exemplificar isso, coloca os cinco primeiros capítulos que mostram de modo prático
essa dureza. Outro exemplo se encontra em Lc 3,20-22. Este texto diz que João
Batista foi preso (3,20), mas na seqüência faz referência ao batismo de Jesus por
João Batista (3,21). Como pode ser? O autor não está preocupado com a cronologia,
mas com a ênfase teológica. Ele quer mostrar que com João Batista termina um
período da história de Israel e começa outro com Jesus. Por isso a separação entre a
prisão de João e o batizado de Jesus.
CONCLUSÃO
Vimos neste estudo que o livro do Apocalipse é uma “profecia”, uma palavra vinda
diretamente de Deus. Isso é importante para você? Vimos também que o livro não
deve ser entendido apenas em termos futuros, que ele não apresenta uma ordem
cronológica. Esse fato deve orientar nosso estudo. A partir da próxima aula
entraremos mais propriamente no texto do livro.
b. Bênção: (v.3). São bem-aventurados “aquele que lê” (no texto grego está no
singular) e “aqueles que ouvem”. Devemos lembrar que na antigüidade os livros eram
raros, e a igreja, seguindo a prática das sinagogas, após receber os livros (vindos de
João, Paulo, Pedro, etc) fazia a leitura deles em público. Era dessa forma que os
cristãos tomavam conhecimento de sua mensagem. Dificilmente alguém possuía uma
cópia particular. Por isso a bênção vem sobre o que lê publicamente, e sobre a igreja
que se reúne para ouvir a leitura. Temos, portanto, a informação de que o Apocalipse
tinha como objetivo ser “ouvido”. O importante não é apenas ouvir, mas “guardar” (com
o sentido de “observar”, “viver”) aquilo que está escrito.
Esta carta está dividida em duas partes: saudação (v.4-5a), e uma tríplice expressão
de louvor (v.5b-8).
• Deus: “aquele que é, que era e que há de vir” (v.4). Para tal expressão João tem
como pano de fundo Ex 3,14 - Deus é o eternamente “Eu Sou”. Mas a ênfase em
Êxodo e aqui no v.4 não está tanto na eternidade de Deus, quanto na sua “ação”. Ao
falar que Deus “era, é, e virá”, o escritor quer enfatizar que Ele é atuante em toda a
história e a levará a cabo com sua vinda. É importante notar que a tradicional segunda
vinda de “Jesus” é vista aqui como a vinda de “Deus”. Talvez com isso coloca-se a
ênfase em seu desejo de julgar aqueles que perseguem a igreja.
• Espírito Santo: “sete espíritos” (v.4). Maneira diferente de se falar do Espírito Santo!
O número sete, altamente simbólico, representa totalidade, plenitude. Portanto, o
Espírito Santo é Deus pleno, em nada inferior ao Pai. O número sete também pode
indicar que o Espírito está ativo nas “sete igrejas”. Ou seja, Ele está atuando em todas
as igrejas onde se invoca a Trindade.
• Jesus Cristo: (v.5a). Os qualificativos que aparecem para Jesus são importantes para
os ouvintes. “Fiel testemunha” apresenta Jesus como companheiro daqueles que
estavam morrendo por causa do testemunho de Seu nome (6,9). Jesus também
testemunhou a verdade de Deus e também foi morto pelos romanos (Jo 18,33-19,16;
1Tm 6,13). A palavra “testemunha” traduz o grego “martus”, do qual vem a palavra
“mártir”. Nessa época a palavra já estava assumindo um sentido “técnico”. Muitas
vezes o testemunho de Jesus levava ao martírio. Nós somos chamados também, se
necessário, a viver essa dimensão do testemunho cristão. “Primogênito dos mortos”
manifesta o destino daqueles que crêem em Jesus e têm morrido por isso. A morte
não é o fim! Como Jesus ressuscitou, todos que professam seu nome também
ressuscitarão. Esta mensagem é de grande importância para aqueles que estavam ou
iriam passar por sofrimento. Além disso, tais palavras nos lembram que o final já
chegou, na medida em que a ressurreição é um dos seus sinais e que Jesus foi o
primeiro a ressuscitar. Vivemos nos últimos dias. “Soberano dos reis da terra” serve
para mostrar quem realmente manda neste mundo. Não era o império romano, nem
são os Estados Unidos, nem o FMI. Jesus é o soberano sobre todos eles. É ao Senhor
dos senhores que servimos.
b. Tríplice expressão de louvor: (v.5b-8). É composta por: uma doxologia (v.5b-6), uma
profecia (v. 7) e uma auto-proclamação da parte de Deus (v.8).
• doxologia: (v.5b-6). Jesus é louvado pelos seus poderosos atos de salvação. Lembra
que Jesus agiu porque nos “ama” e não porque fôssemos merecedores de sua graça.
O escritor afirma que Jesus “perdoou nossos pecados”, e que se não fosse isso
seríamos tão ruins quanto aqueles romanos que estavam começando a perseguir e
matar cristãos. E apresenta nossa posição como salvos: compomos “um reino”
(singular), onde só pode haver um único rei - Jesus, sendo todos os outros servos;
somos “sacerdotes” (plural), com responsabilidade de ministrar em favor uns dos
outros e do mundo. As últimas palavras da doxologia são de louvor terminando com
um “amém” que deve ser declarado por todos como sinal de concordância.
• profecia: (v.7). João faz uma declaração solene declarando a vinda visível e gloriosa
de Jesus Cristo. A ênfase recai sobre os que o “transpassaram” (crucificaram) e sobre
os povos que não quiseram reconhecê-lo enquanto puderam. Esses se “lamentarão”
porque agora não terão mais chance de se arrependerem de seus pecados.
• auto-proclamação da parte de Deus: (v.8). Temos aqui uma palavra vinda
diretamente de Deus. Ela repete termos do v.4 (“é, era e há de vir”), enfatizando mais
ainda a eternidade e domínio de Deus sobre todas as coisas (“alfa e ômega”, primeira
e última letras do alfabeto grego), e conclui com a declaração de ser “Todo-poderoso”.
Essas palavras tinham o objetivo de dar segurança àqueles que serviam a Deus. Ele
mesmo assegura ao seu povo o seu domínio sobre a situação.
Neste ponto temos o chamado da parte de Deus para João. Ela divide-se em quatro
itens: contexto de João (v.9); audição (v.10-11); visão (v.12-16); e comissão (v.17-20).
a. Contexto de João: (v.9). João não é apenas um profeta. Ele também é um “sofredor”
por causa do testemunho de Jesus - é um irmão e companheiro na “tribulação”. É por
isso que ele está na ilha de Patmos, uma ilha próxima da cidade portuária de Éfeso,
possivelmente cumprindo uma pena de banimento.
b. Audição: (v.10-11). João ouve uma “grande voz”. A voz da parte do Senhor é uma
característica do chamado profético (ver Jr 1,4-5; e Ez 1,2-3). Deus interfere na vida
de João mandando-o, após registrar por escrito o conteúdo da visão, enviá-lo às sete
igrejas.
d. Comissão: (v.17-20). Como acontece com freqüência com os profetas, após uma
visão vem o comissionamento para uma missão específica (Is 6,1-8; Ez 1,28-2,l).
Diante do temor de João, há uma palavra de segurança de Jesus (v.17), com ênfase
sobre seu poder pós-ressurreição (v.18). Novamente vem a ordem para “escrever”
(v.19). Esta ordem já apareceu na audição (v.11), mas não havia nada para ser escrito
ali. Agora não. João teve uma visão e ela continuará. Sua missão é registrar por
escrito tudo o que será mostrado a ele e enviar às igrejas (v.19). No v. 20 Jesus
fornece uma interpretação parcial da visão anterior (conforme interpretada nos vs. 13 e
16).
