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PSICOLOGIA SOCIAL

Aula 01
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood
APRESENTAÇÃO
• O que faz com que você acredite naquilo que vou
lhe dizer a seguir?
• (a) o curso que você está cursando?
• (b) minha aparência?
• (c) minha eloquência?
• (d) meu currículo?
• (e) tudo / uma parte disso / nada disso?
INTRODUÇÃO
• O que faz com que uma
pessoa, diante de uma
encruzilhada onde há dois
caminhos disponíveis a
escolher, tome qualquer um
deles e o siga? A escolha,
por exemplo, entre direita e
esquerda, possui
condição(ões) que a
determina(m)?
INTRODUÇÃO

perdido
NOÇÃO
• Entre outras ciências, a Psicologia Social estuda o
comportamento do indivíduo em sociedade,
partindo do princípio de que um ou mais
indivíduo(s) ou grupo(s) influencia(m) outro(s)
indivíduo(s) ou grupo(s) a tomar(em) atitude(s).
• Há a variável independente e a variável dependente
(influenciada pela primeira)
INFLUÊNCIA SOCIAL
• Suscetibilidade ao comportamento alheio
• Atitude e/ou simples presença do outro
• Estudos: o exemplo das linhas (Asch, 1951), o
exemplo dos choques (Milgram, 1965), o papel
diante das crises (Latané e Darley, 1970)
• Conclusão: a presença do outro influencia o
comportamento individual.
INFLUÊNCIA SOCIAL
• Mas essa influência ocorre sempre no mesmo
sentido?
• Água fria, dois apostadores e três turistas
(americano, francês e brasileiro)
INFLUÊNCIA SOCIAL

• A presença da regra impositiva


• A influência específica da moda
• A presença da regra proibitiva
• A influência depende de vários fatores que nem
sempre são os mesmos para grupos heterogêneos
RELAÇÕES COM OUTRAS
ÁREAS
• Sociologia
• Antropologia Cultural
• Filosofia Social
• Outras Psicologias
• Física (o observador altera o evento observado)
UM EXEMPLO
• ... facebook:
https://www.facebook.com/radiorockoficial/videos
/490826454375792/

• Vídeo: “Selfie do terror”


OUTRO EXEMPLO
• http://contobrasileiro.com.br/?p=2257&fb_action_ids
=1047105235317571&fb_action_types=og.comment
s
• Fábula atribuída a Monteiro Lobato sobre uma
“corrida de sapos”
• Lembra o “ser ou não ser” de Shakespeare: o sujeito
pode (ou não) vir a ser (tornar-se) aquilo que os
outros dele esperam, negativa ou positivamente
SER OU NÃO SER
ALGUNS TEMAS SOB ESTUDO
• Atribuição de causalidade: aquele que assume suas
culpas, em geral, tem maior probabilidade de sucesso
• Associação com outros: em geral, busca-se alguém
com o mesmo problema para encontrar soluções
(ideia de realidade social)
• Tomada de decisões: dissonância cognitiva e
valorização da alternativa escolhida / desvalorização
da alternativa preterida
COMPORTAMENTO
PSICOSSOCIAL

• Característica “individual” do comportamento: a


decisão é tomada “independentemente” dos outros
• Característica “psicossocial” do comportamento:
ele é balizado pela influência do outro e também
pela possibilidade de reação do outro
COMPORTAMENTO
PSICOSSOCIAL

• Não obstante, as duas características se


encontram interligadas – o fenômeno da
linguagem, junto com o da cultura, mantêm
essa perspectiva
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PSICOLOGIA SOCIAL
Aula 02
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OUTROS TEMAS DE ESTUDO
• Corolário da Influência Social: influência de grupos
de referência

• Aroldo Rodrigues: “mudança nas opiniões


ancoradas no grupo podem ser facilitadas através
da informação de que outros membros do grupo
mudaram de opinião”.
CRISE DE RELEVÂNCIA
• Críticos da psicologia social notaram que essa
ciência necessita ter maior aplicabilidade prática e
maior orientação para as necessidades sociais
• Diferença entre ciência e tecnologia (Aroldo
Rodrigues)
• A psicologia social básica cria situações controladas
em laboratório; a psicologia social aplicada testa
suas hipóteses em situações da vida real.
A PSICOLOGIA SOCIAL
E AS QUESTÕES SOCIAIS

• Principalmente nos países onde os problemas


sociais são mais graves, há o engajamento dos
psicólogos na aplicação de soluções científicas
para a resolução de problemas sociais
A PSICOLOGIA SOCIAL
E AS QUESTÕES SOCIAIS

• Principalmente nos países ricos, a aplicação da


psicologia para questões sociais envolve estudos
sobre o consumo e sobre questões menos básicas
do ponto de vista das necessidades sociais dos
países “não tão ricos”
TECNOLOGIA SOCIAL
• Varela (1975): “é a atividade que conduz ao
planejamento de soluções de problemas sociais
através de combinações de achados derivados de
diferentes áreas das ciências sociais”.
• A atividade do tecnólogo social é a intervenção
social – muitas vezes vista como psicologia social,
sociologia, antropologia – denominações às quais
se acrescenta o termo “aplicada”.
PSICOLOGIAS E A
PSICOLOGIA SOCIAL APLICADA
• Behaviorismo (Psicologia Comportamental /
Experimental)
• Psicanálise
• Gestalt
• Psicologia Complexa ou “Analítica” (Jung)
• Vegetoterapia caractero-analítica (Wilhelm Reich)
• Pelos idos de 1990, falava-se em mais de 400 linhas
de Psicologia
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PSICOLOGIA SOCIAL
Aula 03
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PSICOLOGIA
COMPORTAMENTAL
• Base fisiológica
• Nos EUA: Behaviorismo
• Na Rússia: Pavlov
• Característica principal: experimentação
laboratorial
• Condicionamento como solução para os
principais problemas
PSICANÁLISE
• Base filosófica romântica
• Desenvolvimento da Personalidade
• Estruturação da personalidade adulta
• Noções de equilíbrio energético da personalidade
• Inconsciente (freudiano) e Consciência
• Id, Ego e Superego
• Repressão de impulsos originalmente sexuais - pulsões
PSICOLOGIA JUNGUIANA

• Contribuições de Jung para a teoria freudiana


• Complexos
• Jung: arquétipo e complexo, dinâmica psíquica:
instintos “psiquificados”
• A psique objetiva
• O psiquismo teleológico
GESTALT

• Configurações

• Teoria de Campo de Lewin


PSICOTERAPIA CORPORAL
• Vegetoterapia – Wilhelm Reich

• Orgone
• Noção de couraça
NAS ORGANIZAÇÕES
• A psicologia social, restringindo seu campo de
aplicação, pode focalizar a vida dentro das
organizações, e aplicar-se na solução de seu
problemas.
• A seguir, apresentamos aplicações comuns da
psicologia na organização:
PROCESSOS
ORGANIZACIONAIS
• Análise para a solução de um problema organizacional,
incluindo tarefas a executar
• Realizar pesquisas sobre sentimentos e opiniões dos
funcionários (clima e cultura organizacional)
• Avaliação de desempenho dos funcionários
• Recrutamento, seleção e treinamento de pessoal
• Desenvolvimento e aplicação de testes psicológicos
• Implementação de mudanças organizacionais
PSICOLOGIA SOCIAL

Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood


Autor:
Prof. Daniel
PSICOLOGIA SOCIAL Ricardo Augusto
Wood
PSICOLOGIA SOCIAL
UNIDADE DE ESTUDO 01
INTRODUÇÃO
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood

Introdução

O que faz com que alguém acredite naquilo que lerá a seguir?

(a) O curso que está cursando?

Supõe-se, é claro, que um curso de pós-graduação contém a necessária autoridade


(isto é, qualidade de autor, de dono do conhecimento que será exposto) para que exponha e
lecione acerca de determinada matéria. Essa, no entanto, é uma concepção convencional,
isto é, o aluno, ao matricular-se em um curso, deposita neste a sua confiança. A confiança é
um ato que consiste em depositar certa quantidade de energia no objeto confiado, isto é, há
um sentimento de garantia voltado àquilo em que se confia.
Não obstante, é um estado psicológico, uma disposição prévia. Aquele que confia
crê que o ser ou objeto no qual confia agirá de determinado modo, já esperado em
antecipação. A confiança no curso de pós-graduação significa que a pessoa que confia obterá
daquele curso o conhecimento que se busca.
Portanto, aquele curso exerce um poder, uma influência sobre aquele que vem para
aprender.

(b) A organização do conteúdo em si?

A forma como o conteúdo se organiza, ao ser mostrado ao leitor, é também um


fator que pode ser disposto (para mais ou para menos) no sentido de aprender com maior
ou menor facilidade, e, assim, confiar no conhecimento adquirido, a ponto de usá-lo com,
respectivamente ao aprendizado, maior ou menor eficiência.
Há, pois, uma influência sobre o estudo, que parte da estruturação e organização do
conhecimento.

(c) O currículo do autor?

