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ISBN: 978-65-56405-93-3
CDD: 316.6
CDU: 156
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Capítulo 1 – Introdução: louco de pedra
Capítulo 2 – Loucura, doença mental e insanidade
Capítulo 3 – Desvio de personalidade
Capítulo 4 – A loucura do monarca
Capítulo 5 – Quando Deus fala: loucura e fé
Capítulo 6 – Loucura na comuna
Capítulo 7 – Loucura do 1%
Capítulo 8 – Quando a mente se perde: demência na classe dominante
Capítulo 9 – A loucura como um jogo político
Capítulo 10 – Loucura das massas
Capítulo 11 – Loucura no futuro
Capítulo extra – Vladimir Putin
Bibliografia
Colofão
Notas
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO: LOUCO DE PEDRA
À sdúvida,
vezes, basta um chapeleiro maluco para mudar o curso da história. Sem
as sociedades de tempos em tempos são arrasadas por invasores
ou abatidas por secas, fomes e pragas que são incapazes de controlar. Mas
ocasionalmente há momentos em que o destino das sociedades se equilibra
no limite entre a vitória e a ruína, a glória e a vergonha. Um indivíduo
determinante pode ocupar o espaço surgido e guiar a sociedade no caminho
da grandeza ou da decadência. As sociedades desejam um indivíduo com
pulso firme, mas equilibrado, que conduza seu povo durante eventuais águas
agitadas. Às vezes, em vez disso, elas recebem loucura: indivíduos com graves
problemas ou carências cognitivas ou mentais.
Em circunstâncias mais normais, essas almas podem merecer compaixão e
receber cuidados em terapias ou instituições, mas em momentos críticos elas
se tornam agentes de destruição. E se, nos anos 1860, os Estados Unidos
tivessem eleito não Abraham Lincoln, que sofria de transtorno depressivo
maior [ 01 ], mas o ineficaz Franklin Pierce, que alguns estudiosos alegam ter
ficado debilitado por depressão e ansiedade após testemunhar seu filho de 11
anos sendo esmagado por um trem? Se Jesus de Nazaré ou Maomé
nascessem na sociedade moderna, seriam tratados como visionários religiosos
ou, em vez disso, obrigados a tomar medicamentos antipsicóticos? A pessoa
certa ou errada em determinado período da história pode ter uma influência
considerável no curso dos acontecimentos. E seu bem-estar mental, claro,
poderá determinar seu caminho.
Na sociedade ocidental moderna, a doença mental — qualquer doença
mental — é normalmente (e infelizmente) vista como um inconveniente. Em
1972, o senador Thomas Eagleton foi substituído como candidato democrata
à vice-presidência depois que o público foi informado de seus muitos
problemas de saúde mental. [ 02 ] Essa pode ter sido uma decisão razoável ou
não. Afinal, a premissa central deste livro é a de que o estado mental de um
líder pode ter um efeito importante na sociedade que ele lidera. Colocar o
poder das armas nucleares nas pontas dos dedos de um indivíduo suicida ou
psicótico pode não ser inteiramente sábio (basta ver a Coreia do Norte).
Ainda assim, o estigma e a percepção da doença mental tendem a variar e
mudar com o tempo. Considere, no entanto, que um estudo dos presidentes
dos Estados Unidos feito por psiquiatras e publicado em 2006 concluiu que
quase metade deles experimentou problemas de saúde mental, com quadros
como depressão, ansiedade e abuso de substâncias sendo os mais comuns. [ 03
] Os autores concluíram ainda que esses problemas estiveram presentes
durante o mandato de cerca de um quarto dos presidentes, na maioria das
vezes prejudicando seu desempenho. Isso pode explicar algumas coisas.