CONCLUSÃO
Vimos que o capítulo 01, como Introdução ao livro, apresenta o título, uma carta de
abertura e a vocação de João. Hoje veremos com mais cuidado os destinatários do
livro: as sete igrejas das Ásia Menor (cp. 2 e 3).
Outro aspecto era o fato de que cada uma dessas cidades possuía uma corte romana,
onde, por serem cristãos, os membros das igrejas poderiam enfrentar problemas. Nas
três primeiras cidades (Éfeso, Esmirna e Pérgamo) havia também templos dedicados
a César onde a população lhe oferecia sacrifícios como deus.
Além disso, o número sete, é muito significativo, indicando totalidade. Cartas para
“sete igrejas” poderia representar uma correspondência que visava atingir todas as
igrejas existentes.
Outro problema é o fato de que as cartas são escritas “para os anjos”, e somente
através deles para as igrejas. Nota-se isso quando são citados adjetivos no
“masculino” que, portanto, dizem respeito ao “anjo” e não à “igreja” (que é feminino).
Por exemplo: “rico” (2,9), “morto” (3,1), “frio” e “morno” (3,15). Isso que dizer que as
palavras de louvor e as advertências de Jesus dirigem-se a eles. Mas, então, como
podemos compreender que os anjos devam “arrepender-se” (2,1.16; 3,3.19)? Ou
então que tenham “abandonado o primeiro amor” (2,4)?
Creio que a resposta está em outra direção. A palavra “anjo” significa literalmente
“mensageiro” (ángelos), podendo ser um mensageiro celeste, ou seja, um anjo, ou
não. O mensageiro pode ser uma pessoa (Mc 1,2; Lc 9,52), um profeta (Ag 1,13).
Portanto, penso que os “anjos” das igrejas seriam profetas líderes nas comunidades
(Ap 22,6) que receberiam de Deus a mensagem e que deveriam transmiti-la às suas
igrejas. Nesse sentido, eles eram responsáveis pelo andamento de suas
comunidades, tanto positiva, quanto negativamente.
(Este sete pontos foram extraídos do livro: “Esperança de um povo que luta. O
Apocalipse de São João. Uma chave de leitura”. 7a. ed. Carlos Mesters, São Paulo,
Paulus. p. 43 e 44).
a. Pressões, tanto de pagãos (1,9; 2,13) quanto de judeus (2,9; 3,9). Tal problema se
dava em virtude dos cristãos pertencerem a uma religião minoritária com costumes
estranhos (Santa Ceia, por exemplo) e acusada de ser atéia (por não ter deuses e
nem imagem deles).
b. Problemas internos com falsos mestres (2,2 - apóstolos; 2,6.15 - nicolaítas; 2,14 -
os que seguiam os ensinos de Balaão; 2,20-23 - a profetiza Jezabel). Os “falsos
apóstolos” (2,2) eram pregadores itinerantes que viajavam pregando nas igrejas falsos
ensinos. Os “nicolaítas” (2,6.15) estão associados com os “seguidores de Balaão”
(2,14.15) e estes, por sua vez, com a “profetiza Jezabel” (3,20), visto que todos eles
“comiam coisas sacrificadas aos ídolos e praticavam a prostituição”.
Para estas pessoas, João era “radical” ao exigir o abandono dessas práticas. Como
podemos ver essa questão nos dias de hoje? Estaremos sendo radicais ou
permissivos? Temos enfrentado o problema da assimilação de valores não-cristãos?
Até onde isso é correto ou prejudicial?
Talvez, mais do que nunca, nós, como igreja, devamos analisar nossas vidas dentro
dessa radicalidade do amor integral a Jesus. Devemos também refletir se estamos
constantemente avaliando a vida e vendo a necessidade de arrependimento.
CONCLUSÃO
Analisar as sete igrejas e seus problemas é muito importante para que possamos ter
um quadro correto do porquê o Apocalipse foi escrito. Nelas temos um misto de igrejas
que tem passado por dificuldades mas que estão se mantendo fiéis, e igrejas que não
tem conseguido discernir as exigências da vida cristã. Tal situação não é diferente
hoje. O problema principal para nós, semelhante ao das igrejas da Ásia, é o da
assimilação. Cada geração é chamada a refletir sobre sua conduta diante desse
desafio. Assimilaremos elementos, correndo o risco de sincretismo, ou nos
fecharemos totalmente, podendo nos tornarmos alienados?
Estes dois capítulos falam sobre Deus (cp. 4) e Jesus Cristo (cp. 5), e têm a mesma
estrutura:
Apocalipse 4 - Deus
Apocalipse 5 - Jesus
Comecemos com os 24 anciãos (4,4). Eles não são anjos, mas homens. Isso pode ser
verificado porque estão sentados em tronos (ver Mt 19,28), têm coroas (a coroa é
recebida pelo crente fiel - 2,10) e estão vestidos de branco (outra característica dos
cristãos - 3,4-5). Mas então, como identificá-los? Não há muita certeza quanto a isso.
Talvez, através do título anciãos, possamos pensar nos líderes da sinagoga e das
comunidades primitivas (presbítero significa “ancião”). Nesse sentido, tem-se suposto
que o número 24 representaria 12 tribos de Israel (= povo da Antiga Aliança) mais 12
apóstolos (= povo da Nova Aliança), simbolizando o povo de Deus de todas as
épocas. Outra possibilidade seria a de que o número 24 representaria os escritores
dos livros do Velho Testamento (em algumas listas do cânon judaico apresenta-se 24
livros). Estes escritores, por sua importância, estariam ao redor do trono de Deus. Mas
não como chegar a uma definição concreta.
Os seres viventes (4,6-8a) são apresentados tendo como pano de fundo Ez 1,5.10 e
10,20. Eles são descritos ali como “querubins”. Isaías também fornece uma parte da
imagem onde diz que os “serafins” têm seis asas (Is 6,2 // Ap 4,8a) e apresenta o
cântico deles (Is 6,3 // Ap 4,8b). Esses seres, pela proximidade com Ezequiel, estão
mais próximos de querubins do que serafins. Eles representam a criação visto que um
é semelhante ao “leão” (=os animais selvagens), outro ao “novilho” (= animais
domésticos), o terceiro ao “homem” (= raça humana), e o último a “águia” (=
pássaros). Estes seres, como representantes da criação louvam a Deus (v.8). Além
disso, os querubins eram responsáveis por guardar as coisas mais santas e próximas
de Deus (ver Gn 3,24 e Ex 25,20).
O capítulo 5 começa falando de um “livro” selado com sete selos, que está nas mãos
de Deus (v.1). Que livro é esse? É o livro que contém o domínio de Deus sobre todas
as coisas, bem como a definição da libertação do seu povo e a punição daqueles que
se voltam contra a igreja e seu Senhor. Portanto, tudo o que acontece no Apocalipse é
a revelação do conteúdo do livro.
João chora muito porque ninguém pode abrir o livro e, sendo assim, não há nenhuma
certeza quanto ao futuro (v.4). Porém um dos anciãos apresenta Jesus no v.5 como
“leão da tribo de Judá” (Gn 49,9-10 que fala do reinado provindo da tribo de Judá) e
“raiz de Davi” (Is 11,1 indicando que o Messias viria da família de Davi). Essas duas
descrições mostram Jesus em seu caráter real e vencedor. Por outro lado, no v.6 Ele é
apresentado como “Cordeiro como tinha sido morto”, que demonstra o caráter
sacrificial da obra de Jesus. Esse aspecto é enfatizado nos dois cânticos que citam a
morte de dEle (v.9 e 12). Há aqui, possivelmente, a apresentação de Jesus como
aquele que vence através da morte como modelo para os crentes (2,10).
Finalmente, Jesus toma o livro (v.8) e no capítulo 6 ele começa a abrir os selos. É
importante notarmos aqui que a visão do trono de Deus e de Jesus representa o
passado, o momento da exaltação de Jesus à direita de Deus através da ressurreição
e a posse de seu domínio sobre todo o universo.