Quando se leem as conquistas obtidas por uma pessoa, costuma-se dar crédito a
elas, em função da posição atingida em sociedade. O valor que a sociedade dá àquele que
conquista – sejam bens, imóveis ou não, sendo o conhecimento um bem imaterial,
eventualmente passível de avaliação patrimonial – faz com que o conquistador seja
conhecido e reconhecido socialmente. De tal modo, exerce influência sobre os outros,
muitas vezes merecendo crédito por suas aquisições.

(d) Tudo / uma parte disso / nada disso?

Aquilo em que se deposita crédito é o que sobre o sujeito exerce influência, isto é,
flui para dentro do sujeito uma espécie de energia que o predispõe a crer. Provisoriamente,
chamaremos a isso influência social.

Uma anedota que fornece uma boa introdução para o assunto é aquela em que dois
apostadores, diante de uma água muito fria, prometem pagar um ao outro uma quantia
para aquele que conseguir persuadir um americano, um francês e um brasileiro a se jogarem
na água.
Depois de perder a aposta, aquele que conseguiu convencer os três a se jogar na
água responde ao atônito interlocutor da aposta o motivo que usou para ganhar a aposta:
- Ao americano, eu disse que era lei que as pessoas naquele ponto deviam se jogar
na água; ao francês, simplesmente disse que era a última moda em Paris; para o brasileiro,
declarei que era terminantemente proibido jogar-se na água.
O apostador, aqui, valeu-se da cultura típica dos países de origem dos três
"nadadores", para influenciá-los a se jogarem na água. Para um, é obrigatório; para o
segundo, é moda; para o terceiro, é proibido.
A piada não traz consigo nenhuma intenção de provocar qualquer reação a não ser
o riso. Se fizer rir, ou trouxer qualquer reação adversa, é porque choca o conteúdo do que se
lê com aquilo que o leitor traz consigo. Em princípio, é simplesmente um conto, e os contos
têm essa possibilidade. Não se pretende ofender, e basta que o leitor saiba disso para que
tenha a oportunidade de ler com os olhos que se procura que seja lido o texto, pois são
olhos de ciência.
Situações e comportamentos, e os atos e acontecimentos que os influenciam, são
objetos de estudo da Psicologia Social, bem como da Sociologia e da Antropologia.
Em um ramo da ciência, estuda-se a interação entre os seres humanos; em outro
estudo, procura-se tratar da estruturação social como um todo, vista a partir de instituições;
no terceiro, trata-se do comportamento humano segundo a cultura vigente. Os três ramos
das Ciências Humanas trombam entre si e, na realidade, são inseparáveis; didaticamente,
entretanto, ensaiam-se separações entre as disciplinas, sem que possam, em definitivo,
libertar-se da interdependência.
A vida, como se sabe, é cheia de encruzilhadas. É preciso, a cada passo, escolher.
Escolhe-se entre dois ou mais caminhos possíveis. Entre o bem e o mal, o certo e o errado,
entre o menos certo e o mais certo, entre o menor e o maior benefício, entre o menor e o
maior malefício. Escolhe-se entre objetivos.
Escolhe-se, muitas vezes, entre um imenso leque de possibilidades. Por exemplo,
entre muitos candidatos a uma vaga na universidade, é preciso escolher um, e há critérios
para se fazer essa escolha. Tais critérios, por mais racionais que pareçam a determinada
cultura, instituição ou mesmo indivíduo, podem parecer absurdos, arbitrários e mal-
intencionados para outras culturas, instituições e/ou indivíduos. No entanto, os critérios são
fincados em questões que originalmente, têm uma perspectiva baseada em valores, aceitos
socialmente, institucionalmente, culturalmente e, muitas vezes, psicologicamente.

A influência social é essa possibilidade que existe de um fato, objeto ou pessoa,


exercer sobre o outro uma força no sentido de cooptar o sujeito visando determinada ação
ou comportamento. É extensivamente estudada pela Psicologia Social para determinar que
espécie de reação é possível prever no(s) indivíduo(s) em relação a dados objetos que se
pretende atingir como meta ou utilizar como origem de comportamento – sejam, tais
objetos, pessoas ou não.

Psicologia Social

Entre outras ciências, a Psicologia Social estuda o comportamento do indivíduo em


sociedade, partindo do princípio de que um ou mais indivíduo(s) ou grupo(s) influencia(m)
outro(s) indivíduo(s) ou grupo(s) a tomar(em) atitude(s).
Em termos de representação gráfica, costuma-se designar aquele que influencia
como variável independente, enquanto aquele que é influenciado costuma-se chamar de
variável dependente.
É comum perceber que mesmo a variável independente é originalmente
dependente de alguma outra. Pode-se, assim, pensar que haveria alguma variável na origem
de tudo, que seria realmente independente. Pode-se até pensar que o acaso seria a variável
independente original – muitos acham que o Universo origina-se num muito aleatório "Big
Bang"; outros atestam que não é possível a Criação sem um ato consciente originário de
todas as coisas. Com base em tais pensamentos, a variável independente original seria, no
primeiro caso, o acaso; no segundo, uma Consciência Criadora Universal.
Sem que seja possível deter o objeto desta disciplina no tema do parágrafo anterior,
aqui se há de ficar com a variável independente provisória, isto é, aquela que é eleita para
ser considerada como independente e, a partir do estudo feito, trata-se de determinar se há
entre a variável independente e a variável que se deseja estudar (a dependente) uma efetiva
relação de dependência.
Assim, por exemplo, se o modo como determinados móveis estão arranjados em
uma sala (isto é, sua configuração espacial) for a variável independente, pode-se, por
exemplo, pensar os trajetos possíveis dentro desta sala e procurar estudar quais possíveis
caminhos uma pessoa escolherá para ir de um ponto a outro desta mesma sala. Tem-se,
pois:
Variável Independente = configuração espacial (y)
Variável Dependente = trajeto entre dois pontos (x)
A relação que se procura aqui, é saber de que modo pode-se identificar se y = f(x),
isto é, se é possível dizer que o trajeto entre dois pontos de uma sala é função da
configuração espacial dessa; em que medida isto pode acontecer, se é possível identificar
outras variáveis ou constantes que influenciam no trajeto e assim por diante, são estudos
que visam o aprofundamento do conhecimento entre configuração espacial e caminhos
possíveis.
É assim na Psicologia Social. A influência social pode partir de várias formas: uma
ideia, uma foto, um conto, um indivíduo e sua posição em sociedade; e, a partir destas,
pode-se tentar identificar e/ou prever o comportamento de outrem.
Por exemplo, que papel tem o líder de uma comunidade? Qual a importância de ser
um líder aceito ou não? De que modo a televisão influencia o comportamento humano?
Uma ideia propagada por uma novela influencia de fato o telespectador? Qual o percentual
de pessoas da população que se deixa influenciar por novelas? Em que faixa etária isso se
dá?
Tais estudos fazem com que se determinem, por exemplo, os melhores horários
para determinadas propagandas.
Sabe-se, por exemplo, que, nos supermercados, o modo como os produtos estão
dispostos nas estantes faz com que tenham maior ou menor possibilidade de serem
vendidos. Por tal motivo, é muito comum que os produtos mais caros estejam na altura da
visão do consumidor.
Do mesmo modo, um produto que tem um cartaz ao lado escrito "promoção", em
letras garrafais, pode eventualmente vender muito melhor do que um produto escondido lá
embaixo, no fundo das estantes, mesmo que esse seja vendido a um preço inferior àquele
que está em "promoção".
São "regras" de marketing exploradas extensamente pelos gerentes de
supermercados. Não que sejam ciência; são ciência aplicada, isto é, tecnologia.
Há situações em que as pessoas simplesmente não "caem" nessas estratégias de
marketing. Neste caso, é muito comum assumir que tais pessoas estarão suficientemente
instruídas a respeito de tais "regras" para, simplesmente, não admiti-las sem perceber e,
conscientemente, questionar se tais disposições espaciais de produtos oferecem a elas, de
fato, o produto que lhes confere o melhor custo/benefício. Em tal caso, há outra variável
que influencia o comportamento da pessoa, que é o conhecimento, que se alia à reflexão
acerca do que é de fato melhor para si.
Ao mesmo tempo em que a Psicologia Social provê conhecimentos para o
desenvolvimento de tecnologias de venda, também fornece conhecimentos para que o
indivíduo saiba o que é melhor para si – dentre outras formas, pode o sujeito conhecer a si
mesmo, de modo que não fique tão "assujeitado" à influência social, que, invisivelmente,
assalta uns e outros de todas as formas – às vezes, para o bem, noutras vezes, para o mal.
Assim se dá, por exemplo, em grupos: muitas vezes há em que as pessoas tendem a
se autorizar para cometer atos que nunca levariam a efeito.
Pense-se, por exemplo, no movimento historicamente conhecido como "Diretas Já",
que envolveu milhões de brasileiros indo às ruas, na década de 1980, para exigir seu direito
de votar para a eleição do Presidente da República.
Quantos teriam coragem, daqueles milhões, de fazer essa requisição sozinhos, sem
ninguém mais? Alguém pintará o rosto e sairá às ruas sozinho, para exigir um direito que
julga seu?
Pouquíssimos o fazem; e, quando o fazem, muitas vezes são considerados loucos!
Mas, em grandes grupos, são capazes de fazê-lo, porque o agrupamento, eventualmente,
autoriza. Faz com que a possibilidade de ser julgado inadequado diminua, a ponto de
permitir que se cometa o ato. E há várias razões para isso.
O grupo também pode inibir uma pessoa. Não que isso sempre funcione, como
também pode não funcionar sempre para levar alguém a cometer, por exemplo, um ato de
linchamento. Alguém firmemente adepto da ideia de que o linchamento não leva a nada
pode, simplesmente, não aderir. Claro que há as consequências sociais, culturais e
individuais dos próprios atos, sejam ou não cometidos em grupo. Para isso, é preciso estudar
Moral e Ética, entre outras ciências como, por exemplo, o Direito, que trata das proibições e
permissões aceitas ou não dentro da codificação típica do contrato social de que falam
Rousseau e outros.
A influência social pode-se dar com ou sem a presença do influenciador, isto é, sua
lembrança pode ser suficiente para influenciar o outro. Aí começa-se a entrar no estudo das
ideologias, como é caso da religião que, sob determinado aspecto, é uma ideologia.
A noção de mandamento, na religião, é crucial para o comportamento de
determinados povos. Em várias tribos indígenas, por exemplo, o banimento é pior do que a
morte. Para um índio banido de sua tribo, condenado a viver na floresta por um tempo,
determinado ou não, pode ser algo pior do que a morte, porque para tal tribo, o maior valor
pode ser a vida na comunidade tribal. O que, para o civilizado cristão, é representado pelo
Inferno, pode ser o equivalente do banimento para um sujeito oriundo de uma sociedade
tribal.
A pessoa cristã, ao imaginar o Inferno, compara-o ao pior sofrimento possível; o
mesmo se dá com o banimento, para determinado vivente em uma sociedade tribal. São
valores diferentes, influências diferentes; mas sua simples menção causa arrepios nos
sujeitos respectivamente influenciados, em suas próprias culturas.
Com base no que foi exposto acima, pode-se facilmente entender que a influência
social, em si mesma, depende de vários fatores que nem sempre são os mesmos para grupos
e/ou indivíduos heterogêneos.
Um exemplo muito ilustrativo é o (nefasto) jogo que, em 2014, excluiu o Brasil da
disputa pela Copa do Mundo de Futebol Masculino. Ser derrotado para a Alemanha por sete
(*SETE*) gols a um, derrota acachapante, em território brasileiro, era algo plenamente
inesperado. Nenhum jornal esportivo do mundo poderia prever tamanha derrota. Poder-se-
ia imaginar a respeito, sonhar com isso, até mesmo afirmar que a Alemanha tinha um time
favorito; mas, por sete gols a um, muito dificilmente.
No entanto, aconteceu. A influência que, para os brasileiros, era certa – de que até
a torcida empurraria o time para a vitória – para o selecionado alemão era apenas, talvez,
uma marola. Vieram ao Brasil, estudaram seu adversário durante anos, prepararam-se em
um lugar onde foram bem acolhidos e onde souberam conquistar a população; tiveram um
time em preparo durante quatro ou oito anos; e, na hora de jogar, ficavam surdos aos apelos
em contrário. Jogaram como se não houvesse adversário, e venceram.
Para este exemplo histórico há outro, anedótico, da corrida dos sapos.
Em uma comunidade de sapos brejeiros, organizou-se uma corrida.
Lá se foram milhares de sapos, que deveriam, em certo ponto, subir uma íngreme
ladeira. E a saparada da torcida, em volta, coachava:
- Não vão conseguir! Não conseguirão!
E assim escutando, alguns sentiam-se mais fracos e iam desistindo ao longo do
caminho.
E os berros continuavam:
- Não vão conseguir! Não conseguirão!
E iam muitos desistindo, até que só um sobrou – e, para espanto geral, aquele um
chegou ao topo da subida e ganhou a corrida.
Foram então, aos pulos, perguntar-lhe o que houve, como conseguiu desdizer toda
a turba, e o sapinho, inocente, a cada pergunta, respondia:
- Hein? Heim?
Era surdo. Nada ouvira dos apelos alheios.
Daí o dito popular: "É melhor ser surdo às maldades alheias".
Sabe-se que nem sempre é bom ser surdo; mas, aos obstáculos ilusórios, é
importante não prestar atenção.
Assim se deu com os alemães na Copa de 2014; tristemente para os brasileiros, aos
quais a influência social garantia que seriam campeões; mas essa influência estava
clamorosamente errada e não se apoiava em forças muito mais poderosas – a do preparo, e
da própria influência social que diz outra coisa: "que vença o melhor". E os de fato melhores
venceram.