Mas a loucura nem sempre prejudica um líder político. Alexandre III da
Macedônia, mais conhecido na história como Alexandre, o Grande, pegou
uma potência de segunda categoria na periferia do mundo helênico e
construiu um dos impérios mais poderosos de todos os tempos. [ 04 ]
Alexandre sem dúvida mudou o curso da civilização ocidental, e sua
influência poderia ter sido ainda maior se não tivesse morrido
inesperadamente aos 32 anos, talvez por envenenamento ou em consequência
de doença agravada por seu alcoolismo crônico. Alexandre inegavelmente era
um homem de consideráveis talentos táticos. No entanto, é importante
avaliar o grau em que as peculiaridades de seu quadro mental podem ter, ao
mesmo tempo, o impelido a se tornar o homem certo no momento certo, e o
arrastado irreversivelmente para sua morte prematura.
Alexandre é um exemplo notável de como características psicológicas
extremas podem levar a grandes realizações e também a uma grande queda.
Apesar de uma inteligência e um carisma dignos de nota, é improvável que
Alexandre fosse o tipo de pessoa que você se sentiria confiante em convidar
para uma tranquila celebração em família no feriado. Com um narcisismo
desmedido e talvez delirante, fúrias impulsivas e um consumo compulsivo de
álcool, ele parece ter sido um homem difícil de conviver, ou mesmo de
compreender, nas melhores circunstâncias. Afinal, Alexandre assassinou seu
general e amigo Clito durante uma celebração, como discutirei em detalhes
posteriormente. É apenas por causa de Alexandre e de seu pai, Filipe II, que
ouvimos falar da Macedônia. Até o quarto século a.C., a Macedônia era uma
espécie de potência atrasada de segunda categoria no mundo helênico. Seus
habitantes falavam grego e se consideravam parte do mundo grego, embora
as principais cidades-Estado da Grécia (Atenas, Tebas e outras) se
entusiasmassem menos com essa associação.
As coisas mudaram em meados do século IV a.C. O pai de Alexandre,
Filipe II da Macedônia, foi a força motriz dessa mudança e o cérebro por trás
das futuras operações militares de Alexandre. Filipe modernizou o exército
macedônio e se dedicou diligentemente a organizar o mundo político da
Macedônia. Com Filipe pronto para lançar seu exército profissional contra a
Pérsia, a Macedônia estava prestes a dominar o mundo (ou pelo menos o
mundo ocidental).
Mas então Filipe foi assassinado durante o casamento de sua filha. As
razões permanecem historicamente obscuras, mas isso jogou a Macedônia
em uma crise. Sem Filipe, as coisas desandaram rapidamente. As cidades-
Estado gregas, que naturalmente não haviam ficado nem um pouco
empolgadas com a ideia de serem governadas pelos macedônios arrivistas, se
rebelaram imediatamente. O império macedônio, tal como era organizado,
exigia pulso firme para mantê-lo unido. Sem Filipe, esse pulso desaparecera.
Então, aquele era um momento de crise. Um momento em que uma
sociedade pode ascender à grandeza ou despencar para a ignomínia. Nesse
caso, os macedônios tinham Alexandre, a quem prontamente declararam rei
e que no mesmo instante esmagou toda a resistência ao domínio macedônio
na Grécia (com exceção dos espartanos, que os macedônios aparentemente
achavam não valer a pena).
É interessante levar em conta as origens da personalidade de Alexandre, ao
mesmo tempo brilhante e perturbada. Costumamos pensar na personalidade
como sendo fruto de uma interação de predisposições genéticas moldadas
pelo ambiente de crescimento, as conhecidas interações natureza/criação. Às
vezes superestimamos o impacto da criação (na verdade, as influências
genéticas são muito poderosas), e também devemos admitir que os seres
humanos têm algum grau de escolha ou livre-arbítrio em suas ações. Mas
vale a pena examinar a criação de Alexandre.
Quer tenha sido genético ou ambiental, há poucas dúvidas de que
Alexandre foi produto de pais ambiciosos. Os planos de Filipe para governar
o mundo ao redor do Egeu são claros. Sua mãe, Olímpia, também não era
incompetente.
