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Aula 01
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood
APRESENTAÇÃO
• O que faz com que você acredite naquilo que vou
lhe dizer a seguir?
• (a) o curso que você está cursando?
• (b) minha aparência?
• (c) minha eloquência?
• (d) meu currículo?
• (e) tudo / uma parte disso / nada disso?
INTRODUÇÃO
• O que faz com que uma
pessoa, diante de uma
encruzilhada onde há dois
caminhos disponíveis a
escolher, tome qualquer um
deles e o siga? A escolha,
por exemplo, entre direita e
esquerda, possui
condição(ões) que a
determina(m)?
INTRODUÇÃO
perdido
NOÇÃO
• Entre outras ciências, a Psicologia Social estuda o
comportamento do indivíduo em sociedade,
partindo do princípio de que um ou mais
indivíduo(s) ou grupo(s) influencia(m) outro(s)
indivíduo(s) ou grupo(s) a tomar(em) atitude(s).
• Há a variável independente e a variável dependente
(influenciada pela primeira)
INFLUÊNCIA SOCIAL
• Suscetibilidade ao comportamento alheio
• Atitude e/ou simples presença do outro
• Estudos: o exemplo das linhas (Asch, 1951), o
exemplo dos choques (Milgram, 1965), o papel
diante das crises (Latané e Darley, 1970)
• Conclusão: a presença do outro influencia o
comportamento individual.
INFLUÊNCIA SOCIAL
• Mas essa influência ocorre sempre no mesmo
sentido?
• Água fria, dois apostadores e três turistas
(americano, francês e brasileiro)
INFLUÊNCIA SOCIAL
• Configurações
• Orgone
• Noção de couraça
NAS ORGANIZAÇÕES
• A psicologia social, restringindo seu campo de
aplicação, pode focalizar a vida dentro das
organizações, e aplicar-se na solução de seu
problemas.
• A seguir, apresentamos aplicações comuns da
psicologia na organização:
PROCESSOS
ORGANIZACIONAIS
• Análise para a solução de um problema organizacional,
incluindo tarefas a executar
• Realizar pesquisas sobre sentimentos e opiniões dos
funcionários (clima e cultura organizacional)
• Avaliação de desempenho dos funcionários
• Recrutamento, seleção e treinamento de pessoal
• Desenvolvimento e aplicação de testes psicológicos
• Implementação de mudanças organizacionais
PSICOLOGIA SOCIAL
Introdução
O que faz com que alguém acredite naquilo que lerá a seguir?
Quando se leem as conquistas obtidas por uma pessoa, costuma-se dar crédito a
elas, em função da posição atingida em sociedade. O valor que a sociedade dá àquele que
conquista – sejam bens, imóveis ou não, sendo o conhecimento um bem imaterial,
eventualmente passível de avaliação patrimonial – faz com que o conquistador seja
conhecido e reconhecido socialmente. De tal modo, exerce influência sobre os outros,
muitas vezes merecendo crédito por suas aquisições.
Aquilo em que se deposita crédito é o que sobre o sujeito exerce influência, isto é,
flui para dentro do sujeito uma espécie de energia que o predispõe a crer. Provisoriamente,
chamaremos a isso influência social.
Uma anedota que fornece uma boa introdução para o assunto é aquela em que dois
apostadores, diante de uma água muito fria, prometem pagar um ao outro uma quantia
para aquele que conseguir persuadir um americano, um francês e um brasileiro a se jogarem
na água.
Depois de perder a aposta, aquele que conseguiu convencer os três a se jogar na
água responde ao atônito interlocutor da aposta o motivo que usou para ganhar a aposta:
- Ao americano, eu disse que era lei que as pessoas naquele ponto deviam se jogar
na água; ao francês, simplesmente disse que era a última moda em Paris; para o brasileiro,
declarei que era terminantemente proibido jogar-se na água.
O apostador, aqui, valeu-se da cultura típica dos países de origem dos três
"nadadores", para influenciá-los a se jogarem na água. Para um, é obrigatório; para o
segundo, é moda; para o terceiro, é proibido.
A piada não traz consigo nenhuma intenção de provocar qualquer reação a não ser
o riso. Se fizer rir, ou trouxer qualquer reação adversa, é porque choca o conteúdo do que se
lê com aquilo que o leitor traz consigo. Em princípio, é simplesmente um conto, e os contos
têm essa possibilidade. Não se pretende ofender, e basta que o leitor saiba disso para que
tenha a oportunidade de ler com os olhos que se procura que seja lido o texto, pois são
olhos de ciência.