Relação com outras áreas

A Psicologia Social faz parte da ciência de modo geral, e, como tal, sofre influência
de outras áreas – delas dependendo, e para elas contribuindo.
Pode-se destacar, a título de ilustração:
Sociologia: o estudo das instituições e do modo como a sociedade se organiza, em
especial a sociedade tipicamente "ocidental" (e não se tome este termo como o Ocidente do
mundo, já que, sendo redondo, está em toda parte; mas a cultura conhecida como
Ocidental, esta cultura de conquistas históricas que se tornou famosa desde a época dos
romanos e cuja filosofia se baseia tradicionalmente na herança, considerada sui generis, da
Filosofia Grega).
Antropologia Cultural: essa parte do estudo das agremiações humanas que se
ocupa basicamente do modo de comportamento das culturas características de nações e/ou
aglomerações sociais que se destacam de outras por um conjunto de crenças e/ou
comportamentos que se constituem, mais ou menos, em formas de identificação de uma
sociedade específica. Por exemplo, o estudo dos nativos da Ilha de Páscoa; o estudo da
nação alemã; o estudo da cultura oriental; o estudo dos costumes muçulmanos; e assim por
diante. Note-se que aí se delineiam culturas, isto é, formas mais ou menos identificáveis que,
pela noção geral, são consideradas diferentes da própria cultura ocidental, e fazem o típico
"ocidental" identificar-se como diferente das outras culturas.
Filosofia Social: a Filosofia, como se sabe, possui método próprio no qual se
embebem as outras ciências. Porém, é típico da filosofia não estar presa à ciência em si;
enquanto dela, inegavelmente, a ciência se origina, também é verdade que nem sempre a
ciência comprova a filosofia, isto é, a filosofia não tem obrigação de ater-se aos métodos
mais rígidos da ciência para a comprovação do conhecimento. Daí que a Filosofia Social,
enquanto fornece elementos para a Psicologia Social, nem sempre comprova o saber
adquirido por esta última, ao passo em que esta pode caminhar mais lenta, porém, por
vezes, mais seguramente, do que aquela grande amiga do saber da qual todas as ciências
dependem em grande parte para se desenvolverem.
Outras Psicologias: por óbvio que a psicologia deve ser capaz de se alimentar de
seus próprios ramos. A Psicologia é uma árvore de muitas raízes e muitos ramos e, se não
forem todos diretamente capazes de se comunicar, ligam-se por caminhos reflexos, e
acabam por se comunicar e contribuir mutuamente para seus desenvolvimentos. Falar-se-á
a respeito nos tópicos seguintes.
Física: apenas para citar um exemplo que não parece ter relação alguma com a
Psicologia, é pura verdade que uma influencia a outra. Em Física Quântica é muito conhecida
a afirmação de que o observador altera o evento observado, e para isso há comprovação
experimental. Pode-se, pois, pensar com segurança que, sempre que alguém observa um
evento, esse evento também é, pelo observador, alterado. A presença de um fotógrafo em
uma sala de aula, armado com sua câmera e tirando fotos a todo instante, é suficientemente
perturbadora para fazer com que os alunos pensem seriamente em fazer poses a cada vez
que escutam o barulho do obturador da câmera abrindo e fechando para a obtenção da
imagem congelada que consiste na foto em si. É bem possível que os alunos fiquem mais
quietos ou, na outra ponta das reações possíveis, muito mais agitados, numa sala de aula em
que se fotografa o comportamento. Este é apenas um evento no qual a Física e a Psicologia
se entrelaçam, e ambos os saberes se encorajam, de modo a serem admitidos como
"verdades científicas".
Uma ilustração em vídeo

O endereço eletrônico a seguir contém um material em vídeo, ilustrativo do modo


como a influência social está presente no comportamento do indivíduo. Chama-se "Selfie do
Terror" e foi publicado pela Rádio Rock em setembro de 2015, na Internet; tem cerca de 2
minutos de duração, e faz uma mini-história de terror acerca do modo como os chamados
selfies – fotos de si mesmo nas mais variadas situações – estão arraigados na cultura vigente
na atualidade, como se fossem expressões próprias de si mesmo.
Assim, as pessoas pensam que têm essa necessidade de dizer de si mesmos com
imagens variadas para outras pessoas – mas esquecem que, com toda essa publicidade,
podem expor-se além do desejável. Mesmo com essa exposição, o medo da solidão, de ser
assaltado em uma situação isolada, em sua privacidade, que é um medo típico que permeia
o imaginário nas grandes cidades, está presente – e pode ser explorado como uma história
de terror. Se o aluno, ao assistir esse vídeo, ler seus comentários, entenderá facilmente que
há reações diversas provocadas nas pessoas ao assistirem essa peça dramática, de tal modo
que, se é visto de madrugada, por pessoas sozinhas em suas casas, pode levar ao medo,
enquanto, visto em grupos, pode dar origem a risadas e muitas piadas.