Como dissemos acima, os selos não apresentam o conteúdo do livro, mas são
antecipações a ele. Os quatro primeiros selos devem ser vistos formando um bloco
pela unidade da estrutura que gira em torno dos cavaleiros, enquanto o quinto fala
especificamente da igreja, o sexto sobre a segunda vinda, e o sétimo vem somente no
capítulo 8.
O primeiro cavaleiro (6,2), que leva um “arco” representa soldados “partos” que eram
os únicos arqueiros montados na época. A Pártia era um reino situado a leste da
Palestina e que significava constante fonte de ameaça ao domínio romano no oriente.
Aqui este cavaleiro simboliza guerras e conquistas que ameaçavam o império romano.
O terceiro cavaleiro (v.5-6) traz a imagem da escassez. “Uma medida de trigo” era o
consumo de uma pessoa durante um dia. “Um denário” era o salário de um dia de
trabalho. Portanto, mostra-se aqui que os tempos são difíceis, visto que gasta-se todo
o dinheiro para a alimentação de uma única pessoa. A cevada, mais barata, era o
alimento dos pobres. Somente com ela poderia-se alimentar a família. A questão aqui
é a crise econômica.
O quarto cavaleiro (v. 7-8) parece sintetizar o segundo e o terceiro. Ele traz a morte
pela “espada” que pode ser referência à guerra, mas também a todo o tipo de morte
violenta, p.ex. assassinato. A morte pela “fome” é uma derivação mais intensa da
escassez do v.6.
O quinto selo (v.9-11) apresenta os cristãos que têm sido mortos. Eles estão diante de
Deus (v.9). O Apocalipse até aqui fez menção apenas a uma morte (2,13) e à
possibilidade de se morrer (2,10). Possivelmente João vê as coisas de modo presente
e também futuro, ou seja, estaria vendo aqueles que “seriam” mortos. Eles pedem
vingança a Deus, mas não especificam seus assassinos. Isso será mostrado mais
adiante no livro.
O sexto selo (v.12-17) expressa a segunda vinda de Jesus. Pode-se notar através dos
sinais no v. 12 e pela referência ao “dia da ira” (v.17), termo vétero-testamentário que
significa o dia da vinda de Deus para julgamento.
Mas, qual o sentido desses selos? Eles simbolizam a presença do mal, pecado e
sofrimento no mundo, durante todas as épocas, atingindo todas as pessoas, sejam
cristãs ou não. Isso pode ser visto através da comparação com Mt 24. O segundo,
terceiro e quarto selos estariam relacionados com Mt 24,6-8; o quinto selo com Mt
24,9-13; e o sexto selo com Mt 24,29-31. É importante frisar que Mt 24 não apresenta
“sinais” antecipatórios para a vinda de Jesus, pelo contrário, seu objetivo é mostrar
que tais acontecimentos não representam o fim (24,6b e 8). O mesmo se dá com os
selos do Apocalipse. Eles mostram que os cristãos estão sujeitos a sofrimentos dentro
do mundo como qualquer ser humano e que tais tribulações não evidenciam a
chegada do juízo de Deus ao mundo, elas não são o “conteúdo” do livro, são apenas
um dado preliminar.
Antes que o sétimo selo seja aberto, temos o capítulo 7. Ele expressa um interlúdio
para a abertura do último selo. Isso fornece uma caráter dramático ao texto. Deve-se
esperar mais um pouco para que o sétimo selo seja aberto e, finalmente, possa-se
conhecer o conteúdo do livro.
O capítulo 7 não segue uma ordem cronológica com o capítulo 6, como se, depois da
segunda vinda de Jesus, acontecessem os fatos descritos nele. Pelo contrário, fala-se
para que não se danifique o planeta até que os servos de Deus sejam selados (v.3). É
impossível falar em dano sobre a terra após a segunda vinda de Cristo!
Temos, no capítulo 7, duas cenas: uma na terra (v.1-8), e outra no céu (v.9-17). Na
primeira, temos os cristãos sendo selados (v.3), o que significa que eles recebem a
marca de Deus, são possessão dEle. Isso lhes dá garantia de que Deus os guardará
durante os períodos de sofrimento. O número de “cento e quarenta e quatro mil de
todas as tribos de Israel” (v.4) significa, por um lado, um recenseamento que Deus faz,
mostrando que conhece exatamente quantos são os seus. Por outro lado, o número
indica que são doze mil de cada uma das 12 tribos. Isso é simbólico, e quer mostrar a
totalidade do povo de Deus. Não falta ninguém! Esse Israel é o “Israel espiritual” (Gl
6,16; Tg 1,1), a Igreja. Mesmo que ela sofra, Deus a guarda.
Na segunda cena (v.9-17), temos a igreja no céu. Os crentes estão “diante do trono e
do Cordeiro” (v.9). São, especialmente, aqueles que têm morrido por seu testemunho
(v.14 com 6,9). Para eles é apresentado o término do sofrimento como acontecerá na
segunda vinda (v.16-17 com 21,4). Esta imagem é importante para as igrejas da Ásia
Menor, onde alguns haviam morrido e outros estariam para morrer, demonstrando o
seu destino e sua bem-aventurança ao lado do Senhor.
CONCLUSÃO
Deus está no controle de todas as coisas! Jesus tem o domínio sobre a história.
Mesmo que passemos por tribulações, o Senhor nos conhece um a um. Isso deve
fazer diferença para nós!
A abertura do sétimo selo introduz uma cena celestial (v.1-2). Um anjo queima incenso
para oferecer com as orações dos santos (v.3-4). Os sacrifícios no V.T. eram
apresentados com incenso (Lv 16,12), e a oração, vista como um sacrifício a Deus
passou a ser comparada ao incenso que sobe diante de Deus (Sl 141,2). Esta cena
fornece a garantia de que as orações dos fiéis têm chegado a Deus e que Ele as
responde. Essa resposta se manifesta quando o anjo pega o fogo do altar e joga sobre
a terra (v.5). Isso indica o julgamento de Deus que se dará através do toque das
trombetas. Talvez fosse isso que os cristãos pediam em suas orações.
Primeira trombeta (8,7). Representa qualquer tipo de destruição que causa dano à
terra (ver a relação com a sétima praga em Ex 9,24-25).
Quarta trombeta (8,12-13). Se o sol tornando-se negro, e as estrelas caindo são sinais
da vinda de Jesus (6,12-13), o escurecimento da terça parte do sol, da lua e das
estrelas é um sinal antecipatório de que o fim está próximo. É essa a mensagem que a
águia traz no versículo 13.
Sexta trombeta (9,13-21). Esta última trombeta, antes do final, apresenta um último
aviso e mais grave: a morte (v.15, 18). De fato, ela nos faz pensar na nossa situação
diante de Deus. Mas mesmo diante dela, os homens não se arrependem (v.20-21).
Um anjo vem e afirma através de um juramento que não haverá demora para o fim
(10,1-7). Ordena-se a João que coma o livro que está com o anjo (v.8-10), sinal e
símbolo de vocação profética (ver Ez 2,8-3,3). Comer o livro significa encher-se da
revelação profética. Isso acontece porque João tem muito o que profetizar (v.11).
Essa mesma igreja que é protegida por Deus, é mandada testemunhar através do
símbolo dos dois profetas (11,3). Eles são Elias (v.6a) e Moisés (v.6b), que eram tidos
como os maiores profetas de Israel. Em termos proféticos, representam muito bem a
Igreja. Eles são guardados por Deus (v.5). Devem profetizar 1.260 dias, período esse
entendido como compreendendo o tempo entre a primeira e segunda vindas de Jesus
(ver 12,4-5.14). A besta, que surgirá no capítulo 13, os mata (v.7-8). Os povos
alegram-se com isso (v.10), possivelmente porque eles pregavam contra seus
pecados. Mas três dias e meio depois da morte das duas testemunhas elas
ressuscitam (v.11), como o Senhor Jesus, e vão para junto do Pai (v.12). Esse é o
destino da Igreja. Embora receba forças para suportar os tormentos que se abatem
sobre a terra, sua pregação aos homens desperta ira, e ela é perseguida. Isso tem
acontecido na história da Igreja e acontecerá até a vinda de Jesus.