Situações e comportamentos, e os atos e acontecimentos que os influenciam, são
objetos de estudo da Psicologia Social, bem como da Sociologia e da Antropologia.
Em um ramo da ciência, estuda-se a interação entre os seres humanos; em outro
estudo, procura-se tratar da estruturação social como um todo, vista a partir de instituições;
no terceiro, trata-se do comportamento humano segundo a cultura vigente. Os três ramos
das Ciências Humanas trombam entre si e, na realidade, são inseparáveis; didaticamente,
entretanto, ensaiam-se separações entre as disciplinas, sem que possam, em definitivo,
libertar-se da interdependência.
A vida, como se sabe, é cheia de encruzilhadas. É preciso, a cada passo, escolher.
Escolhe-se entre dois ou mais caminhos possíveis. Entre o bem e o mal, o certo e o errado,
entre o menos certo e o mais certo, entre o menor e o maior benefício, entre o menor e o
maior malefício. Escolhe-se entre objetivos.
Escolhe-se, muitas vezes, entre um imenso leque de possibilidades. Por exemplo,
entre muitos candidatos a uma vaga na universidade, é preciso escolher um, e há critérios
para se fazer essa escolha. Tais critérios, por mais racionais que pareçam a determinada
cultura, instituição ou mesmo indivíduo, podem parecer absurdos, arbitrários e mal-
intencionados para outras culturas, instituições e/ou indivíduos. No entanto, os critérios são
fincados em questões que originalmente, têm uma perspectiva baseada em valores, aceitos
socialmente, institucionalmente, culturalmente e, muitas vezes, psicologicamente.
Psicologia Social
A Psicologia Social faz parte da ciência de modo geral, e, como tal, sofre influência
de outras áreas – delas dependendo, e para elas contribuindo.
Pode-se destacar, a título de ilustração:
Sociologia: o estudo das instituições e do modo como a sociedade se organiza, em
especial a sociedade tipicamente "ocidental" (e não se tome este termo como o Ocidente do
mundo, já que, sendo redondo, está em toda parte; mas a cultura conhecida como
Ocidental, esta cultura de conquistas históricas que se tornou famosa desde a época dos
romanos e cuja filosofia se baseia tradicionalmente na herança, considerada sui generis, da
Filosofia Grega).
Antropologia Cultural: essa parte do estudo das agremiações humanas que se
ocupa basicamente do modo de comportamento das culturas características de nações e/ou
aglomerações sociais que se destacam de outras por um conjunto de crenças e/ou
comportamentos que se constituem, mais ou menos, em formas de identificação de uma
sociedade específica. Por exemplo, o estudo dos nativos da Ilha de Páscoa; o estudo da
nação alemã; o estudo da cultura oriental; o estudo dos costumes muçulmanos; e assim por
diante. Note-se que aí se delineiam culturas, isto é, formas mais ou menos identificáveis que,
pela noção geral, são consideradas diferentes da própria cultura ocidental, e fazem o típico
"ocidental" identificar-se como diferente das outras culturas.
Filosofia Social: a Filosofia, como se sabe, possui método próprio no qual se
embebem as outras ciências. Porém, é típico da filosofia não estar presa à ciência em si;
enquanto dela, inegavelmente, a ciência se origina, também é verdade que nem sempre a
ciência comprova a filosofia, isto é, a filosofia não tem obrigação de ater-se aos métodos
mais rígidos da ciência para a comprovação do conhecimento. Daí que a Filosofia Social,
enquanto fornece elementos para a Psicologia Social, nem sempre comprova o saber
adquirido por esta última, ao passo em que esta pode caminhar mais lenta, porém, por
vezes, mais seguramente, do que aquela grande amiga do saber da qual todas as ciências
dependem em grande parte para se desenvolverem.
Outras Psicologias: por óbvio que a psicologia deve ser capaz de se alimentar de
seus próprios ramos. A Psicologia é uma árvore de muitas raízes e muitos ramos e, se não
forem todos diretamente capazes de se comunicar, ligam-se por caminhos reflexos, e
acabam por se comunicar e contribuir mutuamente para seus desenvolvimentos. Falar-se-á
a respeito nos tópicos seguintes.