https://www.facebook.com/radiorockoficial/videos/490826454375792/

Sugestões para leitura

ADORNO, THEODOR W. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise. Ed. UNESP, 2015.
ARONSON, ELLIOT; WILSON, TIMOTHY D.; AKERT, ROBIN M. Psicologia Social. Ed. LTC.
LANE, SILVIA T. MAURER; CODO, WANDERLEY. Psicologia Social - o Homem em Movimento.
Ed. Brasiliense, 2006.
MOSCOVICI, SERGE. Representações Sociais. Ed. Vozes, 2010.
REY, FERNANDO GONZALEZ. O Social na Psicologia e a Psicologia Social. Ed. Vozes, 2004.
RODRIGUES, AROLDO; JABLONSKI, BERNARDO; ASSMAR, EVELINE M. L. Psicologia Social. Ed.
Vozes, 2005.
PSICOLOGIA SOCIAL
UNIDADE DE ESTUDO 02
TEMAS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA SOCIAL
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood

Alguns temas de estudo da Psicologia Social

A título de ilustração, a Psicologia Social encontrou, entre outros, os seguintes


temas de estudo:
1. Atribuição de causalidade
Aquele que assume suas culpas, em geral, tem maior
probabilidade de sucesso. Em um experimento visando a compreensão
da percepção do próprio envolvimento nos fracassos, percebeu-se que
as pessoas que admitem que têm sua própria parcela de culpa nos
eventos que as levaram a perder são, em geral, pessoas mais bem
preparadas para atingir o sucesso em novas oportunidades. As pessoas
que, ao contrário, atribuem somente aos outros a responsabilidade por
suas falhas, têm dificuldades maiores para vencer seus obstáculos nas
mesmas ou em outras situações a que são submetidas.
O fato aqui que deve ser sublinhado é que aquele que admite
sua parcela de responsabilidade, em geral, tem mais maturidade e
exerce maior cautela para se preparar melhor e desviar dos obstáculos,
quando as novas oportunidades aparecem.

2. Associação com outros


Em geral, busca-se alguém com o mesmo problema para
encontrar soluções.
O que está envolvido neste pensamento é a formação de uma
ideia de realidade social. As pessoas tendem a pensar que a sua própria
"realidade social" (isto é, aquilo que de fato é à sua volta) consiste em
algo que será mais bem acompanhado por aqueles que partilham dos
mesmos problemas ou problemas semelhantes.
No entanto, nem sempre é verdade que a realidade social seja
mais bem percebida por aqueles que têm os mesmos problemas. O que
está presente nessa forma de se comportar é que as percepções, entre
os que têm problemas semelhantes, tendem a ser parecidas, de tal
modo que é como se vivessem a mesma realidade. São as mesmas ou
semelhantes percepções, porém; não representam de fato as mesmas
ou semelhantes "realidades" – principalmente se o conceito que se tem
de "real" é algo que só pode ser uma coisa.
3. Tomada de decisões
O fenômeno da dissonância cognitiva está presente sempre
que há necessidade de escolha – isto é, de maneira muito frequente –
entre duas alternativas, quando estas apresentam possibilidades de
ganho e possibilidades de perda, isto é, uma alternativa traz uma
perspectiva de ganho e é contrariada por uma perspectiva de perda; e
outra alternativa traz sua própria possibilidade de ganho, acompanhada
por outra perda que a acompanhará, caso escolhida.
Em tais casos, a pessoa tende a executar uma valorização da
alternativa escolhida que se acompanha de uma desvalorização da
alternativa preterida, de tal modo que o curso de ação escolhido parece
ser o melhor.
Para melhor entender esse pensamento, é possível lembrar os
comentários comuns quando ambas as escolhas não apresentam nada
de verdadeiramente bom para o sujeito que escolhe – caso em que
tende-se a dizer que se escolhe "dentre duas más escolhas, a menos
pior", isto é, aquela em que se perde menos – novamente criando um
valor mínimo aceitável para a escolha feita, em detrimento da outra
possibilidade. A mesma coisa se dá quando todas as alternativas
possíveis parecem boas, isto é, alguma pode trazer alguma perda
"menos significativa", embora as vantagens na escolha de uma ou outra
possam parecer equivalentes em termos de benefício.
A dissonância cognitiva aparece com maior força (e tende a
atrasar mais as escolhas) sempre que há diferenças pouco significativas
entre as escolhas possíveis; sempre que a diferença é gritante, a opção a
escolher torna-se mais evidente.

Os exemplos acima trazem conhecimentos importantes que sempre podem


ser explorados em situações de administração de conflitos. Por exemplo, o prazer de
fumar pode ser contrabalançado pelo inegável ganho no que diz respeito à saúde. É
coisa a explorar quando se trata de combater o vício do fumo: a pessoa que deixará de
fumar precisa ser convencida de que sua saúde melhorará efetivamente e que as
situações que envolvem a satisfação do vício de fumar envolvem perdas muito maiores
do que os ganhos obtidos com a satisfação do vício.
Do mesmo modo, para fazer com que uma pessoa mude sua percepção da
realidade, é preciso, por vezes, mostrar diferentes percepções da sua própria
realidade, e, por mais penoso que isso seja, fazer sucessivas aproximações entre suas
percepções e outras, diferentes, que possam levá-la a entender que sua percepção da
realidade não é a única, nem a melhor possível. Há técnicas para tanto, disponíveis
para os profissionais de psicologia, em grande número de tratamentos.
Por exemplo, e apenas como exemplo, um fumante pode ser levado a
abandonar esse hábito mediante a associação do hábito de fumar com coisas que,
para a pessoa em questão, sejam extremamente desagradáveis. Por tal motivo há as
fotos de pessoas doentes estampadas nas embalagens de maços de cigarro.
Ao lidar com situações em que a vitória é importante, ou em casos em que a
derrota precisa ser evitada, pode-se lançar mão da percepção que a pessoa tem de sua
própria responsabilidade diante dos fatos. A partir do conhecimento exposto acima,
sabe-se que as pessoas que têm maior condição de assumir responsabilidades pessoais
nos fracassos e sucessos são, também, em geral, aquelas pessoas que se aconselharia
colocar em posições-chave na hora de executar tarefas cruciais para a obtenção do
sucesso em empreendimentos dependentes de atos em grupo.

Comportamento Psicossocial, Linguagem e Cultura


A Psicologia Social considera, na prática, que o comportamento dificilmente é
exclusivamente individual; ele é psicossocial, isto é, possui duas características que o
compõem: a característica “individual” do comportamento, que consiste naquela
decisão que é tomada “independentemente” dos outros, e a característica "social" do
comportamento (também chamada de comportamento psicossocial propriamente
dito), balizada pela influência do outro e também pela possibilidade de reação do
outro. Não obstante, a própria característica dita "individual" é psicossocial, pois deve
levar em conta o fato de que uma imensa parcela, daquilo que se é, foi apreendida no
convívio social, que envolve linguagem e troca, aprendizado e reforço de
possibilidades de agir.
Os fenômenos da linguagem e da cultura influenciam definitivamente o ser
humano em seu agir. Isso é corroborado por negação, isto é, não se conhece de
exemplos de seres que sejam considerados verdadeiramente humanos sem que
tenham apreendido algum grau de linguagem e de cultura a partir de sua origem. Por
outro lado, sabe-se mesmo de animais que adquirem alguma capacidade de
comunicação na medida em que são incluídos no convívio humano, de tal modo que os
seres humanos tendem a lhes conferir lugares sociais em seus agrupamentos. É o que
se dá com os animais de estimação.
Por outro lado, a comunicação não é uma habilidade exclusiva dos seres
humanos. Deve-se notar, porém, que a comunicação com humanos confere um status
de proximidade ao humano. É praticamente impossível conferir um status de humano
àquele que não tem características minimamente humanas – se reconhecemos uma
estátua como algo humano, fazemo-lo enquanto ela copia a aparência de ser humana,
pois ela transmite algo; na medida, porém, em que as estátuas não falam, passam a
conservar apenas um valor poético, artístico, mas despem-se da humanidade a elas
inicialmente atribuída. A frase de Michelangelo, mandando falar a sua estátua de
Moisés, é assim atribuída por sua importância histórica e cultural: é que a estátua
imitava tão bem a aparência humana, transferia à escultura uma mensagem tal de
igualdade e pertinência ao gênero humano, que lhe faltaria falar para ser conhecida
como a criação divina (que consiste em dar vida humana a seres inanimados, embora
semelhantes).

