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Um copo de red pill

Alexandre Costa
1ª edição — julho de 2022 — CEDET
Copyright© 2022 by Alexandre Costa.
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Editor:
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Editor assistente:
Daniel Araújo
Revisão:
César Miranda
Preparação de texto:
amires Hivizi
Diagramação:
Guilherme Conejo
Capa:
Fernando Gil
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo

FICHA CATALOGRÁFICA
Costa, Alexandre.
Um copo de red pill / Alexandre Costa — Campinas, SP:
Vide Editorial, 2022.
isbn: 978-65-87138-99-2
1. Ciência política. 2. Jornalismo.
i. Título ii. Autor
cdd — 320 / 070.4
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
1. Ciência política — 320
2. Jornalismo — 070.4

VIDE Editorial — www.videeditorial.com.br


Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por
qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro
meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário
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Só os profetas enxergam o óbvio.

— Nelson Rodrigues

E majuda.
2017, um leitor de minhas crônicas me procurou para pedir
Sua lha de 18 anos havia ingressado meses antes numa
universidade pública, no curso de psicologia. Em pouco tempo, a
jovem começou a apresentar um comportamento estranho e agressivo.
Chamava o pai de “opressor” e a mãe de “submissa”; questionava os
negócios da família; defendia o m do “patriarcado” e da moral cristã.
O comportamento da garota angustiava os pais: ela começou a andar
com uma turma esquisita, pintou o cabelo de azul, chegava em casa
tarde e com os olhos vermelhos. Aquele homem simplesmente não
conseguia entender o que estava acontecendo com a lha que ele havia
educado com tanto amor e carinho. Ao nal da nossa conversa, ele
pediu a indicação de um livro que ajudasse a explicar a mudança da
jovem. Não tive dúvidas: indiquei-lhe a leitura de Bem-vindo ao
hospício, de Alexandre Costa. Na verdade, eu o presenteei com o livro.

Sempre que alguém me pede alguma orientação para começar a


entender as terríveis transformações que estão acontecendo no mundo
— e que muitas vezes, como no caso daquele meu leitor, re etem-se
dolorosamente na vida cotidiana das pessoas — eu indico duas coisas:
a matrícula no Curso Online de Filoso a ( ) de Olavo de Carvalho
e a leitura dos livros de Alexandre Costa sobre a Nova Ordem Mundial.

Um dos grandes feitos de Olavo de Carvalho — além de resgatar a


inteligência nacional e levar milhares de pessoas de volta para a Igreja
— consistiu em formar uma nova geração de intelectuais no Brasil.
Alexandre Costa é um dos melhores alunos que Olavo formou. Com
seu trabalho de escritor, Alexandre retira o véu de mentiras e
imposições ideológicas com que as grandes forças que disputam o
poder mundial — o globalismo metacapitalista, o eurasianismo
comunista e o califado islâmico — pretendem dominar a humanidade
inteira. E ele o faz numa linguagem clara e compreensível, embora
jamais simplista. Sua missão principal é despertar a inteligência das
pessoas para a guerra espiritual que estamos vivendo.

Há um fator comum aos três leviatãs que tentam estabelecer a : o


caráter essencialmente revolucionário de seus projetos. Para construir
uma nova sociedade, um paraíso sobre a Terra, os senhores do mundo
precisam destruir as bases espirituais que fundamentam a civilização.
Essas bases foram formadas a partir do que eu chamo das “três
cidades”: Atenas, Roma e Jerusalém. A loso a grega, o direito romano
e a revelação monoteísta, por sua vez, encontram a sua expressão
máxima no cristianismo. Eis o grande inimigo, o único verdadeiro
inimigo da Nova Ordem Mundial, que por isso precisa ser eliminado a
qualquer custo, mesmo que seja o de bilhões de vidas humanas.

Alexandre Costa de ne os tempos que vivemos como a Era do


Engano e o Império da Mentira. São tempos em que o medo e a
autocensura se elevaram à categoria de virtudes supremas, enquanto a
coragem e a liberdade são consideradas crimes contra a coletividade.
Tempos de inversão ontológica da realidade, em que os jornalistas
desinformam, os médicos são proibidos de curar, os professores são
incumbidos de deseducar, os juízes promovem as injustiças mais
hediondas, as mães são orientadas a matar seus lhos, os criminosos
são libertados e os inocentes são presos.

Quando penso no trabalho que Alexandre Costa vem fazendo,


lembro-me da personagem Cassandra, da mitologia grega. Filha do Rei
Príamo de Tróia, ela recebeu um presente e uma maldição dos deuses.
O presente era o dom da profecia (ou seja, o dom de enxergar a
realidade). A maldição era de que as pessoas não acreditassem nela.
Graças ao seu talento literário, Alexandre vem conseguindo, não sem
um grande empenho pessoal, fugir da maldição de Cassandra. A cada
dia, cresce o número das pessoas que estão se abrindo à realidade
graças aos seus livros. E digo isso sem desmerecer os seus ótimos
vídeos na internet — dos quais sou espectador freqüente. Mas é que os
livros, ao contrário dos vídeos, não podem ser tirados da tomada pelo
Xandão. A escrita permanece. Com suas obras, Alexandre Costa
tornou-se um depositário el da inteligência e da verdade, um homem-
livro do romance Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. O saber aqui
contido não pode ser destruído pelos incendiários da Nova Ordem.

Se você ainda não conhece o trabalho de Alexandre Costa, perceberá


que à leitura de cada artigo acontecerá um fenômeno curiosíssimo e
libertador: a destruição de uma “mentira esquecida na qual você ainda
acreditava” (para usar a de nição de um grande psicólogo clínico). Se
você já conhece os textos do autor, perceberá que a releitura dos artigos
acaba por revelar novas nuances e sutilezas. Orgulho-me de ter sido o
editor de vários desses textos no jornal Brasil Sem Medo, embora
sempre diga que editar os textos de Alexandre é um dos trabalhos mais
fáceis e prazerosos do mundo.

Evidentemente, a guerra pandêmica do Covid-1984 é um dos


principais temas deste livro. De certa maneira, os artigos de Alexandre
Costa são equivalentes, no espírito, aos poemas que Giuseppe
Ungaretti escreveu nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. De
fato, vivemos uma guerra permanente — uma guerra em que o
principal alvo é a estrutura da realidade. Nesta guerra, perdi vários
amigos. Presentearei a eles com esta obra, na esperança de que abram
os olhos para a realidade. E que todos sejam bem-vindos ao Hospital
da Inteligência de Alexandre Costa.

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escritor, editor-chefe do Brasil Sem Medo e autor do livro Nossa
Senhora dos Ateus.1
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Q uando eu conheci o Alexandre Costa, no início da década de


2000, já havia algumas pessoas arriscando-se a falar sobre os
movimentos globais de dominação. Porém, o estereótipo de
quem abordava esse tipo de assunto era bem claro: o cara um tanto
obsessivo, talvez um pouco paranóico, que em tudo enxerga a ação de
um grupo determinado que tem como único objetivo controlar o
mundo inteiro. Sua leitura preferida — às vezes, única — é certamente
sobre as origens desse grupo, mas ele pode gostar também de literatura
fantástica, cção cientí ca, romances distópicos,  s e
extraterrestres.

O Alexandre, no entanto, não se encaixava nesse estereótipo. Pelo


contrário, conheci-o como escritor, interessado em literatura clássica e
grandes autores, trabalhando com publicações de livros e, além de
tudo, estudioso de loso a. Vê-lo, portanto, tratando de questões
referentes à Nova Ordem Mundial, sociedades secretas e planos de
dominação global era algo inusitado e completamente diferente do que
se esperava de alguém como ele.

Naquela época, já se falava muito de teorias da conspiração, e elas


realmente existiam. Sua característica principal é a simpli cação.
Ignorando a complexidade e diversidade da sociedade, ela dá a
resposta para a causa dos problemas da humanidade, simplesmente,
desvelando o modus operandi do suposto grupo dominador. Diante de
um problema social qualquer o teórico da conspiração terá a
explicação imediata de quem são os seus causadores.
Independentemente da diversidade de interesses e motivações que
podem estar envolvidas em cada situação, em sua perspectiva tudo
parece muito claro e de nitivo.

O Alexandre, por seu lado, jamais ofereceu respostas fáceis. Seu


imaginário é expandido demais para reduzir tudo a um problema
único, a um único personagem. Lembro-me, inclusive, quando
fazíamos juntos um programa que tratava desses temas, que isso nos
causava alguns contratempos. Sempre surgia alguém que achava que
não estávamos acusando o "verdadeiro vilão", que na cabeça dessa
pessoa era este ou aquele grupo especí co. Enquanto isso,
esforçávamo-nos por entender a complexidade da situação, que nunca
se apresentava clara.

Isso não signi ca que as teorias conspiratórias estejam sempre


completamente erradas. Pelo contrário, é comum elas possuírem
vestígios de verdade que podem muito bem servir como um início
para investigações mais profundas. O problema é que são poucas as
pessoas preparadas para entender que os problemas apontados
costumam ser mais complexos do que uma teoria reducionista
geralmente apresenta. Entender os meandros dos jogos de interesses
envolvidos, que contêm elementos políticos, nanceiros, ideológicos e
até ocultistas sobrepostos envolve um traquejo intelectual que apenas
alguns possuem.

Este é, inclusive, o aspecto distintivo do trabalho do Alexandre Costa.


Sua a nidade com a literatura, com a loso a e com a alta cultura, em
geral, faz com que a maneira como ele trata esse tema seja distinta. Fica
muito claro que sua abordagem respeita os princípios do método
cientí co, colocando à prova as hipóteses que se lhe apresentem e
sustentando apenas aquelas conclusões que sobreviveram ao teste de
veracidade. Por isso, por exemplo, ele dá tanta importância ao rastreio
das fontes. Follow the money é um slogan que o tem acompanhado
durante todo esse tempo.

No entanto, ele não se satisfaz com a identi cação da origem


nanceira, mas identi ca as origens intelectuais dos grupos de
dominação. E isso não surpreende, pois investigar de onde vem o
dinheiro que sustenta os movimentos políticos é um exercício
semelhante ao de esmiuçar suas bases ideológicas. De toda forma,
trata-se de seguir a orientação aristotélica de conhecer as coisas pelas
suas causas.
Desde que acompanho o trabalho do Alexandre Costa ca muito
claro, para mim, que ele nunca se acomoda nas explicações fáceis, nem
nas abordagens super ciais. Na verdade, demonstra uma plena
consciência da complexidade desses processos e está sempre atento aos
personagens ocultos que, invariavelmente, estão por trás desses
movimentos de dominação. Que diferença em relação aos chamados
teóricos da conspiração! Enquanto estes nos oferecem tudo pronto e a
explicação nal das causas dos males da sociedade, o Alexandre, ao
mostrar, para nós, o intrincado jogo de poder e a complexidade da rede
de in uências que mexem com o mundo, ensina-nos que não existem
respostas únicas, mas uma enormidade de possibilidades e atores
atuando ao mesmo tempo.

É possível vislumbrar, de maneira indubitável, nos livros e artigos do


Alexandre Costa a existência de mais de um projeto de dominação
global, que tem, a cada ano, expandido suas garras e imposto sobre
todos suas determinações. O Alexandre não caiu na tentação
simpli cadora, ante a qual mesmo autores eruditos sucumbiram, como
Lyndon LaRouche que via tudo como uma conspiração da oligarquia
anglo-americana, ou Robin de Ruiter, que identi cava nas 13 dinastias
Illuminati a origem de todo o mal, ou mesmo Richard Barnet e Ronald
Müller, que só conseguiam ver o projeto globalista conduzido através
das multinacionais.

O grande mérito do Alexandre Costa é permitir que os fatos se


revelem por si mesmos. Ele, na verdade, atua como um intermediário
entre os dados colhidos e a conclusão de que deles pode se tirar. Isso
faz com que seu trabalho seja realmente superior, porque nos coloca
diante da realidade como ela se apresenta de verdade, e não como
algum autor qualquer a deduziu. Por isso, muitas vezes, parece um
profeta. Para os incautos, a impressão é que ele tem acesso a algum tipo
de revelação que faz com que seus prognósticos, ofertados muitos anos
antes, se cumpram elmente. Isso, porém, é um engano. O Alexandre
não é nenhum tipo de vidente, apenas um estudioso que sabe acessar
devidamente, muito antes da maioria das pessoas, as informações que
estão disponíveis.
Por isso, muito do que ele escrevia há mais de uma década se realizou
e está se realizando. Diversos fatos que eram tidos, por leitores
apressados e opositores, como verdadeiras teorias da conspiração,
tornaram-se a mais pura realidade. Quem imaginaria, por exemplo,
que chegaríamos em um tempo quando governos ditos democráticos
usariam seu poder para tranca ar as pessoas dentro de casa,
segregando-as e usurpando seus direitos mais básicos? O Alexandre
previa coisas desse tipo, simplesmente, por não ter medo de mergulhar
na documentação que está disponível. A nal, os senhores deste mundo
são também burocratas e costumam deixar tudo devidamente
documentado.

Ainda hoje, o Alexandre Costa continua traçando, para nós, um


quadro claro do que ainda está por vir e tem gente que continua
insistindo em não ouvi-lo. Eu entendo quererem calar os profetas,
a nal, as informações que estes carregam, geralmente, somente foram
dadas para eles. Mas não dar atenção ao que um estudioso como o
Alexandre tem a nos contar chega a ser de extrema burrice, a nal, ele
já deu provas que quando fala sobre algo é porque já pesquisou
devidamente de onde vem essa informação.

Inclusive, neste trabalho, estão reunidos diversos de seus artigos que


tratam das mais variadas questões envolvendo os movimentos
geopolíticos e de implantação de uma Nova Ordem Mundial. O meu
conselho, se você ainda tem algum preconceito quanto ao tema: leia os
textos e, depois, por conta própria, investigue o que ali está exposto.
Ficará claro, com isso, o quanto aquilo que o autor traz não é fruto de
qualquer ensinamento esotérico, inacessível aos não-iniciados, mas um
projeto fartamente documentado, apesar de espalhado de forma
desordenada. Não precisa acreditar em mim, apenas con ra o que está
escrito e comprove o quanto tudo o que se encontra ali já pode ser
constatado largamente na nossa vida cotidiana.

Depois, não adianta dizer que foi pego de surpresa.

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E mtomando
todos os meus trabalhos procuro descomplicar a comunicação
cuidado para não simpli car o problema. Obedecendo a
esta regra auto-imposta, ao selecionar os artigos que seguem nas
próximas páginas procurei seguir um o condutor que permita ao
leitor encontrar as ligações e as interdependências de muitos assuntos
que, à primeira vista, podem se apresentar como naturais, avulsos e
espontâneos.

Como atravessamos um período de grandes transformações, com


mudanças que alcançam quase todas as áreas da sociedade, buscar a
conexão entre os vários aspectos desse processo revolucionário torna-
se necessário e urgente.

Dos fenômenos geopolíticos aos problemas cotidianos, passando


pelas mais variadas manifestações sociais e culturais, sempre é possível
encontrar alguma similaridade entre os seus elementos mais essenciais.

Nas iniciativas que compõem este emaranhado de fatores


aparentemente pontuais e caóticos podemos identi car pelo menos um
ponto em comum: a nalidade última. Por mais contraditórios que a
princípio possam parecer, uma análise um pouco mais profunda pode
revelar uma simbiose entre todos esses aspectos: a construção de uma
nova sociedade ou, mais ainda, de uma nova civilização.

Talvez pela própria condição intrínseca do ideal revolucionário, que


tende a revolver o ambiente da sociedade de forma a inverter a ordem
estabelecida, a cada dia estes pontos aparecem mais conectados. Os
últimos anos afunilaram todo esse desenvolvimento e isso certamente
torna mais visível suas principais características e até mesmo seus
acidentes.
Revelar é retirar o véu, descobrir o que já estava lá, mas encoberto,
seja disfarçado ou simplesmente discreto. Por esta razão, e também
porque esse uxo de acontecimentos sempre ocorre de forma gradual e
diluída, algumas vezes é preciso uma dose de dedução para encontrar
os pontos de contato que vão formar o quadro geral, ou parte dele.

Nem é preciso dizer que a covid-19 teve enorme in uência nesse


encaminhamento, em especial na sua aceleração, mas não creio ser
correto abdicar dos antecedentes e, principalmente, dos fatores
paralelos que tornaram possível o avanço das pautas que pretendem
criar a Nova Ordem Mundial totalitária e opressora que já desponta no
horizonte.

Acredito que este livro oferece uma boa dose das pílulas vermelhas
que podem acordar ou fortalecer a compreensão dos mais atentos.

Boa leitura!

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
É sem dúvida mais fácil enganar uma multidão do que um só
homem.

— Heródoto (485– 425 a.C.).

S evezvocêmaisjá está surpreso com as notícias que trazem informações cada


distantes da realidade que experimentamos, esteja pronto
para viver em um mundo onde o real será algo inalcançável e até
mesmo incompreensível.

Estamos entrando na era do engano, onde os fatos serão soterrados


pelas interpretações e a verdade será apenas uma lembrança borrada
na mente dos mais velhos.
Tudo começou com o adestramento que induziu a população a aceitar
a troca do objetivo pelo subjetivo. O relativismo que trouxe a dúvida
sobre a existência da verdade conduziu o debate público a uma série de
masturbações intelectuais que distorceram o eixo entre observação e
realidade e, assim, debilitaram a percepção do mundo em que vivemos.

Com o advento do politicamente correto, que em poucas décadas


alcançou por completo toda a sociedade, das pautas acadêmicas às
conversas informais, a linguagem foi contaminada de tal modo que a
própria descrição da realidade se tornou algo quase impossível de ser
feito.

Quando não é possível expressar livremente uma observação, seja


pela di culdade de encontrar as informações em uma montanha de
entulhos manipulados para desinformar, seja pela falta de vocabulário
ou pelo medo do patrulhamento da fala, a mente tende a se acostumar
com as incoerências e dissonâncias.

Se freqüentemente a impressão de uma realidade não pode ser


expressa com sinceridade, a tendência é que pouco a pouco as
capacidades cognitivas vão enfraquecendo para tentar construir uma
coerência aparente — um re exo instintivo que possuímos para
manter a integridade e a sanidade da nossa personalidade.

Apesar de já estarmos em um mundo com profundas contradições


entre o fato objetivo e o subjetivismo militante, as distorções causadas
pela relativização da verdade devem causar transtornos muito mais
profundos e talvez até irreversíveis.

A ideologia de gênero, que sintetiza com perfeição o imperativo da


subjetividade, deve continuar se expandindo e deixando rastros de
destruição em várias áreas da vida humana, a nal de contas, se até o
sexo de uma pessoa é passível de interpretações con itantes com a
experiência sensível, tudo estará aberto a este mesmo tipo de loucura.
Em outras palavras, se nem um fato su cientemente objetivo até
mesmo para bebês e animais pode sofrer essa distorção, o que
podemos esperar de outras questões mais sutis e complexas? Na
verdade, não precisamos esperar, pois já existem malucos querendo
escolher a sua idade e até mesmo a sua espécie — um sujeito entrou na
justiça para mudar o cialmente o seu período de existência na Terra
porque “se sentia mais jovem”, e algumas pessoas querem ser
identi cadas como cachorros, leopardos e extraterrestres.

Imagine por um instante o que isso pode representar no longo prazo.


Todas as estruturas sociais estão em risco. Todas as questões antes
objetivas e seguras serão rmes como pregos na areia. As categorias de
Aristóteles deixarão de signi car alguma coisa e certamente a própria
existência humana será questionada e por m desacreditada com a
aprovação das mesmas “mentes brilhantes” que costumam a rmar a
inexistência da verdade sem perceber que a sua a rmação, para ter
sentido, deveria ser a única exceção à regra que acabou de proferir.

Mas vai piorar. Como tudo que é cumulativo, o relativismo tende a se


multiplicar ao in nito. E isso deve alcançar todos os aspectos da
sociedade.

Tudo caminha para essa distopia que nem mesmo os gênios da


literatura ou os mestres da cção cientí ca foram capazes de imaginar,
um hospício a céu aberto, uma prisão diabólica sem grades, mas
inescapável. Em outras palavras, o próprio Inferno.

E como praticamente toda a sociedade já está infectada com esse vírus


relativista, qualquer confrontação a esse estado de coisas será
inicialmente ignorada e ridicularizada, mas em seguida será
perseguida e acusada de loucura, completando a inversão cujo
desenvolvimento estamos presenciando agora mesmo.

A   


Porque pelas tuas palavras serás justi cado ou condenado.
— Mateus 12, 37.

A srigidez
ciências políticas, apesar do nome, não costumam possuir a
das ciências naturais, que podem formar seus pressupostos
por meio de experimentos práticos repetidos à exaustão. Por
estudarem fenômenos eminentemente humanos, sejam referentes a
comportamentos da sociedade ou dos indivíduos, suas prerrogativas
normalmente são compostas de análises, percepções, intuições e
muitas, muitas deduções.

Embora na maioria das vezes as ciências naturais apresentem apenas


recortes da realidade, o que não garante a perfeita representação do
mundo real, a possibilidade de experimentos sempre alcança
resultados mais sólidos. Nos estudos relacionados à sociedade ou aos
homens que a compõem, nem sempre é possível experimentar, nem
sempre existe uma chance para testar uma teoria baseada na dedução
ou, na melhor das hipóteses, na observação histórica.

Essa di culdade intrínseca das ciências sociais exige um cuidado mais


apurado com as premissas, porque elas não possuem a precisão das
áreas de exatas, biológicas, etc.

Mesmo assim, sem esquecer essa característica intrínseca dos estudos


que abordam a sociedade ou os seres humanos que vivem nela,
precisamos buscar os termos mais precisos que nos são possíveis
alcançar, de modo a facilitar a compreensão inicial, o aprendizado
profundo e a replicação do conhecimento.

A linguagem humana é responsável pela maioria das nossas


intelecções. O seu uso consiste em um aglomerado gigantesco de
instrumentos que se intercalam quase que instintivamente, tornando
sua descrição algo difícil, porém frutífero quando o interesse diz
respeito à busca pelo conhecimento e, em última instância, pela
verdade, que sempre é expressa pela própria realidade.

Esse conjunto de instrumentos inclui palavras, gestos, símbolos e


muitas outras formas que transmitem informações ou idéias, e cada
um destes “veículos” carrega também as nuances, as intensidades, as
profundidades e os aspectos variáveis que formam uma rede tão
intrincada que mesmo após milênios de estudo e observação ainda
existem elementos opacos ou mesmo completamente obscuros à
compreensão. Resumindo, desde que o homem é homem ainda não se
chegou a um consenso irrefutável ou inalterável sobre o que é ou como
funciona a linguagem.

Dentro desse aparato que possuímos e manejamos mesmo sem


dominar completamente, os gestos e símbolos podem exercer grande
in uência na interpretação da realidade, e até mesmo provocar
conexões cognitivas de alcance mais profundo, mas, devido à sua
volatilidade, representada no tempo ou na circunstância, nunca
superam, em freqüência e em constância, o uso das palavras.

São as palavras que determinam a maior parte das condutas humanas.


A começar pelo pensamento, passando pela ação e até mesmo pela
memória e pela imaginação.

Com a exceção dos insights, das percepções momentâneas e dos


sonhos, nosso pensamento normalmente se dá por meio de palavras. E
mesmo diante destas exceções, só conseguimos expressar, para nós
mesmos ou para os outros, transformando o que percebemos em uma
seqüência ordenada de palavras.

Raciocinamos usando palavras. Lembramos e entendemos nossos


sentidos e emoções da mesma forma. Em nossa vida cotidiana,
portanto, estamos rodeados por elas; mesmo quando vemos uma
imagem, logo racionalizamos aquela visão em palavras para
compreender melhor o que estamos presenciando. Na maioria das
vezes isso ocorre de forma espontânea, devido ao “treino” involuntário
que recebemos ao longo da vida.

Conhecendo a funcionalidade das palavras no nosso intelecto, ca


evidente que estar atento ao seu uso pode favorecer ou prejudicar a
compreensão e o aprendizado.
Um conceito é um recorte da realidade, um “resumo” de um
signi cado que facilita a ordenação da memória e cria a substância que
vai operar os raciocínios e determinar a amplitude da percepção.
Sendo um conjunto de palavras ordenadas racionalmente, esse recorte
vai garantir a compreensão de um ponto especí co e permitir a
conexão com outros recortes, ou seja, um conceito bem estruturado
ajuda a compreender e formar outros conceitos.

Muito mais do que comunicar ou servir para compreender um


fenômeno ou um objeto, a linguagem embutida em um conceito
também opera no intelecto como um ordenador das informações.
Mesmo quando “conversamos” sozinhos estamos colocando em ordem
o uxo contínuo de dados que circulam de forma consciente e
voluntária ou inconsciente e involuntária.

Sempre, em qualquer situação, usamos conceitos para raciocinar


porque é necessário reduzir o volume interminável de informações e
ordená-las para que seja possível prosseguir com o pensamento. E os
conceitos, invariavelmente, consistem nas palavras ordenadas para este
m.

Além de evitar os rótulos simplórios, que generalizam o que é


heterogêneo e simpli cam o que é complexo, identi car, memorizar e
explicitar conceitos da forma mais precisa possível são atitudes
extremamente necessárias para quem pretende entender qualquer
coisa, mas principalmente diante de fenômenos complexos ou
dinâmicos como aqueles que estudaremos neste livro.2

A  
A gripe chinesa revelou características ainda obscuras na nossa
sociedade. Embora visíveis para os mais atentos, alguns desses
aspectos permaneciam na sombra do debate público e, portanto, eram
desconhecidos para a maioria da população.

Além dos sintomas da doença e das conseqüências econômicas do


con namento generalizado — premeditado em alguns casos,
irresponsável e criminoso em outros — o vírus corona também jogou
luz sobre distorções presentes no imaginário popular, causadas em boa
parte por décadas de engenharia social.

Os resultados desse trabalho permitem visualizar as conseqüências e


o sucesso desse processo, que visa estabelecer os novos paradigmas que
vão de nir os princípios e dirigir o rumo da sociedade.

Dentre os vários desdobramentos desta manipulação que emergiram


em 2020, podemos destacar dois aspectos psicológicos que, mesmo
sutis e voláteis, in uenciam decisões, reações e comportamentos. Mais
que isso, trações psicológicas costumam in uenciar também a
formação dos ideais, dos projetos e dos sonhos, o que por sua vez vai
de nir ou colaborar com o amálgama de sentimentos e valores que
formam o senso moral do indivíduo.

O primeiro elemento constitutivo da sociedade que demonstrou


fragilidade diante da covid-19 foi a virtude da coragem. Desde sempre
o medo costuma ser usado como ferramenta de implantação de
iniciativas totalitárias. E só uma sociedade corajosa pode resistir à
instrumentalização do medo.

Já o segundo deriva do primeiro e pode ser nomeado como


mentalidade burocrática, pois constitui um conjunto de idéias e desejos
difusos baseados na insegurança, na dependência e no fortalecimento
de aparatos de controle, tão necessários a uma sociedade covarde.

Burocrata é o sujeito que depende de ordens formais para tomar suas


decisões. Por insegurança, incapacidade ou simples dependência,
prefere transferir o poder individual para um coletivo, real ou abstrato,
o que leva a esmagar o direito à livre escolha na esperança de receber
pronto o que ele mesmo deveria construir.
Muito mais do que inchar o aparato estatal, atrasar o andamento dos
processos e atrapalhar o exercício da cidadania, a burocracia, como
forma mentis, também limita a espontaneidade, a criatividade, e
impede o pleno desenvolvimento das mais altas capacidades humanas.
Ao inserir no imaginário a dependência a uma ordem forçada desde
fora, estabelecida sabe-se lá de que forma, expande essa dependência
até esvaziar o livre-arbítrio. E o apego exagerado a formalismos
termina por fomentar também o ngimento e a hipocrisia.

Basta espelhar esse conceito em um imaginário fragmentado pela


confusão midiática e adestrado pela engenharia social, e teremos um
tipo de pensamento que constantemente requer con rmação, uma
mente que depende de orientações institucionalizadas para tomar
qualquer decisão.

Esse tipo de mentalidade contribui para a idolatria do diploma, para o


cienti cismo e para o aparelhamento de todas as estruturas
governamentais, de forma a in uenciar o papel do Estado e a moldar
comportamentos.

Uma pessoa que renegou seu poder de escolha e o transferiu para um


coletivo qualquer, seja ele institucional ou não, torna-se um alvo ideal
para todo tipo de manipulação.

É nesse sentido que podemos a rmar que a burocracia leva,


inapelavelmente, ao totalitarismo.

Ao criar e fomentar a dependência e, portanto, a insegurança, a


mentalidade burocrática tende a preparar o terreno para o avanço de
pautas coletivistas que reduzem o poder pessoal e relativizam o direito
natural dos indivíduos. Quem pensa de forma burocrática costuma
apoiar toda e qualquer invasão à sua liberdade e sua privacidade, desde
que exista uma promessa de controle, de ordem, e desde que indique o
caminho que ele deve seguir “em segurança”.

Como é baseada na insegurança e normalmente atinge os medíocres


com mais intensidade, a mentalidade burocrática também provoca um
sentimento de inferioridade enrustida diante daqueles que defendem a
própria liberdade de escolha. Por ser inconfessável, esse sentimento
acarreta um ódio corrosivo, que se expressa usando subterfúgios
baseados na mesma dependência coletiva.

Conseqüência óbvia da mentalidade burocrática, a mediocridade


invejosa costuma alimentar qualquer formalismo que limite a
capacidade dos demais. No subsolo psicológico destas pessoas, a
mágoa e o ressentimento, muitas vezes inconscientes, se transformam
em instrumentos ideológicos e servem, ao mesmo tempo, para reforçar
suas próprias convicções — viés de con rmação e pensamento mágico
—, e para agredir qualquer um que tente mostrar as disparidades entre
a ideologia e a realidade. Como o animal selvagem que ataca
instintivamente o benfeitor que tentava libertá-lo de um enrosco ou
atolamento.

Por ser um ente que se retroalimenta, a burocracia tende ao in nito, e


o ambiente formado por essa mentalidade invariavelmente leva ao
totalitarismo. Desconstruir a “cosmovisão” burocrática tão enraizada
em nossa sociedade, portanto, representa a única forma de parar ou,
pelo menos, desacelerar o crescimento do Leviatã, sempre pronto para
sugar até a nossa última gota de liberdade.

S 
Pela liberdade, assim como pela honra, pode-se e deve-se arriscar
a vida.

— Miguel de Cervantes

T odo controle social depende de uma predisposição instalada no


imaginário coletivo. Para que seja possível controlar a sociedade,
seu povo deve estar preparado para a servidão. Se não totalmente
voluntária, pelo menos gradativamente tolerante com a imposta.
Nenhum poder formal sobrevive muito tempo sem uma mentalidade
de submissão impregnada na imaginação das pessoas. Na verdade, até
mesmo o surgimento e a sua sustentação mínima tornam-se difíceis na
ausência de uma maioria com o comportamento servil assimilado.

Nas revoluções e nas ditaduras uma minoria toma decisões em nome


de uma maioria desorganizada e tornada apática por uma mentalidade
submissa. Seja por um discurso racista, classista, religioso ou
cienti cista, seja circunstancial e por puro oportunismo, uma elite
instrumentaliza o hábito da servidão que ela mesma fomentou. Sempre
foi e continua sendo assim.

Para que o movimento revolucionário continue vivo é preciso manter


promessas vazias ou abstratas para condicionar o militante (o agente
periférico) a agir e pensar conforme o interesse dessa elite que se diz
representar o coletivo. Essas promessas funcionam como combustível
para a militância que vai aos poucos condicionando seu
comportamento até que o sujeito passe a acreditar que foi ele mesmo
que teve aquelas idéias. São apenas caixas de ressonância — uma
importante forma de servidão —, mas acham que estão “pensando com
os próprios miolos”.

Com o condicionamento para a servidão voluntária acontece da


mesma forma. Após a constante e permanente indução para
determinado comportamento ou opinião, a pessoa tende a esquecer da
in uência externa que recebeu porque a assimilou por completo. E essa
sensação de autoria costuma fortalecer bastante uma posição.

No caso da servidão, o imaginário coletivo foi contaminado, de forma


evidente ou subliminar, com as supostas vantagens de transferir as suas
decisões para uma casta de privilegiados que sabe o que é melhor para
a sociedade e até para você mesmo.

Esse ambiente, que brota da mentalidade burocrática e se alimenta da


idolatria da autoridade tão presente no cienti cismo dos nossos dias —
como cou claro com a covid-19 — fornece o terreno perfeito para a
instalação de estruturas de poder cada vez mais amplas, com alcance
em camadas cada vez mais profundas da sociedade, e ferramentas de
controle cada vez mais precisas e invasivas.

A conseqüência de uma mentalidade servil disseminada na sociedade


é a escalada da opressão: o poder tende a produzir leis e regulações
mais rígidas, com limitações à liberdade e à privacidade, enquanto o
povo sofre perda signi cativa dos seus direitos naturais. Em seu livro
Caminho da servidão, Friedrich Hayek expõe o passo-a-passo da
escalada opressora que deriva inapelavelmente do fortalecimento do
coletivo em detrimento do indivíduo.

A história mostra que todas as tiranias foram precedidas pelo


enfraquecimento, material ou psicológico, das condições de resistência.
Para que um tirano ou uma casta de iluminados se imponha à maioria,
antes eles vão desgastar os ímpetos individuais, diluir os direitos
objetivos em abstratos subjetivos, e condicionar à submissão até que ela
se transforme em re exo automático, como um gatilho que, apesar de
acionado desde fora, camu a-se como uma ação espontânea. É neste
momento que evapora o aparente paradoxo entre as palavras
“servidão” e “voluntária”.

O lósofo francês Etienne de la Boétie (1530–1563) deixou um livro,


ou melhor, um opúsculo que analisa a predisposição humana à
servidão, suas causas, seu mecanismo e suas terríveis conseqüências
sociais e políticas. Além da exposição objetiva e profunda sobre o
condicionamento servil, Discurso sobre a servidão voluntária,
publicado após a sua morte, mostra como já é bem antiga a estratégia
de distrair e instrumentalizar o imaginário coletivo para afrouxar a
resistência à opressão por meio do hábito servil:

É inacreditável como se deixam ir tão rapidamente, contanto que


sejam agradadas. O teatro, os jogos, as farsas, os espetáculos, os
gladiadores, as bestas curiosas, as medalhas, as pinturas e outras
drogas desse tipo eram, para os povos antigos, as iscas de servidão, o
preço de sua liberdade encantada, as ferramentas de tirania. Isso
signi ca, na prática, que tais artifícios eram usados pelos antigos
tiranos para colocar seus súditos para dormir sob o jugo. Assim, as
pessoas idiotas, achando todos esses passatempos bonitos, encantadas
por um prazer vão que as deslumbrou, estavam acostumadas de
maneira tola e pior do que as crianças que aprendem a ler atraídas
pelas guras brilhantes dos livros ilustrados.

Diante da semelhança com o processo que atravessamos, onde


multidões estão se jogando no colo dos seus opressores e oferecendo
sua servidão em troca de conforto, segurança e distração, ou
recorremos a Eclesiastes 1, 9, que diz “Que é o que foi? O mesmo que
há de ser. Que é o que se fez? O mesmo que se há de fazer. Não há nada
novo debaixo do sol”, ou aceitamos que tudo não passa de mais uma
incrível coincidência.

S   


 
U ma questão muito importante para entender o processo
revolucionário cultural que vivenciamos diz respeito a uma
estratégia de desestabilização do imaginário.

O conjunto dos imaginários dos indivíduos corresponde ao ambiente


sociocultural de uma civilização. Os valores e princípios que
estruturam a nossa sociedade foram adaptados dos ensinamentos
morais e religiosos acumulados por mais de dois milênios. Desta
tentativa de arranjo, com seus erros e acertos, surgiram os elementos
que regem a vida cotidiana.

Revolucionar uma sociedade, no sentido de revolver a ordem


estabelecida, consiste em destruir os valores para então substituí-los
com menor resistência. Para substituir um valor por outro, antes é
necessário desgastar a sua relevância e desconectar a sua essência da
imagem que paira sobre a população.

Além da inversão de valores mais ostensiva, notada diariamente no


trabalho da mídia, a parte visível do establishment, existe outra
estratégia ainda mais perversa, porque age abaixo das fronteiras da
percepção passiva. Trata-se de outra forma de inversão, que atinge o
emocional e o psicológico de maneira profunda e muitas vezes
incompreensível para boa parte das vítimas.

As capacidades cognitivas humanas estão diretamente ligadas aos


parâmetros elementares que de nem as diferenças entre objetividade e
subjetividade. Ao estabelecer essas de nições com clareza a mente se
organiza de forma a produzir percepções realistas e raciocínios mais
sólidos. Sem essa distinção entre fato e ponto de vista, toda a
inteligência se torna incapaz de analisar a realidade sem ceder às
doutrinas hegemônicas, e assim o indivíduo deixa de ser uma
personalidade autônoma e passa a ser um repetidor de um conjunto de
idéias não necessariamente conectadas à vida real, ou seja, a uma
ideologia.

Ao inverter a preponderância do objetivo pelo subjetivo, a mente


passa a operar sem premissas ou, pior ainda, com premissas não-
comprovadas e na maioria das vezes nem mesmo analisadas.

A ideologia de gênero é um exemplo cristalino de como essa inversão


acontece e como ela pode corromper o intelecto dos ideológicos
pro ssionais e dos desavisados ingênuos. Os primeiros sabem que
estão agindo de forma revolucionária, mesmo sem entender a
profundidade dos seus atos; o segundo grupo, as vítimas da
ingenuidade, abandonam a objetividade simplesmente porque são
carentes e precisam da aprovação do grupo.

Quando um sujeito passa a dizer que sexo é uma construção cultural


está obviamente substituindo dados objetivos, o órgão genital, os
hormônios e toda a siologia humana, por um pacote de idéias que
não se sustentam diante de um mero confronto com a realidade. Esse
subjetivismo da ideologia de gênero, além de confundir a cognição de
jovens e crianças, inaugura na mente das pessoas uma possibilidade
muito agradável aos detentores do poder: o valor de uma idéia famosa
e aceita pelo establishment passa a ser mais importante que seu
desmentido frente aos fatos. Com essa semente plantada no
imaginário, abrem-se as portas para um enorme conjunto de
possibilidades para aqueles que precisam do subjetivismo para
implantar sua ideologia.

Da mesma forma que o subjetivismo é necessário para a ideologia de


gênero, universitários ingênuos continuam defendendo ideais
socialistas, mesmo diante de todas as tentativas fracassadas, porque a
mente destes jovens foi “treinada” para ignorar dados objetivos e
valorizar idéias alinhadas aos seus desejos, independente da sua
absurdidade.

Trocar objetivo por subjetivo, portanto, consiste em uma estratégia


que visa criar o hábito de menosprezar a realidade quando ela se choca
com uma ideologia. Quando os indivíduos se acostumam a agir desta
forma, o caminho para as modi cações desejadas pelos poderosos ca
muito mais fácil.

Todas as ideologias necessitam de uma dose de afastamento da


realidade. Foi assim com o nazismo, comunismo, socialismo, fascismo
e, agora, com o globalismo, a mais in uente força ideológica do nosso
tempo. Também precisam confundir dados objetivos e relativizar
conceitos como verdade e mentira, bondade e maldade, justiça e
responsabilidade. No meu entender, o relativismo é tão valorizado pela
mídia e pela academia justamente porque deturpa as percepções,
substitui dados objetivos por subjetivismo primário e, assim, facilita a
adesão às pautas ideológicas.

Resistir às tentativas de impor o subjetivismo como norma ou como


imperativo moral é a única maneira de enfrentar as ideologias que se
aproveitam dessa confusão mental para angariar mais adeptos e
avançar sua agenda totalitária.
A   
D entre todas as mudanças causadas pela covid-19, uma questão
parece ser a mais relevante e também a mais assustadora: a forte
presença de uma mentalidade autoritária em grande parte dos homens
públicos.

Com a chegada do coronavírus o mundo foi transformado em seus


mais variados aspectos. Da saúde à economia, de leis a
comportamentos, passando pela educação, pelas relações de trabalho e
afetivas. Tudo mudou, e pelo andar da carruagem, além de conviver
permanentemente com alguns itens dessa lista de incisões no nosso
cotidiano, também é muito provável que ainda teremos que nos
acostumar — em breve! — com medicamentos obrigatórios e controle
sobre a comida — disfarçado de “segurança alimentar”. Esse conjunto
de pequenas e grandes mudanças arti ciais e, portanto, anormais, vem
sendo chamado de novo normal.

Por não ser natural, por não nascer de um desejo genuíno da


população, o novo normal é planejado, pensado ou pelo menos
conduzido por um grupo restrito de pessoas, com voz e poder para
realizar os seus desejos por meio de uma representação
desproporcional sobre qualquer parâmetro democrático. Isso é
autoritarismo.

Em menos de um ano e meio assistimos a uma seqüência de


iniciativas autoritárias que superam em número e gravidade todas as
últimas décadas, inclusive contando a Era Vargas ou o período
governado pelos militares.

Com o pretexto da pandemia e apoiando-se na carteirada “cientí ca”,


a vida das pessoas foi transformada sem qualquer discussão ou debate,
de nida por uma classe que se julga iluminada, autorizada a falar em
nome das outras pessoas e a decidir pelo conjunto da sociedade. Uma
elite que pensa que interferir na vida dos outros é uma prerrogativa da
sua existência, um direito garantido pelo próprio Deus. Pode parecer
retórica, mas Cecil Rhodes, Victor Rothschild e David Rockefeller
pensavam desta forma; Bill Gates, Jeff Bezos e Larry Fink também
devem pensar assim. E quando o andar de cima dá o exemplo, a classe
política que os representa se acha no direito de expor sua sanha
autoritária, então copia e vulgariza.

Daí em diante a tendência é multiplicar o número de invasões aos


direitos naturais. Como o conceito de “autoridade” pode ser bem
elástico e subjetivo, qualquer tirano pode aproveitar a oportunidade
para impor suas vontades, sejam opressoras ou simplesmente
delirantes.

Outro fator que permite a proliferação do autoritarismo e que não


pode ser esquecido: nossa constituição é burocrática até a medula,
remendada à exaustão, soterrada por leis e decretos contraditórios e
perfurada por brechas propositais, para gerar ambigüidade, abrigo e
ponto de fuga para poderosos.

Desta forma ca fácil prosperar uma ordem esdrúxula ou invasiva,


mesmo quando proposta por um desconhecido vereador de uma
pequena cidade do interior do Brasil.

Por que isso acontece? O autoritarismo só prospera em um terreno


que possua algumas características. A primeira delas é o ambiente
burocrático. Com uma sociedade onde todas as condutas são
registradas, inscritas, catalogadas, aprovadas, homologadas e
carimbadas por um órgão público, o povo ca mais dependente do
sistema e, por isso, quanto mais complicado, melhor. Além de
possibilitar a venda da facilidade, promover a di culdade também
favorece o adestramento psicológico dos indivíduos. A dependência
torna-se um ponto marcante no imaginário coletivo.

A segunda característica que torna um terreno fértil para o


autoritarismo é a infantilização da sociedade. Um povo infantilizado
favorece a implantação dos ideais embutidos em um projeto
autoritário. Crianças e adolescentes possuem uma tendência a
depender da aprovação externa. O senso de pertencimento é mais
decisivo nessas fases, quando a personalidade ainda está em formação
e freqüentemente atravessa momentos de indecisão e insegurança. Um
povo acostumado com o infantil, com o vulgar e com o fútil torna-se
mais alienado, inseguro e dependente.

Juntas, essas características abrem espaços para a aparição do desejo


autoritário latente em líderes e burocratas. Essa é a deixa para surgir
um político disposto a usar as ferramentas paternalistas para
manipular a dependência da população, e com discurso coletivista
pronto para mostrar o caminho para os adolescentes tardios. A soma
da dependência com a infantilização cria uma essência que funciona
como fertilizante para o cultivo do autoritarismo, que bem regado
pode chegar ao totalitarismo.

C  

Q uando o banco Lehmann Brothers quebrou, causando a crise do


subprime, em 2008, uma das conseqüências mais visíveis foi a
concentração de poder. Além dos prejuízos em cascata que
endividaram milhões de pessoas e devastaram pequenos patrimônios e
aposentadorias, a aparente derrocada de um dos maiores players do
sistema nanceiro ajudou a acumular o poder sob três aspectos.