Por fim, temos a sétima trombeta (11,15-19). Ela marca a chegada do fim. Jesus julga
os mortos, dá galardão aos santos e destrói os ímpios (v.18-19). Aqui Jesus é visto em
toda a sua justiça que trará alegria àqueles que sofreram em seu nome e punição para
os que o rejeitaram.
CONCLUSÃO
Nas trombetas temos novamente o paralelismo progressivo. Pela segunda vez são
apresentadas catástrofes que se manifestam na história da humanidade. O objetivo
delas agora é atingir os descrentes a fim de despertar arrependimento e fé neles. A
Igreja é enviada ao mundo para testemunhar o evangelho de Jesus (cp. 11). Porém,
apesar dos sinais de Deus e da pregação da Igreja, o mundo não crê e mantém-se
endurecido em seu pecado. Nesse contexto, a sétima trombeta vem para dar o
pagamento que cada um merece.
Neste estudo começamos um novo ciclo dentro do Apocalipse. Nele, as coisas vão
ficando mais claras e explicadas. Aqui, fora as referências indiretas nas cartas às
igrejas, é a primeira vez que o império romano aparece de modo claro. Ele é citado
devido a sua relação com os cristãos. Todo o resto do livro será um desenvolvimento
do que for mostrado neste texto.
O dragão quer “devorar o filho da mulher” (v.4). Ou seja, ele queria matar Jesus Cristo
antes que Ele consumasse sua obra na cruz (Ver, nesse sentido, a intenção
demoníaca de Herodes em Mt 2,16-18). Porém não consegue. A criança é arrebatada
aos céus por Deus (v.6), o que significa sua ascensão após a ressurreição. O objetivo
destes primeiros seis versículos, portanto, é mostrar como o diabo foi malsucedido ao
tentar destruir o Senhor Jesus Cristo.
Como conseqüência do que foi dito acima, os versículos 7-12 mostram a expulsão do
diabo do céu que se deu com a encarnação, vida (o que pode ser visto através da
vitória sobre o diabo no deserto - Mt 4, e nos diversos exorcismos), morte e
ressurreição de Jesus (Jo 12,31-32; 16,11). Essa expulsão é apresentada através de
uma luta celestial (vs.6-9). A vitória de Jesus é assumida pelos cristãos (v.11).
A expulsão do diabo já foi mencionada na quinta trombeta (9,1-11) que falava da sua
ação sobre os homens descrentes. Agora sua ira (v.12) se manifesta contra a igreja
(v.13). A mulher (= igreja) foge com “asas de águia” (símbolo de ajuda divina - Ex
19,4) para o “deserto” (referência à saída do povo do Egito, em direção ao deserto,
onde Deus os dirigiu e protegeu contra o faraó). Como já foi mencionado, esse “um
tempo, tempos, e metade de um tempo” significa todo o período entre a primeira e a
segunda vindas de Jesus Cristo. A “água” que sai da boca do diabo (v.15) significa
maldade, tribulação lançados contra a igreja (Ver sobre o símbolo da água - Sl 32,6;
124,4). Mas a igreja é salva (v.16). Isto só torna o diabo mais irado, e sua próxima
investida será através da duas bestas (cp.13).
A primeira, a “besta que surge do mar” (13,1) é o império romano (ver 17,3 e 9, onde
menciona-se os “sete montes”, referência explícita à cidade de Roma). O “mar”
representa os poderes que se opõe ao domínio de Deus (Sl 74,13-14; 89,10-11) ou
então significa o “mar Mediterrâneo”, lugar de domínio romano. Em ambos sentidos,
mar, aqui, significa oposição a Deus. A besta que vem do mar é o império romano que
se opõe a Deus e ao seu povo. Estamos agora falando do presente, dos problemas da
comunidade em seus dias diante de Roma.
Por trás deste domínio político, diz João, está o diabo (v.2b). Fica claro que a questão
da oposição de Roma que surge, ou surgirá, não é uma questão política apenas, mas
sim religiosa. É nesse sentido que os cristãos devem entender a situação e se
posicionar diante dela. Se em Rm 13 o imperador é instrumento de Deus, neste
capítulo ele é instrumento do diabo. Como o cristão deve se comportar diante dessas
realidades?
A “cabeça ferida de morte que é curada” (v.3), no texto grego é muito parecida com a
afirmação sobre Jesus, que é o “Cordeiro como tinha sido morto” (5,6). A “cabeça”
significa um imperador romano (ver 17,9b). Portanto, há um imperador que arroga o
direito de ocupar a mesma posição de Jesus como ressurreto. Na época havia uma
lenda que dizia que o imperador Nero, morto em 68 d.C., voltaria à vida, e, cria-se,
isso estaria acontecendo. Domiciano era, para o povo, o Nero redivivo! Isso
maravilhava “toda a terra” (v.3b) e trazia “adoração ao dragão e à besta” (v.4). Temos,
nestes versículos, um princípio importante para a manutenção de todo poder político:
criar uma “aura de divinização” em torno de si. Ou seja, apresentar-se como
representando Deus, ou então, divinizando seus heróis. É o que acontece com os
Estados Unidos, que dizem cuidar da democracia de todo o mundo, como país
escolhido por Deus, sendo que, na realidade, trazem opressão. De modo semelhante,
o Brasil apresentava o golpe de estado de 1964 como orientado por Deus para
preservar a democracia contra o “comunismo diabólico”. O Apocalipse nos ajuda a ver
por “detrás” dessa máscara. Ver o quem realmente está agindo. E o que se esconde
por detrás dessa fachada é o poder diabólico que gera violência, sofrimento e
derramamento de sangue.
Esta segunda besta, enquanto manifestação religiosa, opera “sinais”, visto que
Satanás está por trás dela (2Tss 2,9). Ela desenvolve uma identidade profética
poderosa, semelhante a Elias (v.13. Ver 1Rs 18,30-38). Também torna viva a imagem
da besta (v.15a), possível referência aos oráculos que eram proferidos por ela. Assim
como os que adoram a Deus foram marcados (7,3), os adoradores da besta também o
são (v.16). Tal procedimento significa a identificação daqueles que são leais, tanto a
Deus, quanto à besta. Esta caracterização irá definir o destino de cada pessoa no
desenrolar do livro. Assim como a marca de Deus, a marca da besta também era
simbólica. Não existe dado histórico indicando que todos que adoravam ao imperador
recebiam uma marca. A marca consistia na própria lealdade, fosse a Deus ou ao
diabo. Portanto, adorar ao imperador inclinando-se diante de sua estátua,
maravilhando-se com seus sinais prodigiosos, e seguindo suas orientações como se
fosse um deus, já constituía um sinal que haveria de identificar seus praticantes.
Do mesmo modo, o “número da besta” (v.18) não introduz um nome específico, visto
que já sabemos que a besta é o império romano, representado por seu imperador,
Domiciano, mas sim um simbolismo. O número seis, por ser inferior ao sete, número
da perfeição, simboliza exatamente seu oposto, a “imperfeição”. Dizer que o número
da besta é 666, significa dizer que, apesar de toda sua arrogância e poder, o império
romano é imperfeito, até mesmo frágil e que, portanto, é sábio aquele que se mantém
ao lado de Deus.