Grupos de Referência
É com base na mudança de referência que Aroldo Rodrigues (2005) informa
que “mudança nas opiniões ancoradas no grupo podem ser facilitadas através da
informação de que outros membros do grupo mudaram de opinião”.
Veja-se a seguinte situação: um professor de uma Faculdade de Física diz a
seus alunos que resolveu mudar de determinado método de análise – vinha aplicando,
até então, a suas equações físicas, método diferente para resolvê-las – para encontrar
determinadas soluções, por mostrar-se, tal método, mais adequado para o trabalho.
Por outro lado, alguém que é estudante de outro curso – por exemplo, Estudos Sociais
– aparece numa sala de aula de Engenharia Eletrônica e declara que descobriu melhor
maneira de empregar circuitos eletrônicos para desenvolver soluções em robótica.
Por certo o leitor dirá que a probabilidade de o Professor de Física ser
imediatamente aceito por seus alunos é verdadeiramente muito maior do que a
chance do estudante de Estudos Sociais convencer os estudantes de Engenharia
Eletrônica sobre seus argumentos, por mais corretos que possam eventualmente ser.
Essa é uma questão de referência, isto é, quem pode ser referência e quem
não é aceito como tal. Aqueles que são referência de comportamento influenciam os
grupos entre os quais são importantes, e não têm suficiente influência para mudar o
comportamento daqueles em que não são vistos com suficiente importância.
Assim, Pelé pode falar muito – e ser aceito a respeito – sobre futebol; mas
dificilmente será aceito para falar sobre qualidades desejáveis em habitações lunares.
Por outro lado, sempre é possível imaginar Pelé jogando futebol na Lua; no que tal
imaginação poderia ser pertinente neste exato momento?

Crise de Relevância
A Psicologia, como qualquer outra ciência – e não se discutirá isso aqui – não
está sempre certa. Seu conhecimento é bastante baseado no empirismo, de modo
que, via de regra, é dependente de uma série bastante grande de constantes e
variáveis.
Praticamente todo o conhecimento científico psicológico é restrito, e carece
de explicação circunstanciada, de modo que nem sempre uma premissa pode ser
aplicada.
Carl Gustav Jung, em sua obra, sempre recomenda que o psicólogo, ao tratar
de seu paciente, esteja pronto a abandonar todo o conhecimento de que dispõe até
ali; é preciso pois, construir um conhecimento sobre o indivíduo em si, e assim se dá
com o grupo, sendo necessário construir conhecimento sobre os indivíduos e sobre o
comportamento grupal. Bem assim, vale-se a Psicologia da Sociologia e da
Antropologia: para considerar o indivíduo, é preciso considerar o lugar em que se
insere.
Porém, uma vez consideradas as coisas adequadamente, e com os pesos
cuidadosamente colocados em seus lugares, as predições psicológicas formam uma
espécie de ciência preditiva probabilística, que é de grande valor para o indivíduo e
para a sociedade.
Não obstante, a Psicologia Social tem um lado estritamente científico, que se
preocupa com minúcias que parecem nunca passar do óbvio, e, por outro lado,
parecem conhecimentos de fraca aplicação no dia-a-dia. Este lado da Psicologia Social
científica, com seus métodos de minúcias e necessárias exclusões, eventualmente
desperta – até mesmo nos próprios psicólogos – certo grau de insatisfação.
Mesmo a Física, que se costuma considerar muito mais prática, concreta,
exata, tem seus problemas de aplicação e de experimentação; para isso pode-se olhar
para a Teoria da Relatividade ou para as construções astrofísicas que tratam dos
buracos negros e quasares, distantes milhões de anos-luz da Terra. De que servem tais
conhecimentos?
Todavia, servem. E para muito. É porque o ser humano foi à Lua que inúmeras
aplicações do plástico e da eletrônica foram descobertas; e é porque se estudam
minúcias atômicas na Psicologia Social que existe a Psicologia Social aplicada, que se
vale dos conhecimentos da Psicologia Social (e de outras linhas em Psicologia), assim
como da Antropologia, da Sociologia, da Filosofia, e de outras ciências, conexas, para
construir um arcabouço de tecnologia social que, aplicada, dá certos resultados
relevantes.
A psicologia social básica cria situações controladas em laboratório; a
psicologia social aplicada testa suas hipóteses em situações da vida real.
Ao ser aplicada, a psicologia social preocupa-se também com questões que
afligem os grupos sociais, menores ou maiores. Trata desde questões familiares a
questões de política internacional, envolvendo países; passa pelo estudo de situações
trabalhistas, típicas ou não, auxiliando na solução de questões de administração da
produção, entre outras coisas.
Nos países onde os problemas sociais são mais graves, há o engajamento dos
psicólogos na aplicação de soluções científicas para a resolução de problemas sociais,
de maneira proporcional.
Nos países ricos e onde as questões sociais têm relevância mais sutil, a
aplicação da psicologia social envolve, eventualmente, estudos sobre o consumo e
sobre questões menos básicas do ponto de vista das necessidades sociais dos países
“não tão ricos”.
Apesar de tudo, é fato que, nos países mais pobres, a psicologia social,
eventualmente, não possui instrumental suficiente para construir tecnologia social, ou
não é observada com suficiente interesse pelas pessoas e instituições que decidem
transformar a sociedade. Se isso é bom ou ruim, pode-se dizer, por alto, uma coisa:
deixa-se de utilizar a ciência em prol da humanidade, para trabalhar com técnicas de
"chute" que deixam muito a desejar quando se trata de administrar – com adequadas
políticas – os gastos públicos e particulares.
De qualquer modo, diz Varela (1975) que a tecnologia social “é a atividade
que conduz ao planejamento de soluções de problemas sociais através de
combinações de achados derivados de diferentes áreas das ciências sociais”.
A atividade do tecnólogo social é a intervenção social – muitas vezes vista
como psicologia social, sociologia, antropologia – denominações às quais se acrescenta
o termo “aplicada”.
Logicamente que, em seu caminho de aplicação tecnológica, a Psicologia
Social não trabalha sozinha. Vale-se muito dos conhecimentos adquiridos nas mais de
quatrocentas (!) linhas que existem em Psicologia.
Destacam-se abaixo as linhas de ciência psicológica cuja influência sobre a
Psicologia Social é mais visível no Brasil dos dias atuais:
 Behaviorismo (Psicologia Comportamental /
Experimental)
 Psicanálise
 Gestalt
 Psicologia Complexa ou “Analítica” (Jung)
 Vegetoterapia caractero-analítica (Wilhelm Reich)

A seguir, far-se-á um estudo brevíssimo, verdadeiramente incompleto e


apenas superficialmente introdutório, das linhas de Psicologia citadas acima.
Começaremos com o Behaviorismo, e, na aula seguinte, trataremos das outras
quatro.

