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Responsabilidade socioambiental
Responsabilidade Socioambiental
Brasília, 2008
Prof. Dr. Naomar de Almeida Filho Prof. Dr. Antônio Nazareno Guimarães Mendes Prof. Dr. Paulo Speller
Reitor Reitor Reitor
Prof. Dr. Herbert Conceição Prof. Dr. Ricardo Pereira Reis Profa. Dra. Marinêz Isaac Marques
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Vice-Reitor Propg – Pró-Reitoria de Pós-Graduação
Prof. Dr. Reginaldo Souza Santos Prof. Dr. Joel Augusto Muniz Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta
Diretor da Escola de Administração Pró-Reitor de Pós-Graduação Coordenador do Projeto
Prof. Dr. Rogério E. Quintella Prof. Dr. Antônio Carlos dos Santos jmarta@ufmt.br
Coordenador do Núcleo de Pós-graduação Chefe Depto Administração e Economia – DAE Prof. Dr. Dirceu Grasel
em Administração (NPGA) Prof. Dr. Ricardo de Souza Sette Coordenador Pedagógico
Coordenador do Curso dgrasel@ufmt.br
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e Gestão Social (CIAGS) www.ufmt.br
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Centro de Educação a Distância – CEAD www.inepad.org.br
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GERENTE DE PRODUÇÃO
Rossana Beraldo
DESIGNER EDUCACIONAL
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ILUSTRADORES
Rodrigo Mafra
REVISORES
Marcela Silva
Daniele Santos
Sumár io
Caro(a) aluno(a),
Nesta disciplina do MBA em Desenvolvimento Regional Sus-
tentável, serão discutidas as diferentes responsabilidades
que vêm sendo atribuídas às organizações na atualidade, so-
bretudo, às empresas, enfatizando-se a articulação entre seu
tradicional papel produtivo e suas relações com os contextos
sociais e ambientais nos quais se inserem.
No Tema 1 – Responsabilidade socioambiental: histórico,
motivações e diferentes abordagens –, apresentam-se di-
ferentes visões e abordagens conceituais relativas ao papel
das empresas frente aos desafios econômicos, sociais e am-
bientais da atualidade, elementos da história dos debates a
respeito de responsabilidade socioambiental, bem como de-
safios e limites da gestão responsável.
No Tema 2 – Impactos socioambientais da atividade eco-
nômica e mecanismos de preservação –, discute-se alguns
dos impactos dos modelos atuais de atividade produtiva sobre
a natureza e a sociedade, bem como estratégias e mecanis-
mos de preservação e de conservação que vêm sendo pro-
postos e adotados, visando a enfrentar os desafios de sobre-
vivência e de qualidade de vida no planeta.
No Tema 3 – Responsabilidade socioambiental como es-
tratégia de negócios, de desenvolvimento e de gestão –,
evidencia-se a relação entre responsabilidade socioambiental
e desenvolvimento sustentável, apresentando-se argumentos
e experiências que buscam demonstrar como a responsabi-
lidade socioambiental pode configurar-se, simultaneamente,
como estratégia de competitividade e de sustentabilidade.
Trata-se, em especial, do papel do setor financeiro nesse con-
texto e de práticas que vêm sendo promovidas em seu âmbi-
to, visando à promoção da sustentabilidade.
GESTÃO DE PESSOAS
Bons estudos!
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Tema 1
Responsabilidade socioambiental: histórico, motivações e
diferentes abordagens
Como foi visto na disciplina Nessa mesma linha, estão os críticos do próprio conceito de de-
Desenvolvimento Territorial, senvolvimento sustentável, uma vez que ele contém a idéia
Organizações e Gestão, o essencialmente utópica de que seria possível conciliar cresci-
Relatório Brundtland (1987) mento econômico, consumismo e competitividade, por um lado,
define: “Desenvolvimento e proteção ambiental e justiça social, por outro, conforme discus-
sustentável é o desen- são já apresentada neste curso, na disciplina Desenvolvimento
volvimento que satisfaz as Territorial, Organizações e Gestão.
necessidades do presente
3) Visão política – esta corrente corresponde ao campo primor-
sem comprometer a capaci-
dial daqueles que defendem e participam do movimento da res-
dade das futuras gerações
ponsabilidade socioambiental das empresas. Seus defensores
satisfazerem suas próprias
argumentam que mesmo que se acredite que o papel central
necessidades”. É um con-
das empresas é produzir bens e serviços e gerar lucros para os
ceito que busca conciliar as
acionistas (visão liberal) e se admita que as empresas são as
necessidades econômicas,
grandes vilãs da sociedade atual (visão crítica), pelo poder que
sociais e ambientais sem
concentram, elas não podem estar à margem do debate político,
comprometer o futuro de
ambiental e social. Outro argumento, nesse sentido, é de que
quaisquer dessas demandas
(CEBDS, 2006).