A maior parte da história tem sido firmemente patriarcal, limitando as
mulheres, com raras exceções, a papéis secundários no governo. Mas seria um
equívoco presumir que as mulheres eram necessariamente suplicantes
passivas; muitas trabalhavam furiosamente, até mesmo de modo implacável,
para colocar em posições de poder aliados do sexo masculino, em especial
filhos. Olímpia era inteligente, ambiciosa e dedicada em garantir a ascensão
de Alexandre. Também era misteriosa, a ponto de Plutarco alegar que ela às
vezes dormia com serpentes, embora isso seja provavelmente um exagero. [ 05
] Ela decerto estava disposta a matar em benefício de Alexandre, mas
chegaremos a isso em breve.
Alexandre vivia no que hoje chamaríamos de um lar desfeito (não ajudava
nem um pouco o fato de Olímpia ser apenas uma das esposas de Filipe).
Filipe e Olímpia viviam em conflito. O relacionamento de Alexandre com o
pai parece ter sido complexo. Contudo, Alexandre certamente tinha a
confiança do pai e desempenhou um papel importante nas campanhas
militares dele. Uma das vantagens de Alexandre em sua carreira posterior foi
o pai já ter feito muito para criar as bases de um sucesso considerável. Talvez
por esse motivo, Alexandre parece ter sentido a sombra do pai pairando sobre
si. Esse pode ter sido um dos fatores que o estimularam em suas incríveis
conquistas, que prosseguiram além de qualquer motivo racional. Freud
poderia ter explicado todo o avanço furioso de Alexandre pela Pérsia como o
complexo de Édipo de maiores consequências de toda a história.
O conflito familiar chegou ao auge no final da vida de Filipe. Filipe se
casou mais uma vez, com uma mulher chamada Cleópatra (não a famosa do
Egito), o que potencialmente colocou em risco o direito de Alexandre ao
trono. As coisas esquentaram tanto que Olímpia e Alexandre foram para o
exílio após uma briga durante a qual Filipe quase assassinou o filho.
Alexandre e Filipe logo se reconciliaram, mas permanecem os rumores de
que Olímpia teve uma participação no assassinato de Filipe (embora isso
provavelmente não seja verdade).
Relacionamentos familiares acidentados como esse não eram incomuns nas
monarquias despóticas. Homens e, às vezes, mulheres (a mais famosa
Cleópatra do Egito matou vários irmãos em sua luta para permanecer no
posto de faraó) competiam de forma sangrenta pelo poder. Indivíduos
criados nesses ambientes podem ter desfrutado do luxo, mas também viviam
com um medo e uma incerteza constante que só podiam ser combatidos
valendo-se eles mesmos da crueldade. É difícil imaginar algo assim agora,
com nosso próprio ideal do século XXI de famílias ampliadas cheias de amor,
mas muitas antigas famílias monárquicas devem ter sido ambientes terríveis e
cruéis nos quais crescer — não exatamente fonte de empatia ou estabilidade
emocional.
As histórias da juventude de Alexandre tendem a se concentrar na faceta
positiva: ser aluno de Aristóteles, desfrutar do afeto de Filipe, ou sua
capacidade física e intelectual. Mas não é difícil imaginar que seu começo de
vida deva ter sido envolto em estresse e ameaças potenciais que hoje
reconhecemos como traumatizantes. A combinação da herança genética de
traços de personalidade impiedosos da mãe e do pai, a relação tensa e
competitiva com o pai e as ameaças à sua legitimidade e vida se juntaram
para criar uma ambição esmagadora e ardente que foi dirigida a muito mais
do que meramente unificar a Grécia sob o domínio macedônico.
Assim, tendo assegurado a Grécia, Alexandre se voltou para o poderoso
Império Persa a leste. Naquela época, o Império Persa era a superpotência
regional. A ideia de que macedônios primitivos cavalgariam do norte e
conquistariam não apenas Atenas, mas todo o Império Persa e mais era
simplesmente absurda. Analogias históricas costumam ser repletas de
imperfeições, mas seria algo como imaginar o Canadá de repente partindo
para o ataque e conquistando não apenas os Estados Unidos, mas todo o
hemisfério ocidental.