Física: apenas para citar um exemplo que não parece ter relação alguma com a
Psicologia, é pura verdade que uma influencia a outra. Em Física Quântica é muito conhecida
a afirmação de que o observador altera o evento observado, e para isso há comprovação
experimental. Pode-se, pois, pensar com segurança que, sempre que alguém observa um
evento, esse evento também é, pelo observador, alterado. A presença de um fotógrafo em
uma sala de aula, armado com sua câmera e tirando fotos a todo instante, é suficientemente
perturbadora para fazer com que os alunos pensem seriamente em fazer poses a cada vez
que escutam o barulho do obturador da câmera abrindo e fechando para a obtenção da
imagem congelada que consiste na foto em si. É bem possível que os alunos fiquem mais
quietos ou, na outra ponta das reações possíveis, muito mais agitados, numa sala de aula em
que se fotografa o comportamento. Este é apenas um evento no qual a Física e a Psicologia
se entrelaçam, e ambos os saberes se encorajam, de modo a serem admitidos como
"verdades científicas".
Uma ilustração em vídeo
https://www.facebook.com/radiorockoficial/videos/490826454375792/
ADORNO, THEODOR W. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise. Ed. UNESP, 2015.
ARONSON, ELLIOT; WILSON, TIMOTHY D.; AKERT, ROBIN M. Psicologia Social. Ed. LTC.
LANE, SILVIA T. MAURER; CODO, WANDERLEY. Psicologia Social - o Homem em Movimento.
Ed. Brasiliense, 2006.
MOSCOVICI, SERGE. Representações Sociais. Ed. Vozes, 2010.
REY, FERNANDO GONZALEZ. O Social na Psicologia e a Psicologia Social. Ed. Vozes, 2004.
RODRIGUES, AROLDO; JABLONSKI, BERNARDO; ASSMAR, EVELINE M. L. Psicologia Social. Ed.
Vozes, 2005.
PSICOLOGIA SOCIAL
UNIDADE DE ESTUDO 02
TEMAS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA SOCIAL
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood
Grupos de Referência
É com base na mudança de referência que Aroldo Rodrigues (2005) informa
que “mudança nas opiniões ancoradas no grupo podem ser facilitadas através da
informação de que outros membros do grupo mudaram de opinião”.
Veja-se a seguinte situação: um professor de uma Faculdade de Física diz a
seus alunos que resolveu mudar de determinado método de análise – vinha aplicando,
até então, a suas equações físicas, método diferente para resolvê-las – para encontrar
determinadas soluções, por mostrar-se, tal método, mais adequado para o trabalho.
Por outro lado, alguém que é estudante de outro curso – por exemplo, Estudos Sociais
– aparece numa sala de aula de Engenharia Eletrônica e declara que descobriu melhor
maneira de empregar circuitos eletrônicos para desenvolver soluções em robótica.
Por certo o leitor dirá que a probabilidade de o Professor de Física ser
imediatamente aceito por seus alunos é verdadeiramente muito maior do que a
chance do estudante de Estudos Sociais convencer os estudantes de Engenharia
Eletrônica sobre seus argumentos, por mais corretos que possam eventualmente ser.
Essa é uma questão de referência, isto é, quem pode ser referência e quem
não é aceito como tal. Aqueles que são referência de comportamento influenciam os
grupos entre os quais são importantes, e não têm suficiente influência para mudar o
comportamento daqueles em que não são vistos com suficiente importância.
Assim, Pelé pode falar muito – e ser aceito a respeito – sobre futebol; mas
dificilmente será aceito para falar sobre qualidades desejáveis em habitações lunares.
Por outro lado, sempre é possível imaginar Pelé jogando futebol na Lua; no que tal
imaginação poderia ser pertinente neste exato momento?
Crise de Relevância
A Psicologia, como qualquer outra ciência – e não se discutirá isso aqui – não
está sempre certa. Seu conhecimento é bastante baseado no empirismo, de modo
que, via de regra, é dependente de uma série bastante grande de constantes e
variáveis.
Praticamente todo o conhecimento científico psicológico é restrito, e carece
de explicação circunstanciada, de modo que nem sempre uma premissa pode ser
aplicada.
Carl Gustav Jung, em sua obra, sempre recomenda que o psicólogo, ao tratar
de seu paciente, esteja pronto a abandonar todo o conhecimento de que dispõe até
ali; é preciso pois, construir um conhecimento sobre o indivíduo em si, e assim se dá
com o grupo, sendo necessário construir conhecimento sobre os indivíduos e sobre o
comportamento grupal. Bem assim, vale-se a Psicologia da Sociologia e da
Antropologia: para considerar o indivíduo, é preciso considerar o lugar em que se
insere.