O primeiro, mais óbvio, pode ser representado pela concentração do


mercado bancário. Vários bancos foram comprados ou assimilados
devido a falências e instabilidades, entre eles o próprio epicentro do
terremoto, o Lehman Brothers, teve partes da sua estrutura absorvidos
pelo Barclays.

Os pequenos foram engolidos pelos médios, que foram engolidos


pelos grandes e todos foram parar na barriga dos poderosos bancos
internacionais.
Esse fenômeno é progressivo, com saltos causados pela explosão de
bolhas especulativas ou “pedaladas monetárias” descontroladas, como
em 1929 e 2008, e existe pelo menos desde a criação do Federal
Reserve.

No Brasil a concentração do segmento bancário já vinha ocorrendo e


as mudanças no panorama internacional apenas consolidaram o
processo. Hoje os três maiores bancos privados e os dois estatais
concentram mais de 80% do mercado.

As perdas dos pequenos investidores, causadas pela especulação


pro ssional, pela manipulação dos indicadores ou pelo estelionato
propriamente dito, também contribuíram para aumentar a pilha maior
de dinheiro.

O acúmulo de poder econômico como conseqüência da crise,


portanto, não me parece muito difícil de ser percebido, mas para quem
ainda não percebeu, sugiro acompanhar as atuais compras de empresas
insolventes por causa da atual crise, gerada pela covid-19. E aquelas
que simplesmente fecharam as portas entregaram sua participação para
o concorrente, em geral de maior porte. Com uma empresa a menos,
menos fatias no bolo.

O segundo aspecto que con rma a concentração de poder como


conseqüência de uma crise pode ser encontrado na política, ou melhor,
na tensão entre as forças políticas, por um lado, e entre o Estado e a
sociedade, por outro. Em ambos os casos o poder se concentra. A força
política hegemônica tende a ampliar o seu alcance e o Leviatã estatal
morde mais um pedaço dos direitos naturais dos indivíduos,
respectivamente.

Cada onda de crise provoca reações entre as forças que regem a


sociedade. Neste con ito, a força mais poderosa assimila as demais e
vai consolidando sua posição, seja na política, seja na economia.

O outro aspecto onde se pode observar a centralização de poder


como resultado da crise é no âmbito social e cultural. Na sociedade o
fenômeno se repete, mas com algumas particularidades. Como uma
população apavorada se sente refém dos desdobramentos da crise,
torna-se muito mais fácil inocular no imaginário coletivo as
impressões que devem in uenciar a tomada de decisões. Nesse sentido,
o medo transforma-se em um elemento catalisador que permite
moldar o ambiente conforme os parâmetros e objetivos de quem vai
acumular o poder como resposta ao caos.

Com medo, o povo passa a esperar e até mesmo a desejar o


aparecimento de um líder capaz de resolver os problemas e botar
ordem na casa. Um guia para atravessar o deserto do desespero, um
pastor para conduzir o rebanho. Mesmo que para garantir esse alívio
tenha que entregar mais uma fatia do seu poder pessoal. Aqui há um
elemento de chantagem bem nítido: “melhor você transferir mais um
pouco dos seus direitos em troca da promessa de um pouco de ordem
no futuro”.

Dadas as razões que explicam a mecânica da centralização de poder


como resposta a um panorama crítico, e sabendo da tendência do
maior engolir o menor diante de situações caóticas, ca fácil entender a
motivação dos poderosos quando fabricam, promovem e perpetuam
crises políticas, econômicas, culturais, morais, etc.

Entre os três aspectos que con rmam a concentração de poder


durante e após uma crise há um denominador comum, bastante
simbólico, que pode ser representado pela derrota dos tão aclamados
ideais democráticos.

No próximo artigo traremos exemplos de cada um destes aspectos e


uma sugestão para resistir a esse processo.

C  
Estamos diante da oportunidade para uma transformação global.
Tudo o que precisamos é a grande crise certa para as nações não
apenas aceitarem a Nova Ordem Mundial, mas implorarem por ela.

— David Rockefeller

C omo vimos no artigo


concentração de poder.
anterior, toda crise gera aumento e

O medo, a insegurança e a opressão da desordem amolecem a


resistência e enfraquecem a defesa aos direitos naturais dos indivíduos.
É da natureza humana reagir diante da instabilidade, daquilo que
destoa do seu cotidiano, como o organismo do marinheiro amador que
reage ao balanço do mar e põe para fora o que ele comeu. O ambiente
instável faz a pessoa buscar um porto-seguro, mesmo que seja preciso
abrir mão de algumas prerrogativas do direito natural. A viagem, para
o marinheiro da analogia, e os direitos, a liberdade e a privacidade para
o povo, que se rende a oportunistas totalitários que instrumentalizam o
pânico para alcançar seus objetivos.

Da mesma forma que o medo e o desejo pela reposição da ordem —


sentimentos quase generalizados em meio a uma crise — abrem
espaços para iniciativas abusivas, também permitem o avanço das
técnicas de controle social em todas as áreas.

Dentre todas as implantações decorrentes da crise covid-19, podemos


dividir em dois grupos, de acordo com as suas conseqüências mais
prováveis.

No primeiro grupo encontram-se as decisões que retiram ou limitam


direitos por meio de mudanças legislativas, os decretos dos poderes
executivos de todas as instâncias, as regulamentações administrativas,
as jurisprudências e as atitudes arbitrárias de pequenos e grandes
tiranos.

Um segundo grupo, mais diversi cado, reúne as iniciativas que


invadem a privacidade para estruturar uma rede que pretende coletar,
classi car e usar as informações privadas para oferecer produtos e
serviços adequados, mas que também permite acessar a movimentação
nanceira e o histórico de navegação na internet, rastrear localização,
monitorar comportamentos e controlar a circulação das notícias por
meio de seleção de fontes. Neste grupo podemos destacar as
tecnologias que, alinhadas com leis e decretos, ultrapassam a linha
entre público e privado, e desta forma alcançam nosso espaço
particular sem a nossa permissão expressa e consciente.

Neste segundo grupo o foco é o controle. Controlar as condutas dos


homens é o objetivo das tecnologias que, ao mesmo tempo, espiam e
manipulam.

A frase que ocupa o epíteto deste artigo, que já virou clichê, traz em
sua essência a idéia de que a turbulência (desordem) causada por uma
crise inicialmente permite o avanço de uma agenda destrutiva e, após o
colapso, fornece as condições adequadas para a instalação de novos
paradigmas (ordem).

O autor do epíteto, membro proeminente de uma das famílias mais


envolvidas no processo de construção desta nova sociedade, com esta
nova ordem, também dizia com freqüência que o mundo, na aurora do
século , já estava “preparado” para um governo global. “Preparado”,
neste caso, pode ter o signi cado do sucesso na criação do ambiente de
governança global por meio da cooptação das instituições, mas
também pode signi car “preparado” para aproveitar as circunstâncias
oferecidas pela crise. Nesta interpretação, estar “preparado” seria
possuir uma estratégia para agir assim que a crise aparecesse.

Dada a agilidade e a profundidade da instrumentalização da covid-


1984, não é preciso muito raciocínio para deduzir a possibilidade —
talvez probabilidade — da existência de iniciativas prontas, guardadas
na gaveta, à espera de uma oportunidade para entrar em ação. Em
outras palavras, aguardando a crise certa para expandir e aprofundar o
controle necessário para a transição para uma nova sociedade.

O verdadeiro poder é a capacidade de atingir seus objetivos por meio


da ação de terceiros. Quanto maior, mais difícil e mais desa ador o
alvo conquistado, maior a demonstração de poder. Também podemos
dizer que o poder real torna-se evidente observando o aproveitamento
das oportunidades oferecidas pela crise que ajudou a fomentar. O
primeiro suspeito, em qualquer crise, sempre é aquele que lucra com
ela. Nesse sentido, não é preciso possuir uma autoridade formal,
delegada ou instituída o cialmente para ser poderoso. Basta conseguir
que as coisas aconteçam e se resolvam de maneira a favorecer os seus
interesses. Se estes forem contrários ao interesse coletivo, bené cos
apenas para o próprio ou para o seu grupo, enfrentarão resistência e
exigirão uma dose cada vez maior na “aplicação” do poder.

Por isso, sempre será necessária uma posição hierárquica que


possibilite a ingerência sobre agentes bem posicionados de forma a
promover ou pelo menos defender determinados interesses. Sem
comprar ou in uenciar administradores, legisladores e julgadores e
toda a camarilha que os acompanha, ca di cílimo carregar bandeiras
opostas ao clamor popular, aos seus desejos e valores.

Não é preciso explicar os casos que se enquadram na primeira


hipótese, a da compra: a corrupção é proporcional ao materialismo e
ao grau de diluição dos valores morais de uma sociedade. A outra
hipótese, a da in uência, pode ser veri cada na cultura que prepara o
terreno para a condução da opinião pública e a para a formação dos
grupos de pressão que vão clamar por atitudes governamentais.

Estamos diante de um momento de transição, onde o conjunto dos


acontecimentos parece con rmar que o controle sobre a população
avança sem aparente resistência e, mais do que nunca, fortalece e
concentra o poder real no mesmo instante que enfraquece os direitos
individuais e, portanto, dilacera a individualidade.

C  
A tirania totalitária não se baseia na virtude dos totalitários, mas
nas falhas dos democratas.

— Albert Camus

N osumaartigos anteriores procurei demonstrar que as turbulências de


crise favorecem a concentração de poder, a ascensão dos
tiranos de todas as estaturas e a aceitação de iniciativas de controle
social que retiram direitos fundamentais dos indivíduos.

Durante uma crise todas as tendências totalitárias eclodem. E depois


dela, caso não enfrente resistência, seus desdobramentos causarão
mudanças profundas nos alicerces da sociedade, de forma a acelerar o
processo de alcançar o controle absoluto tão desejado pelos
megalomaníacos totalitários e pelos idiotas apavorados e
desinformados.

A crise também pode funcionar como um gatilho que expõe as


entranhas da cosmovisão hegemônica de sua época. Muitos elementos
que, apesar de instalados no âmago da sociedade, permanecem na
sombra, nesse momento rompem a na camada que os mantinha
discretos e vêm à luz para mostrar que a transformação que já
começava em silêncio está pronta para continuar em um novo estágio,
muito mais ostensivo.

Após décadas de revolução cultural, com o imaginário coletivo


moldado por iniciativas que prepararam o terreno para a construção
de uma nova civilização, o mundo foi in ltrado pelas idéias
revolucionárias em suas principais estruturas políticas, econômicas,
culturais e sociais.

Quando uma sociedade está adoecendo como conseqüência de um


constante bombardeamento aos seus valores e princípios, o povo
torna-se refém de um processo gradual que muitas vezes só será
percebido quando for tarde demais.

As grandes mudanças que in uenciaram o curso histórico de forma


impactante ocorreram em ciclos — em eventos que criaram saltos —
mas para que eles possam emergir é necessário que a imaginação das
pessoas tolere as iniciativas totalitárias e isso só pode acontecer quando
a guerra cultural alcançou o seu objetivo.

Quando o mundo está prestes a ser transformado, principalmente no


caso de mudanças mais profundas, basta a crise certa para que a
transformação acelere de forma progressiva.

A crise sanitária e econômica que atravessamos tem funcionado como


um estopim para o aproveitamento do momento tenso e para a
instrumentalização de inúmeras iniciativas totalitárias.

Transformar uma sociedade — ou mais que isso, uma civilização —


requer um ambiente preparado e um senso de oportunidade.

Para que as mudanças que eles pretendem implantar sejam aceitas


pela população, a possibilidade da transformação deve estar impressa
no imaginário de cada um dos indivíduos. O povo, mesmo sem
perceber, deve cogitar e aceitar que uma medida totalitária pode ser
uma boa resposta à crise.

Nos últimos meses a população mundial viu seus direitos serem


rasgados pelas várias instâncias administrativas da sociedade. Do scal
aos tribunais superiores, passando por vereadores, deputados, prefeitos
e governadores, ca quase impossível listar todas as atitudes tiranas
que burocratas e poderosos executaram sem muita resistência — seja
da própria população, seja das instituições que deveriam proteger os
direitos e soberanias.

Observando o desenrolar dessa transformação que o mundo


presencia e que se desdobra como conseqüência direta da crise e dos
erros grotescos do seu enfrentamento, torna-se evidente que as nações,
e suas populações, estão sendo conduzidas para transformações não-
solicitadas que, se fossem esclarecidas e divulgadas, seriam fortemente
rejeitadas, pois fora do circuito Leblon–Vila Madalena e longe dos
satélites que orbitam o establishment, ninguém quer mudar a sua vida
jogando no lixo seus valores mais caros.
Como vivemos no Brasil, país que levou ao poder um candidato
odiado pela “classe falante”, que cortou nanciamentos para mídia e
artistas acostumados, há décadas, a sugar dinheiro público, o
aproveitamento da crise também tem interesses partidários
mesquinhos, ou seja, além das mudanças civilizacionais que pretendem
criar uma Nova Ordem Mundial, nós, brasileiros, ainda enfrentamos
uma corja que usa os problemas de saúde e econômicos para anular a
vontade das urnas.

Acredito que o povo, em sua maioria, não está aderindo a esse


pensamento por enquanto, mesmo diante da maior campanha
midiática de nossa história. Para as pessoas normais o mundo precisa
voltar ao que era o mais rápido possível. Esse fetiche de novo normal
só faz sentido na cabeça de megalomaníacos totalitários e seus tiranos
de estimação.

O  
Afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às fábulas.

— 2Timóteo 4, 4

N ostratamos
artigos “Servidão voluntária” e “Senta que o leão é manso”,
rapidamente de dois aspectos comportamentais da
sociedade atual, ambos responsáveis pelo acelerado processo de
deterioração das liberdades e dos direitos naturais dos indivíduos.

A consolidação do totalitarismo, que pode ser observada em


praticamente todas as camadas da nossa sociedade, sempre depende de
algumas condições.

A primeira delas consiste em uma adequação do imaginário aos


interesses ideológicos de determinado grupo. Para implantar um
regime opressor o povo precisa aceitar, pelo menos em um nível
psicológico, que a tirania e os abusos de poder são justi cáveis pelas
promessas da ideologia.

Como segunda condição necessária para implantações totalitárias


podemos incluir a tendência ao consentimento preguiçoso. Essa inércia
pode ser motivada pela acomodação, pela ignorância ou pela covardia.

Apesar de o totalitarismo depender do desejo megalomaníaco do


tirano, que sempre será o maior responsável, em todas as experiências
ditatoriais o povo teve alguma responsabilidade no processo, seja na
sua gênese, seja no seu desenvolvimento ou no seu fortalecimento nas
entranhas da sociedade.

A predisposição para a servidão atua nas respostas às demandas


imediatas do cotidiano, mas também age no imaginário mais
profundo, criando e fortalecendo as bases para a racionalização das
idéias e das informações captadas pela percepção.

Da mesma forma, existe uma tendência a minimizar problemas


incompreensíveis ou insolúveis. Esse comportamento dá espaço para
que burocratas e poderosos passem gradualmente a controlar as várias
instâncias da sociedade, até que passem a tomar decisões privadas em
nome do povo que de uma forma ou de outra transferiu esse poder,
consciente ou inconscientemente.

Considero o hábito da novela um terceiro aspecto dessa equação que


procura re etir sobre as condições que precedem o totalitarismo, a
coluna que faltava para a sustentação dessa mentalidade que não
apenas aceita a submissão, mas se oferece e até clama por ela. Em
outras palavras, a correia de transmissão.

Antes de falar do “hábito”, propriamente dito, não podemos esquecer


o conteúdo pernicioso dos folhetins eletrônicos. A começar pelos
temas, quase sempre irrelevantes, distorcidos ou vulgares, passando
pela estrutura simplista das tramas e pela linguagem aparelhada, as
novelas foram decisivas para moldar o imaginário coletivo e preparar
as mentalidades de forma a facilitar o avanço de idéias revolucionárias
e de projetos totalitários.

Além da in uência social que vai da escolha de nomes para os lhos


às roupas que as pessoas vestem, e do conteúdo estupidi cador, que
rebaixa as capacidades cognitivas e vulgariza a fala, os gestos e o
comportamento, as novelas ainda prestaram outro desserviço: criaram
o “hábito da narrativa”, que condicionou milhões de telespectadores a
transpor para o mundo real o modus operandi da cção.

Como se não bastassem o rebaixamento cultural e moral, a


degeneração do mérito, a bandidolatria, a diluição dos valores e o
controle sobre a moda e a linguagem que foram provocados pelas
peças de cção produzidas sob medida para este m, as novelas
também acostumaram as pessoas com o que podemos chamar de
“roteirização” da vida.

Desde as conversas sobre celebridades até o vício de consumir


informação de maneira absolutamente passiva, a in uência das novelas
foi decisiva para a construção do status quo e do imaginário
deformado que presenciamos. E por conta desse hábito enraizado, que
de tão assimilado já passa despercebido, todas as interlocuções entre as
pessoas tendem a seguir esses cacoetes que tanto contribuem para a
corrosão das soberanias e liberdades. Ou mudamos esse imaginário,
aproveitando o surgimento das mídias independentes e dos novos
canais de comunicação, ou permaneceremos à mercê dos desejos
totalitários.

C  
Os cientistas parecem desfrutar de certa imunidade. O escrutínio
é até tolerado, contanto que venha dos pares.

— Tom Bethel
M uito se pode falar sobre as características ideológicas do
cienti cismo, a idolatria de uma suposta deusa chamada “ciência”,
mas acredito que a observação do panorama atual já é su ciente para
compreender como a coisa funciona e, principalmente, como essa
tendência deve acelerar após o sucesso do experimento social que
atravessamos.

Essa forma de idolatria, além de tornar a comunidade cientí ca


refratária a idéias e interpretações divergentes, ainda ajuda a
empobrecer e infantilizar o imaginário da sociedade, colocando o
cientista como o heróico representante de uma classe de sábios
infalíveis, gurus de moral e ética irrepreensíveis, ou seja, uma espécie
de santo com acesso a um conhecimento transcendente.

A ciência, de forma geral, pode ser descrita como um acúmulo


provisório de conhecimento, um amálgama heterogêneo e dinâmico,
que pode e deve se atualizar e se corrigir constantemente.

Quando a palavra “ciência” é usada como um reforço argumentativo,


um aval para uma narrativa qualquer ou como uma carteirada que
pretende calar o interlocutor, o que ocorre na verdade é uma projeção
mitológica, uma declaração de submissão a uma entidade abstrata que
paira sobre a sociedade.

Ao falar em nome dessa entidade, muitos usam o carimbo “ciência” de


forma simplista e super cial, como se fosse possível reduzir o
permanente con ito entre diversas teses a um pacote fechado e
completo, e como se fosse fácil condensar centenas, milhares de
discussões intermináveis em sentenças unívocas e imutáveis.

O sujeito que usa esse recurso como um porrete — “a ciência diz isso
ou aquilo, portanto você tem que concordar e pronto” — pensa que
assim estará livre de demonstrar o que acabou de dizer, transferindo
essa responsabilidade para a deusa ciência que ele idolatra sem
perceber. Essa transferência de ônus sobre o conhecimento alivia o
ignorante ao proporcionar a sensação de sabedoria por associação.
Devido à covid-19 e alguns de seus desdobramentos (lock-down,
máscara, tratamento, vacina, etc.), nos últimos meses vimos o uso
sistemático desse recurso. Em toda a mídia a palavra “ciência” tem sido
usada como carteirada para calar divergências e até mesmo evitar a
discussão.

Se a prática cientí ca requer abertura total para novas teses, com


desvios, recuos e correções, qualquer tentativa de impedir esse
processo deve ser visto como censura.

A censura que tem ocorrido em nome dessa pretensa instituição


inquestionável mostra como e por que devemos nos preocupar com o
uso indiscriminado desse argumento de autoridade que impede o
debate e, portanto, deve ser entendido como anticientí co.

Estamos em um momento decisivo, onde estão se formando as


jurisprudências e as condições sociais para a criação de uma
tecnocracia, um totalitarismo pseudocientí co, uma pretensa
aristocracia de sábios que pretendem orientar, de forma compulsória,
todas as tomadas de decisão, da mais alta esfera pública a mais íntima
conduta privada.

Os exemplos estão aí, e nem é preciso procurar muito. Da


obrigatoriedade das medidas restritivas ao passaporte sanitário, da
proibição de medicamentos à remoção de postagens e contas das redes
sociais, são vários os casos que ferem os direitos naturais dos
indivíduos e são justi cados pela submissão à deusa ciência.

Como o imaginário de muitas pessoas já foi moldado de acordo com


esse conceito de ciência como um simulacro de religião, a justi cação
de atos totalitários em nome da “ciência” se tornou clichê e prática
comum da imprensa e da academia.

Se essa tendência permanecer, caminhamos para uma sociedade de


castas, com uma delas formada por sacerdotes infalíveis que decidem
leis, investimentos e até as substâncias que devemos ingerir.
A   

T odo totalitarismo começa pela linguagem. A transformação dos
sentidos e signi cados e o uso sistemático de palavras e expressões
calculadas para in uenciar mentalidades e, desta forma, preparar o
ambiente para futuras decisões totalitárias, sempre esteve presente no
desenvolvimento de regimes ditatoriais.

O movimento revolucionário depende dessa estratégia para fortalecer


suas posições, mascarar suas intenções e avançar a sua agenda. Foi
assim na União Soviética, que inicialmente instrumentalizou a
insatisfação popular com o czarismo por meio de palavras de ordem
concatenadas de maneira a formar um imaginário antimonárquico; foi
assim na Alemanha de Hitler, que inicialmente desumanizou a imagem
dos judeus para que no momento adequado a população estivesse
su cientemente dessensibilizada a ponto de aceitar a repressão, a
perseguição, os campos de concentração e a “solução nal”. E se
analisarmos com atenção o desenvolvimento de todo regime totalitário
iremos encontrar esse mesmo modus operandi.

A manipulação da fala tem o objetivo de preparar o terreno para a


escalada totalitária, pois com a linguagem aparelhada ca mais fácil
subverter toda estrutura política e cultural de uma sociedade.

Estamos presenciando essa prática mais uma vez. E agora com um


agravante derivado do aperfeiçoamento do método. Esse
aperfeiçoamento diz respeito ao foco do aparelhamento. Se antes o
ataque à linguagem era algo exclusivamente externo, atualmente vemos
essa pressão se originar de dentro pra fora.

Nas experiências totalitárias do século  a opressão partia de agentes


políticos e mirava os indivíduos e o ambiente social, seja pelo
convencimento e persuasão em variados níveis, seja pela obrigação
legal ou por meio da força bruta. Hoje temos o próprio sujeito como
alvo e emissor do ataque ao mesmo tempo.

Desde o advento do politicamente correto uma nova forma de


instrumentalização da linguagem tem facilitado o trabalho daqueles
que pretendem construir um ambiente que permita a implantação de
uma agenda totalitária.

Esse processo, que pode ser representado pelo patrulhamento de toda


e qualquer palavra proferida em público, se desenvolve e se instala na
sociedade de forma a penetrar cada conduta e cada mentalidade,
terminando por internalizar como sentimento imperceptível que se
revela em cada comportamento e em cada raciocínio.

Com o patrulhamento internalizado, passamos a estudar cada termo


utilizado, reprimindo, substituindo ou inovando o vocabulário com o
objetivo de adequação a um “padrão” supostamente “aceitável”, para
evitar con itos ou para agradar determinada tendência ideológica —
visível ou camu ada.

Diante da ameaça, velada ou ostensiva, de uma punição ou de


qualquer forma de represália, passamos instintivamente a reprimir a
nossa fala, calculando cada termo na esperança de assim conseguir
passar a mensagem sem sofrer as conseqüências, na maioria das vezes
imaginárias.

Quando passamos a obedecer a essa patrulha abandonamos a


espontaneidade e então toda comunicação torna-se arti cial, criando
um discurso vazio, apenas aparentemente coerente, revestido de uma
camada que mescla super cialidade, imprecisão e cinismo.

A censura quase sempre extrapola o indivíduo censurado e in uencia


decisivamente o comportamento de todo o seu entorno. Por medo ou
por preguiça intelectual, muitos abandonam o foco e a essência
original da expressão livre e independente, e com isso o objetivo de
informar transforma-se em ato hipócrita, vazio e inócuo.
Nesse sentido, podemos dizer que a censura atinge o âmago de toda
sociedade e funciona como uma graduação do terrorismo, que atinge
seu objetivo quando alcança um círculo muito maior do que a área
atacada. Além das vítimas diretamente alvejadas, ainda espalha o medo
que vai reprimir e intimidar muito mais pessoas.

Décadas de politicamente correto prepararam o ambiente para a


transformação que estamos presenciando. Se antes o medo da censura
estava diretamente relacionado a alguma punição, agora esse pavor já
faz parte da psique e não depende tanto dessa pressão externa.

A autocensura, originada por essa tentativa de adequação a um


padrão estabelecido pelo ambiente social, pelos agentes repressores ou
simplesmente pelas “normas da comunidade” apregoadas pelas
plataformas das redes sociais, além de funcionar como o terror
atenuado e diluído, ainda perverte a própria personalidade ao esmagar
a individualidade, corroer a segurança e a con ança nos sentidos e na
capacidade de percepção da realidade. E a normalização da
autocensura serve também de termômetro para a observação do
ambiente que vivemos, tanto pelos aspectos sociais, quanto pelos
psicológicos.

Embora a manipulação da linguagem di culte a disseminação de


informações verdadeiras e relevantes, ela sempre oferece uma
oportunidade para a previsão dos próximos passos.

Como sabemos que esse processo costuma anteceder a censura


radical e a perseguição, podemos deduzir que estamos avançando
rapidamente, e sem qualquer chance aparente de retorno, para um
mundo cada vez menos livre, com uma linguagem cada vez menos
precisa e signi cativa, e com pessoas cada vez mais inseguras e frágeis,
dispostas a reprimir suas palavras e idéias e a aceitar qualquer
iniciativa totalitária.
T    
A grande mídia, parte visível do establishment que engloba o
jornalismo mainstream, o entretenimento e a indústria cultural
mais popularesca, costuma oferecer os subsídios necessários para a
dedução dos objetivos não-declarados daqueles que pretendem
controlar os rumos da sociedade. Para quem lê as entrelinhas do uxo
de informações oriundas desses centros emissores, a observação do
comportamento desses agentes pode esclarecer o panorama, prever os
desdobramentos mais prováveis e ajudar a de nir as melhores
maneiras para enfrentar os graves problemas que apontam no
horizonte.

Como vimos em um artigo anterior, a formação da mentalidade


burocrática transformou o ambiente e proporcionou o surgimento de
inúmeras possibilidades para o fortalecimento dos poderes instituídos
e para a fragilização das liberdades individuais.

Seja por permitir a ação direta dos agentes estatais, seja pela
exacerbada valorização daqueles que ocupam posições de destaque no
debate público — principalmente pelos que foram alçados a um
patamar acima dos próprios méritos — a mentalidade burocrática
tende a transferir o poder decisório para pseudo-representantes que se
aproveitam desta posição privilegiada para avançar uma agenda quase
totalmente contrária aos anseios da maioria da população.

Essa transferência de poder leva inapelavelmente a uma concentração


dos meios de ação nas mãos dos membros mais aparentes do
establishment, em especial, a mídia e os burocratas incrustados na
máquina pública.

Além da judicialização do cotidiano, conseqüência direta e inevitável


do fortalecimento do estamento burocrático, essa transformação no
imaginário acarreta também outras mudanças na sociedade. Essas
inovações, apesar de graduais e muitas vezes imperceptíveis para os
mais distraídos, tendem a provocar profundas inversões nos valores e
princípios que regem o convívio entre as pessoas.

Ao abrir a possibilidade para implantações de iniciativas que visam o


aumento e a concentração de poder, a transferência das decisões para
os agentes do establishment — públicos ou privados — leva a uma
normalização das arbitrariedades e, pior ainda, a um achatamento da
capacidade decisória da população, que passa a aceitar cada vez mais a
intromissão nos aspectos mais íntimos das suas vidas.

Quando instalada na sociedade, essa mentalidade acaba levando a


uma diminuição da resistência aos ataques à privacidade e às
liberdades elementares que compõem os direitos naturais dos
indivíduos, primeiramente a de expressão e por m a de ir e vir.

Esse processo, que carrega na sua essência todos os elementos do


totalitarismo, mesmo que disfarçados, começa na linguagem. Como
sempre acontece com as pautas que têm por objetivo impor os novos
valores necessários à construção de uma nova civilização, de uma nova
ordem, a formação da mentalidade burocrática que permite o ativismo
judicial e o controle progressivamente opressivo das condutas
individuais teve início com a deturpação do uso e da própria essência
da linguagem e da comunicação.

A distorção das palavras e expressões, que surge em paralelo com o


relativismo, foi turbinada com o advento do politicamente correto. Esse
patrulhamento constante acostumou o povo a obedecer critérios pouco
claros e a abandonar suas próprias percepções da realidade, criando,
desta forma, o hábito de silenciar diante de proposições
diametralmente opostas às suas convicções. Em outras palavras, por
medo da patrulha, por uma necessidade de pertencimento grupal ou
por preguiça intelectual, as pessoas passaram a seguir um caminho
cujo destino pode ser resumido na consolidação do poder coletivo e
submissão da individualidade. E é aí que mora o perigo.

Conduzir uma mente coletivizada é sempre mais fácil e rápido que o


convencimento individualizado, que costuma ser mais trabalhoso
porque enfrenta idéias espontâneas e originais, quase sempre orgânicas
e heterogêneas, pois são baseadas apenas na percepção e no histórico
de cada um.

Quando a grande imprensa começou a rotular quem pensa diferente


usando palavras ou expressões do tipo “fascista”, “nazista”,
“obscurantista”, “discurso de ódio”, “fake news”, estava dando o start
para algo muito mais grave. Ao nomear ou acusar de forma subjetiva
aqueles que o establishment considera seus adversários intelectuais —
ou mesmo como “inimigos” — com termos objetivamente malignos, a
mídia estava colaborando com uma agenda, ou seja, estavam
preparando terreno para os seus próximos movimentos.

Após de nir os seus alvos e adesivar as personalidades com rótulos


cada vez mais pejorativos, foram dessensibilizando a população de
forma a justi car as iniciativas futuras, que assim podem ocorrer sem
resistência e até mesmo com comemorações.

Estamos assistindo as conseqüências nefastas dessa “rotulagem”. Com


base nessas acusações marteladas pela mídia ad nauseam, toda e
qualquer invasão à privacidade passou a ser vista como natural, e
qualquer atropelo a direitos fundamentais, como a presunção de
inocência e a liberdade de expressão, tornou-se não apenas aceitável,
mas necessário e bené co para o conjunto da sociedade.

A resistência a esse processo, que já está em uma etapa avançada e já


apresenta seus desdobramentos esperados, constitui hoje uma das mais
importantes tarefas para aqueles que pretendem defender as suas
liberdades. Desarmar essa bomba que está no colo de todos nós é
condição sine qua non para a existência de uma sociedade
minimamente livre.

O    


V ivemos o império da mentira. Para quem ainda não percebeu, toda
a cultura atual está baseada ou pelo menos bastante in uenciada
pela ausência de compromisso com a verdade.

Essa dissonância entre fato e narrativa, entre realidade e interpretação


hegemônica possui como principal característica a possibilidade de
favorecer a manipulação da sociedade. Ou seja, obedece a uma lógica e
a uma intenção, não acontece por mera casualidade.

Assim como em qualquer ação dissimulada, que pretende alcançar


um objetivo não-declarado, a diluição do senso de verdade e realidade
tende a se alimentar de si mesma, criando um acúmulo de informações
distorcidas que se sustentam, se justi cam e preparam o terreno para
futuras dissimulações.

O objetivo desse processo de esvaziamento do compromisso com a


verdade pode ser simpli cado da seguinte forma: tornar a sociedade
vulnerável ao discurso dominante, facilitando a transformação social
desejada por aqueles que planejam e pretendem criar uma nova
civilização, ancorada em novos princípios e valores, geralmente
opostos àqueles que regem a sociedade e que foram cristalizados ao
longo dos últimos dois milênios.

Nossas heranças civilizacionais, a loso a grega, a moral judaica e o


direito romano foram aperfeiçoadas pelo cristianismo, não apenas em
suas concepções religiosas ou espirituais, mas também nas
características sociais e culturais de todo o Ocidente. E como o
cristianismo está ancorado na Verdade, com v maiúsculo, a distorção
do dever moral que ordena a busca pela exata descrição da realidade é
uma iniciativa revolucionária e, portanto, altamente destrutiva.

Da mesma maneira que a inversão de valores mudou a concepção da


cultura e até mesmo da moral, a independência das opiniões e
interpretações cada vez mais descoladas da realidade tornaram o
homem moderno refém das pessoas e instituições que controlam os
aparatos da comunicação e, portanto, do discurso público.
Essa situação não é nova. A mentira convive com a humanidade
desde o Paraíso, quando seu pai, o Diabo, que tem entre seus truques
ngir que não existe, usou dessa “sutileza” para prometer um benefício
futuro em troca de conseguir das suas vítimas a desobediência ao Deus
Criador. Acontece que hoje a situação se agravou. O Diabo continua
ocultando sua inexistência, mas agora uma parte considerável da
população perdeu a capacidade de perceber a ação diabólica envolvida
em cada mentira, mesmo quando o rabo e os chifres estão bem visíveis.

A sociedade materialista moderna tornou-se pragmática e niilista,


deixando de lado conceitos como moral e ética, substituindo-os por
uma teia de aparências que pouco a pouco afasta de nitivamente o
sujeito da realidade, tornando-o presa fácil dos manipuladores.

Como o objetivo é acostumar as pessoas com a mentira, ou, pelo


menos, diminuir a importância e a responsabilidade individual com
essa questão, o compromisso com a Verdade passa a ser gradualmente
abandonado e esquecido. Desta forma, o caminho para transformar a
sociedade de acordo com interesses nem sempre declarados ca muito,
muito mais fácil.

Desde que o conceito de pós-verdade (como eufemismo para


mentira) passou a circular com mais intensidade, toda a sociedade
passou a aceitar com mais passividade qualquer narrativa, desde que
bem estruturada e validada pela classe falante, pelos chamados
“especialistas”, aqueles que falam por todos.

A linguagem, aliás, que está completamente corrompida por


relativismos e pelo politicamente correto, funciona como alicerce e
ferramenta para todas as iniciativas revolucionárias, por isso toda e
qualquer conduta humana foi comprometida. É nesse sentido que eu
rea rmo que vivemos sob o império da mentira.

Em um mundo que parece caminhar para o controle total sobre a


circulação de informações, onde palavras são proibidas e os consensos
são forçados de cima para baixo, as narrativas o ciais não poderão ser
nem mesmo questionadas, sob pena de isolamento ou punição.
Não é muito exagerado dizer que, se nada mudar o rumo das coisas, a
liberdade de expressão e, mais ainda, o direito de compreender a
realidade carão apenas na memória, e um grupo de bilionários e seus
capangas passarão a decidir o que é certo ou errado, o que é justo ou
injusto e o que é mentira ou verdade — vide os “sovietes de checagem”,
que já estão atuando como censores universais.

Voltaremos ao assunto no próximo artigo.

O     —


 
N odosartigo anterior iniciamos uma análise sobre o m da importância
fatos e a conseqüente dissonância entre o real e a sua
interpretação.

As narrativas que independem da realidade, a pós-verdade, a


supervalorização e a glamourização da opinião são desdobramentos
diretos e inevitáveis do relativismo e do politicamente correto.

O relativismo surge como um amálgama de pequenos gestos que


pareciam libertadores, mas que, com o tempo, tornaram-se
instrumentos avassaladores a serviço da mentira e da covardia. Para
aliviar a consciência de pessoas inseguras e intelectualmente frágeis,
desviar de um confronto discursivo pode parecer uma espécie de
liberdade e até mesmo de independência, mas o seu desenrolar sempre
leva a becos sem saída, e até mesmo questões aparentemente banais
transformam-se em imensos problemas insolúveis. Em outras palavras,
relativizar tende a problematizar o desnecessário, sem oferecer
qualquer possibilidade de solução — se nada é absoluto, nem mesmo
esta sentença pode ser.
No início o politicamente correto se apegou a esse mesmo princípio
falsamente libertador, e apoiado em aparentes substituições justas e
solidárias, foi ocupando espaço no debate público, nas conversas
privadas e por m na mente das pessoas.

Quando começaram a substituir termos pejorativos por eufemismos


aparentemente mais leves e inofensivos, muitos foram iludidos com as
promessas implícitas de um convívio mais harmonioso entre as
pessoas. Era até natural, já que os propagadores desta ferramenta
relativista usaram como navio quebra-gelo algumas expressões que
poderiam, de fato, incomodar ou até mesmo ofender profundamente
os alvos. Trocar “aleijado” por “de ciente”, por exemplo, não parecia
algo errado, muito menos socialmente corrosivo como o politicamente
correto se comprovou no decorrer do tempo.

Relativizar a linguagem, no entanto, foi o passo decisivo para que


pudessem avançar uma agenda muito, muito mais ampla. Sem uma
linguagem aparelhada é impossível implantar decisões contrárias aos
desejos da maioria. Junte a isso outros itens de uma longa lista de
iniciativas pontuais aparentemente desconexas, todas elas colocadas
em prática de forma gradual e acumulativa, e teremos o terreno
preparado para as transformações sociais desejadas por aqueles que
querem mudar a nossa sociedade de uma forma nunca antes vista. É
nesse ponto que nos encontramos.

O terreno foi preparado para que as iniciativas, por mais invasivas e


até mesmo absurdas que sejam, entrem em circulação de forma rápida,
com naturalidade e sem enfrentar qualquer resistência.

Com a linguagem já aparelhada, ca muito mais fácil aprovar


medidas indesejadas pela população, assim como aquelas que se
mostram restritivas à liberdade e à privacidade. A língua, quando
deturpada a ponto de diluir a relação contida no signo — signi cado e
signi cante —, permite a eliminação do referente e, portanto, a
dissolução do sentido lingüístico, da conexão entre o sujeito e o objeto
da percepção, tornando o real indistinguível do imaginário. Ou seja, o
objetivo é substituído pelo subjetivo, o que sempre interessa a quem
controla o discurso — ao “poder”.

Esse fenômeno, que já está bem avançado, pode ser visto em todos os
lugares e em todas as instâncias da nossa vida. De tão enraizado no
imaginário coletivo, passou a ser o padrão das relações humanas,
causando furor toda vez que é quebrado por alguém que percebe a
loucura se instalando na fala, na educação e até mesmo nas mais
simples regras cotidianas. Quem não se deparou com frases que,
mesmo sem um sentido objetivo, são repetidas à exaustão? “A verdade
não existe, mas aceite essa sentença como absolutamente verdadeira”.

Podemos pegar como exemplo as atuais perseguições que se dão no


campo ideológico. Durante muito tempo martelaram a opinião pública
com expressões do tipo “fake news”, “discurso de ódio”, sempre
acompanhadas de adjetivações forçadas e rotulagens que, embora
grosseiras e super ciais, tornaram-se tão naturais a ponto de preparar a
mente das pessoas diante da censura e da opressão.

Quando remetemos esse estado de coisas a um quadro mais amplo


percebemos que esse processo já chegou às mais variadas áreas,
inclusive e principalmente a jurídica e a legislativa. Basta um olhar
atento ao discurso político cotidiano e ca evidente o caminho
desastroso que estamos traçando, com leis e operadores do direito
embriagados por essa relativização da linguagem. Nem é preciso ser
muito esperto para identi car esse pântano que nos aguarda caso nada
seja feito — e agora.

Continuaremos no assunto no próximo artigo.

O     —


 
C ontinuando a análise iniciada nos capítulos anteriores, acho
importante destacar que os dois pontos mais in uentes desse
fenômeno que dá nome a esta pequena série de artigos estão
intrinsecamente ligados, e juntos são responsáveis por inúmeras
modi cações no nosso cotidiano.

A deterioração da linguagem, causada pelo relativismo e pela


onipresença do politicamente correto, possui uma relação umbilical
com alguns elementos da legislação e da prática judicial, e estes, por
sua vez, são responsáveis diretos pelo ambiente de insegurança jurídica
que, longe de atingir apenas processos e operadores do direito, está
enraizado em toda a sociedade e alcança os mais variados aspectos da
nossa conduta, desde os mais complexos problemas na área jurídica,
até a autocensura causada pelo patrulhamento da linguagem, passando
pela desestabilização dos investimentos e a incerteza generalizada que
acaba por causar a instabilidade emocional das pessoas.

Antes de avançar um pouco, de uma exposição mais teórica para


exemplos práticos, será preciso outra regressão.

Quando essas transformações causadas pela relativização no uso da


linguagem começaram a se espalhar, durante as décadas de 1970 e
1980, o Brasil passava por profundas mudanças no panorama político,
e elas passaram a in uenciar também o campo social e cultural da
nossa sociedade.

O politicamente correto chegou ao Brasil, ainda de forma quase


imperceptível, em uma época que o país transitava de um regime
militar para a chamada “abertura”, que consistia em uma mudança
política declaradamente “planejada”, ou, nas palavras do próprio
presidente Ernesto Geisel, um processo “lento, gradual e seguro”. Essa
expressão, que estava em todos os lugares e conversas, criou no
imaginário popular uma espécie de promessa de “novo mundo”. O
senso de “novidade”, aliás, povoava a imaginação das pessoas e um
idealismo esperançoso parecia imbatível e inevitável.
Junto com a chegada da “Nova República”, surge também um desejo
— aparelhado pelas ideologias —, de discutir, escrever e promulgar
uma “Nova Constituição”, um “novo conjunto de regras” para permitir
a construção de um “novo país” — qualquer pesquisa em jornais da
época con rma essa aparente sede pelo “novo”.

Com a Assembléia Nacional Constituinte de 1987, instaurada no


início do ano, em 1o de fevereiro, como conseqüência da Emenda
Constitucional no 26, de 1985, o parlamento prestigiou duas
características embutidas nos discursos ideológicos que já ganhavam
repercussão e caminhavam para a hegemonia cultural: o “detalhismo” e
a ambigüidade.

Por um lado, parlamentares insistiam em colocar absolutamente tudo


na carta, na esperança autoritária ou ingênua de criar um conjunto de
leis capazes de resolver todos os problemas do país, do mundo e do
universo, se possível. Por outro, e como conseqüência indireta do
primeiro, a nal não é possível abarcar todas as condutas humanas em
uma constituição sem resvalar no totalitarismo, deixaram brechas para
múltiplas interpretações em praticamente todos os artigos. Tudo isso
ocorre sob a in uência desse imaginário distorcido pela idolatria da
novidade e pela relativização da linguagem que já circulava entre a
classe pensante — e falante, principalmente.

Essas duas características, o detalhamento exagerado e a corrupção da


linguagem que permite compreensões completamente diferentes e até
mesmo contraditórias de um mesmo artigo, abriram caminho para
decisões tão díspares que acabam por transferir o poder para aquele
que julga, independente do texto da lei.

Acrescente a esse imbróglio um movimento internacional a favor de


interpretações alternativas como o “garantismo penal” e o
desencarceramento, por exemplo, e teremos um terreno fértil para a
insegurança jurídica, para injustiças ululantes como as prisões de
trabalhadores e a soltura de assassinos e estupradores — às vezes no
mesmo dia! — além de inúmeras outras arbitrariedades e aberrações
que constatamos diariamente desde o início da gripe chinesa.

No próximo artigo continuaremos no assunto.

O     —


 
O sartigos
exemplos que con rmam as re exões registradas nos últimos três
estão em toda parte. Basta um olhar atento às manchetes
do dia, às hashtags da moda e no discurso dos emissários do
establishment e repetido à exaustão por suas caixas de ressonância (ou
papagaios) para perceber que essa perfeita homogeneidade, em um
momento de tamanha incerteza e clara confusão, só é possível de ser
entendida quando aceitamos que existe uma narrativa combinada
previamente ou, no mínimo, ajustada de acordo com o andamento de
uma ampla estratégia existente e que procura dissimular ou ocultar
interesses não-declarados, de forma a camu ar objetivos em uma
roupagem de consenso inquestionável.