A imagem das duas bestas é altamente relevante para nós. Muitas vezes, de modo
infantil, temos nos preocupado com o “significado” do número da besta e do seu sinal,
não compreendendo o real sentido disso. Na verdade, tem o sinal da besta aquele que
sente-se fascinado pelo estilo de vida da sociedade; aquele que idolatra uma
ideologia, seja comunista ou capitalista; aquele que coloca um propósito de vida
materialista para si; aquele que se deixa guiar por um Estado totalitário, ou pseudo-
democrático, etc. Todas essas expressões de vida e, na realidade, de fé, quando se
tornam senhoras de nossa vida, nos marcam com o sinal do verdadeiro dirigente de
nossos destinos: o diabo. É por isso que devemos lembrar sempre: a característica
deles é 666, ou seja, eles são imperfeitos! Temos tido discernimento para entender
isso???
O juízo que tem chegado é definido em relação a Roma. O anjo anuncia a queda da
“Babilônia” (= Roma. Ver 1Pe 5,13). Este é um julgamento “na história”. Toda
manifestação do juízo divino que acontece na história humana é antecipação do juízo
vindouro.
Outro anjo anuncia o juízo de Deus sobre os que “adoram a besta”. Se anteriormente
Deus havia, através das catástrofes na história, chamado tais homens ao
arrependimento (cp. 8 e 9), agora define seu destino futuro (vs.9-11).
Há, em seguida, uma bem-aventurança sobre os que tem morrido no Senhor (v.13).
Isso mostra que Deus nunca esquece daqueles que lhe são fiéis.
Por fim, há a descrição do juízo final (vs.14-20). Ele é visto como uma “ceifa” (v.15-16.
Ver Mt 13,30) que objetiva aqueles que “adoram a besta”, os quais serão atirados no
“grande lagar da cólera de Deus”.
O capítulo quatorze fala, portanto, do juízo de Deus, que é mais específico do que os
já apresentados, e que enfoca aqueles que não o temem. Traz, de certa forma,
consolo para os que sofrem, e já é uma resposta à oração dos fiéis que pediam justiça
(6,10). Esta justiça será mais desenvolvida nos capítulos seguintes.
CONCLUSÃO
Novamente, neste ciclo, vemos repetir-se o período que cobre toda a história humana.
Devemos repetir que estes capítulos não estão em “seqüência cronológica” com os
anteriores. Evidência disso é a afirmação em 14,8 de que Babilônia (Roma) “caiu”.
Porém em 16,19 fala-se novamente de sua destruição e no capítulo 17 ela é descrita
de modo detalhado antes de perecer.
João vê sete anjos com sete flagelos pois com eles se “consumou (consumará) a ira
de Deus”. Temos visto a ação de Deus sobre a terra (natureza e homens) nos selos e
trombetas. Agora sua manifestação é mais enfática. Ele está irado contra aqueles que
tem perseguido sua Igreja e irá agir contra eles. Esse é o alvo das sete taças.
João introduz uma visão que manifesta o tempo presente ao mostrar no céu aqueles
que “venceram a besta”. Isto é importante, pois assegura que aqueles que foram
aparentemente “derrotados” e “mortos” pela besta (13,7.15), na realidade, foram
“vitoriosos” sobre ela. Eles não estão tristes por terem morrido, pelo contrário, tem
cânticos de louvor a Deus e ao Cordeiro em seus lábios (15,3-4).
Em seguida sete anjos recebem sete taças de ouro contendo a cólera de Deus (15,7).
Isso significa que o que está para acontecer na terra não é obra do acaso, mas obra
de Deus. O que acontece na terra é definido no céu.
Levítico 26,21 afirma que aqueles que não querem andar segundo a vontade de Deus
recebem “pragas” da Sua parte. É o que acontece aqui. Devemos notar uma
progressão nas ações de juízo de Deus sobre a terra. Nos selos, toda a terra é
atingida pelas catástrofes que acontecem no decorrer da história, incluindo cristãos e
não-cristãos. Nas trombetas, o alvo são aqueles que não crêem em Cristo, os quais,
diante do sofrimento, deveriam se arrepender e voltar para Deus (9,21). Porém isso
não acontece. Já nas taças, temos uma especificação maior. A cólera de Deus, que se
manifesta na história, visa os seguidores da besta (16,2) e a cidade de Roma (16,19).
O objetivo agora já não é gerar arrependimento, mas punir. Quanto a isso, enquanto
as trombetas atingiam uma “terça parte” (8,7.8.10.12; 9,15), as taças agem sobre tudo
e todos. É o juízo de Deus que cai sobre aqueles que não o temem, pelo contrário,
perseguem sua Igreja.
Para corroborar com o que foi dito acima, ou seja, que tanto trombetas quanto taças
cobrem o mesmo período da história, basta que coloquemos em colunas paralelas os
temas das trombetas e das taças para vermos a incrível semelhança:
Não deve ser surpresa para nós que o juízo de Deus se manifeste na história. Ele já
agiu assim em Babel (Gn 11,1-9) e em Sodoma e Gomorra (Gn 19,24-25). Tais
manifestações são apenas um prelúdio do grande ato de punição que será levado a
cabo no dia do juízo final.
O capítulo 16, então, expressa a ação de Deus contra Roma e seus seguidores,
dentro daquilo que seria o futuro em relação ao tempo de João e que culminará com a
volta de Jesus Cristo (16,17-21). Isso deve ser entendido por nós como a
manifestação do juízo de Deus na história e no final da história contra todo poder que
se levante contra Ele e sua Igreja. Você pode identificar algum fato desse na história
da humanidade?
A primeira taça (16,2) lembra a sexta praga do Egito (Ex 9,8ss). Quando as pessoas
se manifestam impenitentes e contrárias `a vontade de Deus, sua própria saúde pode
ser atingida.
A segunda taça (16,3) relaciona-se com a primeira praga do Egito (Ex 7,17-21). Ela
atinge o ser humano indiretamente, visto que ele depende do mar para viver.
A terceira taça (16,4-7), assim como a segunda, relaciona-se com a primeira praga do
Egito (Ex 7,17-20). Aqui fala-se da água enquanto necessária para a vida humana.
Possivelmente sua poluição deve-se à pecaminosidade do homem. Até com uma certa
ironia, o anjo explica o por quê dessa praga (v.6). Também ouve-se, vindo do altar de
Deus, vozes que louvam a justiça de Deus ao exercer juízo. É provável que essas
vozes sejam dos cristãos que clamavam por justiça em 6,10.
A quarta taça (16,8-9) lembra a maldição de Deus sobre os que não o temem (Dt
28,22). Como não pensar, em termos contemporâneos, ao câncer de pele, devido a
poluição da atmosfera?
A quinta taça (16,10-11) atinge diretamente a besta (império romano - cp. 13). É a
ação direta de Deus sobre os poderes políticos, religiosos etc que se levantam contra
Ele. A história tem mostrado como povos que não deram ouvidos a Deus foram
retiradas do cenário internacional, como o Egito, Assíria, Babilônia, Grécia, Roma, e,
mais recentemente, a União Soviética (com muita certeza porque perseguiu os
cristãos).
A sétima taça (16,17-21) apresenta a vinda de Cristo (ver o paralelo entre o v.20 e
6,14), relacionada com a destruição de Babilônia (= Roma. Ver 17,5.9). O juízo sobre
Roma na história é somente uma antecipação do juízo final que virá sobre ela.
CONCLUSÃO
As taças introduzem a ação direta de Deus contra os inimigos de seu povo. Nos
capítulos 17 a 20 eles serão destruídos um por um. Depois virá a recompensa para
aqueles que são fiéis.
No último estudo observamos como as taças da cólera de Deus caíram sobre os que
têm o sinal da besta (16,2) e sobre Babilônia (=Roma - 16,17-21). No texto de hoje
estudaremos com mais detalhes a derrota de Roma, da besta e do falso profeta. Com
isso, notamos como os inimigos de Deus e da igreja vão sendo derrotados um por um.