Porém, uma vez consideradas as coisas adequadamente, e com os pesos
cuidadosamente colocados em seus lugares, as predições psicológicas formam uma
espécie de ciência preditiva probabilística, que é de grande valor para o indivíduo e
para a sociedade.
Não obstante, a Psicologia Social tem um lado estritamente científico, que se
preocupa com minúcias que parecem nunca passar do óbvio, e, por outro lado,
parecem conhecimentos de fraca aplicação no dia-a-dia. Este lado da Psicologia Social
científica, com seus métodos de minúcias e necessárias exclusões, eventualmente
desperta – até mesmo nos próprios psicólogos – certo grau de insatisfação.
Mesmo a Física, que se costuma considerar muito mais prática, concreta,
exata, tem seus problemas de aplicação e de experimentação; para isso pode-se olhar
para a Teoria da Relatividade ou para as construções astrofísicas que tratam dos
buracos negros e quasares, distantes milhões de anos-luz da Terra. De que servem tais
conhecimentos?
Todavia, servem. E para muito. É porque o ser humano foi à Lua que inúmeras
aplicações do plástico e da eletrônica foram descobertas; e é porque se estudam
minúcias atômicas na Psicologia Social que existe a Psicologia Social aplicada, que se
vale dos conhecimentos da Psicologia Social (e de outras linhas em Psicologia), assim
como da Antropologia, da Sociologia, da Filosofia, e de outras ciências, conexas, para
construir um arcabouço de tecnologia social que, aplicada, dá certos resultados
relevantes.
A psicologia social básica cria situações controladas em laboratório; a
psicologia social aplicada testa suas hipóteses em situações da vida real.
Ao ser aplicada, a psicologia social preocupa-se também com questões que
afligem os grupos sociais, menores ou maiores. Trata desde questões familiares a
questões de política internacional, envolvendo países; passa pelo estudo de situações
trabalhistas, típicas ou não, auxiliando na solução de questões de administração da
produção, entre outras coisas.
Nos países onde os problemas sociais são mais graves, há o engajamento dos
psicólogos na aplicação de soluções científicas para a resolução de problemas sociais,
de maneira proporcional.
Nos países ricos e onde as questões sociais têm relevância mais sutil, a
aplicação da psicologia social envolve, eventualmente, estudos sobre o consumo e
sobre questões menos básicas do ponto de vista das necessidades sociais dos países
“não tão ricos”.
Apesar de tudo, é fato que, nos países mais pobres, a psicologia social,
eventualmente, não possui instrumental suficiente para construir tecnologia social, ou
não é observada com suficiente interesse pelas pessoas e instituições que decidem
transformar a sociedade. Se isso é bom ou ruim, pode-se dizer, por alto, uma coisa:
deixa-se de utilizar a ciência em prol da humanidade, para trabalhar com técnicas de
"chute" que deixam muito a desejar quando se trata de administrar – com adequadas
políticas – os gastos públicos e particulares.
De qualquer modo, diz Varela (1975) que a tecnologia social “é a atividade
que conduz ao planejamento de soluções de problemas sociais através de
combinações de achados derivados de diferentes áreas das ciências sociais”.
A atividade do tecnólogo social é a intervenção social – muitas vezes vista
como psicologia social, sociologia, antropologia – denominações às quais se acrescenta
o termo “aplicada”.
Logicamente que, em seu caminho de aplicação tecnológica, a Psicologia
Social não trabalha sozinha. Vale-se muito dos conhecimentos adquiridos nas mais de
quatrocentas (!) linhas que existem em Psicologia.
Destacam-se abaixo as linhas de ciência psicológica cuja influência sobre a
Psicologia Social é mais visível no Brasil dos dias atuais:
Behaviorismo (Psicologia Comportamental /
Experimental)
Psicanálise
Gestalt
Psicologia Complexa ou “Analítica” (Jung)
Vegetoterapia caractero-analítica (Wilhelm Reich)
Psicologia Comportamental
A Psicologia, que os historiadores consideram fundada por Wundt em 1875,
seguiu na América e no continente Europeu, a princípio, tomando caminhos e
assumindo influências diferentes, que acabam por determinar as bases teóricas em
que se fundam.
No continente americano, especificamente na América do Norte – com certa
participação da ciência russa, no caso dos conhecimentos de Pavlov – a Psicologia
passou a ser conhecida como o estudo do comportamento (Behaviour, em inglês).