Psicologia Comportamental
A Psicologia, que os historiadores consideram fundada por Wundt em 1875,
seguiu na América e no continente Europeu, a princípio, tomando caminhos e
assumindo influências diferentes, que acabam por determinar as bases teóricas em
que se fundam.
No continente americano, especificamente na América do Norte – com certa
participação da ciência russa, no caso dos conhecimentos de Pavlov – a Psicologia
passou a ser conhecida como o estudo do comportamento (Behaviour, em inglês).
Nos E.U.A., com Watson e, mais tarde, com Skinner, a Psicologia
Comportamental, de base estritamente experimental, laboratorial, mais tarde evolui
para considerar questões sociais; apesar disso, ainda mantém uma vertente
laboratorial de estudo do comportamento. É aí que se estabelecem as ideias de
condicionamento reflexo (também com a contribuição pavloviana) e de
condicionamento operante.
O condicionamento reflexo é mais simples de observar. Pavlov notou que
cães, ao lhes mostrar comida, salivavam. Transpôs esse conhecimento para mostrar
que há um reflexo de salivação que ocorre imediatamente quando, em momentos de
necessidade orgânica (fome), o sujeito vê ou mesmo suscita a lembrança de alimento.
Embora no animal a lembrança da comida típica de que se alimenta desperte-
lhe salivação, essa condição é levemente diferente no humano. Neste, a salivação
maior ou menor depende da espécie de estimulação alimentar a que está acostumado.
Por exemplo, não é todo mundo que salivará ao pensar em comer gafanhotos fritos ou
assados; mas há certos povos que gostam de comer essa espécie de animal, em
espetos, ou como aperitivo. Cérebro de macaco, embora possa parecer quase uma
atitude canibal, é outro manjar apreciado em certas regiões da Ásia.
E a lembrança do cérebro do macaco pode não suscitar salivação em um
brasileiro, mas pode, naqueles povos acostumados a tanto, gerar certo apetite e,
portanto, estar associado à salivação.
Tal espécie de condicionamento é considerado reflexo, embora sofra grande
restrição por parte da cultura, de modo que, na espécie humana, na realidade, muitos
condicionamentos reflexos estão subordinados a condições linguísticas que os tornam,
na realidade, mais operantes do que reflexos.
No caso humano, há o fato de que a cultura condiciona o sujeito de tal modo
que, à ideia de alimento, associa-se seletivamente certas formas e conteúdos que são
assimilados como comida, enquanto outros podem mesmo se tornar repulsivos,
conforme a cultura vigente, assimilada e apreendida no convívio social.
Eis, pois, que condicionamento operante é o nome que se dá às reações que
estão associadas àquelas que, se fossem despidas de qualquer condicionante habitual
e/ou cultural, seriam, simplesmente, reflexos comportamentais, praticamente
instintuais.
Assim, no tigre, a fome faz salivar e ele procura algo que lhe satisfaça o
instinto basicamente carnívoro, dificilmente aceitando alimentar-se com trigo, cereais
ou mesmo alguma tenra fruta pendente de um galho de árvore.
No elefante, porém, a carne não atrai. A espécie paquidérmica está vivamente
voltada a consumir vegetais para satisfazer sua fome.
O ser humano, considerado omnívoro, poderia, em tese, consumir qualquer
coisa, mas não o faz. Por quê?
O condicionamento opera sobre a espécie humana, fazendo com que sua
fome esteja, usualmente, condicionada. É o que dizem os Titãs em sua música: "Você
tem fome de quê? Você tem sede de quê?"
Em laboratório, é possível fazer com que os ratos experimentem um
condicionamento. Deixados sob privação de água e alimento por 24 horas ou mais, são
colocados em gaiolas em que, se pressionarem uma barra, obtêm gotas de água. A
princípio, cambaleiam cheirando, procurando pela água; depois, encontram uma
gotícula de água, praticamente ao acaso, após pressionarem uma barra.
Depois de um tempo relativamente pequeno, descobrem que, ao pressionar a
barra, obtêm mais água, e passam a pressioná-la quase freneticamente.
Caso retirados daquela gaiola, dado tempo suficiente para que, teoricamente,
comprovem que "esqueceram" que, ao pressionar a barra, obtêm água, mostram o
contrário – ao serem novamente colocados na gaiola, vão direto à barra para obter
água.
Se, porém, deixados sem água na medida em que usam a barra, tendem a,
aparentemente, "esquecer" o comportamento de pressionar a barra, isto é, a
associação de que a pressão na barra equivale à obtenção de água deixa de existir –
coisa que, antes, foi adquirida por repetição e reforço do resultado.
Tal espécie de condicionamento – criando relevância em determinados atos e
irrelevância em outros, que por via de associação tornam-se associados – chama-se
operante.
Assim se tratam muitas questões na humanidade. E assim se analisa o valor
de determinados fatores, denominados, eventualmente, motivantes para que o
comportamento seja desenvolvido, apreendido e adquirido – por vezes, incorporando-
se ao que se costuma chamar personalidade.
Deixar de fumar, por exemplo, pode ser um comportamento aprendido – e
reforçado mediante a dependência biológica – que pode se tornar repulsivo para o
sujeito, a ponto deste deixar de praticá-lo, simplesmente pela lembrança associada
entre o fumo e a coisa repulsiva. O prazer de fumar, que antes estava presente, é
substituído por uma sensação de asco a cada vez que o ex-fumante (nessas condições)
pensa no ato de fumar. Que fique claro, porém, que nem sempre é assim que se deixa
de fumar; mas é possível condicionar o comportamento para uma série de situações,
e, se o leitor começar a prestar atenção em tudo que vê na televisão (atenção
conscientemente voltada para a percepção das situações em que cria o hábito de
achar que isto é bom ou aquilo é ruim, por influência da mídia televisiva), verá que há
verdadeiramente muita psicologia comportamental no modo como as pessoas
desenvolvem seus comportamentos; e eles se tornam "reflexos" fabricados.

Sugestões para leitura

ADORNO, THEODOR W. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise. Ed. UNESP, 2015.
ARONSON, ELLIOT; WILSON, TIMOTHY D.; AKERT, ROBIN M. Psicologia Social. Ed. LTC.
LANE, SILVIA T. MAURER; CODO, WANDERLEY. Psicologia Social - o Homem em
Movimento. Ed. Brasiliense, 2006.
MOSCOVICI, SERGE. Representações Sociais. Ed. Vozes, 2010.
REY, FERNANDO GONZALEZ. O Social na Psicologia e a Psicologia Social. Ed. Vozes,
2004.
RODRIGUES, AROLDO; JABLONSKI, BERNARDO; ASSMAR, EVELINE M. L. Psicologia
Social. Ed. Vozes, 2005.
PSICOLOGIA SOCIAL
UNIDADE DE ESTUDO 03
CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA ROMÂNTICA
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood

As contribuições da filosofia romântica

Platão, em sua obra, fala a respeito da psique humana contendo uma carruagem
com dois cavalos, que eventualmente se dirigem para diferentes direções, e que cabe ao ser
humano, mediante o autoconhecimento, encontrar a direção que melhor lhe aprouver,
sendo que a direção errada há de conduzi-lo ao que não lhe fará bem.
Essa percepção é a base para uma filosofia do inconsciente. Isto significa que surge
a ideia de que o ser humano não tem em sua consciência o centro de sua personalidade,
embora assim o queira; que há uma parte de seu ser que lhe é desconhecida. Daí surgirão
perspectivas que, embora colaborem entre si, encontram eventuais conflitos e conduzem,
eventualmente, a posturas diferentes; embora possam produzir os mesmos resultados, nem
sempre o fazem, mesmo que se valham de métodos empíricos; e, mesmo assim, podem tirar
proveito umas das outras, mesmo conservando suas próprias identidades, desde que se
saiba o que fazer com as ideias e descobertas que contêm.

Psicanálise

Por volta da virada que ocorreu do Século XIX para o Século XX, o projeto da
contemporaneidade científica dos dias atuais já se configurava. As universidades tomavam
seu lugar de importância na produção industrial, expandindo os conhecimentos científicos e
tornando-se em lugar de construção da ciência. Não que assim não fosse em épocas
anteriores; mas a divisão das ciências começa a tomar corpo nessa época histórica que se
situa entre os séculos XIX e XX.
A Psicologia começa a encontrar, com Wundt, seu lugar no rol das ciências, e a
Medicina, antiga como a Grécia, estabelece-se cada vez mais como centro para onde o
conhecimento biológico se volta em tempos de aplicação voltada à cura das doenças
humanas.
Sigmund Freud, jovem neurologista, interessa-se por Charcot e pelas doenças
mentais por este tratadas na Salpetrière. É ali, inicialmente, que a Histeria, doença antes
atribuída somente às mulheres, exerce especial interesse para Freud, que, percebendo o uso
de Charcot da hipnose para o tratamento das doenças mentais, ensaia uma aplicação deste
método entre seus doentes, ao voltar para Viena, lugar de sua prática.
Em 1900, Freud publica importante estudo, A Interpretação dos Sonhos, em que a
base para a interpretação, segundo este autor, consiste nos desejos reprimidos durante o
dia; isto é, aquilo que queremos e não podemos obter é a semente para os sonhos noturnos.
Em sua obra, Freud funda a Psicanálise, que se constitui em uma ciência de
comportamento cuja base é a sexualidade, e sua expressão simbólica. Durante o
desenvolvimento, segundo Freud, a energia da vida, por ele chamada de libido ou energia de
base sexual, é considerada como principal veículo de subsistência humana e
desenvolvimento psíquico. Para Freud, toda a civilização tem por base a repressão da libido,
e tal se dá, também, no desenvolvimento psicológico do infante, que, ao passar por três
fases iniciais – oral, anal, fálica, em que concentra sua atenção nos objetos que servem de
inspiração para a denominação de tais fases, a criança delineia a base principal para sua
personalidade futura, que, posteriormente, se firmará, mas se guiará sempre, em grande
parte inconscientemente, sobre um simbolismo pessoal erguido sobre a vida passada
naquelas três primeiras fases.
Assim, na fase oral, a criança tem seu impulsos psíquicos centrados nos prazeres na
região da boca; na fase anal, desloca-se sua atenção para o ânus e sua produção, tendo o
caráter, nesta parte, ligado às fezes e sua retenção; e, na fase fálica, a atenção volta-se para
o prazer centrado no desenvolvimento inicial dos órgãos sexuais, fase esta que é encerrada
(ou tem seu encerramento traçado) de maneiras diferentes no homem e na mulher, mas
que dá origem a uma fase aparentemente sem interesse sexual, conhecida como fase de
latência – na qual, segundo os padrões atuais, a duração é bastante abreviada, em relação às
décadas do fim do século XIX e início do século XX, quando a repressão sexual era muito
maior.
Para Freud, a etiologia das doenças psíquicas estará ligada indelevelmente, e de
maneira principal, a estas três fases psíquicas; à fase oral ligam-se as psicoses, doenças mais
dissociativas da personalidade do que aquelas provenientes da segunda e terceira fases,
tidas como neuroses (no início, todas eram vistas por Freud como psiconeuroses, mas o
desenvolvimento da psicanálise fez que ocorresse espécie de divisão entre psicose e
neurose).