não podem existir empresas saudáveis e lucrativas em socieda-
des enfermas e empobrecidas (TORO O., 1997; CARAVEDO,
1998), portanto, a sustentabilidade das empresas depende da
sustentabilidade em sentido mais amplo.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 17
Para Rousseau, filósofo Vivemos, nas últimas décadas, um processo intenso de renego-
iluminista do século XVIII, ciação do pacto social (WILHEIM, 1999), buscando (re)definir
o pacto social pode ser papéis e responsabilidades de cada ator nesse processo, em
definido quando “cada um meio ao qual os três grandes dogmas institucionais da moder-
de nós coloca sua pessoa e nidade (PIMENTA, 1998) – Estado, mercado e sociedade civil
sua potência sob a direção – vivem paradoxos e passam por transformações.
suprema da vontade geral”. Os Estados nacionais, apesar do questionamento neoliberal so-
bre sua eficiência e eficácia e do intenso processo de privatização
e descentralização, vivido a partir do final da década de 1970 em
muitos países, seguem concentrando muito poder. No campo da
sociedade civil, surgem novas formas de mobilização e articulação,
propiciando a emergência do chamado terceiro setor, conjunto das
organizações da sociedade civil, as quais combinam recursos e ca-
racterísticas públicas e privadas. Ao mesmo tempo, como vimos, o
mercado ganha impulso e poder, por meio da globalização econô-
mica e produtiva, da financeirização da economia, da flexibilização
da produção, da aplicação de novas tecnologias produtivas e da
criação de novos produtos, serviços e tipos de negócios.
Em paralelo a isso, cresce a preocupação mundial com os efei-
tos da ação humana sobre a devastação da natureza e as mu-
danças climáticas, levando ao questionamento mais intenso do
modelo produtivo atual, especialmente pela poluição ambiental
que gera. Movimentos sociais e organizações da sociedade civil
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 19
O termo stake significa Uma das abordagens mais disseminadas para tratar da respon-
interesse, enquanto holder sabilidade das empresas é aquela desenvolvida a partir do tra-
pode ser aqui entendido balho de R. Edward Freeman, em 1984, conhecida como “teoria
como aquele que possui ou das partes interessadas” ou “teoria dos stakeholders”. Nessa
que detém (um interesse), concepção, a gestão das empresas deve considerar um conjun-
e foi cunhado em referência to amplo de relações, contemplando todos os públicos ou atores
às noções tradicionais de sto- que afetam e são afetados por suas atividades.
ckholder, que corresponde a Além dos públicos de relacionamento da empresa facilmente re-
acionista, e shareholder, que conhecidos no âmbito das operações do negócio – funcionários,
corresponde a sócio e pode gestores, proprietários, acionistas, fornecedores, clientes e con-
ser entendido, também, como sumidores –, são partes interessadas organizações de interesse
acionista. civil, social ou ambiental, tanto no âmbito local quanto global,
bem como governos, sindicatos, mídia e sociedade, além do
meio ambiente e das gerações futuras.
A idéia é de que não apenas os proprietários ou acionistas investem
recursos em uma empresa e correm riscos ao fazê-lo. Todos aque-
les que se relacionam com a organização e/ou são afetados por ela
– voluntária ou involuntariamente – também investem algum recurso
ou correm algum tipo de risco. Assim, todos merecem ser considera-
dos nas estratégias das empresas e possuem o direito de procurar
exercer influência sobre elas. O grau dessa influência depende da
legitimidade e do poder para exercê-la conquistados por cada um
desses públicos de interesse, bem como depende de canais de rela-
cionamento e de diálogo entre empresas e seus stakeholders.
TEMA 1 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: HISTÓRICO, MOTIVAÇÕES E DIFERENTES ABORDAGENS 27
Termo Definição
Em síntese
A responsabilidade socioambiental não é uma questão restrita
ao universo das empresas. Os desafios da sustentabilidade,
que envolvem dimensões econômicas, sociais e ambientais,
exigem a co-responsabilidade dos diversos atores sociais, se-
jam eles do Estado, do mercado ou da sociedade civil. A dis-
cussão sobre o papel específico das empresas na sociedade
não é algo novo, mas ganha maior relevância na atualidade,
na medida em que as empresas privadas concentram muito
poder.
A definição dos papéis e responsabilidades das empresas,
bem como o significado dos termos empregados no debate,
exige análise de elementos do contexto histórico e do contexto
atual, considerando-se aspectos sociais, econômicos, políti-
cos, ambientais e culturais.
Muitos são os elementos que motivam as empresas a engajar-
se no movimento da responsabilidade socioambiental, assim
como são profundos os dilemas e limites que dificultam o avan-
ço das práticas, no cotidiano das organizações. Nos próximos
temas, estudaremos exemplos de possibilidades de avanço,
pela superação dos limites aqui apontados, bem como discuti-
remos outros desafios.