Nas “taças” a ênfase estava sobre os que “têm a marca da besta”. No texto de hoje
vemos a vitória sobre Roma, a besta e o falso profeta (= a besta que sobe do mar no
capítulo 13). Finalmente, no próximo estudo, é apresentada a derrota do diabo.
Também nesta seção se apresenta um período que cobre toda a história. A descrição
de Roma no capítulo 17 se dá dentro do momento em que João vivia, sendo o seu
“presente”. Já o capítulo 18, que descreve a queda de Roma, apresenta o “futuro”,
quando Deus realizará um juízo “na história” sobre essa cidade. No capítulo 19, vemos
o “futuro” dentro de uma perspectiva escatológica, no contexto da segunda vinda de
Jesus, quando Ele aprisionará a besta e o falso profeta e os lançará no “lago de fogo”
(19,20), lugar onde passarão a eternidade em tormentos (20,10). É importante notar
que a partir deste ponto a ênfase recai sobre o “futuro”.
O objetivo dessa descrição é mostrar com detalhes o por quê tal cidade é destruída.
Um anjo traz tal revelação para João (17,1).
Primeiramente vem uma visão de Roma, a meretriz (vs. 3-6). Através das indicações
do texto torna-se claro concluir que essa mulher é a cidade de Roma (Ver vs.9a e
v.18). Suas vestes e adornos enfatizam sua “realeza e riqueza” (v.4). Ela está
“assentada sobre a besta” (v.3), que é o império romano (ver cp. 13), mostrando assim
que governa-o e é o seu centro. Ela é descrita como a “mãe das meretrizes e das
abominações da terra” (v.5), sendo, portanto, o centro de todo o mal que havia no
mundo de então. Sua última e principal característica é “estar embriagada com o
sangue dos santos” (v.6. Ver 13,7.15).
Continuando a descrição da besta, ela tem “dez chifres” que são dez reis (v.12)
aliados a ela e que têm poder por um período curto de tempo (“uma hora”). São
submissos à besta (v.13). Formam uma frente para combater o Cordeiro, que os vence
(v.14. Essa batalha é apresentada em 19,11-21).
Assim como o primeiro anjo introduziu a visão de Roma (17,1-3), um outro faz o
anúncio de sua queda (18,1-3). Embora essa destruição se apresente como já tendo
acontecido (“caiu, caiu” - v.2), ela, na realidade, será efetuada no futuro. Tal modo de
falar é para enfatizar que sua ruína “já está determinada”.
A queda de Roma não é um fato isolado na história. Ela tem conseqüências. E elas se
manifestam para aqueles que se relacionavam com a capital do império.
Primeiramente os reis da terra se lamentam com a destruição da cidade (vs.3 e 9).
Eles participavam de seu poder e agora sentem a perda dele. Em segundo lugar,
temos os mercadores da terra (vs. 3. 11-16) que se enriqueceram através do comércio
com ela. Terão que buscar lucro em outro lugar. E, em terceiro lugar, vem os
mercadores do mar, a marinha mercante (vs. 17-19) que também se enriqueceu por
transportar as mercadorias de e para Roma no oceano Mediterrâneo. Todas essas
pessoas sofreram com a destruição de sua parceira. Deixaram de auferir lucros com a
ausência dela. Pode ser que entre elas se encontrassem cristãos. Isso mostra como é
perigoso viver uma religiosidade superficial, que esconde uma vida essencialmente
profana, e que se vende ao sistema de influências, ao lucro com negócios escusos.
Hoje não será assim também???
Há louvor no céu porque Roma foi julgada (19,1-2). São os santos, apóstolos e
profetas que estão exaltando a Deus (18,20), pois Ele exerceu justiça sobre aquela
que tinha sangue dos seus servos em suas mãos (v. 2b). Os seres celestiais também
O louvam (v.4), e, por fim, uma voz do trono exorta todos os servos de Deus a Louvá-
lO (v.5).
Dentro da cena que fala da segunda vinda do Senhor Jesus que começou em 19,6,
temos sua continuação com o aprisionamento da besta e do falso profeta, que são,
respectivamente, o império romano e a máquina estatal de promoção da adoração do
imperador descritos no capítulo 13. O cavaleiro (v. 11) é Jesus Cristo. Podemos
constatar isso a partir de sua descrição. “Olhos como chama de fogo” (v.12) já
apareceu em 1,14 referindo-se a Ele. Sai de sua boca uma “espada afiada” (v. 15.
Comparar com 1,16). Seu nome é “Verbo de Deus” (v. 13), linguagem joanina para
falar de Jesus (Jo 1) e “Rei dos Reis e Senhor dos Senhores” (v. 16). Seu exército é
formado por seus servos, os cristãos que vestem “vestiduras de linho finíssimo branco
e puro” (v. 14. Comparar com o v. 8).
A besta com os reis da terra se reúnem para lutarem com Jesus (v. 19). Esta cena foi
antecipada em 16,14-16. Embora essa batalha não seja descrita, seu resultado é
apresentado. A besta com o falso profeta (que é a segunda besta do cp. 13. Ela opera
“sinais” - 19,20. Comparar com 13,13) são aprisionados e lançados no “lago do fogo
que arde com enxofre” (v. 20b), lugar de sofrimento eterno (20,10b), chamado de
“segunda morte” (20,14), para onde irão os que não estão inscritos no livro da vida
(20,15). Mais dois inimigos do Senhor Jesus são destruídos! Essa será a punição final
do império romano e de todo império ou nação que se levante contra Deus.
Temos aqui uma descrição da segunda vinda de Jesus em termos de uma “batalha”.
Essa mesma segunda vinda já foi vista como uma “ceifa” (14,14-20). O Apocalipse usa
várias imagens para descrever o mesmo fato.
CONCLUSÃO
Nestes três capítulos vimos a punição de três inimigos do Senhor Jesus e de sua
Igreja: a prostituta (Roma), a besta (império romano), e o falso profeta (máquina
estatal de promoção da adoração do imperador). Os seguidores da besta já haviam
sido punidos no capítulo 16. Essa imagens são importantes para, primeiramente,
fortalecer aqueles que sofrem e são perseguidos, a fim de permanecerem fiéis a seu
Senhor. Em segundo lugar, elas nos lembram que um dia aqueles que nos têm trazido
“lágrimas aos olhos e a morte” (21,4) serão punidos pelo Senhor Jesus na
manifestação de sua justiça. Mas há um último inimigo a ser vencido - o dragão,
Satanás. Isso acontecerá no capítulo 20.
No estudo anterior (capítulos 17 a 19) vimos como o Senhor Jesus venceu três de
seus inimigos: Roma, a besta (império romano) e o falso profeta (máquina estatal
romana a serviço da divinização do imperador). Hoje vemos sua vitória sobre o último
e maior adversário: o dragão (diabo). Ele é o último a ser vencido por ser o mais
importante e por que estava por trás dos outros motivando-os para que perseguissem
a Igreja. Portanto, após sua derrota João poderá falar da igreja vitoriosa vivendo com
seu Deus e seu Senhor (capítulos 21 e 22).
Neste bloco temos pela última vez o aparecimento do paralelismo progressivo, isto é,
o modo pelo qual o Apocalipse conta a história começando com o passado e
caminhando até o futuro. Constatamos isso através do “aprisionamento de Satanás”
(20,2) que se deu na encarnação, morte e ressurreição de Jesus (Lc 11,20-22),
referindo-se, portanto, ao passado; por intermédio da apresentação dos cristãos que
se “opuseram a besta” (20,4), que diz respeito ao presente; e na descrição do “juízo
final” (20,11-15), que manifesta o futuro. Vemos, novamente, a apresentação da
história da humanidade desde a primeira até a segunda vinda de Jesus Cristo.
Este capítulo tem como centro a vitória sobre o diabo e sua prisão por “mil anos”.
Estes mil anos, conhecidos como “milênio”, tem despertado muitas interpretações no
decorrer da história. O objetivo aqui não é fazer uma avaliação delas, mas propor uma
análise do texto que seja coerente com o resto do livro.