Id, Ego e Superego


Para Freud, a personalidade humana consiste, psiquicamente, em três instâncias
permanentemente interligadas: o ID, parte primitiva da personalidade, que consiste em uma
espécie de corpo de desejos; o EGO, parte mais avançada da personalidade, que surge mais
tarde, quando a criança passa a conviver com a necessidade de evitar certos prazeres
imediatos a fim de, mais tarde, obter a realização de desejos mais duradouros e com maior
possibilidade de duração, sendo, ademais, mais elaborados mentalmente; e a terceira
instância, o SUPEREGO, consistente numa espécie de personalidade censora, que engloba
uma série de proibições, um código ou lei internos da personalidade individual, que impede
EGO e ID de realizarem uma série de impulsos que parecem eventualmente convenientes a
estas duas instâncias.
ID (em latim, significando ISSO) é uma instância primordial que exige a satisfação
dos prazeres imediatos, coisa típica de crianças, que esperneiam para obter imediatamente
o que querem. O EGO (significando EU) é essa instância psíquica mediadora que surge por
volta dos três anos de idade (pouco mais em uns, pouco menos em outros), e que
contemporiza as coisas, dando um sentido de unidade e identidade ao ser, e fazendo-o
esperar a satisfação de um desejo em troca de uma provisória repressão da satisfação
imediata que antes planejava obter. O SUPEREGO (significando "SOBRE o EU", "SUPERIOR
AO EU", "MAIOR DO QUE EU") representa especificamente uma espécie de entidade interior
à personalidade, que para Freud descende das manifestações de caráter materno e paterno
e diz ao EU e ao ID o que NÃO PODE ser feito. É a codificação de mandamentos, imperativa,
que exerce controle sobre a personalidade e autoriza ou desautoriza definitivamente o
cometimento de uma série de ações ao longo da vida.
Da conjugação destas três instâncias aparecerão, durante a vida humana, a
eventual maturidade da personalidade, bem como as neuroses e psicoses possíveis, quando
dos eventuais choques entre o reprimido, o permitido e o proibido, durante a vida pessoal e
os choques do indivíduo com a sociedade.
É uma psicologia do amor, como muitos psicanalistas dizem; ela fala do amor em
suas várias concepções e fases, e considera a civilização como conjugação última dos
choques entre o permitido e o proibido no ser em busca da realização amorosa em seus
diversos níveis, desde a relação entre mãe e pai, e desses com filhos e filhas, até a
concretização do amor matrimonial, passando pela formação da imagem sexual de si
mesmo.

O Mal-Estar da Civilização
Para Freud, neste texto de sua origem, o surgimento da civilização se dá com base
na conjugação do princípio do prazer (devido ao ID) e do princípio da realidade (devido ao
EGO e em parte ao SUPEREGO, que também tem uma tarefa secundária de mostrar ao EGO
coisas que não podem ser atingidas). A impossibilidade de realizar certos desejos e impulsos
humanos faz com que, eventualmente, o ser humano se dedique a outras atividades, de
natureza social; esta perspectiva permite o desenvolvimento da civilização dos dias atuais.
Segundo esta perspectiva, levando o sexo às últimas consequências – isto é, se o sexo fosse
permitido aberta e livremente – os seres humanos não teriam civilização nem linguagem.
Posteriormente, a psicanálise (e, como seus propagadores os psicanalistas, com
suas variadas posições a respeito) parece contornar esta questão parcialmente, ao falar da
linguagem, que é necessária tanto para a civilização quanto para o sexo (este último,
também como reprodutor da espécie humana e, talvez, da própria semente da civilização, já
que, para uma sociedade, precisa-se de pelo menos dois); porém, os equívocos presentes na
linguagem poderiam lançar o ser humano na civilização ou em sua ausência, o que se
constitui em outra fonte de reflexões, da qual não é só a psicanálise que se ocupa.
Este jogo do desejo sexual e sua repressão permeia um sem-número de
circunstâncias nos dias atuais. É tão vasto e tão conhecido este campo, na atualidade, que
podemos facilmente dispensar os inúmeros exemplos a respeito, deixando para o leitor as
reflexões e a curiosidade de leitura dos textos que apontaremos ao final.

Carl Gustav Jung e a Psicologia Complexa


Logo depois do início da revolução que Freud, inspirado em parte na Filosofia do
Inconsciente e no Romantismo Germânico (de grande influência literária e comportamental
em toda a Europa dos Séculos XVIII e XIX), imprimiu com sua interpretação da psicologia
humana a partir da repressão dos impulsos sexuais, alguns aderiram e outros se opuseram, a
princípio violentamente.
Dentre os que, a princípio, aderiram às formas de tratamento e às hipóteses de
Freud, um jovem médico, estudioso de psiquiatria na Suíça, em Zurique, foi incumbido de ler
a Interpretação de Sonhos. Ele mesmo, em suas memórias, declara que, de início, não
entendeu muito do que continha aquele livro, mas identificou certa importância nele.
Pouco tempo depois, aderindo às ideias de Freud como elementos necessários para
suas próprias hipóteses de estudo, Carl Gustav Jung elaborou uma concepção própria do
equilíbrio energético do psiquismo humano, criando a Teoria dos Complexos Afetivos
Autônomos – centros de energia psíquica capazes de se manifestar com características
próprias, desde que dotados de energia suficiente para tanto.
Aí cabia perfeitamente a hipótese de instâncias inconscientes da personalidade, e
Jung procurou colaborar com os estudos de Freud, iniciando uma correspondência com este;
e então, trabalhando ambos, juntos, com conceitos e experiências que duraram um
relativamente curto, porém, profícuo período, ambos tiveram diferentes oportunidades:
Freud, de ver suas teorias defendidas mundo afora por um que foi árduo defensor da
psicanálise durante alguns anos; e Jung, que tinha a oportunidade de ver florescer suas
próprias concepções e, talvez, fazê-las crescer e se solidificar no mesmo meio onde Freud
antes vira sua Psicanálise fundar-se.
Mas tal não se deu. Freud, alguns anos depois, discordou de Jung e suas ideias, e
acabaram por se separar, a partir de 1911, tendo 1914 como, na prática, a época em que os
dois definitivamente deixaram de se relacionar.
A gota que transbordou o balde de águas turvas fez nascer aquilo que muitos
chamaram de Psicologia Analítica, nome que vingou às expensas do próprio Jung, que
preferia ver seu construto teórico e prático sobre a Psicologia chamado de Psicologia
Complexa. A obra publicada entre aos anos de 1911 e 1914, que ocasionou a reação
negativa de Freud contra Jung, era "Metamorfoses e Símbolos da Libido", em que a
concepção de energia psíquica de Jung começa a aparecer como uma dinâmica de energias
de finalidade não-exclusivamente sexual. Nessa obra, Jung fala de elementos primordiais da
psique que têm natureza impessoal – isto é, pertencem à história biológica de toda a espécie
humana e não simplesmente à história social ou individual – e cujas imagens servem de base
para a fundação da personalidade individual e para a construção de grupos e civilizações
inteiras: subjacente ao inconsciente pessoal, constituído de repressões, de base freudiana,
encontra-se uma parcela que contém presente a herança coletiva, inspirada na biologia e na
história natural da espécie humana, que é o Inconsciente Coletivo.
Neste inconsciente coletivo está a base para todos os complexos: a ideia de
arquétipo, ou núcleo primordial da experiência do complexo. Assim, quando hoje se fala de
complexo de pai, complexo de mãe, complexo de velho, complexo de peter pan, e assim por
diante, está se falando, de certo modo, daquilo que se origina da perspectiva junguiana
sobre o desenvolvimento psíquico.
Para Jung, a interpretação dos sonhos é mais do que simplesmente a percepção de
desejos reprimidos; é, muito além, uma espécie de diálogo, uma narrativa que a psique
oferece ao indivíduo acerca de sua vida, a partir do qual este pode obter valiosas
informações sobre a forma como é visto a partir de seu próprio interior; daí, pode se
desenvolver com um conhecimento de si mesmo que não fala apenas de seu passado, mas,
também, dá pistas sobre aquilo em que ele pode se tornar, a partir daquilo que é.
As ideias de Jung, embora não aceitas por Freud, não lhe são totalmente contrárias,
e valem-se em muitos pontos destas últimas; porém, na medida em que, para Freud, o
instinto sexual exerce influência primordial na vida e na psique, para Jung esta é somente
uma entre várias opções de eleição de uma primazia instintual que não precisa ser
exclusivamente sexual, de tal modo que, para Jung, não é apenas o reflexo dos desejos
sexuais que forma a psique mas, muitas outras formas de reflexão da experiência psíquica.
Com base nisso, muitas pessoas dizem que a psicologia de Carl Gustav Jung é uma
psicologia da criatividade, isto é, das múltiplas expressões possíveis da personalidade, que,
na verdade, são tidas como infinitas.
Jung percebe na psique humana uma psique objetiva, isto é, uma compleição
psíquica que tem metas exteriores, que "quer" realizar-se, que tem uma teleologia, isto é,
possui finalidade a ser atingida – finalidade esta que, de modo geral, atende à máxima
socrática do "conhece a ti mesmo". O "know thiself" (inglês para o conhece a ti mesmo),
também conhecido em grego como γνῶθι σεαυτόν (gnothi seauton) e em latim como
"temet nosce" é a máxima muito difundida por Sócrates, ao longo de sua obra, exposta pelo
grande filósofo Platão, como solução para todas as mazelas humanas.
Eis, assim, que podemos ver a Psicologia de Jung com uma diferença principal em
relação à Psicanálise de Freud. Enquanto em Freud a psicanálise preconiza uma psique que,
deixada a si mesma, doente será, Jung percebe em sua obra que, apesar de tudo, e mesmo
sob a ameaça de adoecer, há uma finalidade básica para a psique, isto é, o conhecimento de
si mesmo e o de toda a espécie humana.
Há outra coisa que Jung mostra ao longo de sua obra: que cada autor tem sua obra
segundo aquilo que é. Isso é também visível no dito de Nietzsche, que ensina que, "ao olhar
o abismo, o abismo olha de volta para nós", isto é, aquilo que vemos, uma infinidade de
vezes, é simplesmente aquilo que somos.
Isso não significa, no entanto, que não é possível ver e viver com o outro.
A Gestalt e a Teoria de Campo
O termo Gestalt, em alemão, significa configuração. É uma perspectiva psicológica
que envolve várias teorias que se baseiam na ideia de que o modo como o ser percebe o
espaço em se encontra diz respeito ao modo como se comportará.
De acordo com a teoria gestáltica, não se pode ter conhecimento do "todo"
por meio de suas partes, pois o todo é maior que a soma de suas partes: "(...)
"A+B" não é simplesmente "(A+B)", mas sim, um terceiro elemento "C", que
possui características próprias". Segundo o critério da transponibilidade,
independentemente dos elementos que compõem determinado objeto, a
forma é que sobressai: as letras r, o, s, a não constituem apenas uma palavra
em nossas mentes: "(...) evocam a imagem da flor, seu cheiro e simbolismo -
propriedades não exatamente relacionadas às letras."1