Nos E.U.A., com Watson e, mais tarde, com Skinner, a Psicologia
Comportamental, de base estritamente experimental, laboratorial, mais tarde evolui
para considerar questões sociais; apesar disso, ainda mantém uma vertente
laboratorial de estudo do comportamento. É aí que se estabelecem as ideias de
condicionamento reflexo (também com a contribuição pavloviana) e de
condicionamento operante.
O condicionamento reflexo é mais simples de observar. Pavlov notou que
cães, ao lhes mostrar comida, salivavam. Transpôs esse conhecimento para mostrar
que há um reflexo de salivação que ocorre imediatamente quando, em momentos de
necessidade orgânica (fome), o sujeito vê ou mesmo suscita a lembrança de alimento.
Embora no animal a lembrança da comida típica de que se alimenta desperte-
lhe salivação, essa condição é levemente diferente no humano. Neste, a salivação
maior ou menor depende da espécie de estimulação alimentar a que está acostumado.
Por exemplo, não é todo mundo que salivará ao pensar em comer gafanhotos fritos ou
assados; mas há certos povos que gostam de comer essa espécie de animal, em
espetos, ou como aperitivo. Cérebro de macaco, embora possa parecer quase uma
atitude canibal, é outro manjar apreciado em certas regiões da Ásia.
E a lembrança do cérebro do macaco pode não suscitar salivação em um
brasileiro, mas pode, naqueles povos acostumados a tanto, gerar certo apetite e,
portanto, estar associado à salivação.
Tal espécie de condicionamento é considerado reflexo, embora sofra grande
restrição por parte da cultura, de modo que, na espécie humana, na realidade, muitos
condicionamentos reflexos estão subordinados a condições linguísticas que os tornam,
na realidade, mais operantes do que reflexos.
No caso humano, há o fato de que a cultura condiciona o sujeito de tal modo
que, à ideia de alimento, associa-se seletivamente certas formas e conteúdos que são
assimilados como comida, enquanto outros podem mesmo se tornar repulsivos,
conforme a cultura vigente, assimilada e apreendida no convívio social.
Eis, pois, que condicionamento operante é o nome que se dá às reações que
estão associadas àquelas que, se fossem despidas de qualquer condicionante habitual
e/ou cultural, seriam, simplesmente, reflexos comportamentais, praticamente
instintuais.
Assim, no tigre, a fome faz salivar e ele procura algo que lhe satisfaça o
instinto basicamente carnívoro, dificilmente aceitando alimentar-se com trigo, cereais
ou mesmo alguma tenra fruta pendente de um galho de árvore.
No elefante, porém, a carne não atrai. A espécie paquidérmica está vivamente
voltada a consumir vegetais para satisfazer sua fome.
O ser humano, considerado omnívoro, poderia, em tese, consumir qualquer
coisa, mas não o faz. Por quê?
O condicionamento opera sobre a espécie humana, fazendo com que sua
fome esteja, usualmente, condicionada. É o que dizem os Titãs em sua música: "Você
tem fome de quê? Você tem sede de quê?"
Em laboratório, é possível fazer com que os ratos experimentem um
condicionamento. Deixados sob privação de água e alimento por 24 horas ou mais, são
colocados em gaiolas em que, se pressionarem uma barra, obtêm gotas de água. A
princípio, cambaleiam cheirando, procurando pela água; depois, encontram uma
gotícula de água, praticamente ao acaso, após pressionarem uma barra.
Depois de um tempo relativamente pequeno, descobrem que, ao pressionar a
barra, obtêm mais água, e passam a pressioná-la quase freneticamente.
Caso retirados daquela gaiola, dado tempo suficiente para que, teoricamente,
comprovem que "esqueceram" que, ao pressionar a barra, obtêm água, mostram o
contrário – ao serem novamente colocados na gaiola, vão direto à barra para obter
água.
Se, porém, deixados sem água na medida em que usam a barra, tendem a,
aparentemente, "esquecer" o comportamento de pressionar a barra, isto é, a
associação de que a pressão na barra equivale à obtenção de água deixa de existir –
coisa que, antes, foi adquirida por repetição e reforço do resultado.
Tal espécie de condicionamento – criando relevância em determinados atos e
irrelevância em outros, que por via de associação tornam-se associados – chama-se
operante.
Assim se tratam muitas questões na humanidade. E assim se analisa o valor
de determinados fatores, denominados, eventualmente, motivantes para que o
comportamento seja desenvolvido, apreendido e adquirido – por vezes, incorporando-
se ao que se costuma chamar personalidade.