Demonstrar essas narrativas e sua incompatibilidade com os fatos


nem é tão difícil, dada a enxurrada de casos emblemáticos que podem
ser encontrados em qualquer recorte que se faça nas notícias
cotidianas, em especial naquelas que ocupam a fala das celebridades
políticas e “culturais”, e que constantemente ganham mais destaque na
grande mídia.

Antes, vale um reforço na re exão acerca da linguagem. O uso das


mesmas palavras e expressões normalmente revela um vínculo, mesmo
que involuntário, entre aqueles que a proferem consciente ou
inconscientemente. A escolha sistemática dos termos coincidentes
costuma revelar uma intenção, e neste caso, parece claro e cristalino
que intencionam criar rótulos que em seguida serão usados para
dessensibilizar e justi car qualquer atitude por mais arbitrária ou
inconseqüente que seja.

Rótulos como “negacionista”, “obscurantista” e até “terraplanista” têm


sido repetidos com tanta freqüência e constância que apenas ingênuos
podem acreditar em coincidência. Diante de um mutualismo tão
evidente, não é possível aceitar a espontaneidade como explicação.
Sendo ainda mais direto: tem que ser muito burro para não perceber
que uma fala tão homogênea consiste em um método dissimulado para
manipular a mente das pessoas, uma ferramenta para in uenciar o
imaginário da sociedade de forma subliminar, por meio de gatilhos
emocionais.

A observação da linguagem permite ampliar a compreensão do


quadro geral, e muitas vezes também torna evidentes as intenções
ocultas, quase sempre encobertas porque obscuras. Perceber a sintonia
entre as narrativas dos vários agentes ainda traz outros resultados:
expõe a dissimulação porque torna visíveis as diferenças entre fato e
narrativa, e fortalece a capacidade de deduzir aquilo que não é
declarado.

Podemos pinçar exemplos que evidenciam a desimportância dos fatos


diante das poderosas narrativas. Em cada área da vida cotidiana é
possível identi car casos representativos.

Vejamos três deles: 1. No ambiente jurídico, talvez um dos mais


importantes devido aos desdobramentos que acarreta, ca evidente
como até mesmo o que está registrado claramente na constituição tem
sido superado por uma narrativa pueril: um inquérito ilegal, que une
vítima, investigador e julgador em um mesmo agente, e que se justi ca
usando os rótulos prede nidos, foi responsável por inúmeras
arbitrariedades e permanece intocado.

2. Os “veri cadores de fatos” (que eu chamo de sovietes de checagem)


se consideram censores universais inquestionáveis e estão censurando
milhares de pessoas sem uma autorização constitucional. Tudo em
nome de uma suposta proteção contra os rótulos criados por eles
mesmos ou por seus contratantes.

3. No contexto da pandemia, os casos são ainda mais gritantes e se


dividem em dois grupos. No primeiro, inúmeras pessoas estão
sofrendo na carne as decisões arbitrárias e inconstitucionais de
tiranetes irresponsáveis e cruéis, mas toda argumentação contrária ao
discurso do establishment é silenciada e até mesmo punida com base
na acusação genérica de “negacionista”, mesmo que amparada por
estudos e dados empíricos que demonstram sua completa ine cácia. O
segundo grupo, talvez ainda mais signi cativo e que deveria chamar a
atenção de todos, reúne as inúmeras — porém idênticas — narrativas
que nem sequer permitem a discussão aberta sobre o tratamento
precoce ou preventivo. Dezenas de estudos, milhares de depoimentos
de pacientes e médicos são simplesmente ignorados em nome daquilo
que ignorantes ou mal intencionados chamam de “ciência”. No mesmo
instante, e em nome desta mesma entidade abstrata, estes mesmos
agentes e seus papagaios repelem qualquer dúvida ou questionamento
sobre vacinas — que pelos parâmetros cientí cos cristalizados ao longo
das últimas décadas, ainda deveriam ser consideradas experimentais,
dado o reduzido tempo de desenvolvimento e testes. A verdadeira
ciência, que consiste no acúmulo provisório de conhecimento, e que
prevê um con ito permanente de teses, foi completamente abandonada
e hoje seu simulacro tornou-se um porrete narrativo para calar
qualquer divergência. Em outras palavras, virou anticiência.

Estes exemplos, no meu entender, possibilitam a compreensão do


avanço desse perigoso processo de substituição dos fatos pela narrativa
mais in uente, o que certamente vai trazer inúmeros transtornos para
a sociedade, desde a concentração de poder que prepara o terreno para
o totalitarismo, até a implantação da loucura generalizada de toda a
população.

Se essa marcha não for parada de alguma forma, bem-vindo ao


hospício.
A   
A civilização ocidental foi construída sobre alicerces bem de nidos e
facilmente observáveis. Um arranjo entre tradições herdadas de
sociedades mais antigas, aprimoradas por elementos introduzidos pelo
cristianismo.

Dos gregos herdamos a loso a, as noções de lógica e as distinções


entre física e metafísica. Os romanos nos emprestaram a sua
organização social, o direito e algumas estruturas governamentais. E a
moral cristã preencheu estas “formas”, dando a elas o conteúdo copiado
ou deduzido das Escrituras, sob o prisma dos evangelhos e das cartas
que O anunciaram.

Mesmo pertencendo a diferentes categorias, as três principais


in uências da nossa formação social possuem um aspecto em comum:
a importância do herói.

Na Grécia Antiga existia um conjunto de iniciativas pedagógicas,


culturais e morais, a Paidéia, que visava formar o cidadão honrado, leal
e capaz de exercer as suas funções visando o bem comum e a elevação
pessoal, seja para melhorar sua relação com a cidade e os seus
semelhantes, seja na busca pelo transcendente. Em Roma existiu algo
parecido. Embora mais pragmática, a Humanitas Romana também
tinha o objetivo de ensinar e promover hábitos e comportamentos
considerados adequados à vida em sociedade. Muito além da educação
convencional, que era apenas uma parte do amplo aparato de
formação, a Paidéia e a Humanitas buscavam inserir, nos indivíduos e
na cultura, os traços de caráter e personalidade encontrados nos heróis
da história e das mitologias. É verdade que bem antes das cidades
gregas e romanas já existia a gura do herói in uenciador da
sociedade, como podemos ver na Epopéia de Gilgamesh, o poema
épico encontrado na Mesopotâmia, em escrita cuneiforme, a mais
antiga que se conhece. Gregos e romanos, no entanto, elevaram a
posição do herói a um novo patamar ao incluir as narrativas de
Homero e o pensamento de homens como Cícero como norteadores
da cultura de toda a sociedade. A aprovação social estava diretamente
relacionada à imitação da coragem, da honestidade intelectual e
retidão moral de pessoas como Aquiles e Heitor, para os gregos, e do
soldado exemplar, para os romanos. E até mesmo os erros e os defeitos
dos heróis eram aproveitados como exemplos no aprendizado.

A importância do herói também pode ser observada com muita


clareza nas Escrituras, e de forma ainda mais impactante, tendo em
vista que vários personagens vencem desa os aparentemente
intransponíveis, que só poderiam ser superados com alguma ajuda
divina. No Velho Testamento, por exemplo, Deus escolhe os
improváveis Moisés, para liderar o povo hebreu, e Davi, para vencer
Golias.

Nos Evangelhos temos um salto. A narrativa não trata de mais um


herói, mas do herói máximo, que alcança todas as possibilidades
humanas e as supera de maneira até mesmo incompreensível. E às
virtudes heróicas acrescenta as qualidades divinas da Onipresença,
Onipotência e Onisciência. Inspirado na gura de Jesus Cristo, o
Ocidente expande a idéia do heroísmo e preenche a forma dos antigos
com o conteúdo mais profundo dos Evangelhos: fé, esperança e
caridade.

Se a presença do herói no imaginário de uma sociedade in uencia o


ambiente cultural, parece claro que o per l destes personagens deve
contribuir para a formação dos ideais e dos limites de conduta desta
sociedade. E como é neste ambiente que são moldadas as mentalidades,
todas as decisões, coletivas ou privadas, estarão sob a in uência do
caráter do herói.

Substituir os heróis tem sido algo comum ao longo da história.


Personagens e idéias sempre são trocados por representantes ou
representações de virtudes desejadas por um determinado zeitgeist.3
Na Alemanha nazista foi assim, no socialismo foi e é assim. Todo
totalitário precisa recriar o ambiente cultural, para gravar no
imaginário o novo conjunto de idéias, a ideologia. Como não há
instrumento imaginativo mais e ciente do que as narrativas heróicas, a
substituição dos personagens costuma ser uma das iniciativas mais
usadas pelos movimentos revolucionários. Exatamente por esse motivo
o culto à personalidade não é simplesmente uma atitude vaidosa e
megalomaníaca, mas consiste em um elaborado ato político
estratégico, com alcance cultural e psicológico, e por isso mesmo foi e é
incentivado por todos os ditadores, de Hitler, Lênin, Stálin e Mao, a
Fidel, Pol Pot e Kim Jong-un.

Infelizmente as iniciativas que visam trocar os heróis e os conceitos de


heroísmo não se restringem às narrativas visíveis e declaradas. Muitos
elementos mais complexos ou mais sutis fazem parte desse conjunto de
instrumentos utilizados para moldar o imaginário, seja para construir
novos paradigmas, seja para desconstruir os anteriores — que devem
ser destruídos para possibilitar a sua completa substituição.

São inúmeros os exemplos de iniciativas que pretendem criar um


ambiente propício para o surgimento de novos heróis no imaginário:
dos mais gritantes, como os incontáveis lmes, revistas e desenhos de
super-heróis do tipo Marvel e  Comics aos mais discretos, como os
discursos recheados de conceitos de despersonalização, que desprezam
a personalidade individual e real e elogiam tudo que é coletivo e
abstrato, como ideologias e partidos.4

No Brasil a desconstrução da imagem dos heróis nacionais já ocorria


na Proclamação da República. Personalidades ligadas de alguma forma
à monarquia foram esquecidas ou tiveram suas biogra as distorcidas.
O relato dos heróis antigos passou a ser gradativamente ignorado nos
registros, no debate público e nas escolas. Até mesmo a simbologia que
restava nas cédulas foi perdida: os rostos dos grandes homens que
construíram a nossa história foram substituídos por plantas e animais,
em uma espécie de idolatria pagã. Ao mesmo tempo, enquanto
ignoravam o passado real e assassinavam a reputação daqueles que
construíram a nossa nação, passaram a valorizar os anti-heróis,
inicialmente os cafajestes, depois os marginais — aqueles que estão à
margem, como queria Herbert Marcuse e outros autores da Escola de
Frankfurt. Por m, trilhando esse caminho por muitas décadas,
chegamos à bandidolatria5 dos nossos dias, que também pode ser
entendida como o estágio nal da completa inversão dos valores.

A substituição dos heróis é um ato revolucionário6 que procura criar


um novo imaginário, de forma a substituir também os parâmetros que
norteiam a sociedade e a alma do indivíduo. Resistir à revolução
cultural em marcha requer a restauração dos heróis, em especial o
herói máximo, Nosso Senhor Jesus Cristo.

S,     


Aquela história do sujeito que tinha apenas três neurônios — o
de emissão, o de recepção e o de bloqueio geral — já se tornou
demasiado complexa para ser verdade.7

— Olavo de Carvalho

D esituação
onde vem a mania brasileira de ngir normalidade diante de uma
ameaçadora? Na verdade, nem posso dizer que o
fenômeno (transtorno) seja eminentemente brasileiro, pois nunca
pesquisei esse aspecto do tema, mas é evidente que essa maneira de
agir em desacordo com a realidade é algo bem fácil de perceber no
nosso cotidiano. Reagir sem a devida proporção exigida pela
circunstância é tão brasileiro quanto a cachaça. E ambos entorpecem.

E como sei que uma cultura devastada favorece reações


desproporcionais, descon o ser essa a explicação para que a
recorrência desse tipo de comportamento seja bastante natural por
essas bandas. De qualquer forma, seja tupiniquim ou universal, esse
senso descalibrado das proporções, quando diante de um desa o mais
sério, costuma ofuscar a interpretação e limitar ou distorcer a
capacidade de reagir de forma pontualmente adequada. Esse
comportamento tem colaborado decisivamente para a manutenção do
ambiente opressor que cresce seguindo uma tendência.

A expressão que dá título a este texto, até onde sei, tem origem em
uma piada antiga, que não me atrevo a contar, e que ouvi várias vezes
contada por meu pai, que sempre ria enquanto contava, antecipando o
nal dramático e explosivo. Mais tarde ouvi Olavo de Carvalho usando
a piada e a expressão para de nir a tentativa sempre frustrada de usar o
ngimento, o disfarce como forma de esconder o pavor, o desespero e a
total sensação de impotência. Nesse contexto a frase ganha precisão
cirúrgica para descrever o comportamento típico de quem, ao se
deparar com uma realidade apavorante, precisa externar uma falsa
aparência de normalidade e passar a impressão de controle quando, na
verdade, está ngindo também para si mesmo, porque não quer
enfrentar o desespero de não encontrar uma saída, de não saber o que
fazer. Se fosse sincero diria: estou ngindo que está tudo normal
porque não sei o que fazer e, embora seja vergonhoso dizer, no curto
prazo sempre é mais fácil e confortável pensar que as coisas são assim
mesmo e não vão mudar. No longo prazo sabemos que a atitude
intelectualmente preguiçosa sempre traz prejuízos materiais e
psicológicos: segundo a lenda, colocar a cabeça no buraco pode
parecer um escape perfeito, mas não melhora em nada a vida do
avestruz apavorado.

Ousando acrescentar mais algum signi cado e sugerir um uso mais


amplo para a expressão “senta, que o leão é manso”, podemos olhar
para o campo inverso da interlocução, o do receptor que acredita
realmente na sentença, e não percebe quando ela é utilizada para
deliberadamente distorcer a sua percepção da realidade. Algo parecido
com o policial que procura dispersar a multidão de curiosos:
“circulando, circulando”.

Somando esses dois sentidos, o do impotente ngindo normalidade, e


o do ignorante que acredita mesmo na normalidade narrada pelo
discurso o cial, temos uma gama enorme de pessoas que tendem a
reagir de forma desproporcional ao tamanho do problema. Sempre,
como demonstram as mais variadas observações, desde a tendência a
preferir a interpretação que melhor se adapte ao conhecimento
adquirido e assimilado, o chamado “viés de con rmação”, até os
gatilhos psicológicos mais profundos, plantados no imaginário após
constante bombardeio de informações deturpadas diluídas nas artes,
no entretenimento e no jornalismo mainstream.

O mundo atravessa um momento decisivo. Esse clichê nem precisa de


explicação, muito menos de fonte ou referência. Desde o advento da
covid-19 todas as nações, instituições, empresas e pessoas sofreram
algum tipo de transformação nas suas atividades, na sua estrutura e em
alguns casos, até mesmo na sua essência. Não há como negar esse fato
e, portanto, não é possível nenhuma análise, nenhum raciocínio e
nenhum planejamento sem considerar o imenso conjunto de dados
envolvidos, e sua in uência na ordem que subsistirá nos próximos anos
e nas próximas décadas.

Como exemplo das iniciativas totalitárias implantadas sob o pretexto


da pandemia, que ainda nem começaram e já alcançam as mais
profundas camadas da sociedade, podemos citar desde o aumento do
poder burocrático e a concentração de mercados até o passaporte
sanitário — que, aos poucos e na prática, vai tornando a vacinação
obrigatória. E tudo indica que nos próximos meses veremos mais e
mais tentativas de aumentar ou aperfeiçoar o controle sobre a
sociedade e, principalmente, sobre os indivíduos.

Além do ataque circunstancial aos nossos direitos e liberdades, o


ambiente cultural também colabora para o estabelecimento de regimes
cada vez mais opressivos. Ao conciliar servidão voluntária com
rebeldia teleguiada — controlada desde fora e condicionada a
interesses ideológicos ou objetivos partidários —, a mentalidade
derivada desse ambiente aparelhado tende a nublar a percepção da
realidade e, assim, facilitar a manipulação para aqueles que detêm a
“máquina” responsável por emitir as sentenças “aceitas” pelo
establishment.
No meu entender, o avanço das pautas que gradualmente eliminam
ou enfraquecem direitos naturais dos indivíduos é evidente a ponto de
parecer inegável. Dadas as circunstâncias e o momento histórico, as
condições culturais existentes, e o cenário acadêmico e artístico
hegemônico, creio que sem uma ruptura intempestiva, essa tendência
parece forte o su ciente para perdurar por um bom tempo.

Estamos diante não de apenas um leão, mas de várias alcatéias, de


vários bandos de leões famintos que apenas os covardes e os
exageradamente ingênuos podem ignorar. Sentar agora para ngir
normalidade vai apenas garantir um almoço tranqüilo e sem
sobressaltos para os leões.

C    


Os verdadeiros marca-passos do socialismo não eram os
intelectuais ou agitadores que o pregavam, mas os Vanderbilts,
Carnegies e Rockefellers.8

— Joseph Schumpeter (1883–1950)

N asOlavo
últimas aulas do Curso Online de Filoso a, o famoso ,
de Carvalho abordou um tema que ainda parece tabu entre
as pessoas que pretendem entender o panorama político
contemporâneo.

A chamada “polarização”, palavra que vem sendo usada como se,


sozinha, pudesse explicar todos os con itos políticos e culturais do
nosso tempo, na maioria das vezes não passa de uma maquiagem,
usada com o intuito de embaçar a compreensão mais apurada da
realidade.

Em várias áreas do debate público essa falsa dicotomia sempre é


sacada como um coringa, uma carta que pretende servir para tudo, um
“super trunfo” arrebatador e inquestionável, quando na verdade não
passa de uma simpli cação barata que apela a gatilhos emocionais do
tipo “concordo” ou “não concordo”.

A oposição entre os termos “esquerda” e “direita”, se pode ser útil para


descrever algumas situações da política cotidiana, está longe de
funcionar quando a análise ultrapassa as mesquinharias e miudezas
contidas nas manchetes ou hashtags diárias e pretende alcançar os
movimentos geopolíticos que envolvem as forças que controlam os
meios de execução do poder — em outras palavras, o próprio poder.
Na verdade, essa simpli cação mais atrapalha do que ajuda.

O momento exige sinceridade e maturidade para enfrentar os


problemas que se avolumam no presente e se multiplicam no
horizonte. Se por um lado devemos simpli car a comunicação para
atingir um número maior de pessoas, por outro devemos descrever a
realidade exatamente como ela se apresenta, sem generalizações, sem
achatamentos simplórios.

Essa imprecisão interpretativa, que se não for interrompida pode se


alastrar por toda a mente e causar profundas perturbações cognitivas
— inclusive na imaginação —, pode ser pinçada em vários aspectos da
discussão pública, principalmente naquela que, acredito, tem o
potencial mais destrutivo porque nubla as análises mais apuradas,
mesmo quando feitas por pessoas preparadas e bem-intencionadas:
“esquerda” versus “direita”.

Os conceitos de esquerda e direita não são mais capazes de explicar os


con itos que enfrentamos no âmbito internacional. Apesar de, repito,
servirem para a observação das disputas partidárias e abertamente
ideológicas, não servem para olhar a natureza e o funcionamento do
poder real, aquele que coordena o andamento da geopolítica na
sombra ou, nas palavras de William Pitt, “por trás do trono”.9

Não se trata, portanto, de a rmar que “direita” e “esquerda” não


existem mais, apenas não servem para descrever o processo de
construção de um ambiente de governança global que pretende criar
uma nova civilização.

Quando analisamos o papel da China comunista na destruição


civilizacional e na construção de um novo ordenamento global, ca
claro que essa aparente dicotomia desmorona. Seja pela observação dos
fatos atuais, seja ao confrontar a história. A confusão entre os conceitos
que brota toda vez que olhamos para os movimentos do gigante
asiático só ocorre porque ainda estamos presos aos resquícios daquela
de nição que coloca o comunismo e o socialismo como opostos ao
liberalismo moderno, como se ainda fosse condição sine qua non para
a existência desses regimes coletivistas o controle direto e visível
(formal, o cial) dos meios de produção.

A China serve perfeitamente de exemplo dessa confusão conceitual e


da incapacidade de analisar os problemas geopolíticos dos nossos dias
com as mesmas ferramentas convencionais.

Não podemos chamar David Rockefeller de comunista, certo? Pois foi


esse declarado liberal que confessou a sua participação no processo de
edi cação da China moderna — tudo feito com enorme vaidade, em
sua autobiogra a Memórias, publicada no Brasil pela Editora Rocco
em 2003. Quem lê as entrelinhas do capítulo 18, “Penetrando a cortina
de bambu” percebe a construção desse monstro iliberal que agora
atormenta o Ocidente espalhando suas garras e submetendo as
soberanias usando o dinheiro que passou a acumular após contar com
os favores dos banqueiros e das grandes empresas ocidentais —
exatamente quando mais precisava.

Após a década de 1970 a China recebeu ajuda substancial das


megacorporações ocidentais, que buscavam na mão de obra barata e na
ausência de direitos trabalhistas a chance de produzir com menos
custo. Tudo isso temperado com as transformações culturais que
estavam em curso e que gradualmente foram condicionando a opinião
pública para a aceitação dos ideais coletivistas e, indiretamente, dos
regimes socialistas — até mesmo o termo “revolução” começa a ter
uma conotação mais positiva a partir dessa época.

Esse fenômeno, essa promiscuidade entre o capital e o coletivismo


declaradamente anticapitalista, no entanto, não se resume à China e
não começou quando Henry Kissinger levou Nixon para apertar a mão
de Mao Tsé-Tung, em fevereiro de 1972.

Desde o lançamento do Manifesto comunista, encomendado pela


Liga dos Justos, uma sociedade paramaçônica recheada de magnatas, e
o nanciamento de pensadores utópicos que prepararam o seu terreno,
até o advento da revolução cultural promovida pela Escola de
Frankfurt, sempre houve uma relação acalorada entre os comunistas e
os super-ricos — ou metacapitalistas, na de nição precisa de Olavo de
Carvalho.

A criação da União Soviética, em 1917, também contou com dinheiro


de banqueiros ocidentais, angariados por Jacob Schiff, da Kuhn, Loeb
& Company, e entregue nas mãos de Leon Trotsky meses antes da
revolução. Mesmo durante a Guerra Fria — outra dicotomia imperfeita
criada para facilitar o avanço de uma agenda por meio da dialética
hegeliana (tese + antítese = síntese), Wall Street colaborou e, de certa
forma, sustentou a União Soviética. Antes e depois da Segunda Guerra.
Antony Sutton, um escritor pouco lido no Brasil, demonstra essas
conexões em vários trabalhos.10 E voltando um pouco mais, vale
lembrar que logo após a criação da Fabian Society, iniciativa
originalmente encabeçada por intelectuais como George Bernard Shaw,
H. G. Wells e o casal Webb,11 banqueiros e bilionários aderiram12 e
nanciaram o “socialismo fabiano”.

E para deixar claro que essa relação não é apenas duradora, mas
permanente, basta veri car as iniciativas de George Soros e seus
tentáculos, como a Open Society e o Project Syndicate, que
comprovam a simbiose entre comunistas e capitalistas em nossos dias.
Para quem pretende entender o processo que está se desenrolando
diante dos nossos olhos e se aproveitando da fragilidade mundial para
estabelecer uma nova civilização, tenho duas dicas: sempre presuma
banqueiro, e faça o .

M ,  


O governo é como um bebê: um canal alimentar com um
enorme apetite numa ponta e nenhum senso de responsabilidade
na outra.

— Ronald Reagan

C erca de 100 milhões de brasileiros vivem sem um sistema de


tratamento de esgoto. Praticamente metade da população.

E mais de 30 milhões não têm nem mesmo água encanada, o que


representa, mais ou menos, a soma da população da Suécia, de
Portugal e da Grécia.

Também temos um dé cit habitacional superior a 5 milhões, e que


pode dobrar até 2030. E além de todas as de ciências no saneamento
básico e moradia, praticamente todas as áreas da infraestrutura sofrem
com a falta de projetos e investimentos, seja na área federal, estadual
ou municipal. Apesar da recente retomada de iniciativas em âmbito
federal, com novos projetos e a conclusão de inúmeras obras paradas, o
saldo ainda deve permanecer negativo por um bom tempo.

Sabemos que os problemas brasileiros não são apenas grandes, mas


também complexos. E caros. A desordem administrativa, a inaptidão
dos pro ssionais apadrinhados e a corrupção desenfreada
contaminaram e debilitaram o Estado. E como esses problemas
persistem há muito tempo, criaram outro, ainda maior, mais grave e, ao
menos no curto prazo, sem solução: a constante falta de recursos e o
conseqüente endividamento.
O Brasil não tem dinheiro su ciente para resolver os seus problemas.
Nem mesmo para pagar o que deve — uma parte dos investimentos já
está comprometida exatamente por conta do crescente endividamento.
E o pós-covid não deve melhorar esse cenário.

Pelo menos dentro desse panorama atual, podemos dizer, portanto,


que sem uma mudança profunda nas estruturas econômicas, sociais e
políticas que sustentam esse “mecanismo”, nos próximos anos os
problemas podem piorar ou, na melhor das hipóteses, podem até
diminuir um pouco, mas não o su ciente para proporcionar uma
melhora no quadro geral brasileiro.

Este é um ponto que o leitor deve guardar, para a re exão que


faremos adiante.

O outro ponto que deve ser guardado não diz respeito a recursos, mas
também abarca a execução governamental, mais precisamente a
incompetência da burocracia estatal, sua insensibilidade social e sua
insaciável fome de poder.

O Estado nos promete cuidar de tudo, mas o que ca cada vez mais
evidente é que quanto mais afazeres, menor a e ciência. E para piorar
enormemente a questão, o próprio Estado, com o apoio dos satélites
que o orbitam, a cada dia propõe novas atribuições, novas estruturas,
novos privilégios, novos gastos, inclusive para solucionar a falta de
recursos (!). Conseqüentemente, rebaixa-se a e ciência de todas as
outras funções estatais e aumenta-se o endividamento.

Os burocratas não são capazes de impedir a entrada de um aparelho


celular em um ambiente controlado como um presídio, mas se julgam
hábeis em controlar a vida dos que estão fora dos muros; burocratas
não conseguem resolver problemas simples de zeladoria municipal,
como poda de árvores, varrição urbana ou tapar buracos na rua, mas
trabalham incansavelmente para expandir seu poder sobre outras áreas
da sociedade e outras esferas da vida privada dos cidadãos que pagam
os seus salários. São megalomaníacos sedentos por poder, o tipo que
não conhece a vida fora da sua bolha, que nem sabe como funciona a
logística da merenda ou o cotidiano das escolas e das famílias, mas
quer de nir o cardápio de todas as crianças da cidade.

Mesmo assim, mesmo sabendo que não são competentes com as


coisas mínimas, querem o poder máximo, e mesmo cansados de saber
que não existem recursos nem mesmo para pagar os gastos atuais,
querem aumentar as atribuições da burocracia e não se incomodam em
endividar ainda mais o Estado — ou melhor, a sociedade, porque o
Estado não produz nada.

A re exão que proponho aqui reside na convergência destes dois


pontos. De um lado o endividamento e a ausência de recursos
su cientes para solucionar os graves problemas que assolam o Brasil e
infernizam a vida dos brasileiros. De outro a incompetência — e a
malícia — da burocracia e de todo establishment, que mesmo ciente da
sua ine ciência, luta e conspira para aumentar suas atribuições e
dividir os poucos recursos disponíveis, o que acarreta mais dívidas e
compromete ainda mais os investimentos.

Tudo indica que vamos continuar nesse ritmo, dançando conforme a


música composta por uma minoria organizada que decide os passos da
maioria desorganizada. Estamos presos nessa dança, e não vejo no
horizonte nenhuma mudança signi cativa nesse compasso. Também
não vejo, infelizmente, nenhuma possibilidade de libertação sem
romper com esse círculo vicioso, com esse looping perverso, com o
ouroboros da burocracia e da dívida.

O   
C om a crise gerada pela Guerra Civil Americana (1861– 1865) os
magnatas que zeram sua fortuna ao longo dos séculos  e 
se aproveitaram da terra arrasada e passaram a explorar ainda mais os
seus funcionários e fornecedores. O desemprego generalizado forçou
milhões de pessoas a aceitar qualquer trabalho, e quaisquer condições
impostas por seus patrões. Além dos baixos salários, da ausência de
direitos e da insegurança, em alguns casos a carga horária alcançava 90
horas por semana. Em um país cristão, de maioria protestante,
acostumado a guardar o domingo (ou sábado, para os nascentes
adventistas), isso poderia signi car até 15 horas de serviço por dia. E é
bom lembrar que naquela época quase todas as funções exigiam
esforço físico e risco à vida, pois os ambientes eram geralmente
insalubres e perigosos.

A população americana, presenciando essa exploração e, ao mesmo


tempo, percebendo a multiplicação desenfreada das fortunas dos
empresários, começou a se referir aos magnatas usando a alcunha nada
carinhosa Robber Baron (Barão Ladrão), uma expressão conhecida na
Idade Média para designar os cavaleiros que assaltavam carruagens e
cobravam pedágio ilegal dos comerciantes que transitavam com suas
mercadorias de uma cidade a outra. Embora na era moderna o apelido
tenha sido usado ainda antes da Guerra Civil, em um artigo que
criticava Andrew Carnegie e que foi publicado pelo New York Times
em 1859, foi após uma revista de Boston, e Atlantic retomar o uso
em uma publicação de 1870 que a expressão se espalhou por todo o
país.

Nos anos seguintes Robber Baron ganhou ainda mais força,


principalmente como conseqüência do Pânico de 1893 e das violentas
greves instrumentalizadas por políticos socialistas — eventos como
Homestead Strike, de 1892 e Pullman Strike, de 1894 colocaram em
confronto os sindicalistas e uma espécie de polícia particular criada
pelos milionários, resultando em muitas mortes e feridos.

Sobrenomes famosos como Gould, Vanderbilt, Harriman, Schwab,


Rockefeller, Brookings, Morgan, Astor e Carneggie passaram a ser
sinônimos da expressão “Barão Ladrão” e a pressão popular,
aproveitada por movimentos políticos, levou o republicano William
McKinley à presidência dos Estados Unidos, um dos líderes com maior
aprovação popular, que acabou assassinado após a implantação do
Gold Standard Act, que reforçava o lastro do dólar e incomodava
profundamente os grandes banqueiros da época, os mesmos que mais
tarde, em 1913, criariam o Federal Reserve System, o , em uma
reunião obscura na Ilha Jekyll, com a ajuda do mais globalista de todos
os presidentes americanos, Woodrow Wilson.

Para piorar a situação dos bilionários, em 1904 a jornalista Ida Tarbell


lançou um livro com graves denúncias a respeito da maior empresa da
época, a Standard Oil. Considerado um dos melhores trabalhos
jornalísticos de todos os tempos, o livro caiu como uma bomba sobre a
imagem da família Rockefeller, controladora da empresa, e respingou
em todos os demais.

Para melhorar a imagem da família e das suas muitas empresas,


Andrew Carnegie criou, em 1905, a Carnegie Foundation, uma idéia
que seria copiada por muitos outros magnatas e que se tornaria um
instrumento poderoso de in uência social. Com o sucesso inicial dessa
empreitada, surgem em seguida a Fundação Rockefeller (1913), o
Instituto Brookings e várias outras menos famosas ou assimiladas ao
longo do tempo.

Bastaram alguns anos para que os magnatas percebessem que as suas


fundações poderiam superar os objetivos iniciais e então as instituições
passaram a funcionar com instrumentos de modi cação social.
Trabalhando em paralelo com investimentos na área educacional e
cultural, começaram a criar novos parâmetros para a sociedade, seja no
currículo das escolas, seja no imaginário coletivo e na formação dos
pro ssionais.

Nas décadas seguintes centenas de organizações desse mesmo tipo


surgiram nos  e na Europa, transformando gradualmente a
sociedade sem muito barulho, revestindo e camu ando suas iniciativas
sob o manto da lantropia.

Em nossos dias estamos até acostumados com a ação de fundações


como Ford, Bill and Melinda Gates, ou a Open Society, de George
Soros, que in uenciam a sociedade por meio de nanciamentos,
patrocínios, premiações e grants para “especialistas”. Sempre agindo
com a proteção da grande imprensa e da academia, freqüentemente
bancadas por essas mesmas pessoas e instituições.

As transformações promovidas por essas organizações foram tantas


— e tão profundas —, que di cilmente será possível listá-las, mas
agora, ao que tudo indica, um novo per l de instituição surge para
in uenciar com ainda mais força a vida de bilhões de pessoas.

Se antes as fundações trabalhavam em paralelo com as dinastias e


corporações, hoje existem instituições que unem essas duas pontas em
um mesmo lugar. Um exemplo cristalino é e Impact, um seleto
grupo formado por famílias bilionárias que trabalham suas agendas e
investem em conjunto, aumentando o poder de fogo que já era
gigantesco.

e Impact foi fundada por Justin Rockefeller, Jean Case, da National


Geographic e da Case Foundation, e por famílias com patrimônio na
casa dos bilhões, como os Pritzker, donos da rede Hyatt e da Royal
Caribbean, ou os brasileiros Scodro, herdeiros da fortuna acumulada
com os Biscoitos Mabel.

Com um per l mais jovem e arrojado, os membros da Impact se


dizem “um grupo de famílias visionárias comprometidas em alinhar
seus ativos com seus valores”. E descrevem sua ação desta forma:

As famílias desempenham um papel único no mercado emergente de


investimento de impacto. As famílias são administradores de riquezas;
elas pensam e agem em nome das gerações futuras [...]. e Impact
existe para ajudar as famílias membros a realizarem todo o seu
potencial como investidores de impacto, construtores de ecossistemas
e in uenciadores de mercado.

Investimento de impacto. Para esse grupo de bilionários, o objetivo é


investir o seu dinheiro em ações que produzam retorno nanceiro
substancial e, simultaneamente, façam avançar a sua agenda de
transformação social. Em outras palavras, lucrar com a criação de uma
nova civilização. E agora de forma declarada. Essa é a chave para
compreender esse novo formato de fundação, que deve in uenciar
decisivamente a nossa vida nos próximos anos.

A     


 
A pandemia de covid-19 trouxe à superfície do debate público um
paradoxo que só era percebido por aqueles que não submetem seus
estudos e análises aos discursos hegemônicos.

Durante as últimas décadas, acadêmicos, analistas e intelectuais


negaram peremptoriamente a existência de um intrincado processo de
instauração de um ambiente de governança global. As poucas exceções
sempre foram tratadas com indiferença ou desprezo e, quando não se
curvavam ao negacionismo dissimulado, que nge não ver algo que
está presente em uma in nidade de documentos de órgãos
internacionais,13 essas pessoas imediatamente passavam a ser
ridicularizadas e rotuladas como paranóicas, teóricas da conspiração
ou contrárias à “marcha inevitável da globalização”.

Em uma evidente e lamentável confusão, muitos ainda não


entenderam a diferença entre globalismo e globalização, dois
fenômenos que, embora às vezes andem em paralelo, são distintos,
com origem, características e objetivos totalmente diferentes. Enquanto
a globalização diz respeito à troca de produtos e serviços entre povos e
nações, que ocorre desde as primeiras civilizações de forma espontânea
e natural, o globalismo é algo absolutamente arti cial, que surgiu na
mente de pessoas que desejam criar um ambiente favorável a uma
autoridade internacional e corresponde a uma ideologia, ou seja, a um
conjunto de idéias que não precisa, necessariamente, fazer sentido
diante da realidade.

Esse paradoxo, evidenciado pela crise sanitária e por seus


desdobramentos sociais e econômicos, pode ser observado no
comportamento de dois grupos de pessoas, sendo o primeiro, mais
restrito, aquele que trabalha conscientemente em favor do globalismo
embora negue sua existência, ou melhor, são indivíduos e entidades
que fazem parte do processo globalista e agem de forma calculada para
promover o ambiente de governança global sem que isso seja percebido
pela população, ngindo naturalidade e dando ao plano uma aparência
de inevitabilidade. É por essa razão que procuram confundir os
conceitos de globalização e globalismo e se esforçam para rotular,
desmoralizar ou ridicularizar todo aquele que identi ca e demonstra
essas diferenças intrínsecas.

O segundo grupo, muito maior, abrange todos aqueles que foram


induzidos a pensar de uma determinada maneira sem saber ao certo o
que defendem. Após décadas de engenharia social inoculando na
mentalidade das pessoas as supostas benesses de um mundo
“globalizado”, muitos ingênuos esmagam sua percepção para adequar
suas opiniões ao que julgam ser um consenso cientí co testado e
comprovado. Obedecendo ao comportamento de manada, perdem o
senso crítico e passam a repetir a defesa da globalização, como se esse
conceito fosse idêntico ao globalismo. Esses indivíduos, seja por
preguiça intelectual, seja por incapacidade cognitiva, preferem não
olhar para as evidentes diferenças entre os dois fenômenos, e passam a
acreditar e repetir o discurso do primeiro grupo. Apesar das atuações
distintas, na prática os dois grupos acabam atuando da mesma forma:
negando a existência do globalismo no mesmo instante em que o
defendem e o promovem. Os primeiros conscientemente, os outros
agindo como o peixe que não acredita na existência da água.

Embora ainda exista muita resistência a essa concepção, que separa os


conceitos de globalismo e globalização, basta uma re exão sobre os
principais pontos do primeiro para veri car a enorme diferença em
relação à segunda, e sua decisiva in uência no panorama político atual.

O globalismo consiste em uma ideologia totalitária cujas iniciativas


sempre provocam desdobramentos que podem ser resumidos em três
grupos: 1. Fortalecimento do poder do Estado, na política interna, e
dos organismos internacionais na geopolítica; 2. Enfraquecimento das
soberanias nacionais e dos direitos naturais dos indivíduos; e 3.
Concentração dos mercados mais rentáveis nas mãos das grandes
corporações multinacionais.

Um elemento que contribui para a confusão entre os conceitos é o


eventual paralelismo dos fenômenos. Globalização e globalismo
podem ocorrer simultaneamente, sendo a primeira, inclusive,
constantemente usada como instrumento de aceitação do segundo.
Isso costuma obedecer a um padrão: nações que rejeitam
“recomendações” de organismos internacionais costumam sofrer
sanções ou retaliações econômicas. Em outras palavras, países que não
aceitam interferências externas em sua soberania e preferem defender
seus valores, princípios e direitos naturais cristalizados na tradição ou
expressos na sua constituição freqüentemente enfrentam barreiras ao
seu comércio, restrições ao crédito e inúmeras outras di culdades,
numa evidente e descarada investida contra a livre determinação dos
povos.

Os benefícios da globalização, portanto, podem ser utilizados como


moeda de troca para a obediência a iniciativas globalistas, mas isso não
iguala os fenômenos. Essa aparente convergência, normalmente
pontual, que pode até se confundir com uma simbiose em alguns
momentos, não elimina, contudo, a questão fundamental: são
fenômenos absolutamente distintos, de gêneros diferentes e com
características próprias e bem delineadas.

Sempre de forma insidiosa e camu ada de bons interesses, essas


conseqüências das iniciativas globalistas — repetindo: a eliminação do
poder individual e soberano, e o aumento do poder dos estamentos
burocratas internacionais e das grandes corporações — estão no centro
dos principais acontecimentos geopolíticos há décadas. Para que que
ainda mais fácil observar esse fato, basta analisar o momento crítico
que estamos atravessando.

O mundo passa por transformações sem precedentes. Nossa geração


está vivenciando um episódio único na história recente. A pandemia
de covid-19 tem provocado mudanças signi cativas em todos os
aspectos da sociedade.

Começando pela saúde pública e pela economia, as duas questões


mais proeminentes da crise atual, passando pelas mudanças sociais e
comportamentais e chegando até mesmo a tópicos de ordem
psicológica e moral, todas as condutas humanas estão sofrendo
alterações profundas, e o establishment já começa a defender que
alguns desses novos parâmetros de convívio devem permanecer após o
m da pandemia.

A mídia mainstream e inúmeros órgãos representativos estão usando


a expressão “novo normal” como uma espécie de conjunto de
modernos comportamentos, supostamente melhores, mais solidários e
adequados a um padrão de vida que eles julgam mais “responsável”,
“coerente” e “justo”. Mas vejamos com atenção o que vem a ser este
“novo normal”.

Com o pretexto de combater a doença, burocratas de todas as


instâncias e todos os espectros da política estão eliminando uma série
de direitos individuais. Sob o mesmo argumento, decisões
governamentais irresponsáveis estão destruindo pequenas e médias
empresas, abrindo o caminho para maior concentração dos mercados e
gerando maior dependência do Estado. Pessoas estão mudando hábitos
e diluindo valores morais devido ao medo, e suas decisões, muitas
vezes irracionais, estão transformando o convívio social de uma forma
que ainda nem é possível aferir. Esse processo acelerado de
transformação está ocorrendo no mundo inteiro ao mesmo tempo,
in uenciado por uma mentalidade que vem sendo moldada há décadas
pela mídia, pelo entretenimento e pelos sistemas educacionais: tudo o
que é global é melhor que o local ou o nacional.

O desenvolvimento desse processo de transformação do imaginário


da sociedade de maneira favorável aos ideais globalistas, com o intuito
de criar um ambiente adequado ao surgimento de uma futura
autoridade global, precisaria de um artigo especí co, pois os dados que
compõem todas as etapas desse complexo mecanismo de
transformação civilizacional formam um imenso conjunto de
informações, com incontáveis exemplos nas mais variadas áreas da
vida em sociedade.14 Mas podemos pinçar o caso de um organismo
internacional para servir de amostra do funcionamento desse
mecanismo.

A Organização Mundial da Saúde ( ) pode ser vista como um dos


principais protagonistas do debate público gerado pela crise sanitária e
econômica que vivemos. Desde o nal de 2019, a  tem ocupado o
centro das discussões internacionais, e sua atuação teve e
aparentemente continuará tendo um papel importante nas decisões
que estão determinando o que talvez sejam as mais profundas
mudanças sociais do nosso tempo.

Fundada o cialmente em 7 de abril de 1948 como um organismo


atrelado à Organização das Nações Unidas, a , na verdade, tem
uma história mais antiga.

Em 23 de julho de 1851, aconteceu a primeira Conferência Sanitária


Internacional, em Paris. O evento surgiu com o intuito de estudar a
segunda pandemia de cólera, também chamada de “pandemia de
cólera asiática”, surgida duas décadas antes,15 para evitar um novo surto
por meio de protocolos mais e cientes de prevenção, tratamento e
controle. Entre 1851 e 1938, ocorreram 14 conferências, inicialmente
com doze Estados soberanos e chegando a 50 na última edição.

Pouco tempo depois da primeira conferência, o tema ganhou


notoriedade em todo o mundo, principalmente na Europa e na
América. Em 1902 é criada a Repartição Sanitária Pan-Americana, que
mais tarde se tornaria a Organização Pan-Americana da Saúde, hoje
subordinada à Organização Mundial da Saúde, e surge em 1907 o
Escritório Internacional de Higiene Pública,16 com atuação focada no
aprimoramento do controle sanitário e protocolos de quarentena de
portos e navios. Boa parte dos estudos e trabalhos das duas instituições
foram mais tarde incorporados à , desde o início da sua existência.

Apesar de a fundação o cial como entidade autônoma só ter


acontecido em 1948, a Organização Mundial da Saúde tem sua origem
em 1919–1920, como uma secretaria da Liga das Nações, o primeiro
órgão eminentemente global, com pretensões de se sobrepor à
soberania dos países.

A Liga das Nações, criada logo após a Primeira Guerra Mundial, sob
o pretexto de evitar uma nova experiência traumática, nasce após forte
pressão de banqueiros responsáveis pelo Federal Reserve Act, a lei
sancionada pelo presidente Woodrow Wilson em 23 de dezembro de
1913 e que não apenas daria origem à instituição que é erroneamente
chamada de “banco central americano”, mas que também de niria os
parâmetros do sistema nanceiro internacional. Algumas das famílias
controladoras desses bancos também exerceram forte in uência sobre
outros aspectos da nova instituição. Por meio de suas fundações, algo
que considero como parte integrante do terceiro ciclo do
desenvolvimento da estratégia globalista,17 pressionaram os poderes
políticos para moldar e expandir a atuação da Liga das Nações.

Para car em apenas um exemplo, podemos observar a Fundação


Rockefeller, criada em 1913 pelo patriarca da família, John Davison
Rockefeller, juntamente com seu lho, John D. Rockefeller Jr.,18 e o
consultor executivo Frederick Taylor Gates.