Dela participa a Teoria de Campo, de Kurt Lewin,2 que é considerada uma teoria da
motivação. A base dessa teoria diz que a percepção que o ser humano tem de sua realidade
é aquilo a que ele pode ter acesso, isto é, as pessoas não têm percepção da realidade, mas
de parte dela, e é segundo isso que elas se guiam em seu comportamento.
Há, para Lewin, quatro tipos de comportamento, e certos conflitos de forças
exercidas sobre o indivíduo, guiando suas atitudes: o comportamento consumatório é
aquele que leva diretamente à consecução do objetivo imediato da pessoa; o
comportamento instrumental é aquele que permite aproximar-se de outro tipo de
comportamento; o comportamento de fuga é aquele que enseja o afastamento de
determinada situação em que o sujeito se encontra; e o comportamento de evitação é
aquele em que o sujeito evita a situação indesejada.
Assim, uma pessoa pode pretender o ônibus para ir à praia, onde deseja ficar por
um período de tempo; pode, porém, evitar ir para certo ponto de ônibus, onde há perigo de
ser assaltado, e pode pretender ir para outro ponto de ônibus e, lá chegando, descobre que
o ponto em que se encontra está alagado ou prestes a isso, decidindo fugir dessa situação.
Aí estão presentes os quatro tipos de comportamento (o consumatório está implícito no
objetivo, isto é, a praia; o de evitação e o de fuga são óbvios, e o instrumental está na busca
de um ônibus para levar a pessoa a seu objetivo).
Já os conflitos possíveis dizem respeito ao choque entre o que é atrativo e ao que é
aversivo para a pessoa, causando os comportamentos possíveis e o modo como estes
podem se encadear, segundo a escala de valores que fará com que a pessoa eleja os
comportamentos dependendo da influência negativa ou positiva que estes comportamentos
exercem em sua configuração de percepções relativa ao mundo em que se encontra.
Com base nos estudos que dizem respeito à valência positiva e/ou negativa dos
comportamentos, pode-se tentar previsões, tendo em mente o modo como se configura a

1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gestalt, acesso em 26/10/2015.
2
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_de_campo_de_Lewin, acesso em 26/10/2015.
escala de valores de determinadas pessoas. Tais previsões dirão da probabilidade de sucesso
e/ou fracasso em obter determinados comportamentos das pessoas.

Vegetoterapia Caractero-Analítica
Outro psicanalista que se afastou do núcleo psicanalítico em função da
diferenciação de suas concepções em relação à psicanálise vem ao tema e é pertinente que,
pelo menos, seja citado, por sua importância para a concepção da Psicoterapia Corporal, isto
é, a parte da aplicação tecnológica da interpretação corporal da Psicologia que visa ao
tratamento de inúmeros distúrbios da personalidade.
O Autor da Vegetoterapia, Wilhelm Reich, escreveu importantes textos acerca da
personalidade e da manipulação política das massas – isto é, dos agrupamentos de
indivíduos sem suficiente percepção de si mesmos nas comunidades em que vivem – e se
destacou por sua concepção da orgone.
A orgone se concebe como uma energia universal que permeia todas as coisas e
que, dependendo do modo como se dispõe em conjugação com a personalidade individual,
revela no corpo de cada um a sua própria história e grande parte da disposição, consciente
ou não, de seus pensamentos.
Assim, surge a noção de couraça, uma espécie de capa que o indivíduo põe sobre si
mesmo para enfrentar o dia-a-dia, e que se torna um tanto mais endurecida quanto mais
rígida é a personalidade em relação a suas defesas contra a exposição de suas fraquezas ao
mundo exterior.
Assim, na pessoa cronicamente arcada há a história presumida de muito peso
psíquico a carregar – há pessoas que carregam quilos e quilos por muitos anos e, mesmo
assim, não andam arcadas.
Na pessoa com peito protuberante há uma atitude contínua de enfrentamento de
uma série de situações. Pode ser que essa pessoa tenha ânimo beligerante, já que as
pessoas que enfrentam naturalmente as coisas nem sempre se apresentam com a intenção
de "peitar" a tudo e a todos. Até mesmo a expressão "peitar", "meter os peitos", implica, no
conhecimento popular, a intenção de defender-se por meio do ataque, de maneira pró-
ativa.
No modo como a pessoa senta, anda, em seu desenvolvimento corporal, no olhar,
na maneira de gesticular, há indícios do que cada um é; isso assim se dá porque, durante seu
próprio desenvolvimento, cada um se defende como pode, e enfrenta o mundo usando seu
corpo como expressão de seus medos, suas angústias, seus desejos, suas insatisfações. E,
assim, as pessoas se dão a conhecer: pela disposição de seu corpo.

Nas organizações
As Psicologias, contribuindo para a Psicologia Social, permitem a esta executar
estudos em vários níveis da sociedade.
Restringindo seu campo de aplicação, a Psicologia Social pode focalizar a vida
dentro das organizações, e aplicar-se na solução de seus problemas.
A seguir, citamos aplicações comuns da psicologia na organização, tendo em mente
a análise dos processos organizacionais:
 Análise para a solução de um problema organizacional, incluindo
tarefas a executar
 Realização de pesquisas sobre sentimentos e opiniões dos funcionários
(clima e cultura organizacional)
 Avaliação de desempenho dos funcionários
 Recrutamento, seleção e treinamento de pessoal
 Desenvolvimento e aplicação de testes psicológicos
 Implementação de mudanças organizacionais

Sugestões para leitura

ADORNO, THEODOR W. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise. Ed. UNESP, 2015.
ARONSON, ELLIOT; WILSON, TIMOTHY D.; AKERT, ROBIN M. Psicologia Social. Ed. LTC.
FREUD, SIGMUND. Obras Completas. 24 Vols. Ed. Imago.
JUNG, CARL GUSTAV. Obras Completas. 18 Vols. Ed. Vozes.
LANE, SILVIA T. MAURER; CODO, WANDERLEY. Psicologia Social - o Homem em Movimento.
Ed. Brasiliense, 2006.
MOSCOVICI, SERGE. Representações Sociais. Ed. Vozes, 2010.
PLATÃO. A República. Fundação Calouste-Gulbenkian. Lisboa.
PLATÃO. Fedro. In Dialogues, Vol. I. Internet:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/0131-1_eBk.pdf, acesso em
29/10/2015.
REICH, WILHELM. A Psicologia das Massas do Fascismo. Martins Editora.
REICH, ______. Análise do Caráter. Martins Editora.
REICH, ______. Escuta, Zé Ninguém!. Martins Editora.
REICH, ______. A Função do Orgasmo. Martins Editora.
REY, FERNANDO GONZALEZ. O Social na Psicologia e a Psicologia Social. Ed. Vozes, 2004.
RODRIGUES, AROLDO; JABLONSKI, BERNARDO; ASSMAR, EVELINE M. L. Psicologia Social. Ed.
Vozes, 2005.
SCHULTZ, DUANE P.; SCHULTZ, SYDNEY E. Teorias da Personalidade. CENGAGE.

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