No entanto, foi exatamente isso que Alexandre e seus macedônios fizeram.
Mosaico, por volta de 100 a.C., Alexandre na Batalha de Isso. Fonte: The Guardian.
Loucura em Uganda
Idi Amin subiu na hierarquia do exército colonial britânico na África e a
seguir nas forças armadas de Uganda depois que o país se tornou
independente do Reino Unido. Em 1971, Amin liderou um golpe de Estado
contra o presidente de Uganda, Milton Obote. As razões para o golpe nunca
ficaram totalmente claras, mas sugeriu-se que poderiam estar relacionadas à
hipótese de Obote estar considerando a prisão de Amin, ou à sensação de
perda de privilégios pelos militares de Uganda sob um sistema socialista
dirigido por burocratas do partido em vez de pelo exército. [ 16 ]
Amin assumiu poderes ditatoriais que lhe deram autoridade total sobre as
forças armadas. Ele implantou um programa de tortura e execução de
adversários políticos, incluindo partidários de Obote e grupos étnicos
minoritários. No total, acredita-se que seu regime tenha matado entre cem
mil e trezentos mil ugandenses. [ 17 ] O uso de violência e repressão militar
contra os próprios cidadãos levou historiadores modernos a classificar a
Uganda de Amin como um regime terrorista. [ 18 ]
Como no caso de Alexandre, pode ser ilustrativo examinar a infância de
Amin. Sua origem parece ter sido modesta, com ele sendo criado em um país
colonizado pelo Reino Unido e dividido étnica e religiosamente. Assim como
Alexandre, ele tinha uma relação conflituosa com o pai, que em determinado
momento o rejeitou como sendo potencialmente ilegítimo. (A hipótese de
que conflitos entre pai e filho, ou mãe e filha, são uma característica comum
entre déspotas megalomaníacos é um tema ao qual retornarei no capítulo 3.)
Uganda, como a Macedônia helenística, emergiu de seu período colonial sem
uma tradição de primado da lei e contrato social humanitário. Violência era
poder, e uma ameaça constante. Para um homem ambicioso e carente de
empatia, esse era um ambiente no qual deixar sua marca.
Amin adotou um estilo grandioso que resvalava a bufonaria. Ele insultava
ruidosamente os líderes mundiais e concedeu a si mesmo títulos, honrarias e
um doutorado. Em 1972, expulsou do país os britânicos de origem asiática,
decisão que prejudicou a economia de Uganda. [ 19 ] Parecia gostar de títulos
exóticos, como “Senhor de todos os animais da terra e peixes dos mares” e
“Conquistador do Império Britânico na África em geral e em Uganda em
particular”. Também se ofereceu para ser coroado rei da Escócia e liderar os
povos celtas em rebelião contra o Reino Unido. Alguns afirmaram que ele se
alimentou de algumas das vítimas de seu regime, embora essa alegação careça
de credibilidade.
Amin, à esquerda, em 1966, com o primeiro-ministro israelense Levy Eshkol.
Fonte: National Photo Collection of Israel.