Pouco tempo antes, em 1911, a Standard Oil Company, a empresa que


fez a fortuna da família e que chegou a controlar entre 70% e 90% dos
derivados de petróleo em sua época, foi derrotada em um processo
judicial que se arrastava desde 1890 devido à Lei Antitruste de
Sherman. A corporação foi então obrigada a se dividir em 34 novas
empresas, dando origem às principais marcas do segmento que existem
até hoje.19 Nesse momento, a família decide diversi car seus
investimentos, e muitos desses recursos são destinados a um mercado
ainda incipiente e que hoje podemos chamar de “indústria
farmacêutica”.

O enorme volume de recursos alocados nesse novo mercado, somado


à expertise química, comercial e de logística adquiridas na Standard
Oil rapidamente transformaram a ação dos Rockefeller e o próprio
conceito de medicina. A fundação, que surge como uma reação às
denúncias do periódico McClure20 e do livro da jornalista Ida Tardell,21
nesse momento passa a ser uma grande in uenciadora dos parâmetros
para a saúde pública em todo o mundo,22 incluindo o Brasil.23

Com esse novo foco, a Fundação Rockefeller criou, em 1920, a


Divisão de Ciências Médicas, responsável pelo nanciamento de
inúmeras iniciativas ligadas a saúde, sanitarismo e eugenia,24 e também
pela elaboração de currículos e metodologias de ensino e pesquisa na
área médica.

A Organização Mundial de Saúde, que surge como uma secretaria da


Liga das Nações, por in uência de fundações e dinastias como
Rockefeller, Carnegie25 e algumas outras,26 sempre teve objetivos muito
diferentes dos declarados.

Desde seu início, como uma tímida secretaria, serviu como caixa de
ressonância de interesses obscuros de bilionários. Com o tempo, foi
ganhando notoriedade e poder de in uência, levando adiante
iniciativas originadas nas fundações dinásticas que pretendiam
interferir nas decisões soberanas das nações.27

Com a autonomia conquistada após a Segunda Guerra Mundial, a


 teve sua estrutura ampliada signi cativamente, e sua in uência
nunca parou de crescer, culminando no atual momento, que representa
o ápice de um processo gradual de sobreposição às soberanias
nacionais.

Atualmente a  dispõe de mais de 7000 funcionários diretos,


distribuídos em seis escritórios regionais, 150 sedes de 149 países de
todos os continentes.28 Tudo isso sem contar os pro ssionais indiretos,
os fornecedores, os escritórios coligados com a , com o Fundo
Monetário Internacional, o Banco Mundial, a União Européia, as
parcerias com departamentos de especialidades médicas ou de saúde
pública de dezenas de países e mais de 400 organizações não-
governamentais sob o seu guarda-chuva.29

Embora o prestígio promovido pela mídia mainstream seja imerecido


ou, na melhor das hipóteses, controverso, dado o histórico de erros e
omissões que constam no currículo da instituição, os quais caram
ainda mais evidentes diante das trapalhadas cometidas na crise
sanitária de 2020,30 essa estrutura gigantesca tem contribuído de forma
inequívoca para a implantação de um ambiente de governança global,
inclusive fora da sua área de atuação.

A , assim como os demais organismos internacionais


comprometidos com a causa globalista, também promove idéias
ligadas ao fortalecimento do coletivismo, do estatismo e da construção
das condições favoráveis ao estabelecimento de uma autoridade global.
Além de defender causas ligadas ao seu segmento, o de saúde pública,
também tem atuado sobre aspectos de ordem política, econômica,
social, moral e até religiosa, contribuindo com uma agenda que
pretende destruir e substituir os valores civilizacionais.31

Dessa forma, a existência da  e a sua atuação podem evidenciar


não apenas a existência de um projeto globalista, mas também que ele
está mais forte do que nunca.
A      
H áSumner
algumas décadas o todo-poderoso do grupo ViacomCBS,
Redstone, avisou que a imprensa que nós conhecíamos
estava entrando em extinção. Principal controlador de um
conglomerado que envolve todas as áreas do entretenimento e dono de
uma fortuna avaliada em muitos bilhões, Redstone provavelmente não
“previa” o que estava acontecendo, mas “via” o que ele, seus sócios,
parceiros e concorrentes estavam fazendo.

Parte das mudanças ocorridas no mercado de comunicação, sem


sombra de dúvidas, tem relação direta com o uso da tecnologia, seja
por parte dos produtores, seja pelos usuários e consumidores. Embora
a evolução do aparato tecnológico, sozinha, não explique o alcance e a
profundidade das transformações, como veremos adiante, temos que
acrescentar a essa equação o desdobramento natural do novo jeito de
consumir informação, que exigiu a adaptação não apenas da forma,
mas também no conteúdo.

Troca de prioridades, substituição dos hábitos e criação de novas


necessidades. Estas foram as conseqüências imediatas das novidades
tecnológicas e do novo padrão de consumidor de notícias e
entretenimento. Uma causa pode ser creditada na conta da
pulverização das fontes emissoras de informação. A multiplicação das
vozes públicas diluiu a importância de alguns ícones e encorajou
confrontos de versões e interpretações. Neste momento vieram à luz
uma série de discursos vazios, distorcidos ou simplesmente
equivocados — para não dizer mentirosos.

Antes cavam sem resposta, agora são desmascarados em tempo real.

As pessoas estavam acostumadas a receber a informação de forma


passiva. No máximo o sujeito mandava uma carta que quase nunca era
publicada. Com a chegada da internet o povo passou a ter uma voz um
pouco mais forte, embora no início tenha servido apenas como caixa
de ressonância do que a grande imprensa noticiava. Com o tempo e a
popularização das redes sociais e dos aplicativos de mensagem por
celular, a interlocução entre imprensa e público mudou para um novo
patamar. Agora existe a possibilidade de pessoas comuns atropelarem,
no tempo e na qualidade, medalhões da grande mídia desacostumados
com questionamentos, críticas ou correções. Não apenas nas pautas
opinativas, mas também ao noticiar eventos ou tragédias os anônimos
das redes sociais têm mostrado mais agilidade que os gigantes e seus
milhares de funcionários. E quanto à credibilidade das novas fontes,
penso que se os mesmos critérios de veri cação forem seguidos, como
costumo fazer, as chances de ser enganado são as mesmas, seja pela
maior emissora do país, seja pela “tia do zap”.

O que vem ocorrendo com o jornalismo mainstream, porém, é algo


mais profundo que as mudanças causadas pela evolução tecnológica, e
muito mais malé co do que um eventual viés ideológico ou mesmo
partidário do jornalista, do editor ou do dono do jornal. Isso sempre
aconteceu, com mais ou menos intensidade conforme o momento e a
relação de forças no embate político, e acho até que seja impossível
evitar esse problema em sua totalidade. Acontece que estamos diante
de uma transformação na essência mesma do jornalismo da grande
imprensa, e da mídia de forma geral. Partindo da premissa de que a
nalidade de um ente constitui uma parte que lhe é essencial, mudar a
nalidade do trabalho jornalístico é mudar também o conceito daquilo
que chamávamos de imprensa.

Sempre foi difícil delimitar com precisão a linha que divide a


neutralidade, o viés e a adesão. O jornalismo de opinião, que exige um
trabalho intelectual mais intenso, costumava ocupar apenas uma parte
da programação, que reservava ao noticiário informativo mais tempo e
maior destaque. A opinião sincera e embasada ajuda o público a
interpretar com mais clareza, oferecendo correlações, lembrando o
histórico do assunto ou propondo re exões sobre aspectos pouco
evidentes na notícia, mas quando ocupa espaço desproporcional na
grade transforma o veículo de informação em um aparato de formação,
tanto de opinião quanto de personalidade, e em alguns casos passa a
funcionar até mesmo como fonte do próprio noticiário. Aos poucos os
fatos foram substituídos pelas opiniões. Do objetivo para o subjetivo,
como previu ou planejou o dono da . A mídia rompeu com sua
nalidade original e passou a exercer, de forma sutil, algo que ocorre
de forma ostensiva em governos totalitários, a formação de opiniões e
de personalidades.

A conseqüência imediata desta ruptura, aliada às transformações


tecnológicas foi a queda da sua relevância, que pode ser demonstrada
pelos decrescentes índices de audiência e que, no meu entender, estão
relacionados ao derretimento da sua credibilidade, e por isso não vejo
muitas perspectivas de recuperação.

Outra ruptura merece atenção. A mudança do hábito de consumo de


informação, a troca de prioridades e a pulverização das fontes e dos
novos e onipresentes dispositivos tecnológicos, romperam o uxo da
informação — foi quebrada a cadeia captação-produção-emissão-
consumo-repercussão, sendo que este último elo também funcionava
como fonte para o primeiro. Hoje existem milhares de caminhos para o
trânsito de informações, e nenhum deles precisa seguir ordem alguma.
Um caminhoneiro no Norte do Brasil pode gravar uma cratera em um
canto obscuro de uma estrada e viralizar pelo WhatsApp dias antes de
um repórter conseguir chegar ao local.

Senhor Redstone tinha razão, a mídia não é mais a mesma. A sua


função mudou completamente e tudo indica que o público não
aprovou: a credibilidade diminuiu, a audiência despencou e a verba
publicitária foi para alguma empresa do Vale do Silício. No Brasil, onde
a concentração de poder midiático sempre foi algo incivilizado, não é
surpresa, portanto, a indignação e o revanchismo seletivo diante das
transformações em curso, principalmente entre dois grupos de pessoas:
os barões da mídia e seus capachos, irados com o governo que fechou
as torneiras do dinheiro público, e a chamada classe pensante,
acostumada ao conforto do Olimpo e ao debate entre iguais, está
revoltada com o estouro da sua bolha revestida de espelhos.
Apesar dessas derrotas no campo econômico, e apesar do
enfraquecimento da sua hegemonia cultural, a grande mídia ainda
exerce enorme in uência em parcela signi cativa da população, que
ainda não percebeu a profunda mudança ocorrida na essência do
jornalismo mainstream.

Insisto: se o objetivo da mídia deixa de ser “informar” e passa a ser


“formar”, ela deixa de ser um órgão informativo e passa a ser um
instrumento ideológico, uma ferramenta de poder sem qualquer
compromisso com a realidade. Esta é a premissa que deve guiar a nossa
interação com a mídia. Sempre.

O   

No Inferno, cada um a seu modo se envolverá na podridão em
que viveu na Terra.

— Catarina de Sena

H ádeixou
algum tempo venho tentando mostrar que a grande mídia
de ser veículo de informação e agora procura cumprir a
função de formar opiniões e moldar comportamentos. Desta maneira,
o jornalismo mainstream tem funcionado como porta-voz de um
sistema que aumenta progressivamente o controle sobre os cidadãos e a
repressão aos direitos individuais. Com a intenção de criar novos
parâmetros civilizacionais, corporações midiáticas trabalham em
sintonia com a burocracia estatal, com a elite nanceira e com as
oligarquias regionais e setoriais que sugam a seiva formada pelos
impostos derivados do suor dos brasileiros.

O jornalismo praticado pela grande imprensa está profundamente


comprometido com a construção de um ambiente de governança
global, com leis e regulações que controlam condutas e palavras,
iniciativas que enfraquecem as soberanias nacionais, limitam a
liberdade de expressão e fortalecem o poder dos organismos
internacionais e a hegemonia das megacorporações.

Também é necessário lembrar que a grande imprensa possui uma


elevada responsabilidade pelo emburrecimento e pela vulgarização da
sociedade brasileira, o que contribui para tornar a população mais
dependente, mais suscetível à manipulação e mais dócil diante da
intromissão nas suas decisões de foro privado.

Devido à sua relação umbilical com a indústria do entretenimento,


com quem o jornalismo compõe o que podemos chamar de “mídia”
(meio), não é possível negar a responsabilidade pelo baixo nível
cultural produzido pelo cartel. Em um universo de novelas, programas
de auditório, reality shows e outros lixos que distorcem e poluem o
imaginário do seu público, rebaixar a qualidade do jornalismo torna-se
um ato obrigatório, tendo em vista que o público será mais ou menos o
mesmo. Essa é a constatação lógica: se uma empresa faz produtos que
emburrecem o seu consumidor, não conseguirá segurar sua audiência
com programas que exijam um maior preparo intelectual da sua
audiência.

O atual estágio de degradação, no entanto, também traz outra questão


angustiante.

A imprensa sempre teve o desejo de conduzir o debate público, e


durante décadas isso funcionou com perfeição, principalmente porque
o jornalismo tradicional exibia uma homogeneidade que, embora
pobre e entediante, parecia con rmar, dar veracidade e credibilidade
uns aos outros. A aparente solidez do discurso, no entanto, era apenas
re exo desse referenciamento grupal e recíproco, como um monólogo
em uma sala de espelhos. Com a chegada das redes sociais e o
enfraquecimento da hegemonia cultural ditada pelas vozes do
establishment, essa unanimidade mostrou-se como a sentença de
Nelson Rodrigues: burra — ou, para ser mais preciso e atual, uma
“unanimidade para conduzir burros”.

O crepúsculo32 da imprensa tem ainda outro agravante. Com a perda


da credibilidade e o aumento da percepção acerca desse novo papel do
jornalismo, a relevância do seu discurso está sendo paulatinamente
esvaziada e transferida para o território controlado pelas big techs,
alimentando os monopólios e facilitando o controle sobre o uxo de
informações. Em outras palavras, o ocaso da imprensa tradicional,
desacreditada e abandonada pelo público que começa a entender os
seus interesses obscuros, favorece a concentração de poder nas mãos
das gigantes do Vale do Silício.

Embora seja hoje vista por boa parte da população como aética,
corrupta e culturalmente perniciosa, a irrelevância da imprensa
mainstream, que parece irreversível, não é motivo de comemoração.

A poderosa indústria da tecnologia, o grupo das gigantes que


controlam o big data e a quase totalidade do tráfego de dados na rede e
em toda a sociedade, além de trabalhar em sintonia com as big pharma
e as big money, estão assimilando a função da imprensa e acumulando
mais esses instrumentos de poder, submetendo o jornalismo aos
interesses dos monopólios e tecendo a malha que vai criar o cérebro
global,33 o Leviatã que deseja criar um novo mundo e um novo
homem.

Para resumir ainda mais podemos criar uma analogia “patológica”.


Com a imprensa torpe que temos, ou tínhamos, era necessário
acompanhar a evolução da doença cotidianamente, observar os seus
sintomas, diagnosticar e combater suas conseqüências. Transferindo o
controle da circulação das notícias a cargo dos mesmos monopólios
que já controlam as permissões e proibições do debate público por
meio das redes sociais, estaremos alimentando um tumor que tende à
metástase, ou seja, estamos reduzindo os males de um diabetes e
promovendo um câncer.
A queda deprimente e vertiginosa da imprensa tradicional nos livra
do viés ideológico, dos agentes estupidi cadores, da manipulação
diária de notícias, das opiniões disfarçadas de dados… Também
diminui o número de parasitas, o volume e o ritmo das mamadas no
dinheiro público, mas ao mesmo tempo aproxima o futuro distópico
que parece nos aguardar ali na frente.

“F …”,  


O que acontece quando uma pessoa revela um fato escandaloso, que
não possui a verossimilhança necessária para a aceitação imediata?
Pense um pouco.

Para pessoas normais, que possuem um senso crítico apurado, que


procuram estabelecer critérios mínimos para acreditar em uma
informação, a continuidade da conversa requer alguma substância,
algum indício de que aquilo faz sentido, não apenas dentro da
construção lingüística, mas no confronto com a realidade.

Normalmente a primeira, ou pelo menos uma das primeiras questões


que serão levantadas diz respeito à origem da informação: “quem disse
isso?” ou “de onde você tirou esses dados?”.

Se a resposta for vaga, insu ciente ou ainda mais inverossímil que a


primeira informação, costuma-se descartar o conjunto de dados
apresentado. Seja de forma declarada ou dissimulada, a descrença se
impõe.

É claro que existem exceções, e elas sempre estão relacionadas à


credibilidade do mensageiro. Caso não existam indícios que
con rmem a versão apresentada, resta a con ança naquele que traz a
informação. Nesse momento são pesados as experiências anteriores e
um potencial con ito de interesses entre o emissário e os dados
apresentados. Pessoas normais agem — ou deveriam agir — desta
forma no seu cotidiano. E isso não é uma recomendação arbitrária, isso
se chama sensatez.

Quando uma vizinha fofoqueira conta um caso que pode provocar


alguma intriga ou busca difamar alguém que você conhece, sem
oferecer indícios que con rmem a sua fala, como você costuma reagir?
a) Acredita e, desta forma, fortalece a narrativa e colabora com uma
possível difamação? b) Reage fazendo perguntas incômodas para a
difamadora? c) Ignora, nge que acredita e procura mudar o rumo da
conversa? A experiência tem mostrado que normalmente acertamos
mais quando adotamos uma das duas últimas alternativas da enquete
acima.

Quantas vezes você passou por uma situação parecida? Acredito que
muitas pessoas enfrentaram pelo menos um caso como esse durante a
vida. Talvez mais. E acredito também que as reações, na maioria das
vezes, foram contrárias à continuidade da difamação, ou seja,
obedeceram a um re exo de veri cação de verossimilhança e
credibilidade que deve fazer parte do comportamento instintivo.

A re exão que proponho diz respeito à dissonância entre o hábito


natural e cotidiano de modular o ceticismo de acordo com a
probabilidade da veracidade e a con ança na fonte, de um lado, e de
outro a aceitação imediata e sem critérios que as pessoas apresentam
diante da grande imprensa.

Por que con ar na mídia quando ela traz informações inverossímeis


se o seu histórico de con abilidade corrobora no sentido exatamente
contrário? Diariamente temos visto “notícias” plantadas com
informações de visível fragilidade factual. Quase sempre ancoradas em
artifícios manjados, que buscam garantir a credibilidade usando
supostas declarações de fontes que não podem ser nomeadas,
exatamente como a vizinha fofoqueira que alega não poder revelar “a
pessoa que me contou” no mesmo instante que garante “mas ela está
falando a verdade”. Manchetes com frases como “fontes do planalto”,
“deputados da base aliada con denciaram”, “corredores de Brasília”,
“assessor do fulano que não quis se identi car” já se tornaram tão
comuns e repetitivas que apenas podem convencer idiotas
desinformados ou intelectualmente debilitados por uma ingenuidade
doentia.

Este tipo de chavão, que antes só era freqüente nas revistas de fofoca,
agora domina o jornalismo mainstream e estampa as capas do jornal,
os telejornais e os portais da grande imprensa todos os dias. Sem falar
dos evidentes con itos de interesse e dos conteúdos que desmentem os
títulos.

Fico espantado que ainda existam pessoas que baseiam suas análises
da realidade com base nessa montanha de clichês midiáticos, e antes
que alguém compreenda de forma equivocada o meu ponto, deixo
claro que sou completamente favorável ao sigilo da fonte, desde que
não incorra no crime de calúnia, que é a falsa imputação de crime. O
problema é outro. É con ar por antecipação em quem já provou ser
incon ável.

Para piorar, esse método de manipulação das notícias vai além da


editoria política e alcançou aquilo que os ignorantes pensam ser
“ciência”, essa deusa infalível e inquestionável que não possui interesses
diferentes daqueles declarados o cialmente.

Travestidos de “cientí cos”, inúmeros interesses (materiais ou


ideológicos) estão sendo inseridos na discussão pública sem a devida
contestação. Como fazem parte de uma agenda, com objetivos
imediatos ou perenes, e não possuem sustentação factual, são
implantados nas notícias usando o mesmo tipo de artifícios
enganadores: “estudos indicam”, “especialistas a rmam”, “pesquisas
revelam”.

Essa semana, para car em apenas um exemplo — entre dezenas ou


centenas — um “estudo”, feito por “especialistas” e baseado em uma
“pesquisa”, revelou que as palmadas e o abuso sexual têm o mesmo
efeito psicológico nas crianças. Se você acreditou nessa informação
porque con a nas credenciais da fonte, está bem perto de acreditar na
primeira fofoqueira que disser que viu uma baleia voando.

S     



A ntes de mostrar como funciona uma das estratégias de
manipulação que, apesar de repetida e desgastada, ainda dá alguns
resultados, acho importante pontuar sobre o mecanismo que garante o
“sigilo da fonte”. Faço isso todas as vezes ao alertar leitores ingênuos
sobre os riscos de levar a sério matérias baseadas em supostos relatos
anônimos.

Entendo que o direito de manter a fonte em sigilo é fundamental para


garantir o trabalho de um jornalismo independente, mas ser favorável
à sua existência do ponto de vista legal não signi ca referendar o seu
uso sistemático. Muito menos acreditar no seu conteúdo.

Feita a ressalva sobre a minha concordância com o direito legal do


jornalista de manter a fonte em sigilo, podemos continuar.

Tenho certeza que na maioria das vezes o tal sigilo da fonte é apenas
uma tática para plantar uma notícia que o jornalista quer que seja
verdade. Ou deseja a conseqüência desse efeito que ele pretende causar.
Nesses casos muito, muito freqüentes, a fonte secreta é a mente do
próprio autor. Em alguns casos — ou quase todos — o truque também
busca ampli car a sua relevância ao exibir conexões com guras
importantes e poderosas. Isso costuma dar algum status,
principalmente aos olhos dos jornalistas iniciantes. O foca não percebe
a maracutaia porque ainda está na fase de acreditar na sacralidade da
pro ssão que escolheu.
Apesar dessa ridícula mesquinhez temperada com gotas de vaidade
pura, plantar notícias é um trabalho sujo, desonesto e imoral, e pode
trazer conseqüências graves.

Uma notícia plantada ou inventada pode in uenciar decisões


governamentais que vão interferir na vida de milhões de pessoas. Uma
idéia, tratada como um fato real, pode gerar novos fatos.

Outra conseqüência do uso indiscriminado e da instrumentalização


da fonte sigilosa é a própria descrença em um mecanismo que poderia
servir muito bem à sociedade em situações excepcionais. Quando
usada com seriedade pode garantir a vida do repórter, a segurança da
empresa e a liberdade de imprensa de forma prática e simbólica. O
difícil é saber qual a dose certa.

Há décadas o jornalismo tem sido usado como um decisivo


instrumento político partidário e ideológico. E suspeito que tenha esse
papel desde o início, pelo menos em potencial.

Supondo, portanto, que o uso político do jornalismo não é apenas


acidental, mas paira potencialmente sobre a pro ssão, e imaginando
também que nas crises, no acirramento dos con itos ideológicos e na
polarização esse uso seja ainda mais freqüente, podemos — ou
devemos — descon ar de todo narrador oculto que lança uma
informação de grande impacto. Mas vale lembrar que descon ar não é
negar. Ceticismo é como vitamina: uma superdosagem pode causar
intoxicação, mas em doses equilibradas costuma funcionar muito bem.

Mesmo sem usar um delator imaginário é possível conduzir o viés de


uma notícia e dar a ela aparência de isenta e imparcial. Basta selecionar
as “fontes” de maneira a construir uma narrativa de acordo com o seu
objetivo. Escolha uma voz contrária que seja visivelmente fraca,
desacreditada ou folclórica. Polarize o assunto, mesmo que ele tenha
vários aspectos con itantes. Procure ngir que ouviu — ou tentou
ouvir — os dois lados da “polêmica” que você enquadrou. Depois
recorte as frases que con rmam sua tese, de um lado, e edite de forma
a tornar a opinião contrária vazia e caricata. Por m, dê à matéria um
título charmoso e “cientí co”: “especialistas con rmam”, ou
“pesquisadores explicam”.

A imprensa está habituada a trabalhar desta forma, e acredito que seja


esse o método mais utilizado atualmente. Às vezes parece haver um
caderno com os telefones dos “con rmadores” de teorias e os
“adversários caricatos” que os acompanham em dezenas de matérias.

Se mesmo sem a fonte sigilosa é possível distorcer e até mesmo


inverter o sentido de uma informação, simplesmente pinçando a frase
certa da pessoa certa no momento certo, imagine podendo usar esses
fantasmas que assombram as redações e os estúdios: “fontes do
planalto”, “corredores do congresso”, “ambiente em Brasília”, “assessor
do fulano” ou algo como “um interlocutor do primeiro escalão”.

Agora imagine também o quanto os especuladores nanceiros podem


lucrar com essas bombas semióticas de múltiplas funções. Os barões
do sistema nanceiro internacional têm acumulado fortunas imensas
com notícias plantadas por mensageiros ocultos. Compram na baixa
pós-escândalo e vendem na alta pós-esclarecimento ou desmentido.

Como acredito que o sigilo da fonte deve existir, com exceção nos
casos de calúnia — falsa imputação de crime —, e como também sei
que o uso dessa prerrogativa tem causado danos irreparáveis ao
imaginário coletivo e ao livre debate das idéias, vejo como única
alternativa o ceticismo equilibrado, em doses proporcionais ao
histórico do autor e do veículo.

C  
D esde o nal da década de 1990 é possível perceber que a mídia
mainstream representa o que há de pior no Brasil. Quando
comparamos o caráter médio do povo brasileiro com os quadros de
destaque na grande imprensa isso ca muito evidente.

A chegada da internet con rmou essa percepção. A desinformação


calculada, as distorções generalizadas e as informações que
permaneciam ocultas foram reveladas pelo surgimento de sites
independentes em todo o mundo. Em outras palavras, a internet
retirou o véu que protegia a mídia, fazendo dela um reduto de seres
angelicais com os mais puros interesses.

É claro que existem algumas exceções, mas elas funcionam como


adores que dão a credibilidade necessária para tornar possível a
dissimulação. Não há mentira que prevaleça sem o reforço de um traço
de verdade.

Eu ainda nem tinha lançado meus livros e só escrevia em um antigo


blog ou em fóruns virtuais, mas já naquela época fui criticado por
a rmar que a mídia corrompida era algo muito mais pernicioso do que
a corrupção da classe política. Dizendo de outro modo, políticos são
seres naturalmente perigosos, e cabe aos verdadeiros jornalistas
imunizar esse risco permanente.

Políticos, por de nição, são seres que necessitam de vigilância


constante. E o poder, por sua própria natureza, costuma ser expansivo
e insistente, sendo o seu controle algo tão ou mais importante que as
instituições que ele, em algum momento, passa a representar.

Essa vigilância depende basicamente do trabalho de uma imprensa


séria e independente. Exatamente por esse motivo, quando o
jornalismo se corrompe, abre a Caixa de Pandora e libera o que existe
de pior no mundo político.

Durante os governos tucanos, quando Fernando Henrique Cardoso


reinava em Brasília, sua sustentação dependia essencialmente da
grande mídia. Mesmo diante das barbeiragens na economia, do
entreguismo nas relações internacionais e dos escândalos varridos para
baixo do tapete pelo engavetador geral da república, o príncipe dos
sociólogos sempre podia contar com o apoio do jornalismo amestrado
e seus patrões oligárquicos. Até as críticas do petismo incrustado nas
redações e estúdios tinha limites estratégicos e era calculado para
garantir mais verbas para o cartel midiático.

Nos governos Lula e Dilma a receita foi copiada e ampliada


consideravelmente. Bilhões de reais foram usados para comprar
consciências da classe jornalística e adoçar a boca grande das famílias
monopolistas. Nada mudou signi cativamente nesse período, e as
diferenças foram apenas quantitativas — e acidentais, se considerarmos
o uxo de dinheiro que corria para os blogs petistas que, façamos
justiça, sempre foram somas irrisórias quando comparadas às verbas
bilionárias que os grandes grupos de comunicação receberam no
mesmo período.

Com a chegada de Michel Temer à presidência, o jogo continuou o


mesmo, com apenas alguns players sendo substituídos, nada mais.

Jair Bolsonaro candidato fez campanha contra esse status quo.


Defendeu o rompimento dessa relação pornográ ca, que retira
dinheiro dos contribuintes e transfere para uma elite ancorada nos
cofres públicos e que pode ser rotulada como a parte visível do
establishment, mas que também deve ser entendida como coveira da
democracia, ao deturpar a equação “governo — imprensa — povo”.

Na corrida para a presidência, Bolsonaro fez denúncias sobre essa


aberração, prometeu romper esse pacto sinistro, que desequilibra as
forças políticas, desvia o dinheiro do pagador de impostos, mascara a
verdade e fortalece a mentira como ferramenta de poder — e entendo
que boa parte dos seus eleitores o escolheram exatamente por essa
razão. Por isso, desde o início do período eleitoral foi alvo de uma até
então inédita artilharia midiática. O lulopetismo costuma dizer que
“nunca antes na história desse país” alguém foi tão massacrado como
seu líder máximo, mas qualquer análise fria e sincera tende a
reconhecer que nem mesmo no auge da operação Lava Jato os tucanos
e falsos liberais da grande imprensa brasileira foram tão incisivos e
incansáveis como o são contra aquilo que chamam de “bolsonarismo”.

O problema — que permanece e não parece ter m —, no meu


entender, consiste na ausência ou timidez nas ações do atual
presidente, que talvez tentando apaziguar as relações com a mídia,
procurou amenizar ou adiar inde nidamente as iniciativas que
deveriam ter sido aplicadas desde o primeiro dia de mandato.

A manutenção das inúteis e extremamente caras Empresa Brasil de


Comunicação e  Brasil, a nomeação de guras estreitamente ligadas
aos barões das comunicações, e a resistência em falar diretamente às
massas usando recursos constitucionais como os pronunciamentos em
rede nacional são exemplos de erros estratégicos que enfraqueceram o
seu discurso e o encurralaram, tornando alvo fácil das narrativas
corporativas daqueles que querem a volta dos esquemas bilionários das
últimas décadas.

Como o poder não permite lacunas, governadores e outras lideranças


ocuparam esse espaço, despejando rios de dinheiro em publicidade
inútil que só serve para comprar bocas e penas, como cou ainda mais
evidente no meio da crise atual.

Tudo isso serviu ao menos para con rmar que enquanto não for
proibida a propaganda estatal, não haverá liberdade de imprensa de
fato e, por conseqüência, democracia de verdade.

J 
Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e
corrupta formará um público tão vil como ela mesma.

— Joseph Pulitzer
lgumas pessoas demonstraram surpresa e indignação diante do uso de
A hashtags em uma postagem recente da Folha de São Paulo.
Alegando “noticiar” as manifestações que pediam o impeachment
do presidente Jair Bolsonaro, o jornal usou as tags e palavras-chave que
estavam sendo usadas como convite aos manifestantes. Como a
operação foi deliberada, e a intenção nitidamente ideológica, não se
tratou de informar, mas de formar um juízo de valor e promover as
manifestações.

A postagem foi calculada para induzir os leitores sem, no entanto,


parecer ostensivamente favorável às manifestações. O objetivo era
ampli car o alcance do “convite” e dar a ele uma importância maior do
que tinha na realidade. Mas sempre mantendo a aparência de
imparcialidade. Esse é o truque.

Além da cobertura jornalística enviesada, feita por pessoas com


limitadas capacidades cognitivas ou comprometidas com interesses
materiais, ideológicos ou partidários, esse deslize apenas con rma um
modus operandi. A única diferença é que desta vez parece que erraram
na medida e exageraram na dose, mas quem observa o trabalho da
grande imprensa com atenção não se surpreende com uma notícia
dessas.

A grande mídia, no Brasil, sempre foi formada por monopólios que


agiam em conjunto e eram sustentados por dinheiro público na forma
de publicidade estatal e leis de incentivo. Essa cartelização da imprensa,
mesmo não sendo exclusividade brasileira, tem prosperado no nosso
país com singular desenvoltura, e há pelo menos algumas décadas.

Parece mentira que um negócio bilionário como a transmissão de


informações possa car sob o controle de poucas famílias. E nos
últimos governos esse cartel foi irrigado com o suor dos brasileiros que
pagam seus impostos.

Essa altíssima concentração de poder só foi possível porque contou


com a ajuda do fator ideologia para acelerá-la ao longo das últimas
décadas. Ao mesmo tempo em que interesses nanceiros norteiam as
direções dos veículos, o ambiente ideológico das redações e estúdios
também favorece esse tipo de jornalismo militante. Sem a combinação
dos interesses dos patrões com os dos seus empregados seria
impossível produzir toda essa militância disfarçada de jornalismo.

A questão ideológica, que por causa da polarização política cada vez


ganha mais importância nas discussões públicas, sempre esteve
presente na linha de frente dos órgãos da grande imprensa. Seja devido
ao aparelhamento do ensino universitário, seja por conta do baixo nível
cultural generalizado do país.

Com as faculdades de jornalismo cooptadas pelo movimento


revolucionário, tanto do ponto de vista intelectual quanto estrutural, a
formação dos novos jornalistas tem sido uma seqüência interminável
de incompetências e vexames, um acúmulo de fracassos que, ao invés
de orientar uma mudança drástica nos rumos, retroalimenta o
processo ao renovar os esforços no mesmo sentido para repetir os
mesmos erros ad in nitum. Desde o simples manuseio básico das
palavras e sentenças, das noções rudimentares do idioma e das
ferramentas lingüísticas, até as interpretações limitadas e distorcidas
pela ideologia.

Em outras palavras, nossa academia está cuspindo jovens ignorantes


que, alimentados pelas respostas prontas da ideologia, tornam-se
arrogantes, com a mente blindada para toda e qualquer informação
diferente daquela que ouviu de seus gurus e ideólogos camu ados de
professores. Resumindo: arrogantes desinformados que mal sabem
escrever ou falar, mas cumprem com perfeição o papel de militantes.

O ódio ao governo Bolsonaro, portanto, pode ser entendido por dois


ângulos, um material e outro ideológico. Esses aspectos, no entanto, se
confundem e costumam se misturar, não apenas na mídia mainstream,
mas de forma muito mais ampla, em toda a chamada “classe pensante”.

Enquanto os donos dos veículos estão preocupados com as receitas


que cessaram no governo Bolsonaro, seus funcionários, além da
preocupação natural com as demissões, com os cortes salariais e com o
m da mamata das “palestras”, “projetos culturais” e “consultorias”
bancadas com dinheiro público, também odeiam o governo devido às
suas preferências pessoais.

Essa combinação de interesses materiais e políticos transformou a


imprensa em um partido político, que abandona completamente os
escrúpulos quando o assunto é desgastar o governo. A busca pela
verdade e o desejo de transmitir a informação da maneira mais clara e
sincera possível foi substituído por objetivos mesquinhos e egoístas.
Para esses dois grupos, patrões e empregados, tudo o que importa é
voltar ao esquemão que durante décadas sustentou a casta que acredita
possuir o dom e o direito de orientar a vida dos outros.

Embora a postagem repleta de hashtags partidárias tenha, de fato,


evidenciado uma realidade que subsiste abaixo da superfície —
encoberta pelo discurso da imparcialidade democrática, da isenção, da
cidadania e outros clichês — não deveria ser necessário um fato tão
escandaloso como esse, a nal, apenas os cegos não perceberam que a
grande mídia não tem mais o menor interesse em informar. O negócio
deles é formar, desinformar e deformar.

M:    


O advento da grande mídia democratizou a ignorância.

— Olavo de Carvalho

Q ualquer um que tenha se dedicado ao estudo de um fenômeno


político ou de um evento de importância na história
contemporânea vai perceber, de imediato, que a mídia sempre
teve alguma in uência no rumo desses acontecimentos.

Não acredito que esse papel, mesmo privilegiado, faça desse grupo
um 4o poder, como alguns a rmam, porque a dependência das verbas
publicitárias está na essência do seu modelo de negócios. Em todo o
mundo os recursos que sustentam as empresas de mídia vêm do setor
privado, e devido ao alto custo envolvido, majoritariamente das
grandes corporações internacionais.

No Brasil, por conta da grande concentração de mercado e de uma


anomalia tupiniquim, a mídia sempre foi ainda mais dependente.
Explico: como são poucas empresas de comunicação, os espaços são
mais restritos e mais caros, o que reduz o número de potenciais
anunciantes e fortalece a posição dos grandes grupos multinacionais. E
a parte da anomalia — ou jabuticaba — diz respeito ao uso de verbas
públicas para comprar consciências, aliciar ou domar jornalistas
enquanto se faz propaganda do governo.

Além de corroer a sua independência, o farto dinheiro público levou


as empresas a um estado de acomodação pro ssional. E com o tempo
essa apatia virou uma torpeza viciante que incapacitou o setor
administrativo, porque deixou de se preocupar com e ciência e corte
de gastos, e a área comercial, que desaprendeu a vender.

No mundo inteiro a mídia convencional passa por um momento


delicado, com as verbas migrando para as plataformas digitais onde os
reis são outros. A situação é ainda mais grave para as empresas
brasileiras, que perderam também o dinheiro público que as viciava.

Esse problema nanceiro que atinge a maioria das empresas de mídia


deve ser observado em paralelo com as tendências, que também
parecem desfavoráveis.

As redes sociais e os aplicativos de mensagens transformaram as


relações entre a informação e o público. Mais do que facilitar o contato
entre as pessoas e oferecer novos canais de comunicação — o que
permite a salutar comparação —, as novas tecnologias inauguraram
novas maneiras de interação com as notícias — o que vai além do
conteúdo e alcança também a “forma”.
Com a possibilidade tecnológica, agora as pessoas podem con rmar
uma informação buscando fontes diversas e até mesmo primárias. Esse
princípio de veri cação já faz parte do cotidiano das pessoas mais
atentas e que buscam informação isenta de direcionamentos.

Embora a grande concentração das plataformas e as tendências


autoritárias e censoras destas empresas sejam problemas graves que
precisamos enfrentar com urgência, as redes sociais proporcionaram
uma mudança profunda, que representa um avanço sem precedentes
na comunicação social.

A ascensão das redes sociais está destruindo a hegemonia da mídia


mainstream. Antes soberana no debate público, a voz cartelizada do
establishment hoje enfrenta a desmoralização cotidiana. Como o
discurso midiático freqüentemente procura omitir, distorcer ou
inventar uma narrativa que favoreça uma agenda, não costuma ser
muito difícil desmontar suas narrativas — mas antes não existiam os
meios, e as redes sociais retiraram esse obstáculo.

Durante décadas os monopólios midiáticos gozaram de enorme


prestígio, o que sempre lhes assegurava uma credibilidade injusti cada,
já que além das ligações umbilicais com o entretenimento vulgar e
estupidi cante, a grande imprensa sempre esteve envolvida em
escândalos de favorecimentos políticos, econômicos e ideológicos de
todos os tipos.

Importante ressaltar que dentre os pro ssionais a serviço dos cartéis


de comunicação, poucos têm consciência dos objetivos e
desdobramentos dos seus atos. A imensa maioria ignora as razões e
apenas funciona como caixa de ressonância para interesses ideológicos
que nem mesmo é capaz de compreender. Assim como qualquer idiota
útil, não conhece sua utilidade e muito menos quem o utiliza. Os
mensageiros conscientes da ideologia conduzem a manada
ideologizada que imita e multiplica como resposta a um gatilho
plantado no seu imaginário.
A perda da hegemonia do discurso causou uma mudança na postura
das empresas e das suas principais vozes. Com a sua audiência
despencando a olhos vistos, precisaram criar uma justi cativa para
explicar a perda de relevância. Devido ao desgaste dos desmentidos
diários, a grande mídia passou a rotular seus críticos e a atacar
qualquer refutação como fake news. Tudo isso sem apontar um fato ou
uma prova e até mesmo sem entrar no mérito da acusação.

Com essa mudança de comportamento, que tem o objetivo de


desmoralizar as críticas e desumanizar os críticos, a grande imprensa
foi obrigada a revelar, pelo uso exagerado e desmedido, suas técnicas
de manipulação.

Diante desse momento desesperador, que alia perdas na relevância e


no bolso, a mídia tem forçado a mão nas suas agonizantes tentativas de
recuperação: ao demonizar as redes sociais e os aplicativos de
mensagens, mostra sua face corporativista e elitista, completamente
alheia aos anseios, valores e crenças do seu público, e ao atacar os
canais independentes, inclusive com incentivo à censura, mostra sua
real natureza autoritária.

Essa é a melhor oportunidade para identi car, mapear e expor esse


modus operandi. Continuaremos no próximo texto.

A      



Eu desaprovo o que dizeis, mas defenderei até a morte vosso
direito de dizê-lo.

— Evelyn Beatrice Hall


P rovavelmente o leitor conhece a frase que abre esse texto, muitas
vezes atribuída ao Voltaire, mas que realmente foi escrita por
Evelyn Beatrice Hall, na biogra a que escreveu sobre o iluminista
francês.34 Devido à força da sua síntese, a sentença tem servido como
um estandarte em defesa da liberdade de expressão e do convívio
democrático entre pessoas que pensam de maneira diferente.
Exatamente por condensar os conceitos de liberdade e tolerância, a
frase tem se tornado clichê em qualquer defesa do direito de se
expressar — pecado que este que vos escreve acaba de cometer.

Acontece que embora a frase apareça com muita freqüência na grande


mídia e esteja sempre na boca dos seus jornalistas orgânicos, a voz
o cial do establishment não pratica o que, segundo a autora, representa
a essência do pensamento liberal do seu biografado.

O corporativismo, que existe em várias categorias pro ssionais, na


imprensa tem alguns aspectos bem peculiares. O primeiro deles, sem
dúvida, diz respeito ao caráter exclusivista, representado por um
corporativismo diferente, que não defende a categoria, mas apenas
aqueles funcionários que trabalham em determinadas empresas. Em
outras palavras, o corporativismo da grande imprensa é limitado a
algumas corporações. Se o sujeito não trabalha em um dos poucos
grupos que formam o cartel, não é considerado jornalista. Esta
primeira particularidade do corporativismo midiático, e sua essência
elitista, funcionam como um re exo da idolatria do diploma, de um
pensamento positivista, aristocrático e, pensando bem, re ete também
uma mentalidade totalitária que pretende instituir uma civilização
baseada em uma “ditadura dos especialistas” — que eu chamei de
tecnocracia feudal em outro artigo.

Um segundo aspecto do corporativismo seletivo da grande imprensa,


que alcança também os órgãos representativos, os sindicatos e as
associações de classe, está atrelado à sua relação indissociável com o
entretenimento vulgar e emburrecedor. O jornalismo mainstream
divide espaço com o que existe de pior na produção “cultural” do país,
pois os reality shows, os programas de auditório, as novelas e os fúteis e
por vezes bizarros programas ou cadernos de “variedades” fazem parte
da mesma grade, do mesmo pacote. O jornalismo que se pretende sério
e respeitável, portanto, precisa fomentar, defender ou amenizar o lixo
cultural que promete combater com informações relevantes noticiadas
de forma isenta e democrática. Esse paradoxo, que escancara o papel
da mídia como porta-voz do establishment e seu compromisso com
uma agenda pré-estabelecida, também serve para formular a pergunta
que pode acordar aqueles que ainda dormem, como uma red pill
tardia, mas absolutamente necessária: Você acha que a mesma empresa
que despeja lixo dentro da sua casa está preocupada com o seu bem-
estar? As empresas de mídia dedicam a maior parte do seu tempo e dos
seus investimentos para construir uma programação que inverte
valores, que insere e direciona pautas de acordo com uma agenda
oposta aos interesses e crenças da população. Não parece lógico que
elas vão usar o jornalismo para o mesmo m? Se você acredita nas
boas intenções de quem promove o que existe de pior na cultura
popular, e que só dá espaço a artistas sem nenhuma qualidade, você
está pronto para acreditar em tudo. E é exatamente isso que o sistema
quer: um povo que obedece a um argumento de autoridade mesmo
quando ele está em completo desacordo com a realidade.

Como vimos no artigo anterior, a mídia sempre funcionou como um


instrumento de poder e, para executar suas tarefas, tornou a
manipulação das informações um padrão operacional, com métodos e
protocolos que obedecem a uma estratégia conhecida apenas por uma
minoria, mas repercutida pela maioria ignorante adestrada. Nos
últimos anos, devido à crescente perda de relevância — e ao
decrescente saldo bancário —, a mídia mainstream foi obrigada a
reagir ao destino que aparece no horizonte, e como está em desespero,
reagiu de forma destrambelhada, exagerou na pressa e na intensidade.
E então seu modus operandi e sua natureza totalitária caram
evidentes, ostensivos, ululantes.