O milênio pode ser visto a partir de duas ênfases diferentes no texto: numa
perspectiva “terrena” (vs. 1-3), relacionada com a prisão de Satanás, e numa
abordagem “celestial” (vs.4-6), enfocando a presença dos cristãos mortos no céu
juntamente com Cristo.
O diabo é “preso” por mil anos. Como dissemos acima, isso se relaciona com a vitória
de Jesus sobre ele (Ver Lc 11,20-22; Jo 12,31; 16,11; 1Jo 3,8b). Esta mensagem já foi
apresentada no capítulo 12,7-12. Esta prisão significa que ele não tem mais poder
para “enganar as nações” (v.3). Antes da manifestação de Jesus Cristo, o diabo
exercia domínio (não absoluto, é claro) sobre os povos, guiando-os para a distância de
Deus. Mas com a presença de Jesus e posteriormente da Igreja, os homens começam
a ser arrancados do reino do diabo e transportados para o reino de Jesus (Cl 1,13).
Agora as trevas não podem mais se opor à luz (Jo 1,5). Através da pregação do
evangelho os homens são chamados à salvação.
O período de “mil anos” durante o qual o diabo está preso deve ser entendido
simbolicamente, do mesmo modo como foram entendidos os “quarenta e dois meses”
(11,2), os “mil duzentos e sessenta dias” (11,3; 12,6), o “um tempo, tempos e metade
de um tempo” (12,14), e “uma hora” (17,12). Este período representa um tempo que se
estenderá “da encarnação até um pouco antes da segunda vinda de Cristo”. Logo
após os mil anos o diabo “será solto por pouco tempo” (v.3).
Dentro de uma perspectiva “celeste”, os mil anos relacionam-se com o destino
daqueles que tem sido mortos em nome de Jesus (v. 4-6). Eles são descritos como
“sentados em tronos para julgar” (v. 4). Esta visão é conhecida do resto do Novo
Testamento (Ver Mt 19,28; Lc 22,30; 1Co 6,2). Eles “reinam” (v.4) e são “sacerdotes”
(v.6) junto a Cristo. Isto já foi dito daqueles que crêem em Jesus (1,6; 3,21; 5,10). Se
anteriormente eles foram apresentados “sofrendo”em nome de Jesus, agora eles são
vistos “reinando” com Ele. Isso era muito importante para as comunidades para quem
João escrevia. Mesmo que para o mundo os cristãos fossem perdedores, na realidade
eles eram vencedores. Estavam na presença de seu Senhor reinando juntamente com
Ele.
Nos versículos 7 a 10 é descrita a vitória sobre o diabo. Após os mil anos, o diabo é
solto (v.7) por “um pouco de tempo” (v.3b). Será um período curto de tempo no qual
ele fará uma oposição feroz a Deus. Paulo já falou dessa manifestação satânica dos
últimos tempos (2Tss 2,1-4; 7-12). Essa oposição é descrita no Apocalipse como uma
sedução das nações que há “nos quatro cantos da terra” (v. 8a = todas as nações do
mundo), que são chamadas de “Gogue e Magogue”. Tais nomes vêm de Ez 38,2 e,
qualquer que seja o sentido que desenvolvem nesse texto, aqui eles simbolizam a
reuniam de todos os povos ao lado do diabo para lutar contra Jesus Cristo. O texto
não descreve a luta, dando porém o resultado: “desce fogo do céu e os consome”
(v.9). Tal batalha já foi descrita como acontecendo num lugar desconhecido ou
ignorado chamado “Armagedom” (16,13-16); ou como a reunião de dez reis com a
besta para lutar contra o Cordeiro (17,12-14); ou mesmo como a batalha de Jesus
contra a besta e os reis da terra (19,19-20). São maneiras diferentes de descrever a
mesma cena. Por fim, o diabo é vencido. Ele é lançado no lago de fogo e enxofre onde
estão a besta e o falso profeta (v.10). O último inimigo do Senhor Jesus e da Igreja é
derrotado!
O final do capítulo (vs. 11-15) apresenta a segunda vinda de Jesus Cristo como o dia
de julgamento para os homens. Esta cena é vista de outras duas perspectivas no livro:
como uma ceifa (14,14-20), e como uma batalha (19,11-21). Embora não se diga
quem é o juiz, deve ser o próprio Deus, que é várias vezes designado como aquele
que está sentado no trono (4,2; 5,1.7.13; 6,16; 17,10.15; 19,4; 21,5). Os mortos de
todos os tempos e épocas se apresentam diante do dEle (vs. 12-13). Esses, que até
aqui receberam juízos “na história”, serão julgados segundo suas “obras”. Não
devemos estranhar tal afirmação visto que aparece em outros lugares como Mt 25,31-
46; e 2Co 5,10. Os cristãos foram criados para “boas obras” (Ef 2,10) e pelos seus
“frutos” é que podem ser conhecidos (Mt 7,16-18). O destino das pessoas será
decidido em função de sua postura: se foram seduzidos e seguiram a besta, serão
condenados. Se foram fiéis a Jesus Cristo, e colocaram sua lealdade a Ele acima do
amor a suas próprias vidas, terão seus nomes inscritos no livro da vida (vs. 12 e 15). A
partir desse momento, o livro descreverá a vida dos cristãos em comunhão com Deus
e Jesus Cristo (cp. 21 e 22).
CONCLUSÃO
O capítulo 20 é a conclusão das lutas e batalhas pelas quais a igreja passa neste
mundo. Os cristãos mortos são vistos no céu reinando com Jesus. O diabo, em sua
última oposição é derrotado. E o destino final dos homens é manifestado. A partir daí
só haverá gozo (cp. 21 e 22).
Neste segundo estudo desta seção que intitulamos Vida da Igreja com seu Senhor na
Nova Jerusalém (ver estudo anterior), abordaremos o capítulo 21:1 até 22:5. Vimos
anteriormente a derrota do diabo e o juízo final (capítulo 20). Agora veremos o povo de
Deus em Sua presença na eternidade gozando da recompensa da fidelidade à Ele.
Este texto pode ser dividido em duas partes, onde cada uma delas começa fazendo
referência à “cidade Santa, a nova Jerusalém, que desce do céu” (vs. 2 e 10) e à
“noiva” (vs. 2 e 9):
? Visão Geral sobre a Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8.
? Descrição da Nova Jerusalém - 21:9-22:5.
1.1. Visão Geral sobre a Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8.
c. Quem participa e quem não participa na Nova Era - 7-8. Os que gozarão da
comunhão eterna com Deus são descritos como “vencedores” (ver 2,7.11.17.26;
3,5.12.21). Eles são os que não assimilaram os valores de Roma e, quando
necessário, pagaram o preço da fidelidade com a própria vida. Os que não participam
são descritos no v.8. É uma descrição genérica, que inclui todos os homens que
tiveram esse tipo de comportamento. Porém é importante observar que alguns
“cristãos” podem estar presentes nessa lista. É significativo que ela comece com os
“covardes”. Poderia ser uma referência aos cristãos que não tiveram coragem de
assumir sua fé até os últimos limites. Os “incrédulos” podem também indicar não
apenas os que não crêem em Deus, mas também aqueles que não creram nas
palavras de João, o escritor do livro, achando-o muito radical em sua postura.