Deixar de fumar, por exemplo, pode ser um comportamento aprendido – e
reforçado mediante a dependência biológica – que pode se tornar repulsivo para o
sujeito, a ponto deste deixar de praticá-lo, simplesmente pela lembrança associada
entre o fumo e a coisa repulsiva. O prazer de fumar, que antes estava presente, é
substituído por uma sensação de asco a cada vez que o ex-fumante (nessas condições)
pensa no ato de fumar. Que fique claro, porém, que nem sempre é assim que se deixa
de fumar; mas é possível condicionar o comportamento para uma série de situações,
e, se o leitor começar a prestar atenção em tudo que vê na televisão (atenção
conscientemente voltada para a percepção das situações em que cria o hábito de
achar que isto é bom ou aquilo é ruim, por influência da mídia televisiva), verá que há
verdadeiramente muita psicologia comportamental no modo como as pessoas
desenvolvem seus comportamentos; e eles se tornam "reflexos" fabricados.
ADORNO, THEODOR W. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise. Ed. UNESP, 2015.
ARONSON, ELLIOT; WILSON, TIMOTHY D.; AKERT, ROBIN M. Psicologia Social. Ed. LTC.
LANE, SILVIA T. MAURER; CODO, WANDERLEY. Psicologia Social - o Homem em
Movimento. Ed. Brasiliense, 2006.
MOSCOVICI, SERGE. Representações Sociais. Ed. Vozes, 2010.
REY, FERNANDO GONZALEZ. O Social na Psicologia e a Psicologia Social. Ed. Vozes,
2004.
RODRIGUES, AROLDO; JABLONSKI, BERNARDO; ASSMAR, EVELINE M. L. Psicologia
Social. Ed. Vozes, 2005.
PSICOLOGIA SOCIAL
UNIDADE DE ESTUDO 03
CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA ROMÂNTICA
Prof. Daniel Ricardo Augusto Wood
Platão, em sua obra, fala a respeito da psique humana contendo uma carruagem
com dois cavalos, que eventualmente se dirigem para diferentes direções, e que cabe ao ser
humano, mediante o autoconhecimento, encontrar a direção que melhor lhe aprouver,
sendo que a direção errada há de conduzi-lo ao que não lhe fará bem.
Essa percepção é a base para uma filosofia do inconsciente. Isto significa que surge
a ideia de que o ser humano não tem em sua consciência o centro de sua personalidade,
embora assim o queira; que há uma parte de seu ser que lhe é desconhecida. Daí surgirão
perspectivas que, embora colaborem entre si, encontram eventuais conflitos e conduzem,
eventualmente, a posturas diferentes; embora possam produzir os mesmos resultados, nem
sempre o fazem, mesmo que se valham de métodos empíricos; e, mesmo assim, podem tirar
proveito umas das outras, mesmo conservando suas próprias identidades, desde que se
saiba o que fazer com as ideias e descobertas que contêm.
Psicanálise
Por volta da virada que ocorreu do Século XIX para o Século XX, o projeto da
contemporaneidade científica dos dias atuais já se configurava. As universidades tomavam
seu lugar de importância na produção industrial, expandindo os conhecimentos científicos e
tornando-se em lugar de construção da ciência. Não que assim não fosse em épocas
anteriores; mas a divisão das ciências começa a tomar corpo nessa época histórica que se
situa entre os séculos XIX e XX.
A Psicologia começa a encontrar, com Wundt, seu lugar no rol das ciências, e a
Medicina, antiga como a Grécia, estabelece-se cada vez mais como centro para onde o
conhecimento biológico se volta em tempos de aplicação voltada à cura das doenças
humanas.
Sigmund Freud, jovem neurologista, interessa-se por Charcot e pelas doenças
mentais por este tratadas na Salpetrière. É ali, inicialmente, que a Histeria, doença antes
atribuída somente às mulheres, exerce especial interesse para Freud, que, percebendo o uso
de Charcot da hipnose para o tratamento das doenças mentais, ensaia uma aplicação deste
método entre seus doentes, ao voltar para Viena, lugar de sua prática.
Em 1900, Freud publica importante estudo, A Interpretação dos Sonhos, em que a
base para a interpretação, segundo este autor, consiste nos desejos reprimidos durante o
dia; isto é, aquilo que queremos e não podemos obter é a semente para os sonhos noturnos.