Sob a necessidade de recuperar a hegemonia do debate público e,


conseqüentemente, a audiência e as verbas publicitárias, a grande
mídia abandonou a função informativa e esqueceu qualquer resquício
de um compromisso com a verdade. Para desacreditar o jornalismo
independente e desmoralizar as redes sociais e os aplicativos de
mensagens os emissários da imprensa cartelizada passaram a atacar e
rotular todo discurso contrário, de forma a minimizar a importância
de uma pauta sem precisar discuti-la, e para calar os seus críticos e
adversários na base da carteirada.

Sabemos que a prática de rotular opiniões e opinadores serve para


dessensibilizar e desumanizar as platéias. Quando um sujeito rotulado
passa a ser censurado, caluniado ou perseguido, está dada a justi cativa
para qualquer abuso. O rótulo serve para preparar o terreno para a
censura e, como mostram exemplos recentes no Brasil, para vários
tipos de supressão dos direitos naturais e cerceamento das liberdades.
Inclusive prisão.

Para con rmar o que vai acima, basta analisar o comportamento da


grande mídia e do jornalismo orgânico nestes recentes casos de
censura e perseguição ideológica. Logo que perceberam que a
relevância escorria por entre os dedos, passaram a construir uma
imagem extremamente negativa a respeito das redes sociais. Pinçando
exemplos extremos e exóticos, criaram espantalhos, e para gravar esses
rótulos no imaginário coletivo precisaram martelar termos e
expressões com pouco ou nenhum signi cado real, mas elásticos e
volúveis o su ciente para atrelar a eles um conteúdo pontualmente
interessante — “fake news”, “blogueiro”, “discurso de ódio”,
“negacionista” são exemplos do método.

Depois, quando conseguiram imprimir na imaginação dos


desavisados a imagem ctícia que criaram, quando o espantalho já
estava pronto, deram continuidade ao processo de demonização de
todo pensamento diferente, usando todas as suas forças para
bombardear a população com “argumentos” e justi cativas para a
censura de qualquer opinião, idéia — ou mesmo fato — que não
estejam em sintonia total com o discurso o cial e, portanto, fora dos
limites permitidos pelo establishment.
A maioria da população, no entanto, comunga de princípios e valores
opostos àqueles defendidos e promovidos pela mídia representante do
status quo, e isso cou visível com a consolidação das novas formas de
comunicação trazidas pelo advento das redes sociais. As pessoas
perceberam que não estavam sozinhas.

Esse fator, que deriva da combinação entre a necessidade desesperada


de manipular e o despertar progressivo do seu alvo, deve contribuir
para o declínio da mídia tradicional, pois a cada dia está cando mais
óbvio que o jornalismo corporativista não tem nenhum compromisso
com a frase que não é do Voltaire.

Continua no próximo texto.

M:   



O que censuro aos jornais é fazer-nos prestar atenção todos os
dias a coisas insigni cantes, ao passo que nós lemos três ou quatro
vezes na vida os livros em que há coisas essenciais.

— Marcel Proust

O momento não é favorável para a mídia tradicional. E o horizonte


ainda não permite nenhum vislumbre de uma mudança nessa
tendência. Seja pela exposição da sua natureza autoritária e do seu
modus operandi, o que diminui a sua credibilidade e a e ciência da sua
manipulação, seja pela sua decrescente participação nas verbas
publicitárias.

Esse estado de coisas é conseqüência direta da combinação entre


circunstância e inapetência para lidar com a mudança de cenário. A
circunstância que colocou e coloca a mídia tradicional em uma
situação bastante desfavorável está atrelada ao advento da internet e
das redes sociais, mas também é conseqüência direta — e tardia — do
trabalho simultâneo e complementar das principais facetas da mídia: o
jornalismo e o entretenimento.

A incompetência ca por conta de duas questões principais: a


acomodação e a hipocrisia.

A primeira questão, a acomodação, ca muito clara sob o ponto de


vista comercial, quando notamos que mesmo diante das oportunidades
abertas pelas novas tecnologias, os grandes grupos de mídia insistiram
em formatos publicitários ultrapassados, pouco segmentados ou
regionalizados. E um olhar sobre o conteúdo da programação também
vai mostrar uma degradação constante ou, na melhor das hipóteses,
uma estagnação miserável — sejamos sinceros: o conteúdo da mídia
mainstream, com raríssimas exceções, vai do medíocre ao lixo
absoluto.

Quanto à hipocrisia, ela se resume na frase “faça o que eu digo, não


faça o que eu faço”. Desde o surgimento do politicamente correto a
grande mídia tem trabalhado incansavelmente na construção de um
ambiente de patrulhamento, seja comportamental ou da linguagem —
mesmo desobedecendo sistematicamente às regras que impõe aos
outros, sempre é bom lembrar.

Esse ambiente hostil à liberdade de expressão e refratário à


espontaneidade, conseqüência de um imaginário rebaixado pelo
entretenimento vulgar e corrompido pelo jornalismo ideológico,
fornece o terreno ideal para o orescimento de qualquer pauta
totalitária.

Um povo emburrecido por banalidades e manipulado por ideologias


tende a manifestar insegurança e, conseqüentemente, torna-se
dependente de um direcionamento externo ou de um senso de
pertencimento grupal. O indivíduo dependente está sempre precisando
de um norte ou, pelo menos, de um reforço para garantir suas frágeis
convicções, uma muleta para apoiar suas volúveis opiniões e uma
camu agem para encobrir esta mesma dependência, além da sua
omissão e da sua covardia. E esse reforço pode vir na forma de um
pseudo-consenso ideológico — que pode ser disfarçado de cientí co
—, ou de um pretenso representante deste falso consenso, uma
autoridade, uma liderança paternalista que interprete a realidade e o
oriente. Este é exatamente o “novo homem”, adequado à nova
sociedade que o establishment trabalha para criar.

Com a soberba de quem sempre teve a hegemonia no debate público,


a grande mídia se acostumou a julgar e condenar comportamentos, a
alçar novos modelos de perfeição e a exaltar novos ídolos,
freqüentemente diversos e até mesmo contrários aos interesses e aos
valores tradicionais do conjunto da população. E com a arrogância de
quem pretende falar em nome do povo, trabalha para censurar, proibir
e punir qualquer desvio das regras de conduta que pretende impor à
sociedade.

Sabemos que, como parte visível do establishment, durante décadas a


mídia tradicional teve como função última a sustentação de um
“sistema”, que tem uma “agenda”, portanto, mesmo que eventualmente
ocorra algum desvio de rota, sempre houve um destino nal, um
objetivo, que para ser alcançado exige a acomodação arrogante e a
hipocrisia escancarada. Melhor dizendo, o pleno funcionamento deste
“sistema” — inclusive a transição para seu upgrade — requer um
público com o imaginário formado e moldado por esse conteúdo
imbecilizante.

Quando falo do m da mídia convencional, que julgo ser algo


irreversível, não estou tratando de falências ou fechamento de
empresas, mas da morte de um modelo, de um tipo de comunicação
que está condenado. Essa reação desesperada e agressiva da grande
mídia, expondo suas ferramentas, seus pés de barro e sua verdadeira
face, representa, no meu entender, uma con rmação deste destino.

A mídia convencional, pelas razões que tentei explanar, deve tornar-


se, gradualmente, um meio complementar e secundário, um acessório
das plataformas das big techs. A relevância continuará decrescente e,
enquanto forem úteis à formação do público ideal, serão preservadas,
mas depois o seu destino provavelmente seguirá o do fax e do telefone
xo.

A  
Ser banido signi ca ir para longe, muito longe. Para um lugar
onde as pessoas se tornaram conscientes demais.

— Aldous Huxley

N orelacionada
imaginário popular a palavra totalitarismo costuma ser
a regimes ditatoriais onde a liberdade só existe dentro
de parâmetros muito restritos e, mesmo assim, apenas para aqueles que
contribuem de alguma forma para a manutenção do poder. Regimes
como o nazismo, o socialismo, o comunismo e o fascismo sempre
apresentaram de forma clara e evidente as restrições aos direitos
naturais e as limitações das liberdades individuais. A essência do
totalitarismo, no entanto, pode existir em um simulacro de
democracia, sem um aparato ostensivo de repressão, desde que use
uma camu agem cienti cista revestida de boas intenções.

A liberdade de expressão, uma das bases da verdadeira democracia,


sempre foi o maior obstáculo ao totalitarismo, e exatamente por isso
costuma ser o alvo primordial dos totalitários, sejam aqueles que
pretendem subjugar um povo colocando uma bota em seu pescoço,
sejam os que se disfarçam de benfeitores e se apóiam em eufemismos
para impor as regras que a população deve seguir. Em ambos os casos a
mentalidade totalitária dá início à sua escalada criando limites para a
livre manifestação. Melhor dizendo, omitir informações destoantes do
discurso o cial e censurar opiniões contrárias são sempre os primeiros
passos para o totalitarismo.
Os primeiros meses de 2020 entrarão para a história como um
período sombrio. Não apenas pela pandemia que assolou o mundo e
proporcionou uma crise generalizada, mas também porque mostrou
que a mentalidade totalitária está enraizada em algumas camadas da
sociedade. Desde o início do ano, intelectuais, artistas e jornalistas do
mainstream desonraram suas posições ao se aliarem ao que existe de
pior na política com o intuito de defender posições ideológicas ou
partidárias.

Que políticos ambiciosos e burocratas busquem calar as vozes


divergentes com o objetivo de ampliar o alcance do seu poder, nunca
será uma surpresa. Que multidões de pessoas desinformadas passem
não apenas a aceitar, mas a comemorar iniciativas que esmaguem seus
direitos para controlar suas atitudes, também não é nenhuma
novidade, pois o medo, instrumentalizado por objetivos inconfessáveis,
tem a capacidade de alterar percepções e ativar um senso de
sobrevivência que muitas vezes cega a análise dos desavisados. O que
pode parecer surpreendente é ver a chamada classe pensante ajoelhar
diante de atitudes totalitárias e, mais ainda, colaborar com elas. Foi
usada a expressão “pode parecer” porque na verdade basta um recuo
para entender, de fato, o que está acontecendo.

A pandemia chegou ao Brasil durante um governo odiado por essa


casta acostumada a privilégios e ao protagonismo no debate público,
portanto, pretendem aproveitar tudo que possa prejudicar ou desgastar
a administração atual, na esperança de um retorno àquilo que
consideram “normalidade”. Para alcançar esse objetivo, estão dispostos
a abandonar os princípios democráticos que juram defender e a
distorcer os parâmetros que de nem o que vem a ser liberdade.

Na academia, essa omissão diante das afrontas aos direitos individuais


que estão sendo cometidas em nome de uma suposta proteção contra o
coronavírus são efeitos das décadas de aparelhamento que vem
ocorrendo nas universidades. Muitos professores têm funcionado
como instrumentos de formação ideológica, construindo as bases da
hegemonia cultural conforme apregoava Antonio Gramsci. Como já se
passaram algumas gerações desde o início do funcionamento desse
mecanismo, os atuais agentes muitas vezes nem percebem que estão
apenas repercutindo um molde cuja origem desconhecem,
simplesmente porque lecionam aquilo que aprenderam.

Entre os artistas essa visão embaçada do que vem a ser democracia


também pode ser observada. Além da óbvia questão nanceira,
conseqüência da reestruturação das leis de incentivos — a fonte que
jorrava recursos para artistas engajados secou ou está apenas gotejando
—, também existe um aspecto de ordem psicológica, devido a uma
particularidade presente no imaginário da classe artística moderna,
especialmente a brasileira. Acostumados a associar arte com subversão
dos valores, acreditam que seu trabalho se resume a causar impacto e
escândalo naquilo que eles imaginam ser o “conservadorismo”.
Pensando estar colaborando para o que chamam de “progressismo” de
forma genérica, colaboram com o pensamento totalitário do
establishment camu ado de insurgente, ou seja, respondem a estímulos
de forma mecânica enquanto pensam estar agindo espontaneamente.

A grande imprensa, desesperada diante da perda de credibilidade


devido ao protagonismo das redes sociais, e carente das verbas de
propaganda estatal que reduziram signi cativamente no governo atual,
tem colaborado com o avanço dos objetivos totalitários preconizados
pelos burocratas da velha política, inclusive e principalmente com a
censura.

Como cou evidente com o apoio incondicional à  das fake


news, que mostrou-se um preparatório para que censores possam agir
em nome de uma fraude descarada, a mídia, ou melhor, a parte visível
do establishment, abandonou o disfarce que a escondeu durante muito
tempo. A crise de 2020, que teve origem em uma doença e se alastrou
por várias outras áreas da sociedade, também serviu para trazer à luz a
verdadeira função da grande imprensa. Ao invés de se portar como
defensora incondicional da liberdade de expressão, como repete
demagogicamente em seu discurso o cial, a mídia brasileira está
atuando como promotora do totalitarismo, ao relativizar e até mesmo
justi car atos de censura que estão acontecendo às centenas, talvez
milhares. Para qualquer um que esteja um pouco mais atento, foi
descortinado o objetivo desta aparente incompatibilidade.

Por outro lado, embora tenham proporcionado uma oportunidade


para que a voz popular tivesse maior alcance, as redes sociais foram
paulatinamente fechando seus espaços para discursos e pensamentos
discordantes daqueles adotados pelo establishment. Nos últimos anos
esse processo foi ganhando corpo, com as empresas responsáveis pelos
sites mais populares do mundo se aliando aos grandes órgãos de
imprensa e seus satélites, as agências de checagem e os institutos de
pesquisa. Junto a isso, conceitos como “pós-verdade”,35 “fatos
alternativos” e outras formas de relativismo deixaram o ambiente
acadêmico e a pauta de reuniões como as do Clube Bilderberg,36
ganharam repercussão e passaram a funcionar como argumentos para
justi car a censura ou qualquer outra forma de restrição às liberdades.
A própria disseminação da expressão fake news, que ganhou força com
as acusações de Donald Trump aos conglomerados da mídia
americana, agora passou a ser usada para acusar aqueles que
discordam dos posicionamentos de um suposto consenso. Apesar de
quebrar a hegemonia dos jornalistas, portanto, os recentes meios de
comunicação representados pelas redes sociais passaram a ocupar a
posição de novos censores, de novos mecanismos de controle da
opinião pública. Mas para entender melhor como chegamos a esta
nova forma de censura, que alcançou o seu ápice em 2020, com o
Google con rmando a manipulação de pesquisas em seus algoritmos e
empresas como Twitter e Facebook censurando um chefe de Estado37
em nome de uma suposta proteção à saúde coletiva, precisaremos fazer
um novo recuo.

A internet surgiu como um projeto do deep state americano, com o


nome de Arpanet. Faziam parte desta iniciativa da ,38 outros
órgãos militares, os serviços de inteligência, corporações ligadas aos
mercados de telecomunicações, armamentos, logística e alta
tecnologia, além de cientistas e pesquisadores de Stanford,
Massachusetts Institute of Technology ( ) e outras universidades,
pensadores de think tanks globalistas como Council on Foreign
Relations ( ) e Chatham House, e de algumas fundações bilionárias
que nanciaram projetos paralelos com interesse no conteúdo dessas
ações. Inicialmente a idéia era criar uma forma de comunicação segura
que interligasse os sistemas de informação destes players, e também os
vários agentes geopolíticos comprometidos com o fortalecimento de
um ambiente de governança global. Como o objetivo era proporcionar
segurança aos dados que circulariam por essa rede, a “encomenda”
deixou claro um ponto importante, que os protocolos exigissem o
controle e o armazenamento sobre o uxo destes dados, o que de niria
a evolução da sua sucessora, a world wide web, como um depósito de
informações que guarda todos os movimentos de todos os usuários, o
tempo todo.

Obedecendo aos enunciados da lei de Moore39 e da lei de Metcalfe,40 a


década de 1990 foi responsável pela expansão radical da internet e pelo
aparecimento das tecnologias que iriam organizar o ambiente até então
caótico da rede. Entre outras grandes inovações, a idéia de classi cação
baseada em um ranking que levava em conta o número de citações foi
decisiva para permitir o manuseio dos dados coletados, tarefa que era
pouco e ciente no início da operação. Essa idéia era a essência de uma
tese de doutorado41 defendida por dois jovens em 1998, e que logo em
seguida formariam uma empresa chamada Google. Com os algoritmos
de relevância, a rede permitiu o manuseio dos dados que antes
pareciam dispersos e incompreensíveis e atiçou a mentalidade daqueles
que desejavam controlar o uxo de informações, dando corpo e
funcionalidade a um projeto diabólico criado um ano antes pelo ,
com apoio dos mesmos pioneiros da Arpanet/internet, o Omnivore,
mais tarde renomeado com o nome que cou famoso, Carnivore, um
misto de soware espião, catálogo digital e classi cador baseado em
comportamento online. Após inúmeras controvérsias a tentativa foi
o cialmente rejeitada pelo congresso americano, mas deu origem a
outros projetos igualmente totalitários como  1000,42
NarusInsight,43 Prism,44  -9,45 etc.
Com a era da chamada internet 2.046 ocorre uma mudança profunda
na essência da internet, com novas formas de interface, onde as
informações passam a ser disponibilizadas pelos próprios usuários.47
Surge nesse momento o conceito de redes sociais, facilitando o acesso
aos dados privados sem necessidade de invasões clandestinas ou
ilegais. Dispondo das possibilidades de armazenamento organizado,
rastreio e classi cação de montanhas de dados simultâneos, não tardou
para que a mente totalitária mostrasse profundo interesse pelas novas
ferramentas de vigilância e controle. Esse princípio de consumer-
generated media48 prosperou e avançou com facilidade no mundo
todo, até mesmo em países com rígido controle sobre a liberdade de
expressão, pois tem a particularidade de acesso pontual e imediato a
todo conteúdo dos usuários, além de permitir censura automática por
tema, autor ou palavra-chave. Exatamente por esses motivos uma
ditadura como a China, por exemplo, que sempre desprezou e oprimiu
a opinião pública, vem investindo rios de dinheiro em tecnologia da
informação, em sowares, hardwares e aplicativos de comunicação
online, de localização e de controle, como o “Sistema de Crédito
Social”,49 que pontua, pune ou oferece “benefícios” aos chineses de
acordo com normas especí cas de comportamento, cruzando várias
fontes de dados e utilizando inclusive o  e o reconhecimento facial.
Assim a internet se tornou a “alma” dos projetos totalitários e principal
ferramenta de implantação da Nova Ordem Mundial.

De volta ao presente, estamos vivenciando o resultado de todo um


processo que, desde o início, teve a ambição de controlar a opinião
pública e vigiar o comportamento das pessoas. A prova de que esse
processo está acelerando são as inúmeras ações totalitárias que estão
ocorrendo diariamente, sem resistência e em número cada vez maior
nas redes sociais, nos buscadores e nos aplicativos. Tudo está cando
cada vez mais restrito, até mesmo as mensagens50 privadas estão
limitadas e controladas, e a crise atual está funcionando como
combustível para o avanço do totalitarismo. Estas empresas se
tornaram onipresentes, seu poder ultrapassa qualquer fronteira,
criaram dependência nos hábitos e nos negócios e já dominam a maior
fatia da publicidade mundial.

Se hoje vemos corporações do Vale do Silício utilizando a pandemia


do corona para classi car a relevância de resultados buscados,
promover informações especí cas e deletar notícias, banir opiniões ou
mesmo vaporizar51 per s em desacordo com as recomendações estatais
ou de organismos internacionais como  ou , devemos perceber
também que entregamos nossa soberania, nossa liberdade e nossa
privacidade a um conjunto de empresas e burocratas sem qualquer
compromisso com os nossos valores, um grupo restrito de bilionários e
poderosos comprometidos até a medula com um projeto totalitário
global.

Caso não ocorra um imediato levante de resistência contra as


arbitrariedades que já estão se tornando cotidianas, seja por burocratas
de todas as instâncias governamentais, inclusive internacionais, seja
pelas empresas que controlam a circulação de informações, teremos
implantações de nitivas, mudanças permanentes de comportamento e
di cilmente conseguiremos retomar as rédeas da nossa vida. Então, de
certa forma, estaremos experimentando, na prática, as conseqüências
de desprezar a verdade contida na famosa frase de omas Jefferson, “o
preço da liberdade é a eterna vigilância”.

B-  C
E mbora sejam decisivas para a compreensão da realidade que nos
cerca, muitas questões são freqüentemente ignoradas pela grande
mídia e ridicularizadas pela academia. Temas como a constante
concentração de poder nas mãos do Estado e das corporações
multinacionais, o enfraquecimento dos direitos individuais e das
soberanias nacionais, e a inversão de valores promovida pela elite
mundial di cilmente são abordados com a devida atenção e suas
interconexões nunca são analisadas. As questões relacionadas à
geopolítica e economia global, mesmo que de forma insu ciente, de
vez em quando ainda costumam ser abordadas pela mídia, mas outros
assuntos paralelos são completamente ausentes das pautas da imprensa
e dos currículos das universidades. Algumas exceções, dentro destes
grupos, sabem o su ciente para que possam trabalhar a favor da
agenda, para que possam saber quando e como omitir, distorcer ou
inventar — são agentes da desinformação.

Um conjunto de assuntos, em especial, costuma receber atenção


próxima do zero. São aqueles que estão relacionados aos prejuízos ou
malefícios da tecnologia e o seu possível uso com objetivos totalitários.
Qualquer cantora de funk carioca, participante de reality show ou
outras subcelebridades costumam freqüentar a mídia nacional, mas
raramente há espaço para noticiar de forma séria os perigos das
tecnologias invasivas ou controladoras que estão se tornando
onipresentes.

Desde que comecei a escrever na internet, ainda na década de 1990,


quando a rede ainda engatinhava, o foco da minha preocupação
sempre esteve relacionado a algum tipo de ameaça, em grande parte
das vezes tecnológica, aos direitos naturais representados pela
liberdade, em todas as suas formas, e pela privacidade, os elementos
essenciais à formação da personalidade individual. Mesmo antes de
estudar o assunto, percebia instintivamente que o próprio conceito de
livre-arbítrio estava ameaçado. Na época o tema controverso era a
criação de um conjunto de sowares que seriam interligados com o
objetivo de catalogar todas as atividades de todos os usuários da
internet. O projeto inicialmente foi chamado de Omnivore, depois
Carnivore, como cou mais conhecido, e já nos anos 2000 recebeu o
codinome , ou “Digital Collection System”. O cialmente o
projeto foi descontinuado, mas sabemos que ele serviu para mostrar
que a mentalidade totalitária tinha espaço na rede. Além disso, gerou
projetos- lhotes como o NarusInsight, Echelon, Prism e vários outros
do , da  e de alguns gigantes da tecnologia, como  e
Sun-Oracle.

Quando resolvi escrever reiteradamente sobre o assunto, em um


antigo blog do Tripod e depois em um blog deletado pelo Google,
alertando sobre as possíveis conseqüências de um projeto tão
ambicioso, com evidentes desdobramentos totalitários, conquistei
meus primeiros leitores, e alguns permanecem ao meu lado até hoje.
Por outro lado, a maioria não levava a sério aqueles alertas porque não
condiziam com a informação circulante na grande mídia. Foram
muitas as a rmações do tipo “senta que o leão é manso” e inúmeras as
tentativas de ridicularização. Também conquistei muitos rótulos nesse
período, como lunático, maluco, paranóico, além do clássico teórico da
conspiração.

Hoje temos evidências muito concretas de que as grandes empresas de


tecnologia coletam e arquivam informações de seus usuários e o big
data se tornou um fato inquestionável. Se levarmos em conta as leis e
decretos que estão sendo implantados ou tramitando sob o pretexto de
proteção e segurança, os alertas parecem se con rmar: já estamos
vivendo o Carnivore — turbinado com reconhecimento facial e de voz,
localização, preferências, likes.

Como assunto, os problemas gerados pelo uso irresponsável ou


malicioso das tecnologias, costumam seguir um roteiro de apreciação
da “classe pensante”. No início, quando poucos alertam sobre possíveis
conseqüências de determinado projeto, produto ou idéia, os autores da
advertência são alvos de descrença e deboche, sem entrar no mérito da
discussão. Atacam o mensageiro e nem abrem a mensagem. Quando a
realidade se choca com a versão deles, passam a ngir que sempre
falaram no assunto e, de quebra, aderem imediatamente à novidade.
Com o chip  foi assim, com o reconhecimento facial também, e
continua da mesma forma com as iniciativas legislativas que
pretendem eliminar a nossa privacidade e controlar todas as nossas
informações ( s 2418/19, 3389/19 e 2390/15, Decreto 10046), e
criminalizar a nossa opinião (Lei Kim 13834/19, além dos prováveis
desdobramentos da  das fake news).

É urgente alertar sobre o avançado processo totalitário que se


desenvolve como uma espiral, com percursos cada vez mais curtos e
períodos mais rápidos, via convergência de tecnologia invasiva com
legislação sob medida para agigantar o Estado e fortalecer o poder das
grandes corporações. E não podemos esperar que isso seja feito pela
grande imprensa. Apesar de tão declaradamente zelosa pela liberdade
de expressão, faz parte do establishment, da sua parte mais visível, e
por isso deve permanecer calada. Também é bom lembrar que neste
que é o pior momento da história da grande imprensa, com
credibilidade, audiência e faturamento despencando sem expectativa
de melhora, tudo que resta a estes grupos é limitar o alcance ou, se
possível, calar as redes sociais que deram voz aos anônimos divergentes
e modi caram o cenário político-cultural. Como tentativa desesperada
de recuperar a hegemonia do discurso, a mídia tem mostrado que é
capaz de tudo, até mesmo de ngir que não percebe que estamos
prestes a viver o Carnivore.

I:   
 
A democracia depende da liberdade de expressão. A liberdade de
conexão, com qualquer aplicação, a qualquer parte, é a base social
fundamental da internet e, agora, da sociedade que nela se baseia.

— Tim Berners-Lee

A ntes de receber o nome que usamos hoje, e antes mesmo de


funcionar, a internet surgiu como uma porta para um universo de
52

in nitas possibilidades. Desde os primeiros insights de Paul Baran, da


Rand Corporation, a possibilidade de conexão entre computadores
atraiu a atenção de pessoas com per l anárquico. Se por um lado o
próprio Baran e seus colegas cientistas da computação tinham
profundas ligações com poderosas instituições do deep state, no campo
dos a cionados e primeiros usuários civis, em sua maioria nerds, e
hippies atrelados ao mundo acadêmico, o sentimento era libertador,
anticensura e antiburocrático.

Após o sucesso de consolidação do projeto capitaneado pela Arpanet,


houve uma divisão entre a rede militar e a rede aberta, civil. E daí em
diante, a internet ganhou aparente liberdade e independência.

Hoje sabemos que tudo que transita pela internet pode ser rastreado,
mas naquele momento essa aparência de liberdade sem limites era bem
convincente. Milhares de sites e milhões de usuários usufruíram desse
privilégio por pouco mais de uma década.

Quem teve acesso à internet no início dos anos 1990 deve lembrar
que, mesmo com as di culdades técnicas, não existia censura. Os
buscadores de catálogo coletavam os endereços manualmente, o que
elevava a qualidade e a precisão dos links, mas o trabalho braçal
limitava o número de resultados alcançados.

A liberdade (aparente), naquele momento, era total.

Alguns grupos foram atraídos de imediato pela promessa de acesso


universal ao conhecimento, pela liberdade, pelo m da censura e,
principalmente, pela possibilidade de mostrar o seu trabalho e fazer
valer a sua voz — ou, como se diz atualmente, “produzir seu conteúdo”.
Surgem então os sites pessoais, os fóruns, os blogs e as pessoas
começam a juntar seus estudos, solucionar suas dúvidas e aprofundar
seu conhecimento sobre assuntos pouco explorados ou, no máximo,
reservados ao jornalismo ou à academia.

Esse clima que imperou no início da internet aberta a usuários sem


distinção criou uma aura de independência que atraía cada vez mais
pessoas dispostas a aprender e contribuir com temas ausentes do
debate público e contrários ao discurso o cial do establishment.
Liberdade e subversão embalavam a rede que crescia vertiginosamente
em conteúdo e colaborações.

Com o tempo aquele universo caótico e anárquico por onde


circulavam as informações foi se tornando um ambiente controlado.
Pouco a pouco o politicamente correto, o vitimismo, o coletivismo e a
mentalidade burocrática foram diluindo as liberdades virtuais
limitando conteúdos e cerceando os usuários.

O advento das redes sociais deu voz ao cidadão comum, mas


concentrou o uxo de informações de forma avassaladora, tirando da
internet algumas de suas melhores características, como a diversidade,
a profundidade e a complementariedade.

Hoje temos poucas empresas recebendo a quase totalidade dos


acessos dos usuários. As redes sociais concentram o maior percentual
de tempo conectado, e cientes deste poder, as empresas direcionam a
linha do tempo dos seus clientes, censuram suas postagens e penalizam
seus “comportamentos impróprios de acordo com as regras da
comunidade”. Isso sem falar na invasão de privacidade e
comercialização ilegal de dados.

A própria pesquisa está submetida à ação de algoritmos que podem


de nir a relevância de uma notícia ou uma fonte. Uma notícia
indesejada pode aparecer entre os primeiros ou últimos resultados,
uma busca por um autor pode entregar elogios ou críticas, e por meio
de manipulação da linguagem e artimanhas neurolingüísticas, pode
fomentar ou condenar uma idéia ou um movimento. Tudo de acordo
com o algoritmo, ou melhor, de acordo com as vontades de quem
escreveu o algoritmo.

A concentração do tráfego reduziu signi cativamente o potencial da


internet. Todas as possibilidades de conhecimento sem censura
oferecidas no seu início anárquico e caótico sucumbiram diante da
super cialidade, da mentalidade burocrática e dos interesses
megalomaníacos de meia dúzia de corporações a serviço do
establishment.
O  

E stá se consolidando a idéia de uma entidade, um órgão, que possa
gerir a internet do mundo inteiro, com poder superior ao das
nações, com acesso total ao conteúdo da rede, e com autoridade para
inserir ltros e limitações à livre transmissão de dados. Para viabilizar
essa idéia megalômana e totalitária, esse organismo teria que
centralizar todas as informações produzidas por todos os usuários da
rede. O tempo todo.

Do ponto de vista tecnológico, isso já é possível. O atual estágio de


desenvolvimento dos algoritmos permite deduzir que qualquer palavra
ou frase, dita ou escrita, pode ser usada para analisar rotinas e
comportamentos, detectar preferências ou classi car um cidadão. Se os
sowares e aplicativos que estão à venda nos magazines populares são
capazes de identi car vozes e reconhecer pessoas, imaginem o arsenal
que devem possuir os serviços de inteligência e as megacorporações do
Vale do Silício.

Já existe tecnologia para vigiar e controlar a internet. Desde a sua


criação, como Arpanet, um projeto militar coordenado pela 
(atual  ), a serviço do Pentágono, teve como uma de suas
premissas a possibilidade de rastrear todo o trânsito de dados na rede
que mais tarde passou a ser chamada de internet. O projeto de criação
de uma rede de computadores já nasceu com a possibilidade de
monitoramento do trânsito de informações, inicialmente apenas
coletando dados. Com o avanço dos hardwares e da capacidade de
processamento, esses dados agora podem ser classi cados de acordo
com centenas de aspectos econômicos, sociais, culturais, religiosos, etc.
Algoritmos bem calibrados também podem deduzir até mesmo
temperamentos, situação conjugal e preferências políticas.
Os entraves ao surgimento de uma entidade responsável pelo controle
de toda a internet, portanto, não estão relacionados com a
possibilidade técnica. Atualmente o que atrapalha a pretensão desses
totalitários são questões legais, jurídicas e morais, todas elas
conectadas com algum valor ou algum princípio cultural ou religioso.
A (pouca) resistência a essa idéia invasiva, acredito, está ligada a um
receio instintivo diante da invasão de privacidade e cerceamento da
liberdade. Algumas pessoas percebem que suas liberdades estão sendo
violadas, mesmo sem entender direito o que está acontecendo, e às
vezes até entendem, mas não conseguem expressar o seu
descontentamento. Ao resvalar em princípios valiosos, toda iniciativa
tende a sofrer maior resistência. Neste caso é a mesma coisa.

Mas isso, infelizmente, está mudando. Para pior. Resistir aos ideais
globalistas que norteiam a criação de algo como uma organização
mundial da internet está se tornando cada vez mais difícil. Forças
locais e globais lutam para alterar a percepção das pessoas a respeito da
sua privacidade e da sua liberdade, e para isso precisam trabalhar na
criação de um ambiente favorável a uma nova interpretação da
realidade. Seja forçando a barra por meio de projetos de lei, decretos e
ações inconstitucionais tomadas pelas próprias autoridades que
deveriam proteger a constituição, seja pelo esforço em fomentar o uso
de conceitos como “pós-verdade” ou fake news com o intuito de rotular
divergentes e amedrontar a opinião pública.

Pelo lado mais lírico, tentam dar substância a conceitos abstratos e


difusos, de forma a permitir o uso relativizado de acordo com o per l
do sujeito envolvido: “não importa o que você faz, importa de que lado
você está”. Esta manipulação dos conceitos pode ser observada nas
normas politicamente corretas. O uso freqüente da linguagem
distorcida tende a criar um ambiente cultural mais pobre, carente de
criatividade e espontaneidade. A pobreza cultural, somada à
superexposição das redes sociais e câmeras onipresentes, formará uma
sociedade menos atenta à sua privacidade, confusa sobre as diferenças
entre público e privado, e distraída quanto à sua liberdade. Quem está
acostumado a expor sua vida em um per l do Facebook, di cilmente
dará importância a uma notícia sobre a centralização do controle de
dados na internet.

Pelo lado mais bruto, estas forças, que de uma forma ou de outra
contribuem para colocar a internet sob as asas de um órgão global, já
estão criando legislações, normas e regulamentos que limitam a
privacidade e a liberdade individual na marra. Inicialmente esse
processo está sendo feito dentro das nações, mas sempre seguindo
parâmetros internacionais, de forma a permitir a compatibilidade que
vai facilitar a conexão com aparatos regionais e, mais tarde, o sistema
único que vem sendo planejado.

A simples possibilidade de acessar legalmente todas as informações


circulantes na internet dará, a este órgão, um poder incalculável e
perigosíssimo. Junte a isso o conseqüente controle sobre biometria,
chips , códigos de barras, reconhecimento facial e muitas outras
tecnologias que necessitam a rede para funcionar. Para piorar o
quadro, o desenvolvimento da computação quântica promete tornar
obsoleta toda espécie de criptogra a que conhecemos, o que dará à
 o acesso a toda e qualquer informação, mesmo as que julgamos
seguras atrás de senhas e sistemas de segurança.

O debate sobre centralizar a governança da internet existe desde que


alguém conseguiu enviar dados pela linha telefônica pela primeira vez,
mas agora a discussão voltou à pauta dos organismos globalistas com
um agravante: as tecnologias existem e as pessoas estão mais propensas
a entregar a sua privacidade, um dos elementos que compõem a
personalidade, e sem a qual não há liberdade ou democracia.

Não quero ser paranóico, mas aparentemente estamos caminhando


para uma internet com controle central, um lugar vigiado, impessoal e
insensível. Alguns vão pensar em Matrix, outros no Ministério da
Verdade, do George Orwell, mas eu acho que será o próprio Grande
Irmão.
 :    N O
M
T enho tentado manter o foco das minhas re exões nas
conseqüências desta crise que atravessamos. Nos meus textos
anteriores, e nas lives que tenho feito em meu canal do YouTube o alvo
das minhas preocupações tem sido os efeitos desta turbulência em
nossa vida, seja no futuro imediato, seja no médio e longo prazos.

Acredito que a situação atual deve acarretar algumas transformações


que vão modi car por completo a nossa vida. Começando pelas
questões econômicas, tendo em vista que a maioria da população já
está endividada ou enfrenta enormes di culdades para fechar o caixa e,
portanto, não é preciso muito para desestabilizar por completo a
situação. Nesta perspectiva, os transtornos nem vão esperar o nal
desta crise, já estão ocorrendo agora mesmo: aumento no índice de
desemprego, quebra das cadeias de produção e comércio e
empobrecimento generalizado. Por outro lado, a concentração dos
mercados rentáveis nas mãos das grandes corporações deve acelerar.
Os grandes, muito mais aptos a sobreviver a um turbilhão econômico,
certamente devem comprar barato ou ocupar o espaço deixado pelos
pequenos falidos e insolventes.

Do ponto de vista da concentração de poder, governos devem


aprofundar e aumentar o alcance das suas prerrogativas. Burocratas já
estão mostrando suas garras, aproveitando o pânico para avançar sobre
os direitos naturais dos indivíduos amedrontados. O medo, quando
descontrolado, deixa de ser um aliado e torna-se péssimo conselheiro.

Os organismos internacionais, por sua vez, sairão ainda mais fortes


dessa tempestade, sobrepondo as soberanias nacionais e tornando suas
decisões inquestionáveis. A agenda globalista deve ser fortalecida e
suas pautas serão defendidas como única alternativa ao caos.
Outros pontos que merecem atenção são as prováveis mudanças no
sistema nanceiro, que deve priorizar as transações digitais, e nas
relações de trabalho, fragilizando ainda mais os funcionários, os
pro ssionais liberais e os pequenos empresários, além das possíveis
transformações sociais que vão desde a maior dependência dos
ambientes virtuais e aceitação de princípios autoritários até o
acirramento da polarização entre as pessoas.

Abordei esses e outros aspectos nos textos anteriores, mas gostaria de


acrescentar outro elemento, que ainda não foi tratado com a devida
atenção.

Um dos desejos mais fortes daqueles que pretendem criar um


ambiente de governança global sempre foi aperfeiçoar o controle das
condutas humanas. Esse processo segue um caminho comum:
inicialmente as iniciativas têm alcance local, depois regional, e por m,
mundial. Desde as legislações que aderem a recomendações de
organismos como a , os alinhamentos mercantis e de ordem
cultural, até as padronizações bancárias, contábeis e scais costumam
seguir esse trajeto.

Por essa razão, e seguindo rigorosamente esses passos, nos últimos


anos temos percebido o crescimento das iniciativas que procuram
captar e centralizar os dados da população. O desenvolvimento
tecnológico que permite o manuseio, a catalogação e a análise de várias
camadas de informações, o chamado big data, explica o objetivo por
trás dos projetos que aprofundam a burocracia com cadastros e
formulários, muitas vezes aparentemente inúteis, porém cada vez mais
comuns em nosso dia-a-dia.

Com a evidente intenção de solapar os direitos individuais e as


soberanias nacionais para aprimorar o controle sobre as condutas
privadas, já existe uma entidade com o objetivo declarado de uni car
as informações pessoais de todo o planeta para criar o que eles
chamam de “identidade digital”, ou ID2020.
Desde pelo menos 2018 a idéia de uma identidade digital global se
materializou em um organismo poderoso, que conta com a expertise
intelectual da Accenture, a maior consultoria de tecnologia da
informação do mundo, sócios fundadores como Bill Gates e
nanciamento da Fundação Rockefeller, além de muitas outras
pessoas, empresas e entidades governamentais e privadas
comprometidas com os objetivos globalistas. Tudo conectado com os
parâmetros do Banco Mundial e a serviço dos Objetivos de
Desenvolvimento Social ( ) da Agenda 2030.

A ID2020 pretende centralizar todas as informações individuais de


todos os seres humanos em um banco de dados gigantesco e que,
dadas as atuais possibilidades do gerenciamento por meio de sowares
e algoritmos, alcançará inclusive o comportamento das pessoas.

Nos últimos dois anos esse projeto tem se fortalecido e vem


angariando aliados de forma muito rápida. Mesmo agindo de forma
discreta, como convém a esse tipo de iniciativa, nesse período o
ID2020 já se alinhou a outros projetos globalistas de grande alcance,
principalmente aqueles defendidos por organismos como a ,
Council on Foreign Relations ( ), Chatham House, Clube de
Bilderberg e Clube de Roma, para car apenas nos mais famosos. O
seu crescimento deve se basear em uma espécie de selo certi cador que
proporcionará status e benefícios àqueles que aceitarem trabalhar em
prol da viabilidade desta implantação.

Como costuma acontecer em momentos de tensão mundial, idéias


que prometem soluções miraculosas costumam ganhar força. É o que
está acontecendo agora. Aproveitando-se do medo disseminado pelo
coronavírus, e pela provável desordem que a crise atual deve acarretar,
defensores da idéia de uma identidade global garantem que a ID2020
seria uma e ciente barreira para evitar uma futura repetição desta
pandemia que chacoalha o mundo inteiro. Curiosamente a ID2020
também parece atrelada ao Event 20153 e se coloca, desde então, como
solução mágica para escapar não apenas de possíveis tragédias na área
de saúde, mas de todo e qualquer problema mundial.
Aparentemente ninguém está dando muita importância a essa
iniciativa, muito menos no Brasil, onde — descon o — quase ninguém
sequer sabe da sua existência. No entanto, a criação de um banco de
dados que centralize todo conhecimento relevante sobre a população
mundial constitui o próprio estabelecimento de uma autoridade global,
com poder su ciente para atropelar indivíduos e nações.

N,     -



E msombrio,
sua obra mais famosa, 1984, George Orwell prevê um futuro
repleto de opressão estatal e praticamente vazio de
liberdades individuais. A distopia imaginada pelo autor apresenta
diversos aspectos do que seria um governo totalitário, e quase todos
parecem hipertro as de alguma característica veri cada nas ditaduras
de Josef Stálin e Adolf Hitler.

A essência desta distopia consiste em um alerta sobre o perigo do


poder estatal descontrolado, mas uma re exão mais apurada pode
identi car uma questão ainda mais perversa, a supressão do livre-
arbítrio.

Assim como em outras obras do mesmo estilo, em 1984 o indivíduo


vai paulatinamente deixando de existir, dando lugar a um coletivo cada
vez mais homogêneo e impessoal. Esse rebaixamento das
possibilidades individuais, que tende a ocorrer em qualquer
agrupamento forçado, coloca em risco a própria natureza humana, pois
sem poder escolher o seu caminho e tomar suas próprias decisões, o
homem deixa de ser homem e passa a ocupar o lugar de uma máquina
que só pode se comportar de acordo com um plano pré-estabelecido.
No livro de Orwell, a forma para se esmagar a individualidade
começa pela vigilância constante. A onipresença do Big Brother e a
expectativa de estar sendo observado a todo instante leva,
inapelavelmente, a uma mudança nas condutas de todos, inclusive de
Winston Smith, o personagem principal que, mesmo sem ter
consciência de todo o panorama, percebe instintivamente que algo está
muito errado.

De forma quase profética, além de alertar sobre as inevitáveis


conseqüências de um Estado todo-poderoso, 1984 propõe uma
re exão acerca do valor da privacidade. Essa necessidade humana faz
parte da estrutura que compõe a individualidade, e sua ausência leva
quase sempre à transformação da personalidade. Não apenas pelos
“avisos” das distopias, mas também pela experiência dos regimes
totalitários, a privacidade deveria ocupar o centro das preocupações
contemporâneas, mas infelizmente está acontecendo o inverso.54

A privacidade, tão vital para a existência e convívio em sociedade,


nunca esteve em um momento tão delicado. A era da internet, das
redes sociais e dos aplicativos de celulares está eliminando a separação
entre público e privado, e para piorar, as pessoas estão aceitando de
bom grado essa invasão à sua vida pessoal. De maneira diferente do
que imaginou George Orwell, esse processo de controle e vigilância
não está sendo imposto por um governo, mas oferecido como um
benefício que promete praticidade e conforto. Ou seja, as pessoas estão
trocando a sua privacidade por um pacote tecnológico de serviços que
aparentemente simpli ca o cotidiano de forma bastante confortável.

Como esse processo tem ocorrido de maneira lenta e gradual, e sendo


promovido por uma união de forças estatais e privadas, poucas pessoas
pensaram seriamente nos seus inevitáveis desdobramentos. Qualquer
semelhança com a parábola do sapo na panela não é uma
coincidência.55

Como era de se esperar, após as câmeras de monitoramento, os


sowares de localização e os algoritmos que capturam e catalogam
todas as atividades e preferências dos usuários, os instrumentos de
vigilância e controle agora pretendem invadir o nosso corpo de forma
literal: estarão instalados dentro dos organismos humanos.

Recentemente uma empresa chamada Neuralink fez uma live no


YouTube56 para apresentar um projeto que prevê a conexão entre
cérebros e computadores por meio de um implante neural. Nesta
transmissão, a empresa, que foi criada por Elon Musk em 2016, mostra
os resultados dos seus estudos nesses quase três anos de existência e
prometia implantar o primeiro dispositivo em humanos em 2020.