Portanto, essa advertência é para todos os homens, mas também para os cristãos
“nominais”.
a. É protegida - v.12. Essa proteção é indicada pela referência à “muralha alta” (Ver Is
26,1). Na antigüidade era inconcebível uma cidade que não estivesse protegida contra
seus inimigos através de uma muralha inexpugnável. Essa idéia é usada aqui para dar
certeza aos que estarão na presença do Pai de que nenhum mal os ameaçará. O
tempo das ameaças e perigos já terminou.
b. Tem nos apóstolos seu fundamento - v.14. Esta afirmação era básica para todos os
outros escritos do Novo Testamento. A Igreja foi constituída sobre o ensino, o
fundamento dos apóstolos (ver Ef 2,20). Assim, só participa do povo de Deus aqueles
que seguiram os ensinos dos apóstolos, que por sua vez eram os ensinos de Jesus
Cristo. Os que seguiram ensinamentos estranhos (2,14-15. 20-23) correm o risco de
ficarem destituídos da vida na Nova Era.
f. Tem vida abundante - 22,1-2. Essa idéia é evidenciada pela repetição da palavra
“vida”. Existirá a “água da vida” (ver Jo 7,38-39), e a “árvore da vida” (ver Gn 2,9). Se
essas imagens serão literais ou não, não se sabe. O importante é o sentido delas.
Mostram que a vida não será inerente ao homem, mas será dada por Deus. Temos
novamente a idéia da Nova Criação como em 21,1a e agora de modo mais claro
seguindo os moldes do paraíso (v. 2. Compare com Gn 2,9). Isso reforça o que
dissemos lá. Não moraremos num lugar estranho, cercado de nuvens e sem fazer
nada o tempo todo. Com a imagem da Nova Criação apresentada como o retorno do
paraíso, nos é dito que voltaremos à vida como Adão e Eva tinham antes do pecado.
Pense nisso. Poderemos gozar de toda a criação de Deus, passeando pelas matas,
vales e montanhas, tomando banho de mar e tendo Deus a todo instante e em todo o
lugar em nossa companhia. Pensar na eternidade assim significa encher o “céu” de
vida. Devemos ter vontade de estar com Deus na eternidade, porque lá haverá uma
continuidade de nossa vida, em nosso mundo, agora totalmente redimidos, para o
nosso prazer.
CONCLUSÃO
Depois de tanta luta e sofrimento descritos no Apocalipse, João traz-nos uma imagem
da Nova Era, o Novo Mundo que, por sua beleza, torna-se difícil de descrever. Os
santos fiéis a Cristo que já morreram fizeram por merecê-la. Não que tenham sido
salvos por suas “obras”, mas por que elas evidenciam sua fidelidade e amor a Jesus.
Ao invés de morarem na Nova Jerusalém eles mesmos, e nós também, “seremos a
cidade santa de Deus”. E o Novo Mundo não será novo no sentido de algo estranho,
ou desconhecido, mas será este mesmo velho e maravilhoso mundo onde moramos,
mas renovado e redimido, como nós, onde habitaremos em perfeita harmonia e
comunhão para sempre. Aleluia!
Com este estudo terminamos o livro do Apocalipse. Depois de uma longa caminhada,
temos as últimas palavras de João. Estes versículos funcionam como uma conclusão
onde o escritor volta a citar vários pontos que já foram mencionados no começo do
livro para que lembremos do objetivo e da função desse escrito. Traz também várias
advertências sobre a não observância daquilo que foi revelado.
Embora seja um texto um tanto complexo, trazendo certa dificuldade para se perceber
sua estrutura, podemos dividi-lo em duas partes tendo como fator estruturador a frase:
“eis que (certamente) venho sem demora” (vs. 7. 12 e 20).
Diante da afirmação de que Jesus “vem sem demora” (v.7), o Espírito Santo e a Igreja
(noiva) dizem: “Vem” (v.17). Mas para que esse desejo se cumpra de modo eficaz na
vida do cristão é necessário que ele “guarde” as palavras do livro (v.7b). Isso já foi dito
em 1,3. “Guardar” significa “viver, observar, cumprir na vida”. De modo mais
específico, “guardar” significa “não acrescentar nada” (v.18) e “não retirar nada” (v.19).
O que Deus tinha que revelar está no livro, não existem acréscimos. Isso é importante
diante de tanta fantasia que tem existido em torno do Apocalipse durante a História.
Acrescentar pode significar uma mudança da mensagem numa visão meramente
“espiritualista e mística” do livro que não leva em consideração todo o caráter político e
social do confronto da Igreja com a besta e o dragão. “Tirar” pode revelar o
pensamento por parte de alguns de que João foi muito radical em suas posições, que
a realidade não é assim. Isso pode ter acontecido na época de escritor e pode
acontecer em nossos dias. Talvez essa tentação se apresente na vida daqueles que
acham que podem ter uma vida fiel a Deus e ao mesmo tempo andar de mãos dadas
com o mundo e seus conceitos.
Finalmente, João novamente nos apresenta sua definição sobre o livro que escreveu:
é uma “profecia” (v.7. 10. 19 com 1,3). Já falamos do sentido de profecia na Introdução
- II. A profecia é o “testemunho de Jesus” segundo 19,10b. Ou seja, este livro é uma
profecia na medida em que fala dos desígnios de Jesus Cristo, Sua vontade para seu
povo e para a Humanidade. Portanto, o livro é muito importante, visto que não contém
palavras de João, mas de Jesus mesmo.
Este bloco, por estar no meio dos dois textos anteriores (vs.6-10 e 16-21) apresenta
como que uma conseqüência em relação à eles. Os servos de Deus, aqueles que
desejam ansiosamente a vinda de Jesus Cristo, que não acrescentam nada e nem
retiram nada do livro, têm um tipo de comportamento no presente. Aqueles que não
observam as palavras da profecia e não se importam com a vinda de Jesus Cristo,
apresentam um modo de vida próprio. Os vs.11-15 tem como função realçar essa
questão como um alerta para os cristãos daquela época e para nós, os que vivemos
no presente.
Falando do destino final dos seres humanos, João novamente apresenta de uma
divisão entre os homens. Haverá aqueles que “entrarão na cidade pelas portas”. São
os que foram julgados por “suas obras” (21,11-15) e que receberão o “galardão” (v.12.
Ver 11,18). Possivelmente esse galardão significa simplesmente a salvação, “o direito
à árvore da vida” (v.14b). Mas enganam-se aqueles que pensam que o Apocalipse
trabalha com o conceito da salvação “pelas obras”. Para João, as obras são evidência
da fé e da fidelidade. Porém todos os cristãos estarão na presença de Jesus Cristo
porque “lavaram suas vestiduras no sangue do Cordeiro” (v.14).
Por outro lado, haverá aqueles que ficarão de fora. São apresentados no v.15. Eles já
apareceram em 21,8 como aqueles que, longe de participarem do Novo Céu e da
Nova Terra, irão para a “segunda morte”. São os que não levam em conta as
advertências do Apocalipse. São os mesmos “injustos e impuros” do v.11a.
CONCLUSÃO
Estes últimos versículos do livro querem dar um caráter solene à obra diante de seus
ouvintes. Ela não pode ser menosprezada. Seu objetivo é abrir os olhos daqueles que
têm contato com ela a fim de poderem discernir a época em que vivem. O fim “não
está distante”. O diabo não irá se manifestar apenas no “futuro”. A besta não é
nenhum ser “bizarro” que aparecerá com uma placa indicando: “besta”, nem seu sinal
será uma “tatuagem”, ou o “código de barras” das embalagens. O Apocalipse é atual e
sempre será. Ele nos ajuda a ver, por trás das estruturas sociais e políticas, quem está
realmente agindo. Ele nos questiona se “já” não temos a marca da besta, se não
seguimos o estilo de vida de uma sociedade secularizada que é guiada pelo diabo.
Espero que o estudo deste livro tenha ajudado você a discernir melhor a vida e a se
posicionar diante dela. Meu desejo é que diante da mensagem do Apocalipse você
não seja considerado como “morno”. Isso será muito perigoso. Se este estudo ajudou-
o a quebrar barreiras que se levantavam contra o Apocalipse, e se você passou a
“simpatizar” , “gostar” e a “respeitar” este livro, já estarei satisfeito. Afinal, devemos
reconhecer que a Bíblia não poderia terminar com outro livro tão maravilhoso como o
Apocalipse!