Em sua obra, Freud funda a Psicanálise, que se constitui em uma ciência de
comportamento cuja base é a sexualidade, e sua expressão simbólica. Durante o
desenvolvimento, segundo Freud, a energia da vida, por ele chamada de libido ou energia de
base sexual, é considerada como principal veículo de subsistência humana e
desenvolvimento psíquico. Para Freud, toda a civilização tem por base a repressão da libido,
e tal se dá, também, no desenvolvimento psicológico do infante, que, ao passar por três
fases iniciais – oral, anal, fálica, em que concentra sua atenção nos objetos que servem de
inspiração para a denominação de tais fases, a criança delineia a base principal para sua
personalidade futura, que, posteriormente, se firmará, mas se guiará sempre, em grande
parte inconscientemente, sobre um simbolismo pessoal erguido sobre a vida passada
naquelas três primeiras fases.
Assim, na fase oral, a criança tem seu impulsos psíquicos centrados nos prazeres na
região da boca; na fase anal, desloca-se sua atenção para o ânus e sua produção, tendo o
caráter, nesta parte, ligado às fezes e sua retenção; e, na fase fálica, a atenção volta-se para
o prazer centrado no desenvolvimento inicial dos órgãos sexuais, fase esta que é encerrada
(ou tem seu encerramento traçado) de maneiras diferentes no homem e na mulher, mas
que dá origem a uma fase aparentemente sem interesse sexual, conhecida como fase de
latência – na qual, segundo os padrões atuais, a duração é bastante abreviada, em relação às
décadas do fim do século XIX e início do século XX, quando a repressão sexual era muito
maior.
Para Freud, a etiologia das doenças psíquicas estará ligada indelevelmente, e de
maneira principal, a estas três fases psíquicas; à fase oral ligam-se as psicoses, doenças mais
dissociativas da personalidade do que aquelas provenientes da segunda e terceira fases,
tidas como neuroses (no início, todas eram vistas por Freud como psiconeuroses, mas o
desenvolvimento da psicanálise fez que ocorresse espécie de divisão entre psicose e
neurose).
O Mal-Estar da Civilização
Para Freud, neste texto de sua origem, o surgimento da civilização se dá com base
na conjugação do princípio do prazer (devido ao ID) e do princípio da realidade (devido ao
EGO e em parte ao SUPEREGO, que também tem uma tarefa secundária de mostrar ao EGO
coisas que não podem ser atingidas). A impossibilidade de realizar certos desejos e impulsos
humanos faz com que, eventualmente, o ser humano se dedique a outras atividades, de
natureza social; esta perspectiva permite o desenvolvimento da civilização dos dias atuais.
Segundo esta perspectiva, levando o sexo às últimas consequências – isto é, se o sexo fosse
permitido aberta e livremente – os seres humanos não teriam civilização nem linguagem.
Posteriormente, a psicanálise (e, como seus propagadores os psicanalistas, com
suas variadas posições a respeito) parece contornar esta questão parcialmente, ao falar da
linguagem, que é necessária tanto para a civilização quanto para o sexo (este último,
também como reprodutor da espécie humana e, talvez, da própria semente da civilização, já
que, para uma sociedade, precisa-se de pelo menos dois); porém, os equívocos presentes na
linguagem poderiam lançar o ser humano na civilização ou em sua ausência, o que se
constitui em outra fonte de reflexões, da qual não é só a psicanálise que se ocupa.
Este jogo do desejo sexual e sua repressão permeia um sem-número de
circunstâncias nos dias atuais. É tão vasto e tão conhecido este campo, na atualidade, que
podemos facilmente dispensar os inúmeros exemplos a respeito, deixando para o leitor as
reflexões e a curiosidade de leitura dos textos que apontaremos ao final.
Dela participa a Teoria de Campo, de Kurt Lewin,2 que é considerada uma teoria da
motivação. A base dessa teoria diz que a percepção que o ser humano tem de sua realidade
é aquilo a que ele pode ter acesso, isto é, as pessoas não têm percepção da realidade, mas
de parte dela, e é segundo isso que elas se guiam em seu comportamento.
Há, para Lewin, quatro tipos de comportamento, e certos conflitos de forças
exercidas sobre o indivíduo, guiando suas atitudes: o comportamento consumatório é
aquele que leva diretamente à consecução do objetivo imediato da pessoa; o
comportamento instrumental é aquele que permite aproximar-se de outro tipo de
comportamento; o comportamento de fuga é aquele que enseja o afastamento de
determinada situação em que o sujeito se encontra; e o comportamento de evitação é
aquele em que o sujeito evita a situação indesejada.