Antes de entrar no tema dos implantes e das suas prováveis


conseqüências, acho importante destacar alguns pontos sobre o seu
criador, o bilionário Elon Musk, dono das marcas Tesla, Space X, Solar
City, Open 57 e outras menos conhecidas.58 Assim como outros
metacapitalistas,59 ele defende toda a agenda globalista em seus
mínimos detalhes e conta com o apoio incondicional da grande mídia
internacional, que sempre o retrata como um visionário muito bem-
intencionado e desprovido de interesses pessoais ou nanceiros.

Musk costuma entregar muito menos do que promete,60 mas sempre


consegue arrecadar bilhões com seus projetos que beiram a
megalomania. Essa sua característica especulativa, no entanto, não
deve diminuir a importância da re exão acerca dos problemas
envolvidos em um projeto tão invasivo como esse. Independente da
sua capacidade de cumprir as promessas da Neuralink, a mentalidade
presente nessa iniciativa vem sendo desenvolvida há algum tempo e
não deve parar de evoluir e se multiplicar.

A origem desse pensamento, que pretende usar a tecnologia para criar


um homem adaptado à Nova Ordem Mundial que está sendo
implantada, pode ser localizada muito antes, mas para facilitar a
compreensão, basta recuar algumas décadas.

O chip subcutâneo sempre foi um tema muito abordado no


subterrâneo da internet. No início da rede, ainda na década de 1990, já
existiam pessoas preocupadas com a implantação desse tipo de
dispositivo. As dúvidas se dividiam entre as mais simples, como as
possíveis conseqüências de um objeto eletrônico sob a pele, emitindo e
recebendo sinais em algum tipo de freqüência, o que pode
eventualmente causar alergia, irritação e até mesmo alteração no
comportamento celular; até as mais complexas, que envolvem
preocupações sociais, políticas, culturais, morais e religiosas.

Como sempre, a grande mídia e os acadêmicos desprezaram essas


preocupações e trataram logo de rotular como paranóico e teórico da
conspiração todo aquele que levantasse o problema. Mesmo diante de
evidências fortíssimas como a atividade de pessoas como Amal
Graafstra,61 projetos e patentes de empresas como Texas Instruments,
Fairlink, General Instruments, Intel e algumas outras, a problemática
de um chip sob a pele foi negada ou tratada com deboche por
jornalistas e intelectuais, os mesmos que hoje dizem maravilhas sobre
os implantes neurais, seguindo à risca a sentença de Arthur
Schopenhauer: “Toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela
é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é
aceita como evidente por si própria”.

Comecei a me interessar pelos fenômenos e iniciativas que compõem


a chamada Nova Ordem Mundial no início dos anos 2000, mas o
sistema Carnivore,62 em meados da década de 1990, já tinha
despertado o meu interesse para aspectos relacionados a controle,
privacidade e liberdade individual. Desde então esse assunto nunca
mais saiu do meu radar e por essa razão con rmei na prática que
Schopenhauer estava certo: fui chamado de teórico da conspiração
inúmeras vezes, mesmo quando apresentava documentos, fontes e
referências. Em uma ocasião, escrevi sobre uma patente, registrada no
Brasil com o título “Sistema de Identi cação e Rastreador
Subcutâneo”63 e não adiantou mostrar que a informação era do 
(Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Quem tentou
ridicularizar o meu alerta são os mesmos que agora enaltecem a idéia
de Elon Musk e cia.
Voltando à Neuralink, o projeto consiste em criar uma espécie de
“internet dos cérebros”, nas palavras de Max Hodak, o  da empresa
que se destacou por passagens em companhias de alto desempenho
(Transcriptic), robótica e interface de aplicativos.

Ainda segundo os executivos da Neuralink, a rede de cérebros vai


permitir que uma pessoa tenha acesso a uma fonte inesgotável de
conhecimento, garantindo imediato e in nito aprendizado a todos que
aceitarem inserir um implante em sua cabeça. Muito parecido com o
que acontece no lme Matrix.

Como sempre acontece com iniciativas que invadem a privacidade ou


limitam a liberdade individual, o projeto da Neuralink é revestido de
boas intenções, como a cura de inúmeras doenças neurológicas, o
monitoramento da saúde de todo o organismo, a veri cação das
dosagens e efeitos dos medicamentos em tempo real, além, é claro, de
prometer a solução para todos os problemas educacionais, igualando as
capacidades e as oportunidades. Em nenhum momento da live ou da
sua repercussão na imprensa foram lembrados os problemas
envolvidos em um projeto com essas características.

É até difícil enumerar todos os males desse projeto da Neuralink, que


vão desde as questões levantadas pelos primeiros críticos do chip
subcutâneo até as inevitáveis perguntas: “Quem vai controlar esses
dados?”; “Como garantir que essas informações não serão utilizadas
pela empresa para ns diversos daqueles que são declarados?”; “Com
as prováveis modi cações nas sinapses, o que acontecerá com o sujeito
que desistir do implante?”.

Tenho certeza que um dos argumentos daqueles que estão no terceiro


estágio da sentença de Schopenhauer será apegar-se ao caráter
voluntário da implantação, ou seja, “ninguém é obrigado a colocar o
implante”. Essa argumentação é inválida porque sabemos que esse tipo
de iniciativa normalmente começa com as cobaias que se julgam muito
espertas, mas quase sempre termina como obrigação imposta aos
demais, principalmente porque esse projeto certamente vai agradar
governantes e burocratas, que passarão a exigir o implante para
determinados benefícios ou serviços públicos, e às grandes
corporações,64 que passarão a não contratar funcionários
“desimplantados”.

Para quem já está familiarizado com as motivações, as pesquisas e as


agendas dos metacapitalistas, a a rmativa “senta que o leão é manso”
não funciona, pois parece muito lógico supor que esse projeto, além do
transumanismo evidente, tem o objetivo de ser a última etapa de um
processo que começou com Ivan Pavlov, passou pelos estudos do
Instituto Tavistock,65 dos cientistas Ewen Cameron66 e Donald Olding
Hebb67 no Programa MK-Ultra,68 do Echelon e de outros do mesmo
gênero, e se aperfeiçoou imensamente com a chegada das novas
tecnologias, entre elas o biochip, o Wi-Fi e a nanotecnologia.
Resumindo, querem controlar não apenas o uxo de informações e as
estruturas da sociedade, mas também os mais íntimos aspectos da
mente de todos os indivíduos que a compõem. Será o m do livre-
arbítrio e, portanto, da humanidade como conhecemos.

E  
O crescimento da dependência tecnológica é uma constante na
história, mas desde a Revolução Industrial o ritmo tem acelerado
progressivamente. É natural e salutar que seja assim, que uma geração
dependa mais da tecnologia do que a sua antecessora, a nal de contas é
natural também que surjam novas técnicas que os antepassados não
conheceram.

Em alguns momentos ocorrem saltos no desenvolvimento


tecnológico, tanto em dimensão como em profundidade, e as
transformações trazidas pela inovação, pelos inventos, moldam a
sociedade de forma a fortalecer a dependência.
Estamos atravessando um novo salto, mas desta vez será bem
diferente.

Acredito que estamos diante de uma transformação singular, onde


alcançaremos o limite da dependência tecnológica. Se esse processo
continuar no mesmo ritmo, e os desdobramentos seguirem as
deduções mais coerentes, em breve chegaremos a um estágio
irreversível. Em outras palavras, a sociedade caminha para a total
submissão perante a tecnologia, e estamos nos aproximando de um
ponto sem retorno.

Não sou cronocêntrico e sei que os saltos anteriores devem ter


provocado reações semelhantes, mas creio ser possível mostrar a
singularidade do panorama que atravessamos.

Muitos podem dizer que essa dependência já alcançou o limite há


muito tempo, a nal de contas basta tirar a eletricidade para perceber o
quanto dependemos de uma descoberta tão antiga. O mesmo pode-se
dizer sobre o telefone, o computador e a internet.

Acontece que, volto a dizer, desta vez existem diferenças de tipo e de


grau: as novas tecnologias estão provocando um novo tipo de
dependência, que vai além da utilidade como instrumento de trabalho,
que traz mais do que uma comodidade, um conforto ou o uso viciante
de um dispositivo. E nota-se também uma grande diferença no grau de
invasibilidade.

Outra grande diferença encontrada em algumas das novidades


tecnológicas que estão chegando ao mercado ou são prometidas para
um futuro próximo reside no foco. Se até pouco tempo tínhamos
principalmente invenções dirigidas a facilitar, ampli car ou multiplicar
o trabalho humano ou o ambiente social, agora os inventos buscam
modi car o próprio homem.

Importante ressaltar que estou tratando de um grupo especí co de


aparatos tecnológicos, que podemos resumir aqui como aqueles que
têm por nalidade alguma transformação no comportamento ou na
siologia humana.

Quando ouvimos falar de grandes novidades tecnológicas


normalmente a abordagem mira na espetacularização, dando pouco ou
nenhum espaço para a sua essência real. Notícias sobre a chamada
inteligência arti cial, por exemplo, sempre pinçam exemplos mais
“televisivos”, como um robô da Boston Dynamics chutando uma bola
ou o modelo do -  correndo como um guepardo.

Algumas das grandes transformações que despontam no horizonte,


no entanto, estão atreladas a algo muito menos espetacular, mas muito
mais decisivo, que vai in uenciar o cotidiano de todos.

Um robô  pode impressionar pela velocidade, pela força ou


pela destreza de movimentos, mas por trás dessa interface que nos
remete a Isaac Asimov, Arthur Clark ou Os

Jetsons, existe um componente menos palpável, algo parecido com


um simulacro de alma: o algoritmo.

A roda facilitou o transporte, mas não mudou a essência do


transportador. O microscópio ampli cou o alcance dos olhos, mas eles
continuaram os mesmos. A prensa móvel do Guttenberg multiplicou o
texto bíblico, mas ela não podia mudar o sentido das palavras, nem a
Bíblia e muito menos o seu Autor.

O algoritmo de ne a atuação dos dispositivos e permite programar


rotinas de forma a reduzir signi cativamente a necessidade de
interação humana na tomada de decisões, o que diminui o tempo de
resposta e pode aumentar o número de acertos. Mais que isso,
seqüências matemáticas inseridas no algoritmo podem se aprimorar
usando erros anteriores — machine learning, o aprendizado da
máquina. Desta forma, o próprio histórico do uso, com o registro de
experiência, incluindo todas as operações frustradas, funciona como
uma nova programação, que vai corrigir e aperfeiçoar os próximos
trabalhos.
Praticamente todas as novas invenções usam algoritmos em sua
estrutura. Tudo que interage com o humano e precisa responder
conforme uma situação real depende da orientação de algum
algoritmo. De robôs a aplicativos.

Entre as tecnologias mais promissoras e que em breve estarão


presentes em nosso cotidiano, in uenciando comportamentos e
orientando tomadas de decisão estão aquelas que oferecem respostas
baseadas em preferências e no histórico de uso.

No entanto, as aparentes virtudes das novidades tecnológicas,


comodidade e segurança, principalmente, necessitam dos dados do
usuário para funcionar, e quanto mais dados, mais e cientes. Desta
necessidade e da busca natural pela melhoria permanente da e ciência
é possível deduzir o crescimento constante da coleta e classi cação de
informações e a conseqüente diluição da privacidade.

Com a nanotecnologia o problema pode ser ainda mais complexo. Já


estão surgindo dispositivos que atuam no ambiente “nano” — que
corresponde a um metro dividido por um bilhão. Inicialmente na
medicina, com minúsculos engenhos que podem agir no nível celular e
até molecular. Nesse campo já existem tratamentos para Parkinson,
surdez e câncer, além de várias formas de infecção, e estudos e
experimentos muito mais ousados, como pequenos robôs que agem na
liberação ou redução de hormônios, enzimas, medicamentos, etc.

No rearranjo das moléculas e na manipulação atômica, a


nanotecnologia pode criar novos materiais e alcançar uma escala que
permite interferir no metabolismo, alterar o equilíbrio químico, os
ciclos circadianos e até mesmo o funcionamento de células, tecidos e
órgãos.

Não é teoria da conspiração. Nem futurismo. Muitas dessas aplicações


já existem ou estão em fase de patente e implantação. Outras em
estudo.
Esse segmento, que pelo status quaestionis pode ser chamado de
nanobiotecnologia, porque envolve elementos biológicos e genéticos,
tem recebido fortes investimentos e a dedicação de mentes geralmente
brilhantes, mas nem sempre (ou quase nunca) preocupadas com o
potencial destrutivo de suas idéias. Em meio a uma cosmovisão
materialista como a que vivemos, o cienti cismo prospera, e grandes
inteligências são engolidas pelo niilismo — conseqüência direta de um
imaginário que despreza o transcendente — ou consumidas pela
vaidade. Lembre-se disso antes de referendar uma invenção que
oferece a benesse do conforto com o risco da escravidão.

Uma nova sociedade está sendo erguida sobre tecnologias cada vez
mais invasivas. Sejam baseados em algoritmos ou em nanodispositivos
— ou ambos, trabalhando juntos —, os novos inventos prometem uma
dependência cada vez maior e mais profunda, que levará ao extermínio
da privacidade e do livre arbítrio, a transformação da essência humana
e à conseqüente negação da individualidade.

O “ ”    



N ãoo que
sei ao certo por que razão existe uma tendência de glamourizar
é novo. Muito além da compreensível admiração diante da
novidade, nossa sociedade cultiva o hábito de idolatrar tudo aquilo que
possa ser chamado de “novo”. Ao mesmo tempo, e como conseqüência,
demonstra ojeriza diante do que é velho. Com a exceção dos vinhos, do
whisky, dos queijos e de outras iguarias, o velho não representa mais a
segurança, a prudência ou a experiência, as virtudes que permitem a
sabedoria. Infelizmente perdemos essa conexão com a tradição.
Quebramos a cadeia de transmissão que desde o início da história
humana destaca a valorização do que já é conhecido, os riscos da
inovação irresponsável e, principalmente, a importância do
conhecimento dos anciãos, que costumam advertir sobre o perigo das
decisões impulsivas que não levam em consideração a vivência
anterior.

Como perdemos essa ligação, viramos alvos fáceis para qualquer tipo
de charlatanismo que apresente “novidades”. Desde o picareta que
aplica o golpe da tampinha até as seitas esotéricas e as ideologias que
oferecem soluções mágicas para problemas milenares.

Junte a isso o fato de vivermos em uma época de inovações


tecnológicas gerando bugigangas em profusão e veremos uma
sociedade deslumbrada feito uma criança em loja de brinquedos.

Estamos diante de uma vulnerabilidade social muito maior do que


aquela denunciada pelos defensores de alguma vertente do
igualitarismo ou de alguma ideologia coletivista.

Essa fraqueza é mais perversa porque in uencia as camadas


psicológicas dos indivíduos e também porque já alcança uma imensa
parcela da população, o que prepara o ambiente ideal para a
implantação de iniciativas que pretendem transformar de tal modo a
sociedade que ao nal do processo estaremos imersos em uma nova
civilização, uma nova ordem mundial.

A idolatria da novidade, conseqüência inevitável dessa sociedade que


valoriza o efêmero e despreza o estável, aliada a uma dependência
psicológica adestrada, formam a mentalidade que vai formar o
ambiente propício para as decisões arbitrárias, que vai fornecer o
terreno fértil para a implantação de iniciativas totalitárias. Quase todos
os avanços na construção do totalitarismo foram bene ciados por esse
mecanismo, que se apóia em décadas de doutrinação, de
desinformação e de uma gradual e contínua inversão de valores. Em
outras palavras, o povo foi adestrado para aceitar qualquer coisa desde
que alguma “autoridade” garanta que o troço é “novo”.
A gripe chinesa ofereceu todas as oportunidades para avançar a
agenda totalitária. Como sempre ocorre diante de grandes crises, a
instabilidade, a incerteza e o medo funcionaram como catalizadores
para implantar novos artifícios burocráticos, aprofundar outros e, por
último mas não menos importante, para sedimentar idéias-chave que
vão fortalecer uma mentalidade de aceitação frente às mudanças que
devem se suceder durante e depois do vírus.

Algumas idéias que já estavam prontas, esperando um conjunto de


circunstâncias favoráveis, vieram à tona quando seus defensores
identi caram a praga chinesa como o evento perfeito para uma
apresentação sem resistências.

Projetos como a identidade digital internacional, o ID2020, o Renda


Básica Universal, a vacinação obrigatória, os impostos globais e o
grande reset já existiam, mas foram lançados como novidades
perfeitamente adequadas ao momento crítico. Inicialmente como
soluções mágicas para combater a gripe, logo depois como
instrumentos necessários para prevenir e evitar problemas do mesmo
gênero no futuro.

Assim nasceu o conceito de “novo normal”, que não tem nada de


novo, muito menos de normal.

De forma sutil, os proponentes dessa “novidade” (e os papagaios que a


repetem, sem saber o que fazem), trabalham para obter uma nova
sociedade ao nal dessa transição, que pega uma idéia pronta e a
apresenta como um novo milagre, ou mais especi camente, se apropria
de uma idéia que tem a nalidade de avançar uma agenda que pretende
desconstruir os valores civilizacionais de maneira a facilitar a sua
substituição, e a apresenta como solução para um problema pontual e,
depois, como um padrão de comportamento a ser alcançado.

Com a conversão bem sucedida, em parte devido ao pânico


generalizado que inibiu a percepção de boa parte da população, e que
foi disseminado exatamente para esse m, o novo normal deixou de ser
apenas uma adequação a uma situação de crise, pontual e temporária, e
passou a ser modelo “natural”. Já estamos neste estágio.

As máscaras, que além de servirem para um experimento social que


avalia o grau de obediência das pessoas, passaram a ocupar também
uma posição simbólica nessa “nova normalidade”, que inclui, entre
outras aberrações, o toque de recolher, o con namento e a pele
queimada pelo álcool. Isso sem falar do sistema de reconhecimento
facial, das câmeras com termômetros e da inescapável biometria.

O pretexto da saúde pública foi usado para justi car inúmeras


atitudes totalitárias, seja por parte de burocratas estatais, que feriram
diversos direitos naturais dos indivíduos em vários lugares do mundo,
seja pelos burocratas incrustados nos organismos internacionais, que
atropelaram soberanias nacionais com suas chantagens disfarçadas de
recomendações. O mundo deve sair dessa crise com as liberdades
fragilizadas.

A instrumentalização da gripe chinesa e das suas conseqüências


econômicas provavelmente vai acarretar novas formas de opressão,
além de fortalecer as antigas, como podemos ver com o cerco à
liberdade de expressão disfarçado de combate às fake news e ao
“discurso de ódio”, termos e expressões que em breve vão tipi car
crimes, mesmo sem uma de nição objetiva por parte dos legisladores.

Mesmo que não ocorra a tal “segunda onda” que já começa a ser
propagada pela mesma mídia geradora do pânico, certamente existirá
enorme pressão para a assimilação desses novos comportamentos.
Embora eu acredite que a maioria da população quer mesmo é a sua
normalidade de volta, e essa reação instintiva já pode ser vista nas ruas,
álcool, máscara e algum grau de distanciamento devem continuar, e até
mesmo os cumprimentos cotidianos podem sofrer mudanças em
alguns grupos, principalmente no circuito Leblon-Vila Madalena e nos
arredores de quem ainda tem a grande mídia como fonte de
informação con ável.
Todas as nossas atitudes, nossos hábitos e valores estão sendo
atacados, desmoralizados e subvertidos para que dessas mudanças
surja um novo homem, adequado às demandas de uma nova
civilização. Desde conselhos para homens usarem saias e urinarem
sentados, protocolos para encontros com alienígenas e aborto como
serviço essencial, tudo que for de alguma forma contrário ao padrão
estabelecido deve ser assimilado. O novo normal é um catálogo de
inversão de valores.

O conjunto de novidades que estão oferecendo para o “pós-


pandemia”, no entanto, vai muito além dos nossos comportamentos e
das nossas atitudes, o que em teoria podemos controlar. Os graves
desa os que teremos que enfrentar residem nas iniciativas que
di cilmente conseguiremos parar: nas regulamentações internacionais,
na invasão de privacidade pelo big data, na escalada do poder estatal e
na concentração dos mercados rentáveis nas mãos das grandes
corporações, etc.

Como combater esse Leviatã? Não sei. Mas como essa guerra é
essencialmente espiritual, a nal o cristianismo é o alvo e única forma
de resistência, o resultado da batalha vale menos do que o
comportamento na trincheira.

Esse novo normal, que a mídia, como parte visível do establishment,


tanto louva e promove, nada mais é que a implantação de uma agenda
que visa estabelecer as bases para o surgimento de uma nova
civilização, com novos princípios e com um novo ordenamento: uma
Nova Ordem Mundial.

L  


Se a liberdade signi ca alguma coisa, será sobretudo o direito de
dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.
— George Orwell

A linguagem tem um papel que ultrapassa as funções descritivas e


alcança as camadas psicológicas mais profundas, tanto pela força
persuasiva da repetição, quanto pela capacidade de in uir signi cados
a signos dispersos armazenados na memória.

Quando a linguagem decai, além da confusão interpretativa que


degenera a comunicação entre as pessoas, o imaginário passa a ser
preenchido por símbolos ambígüos, abstratos e voláteis, o que pouco a
pouco incapacita a tomada de decisões e transforma os indivíduos em
seres inseguros e dependentes.

Esse processo que decorre da degradação da linguagem interessa a


quem pretende manter e expandir o poder por meio da manipulação
das mentalidades. Como as palavras só passam a fazer sentido dentro
de um conjunto de pressupostos, quem detém a prerrogativa de impor
as bases da discussão tende a controlar o debate público — mesmo que
isso não signi que o controle total sobre o uxo dos acontecimentos.

Com o objetivo de conquistar a hegemonia cultural permanente,


grupos de pressão investem contra a precisão e a naturalidade da
língua para dar a ela um caráter subjetivo que permita distorções
pontuais, de forma a favorecer interesses políticos, econômicos ou
ideológicos.

Toda manipulação começa na linguagem, e essa regra se desdobra em


outra: todo aparelhamento da linguagem depende da sua relativização.

O relativismo, que tem a capacidade de destruir até mesmo as


distinções entre verdade e mentira, também torna a linguagem vazia de
conteúdo, inicialmente, e disforme, com o passar do tempo. E ao
subtrair da linguagem a precisão descritiva e a contextualização —
impossíveis em um ambiente subjetivo e relativista — ela vira uma
arma de guerra cultural ou, na melhor das hipóteses, um adereço, uma
perfumaria.
Como em uma guerra não se desperdiça arma alguma, a
instrumentalização da linguagem é usada em tempo integral, e de
forma a atingir todas as camadas da sociedade e todos os aspectos da
vida das pessoas, mas só ca evidente quando surge uma oportunidade
de utilizar os efeitos das inserções no imaginário para executar o que
há tempos vinha sendo planejado.

Em momentos de crise esse processo ca mais visível. Por causar


transformação, a crise sempre tem um aspecto de oportunidade. Parece
frase de coach, mas na prática as crises são responsáveis por grandes
mudanças na sociedade, e talvez seja por isso que, em chinês, a palavra
crise é composta de dois caracteres: perigo e oportunidade — nesse
caso podemos entender “perigo” para o gado, “oportunidade” para seus
condutores.

A crise que atravessamos agora, que começou bem antes da covid-19


e tem raízes na degeneração cultural e moral fomentada nas últimas
décadas, serve de exemplo para demonstrar como a manipulação da
linguagem pode aproveitar a instabilidade para mostrar seus reais
efeitos. Desde o início da pandemia cou claro, para quem pensa um
pouco, que a crise estava (e continua) servindo para avançar uma
agenda totalitária. Nem é preciso discutir a doença ou entrar no mérito
dos culpados e do eventual dolo de seus atos para perceber que junto
com o corona veio à tona o pensamento totalitário enraizado na mente
de pequenos burocratas, de tiranetes regionais e de gurões da política,
da academia e da imprensa.

Não há exemplo melhor dos efeitos nocivos da relativização da


linguagem do que os recentes episódios de perseguição a jornalistas
independentes. Mesmo diante de inquéritos inconstitucionais, quebra
de sigilo de fonte e outros absurdos legais, boa parte da “classe
pensante” resolveu relativizar os direitos naturais e a própria noção de
“liberdade”.

Seja por interesse econômico pontual, seja por divergência política ou


ideológica, parlamentares, intelectuais e jornalistas da grande mídia
tentam construir um novo conceito de liberdade. Querem impetrar um
signi cado diferente à palavra, minimizando e distorcendo a sua
essência e mantendo apenas os acidentes mais periféricos.

Segundo esses seres angelicais, liberdade é um conjunto de regras que


uma elite superior e inalcançável de ne, e os simples mortais devem
seguir a sua vida dentro desse espaço delimitado. Essa aristocracia
auto-intitulada pretende abandonar toda e qualquer referência à
liberdade como direito natural e inviolável.

Se o povo aceitar essa nova interpretação do que vem a ser liberdade,


em breve esse direito será esmagado e esquecido, e em seu lugar
teremos um espaço cada vez mais restrito para manifestações
contrárias ou minimamente diferentes do discurso o cial. Estaremos
inaugurando a era da liberdade consentida, onde ela só poderá ser
exercida se for pra concordar com o establishment.

H 
Não se pode esquecer que tudo que a sugestão produz pode ser
eliminado pela sugestão.

— Ernest Roth

Q uando Mesmer começou sua pesquisa sobre a possibilidade de


in uenciar o subconsciente por meio de sugestionamento,
fenômeno que ele chamou de magnetismo animal, ele não estava
inaugurando um estudo, mas reunindo e conectando um
conhecimento disperso acumulado durante os milênios.

Desde o surgimento das primeiras sociedades de que temos notícia,


na Mesopotâmia, no Egito ou na Anatólia, nas disputas pelo poder a
manipulação antecede o sangue derramado. Registros em escrita
cuneiforme ou pictográ ca relatam que, além do uso de espiões e
desinformantes in ltrados, também já era comum o uso de mentiras,
distorções, chantagens e ameaças com o intuito de incentivar o ímpeto
guerreiro contra um inimigo externo ou para conter pensamentos
subversivos, assim como para persuadir ou modi car comportamentos
dos governados.

A reunião e o ordenamento dos conhecimentos a respeito da sugestão


psicológica foram o grande legado de Franz Anton Mesmer, e seus
estudos foram continuados por diversos discípulos, diretos e indiretos.

Mais tarde, Pavlov observou que por meio de estímulos externos era
possível alterar comportamentos. Vivendo na transição entre o
czarismo e a União Soviética, fez diversos experimentos com
cachorros, e nesses estudos identi cou o mecanismo de reação a um
estímulo externo, na forma de produção de saliva quando associada ao
alimento e, simultaneamente, a uma campainha. Com a repetição do
exercício, ele conseguiu condicionar a produção de saliva apenas com o
soar da campainha, sem a necessidade do prato com a comida.

Apesar de ganhar o Prêmio Nobel pelos estudos sobre o processo


digestivo dos animais, Ivan Pavlov cou mais conhecido pelas
descobertas e pelos estudos com re exos condicionados, além de uma
série de experimentos com variadas formas de estímulos, inclusive
contraditórios, para entender o funcionamento e a possibilidade de
manipular comportamentos e aproveitar reações instintivas.

Conforme Ivan Pavlov aprofundava seus estudos e apresentava


resultados bastante satisfatórios, as idéias de outros pensadores foram
recuperadas, inclusive de Anton Mesmer e dos defensores da hipnose
ou “magnetismo animal” — à época também chamado de
“sonambulismo”. Da mesma forma, muitos pesquisadores,
contemporâneos a Pavlov ou mais recentes, também complementaram
os estudos anteriores incluindo novos aspectos na equação.

Não é possível enumerar todos os autores que contribuíram para o


desenvolvimento do conhecimento acerca do comportamento humano
e, conseqüentemente, dos mecanismos de seu funcionamento e suas
vulnerabilidades. Foram muitas as mentes privilegiadas que
contribuíram, consciente ou inconscientemente, para a compreensão
do “terreno” e posterior abertura para as mais variadas formas de
manipulação psicológica.

Desde o início os estudos sobre a psicologia por trás dos


comportamentos alimentaram outros campos das ciências humanas,
como a persuasão e o condicionamento. O avanço destas pesquisas
teóricas correu em paralelo com experimentos — na maioria das vezes
discretos ou clandestinos —, e gerou técnicas usadas de várias
maneiras, desde o script que o vendedor aprende no treinamento de
programação neurolingüística até o discurso aparelhado de uma
autoridade política ou uma mensagem subliminar cuidadosamente
inserida em uma peça de cção.

Poucas áreas das ciências humanas receberam mais atenção — e mais


verbas — do que os estudos sobre o comportamento humano. É claro
que nem todos os pesquisadores têm ou tiveram o objetivo de
colaborar com a manipulação ou com a opressão. Acredito até que a
maioria dessas pessoas tenha dedicado seu tempo e sua inteligência à
nobre busca pelo conhecimento, o combustível do verdadeiro cientista.
Acontece que bastam poucos mal-intencionados para aproveitar o
trabalho de todos.

E nesse sentido, e levando em consideração os interesses políticos e


nanceiros envolvidos, e lembrando que normalmente a corda estoura
do lado mais fraco, ca um tanto quanto evidente, no meu entender,
que todo esse conhecimento acumulado acerca do comportamento
humano torna possível inúmeras formas de manipulação, algumas tão
e cientes, de alcance tão profundo, que combinando sutileza na
diluição e intensidade no bombardeio, podem ser chamadas de
hipnóticas.
D   
Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos
espinhos, ou gos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa dá bons
frutos, e toda a árvore má dá maus frutos. Não pode uma árvore
boa dar maus frutos; nem uma árvore má dar bons frutos. Toda a
árvore, que não dá bons frutos, será cortada e lançada ao fogo. Vós
os conhecereis, pois, pelos seus frutos.

— Mateus 7, 16–20.

O homem tem sido manipulado desde sempre.


particular, seja na sua relação com o poder.
Seja no campo

Na esfera privada a in uência das artimanhas retóricas e persuasivas


costuma ser grande devido a elementos como con ança e
credibilidade, mas por causa da incalculável combinação de
possibilidades, não é possível uma observação geral. Para identi car a
ação manipulatória no nível mais pessoal é necessário analisar caso a
caso e, principalmente, olhar para os resultados.

Por outro lado, também existe uma di culdade intrínseca na


observação e catalogação das iniciativas que procuram manipular a
interação entre o indivíduo e o establishment

— magnatas, caciques da política, burocratas, os intelectuais


orgânicos com suas teses, leis, instituições, corporações. Nesse caso,
quando a mensagem vem de cima, normalmente o que torna muito
difícil perceber os truques é a e ciência da sua execução.

A e ciência da manipulação depende de alguns elementos, todos eles


dependentes de algum grau de con ança, o que se consegue com a
repetição com fontes aparentemente diversas. O acúmulo de
informações que se con rmam e se completam satisfaz os distraídos e
os preguiçosos: “se está todo mundo falando, deve ser verdade”.

Outra forma de fortalecer a con ança em uma informação é destacar


e valorizar a fonte. Prêmios, promoções na carreira e visibilidade na
mídia são usados nesse sentido e com esse objetivo. Inventar, distorcer,
recortar ou pinçar estudos ou selecionar “especialistas” para con rmar
a tese também funciona.

Conquistada a con ança, toda informação recebida passa a ser


assimilada sem uma análise crítica, moldando o imaginário de forma a
reagir de acordo com o que foi predeterminado pelo manipulador.

O imaginário funciona como um repositório de memórias e


experiências, de onde tiramos o conteúdo que guia ou in uencia
nossas decisões conscientes e, principalmente, as inconscientes. Quase
todas as decisões que tomamos no cotidiano são reativas, mecânicas ou
emocionais. Poucas vezes analisamos de maneira lógica e racional
antes de decidir algo corriqueiro. Exatamente por esse motivo, tudo o
que foi plantado no nosso imaginário funciona como gatilhos que
acionam reações que nos parecem espontâneas e pessoais, mas que
obedecem a uma ordem externa que pretende transformar a nossa
opinião ou o nosso comportamento.

Como sabemos que a manipulação vai muito além de usar os


instrumentos da desinformação, também é possível analisar o nível de
manipulação partindo dos resultados da instrumentalização da
linguagem.

A linguagem decodi ca pensamentos, impressões e emoções. Toda


forma de comunicação está ancorada no uso comum e coerente da
linguagem. A convivência social de certa forma é um re exo dessa
“saúde”: se a língua se corrompe, a sociedade empobrece, e quando a
língua é aparelhada, a percepção da realidade passa a ser alterada
conforme interesses nem sempre declarados.

Desde o surgimento do politicamente correto a linguagem tem sido


aparelhada para moldar comportamentos. Por vários caminhos e
diversas formas de pressão social e psicológica, o  limitou a
expressão sincera, cancelou palavras e expressões, fomentou a divisão
da sociedade e, com tudo isso, preparou o terreno para novas
possibilidades de manipulação. Com a linguagem aparelhada, a criação
de rótulos, por exemplo, serviu para a dessensibilização que antecede a
censura, a perseguição e a morte da liberdade de expressão.

A corrosão da nossa sociedade pode ser vista na deterioração da


linguagem, que a cada dia torna-se mais vulgar e menos expressiva.
Esse é um dos resultados de décadas de manipulação. O povo foi
conduzido a um rebaixamento intelectual e moral, que resulta em um
comportamento bovino, muito apreciado pelo poder.

Também podemos ver esse resultado no “império do subjetivismo”.


Com o crescente abandono da objetividade, conseqüência da
promoção de agendas identitárias insanas, utópicas e contraditórias, a
sociedade tende a perder a sua base, o seu eixo de sustentação e
equilíbrio, e o indivíduo torna-se tão in uenciável por estímulos
externos quanto um barco à deriva.

Olhando os resultados de décadas de manipulação, um bombardeio


calculado para incutir opiniões e moldar comportamentos, e
reparando que pouco ou nada se diz a respeito desse processo
revolucionário, ca evidente que quanto mais discreta a mensagem,
mais e ciente a manipulação.

P :   



Quem não for como todo mundo, quem não pensar como todo
mundo, corre o risco de ser eliminado.69

— José Ortega y Gasset

O covid-19 trouxe à superfície alguns elementos totalitários que


estavam latentes na mentalidade e no ambiente social. Durante
décadas as estruturas sociais e o próprio imaginário foram
transformados por in uência de um pensamento ideológico
revolucionário disfarçado de boas intenções, camu ado em um
discurso que promete “aprimoramento do convívio”. Foi assim com o
politicamente correto, que limitou e rebaixou a expressividade da
linguagem, além de criar o patrulhamento da opinião e delimitar a
liberdade de expressão; e tem sido assim com praticamente todas as
pautas identitárias, que desprezam o objetivo, o concreto e o veri cável
e dão ao subjetivo um caráter “inquestionável”.

Essa mentalidade transformada e esse ambiente corrompido que


alcança quase todas as áreas da conduta humana certamente
contribuíram para a tímida reação diante das inúmeras iniciativas
totalitárias que brotaram logo após a Organização Mundial de Saúde
declarar que existia uma pandemia. Tiranos, tiranetes e burocratas
megalomaníacos aproveitaram a oportunidade e a ausência de
obstáculos para avançar sobre os direitos naturais dos indivíduos.

Ao dar supremacia para o coletivo em detrimento ao individual, a


sociedade passou a operar no intangível, no subjetivo, no abstrato.
Desta forma, ao invés de agir pontualmente, conforme a situação e de
acordo com a própria percepção da realidade, o povo passa a ter suas
ações dirigidas por uma abstração. E como aquilo que é abstrato, por
de nição, não pode produzir informações, tomar decisões e conduzir
qualquer movimento, alguém ocupará este espaço e preencherá o
discurso coletivista com seus interesses personalíssimos.

Junte a esse ambiente intoxicado pelos ideais coletivos o aumento do


poder do Estado e a química totalitária começa a agir com mais
intensidade.

Uma das constantes desde pelo menos a Revolução Francesa tem sido
a crescente concentração de poder nas mãos do Estado.
Conseqüentemente, o indivíduo tem seu campo de ação reduzido, seus
direitos violados e suas liberdades cerceadas. Na verdade, o poder,
como conceito de “capacidade de mobilização em prol de um objetivo”,
sempre tende a crescer e se concentrar, principalmente quando as
mentalidades estão adestradas para submeter a experiência real à
narrativa o cial. Em outras palavras, quando a população aceita
esmagar a percepção, a memória e o bom senso apenas por obediência
cega a algum argumento de autoridade.

A usurpação do poder, nesse sentido, ocorre sem muitos sobressaltos,


tendo em vista que os indivíduos, manipulados desde a gênese dos seus
pensamentos — as palavras —, e fragilizados pela insegurança causada
pela dependência intelectual e afetiva que resulta da idolatria do
coletivo, tendem a transferir alegremente as suas decisões para um
conceito uido, volúvel e, acima de tudo, abstrato. Pensam estar
seguindo um consenso resultante de um amplo debate, quando na
verdade estão obedecendo, feito manada, aos comandos implantados
na sua mente por ideólogos que determinam os rumos do “coletivo”.

Com o “terreno preparado” para o avanço das pautas totalitárias,


burocratas e oportunistas aproveitam para expandir o seu poder e
impor suas vontades a um povo desmotivado e carente por uma
condução que prometa solucionar os seus problemas sem exigir o
mínimo comprometimento.

Nesse momento, tudo pode ser usado como pretexto para a


transferência de poder. E o medo, mais ainda que a moda, sempre
oferece o contexto ideal, onde a covardia e a subserviência podem ser
camu adas sob o manto das falsas manifestações de virtude e
solidariedade.

O passaporte sanitário surge como conseqüência desse ambiente


viciado e intelectualmente corrompido. Passa a ser aceito ou, pelo
menos, tolerado, porque as mentalidades foram conduzidas a essa
dependência emocional. Por preguiça intelectual ou pura covardia,
preferem acreditar que o melhor a fazer é transferir todas as
responsabilidades para o deus Estado, que há de tomar as decisões
certas.

Na prática, a exigência de um documento que “autoriza” sua


locomoção, sua permanência ou o seu ingresso em um estabelecimento
— público ou privado —, representa a obrigatoriedade do
procedimento mais invasivo possível: injetar uma substância em seu
corpo sem a sua vontade — o que pode ser mais invasivo que isso?
Além de invadir de forma inquestionável o espaço privado em nome
de um suposto — e improvável — benefício coletivo, o passaporte
sanitário também colabora para a criação de “jurisprudências” que
podem se alastrar por todas as áreas da sociedade em pouco tempo.

Se um órgão governamental pode exigir que você injete algo em seu


corpo, invadir a sua casa, espiar o seu saldo ou vasculhar suas
conversas particulares passa a ser algo trivial, desde que o pretexto seja
“o bem comum”. Pense: quem pode espetar uma agulha em um
“negacionista”, pode muito bem proibir a circulação de adversários
políticos ou expropriar as propriedades de um “rebelde”.

A implantação de um passaporte sanitário ou de qualquer documento


que exija a submissão a procedimentos médicos ou ingestão de
remédios — incluindo as interações medicamentosas — deveria sofrer
resistência imediata e implacável, por duas simples razões. Em
primeiro lugar, pela confusão deste momento especí co, onde estamos
vendo nitidamente um esforço exagerado em apontar os benefícios da
vacinação obrigatória no mesmo instante em que se desprezam os
riscos e os resultados destoantes do discurso o cial. E em segundo
lugar, a manutenção desse instrumento totalitário vai contaminar a
sociedade de forma a dar aos poderosos o direito de decidir tudo em
nome de todos, e sem resistência.

B   


N osacúmulo
últimos anos tem aumentado a percepção dos riscos acerca do
de dados em mãos das grandes corporações tecnológicas.
Apesar de o assunto ter gerado alguma polêmica desde o início da
internet, como aconteceu nas discussões acerca do projeto Carnivore,
ainda na década de 1990, foi apenas com o escândalo do Prism, em
2013, que o uso de informações privadas dos usuários passou a ser
visto como uma ameaça à privacidade.

Recentemente o tema ganhou mais fôlego com o lançamento do


documentário O dilema das redes, produzido pela Net ix. Mesmo
tendo o desejo autoritário de regulamentar a internet, e de apresentar
um claro viés ideológico, perceptível nos exemplos, na dramatização
exagerada e no vocabulário aparelhado, o lme apresenta uma série de
informações que devem ser aproveitadas para mapear o panorama da
big tech, além de fornecer subsídios para deduções mais abrangentes e
profundas sobre a natureza destas empresas que detêm os dados de
bilhões de seres humanos.

Sempre ouvimos a expressão “quarto poder” para designar a mídia,


supondo que além de Executivo, Legislativo e Judiciário, tínhamos
também a grande imprensa como um poder à parte, velado, agindo
entre a luz e a sombra. O que acontece agora é ainda pior, infelizmente.
Se os monopólios midiáticos in uenciavam decisões governamentais
que sempre preservavam o status quo, com suas regalias, seus
compadrios e suas cumplicidades, hoje estamos em uma situação mais
vulnerável, pois além da transferência do poder de in uenciar a
sociedade, também transferimos nossas informações pessoais, dados
bancários, prontuários médicos e, o que é pior, transformamos a nossa
vida e hoje dependemos da tecnologia desta “nova forma de mídia”
para trabalhar, para estudar, para se locomover e, em alguns casos, até
para comer.

Big data consiste, grosso modo, na soma das informações coletadas o


tempo todo, de todas as pessoas que usam internet, celular ou algum
outro dispositivo eletrônico. Essa montanha de dados, quando
devidamente classi cada, fornece uma visão privilegiada sobre
comportamentos individuais ou coletivos, tornando mais precisas as
previsões de cenários e facilitando as estratégias comerciais — e
políticas. Além disso, o alcance de observação do quadro geral, e a
capacidade de controlar o uxo destas informações permitem a
manipulação da opinião — pública e privada. Não me parece muito
difícil perceber que se alguém pode represar uma informação
enquanto amplia a distribuição de outra, pode conduzir opiniões e
induzir tomadas de decisões sem admitir o que está fazendo. Isso é
muito mais grave.

Se analisarmos as possibilidades abertas pelos algoritmos de


relevância, com capacidade de classi car bilhões de dados complexos
por segundo, levando em conta proporção, probabilidade, hierarquia e
conexão com outros bancos de dados, veremos que o céu é o limite
para iniciativas que visem revolucionar o ambiente cultural e formar
mentalidades. Além de tornar a privacidade uma palavra vazia,
levando à inescapável desconstrução das personalidades, o aparato
tecnológico — que já está funcionando e não é mais uma promessa, —
tem potencial para pasteurizar opiniões e esmagar individualidades
para buscar a superação do homem combinando iniciativas de ordem
cultural com ações tecnológicas cada vez mais abrangentes.

Da escolha do seu feed de notícias às ofertas com precisão cirúrgica,


tudo está sendo personalizado, e, ao mesmo tempo, instrumentalizado,
de maneira a modi car comportamentos e induzir decisões
aparentemente espontâneas. A vigilância constante sobre a sua
localização, suas compras e companhias são apenas a ponta do iceberg.
Por baixo da superfície encontram-se elementos obscuros, que revelam
um objetivo mais ambicioso e muito mais perverso, o transumanismo.

O transumanismo, este continente submerso que apenas podemos


deduzir, armazena todas as heresias, praticadas ou imaginadas, todas as
manifestações da arrogância e egoísmo acumulados ao longo da
história humana, todos os desvarios e delírios megalomaníacos, toda a
soberba, vaidade e orgulho luciferianos.

A Nova Ordem Mundial é um processo que visa estabelecer as bases


para uma nova civilização, estruturada sobre valores e princípios
diferentes daqueles que regem o Ocidente e que se cristalizaram ao
longo de dois milênios. Após observarem os fracassos das experiências
totalitárias do século , planejadores desta nova sociedade
perceberam que o sucesso do seu plano dependia mais da
transformação individual das mentes do que das mudanças no quadro
político. Nas últimas décadas o esforço foi dirigido, por esta razão, para
iniciativas que possam in uenciar o ambiente cultural de forma a
facilitar as mudanças individuais, um cenário favorável para o
surgimento do “novo homem”.

O desejo de superar o humano não é nenhuma novidade. Esse


pensamento já estava na essência de todas as manifestações de
gnosticismo. A única diferença é que agora, ao invés de tentativas que
reúnem elementos supostamente sobrenaturais, estamos presenciando
a criação de uma nova natureza humana por meio do uso de
tecnologia. Este terreno, que já estava sendo preparado através de
décadas de manipulação do ambiente cultural com objetivo de alcançar
o aspecto psicológico e, desta forma, moldar consciências, agora
aparentemente está pronto para essa nova etapa de transformação, a
“orgânica”. Ao oferecer a possibilidade de transformação total da
essência humana, o transumanismo torna-se a nova panacéia, o novo
remédio que vai curar todos os males da sociedade e proporcionar o
tão esperado paraíso terrestre.

Tudo indica que iniciativas como a Neuralink, do especulador Elon


Musk, que promete para este ano a primeira interação entre um
smartphone e um implante cerebral, assim como outros procedimentos
baseados na nanobiotecnologia, vieram para car e devem estabelecer
um novo patamar para inovações tecnológicas.

Transumanismo, no entanto, não é um movimento que se resume a


conectar máquinas e humanos, ou mesmo a misturar genes de espécies
diferentes. A idéia central por trás do transumanismo é a
transformação do indivíduo, uma tentativa de superar a essência
humana e criar um novo sujeito, despido de sua personalidade e
adequado ao sonho megalomaníaco de uma nova civilização —
totalitária por excelência. Desta forma, toda e qualquer iniciativa que
tenha entre as suas conseqüências alguma mudança essencial na
sociedade ou nos indivíduos será estimulada, seja física ou biológica,
seja cultural, psicológica ou moral.

Vale lembrar que esses dispositivos e procedimentos invasivos que


vão se conectar ao nosso organismo para supostamente ampliar ou
corrigir nossas capacidades, também vão contar com as informações
coletadas e manipuladas do big data, o que evidentemente vai elevar o
alcance das ações modi cadoras e aprofundar os seus resultados.
Muito mais do que interações físicas, o transumanismo vai transformar
nossa psique, nosso senso moral, e, portanto, nosso equilíbrio
espiritual. E isso me parece um motivo mais do que su ciente para
rejeitar esse processo diabólico com todas as minhas forças.

T,  


N oclassimeucação
artigo anterior tentei mostrar como o acúmulo e a
dos dados recolhidos de diversas fontes e de várias
maneiras estão sendo utilizados como ferramentas de transformação
pessoal e social. Hábitos de consumo, navegação na internet,
prontuários médicos e informações sobre crédito, localização e
contatos freqüentes estão formando um enorme e complexo sistema
que organiza uma espécie de per l individual. Esses per s, quando
conectados entre si, formam uma teia que cobre boa parte da
sociedade e que, por sua capacidade de alcançar o privado e o coletivo,
além de funcionar como um termômetro que avalia as tendências e
facilita a previsão de cenários, ainda se apresenta como potencial
instrumento modi cador perfeitamente adequado aos planos daqueles
que pretendem construir uma nova civilização. Esse é o big data, o
ouro das big techs, e a panacéia que promete facilitar a vida e trazer
comodidade em troca da morte da privacidade, da individualidade e,
portanto, da própria personalidade. No contexto mais básico do
transumanismo, que mistura organicidade e tecnologia, o big data será
o conteúdo que vai alimentar, por meio de algoritmos, os
procedimentos que vão determinar o andamento das iniciativas e os
mecanismos de controle da população.

Para além de toda simpli cação midiática e da compreensível


sintetização pedagógica, transumanismo também pode ser
interpretado como uma representação prática, material e pragmática
da essência losó ca que forma o conteúdo essencial da Nova Ordem
Mundial, ou em outras palavras, corresponde ao conjunto de idéias que
revela a motivação dos planejadores desta nova civilização que
pretendem erguer sobre os escombros do Ocidente.

Apesar da sua de nição mais conhecida se limitar à conexão homem-


máquina, podemos ampliar o conceito de transumanismo de forma a
abarcar os reais interesses por trás de todo discurso globalista, que
além do governo mundial também prevê uma transformação radical
dos valores e princípios ocidentais. A hibridização entre humanos e
máquinas pode ser vista, no meu entender, como a ponta de um
iceberg continental, uma visão de relance dos desejos mais profundos
daqueles que há muito tempo trabalham para criar uma nova
civilização. Por se tratar de uma ideologia, ou seja, um aglomerado de
idéias que não necessita, a priori, de uma correspondência el com a
realidade, suas rami cações são quase in nitas, apresentam elementos
dispersos e alcançam os mais variados aspectos da vida em sociedade.

Como tratamos aqui de um processo que já tem muito tempo de


desenvolvimento, será preciso recuperar algumas informações para
entender essa motivação.

Desde pelo menos o início da era moderna, toma corpo entre alguns
intelectuais europeus a idéia que prega a possibilidade de evoluir o ser
humano a ponto de torná-lo um semideus. O Renascimento,
principalmente devido à in uência cabalista de autores como Giovanni
Pico Della Mirandola, e o darwinismo elevaram a idéia de evolução à
categoria de possibilidade e a “promessa” de alcançar a perfeição divina
passou a in uenciar decisivamente o imaginário da sociedade
ocidental. Por outro lado, o Iluminismo e a Revolução Industrial
também colaboraram com essa in uência ao criar a idolatria da técnica
e da “ciência”.

Com a chegada do Romantismo, que teve entre suas in uências o


pensamento místico e as práticas ocultistas das sociedades iniciáticas,
renasce a imagem do golem, o ser arti cial que ganha vida por meio de
processos sobrenaturais e que tem como principal representante
moderno o romance de Mary Shelley, que curiosamente se chamava
Frankenstein ou o Prometeu moderno, levando também o nome do
personagem mitológico que roubou dos deuses e entregou ao homem a
primeira tecnologia, o fogo.

A superação dos limites humanos aos poucos foi se enraizando nas


mentalidades, principalmente entre os mais notáveis, e isso construiu
um ambiente onde superar a essência humana não era apenas possível,
mas profundamente desejável.

Mais tarde, após a Segunda Guerra Mundial, temos um novo salto no


desenvolvimento dessas idéias. Com o desmoronamento dos regimes
totalitários e o fracasso da Liga das Nações, surge a percepção de que a
transformação social desejada pelos globalistas deveria começar pela
cultura. A necessidade da opressão para implantar iniciativas na
Alemanha Nazista e na União Soviética mostrou que a estratégia
deveria ser mudada. Surge nesse momento a , sucessora da Liga, e
logo em seguida a , o tentáculo das Nações Unidas que terá
papel importantíssimo nesse processo.

O primeiro diretor da , Julian Huxley, irmão de Aldous e neto


de omas Huxley, o “Buldogue do Darwin”, escreveu: “Eu acredito no
transumanismo: uma vez que haja um número su ciente de pessoas
que possam dizer isso de verdade, a espécie humana estará no limiar de
um novo tipo de existência, tão diferente da nossa quanto a nossa é
daquela do homem de Pequim”.

A partir desse momento, e incluindo outras manifestações de Julian


Huxley, que deixavam clara a idéia de superar o conceito de
humanidade de uma forma muito mais profunda, indo além da
tecnologia, o transumanismo passou a ocupar cada vez mais espaço na
mente dos eruditos e na imaginação do povo, e esse fenômeno pode ser
observado na avalanche de livros e lmes com essa temática.

Em 1982 o escritor austríaco Fritjof Capra lança seu livro mais


in uente, Ponto de mutação, que vai criar as bases para a idéia de
superação humana e conectar essa mentalidade com a chamada nova
era, o conjunto desordenado e até contraditório de crenças esotéricas
que engloba várias manifestações pseudocientí cas e, inclusive, o uso
da tecnologia como meio de transcendência e ascensão.

Dadas as estruturas básicas da ideologia do transumanismo, a


evolução dessa mentalidade nunca parou de crescer, e a cada nova
invenção seus defensores sentem mais perto o seu diabólico objetivo.
Hoje ocorre também uma inversão nessa ordem causal: se antes cada
tecnologia, cada teoria criada era aproveitada para avançar a
construção desse ambiente, agora todas as teses e pesquisas cientí cas
são motivadas por esse desejo de superar a essência humana e criar um
novo paraíso na Terra.

O  :  


  
D esde junho de 2020 o Fórum Econômico Mundial tem soltado
informações que apresentam um projeto de grande magnitude,
com profundidade e alcance su cientes para modi car por completo a
nossa sociedade. Em um vídeo bem produzido e com forte apelo
emocional, uma seqüência de cenas dramáticas lembra um teaser do
lme de Al Gore, Uma verdade inconveniente, ou um comercial do
Greenpeace, mesclado com propaganda eleitoral de um partido
revolucionário.
Como sempre acontece com as iniciativas que pretendem transformar
a sociedade, o grande reset está sendo apresentado como solução
mágica para o problema da vez, a covid-19(84). No vídeo que viralizou,
foram destacadas as seguintes frases: “Nosso mundo mudou”; “Sistema
precisa reiniciar”; “Nossos desa os são maiores”; “Todo mundo tem
um papel a desempenhar”.

A repercussão foi bem grande, principalmente quando admitimos


que o tema não costuma gerar tanto interesse, e que até pouco tempo o
assunto era tratado como teoria da conspiração.70

A relevância dos personagens que começaram a se pronunciar em


defesa de um reset como panacéia para os problemas acarretados pela
covid-19(84) e suas conseqüências deu credibilidade ao vídeo,
fortaleceu a sua mensagem apocalíptica-esperançosa e forneceu o call
to action que fez a grande mídia passar a defender ou, pelo menos,
ngir normalidade diante daquele tema cuja existência pouco antes
estava negando. As vozes do Príncipe Charles, da presidente do Banco
Central Europeu, Christine Lagarde, e do próprio Klaus Schwab,
presidente do , soaram como o “apito de Pavlov”.71

Daí em diante as informações sobre o reset passaram a circular um


pouco mais, e a cada dia os membros, simpatizantes e os canais o ciais
do  soltavam novos aspectos da proposta em artigos, entrevistas,
podcasts e lives. Tudo de maneira gradual e devidamente
interconectada, para possibilitar a formação do mosaico que vai servir
de munição intelectual e de fonte para as narrativas propagadas por
suas vozes na grande mídia. E então aqueles que nem admitiam a
existência do grande reset se viram obrigados a mudar o seu status três
vezes: do “não existe” foram para o “é necessário”, depois para o “é
bom” e agora já estão usando o “é inevitável”.

Mesmo agora que o assunto está deixando de ser um tabu, ninguém


fala das origens dessa idéia, que não tem nada de nova, mas apenas foi
maquiada para parecer uma reação espontânea a uma crise inesperada
e imprevisível.
Reiniciar a sociedade é a própria de nição do projeto que chamamos
de Nova Ordem Mundial, ou seja, destruir a civilização atual para
erguer outra sobre os seus escombros, ou ainda, em uma analogia com
a informática, formatar, e desta forma apagar tudo, para em seguida
reinstalar o novo sistema, com recursos, funções e permissões
completamente diferentes.

Não é preciso entrar nos aspectos controversos dessa pandemia


(responsabilidade, letalidade, enfrentamento, etc.) para perceber a sua
instrumentalização em favor de uma agenda. Essa constatação não
enfraquece a evidência de ser o grande reset um plano muito anterior a
2020, pelo contrário. Quando olhamos a complexidade e a variedade
de “soluções” que já estão sendo apresentadas praticamente desde o
início da pandemia, ca evidente que é quase impossível que um
material tão so sticado e robusto tenha sido produzido em tão pouco
tempo. Também corrobora com essa visão o crescente número de
celebridades do mundo político e cultural que a cada dia defendem
algum aspecto proposto pelo grande reset ou por iniciativas pontuais
do mesmo gênero.

Para que que bem claro, o grande reset procura reunir diversas
iniciativas que visam sobrepujar as soberanias nacionais e, como
conseqüência, limitar os direitos naturais dos indivíduos. E para
entender melhor o que isso representa, e deduzir a partir daí suas
motivações, acho importante conhecer um pouco da origem desta
idéia de "resetar" a economia, destacando as instituições e as pessoas
envolvidas, assim como as suas conexões.

O Fórum Econômico Mundial (, na sigla em inglês) surgiu em


1971 como um simpósio, uma iniciativa de intelectuais que pretendiam
discutir o panorama econômico, social e político. Em 1987 passou a ter
essa atuação mais ampla e regular. Seu principal rosto, o fundador e
presidente perpétuo, Klaus Schwab, tem se notabilizado pela e ciente
defesa de pautas atreladas ao conceito de “sustentabilidade”. Vale
lembrar que este conceito, surgido no primeiro relatório do Clube de
Roma, “Os limites do crescimento”, prevê a necessidade de uma espécie
de reinicialização da sociedade.

Voltando a Klaus Schwab, após circular com desenvoltura pelas mais


poderosas organizações não-governamentais do mundo, resolveu criar
sua própria , a Fundação Schwab de Empreendedorismo Social,
que ele administra junto com sua esposa, Hilde, e que possui um
Fórum de Jovens Líderes Globais que todo ano oferece bolsas e
prêmios extremamente cobiçados. E como essa instituição conta em
seu quadro, entre outros nomes,72 com o professor de Harvard, David
Gergen,73 sua in uência na formação e colocação de novas lideranças
deve ser pelo menos parecida com a da Lemann Fellowship.74 Lembre-
se: formar novos líderes, com novos per s é uma das ambições do
reset.

Além de Schwab, o Príncipe Charles, Justin Trudeau, Christine


Lagarde, George Soros, Bill Gates, Rajiv Shah, Elon Musk, Richard
Haass75 e Henri Kissinger são apenas alguns dos nomes que de uma
forma ou de outra manifestaram interesse em remodelar a economia
de forma radical. Veículos como e Economist, Financial Times, Wall
Street Journal também falam cada vez com mais freqüência sobre uma
transformação econômica atrelada à 4a Revolução Industrial,76 e até
mesmo símbolos da opulência capitalista como J. P. Morgan-Chase e
Goldman Sachs já admitem em público o desejo de mudanças bem
profundas, e que atinjam todo o sistema.

O grande reset, para além da imensa relevância do aspecto


econômico, ainda abarca muitas outras instâncias da sociedade.
Embora mudanças de grande impacto como o m do dinheiro físico, a
renda básica universal e a renegociação de débitos e créditos sejam, de
fato, extremamente importantes, pois conduzem a novas relações
pessoais e pro ssionais, além de servir como “elemento de chantagem”,
como veremos adiante, algumas outras questões podem ser tão ou mais
importantes na transformação do cotidiano.
A começar pelas reformas tributárias e scais que serão necessárias
para "resetar" e recomeçar a economia. Inevitavelmente haverá
aumento de impostos, mesmo que o discurso diga o contrário.
Também teremos mudanças profundas nas legislações trabalhistas, e
por isso é bem provável que o maior envolvimento do Estado vá
encarecer e burocratizar a relação empregador-empregado.

Na área ambiental e de saúde encontramos um desdobramento


parecido. Em ambos os setores as novas regulações devem exigir a
completa reestruturação dos meios de produção e isso certamente vai
esmagar os pequenos empreendedores.

Costumo dizer que podemos classi car uma iniciativa como favorável
à construção de uma Nova Ordem Mundial quando ela provoca uma
ou mais destas três conseqüências: 1) aumento do poder do Estado e
dos organismos internacionais; 2) enfraquecimento das soberanias
nacionais e dos direitos naturais dos indivíduos; 3) concentração dos
mercados rentáveis em poder das grandes corporações. Por este prisma
ca claro que estas modi cações tendem a cumprir rigorosamente esse
script. E tem mais.

Outras questões que apresentam desdobramentos semelhantes são


aquelas diretamente relacionadas às novas tecnologias. O transporte,
por exemplo, ao car cada vez mais automatizado, tende a se
transformar em uma ferramenta mais sujeita a controle externo, o que
evidentemente vai concentrar poder e di cultar para o pequeno
empreendedor. O mesmo deve acontecer com os dispositivos de
comunicação e distribuição de informações. A simbiose entre mídia,
big data e burocracia governamental vai ascender o Leviatã e enterrar a
privacidade, matéria-prima da personalidade.

Ainda deduzindo sobre as conseqüências da revolução tecnológica


embutida no grande reset, pelo menos nos moldes que vem sendo
apresentado, parece natural supor que todos os inventos serão
utilizados para aprimorar o controle sobre as massas. Nos moldes do
sistema de crédito social implantado pela China desde 2016, um
aparato tecnológico vai conectar todos os dados disponíveis sobre o
cidadão, desde os seus documentos, o histórico de consumo e
prontuário médico, até postagens das redes sociais, biometria, ,
reconhecimento facial, etc. Neste cenário, não há como negar que um
microchip  subcutâneo, capaz de reunir, classi car e enviar para
armazenamento centralizado parece muito provável — aqui está uma
das razões para a pressa com a instalação do 5G,77 condição necessária
para a próxima etapa, a “internet das coisas”, que vai possibilitar que
cada dispositivo sirva, ao mesmo tempo, como receptor, emissor e
“roteador” de conexão.

Se as idéias de transformar por completo a economia, a comunicação,


o emprego e a locomoção das pessoas deveriam causar espanto e
descon ança, o que dizer de mudanças na alimentação e na produção
de alimentos? O Codex Alimentarius, que já existe há muito tempo e
aos poucos foi se inserindo nas decisões governamentais em muitos
lugares do mundo, consiste em um amontoado de regulações que têm
o intuito de de nir a alimentação de toda a população mundial. Para
piorar, pessoas como Rajiv Shah, presidente da Fundação Rockefeller,
estão trabalhando a todo vapor para ampliar o escopo do códex de
modo a abarcar também novas regulações para a agricultura e a
pecuária, em um projeto ainda mais ambicioso, a reforma pela
segurança alimentar. Supostamente cientí co, esse ato de exemplar
autoritarismo ganhou fôlego com a pandemia e já faz parte dos
objetivos do reset.

Por último, mas não menos importante, o grande reset também


prepara modi cações comportamentais, que vão alterar rotinas,
hábitos de consumo e relações de afeto. Essas conseqüências óbvias da
implantação deste novo normal devem acarretar ainda distúrbios de
ordem psicológica, como costuma ocorrer diante de modi cações
profundas e abruptas. Suicídios, depressão e aumento do consumo de
drogas ilícitas e psicotrópicos lícitos devem aumentar.

E como tudo indica que todas essas transformações devem ocorrer


em um cenário de terra arrasada, de crise econômica e caos
generalizado, a população amedrontada estará não apenas
condicionada a aceitar, mas pronta para comemorar qualquer forma de
socorro, mesmo que para isso ela tenha que abrir mão de todos os seus
direitos. Esse é o elemento de chantagem embutido nesse projeto
totalitário: quem quiser receber qualquer forma de ajuda deverá se
submeter a vacinação obrigatória, identidade digital (ID2020),
passaporte sanitário, implantação de dispositivos, etc.

Mudanças comportamentais forçadas, somadas aos desdobramentos


prováveis dos demais elementos revolucionários envolvidos no grande
reset devem causar profundas transformações no ordenamento moral
dos indivíduos, e a diluição do senso de certo e errado tende a
desconstruir por completo a essência humana, o que leva ao último
ponto que gostaria de trazer para esta re exão: o transumanismo.

Transumanismo é muito mais do que a hibridização humana. Trata-se


de uma mentalidade, uma ideologia que pretende superar a condição
humana, seja usando a ciência ou a tecnologia, como acontece com a
genética, a nanotecnologia e a informática, seja pela transformação do
ambiente cultural por meio do aparelhamento da educação, das artes e
da linguagem, passando pela diluição dos conceitos morais e religiosos.

Esse gigantesco fenômeno que já aparece no horizonte, o grande reset,


carrega em si mesmo a mentalidade que funciona como seiva dos
projetos de criação de uma nova civilização, um desejo primordial e
justi cador de toda e qualquer aberração, e que pode ser simbolizado
por dois desejos luciferianos: superar a condição de criatura para
igualar-se ao Criador, e criar o próprio reino, neste caso o paraíso
terrestre.

A  
ano de 2020 foi atípico em quase todos os sentidos, e dizer isso já virou
clichê. Seja pela instrumentalização de uma crise sanitária repleta
O de indícios de planejamento, seja pelas soluções oferecidas, que
também indicam conchavos e interesses obscuros.

Dentre as várias decorrências deste momento histórico, podemos


destacar, quase que como uma revelação, a possibilidade de perceber
com mais precisão o modelo de sociedade que os poderosos e seus
agentes pretendem implantar.

A própria palavra “revelar” pode ser entendida como a retirada de um


véu, ou seja, algo que já estava lá, mas de forma coberta ou camu ada.
Com esse processo de construção social aconteceu exatamente desta
forma: a realidade sobre os objetivos deste processo estava até certo
ponto oculta, mas tão ou mais presente que os fatos noticiados
cotidianamente.

A Nova Ordem Mundial, ou melhor, a nova civilização que estão


construindo sem a anuência e até mesmo sem o conhecimento da
imensa maioria das pessoas, será uma espécie de tecnocracia feudal.
Esta é a conclusão que deduzimos do desenrolar dos últimos meses.

Como tecnocracia estou me referindo ao sistema baseado na idéia que


alega ser possível alcançar a excelência por meio de uma obediência
cega a paradigmas supostamente cientí cos, e usando apenas esse
mesmo conjunto de princípios para selecionar pessoas e projetos.

Tecnocrático, portanto, no sentido que uso aqui, signi ca uma


ideologia, ou melhor, um aglomerado de idéias que não precisa,
necessariamente, fazer sentido fora desta bolha imaginária. Algo como
o dogma da técnica, que descarta todo e qualquer con ito político e
precisa ser imposto porque é inquestionável, porque é cientí co,
porque os “especialistas” disseram que deve ser assim.

O “feudal” que uso no título deste pequeno artigo funciona como


uma analogia ao regime predominante durante séculos na Europa e
que consistia, grosso modo, na concessão dos meios de produção,
controlados por uma elite e usufruídos por outra classe social, formada
por colonos ou servos que usavam desta “autorização” para retirar o
seu sustento e a sua sobrevivência daquela terra que não lhes pertencia.

O conceito que trato aqui tem ligeiras diferenças em relação à


expressão “feudalismo tecnocrático”, usado há algum tempo para
designar o uso dos meios de produção de forma tecnicista. Essas
diferenças, entendo, consistem na inversão da relação entre essência e
acidente. Se no feudalismo tecnocrático temos a terra — ou os meios
de produção — como essência e a técnica como o acidente que
determina a “forma” de administração, na tecnocracia feudal o
cienti cismo passa a ser a regra geral da sociedade — essência — e o
uso concessionário dos aparatos produtivos consiste em apenas um dos
seus aspectos — acidente.

Também penso que a tecnocracia feudal pode ser explicada como


uma mudança nos paradigmas estruturais da sociedade, no sentido de
uma delimitação no papel da propriedade privada, aos moldes do
pensamento de Klaus Schwab78 e expressa pelo menos desde 2017 nos
materiais do Fórum Econômico Mundial.

Para os iluminados desta elite globalista, a propriedade privada tende


a se transformar em algo restrito a uma classe especial, restando a
todos os outros mortais o uso de uma concessão como única forma de
sobrevivência. É exatamente isso que podemos deduzir dos planos em
execução, com destaque para o chamado great reset.

Embora possam parecer expressões sinônimas, acredito que esta


diferença de foco pode ser entendida por meio de um exemplo
atualíssimo e, a meu ver, bastante cristalino.

A área de tecnologia, que gradualmente tornou a sociedade


dependente das suas estruturas, agora busca impor sua ideologia
tecnocrática em todos os aspectos da nossa vida, desde a condução das
iniciativas governamentais até a restrição das discussões políticas,
passando pelo controle da linguagem, pela censura baseada em
critérios obscuros e pela arrogância típica de quem acredita possuir
autoridade sobre todas as condutas humanas.

Este rico e restrito setor, que pode ser representado por empresas
onipresentes como Google, Facebook, Twitter, Amazon, Apple, Uber e
poucas outras, construiu ao longo dos anos as plataformas que
seduziram bilhões de incautos com suas ofertas de comodismo e
praticidade. E ao controlarem estas plataformas como feudos, os nerds
que caram bilionários com a ajuda dos barões do sistema nanceiro
agora decidem o que pode ou não ser negociado, criando obstáculos a
toda iniciativa que confronte seus interesses nem sempre declarados. A
“uberização” da economia, o monopólio da disponibilização dos
aplicativos e o império do market place são apenas a ponta deste
imenso iceberg.

Nos últimos meses esse papel das big techs cou ainda mais evidente
devido a uma série de iniciativas que colocaram os poderosos do Vale
do Silício sob a luz. A “plandemia” e suas conseqüências políticas,
econômicas e sociais deixaram bem claras as suas intenções: além do
poder decisório sobre novos empreendimentos, também querem
decidir o que pode ser falado e, portanto, pensado.

A   —  


N onova
artigo anterior, “A tecnocracia feudal”, tentei expor como vejo a
con guração política que parece desenhada no horizonte. E
alguns aspectos dessa estrutura já estão nos alcançando.

Embora esteja ainda em formação, a sionomia dessa sociedade


planejada pode ser identi cada desde as suas mais evidentes
características até os mínimos detalhes que compõem o nosso
cotidiano.
O ambiente tecnocrático apresenta-se de forma explícita na
juristocracia, por exemplo, que elimina a discussão política e tenta
conduzir a sociedade por meio de iniciativas arbitrárias supostamente
baseadas em interpretações legais. E como em um regime como esse a
autoridade do agente importa mais do que a qualidade ou a delidade
da interpretação, tais iniciativas tornam-se imediatamente
inquestionáveis. Não é preciso citar nenhum episódio, certo? Nas
pequenas coisas, nos detalhes do dia-a-dia também é possível perceber
como a técnica, ou pelo menos o seu discurso formal — nem sempre
verdadeiro — já nos parecem familiares, mesmo sem a nossa anuência.
No convívio entre as pessoas a idéia da infalibilidade tecnocrática está
expressa em frases, termos e expressões repetidas inconscientemente
por grande parte da população desatenta, que não é capaz de perceber
que aquela fala foi plantada em sua mente após décadas sendo
martelada diariamente pela mídia, a parte visível do establishment,
responsável pela formação do imaginário — e do repertório vocabular
— coletivo. Quantas manchetes, nos últimos anos, traziam algo como
“especialistas dizem” ou “estudos a rmam”? Esse novo mundo, que
apesar de velho e anormal vem sendo chamado de “novo normal” em
uníssono por toda a classe falante, está sendo desenhado há muito
tempo e agora alcança o seu ápice devido a uma oportunidade única,
composta de ingredientes perfeitos para quem pretende impor uma
iniciativa totalitária: medo, doença, incerteza, dependência e morte.

Todos os totalitarismos se dizem cientí cos. Todos. Impossível


sustentar um regime totalitário sem esse tipo de discurso. Comunismo,
nazismo e fascismo tinham em sua defesa alegações inquestionáveis.
Mesmo sustentados pela força, o cialmente esses regimes eram
validados por uma retórica cienti cista. A diferença com o que
vivemos hoje não é substancial, mas acidental e quantitativa, pois a
amplitude deste regime que estamos adentrando reúne os discursos das
três modalidades totalitárias mais conhecidas: social, biológica e moral.
Em outras palavras, a tecnocracia se aproveita da essência comunista,
nazista e fascista, respectivamente.
O cienti cismo, ou melhor, a idolatria da ciência, vem sendo
construída há décadas, inicialmente formando uma mentalidade
burocrática que torna as pessoas dependentes, embaçando a percepção
das relações de causa e conseqüência e, por último, mas não menos
importante, aparelhando a linguagem de forma a reduzir as
capacidades cognitivas, trazendo a insegurança intelectual e moral
necessárias para facilitar a manipulação. O politicamente correto foi
criado exatamente com esse objetivo.

A raiz desse problema que enfrentamos e deveremos enfrentar cada


vez com mais intensidade está na inversão de valores, em especial na
troca do alvo de adoração. Ao contrário do que pensam os desavisados,
o esvaziamento da sacralidade não tornou o homem mais livre, como
prometiam os materialistas “bem-intencionados”, mas apenas
substituiu Deus por um punhado de pressupostos que, exatamente por
não se sustentarem diante de questionamentos ou do choque com a
realidade, terão que se impor com mais força do que qualquer dogma
religioso. E para que essa substituição seja completa, tentam dar a esse
espantalho que chamam de “ciência, ciência, ci-ên-cia” os mesmos
atributos divinos: onipotência, onisciência e onipresença. Mas como
isso não é possível, planejadores e agentes precisam blindar esses
simulacros e isolar ou punir todo aquele que levantar alguma dúvida
ou avisar que a grama é verde.

Quando ouvimos totalitários disfarçados de especialistas sendo


aceitos como guias da sociedade ca evidente que a idolatria da técnica
penetrou as camadas mais profundas da nossa vida. E quando a
principal voz do grande reset, o Fórum Econômico Mundial, repete
insistentemente a promessa de felicidade sem propriedade, temos a
con rmação de que estamos diante da inauguração de uma espécie de
feudalismo moderno, que vai muito além da terra ou dos meios de
produção, mas de toda e qualquer forma de empreendedorismo, de
iniciativas individuais e, conseqüentemente, da soberania, da liberdade
e da própria individualidade.
A tecnocracia feudal já está aí, mesmo que incompleta e imperfeita —
como sempre será.

P :  


Os homens preferem geralmente o engano, que os tranqüiliza, à
incerteza, que os incomoda.

— Marquês de Maricá

O Fórum Econômico Mundial, um organismo com in uência


crescente nos últimos anos, famoso pelas teses do great reset e
pelas ameaças de cyberpandemia, de catástrofe ambiental e crise
alimentar mundial, e menos conhecido pela realização do Event 201,79
agora revela interesse na manipulação do subconsciente.

Como sempre ocorre nessas investidas contra os direitos naturais, as


liberdades individuais e a privacidade, inventam um pretexto para
justi car o ataque ou o movimento. Neste caso a justi cativa para
manipular a camada mais profunda da mente é eliminar o preconceito
no ambiente de trabalho. Sim! O gigantesco organismo que recebe em
suas reuniões centenas de chefes de Estado, lideranças políticas e
empresariais e celebridades do mundo cultural está promovendo
abertamente a idéia de invadir e transformar a mente das pessoas para
torná-las mais palatáveis para o padrão pro ssional desejado pelo
establishment.

A síntese do meu trabalho pode ser descrita nesta frase: alertar as


pessoas sobre as iniciativas que visam construir uma nova civilização,
dotada de novos valores morais, sociais e culturais muito diferentes,
quando não opostos àqueles princípios que durante séculos
alicerçaram a nossa sociedade.
Mesmo o aspecto mais visível desse processo de mudança
civilizacional, o globalismo, que engloba os fenômenos geopolíticos
que colaboram no sentido de criar e fortalecer um ambiente de
governança global, ainda depende de um conjunto de iniciativas que
revolucionem as mentalidades e o ambiente social para atrair a adesão
dos ignorantes ingênuos, e para enfraquecer, desunir ou desorientar
qualquer resistência às implantações que apareça no horizonte.

Muitos dos esforços que dedico ao meu trabalho têm sido


direcionados para o campo psicológico envolvido nesse processo
revolucionário. Mais do que descrever os fenômenos políticos e sociais
que in uenciam as transformações, procuro alertar para os fatores que
provocam corrosão e inversão de valores em um nível psicológico mais
profundo, seja devido à ação de um imaginário moldado por uma
linguagem aparelhada, por uma cultura corrompida e pelo
entretenimento instrumentalizado, seja pela e ciência das iniciativas
derivadas das técnicas de manipulação utilizadas por gurus de seitas
herméticas, em experimentos sociais e em projetos conduzidos por
agências e serviços de inteligência.

Nos últimos anos, além deste tipo de iniciativa, também se tornaram


mais evidentes os projetos que incluem altíssima tecnologia e
profundos conhecimentos de biotecnologia, neurociência e
nanotecnologia, que juntas podem facilitar a hibridização homem-
máquina.

Por meio de interações medicamentosas, indução hormonal,


nanodispositivos ou implantes neurais é possível criar as condições
bioquímicas e mecânicas ideais para que a manipulação de ordem
psicológica seja mais e ciente e duradora.

Alterações de pressão arterial, na glicose ou no nível de determinados


hormônios podem agravar ou amenizar uma mensagem recebida,
podem condicionar uma pessoa para uma reação mais impetuosa ou
mais contida, mais impulsiva ou mais racional. A manipulação
psicológica, portanto, pode ser turbinada com o uso de substâncias ou
dispositivos eletrônicos.

O que podemos deduzir desse fato? Estão dadas as condições para a


manipulação. Do ponto de vista tecnológico e, dependendo do
contexto, também cientí co, e com os agravantes proporcionados pela
linguagem corroída e pela cultura devastada, ca claro que o terreno
está preparado e os meios estão disponíveis para a manipulação
desejada pelo establishment, nesse caso representado pelo Fórum
Econômico Mundial.

No artigo de Leslie Zane, presidente de uma consultoria especializada


em in uenciar o comportamento de consumidores, e que usa a
psicologia para desenvolver técnicas de persuasão que atuem nos níveis
psicológicos mais profundos, os conceitos de heurística e dos mapas de
conexões neurais (conectomas) são “adaptados” para que funcionem
como ferramentas que vão limpar e reorganizar o subconsciente das
pessoas. Para a autora, as orientações diretas e claras não têm surtido o
efeito desejado — e segundo ela são, inclusive, “contraproducentes”.

O próprio título do artigo, “Por que o inconsciente é o caminho de


menor resistência para erradicar o preconceito em seu local de
trabalho” revela a idéia de usar o ambiente pro ssional para
transformar comportamentos “indesejados”. Esta escolha faz todo
sentido quando entendemos que o objetivo é atingir as pessoas de uma
maneira bastante persuasiva e de difícil resistência sem, no entanto,
parecer obrigatória e autoritária. Por medo de demissão ou outro tipo
de retaliação, poucos serão aqueles que vão rejeitar um “adestramento”,
ops, um “treinamento” que prometa resolver os con itos no ambiente
do trabalho.

Evidentemente, como sempre ocorre diante de informações como


essa, a maioria das pessoas não dará a devida importância, mas para
aqueles que já acordaram, ca claro que o establishment já está
defendendo uma invasão deliberada ao subconsciente das pessoas. Será
esse o gulag do futuro?
A
    :  

Em política, nada acontece por acaso. Se o acaso acontecer, você
pode apostar que foi planejado para acontecer desta forma.

— Franklin Delano Roosevelt

E xatamente onze anos antes dos atentados ao World Trade Center e


ao Pentágono, George W. Bush pronunciou mais ou menos as
seguintes palavras: “Temos uma oportunidade de ouro, uma janela de
oportunidade que deve ser aproveitada para colocar na mesa essa nova
idéia, uma Nova Ordem Mundial”.

O discurso, dirigido a autoridades americanas, indicou o rumo de um


grupo de agentes públicos e privados e, de certa forma, soou como um
apito de cachorro que colocou em movimento as forças políticas e
empresariais interessadas na construção de um ambiente de
governança global.

Importante ressaltar que George H. W. Bush foi uma das pessoas


mais poderosas do século . Além de ser membro de uma família
milionária há gerações, com profundas conexões com as dinastias
mais ricas do mundo, ele conseguiu seu brilho próprio nos negócios e
na política partidária americana. Após ganhar muito dinheiro no ramo
petrolífero, a ponto de rivalizar com a fortuna que o seu pai —
Prescott Bush — e o seu avô — Samuel Bush — haviam construído
operando no sistema nanceiro internacional, George entrou para a
política e teve uma carreira meteórica. Foi membro da Câmara dos
Representantes pelo 7o distrito na região da grande Houston (1967–
1971) e apesar das duas derrotas para o senado, tornou-se conselheiro
do presidente Richard Nixon e embaixador dos Estados Unidos na
, onde dedicou-se às relações com a China e a Rússia. E depois de
dirigir a  e dominar parte do Partido Republicano, ganhou a faixa
de 43o vice-presidente (1981–1989) e, em seguida, a de 41o presidente
dos  (1989–1993).

Assim como aconteceu com os "Quatorze pontos" de Woodrow


Wilson, de 1918, que antecederam a Liga das Nações (1919), nos anos
seguintes ao discurso de Bush muitas decisões governamentais foram
justi cadas por essa idéia de construção de uma Nova Ordem
Mundial. Além do peso da caneta presidencial americana, que
in uencia nações e organismos internacionais, as conexões do próprio
George e de sua família — que vão de participações acionárias e
parcerias em grupos de milionários como a  (Associação de Golfe
dos Estados Unidos), às obscuras relações entre os membros de clubes
como o Bohemian80 e fraternidades como a Skull and Bones81 —
ajudaram bastante na consolidação do discurso do então presidente
Bush entre as direções das grandes corporações multinacionais.

Nos anos seguintes, o desmoronamento da União Soviética e a


independência de diversas repúblicas alinhadas ao socialismo russo
coincidiram com uma transformação nas relações internacionais dos
 e no comportamento dos organismos internacionais, cada vez
mais interessados na implantação de iniciativas que possam favorecer
o poder da burocracia global e diminuir a força das soberanias
nacionais.

Na semana passada completamos 20 anos dos atentados que


mudaram o mundo. Foram duas décadas de avanços incontestáveis
nos planos de construção da governança global. Nesse período as
nações entregaram seu poder ao aderir sem críticas às exigências e
chantagens disfarçadas de “sugestões” e “recomendações” dos
organismos globalistas. Países abandonaram suas prerrogativas e
colaboraram para esmagar os direitos naturais dos indivíduos. Tudo
em troca de supostos benefícios coletivos futuros. As liberdades, a
privacidade e as soberanias nacionais foram dilapidadas por promessas
vazias que são, desde sempre, irrealizáveis. E para quem está atento a
esse processo, apenas se cumpriu, mais uma vez, um modus operandi.

Os atentados de 11 de setembro de 2001, além de modi car por


completo uma série de procedimentos e protocolos de segurança e
serviços, criou jurisprudência para aperfeiçoar mecanismos de
controle social.

O Patrioct Act, lançado logo após os atentados por George W. Bush


— o lho da “madre superiora” — e ampliado de forma dissimulada
por Barack Obama em 2011, serviu de modelo para a retirada de
direitos e liberdades individuais.

Sob o pretexto da segurança, da guerra ao terror e do combate ao


terrorismo doméstico e internacional, estava iniciada uma nova era de
repressão, de controle comportamental e vigilância. Esse novo padrão
penetrou nas instituições e preparou o terreno para os abusos
cometidos durante a pandemia covid-1984 — da quarentena forçada
às máscaras, passando pela vacinação obrigatória e pelo passaporte
sanitário.

Na próxima semana veremos como o “pós-atentados” de 2001 deram


início ao que hoje estão nos empurrando com o belo título de “novo
normal”.

M      


  
Os homens tímidos preferem a calmaria do despotismo ao mar
tempestuoso da liberdade.

— omas Jefferson
a manhã do dia 11 de setembro de 2001 o mundo parou para assistir
N ao mais simbólico de todos os atentados terroristas da história.
Poucos minutos após o impacto do segundo avião, capturado por
um número incontável de câmeras, poucas pessoas ainda tinham
dúvidas sobre a natureza do evento. Embora restassem in nitas
perguntas — algumas sem uma resposta verossímil até hoje —,
naquele mesmo instante todos perceberam que não era um acidente,
como se supunha até então.

Quando se constatou que houve o dolo, ou seja, logo após a


descaracterização do evento “acidental” e a con rmação como atos
deliberados e simultâneos ao ataque ao Pentágono e ao seqüestro de
pelo menos mais um avião — inicialmente diziam dois —, um misto
de perplexidade e indignação varreu o planeta.

Enquanto as imagens das duas imponentes torres do World Trade


Center ardendo em chamas estampavam televisores em todos os
países, uma sensação de malignidade ia tomando conta das pessoas. A
maldade, o ódio e a frieza dos planejadores e executores parecia algo
impensável, selvagem demais para os frágeis parâmetros civilizacionais
que ingenuamente os povos ocidentais pensavam possuir e dominar.

Embora os atentados terroristas ocorressem com certa freqüência,


vitimando milhares de pessoas e dizimando economias locais há
décadas, nunca um grupo tinha mostrado tamanha audácia e
capacidade de execução. Se antes o noticiário ignorava ou dava pouca
importância ao terrorismo porque as vítimas eram da África, do
Oriente Médio ou do Cáucaso, desta vez o alvo era um símbolo da
prosperidade americana, um arranha-céu ncado em um dos terrenos
mais caros do mundo. Um “representante” dos , inserido no
imaginário internacional por meio de lmes, desenhos, games, etc.

Assim como o local do principal atentado ocorrido naquele dia, o


, um conjunto de edifícios com escritórios — portanto um espaço
civil —, o que atraiu a atenção mundial em níveis inéditos, o próprio
registro em tempo real dos acontecimentos (do segundo impacto ao
desmoronamento dos três prédios) ampli cou o trauma. De forma
praticamente imediata o medo se instalou no imaginário coletivo, com
reforço das transmissões ao vivo, com incrível variedade de imagens e
ângulos.

“Como alguém foi capaz de fazer isso?”.

Perguntas como essa, repetidas in nitas vezes, criaram a percepção


de que tudo pode acontecer, pois desdobram outras re exões, como
“se foram capazes de algo tão grande, nada impede que façam de
novo”, ou “que façam atos menores”.

O medo generalizado foi turbinado com outras operações


psicológicas, como as cartas com antraz, as supostas declarações de
lideranças de grupos radicais que prometiam novos ataques, etc.
Muitas destas coisas foram descartadas logo em seguida, mas naquele
momento serviram para encorpar o caldo do pânico, alimentado pela
sensação de total insegurança.

A importância do alvo, a enormidade do evento e a complexidade da


execução rapidamente espalharam uma névoa de medo por todos os
lugares.

Estava dada uma nova condição: agora a possibilidade de um


atentado terrorista, que sempre existiu, mas era desprezada, passa a
fazer parte do cotidiano e a condicionar comportamentos e in uenciar
tomadas de decisão.

Com pouca resistência, o governo de George Bush implantou o


chamado Patrioct Act, um conjunto de iniciativas legais que retiravam
direitos naturais dos indivíduos em nome de uma suposta proteção
contra possíveis — e iminentes, segundo o ambiente da época —, atos
terroristas. Como o pânico já estava instalado em toda a sociedade, até
mesmo os inúmeros abusos foram tolerados. Pessoas foram presas sem
acusação, casas foram invadidas sem mandado, centenas de pessoas
foram torturadas e dezenas de “suspeitos” foram impedidos de falar
com seus advogados durante longos períodos. Depois muitos deles
foram soltos sem uma acusação, sem um inquérito, e tudo cou por
isso mesmo.

O decreto dos Atos Patrióticos deu ao governo americano o poder de


atropelar os direitos constitucionais que há décadas permitiram a
liberdade, a independência e a prosperidade dos . Assinado pelo
presidente George W. Bush em 26 de outubro de 2001, o conjunto de
documentos permitia uma série de invasões à privacidade (grampos,
escutas e perseguições sem ordem judicial), ao direito de ir e vir e à
propriedade, com a quebra da inviolabilidade do lar. O que antes era
feito de forma pontual e clandestina pelos serviços de inteligência,
após o fatídico dia 11 de setembro passou a ser o cial e generalizado.
Sob o pretexto da segurança, o ideal da liberdade foi prontamente
abandonado.

Foi rápido, fácil e quase indolor renegar a tradição americana e


abraçar o paternalismo estatal como modelo de sociedade segura,
limitando, diluindo e relativizando o conceito de liberdade. Apesar da
rapidez, essa transformação teve alcance profundo no imaginário da
sociedade americana, moldando novos comportamentos e criando e
instalando uma “forma mentis” oposta aos ideais imaginados pelos
pais fundadores.

Como os  irradia sua cultura com potência e capilaridade,


gradualmente o mundo inteiro passa a adotar esse “novo” conceito de
liberdade condicionada à segurança, e a assimilar seu óbvio
desdobramento, a subordinação do direito individual a um abstrato,
efêmero e escorregadio “interesse coletivo”.

Começa aí, no meu entender, o desenho de uma nova mentalidade,


que ao longo de 20 anos foi se consolidando com o apoio da
instrumentalização da linguagem e do aparelhamento da
comunicação. E hoje, depois de duas décadas de manipulação
sistemática, com o ambiente devidamente preparado, essa mentalidade
covarde e servil já está sendo chamada de “novo normal”.
C-()
N ãoqueé recaem
preciso especular sobre a origem ou sobre as reponsabilidades
quanto à covid-19 para perceber que as crises geradas
pela doença estão servindo perfeitamente para o avanço da agenda
totalitária que pretende criar um ambiente de governança global para,
em um futuro próximo, permitir a instalação de uma autoridade
mundial de fato.