Assim, uma pessoa pode pretender o ônibus para ir à praia, onde deseja ficar por
um período de tempo; pode, porém, evitar ir para certo ponto de ônibus, onde há perigo de
ser assaltado, e pode pretender ir para outro ponto de ônibus e, lá chegando, descobre que
o ponto em que se encontra está alagado ou prestes a isso, decidindo fugir dessa situação.
Aí estão presentes os quatro tipos de comportamento (o consumatório está implícito no
objetivo, isto é, a praia; o de evitação e o de fuga são óbvios, e o instrumental está na busca
de um ônibus para levar a pessoa a seu objetivo).
Já os conflitos possíveis dizem respeito ao choque entre o que é atrativo e ao que é
aversivo para a pessoa, causando os comportamentos possíveis e o modo como estes
podem se encadear, segundo a escala de valores que fará com que a pessoa eleja os
comportamentos dependendo da influência negativa ou positiva que estes comportamentos
exercem em sua configuração de percepções relativa ao mundo em que se encontra.
Com base nos estudos que dizem respeito à valência positiva e/ou negativa dos
comportamentos, pode-se tentar previsões, tendo em mente o modo como se configura a
1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gestalt, acesso em 26/10/2015.
2
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_de_campo_de_Lewin, acesso em 26/10/2015.
escala de valores de determinadas pessoas. Tais previsões dirão da probabilidade de sucesso
e/ou fracasso em obter determinados comportamentos das pessoas.
Vegetoterapia Caractero-Analítica
Outro psicanalista que se afastou do núcleo psicanalítico em função da
diferenciação de suas concepções em relação à psicanálise vem ao tema e é pertinente que,
pelo menos, seja citado, por sua importância para a concepção da Psicoterapia Corporal, isto
é, a parte da aplicação tecnológica da interpretação corporal da Psicologia que visa ao
tratamento de inúmeros distúrbios da personalidade.
O Autor da Vegetoterapia, Wilhelm Reich, escreveu importantes textos acerca da
personalidade e da manipulação política das massas – isto é, dos agrupamentos de
indivíduos sem suficiente percepção de si mesmos nas comunidades em que vivem – e se
destacou por sua concepção da orgone.
A orgone se concebe como uma energia universal que permeia todas as coisas e
que, dependendo do modo como se dispõe em conjugação com a personalidade individual,
revela no corpo de cada um a sua própria história e grande parte da disposição, consciente
ou não, de seus pensamentos.
Assim, surge a noção de couraça, uma espécie de capa que o indivíduo põe sobre si
mesmo para enfrentar o dia-a-dia, e que se torna um tanto mais endurecida quanto mais
rígida é a personalidade em relação a suas defesas contra a exposição de suas fraquezas ao
mundo exterior.
Assim, na pessoa cronicamente arcada há a história presumida de muito peso
psíquico a carregar – há pessoas que carregam quilos e quilos por muitos anos e, mesmo
assim, não andam arcadas.
Na pessoa com peito protuberante há uma atitude contínua de enfrentamento de
uma série de situações. Pode ser que essa pessoa tenha ânimo beligerante, já que as
pessoas que enfrentam naturalmente as coisas nem sempre se apresentam com a intenção
de "peitar" a tudo e a todos. Até mesmo a expressão "peitar", "meter os peitos", implica, no
conhecimento popular, a intenção de defender-se por meio do ataque, de maneira pró-
ativa.
No modo como a pessoa senta, anda, em seu desenvolvimento corporal, no olhar,
na maneira de gesticular, há indícios do que cada um é; isso assim se dá porque, durante seu
próprio desenvolvimento, cada um se defende como pode, e enfrenta o mundo usando seu
corpo como expressão de seus medos, suas angústias, seus desejos, suas insatisfações. E,
assim, as pessoas se dão a conhecer: pela disposição de seu corpo.
Nas organizações
As Psicologias, contribuindo para a Psicologia Social, permitem a esta executar
estudos em vários níveis da sociedade.
Restringindo seu campo de aplicação, a Psicologia Social pode focalizar a vida
dentro das organizações, e aplicar-se na solução de seus problemas.
A seguir, citamos aplicações comuns da psicologia na organização, tendo em mente
a análise dos processos organizacionais:
Análise para a solução de um problema organizacional, incluindo
tarefas a executar
Realização de pesquisas sobre sentimentos e opiniões dos funcionários
(clima e cultura organizacional)
Avaliação de desempenho dos funcionários
Recrutamento, seleção e treinamento de pessoal
Desenvolvimento e aplicação de testes psicológicos
Implementação de mudanças organizacionais
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