Apesar das evidências que colocam em dúvida o surgimento


espontâneo do vírus — que vão desde as simulações do Event 201 e
das “sugestões” contidas no relatório da Fundação Rockefeller, até as
denúncias de perseguição aos médicos que alertaram sobre a doença e
a existência de um centro de cultivo de vírus em Wuhan, e passando
pelas imagens de chinesas aparentemente cuspindo e espirrando de
propósito em locais públicos do Ocidente —, basta um olhar atento
para perceber que o corona foi um achado precioso para o
fortalecimento do totalitarismo globalista.

A instrumentalização da doença e das crises decorrentes das decisões


equivocadas ou deliberadas tem sido direcionada para implantações
que já estavam preparadas e aguardavam a “crise certa” para a devida
aprovação da sociedade aterrorizada.

Como costuma acontecer com certa freqüência, iniciativas totalitárias


usam o pânico como pretexto para a retirada de direitos fundamentais
e para o aumento da concentração de poder nas mãos de burocratas
estatais. Foi assim na União Soviética, foi assim na Alemanha nazista e
continua sendo assim na Coréia do Norte, na Arábia Saudita ou na
ilha cárcere dos irmãos Castro. E o desenvolvimento do globalismo
também contou com o apoio do medo em diversas ocasiões. Neste
caso, como a intenção é acelerar um processo que visa estabelecer as
bases para um governo mundial composto de regras estruturadas
sobre novos valores e novas formas de convivência, o aparelhamento
da crise sanitária e das suas inevitáveis conseqüências trouxe à tona
uma série de iniciativas que já vinham sendo aplicadas na política, na
economia e na cultura de forma velada ou discreta. A diferença, no
momento que atravessamos, diz respeito ao salto que foi dado pela
oportunidade que encontraram. Se antes o avanço era lento, gradual e
muitas vezes imperceptível, agora os planejadores desta megalomania
nem disfarçam mais, pois sabem que a hora é esta, seja para garantir
que itens caros à agenda sejam instalados por completo, seja para
esmagar a resistência.

Com a desculpa da doença, por exemplo, foi instituída uma censura


sem precedentes. Milhares de pessoas sofreram ataques às suas
liberdades, a começar pela liberdade de expressão e de locomoção.
Além disso, idéias que prometem mais controle sobre a vida dos
cidadãos estão sendo classi cadas como imprescindíveis para “conter a
doença”. Mais ainda: devido a uma suposta estratégia de contenção do
vírus inúmeras empresas foram dizimadas e milhões de empregos
perdidos. E como as principais vítimas estão entre as pequenas e
médias empresas, os mercados mais rentáveis certamente verão uma
concentração ainda maior nas mãos das grandes corporações
internacionais, as mesmas que estão envolvidas no fomento e na
promoção dessa agenda há muito tempo.

A derrocada econômica ocasionada pelo enfrentamento


destrambelhado que ocorreu devido à obediência aos conselhos e
recomendações cienti cistas também fez a sociedade refém do poder
cada vez mais concentrado, tanto pelos burocratas dos governos, que
aproveitaram as brechas para superfaturamentos e aumento do próprio
poder, quanto dos órgãos internacionais, que passaram a atropelar
soberanias nacionais com muito mais desenvoltura e cara de pau.

Desde o aparecimento do vírus chinês o mundo foi transformado,


não apenas nos contextos de saúde e economia. Hábitos foram
mudados, criados ou eliminados, vidas foram destruídas, mentes
foram derretidas e a insegurança se tornou generalizada, causando
suicídios e distúrbios psicológicos que já estão se avolumando de
forma inédita na história, e as conseqüências ainda estão apenas
começando a aparecer.

Na distopia 1984, de George Orwell, o mundo está completamente


controlado por um ser abstrato, o Grande Irmão, que paira sobre a
sociedade e vigia cada segundo de cada um dos cidadãos. O clássico
inglês oferece uma re exão sobre como seria a vida em um ambiente
onde os direitos naturais dos indivíduos foram completamente
retirados ou distorcidos, tudo em nome de uma unidade supostamente
necessária para a felicidade geral da nação.

O Grande Irmão de Orwell se assemelha a um poder invisível e


inalcançável: ninguém o vê, mas ele está em todos os lugares. Assim
como em 1984, estamos diante de uma opressão aparentemente sem
identidade real, algo que parte de um ser supremo que alcança a todos
sem ser alcançado.

Se o panorama já está su cientemente repressivo e controlador,


repleto de invasões à privacidade e de cerceamento de liberdades
individuais e soberanas, o pior, no meu entender, ainda está por vir. O
aproveitamento da crise será ainda mais perverso no curto e médio
prazos.

Já podemos deduzir a profundidade e o alcance dessa perversidade


quando analisamos iniciativas como a obrigatoriedade da vacina, da
identidade digital (ID2020), do passaporte sanitário e das prováveis
chantagens que estarão atreladas ao socorro prometido pela Renda
Básica Universal e pelo grande reset que está sendo delineado no
horizonte.

Tudo leva a crer que a próxima etapa dessa instrumentalização deve


conter muitos elementos que estavam na gaveta há bastante tempo, e
agora encontraram um terreno fértil para a sua proliferação. O mundo
deve sair dessa crise muito menos livre e bem mais controlável.

Acredito que a disseminação de informações verdadeiras e relevantes


consiste na única forma de resistir a esse processo totalitário, que vai
tentar controlar cada aspecto da nossa vida. É o que tentarei fazer nos
próximos artigos.

C-() —  : ,


  
D esde o início do ano, o entorno da covid-19 apresentou
características muito semelhantes a uma distopia. Muitos
acontecimentos de 2020 tornaram a realidade mais parecida com a
cção. Começando pela escalada autoritária, passando pela
transformação comportamental e chegando à manipulação psicológica
coletiva, inúmeros fatos — e suas conseqüências, imediatas ou futuras
— contribuíram para a formação de um cenário favorável para
execução de algumas idéias contidas nos clássicos distópicos.

Quase toda cção cientí ca que sugere um futuro totalitário


apresenta a censura como forma de controle do uxo de informações.
Normalmente esse e outros cerceamentos das liberdades individuais
são justi cados pelo alegado perigo daquelas opiniões que estão sendo,
por isso, censuradas. Esse pensamento, que é quase um clichê nas
distopias e que, a princípio, deveria corresponder a uma hipérbole,
uma gura de linguagem que simbolizasse, por meio do exagero, a
ânsia em controlar a informação que está no coração de toda alma
autoritária. Em 2020, no entanto, assistimos ao salto do discurso
gurado para o literal: se na cção os indivíduos são censurados para
proteger algo abstrato e impreciso como “o coletivo”, “o regime” ou “o
sistema”, na realidade atual a censura das redes sociais é justi cada
pelo perigo das fake news, dos “discursos de ódio”, e pela promessa de
proteção “da sociedade”. Das páginas dos livros para a realidade do
cotidiano.
No livro 1984, de George Orwell, a narrativa é imposta por um órgão
governamental, com apoio de um aparato tecnológico e de um grande
contingente de pessoas dispostas a sustentar todo aquele sistema
opressor, seja por medo do desconhecido, seja por ignorância
confortável ou comodismo interesseiro.

Orwell imaginou um futuro onde um governo totalitário


sistematicamente suprime, modi ca e insere notícias com o intuito de
reescrever o passado de forma a con rmar o discurso atual. “Quem
controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente,
controla o passado”. Em outras palavras, quem controla o passado
manipula a memória, e quem controla o presente manipula a
esperança.

Os desdobramentos da crise do vírus chinês extrapolaram o contexto


sanitário e invadiram as mais diversas áreas da nossa sociedade, desde
a economia e a política, com legislações e decretos criados às pressas,
até o imaginário coletivo, transformado por uma série de mudanças
comportamentais causadas pelo pânico generalizado. Em poucos
meses vimos transformações tão vastas quanto inéditas, e vimos
também as curiosas semelhanças entre o totalitarismo da cção e as
iniciativas feitas sob medida para interesses totalitários. Neste caso,
assim como em todos os outros, vimos o establishment reagir da
mesma forma que os burocratas a serviço do Big Brother, do livro
1984: sob o pretexto do inimigo comum, a primeira, a principal ou
única atitude é a censura.

Quantas notícias, opiniões e informações foram censuradas com a


desculpa de proteger a sociedade do perigo das notícias falsas a
respeito da pandemia? Quais foram os critérios utilizados para
classi car a relevância ou irrelevância dos estudos, depoimentos e
experiências que envolvem a doença, os protocolos de atendimento e
as estratégias de enfrentamento? Quem escolheu esses critérios? E
quem escolheu aqueles que escolheram os critérios? A semelhança da
covid-19 com o cenário opressor de 1984 está em todos os lugares.
Todas essas questões evidenciam a arbitrariedade envolvida na escolha
das informações que deveriam circular, ou que mereciam “escorregar
pelo cano” até serem incineradas, como ocorria com as notícias
eliminadas por Winston Smith.

A plena execução das idéias imaginadas pelos autores das distopias


parece cada vez mais próxima. Depois do avanço acelerado que em
poucos meses permitiu a implantação de inúmeras pautas caras ao
movimento revolucionário, ao globalismo e à criação de uma nova
civilização, tudo leva a crer que a “oportunidade corona” vai continuar
servindo de instrumento para cumprir uma agenda totalitária global e,
em grande parte, irreversível. Seja em uma “nova onda” ou uma nova
crise, seja em algum desdobramento ainda escondido atrás do
horizonte.

Além da censura, das decisões autoritárias, da diluição do direito


natural dos indivíduos em troca de um suposto benefício coletivo
futuro, outros aspectos da crise que atravessamos podem ser
observados pelo ltro das distopias. Consciente ou inconscientemente,
burocratas de vários níveis e em todas as instâncias praticaram vários
tipos de arbitrariedades previstas em livros como 1984, Revolução dos
bichos, Admirável mundo novo, Senhor do Mundo, Neuromancer,
Fahrenheit 451, etc. Essa reciprocidade, que à primeira vista pode soar
como uma ode ao absurdo, na verdade consiste em um fenômeno bem
mais simples, que corresponde à elementar relação de causa e
conseqüência. Veremos a “pandemia de ouro” por esse prisma no
próximo texto.

C-() —  :  


  
A prendi com o Olavo de Carvalho que as idéias contidas na cção
costumam anteceder os fatos. Além de colocar em circulação a
constatação de Hugo von Hofmannsthal, agora freqüentemente
repetida nesse contexto, que diz que nada acontece na política sem que
esteja antes na literatura,82 Olavo aprofunda o conceito compactado
nesta sentença e aprofunda a questão explicando o funcionamento e o
alcance da in uência do imaginário no cotidiano de uma sociedade.

Pegando a primeira onda covid-19 como elemento de observação,


podemos identi car alguns traços dessa in uência nos
acontecimentos, mas antes é preciso entender quais são os principais
meios in uenciadores.

O imaginário, resumindo de forma grosseira, consiste no amálgama


de elementos culturais e sociais que paira sobre a sociedade e sobre a
mentalidade dos indivíduos, funcionando como matéria-prima para
idéias, julgamentos e decisões. Também dependem do imaginário a
previsão de cenários e a elaboração de estratégias condizentes com
objetivos e nalidades. Estes, no entanto, nem sempre estão alinhados
aos objetivos e nalidades do elemento causador da impressão no
imaginário. Exemplo: uma idéia contida em uma obra de arte pode ser
aproveitada com um intuito diferente, e até mesmo oposto ao que
tinha o artista quando a criou.

Este exemplo do parágrafo anterior condensa uma in nidade de


livros e lmes, em especial as narrativas da cção cientí ca futurista,
seja ela distópica ou utópica. Nestas obras é comum encontrar o que
parece ser uma previsão comparável a uma profecia, em alguns casos
com uma riqueza de detalhes que chega a assustar. Mas será que eles
estavam “profetizando” ou estavam in uenciando? E esta eventual
in uência foi planejada ou inocente? Evidenciar esta distinção pode
não ser o mais relevante para a necessidade de resistir pontualmente
quando a manipulação deste imaginário oferecer risco à nossa
privacidade, nossa liberdade e nossos direitos naturais, mas é crucial
para entender o funcionamento desse mecanismo de in uência social,
para identi car formas de resistência e para encontrar os meios de
restauração de um imaginário sadio, que proteja e fortaleça os valores
caros à sociedade.

Entre as obras que tiveram evidente in uência no imaginário que


agora se re ete na nossa realidade podemos encontrar dois tipos, que
apesar de pertencerem a um mesmo gênero, ao menos do ponto de
vista do conteúdo narrado, possuem uma diferença substancial no que
tange à sua nalidade e à sua motivação.

Em um primeiro grupo encontramos os escritores, roteiristas e


artistas que, devido a uma sensibilidade acima da média, percebem os
movimentos, deduzem os seus prováveis desenvolvimentos e então
presumem um cenário, um relance, um insight.

Na maioria das vezes esse processo ocorre de maneira espontânea.


Grandes escritores foram capazes de antever acontecimentos de forma
brilhante, simplesmente observando os fatos se sucedendo, sem
qualquer intenção de in uência, seja ela crítica ou elogiosa. Por
alguma inescrutável razão, algumas pessoas são capazes de identi car
elementos que não estão evidentes para todos e dar a eles a forma de
um enredo verossímil, inserindo uma possibilidade no imaginário,
mesmo sem ter qualquer interesse especí co neste processo ou nas
suas conseqüências.

Em outras palavras, além de expressar uma percepção e decodi car


algum elemento da realidade, fornecendo subsídios para que outras
pessoas possam produzir juízos mais precisos e e cazes, esses
visionários também podem trabalhar inconscientemente como agentes
in uenciadores do imaginário.

Um segundo grupo, mais restrito, engloba os agentes conscientes, que


assimilam e instrumentalizam as idéias dos primeiros, e que em alguns
casos também produzem percepções originais e as expressam com
respeitável verossimilhança, porém de acordo com os interesses de
uma agenda prede nida que revela a motivação e a nalidade do
trabalho, ou seja, a obra é um instrumento de construção de uma
narrativa, a defesa de uma tese ou a promoção de uma ideologia.

Os trabalhos de ambos os grupos, cada um à sua maneira e com a


devida profundidade, expandem o imaginário individual e coletivo,
abrindo os espaços para inúmeras possibilidades, entre elas aquelas
que interessam às mentes totalitárias. Nestes casos são aparelhadas
todas as percepções que possam de alguma maneira normalizar
situações absurdas, assim como se aproveita toda e qualquer idéia que
fomente a receptividade às iniciativas totalitárias. Até agora, meses
após a aparição da primeira onda covidiana, vimos o aproveitamento
de diversas idéias distópicas surgidas na cção, e ao que tudo indica, o
mesmo deve ocorrer nas próximas ondas. Por essas e outras, ler e reler
as grandes obras que in uenciam o nosso tempo me parece uma boa
recomendação.

Voltaremos ao assunto no próximo artigo.

C-() —  : 
 
N unca devemos esquecer que as distopias são obras de cção, ou
seja, não tratam propriamente da realidade, mas de deduções
sobre os desdobramentos prováveis, de conclusões sobre um futuro
possível, nos melhores casos também verossímil, baseado na
percepção apurada de algumas mentes privilegiadas.

No futuro descrito pelas distopias, o Estado, ou alguma organização


que o substitua, sempre oprime a população e controla os
comportamentos, enquanto uma casta de líderes políticos usufrui de
um poder inabalável, que ultrapassa o campo político e alcança todas
as condutas e atitudes, até mesmo as mais íntimas.
Em 1984, livro que inspira o título e a essência desta série de artigos,
um ambiente cinzento e constituído por uma burocracia que
desestimula, reprime e pune qualquer sinal de individualidade,
criminalizando todas as iniciativas que minimamente discordem das
recomendações o ciais. Uma sociedade burocratizada ao limite, com
uma elite tecnocrática que in ltra toda a sociedade e determina o seu
andamento.

Aldous Huxley, em outro clássico do gênero, Admirável mundo novo,


prevê a promiscuidade e o uso disseminado e generalizado de uma
droga que é incentivada pela cultura e de nida pelas autoridades.
George Orwell imagina uma imprensa completamente controlada,
com poder para reescrever a história conforme o discurso do Big
Brother.

O totalitarismo permeia as distopias na mesma proporção das


supostas boas intenções dos megalomaníacos que pretendem criar um
novo mundo e um novo homem. Entre grandes autores como George
Orwell, por exemplo, sentimos esse ambiente sufocante e inóspito
provocado pela opressão de um poder que pretende ser o inverso exato
de uma divindade, um simulacro de onipresença, onisciência e
onipotência. Pode-se dizer algo parecido de A revolução dos bichos,
que o mesmo Orwell lançou para evidenciar a hipocrisia do poder e a
inversão de valores como arma dos poderosos.

A cção de William Gibson explorou outros aspectos de um futuro


provavelmente totalitário. No livro Neuromancer encontramos a
simbiose entre homens e máquinas, uma conexão que tende a limitar
as liberdades e diluir as personalidades. Neste futuro distópico de
Gibson também é possível identi car o transumanismo em seu grau
mais profundo, a impessoalidade, a dessensibilização das massas
doutrinadas e o materialismo vulgar que contaminou o ambiente,
fomentando o niilismo como loso a mais in uente.

Outra distopia que apresenta a opressão como ambiente cotidiano no


futuro é O senhor do mundo, de Robert Benson. Deste trabalho
podemos aproveitar os traços de desumanização que acompanhamos
atualmente, além da descrição precisa de um mundo que perde
rapidamente a esperança.

Os livros queimados sistematicamente em Fahrenheit 451


representam esse futuro censor, as liberdades limitadas, esse ódio ao
conhecimento que é visto como necessário pelos burocratas que não
querem se surpreender com idealismos, e para a massa porque não
sabe mais viver de outra forma.

Note que em literatura distópica, assim como em outras obras de


cção adaptadas para o cinema, como Soylent Green, Planeta dos
Macacos, Gattaca, Equilibrium, o futuro totalitário sempre aparece
pronto, e mesmo quando o enredo explica o passado, pouco costuma
ser falado do desenvolvimento desse totalitarismo ora implantado.

Para entender como um futuro totalitário é criado, seria interessante


re etir sobre qual o ponto de virada daquele processo, qual o
momento tornou possível erguer uma estrutura de controle totalitário
sobre a sociedade.

A ausência desse período de transformação nos romances ccionais é


estranha, porque embora alguns autores estivessem simplesmente
prevendo um futuro sombrio, alertando sobre os perigos intrínsecos
da tecnologia ou dos desdobramentos mais prováveis do presente,
existe um pequeno e in uente grupo de intelectuais que escreveram
sobre o futuro totalitário que na verdade desejavam. Entre estes
colaboradores podemos destacar escritores geniais como H. G. Wells,
membro da Sociedade Fabiana, e que inclusive cunhou a expressão
Nova Ordem Mundial com o sentido que usamos hoje, que sempre
incluía em suas obras um pano de fundo adequado ao que acreditava
ser o melhor para a humanidade: um futuro controlado por uma casta
de sábios e santos privilegiados. Aldous Huxley, outro brilhante
construtor de distopias, pertencia a uma família profundamente
envolvida com o processo de construção de uma nova sociedade. Até
hoje restam dúvidas se o seu Admirável mundo novo, de 1932, era um
alerta ou um teste intelectual de um plano.

Devido a essas conexões nem sempre muito claras, não conhecemos,


de fato, como se deu o processo de desenvolvimento desse futuro
totalitário previsto pelos autores das distopias. Quando passamos a
analisar os fatos que se assemelham àqueles que as distopias
imaginaram, percebemos que a maioria deles chagaram ao atual status
de forma gradual, quase nunca de forma abrupta. Essa característica
está relacionada ao aspecto revolucionário das iniciativas.

Mas algumas vezes é preciso um ponto mais agudo, que provoque


uma ruptura no decorrer espontâneo para possibilitar um salto que vai
criar novos paradigmas e voltar à evolução gradual, mas agora de um
patamar mais avançado.

Para quase todos os efeitos, a pandemia de 2020, também conhecida


como covid-19(84), tem oferecido as oportunidades ideais para estes
saltos, especialmente um deles, o mais agudo e ameaçador ataque às
liberdades individuais, a vacinação obrigatória. No próximo artigo
veremos como essa iniciativa corresponde a um enorme salto no
desenvolvimento da Nova Ordem Mundial e como isso pode
comprometer todo o ordenamento social.

G, N O


M  
U sofenômenos
a expressão Nova Ordem Mundial como um conjunto de
políticos, econômicos e culturais que visa estabelecer
uma nova forma de sociedade, um novo modelo civilizacional. Dentro
desse arcabouço destaco o globalismo, que consiste na criação de um
ambiente de governança global.
Ao contrário da globalização, que representa um processo
espontâneo que existe desde sempre e que envolve as atividades
mercantis e comerciais, o globalismo é uma ideologia, ou seja, um
conjunto de idéias que não precisa corresponder à realidade e que
exige uma intenção deliberada e premeditada por parte daqueles que a
promovem. Mesmo que em alguns momentos estejam atrelados, sendo
a primeira inclusive usada como moeda de troca para a implantação
deste último, são fenômenos absolutamente diferentes.

A ideologia globalista possui algumas características intrínsecas bem


evidentes, que quase sempre podem ser identi cadas quando
analisamos os objetivos das iniciativas que a compõem.

Quando olhamos para os prováveis desdobramentos de uma


iniciativa globalista notamos que os objetivos embutidos normalmente
correspondem a: 1. Fortalecimento do poder estatal e dos organismos
internacionais; 2. Enfraquecimento das soberanias nacionais e dos
direitos naturais dos indivíduos; 3. Concentração dos mercados
rentáveis nas mãos das grandes corporações multinacionais.

Além destes três fatores, também podemos identi car elementos


comuns a outras ideologias e movimentos revolucionários, como a
exigência de poder imediato em troca de supostos benefícios futuros, e
a possibilidade de se camu ar em um amálgama de conceitos uidos e
efêmeros, de modo a permitir adaptações constantes e evitar
refutações ou contestações.

Analisando a pandemia sob este prisma, ca claro que, independente


da origem e da sua causa, deliberada ou acidental, a covid-19 está
sendo instrumentalizada para avançar uma agenda que contém todos
estes fatores.

Os burocratas do Estado estão avançando sobre questões privadas,


atropelando direitos individuais e extrapolando preceitos
constitucionais e até mesmo os limites do bom senso. Os organismos
internacionais nunca demonstraram tanta força, suplantando
soberanias nacionais e impondo às nações diretrizes que não foram
discutidas nos âmbitos nacionais, decisões arbitrárias disfarçadas de
recomendações. E as quarentenas compulsórias estão devastando
economias e destruindo pequenas e médias empresas, o que deve
transferir fatias ainda maiores dos mercados às grandes corporações,
pois estas são muito mais propensas a agüentar uma crise sem
precedentes como as que estamos vivendo.

Assim, ca evidente a instrumentalização desta pandemia, um


processo que aproveita o problema sanitário, econômico, de
empregabilidade e ordem inclusive psicológica e moral para avançar
uma agenda de forma inédita. Em dois ou três meses os objetivos
globalistas avançaram mais do que nos últimos anos, mostrando que a
preparação para o aproveitamento de um eventual momento crítico,
planejado e organizado por décadas, obteve um sucesso formidável
mesmo antes do m deste período conturbado. E infelizmente o
problema deve, também, trazer diversas conseqüências ainda
incalculáveis e até mesmo incompreensíveis neste momento.

Além dos governadores, prefeitos e burocratas não-eleitos


restringindo direitos individuais, e muito mais do que falências e
insolvências provocando maior concentração de mercado, o avanço da
agenda totalitária já começa a mostrar seus efeitos perversos em áreas
sensíveis para os planejadores da Nova Ordem Mundial.

A começar pela idéia de um documento de identidade global, do


passaporte sanitário, da vacinação obrigatória e do incentivo aos
pagamentos digitais, passando pela formatação de novos regimes de
trabalho, e chegando às transformações de ordem psicológica, moral e
religiosa, as conseqüências da pandemia devem estabelecer novos
paradigmas, diluir tradições e inverter valores.

No campo político devem surgir novas legislações e autoridades


globais. Essas discussões já começaram e muito provavelmente órgãos
como a  devem assumir o papel de um ministério da saúde global,
por exemplo.
A quebra das cadeias produtivas e os desequilíbrios dos mercados
possivelmente ocasionarão estagnação, recessão ou depressão
econômica, exigindo arranjos estruturais que podem contribuir para
endividamento das nações e para profundos processos in acionários.
Novos impostos também já estão na pauta, inclusive mundiais, o que
deve fortalecer ainda mais o poder das autoridades globais — e um
imposto mundial exigirá uma burocracia estabelecida, com capacidade
de calcular, cobrar e punir os inadimplentes.

Com os aspectos sociais e culturais o problema deve ser ainda maior.


Em decorrência do pânico, e turbinada pelas promessas de um futuro
mais seguro, a provável aceitação de princípios totalitários sob o
pretexto de segurança deve causar mudanças graves no
comportamento das pessoas, desde novas atitudes cotidianas, como
distanciamento social e esfriamento nos relacionamentos, até
transtornos compulsivos e diluição do senso moral e religioso.

Neste sentido, no meu entender o mais perturbador, o mundo deve


passar por uma transformação que vai arrefecer toda e qualquer forma
de resistência ao processo totalitário em curso. Todos os elementos
indicam que sem uma interferência que altere o rumo dos
acontecimentos, teremos o enfraquecimento da defesa dos valores e
princípios que regem a nossa civilização, o que certamente fortalecerá
a implantação de nitiva do ambiente de governança global necessário
para a criação de uma Nova Ordem Mundial.

Podemos também estabelecer algumas re exões a respeito das


conexões entre as pessoas, entidades e empresas envolvidas nesse
aparelhamento da pandemia.

Primeiro, devemos perceber como aqueles que hoje estão


protagonizando as estruturas que pretendem controlar a situação de
forma a direcionar as decisões estão interferindo na vida de bilhões de
pessoas.
A , imediatamente após o início da crise foi elevada à categoria
de principal protagonista do atual panorama. Um dos principais
braços da , a  representa hoje a religião do cienti cismo. Nesse
momento ela já emite recomendações com força de dogma religioso,
impondo suas decisões às nações, que por medo ou aparelhamento são
obedecidas como se fossem leis. Um recuo na história desta
organização mostra que esse patamar que ocupa em nossos dias
corresponde à conseqüência de um desenvolvimento que já dura mais
de 100 anos. Como herdeira e sucessora das Conferências Sanitárias
que começaram em 1851, e do Escritório Internacional de Higiene, em
1907, foi formalizada como uma espécie de secretaria da Liga das
Nações, precursora da  e primeiro órgão com a pretensão de ser
uma autoridade global de fato. Depois da Segunda Guerra Mundial
ganha autonomia e alcance ao ser incorporada à .

Entre os principais personagens desse panorama atual também


podemos encontrar algumas fundações bilionárias, e as empresas
ligadas às famílias que as controlam. A mais falada atualmente, a
Fundação Bill & Melinda Gates, há mais de uma década está
profundamente envolvida em projetos de controle social como o
passaporte sanitário, as vacinações obrigatórias e a identidade digital
(ID2020). Outra entidade diretamente ligada a projetos desse tipo e
que é uma das principais patrocinadoras da ID2020 é a Fundação
Rockefeller, que há mais de 100 anos in uencia o desenvolvimento da
saúde pública e da própria medicina. Financiando inúmeros estudos e
projetos nestas áreas, colaborou com a criação de protocolos e padrões
de procedimentos em todo o mundo. Aqui no Brasil, inclusive,
colaborou diretamente com várias iniciativas sanitaristas e até mesmo
com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, dirigido
por Carlos Chagas, e chegou a promover um Congresso Brasileiro de
Eugenia, em 1929.

Por outro lado, devemos olhar também para outro personagem que
está ocupando posição de destaque em meio a esta crise: a China. A
ditadura chinesa está no centro da discussão pública devido a fatores
como origem do vírus, in uência na diretoria da  e por abrigar
grandes fábricas de respiradores e equipamentos de proteção
individual. Eu acrescentaria, no entanto, outros fatores que julgo mais
importantes e mais reveladores. A China moderna foi criada com o
apoio das grandes fortunas ocidentais, e é o modelo de regime
desejado pelos planejadores da Nova Ordem Mundial: uma mistura de
poder estatal repressor, com controle social ferrenho, liberdades
individuais limitadas e imprensa cooptada convivendo com um
mercado nas mãos das corporações, onde pequenas e médias empresas
só podem existir como fornecedoras dos cartéis.

Observando o panorama, os personagens e as coincidências, e


somando a esses elementos as simulações e os cenários estudados por
fundações e organismos internacionais nas últimas décadas, parece
claro e cristalino que estamos diante de um ponto de virada, de um
momento extremamente crítico da nossa história, e que só poderá
retroceder ou pelo menos desacelerar se a população mundial tomar
consciência do tamanho do problema que enfrentamos.

Jesus disse-lhe: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai


ao Pai, senão por mim". (João 14, 6)

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1 Publicado pela Editora Sétimo Selo, 2020.

2 Este texto foi escrito para compor o material de apoio do curso “Nova Ordem Mundial,
Globalismo e Geopolítica”.

3 Espírito do tempo, em alemão.

4 O novo príncipe, segundo Antonio Gramsci.

5 Conceito expresso no livro Bandidolatria e democídio: Ensaios sobre garantismo penal e a


criminalidade no Brasil, de Diego Pessi e Leonardo Giardin.

6 Usando a palavra com seu signi cado real e histórico: perverso, irresponsável e quase
sempre totalitário.

7 “Miséria Lingüística”, artigo de 5 de agosto de 2000, compõe o livro O leão e os ossos — O


que restou do imbecil, vol. iii.

8 Capitalism, socialism and democracy, de 1942.

9 “Por trás do trono há algo maior do que o próprio rei” — William Pitt, parlamentar inglês
(1770).

10 Western technology and soviet economic development, vol. i: 1917–1930, 1968; vol. ii:
1930–1945, 1971; vol. iii: 1945–1965, 1973. National suicide: military aid to the Soviet Union,
1973. Wall Street and the Bolshevik Revolution, 1974. e best enemy money can buy, 1986.

11 Sidney Webb e Beatriz Webb.

12 O próprio David Rockefeller demonstra essa simpatia pelos ideais fabianos em sua tese de
doutorado “Unused Resources and Economic Waste”, de 1940.

13 Exemplos de documentos o ciais contendo a expressão podem ser facilmente localizados.


Basta digitar “governança global” em sites como o da onu, Unicef, Unesco, oit, omc, oms, etc.

14 Podemos elencar alguns trabalhos que trazem exemplos de áreas distintas: O império
ecológico, de Pascal Bernardin; Psicose ambientalista, de Dom Bertrand de Orleans e Bragança;
Como as corporações globais querem usar as escolas para moldar o homem para o mercado, de
Joel Spring; Política, ideologia e conspirações, de Gary Allen e Larry Abraham; Poder global,
religião universal, de Juan Claudio Sanahuja; A corrupção da inteligência, de Flávio Gordon;
Contra o cristianismo, de Eugenia Roccela e Lucetta Scaraffia; Transevolução, de Daniel Estulin;
eua e a Nova Ordem Mundial, de Olavo de Carvalho e Alexander Dugin; Os donos do mundo,
de Cristina Jiménez; Lavagem cerebral, de Ben Shapiro.
15 Primeira pandemia de cólera: 1817–1824; segunda pandemia de cólera: 1826–1837;
terceira pandemia de cólera: 1846–1860.

16 Office international d'hygiène publique, fundado em 9 de dezembro de 1907, em Paris.

17 Os ciclos globalistas: 1o ciclo (idéias): início do século xviii; 2o ciclo (método): século xix;
3o ciclo (instrumentos): nal do século xix e primeiras décadas do século xx, onde surgem as
fundações, os think tanks, a própria Liga das Nações e o sistema nanceiro como conhecemos
hoje; 4o ciclo (in ltração): durante e após a Segunda Guerra Mundial; e 5o ciclo (transição):
estágio onde nos encontramos. Para saber mais, consulte meus escritos e palestras sobre tema
disponíveis na internet.

18 Pai de Nelson Rockefeller, vice-presidente dos Estados Unidos, de Winthrop Rockefeller,


governador do Arkansas, e de David Rockefeller, banqueiro, presidente do Chase Manhattan de
1969 a 1981 e presidente, por 15 anos (1970–1985), do mais in uente think tank americano, o
Council on Foreign Relations (cfr).

19 Seager e Gulick, Trust and corporation problems, 1929.

20 Ida Tarbell’ series, publicados ao longo de 1902.

21 e history of the Standard Oil Company, 1904.

22 A Fundação Rockefeller já tinha criado a China Medical Board, em 1914. Estabeleceu


também a Escola de Saúde Pública Johns Hopkins e a Escola de Saúde Pública de Harvard.
Fonte: Lincoln C. Chen (e Lancet), disponível em:
www.thelancet.com/journals/lancet/article/ PIIS0140-6736(14)60965-X/fulltext, acesso em
2020.

23 Poucos anos após a chegada do seu escritório ao Brasil, em 1916, a fundação in uenciou
a criação do Departamento de Saúde Pública, em 1920, dirigido por Carlos Chagas, deu origem
ao Movimento Eugenista Brasileiro e promoveu o Primeiro Congresso Nacional de Eugenia, em
1929.

24 Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado entre os dias 30 de junho e 7 de


julho de 1929 na cidade do Rio de Janeiro. Fonte: Bon m, Paulo Ricardo. Educar, higienizar e
regenerar: uma história da eugenia no Brasil. Jundiaí–SP: Paco Editorial, 2017. A fundação
também patrocinou o Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Genética Humana e Eugenia,
na Alemanha, por onde passaram pessoas como Fritz Haber, vencedor do Prêmio Nobel e
considerado “Pai da Guerra Química”, e Josef Mengele, o monstro nazista responsável por
experimentos com prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz.

25 Criada por Andrew Carnegie em 1905.

26 Brookings Institution, Vanderbilt University.

27 Em sua autobiogra a, Memórias (Rocco, 2003), no capítulo 27, “Internacionalista


orgulhoso”, página 432, David Rockefeller a rma: “Alguns chegam a acreditar que fazemos
parte de uma conspiração secreta que trabalha contra os melhores interesses dos Estados
Unidos caracterizando a minha família e a mim como ‘internacionalistas’ e [acusando-nos] de
conspirar com outros em todo o mundo para formar uma estrutura econômica e uma política
global mais integrada ao mundo, se preferir assim. Se esta é a acusação, eu sou culpado, e me
orgulho disso”.

28 Informações retiradas do site www.who.int.

29 Informações retiradas do site brasil.un.org/pt-br.

30 Cf. a Carta de Donald Trump enviada a Tedros Adhanom Ghebreyesus (Diretor Geral da
Organização Mundial da Saúde) em 18 de maio de 2020. Vide também a participação do
Ministro Ernesto Araújo na 34a Reunião do Conselho de Governo, disponível no canal do
Ministério das Relações Exteriores, no YouTube: youtu.be/ LPlPeg7FDTY.

31 Artigo do Chanceler Ernesto Araújo, “Chegou o comunavírus”, publicado em 22 de abril


de 2020: www.metapoliticabrasil.com/post/chegou-o- comunav%C3%ADrus.

32 Por causa desses rebaixamentos culturais, o signi cado da palavra que forma o título
deste texto foi cooptado pelo marketing best-seller e blockbuster, mas aqui “crepúsculo” é usado
com o sentido das acepções indicadas no dicionário Michaellis: “Perda da força ou da
importância; decadência, declínio, ruína”.

33 Veja a 77a live de 5a, (27/09/2020), no canal Alexandre Costa, do YouTube.

34 S.G. Tallentyre (pseudônimo de Evelyn Beatrice Hall), e friends of Voltaire, 1906.

35 Word of the Year, Oxford, 2016.

36 “O mundo pós-verdade” foi tema de uma reunião dos Bilderberg, em 2018, na Itália.

37 Nos dias 29 e 30/03/2020, Twitter e Facebook removeram postagens do presidente Jair


Bolsonaro.

38 arpa, sigla para Advanced Research Projects Agency Network, mais tarde renomeada para
darpa, a agência atualmente responsável pelo desenvolvimento de robôs militares.

39 “O poder de processamento dos computadores deve dobrar a cada dois anos” — Gordon
Earle Moore.

40 “O valor de um sistema de comunicação cresce na razão do quadrado do número de


usuários do sistema” — Robert Metcalfe.

41 “Anatomy of a Large-Scale Hypertextual Web Search Engine” — Título da tese defendida


por Sergey Brin e Larry Page.

42 Digital Collection System.

43 Projeto de cibervigilância da Narus, uma das pioneiras do big data.

44 Programa da Special Source Operations, da Agência de Segurança Nacional dos Estados


Unidos (nsa), criado em 2007 para coletar dados dos usuários da internet, em parceria com
grandes empresas de tecnologia como Apple, Microso, Google, Facebook e Yahoo.
45 Simulador que reúne dados coletados de inúmeras fontes com o objetivo de criar um
modelo global e prever tendências culturais e geopolíticas. Uma parceria da Simulex com a
Lockheed Martin.

46 Não existe consenso sobre esse termo, usado por Tim O’Reilly em 2004, mas acredito que
ele serve para simples identi cação.

47 “O que tentamos fazer no Facebook foi mapear todas as relações que as pessoas têm” —
Mark Elliot Zuckerberg.

48 Termo utilizado no livro On the way to the web: the secret history of the internet and its
founders, de Michael A. Banks.

49 O Sistema de Crédito Social da China já existe desde 2018.

50 Segundo informações do WhatsApp, o aplicativo pretende limitar ainda mais o reenvio


de mensagens a vários destinatários. A restrição teve início em 2018, após pressão de agências
de checagem e outros censores disfarçados de democratas.

51 Em 1984, de George Orwell, os indivíduos que se indispunham com o Grande Irmão


desapareciam e na novilíngua eram chamados de “vaporizados”.

52 Bill Gates diria “uma janela”.

53 Event 201 — A Global Pandemic Exercise, uma simulação projetada de possível


pandemia de coronavírus (nCoV-2019) realizada no Johns Hopkins Center for Health Security,
Baltimore, em outubro de 2019.

54 De acordo com a pesquisa “Working from Mars with an Internet Brain Implant” realizada
pela Cisco Systems em 2014, cerca de 26% das pessoas entre 18 e 50 anos estaria disposta a
colocar um implante no cérebro para acessar a internet sem computador. Não acredito muito
nesse tipo de pesquisa, e esses números podem estar errados, mas a subserviência de um
grande número de pessoas diante dos benefícios da tecnologia é evidente.

55 Pra quem não conhece: quando um sapo é colocado na água fervente, ele pula fora
imediatamente, mas quando a água vai esquentando devagar, ele tende a morrer cozido, por
não perceber a sutil mudança do ambiente.

56 A transmissão foi feita no dia 16/07/2019 e pode ser vista no canal da empresa:
www.youtube.com/channel/ UCLt4d8cACHzrVvAz9gtaARA.

57 Uma entidade “sem ns lucrativos” que pretende monitorar e regulamentar a


“inteligência arti cial”.

58 Elon Musk também criou um site de veri cação de notícias falsas (fact-checking) após ser
acusado de fraude. Curiosamente, ele queria usar “Pravda”, mesmo nome do jornal o cial
soviético, mas como o domínio já existia, escolheu “pravduh.com” (que eu nunca consegui
acessar, aliás).
59 Conceito criado por Olavo de Carvalho, que classi ca os multibilionários que zeram
fortuna no capitalismo e agora usam seu dinheiro para nanciar iniciativas que diminuem a
liberdade de mercado e di cultam a concorrência de alcançar o mesmo patamar.

60 A Space X prometeu levar passageiros à Lua em 2013, e mesmo sem cumprir a primeira
promessa, garante que tem outro projeto mais ambicioso e que vai levar ricaços para um
passeio ao redor dela. Pode-se dizer o mesmo sobre a Tesla e seus carros autômatos que
segundo ele já estariam imperando há alguns anos. Até agora, no entanto, vimos apenas cgi
(computer graphic imagery), ou seja, imagens geradas por computador.

61 Pesquisador americano, pioneiro nos estudos do biochip r d e usuário do dispositivo


desde 2005.

62 Rede de sowares de monitoramento implantada em 1997 pelo i e supostamente


abandonada após protesto de senadores americanos. Pretendia classi car e catalogar toda
informação circulante em sites e e-mails.

63 Número do pedido da patente: PI 0404888-1 A2. Data do depósito: 03/06/2004.


Publicação: 03/05/2005. Depositante: Denise de Castro Ribeiro Fakri. Nome do procurador: M.
M. Marcas e Patentes S/C Ltda. Fonte: Revista de Propriedade Industrial (inpi), no 2159 e no
2182.

64 Nos eua, Austrália, Bélgica, Holanda e Inglaterra já existem dezenas de empresas


substituindo cartões, senhas, chaves e crachás por microchips instalados sob a pele, e na Suécia
até academias de ginástica já aderiram à tecnologia. No Brasil já existem pessoas "chipadas"
desde 2014.

65 Instituto dedicado ao estudo do comportamento humano. Criado em 1946, em Londres,


foi um desdobramento da Clínica Tavistock, que desde 1920 estudava a reações diante do medo
e de situações-limite em soldados ingleses com trauma após a Primeira Guerra Mundial.

66 Diretor do Instituto Allan Memorial, da Universidade McGill, no Canadá, um hospital


psiquiátrico que foi condenado por fazer testes comportamentais em humanos. Também foi um
dos autores dos manuais de tortura kubark.

67 Neuro-psicólogo especializado em memória, aprendizado, privação sensorial e indução


de comportamento, autor do clássico e organization of behavior, de 1949.

68 Nome codi cado de um programa de experiência com seres humanos promovido pela cia
e nanciado por fundações bilionárias. Estudava o uso de drogas psicoativas e métodos de
tortura física e psicológica para persuasão e controle da mente. Durou pelo menos duas
décadas.

69 A rebelião das massas.

70 O Twitter chegou a sinalizar postagens que continham a expressão great reset.

71 Ivan Pavlov ganhou o Nobel de Medicina, estudou modi cações comportamentais em


cachorros, e cou famoso por descobrir os re exos condicionados (mas não criou o apito
ultrassônico, a expressão é uma gura de linguagem).
72 O Conselho de Administração tem pessoas como a Princesa Mathilde, da Bélgica, a ex-
primeira ministra da Dinamarca, Helle orning-Schmidt e o escritor Paulo Coelho, ocupando
a vaga de “celebridade artística”, para dar um ar ainda mais cosmopolita e descolado ao grupo.

73 David Gergen foi conselheiro dos presidentes Nixon, Ford, Reagan e Clinton, e fundou o
Centro de Lideranças Públicas da Universidade da Harvard Kennedy School.

74 Iniciativa da Fundação Lemann que visa promover novas lideranças e está presente em
algumas das principais universidades, inclusive Harvard.

75 Presidente do poderoso think tank cfr (Council on Foreign Relations) desde 2003.

76 Por curiosidade: Klaus Schwab tem um livro com este título (Edipro, 2019).

77 O 6G já está a caminho, deve chegar até 2030 e promete ser até 8.000 vezes mais rápido
que o 5G.

78 Klaus Martin Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 2016.

79 Simulação de pandemia ocorrida em 18 de outubro de 2019 nos eua. O exercício de alto


nível foi sediado pelo Johns Hopkins Center for Health Security e contou com o apoio do
Fórum Econômico Mundial e da Fundação Bill e Melinda Gates.

80 Bohemian Club ca na Califórnia e reúne anualmente líderes mundiais para cerimônias


“pouco ortodoxas”. Para saber mais sobre o clube, visite www. escritoralexandrecosta.com.br.

81 A sociedade Skull and Bones, desde 1832 incrustada no campus da Universidade de Yale,
serviu de preparação e trampolim para diversas autoridades e lideranças políticas e
empresariais. A família Bush participa da fraternidade desde o início.

82 Frase exata: “Nada está na política de um país que não esteja primeiro na sua literatura”
— Hugo von Hofmannsthal.

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