E
m 7 de abril de 1978, os restos mortais parcialmente decompostos de
uma menina de 12 anos, Kimberly Leach, foram encontrados
desovados em um parque estadual na Flórida. Kimberly havia sido
sequestrada de sua escola dois meses antes, atraída por um homem adulto
com charme o suficiente para temporariamente amenizar sua tendência
natural a desconfiar de estranhos. Exames forenses indicaram que ela sofreu
abuso sexual e foi espancada. Evidências extraídas dos restos mortais e relatos
de testemunhas oculares ligariam a morte de Kimberly ao famoso assassino
em série Ted Bundy, que em meados da década de 1970 matou dezenas de
mulheres jovens e bonitas. [ 32 ]
Bundy é um dos mais famosos assassinos em série porque combinou
sadismo sexual com considerável inteligência e grande charme. Ele também
era um homem bonito, o que o tornava um assunto fotogênico para a
imprensa. Nas interações cotidianas com as pessoas ao seu redor, aparentava
ser sociável e confiável. [ 33 ] Ele usava essas habilidades para deixar as
mulheres à vontade, às vezes se fazendo passar por segurança ou uma pessoa
ferida necessitando de ajuda. [ 34 ] Bundy estuprou e torturou suas vítimas,
muitas vezes retornando aos locais de desova para fazer sexo com os corpos,
vesti-los ou aplicar maquiagem e reviver suas fantasias. O número exato de
vítimas de seus impulsos predatórios não é claro, embora ele seja suspeito de
ter matado mais de trinta mulheres em vários estados do noroeste dos
Estados Unidos. Sua jornada terminou com uma última fuga em pânico para
a Flórida e a morte de Kimberly Leach.
Poucos discordariam de que Bundy era louco. Mas o que isso significa? Ele
tinha algum tipo de doença mental ou distúrbio de personalidade? Em
termos coloquiais, as pessoas podem concluir que Bundy tinha de ser louco,
mas segundo a lei, ele foi considerado totalmente consciente do que havia
feito. [ 35 ] Bundy nasceu assim, foi moldado por suas primeiras experiências,
É
ou ambos? É claro, se quisermos discutir a loucura, precisamos definir o mais
claramente possível o que significa loucura em relação a termos associados,
como doença mental e insanidade. E um louco óbvio como Bundy pode nos
ajudar com isso. Antes, porém, vamos ver como a loucura tem sido vista ao
longo da história.
Loucura e insanidade
Portanto, doença mental envolve uma ampla gama de comportamentos
tipicamente marcados por atitudes desajustadas (ou seja, insistência em
determinado comportamento apesar de seu evidente custo negativo) ou
perturbação (tristeza, medo ou raiva). Não todas, e nem mesmo a maioria
das doenças mentais são aquilo a que me refiro como loucura. Por loucura eu
me refiro especificamente ao comportamento que persiste apesar de sua
natureza destrutiva para si mesmo ou para os outros. A noção de loucura que
proponho é semelhante à de insanidade, embora na maioria das culturas
ocidentais a insanidade tenha ganhado facetas jurídicas. Ser insano em um
sentido legal implica um estado mental tão deficiente que o indivíduo não
consegue entender a realidade e, portanto, não é responsável por suas ações.
Nem todos aqueles com uma doença mental são insanos no sentido legal; na
verdade, a imensa maioria não é. Então, Andrea Yates, uma mãe do Texas
que afogou seus cinco filhos em 2001 por acreditar que Satanás os havia
influenciado, se encaixa nessa definição de insanidade. Obviamente,
Alexandre, o Grande, não. Ele pode ter ficado fora de controle e mesmo
delirado em alguns momentos, mas não estava dissociado da realidade da
mesma forma que Andrea Yates. Contudo, insistiu tanto no consumo
excessivo de álcool quanto em guerras intermináveis, apesar do enormes
danos que isso causava a ele mesmo, seus colegas próximos e aos inúmeros
inocentes esmagados por sua máquina de guerra. Isso é loucura.
Portanto, podemos pensar na loucura como um subconjunto muito
pequeno das doenças mentais, sendo a insanidade outro ainda menor. Todo
mundo que é louco está passando por algum tipo de problema mental, seja
uma doença mental tradicional ou um transtorno de personalidade. Mas nem
todo mundo com problemas mentais é louco. Muitas doenças mentais
envolvem problemas relativamente menores (embora alguns, como depressão
suicida ou esquizofrenia, sejam bastante graves, é claro). Uma adolescente
que ainda se sente triste seis meses depois de romper com um namorado
poderia ser candidata a um transtorno de ajuste, uma doença mental leve,
mas ninguém (exceto talvez alguns veteranos excêntricos) diria que ela é
louca.
Há um outro grupo de transtornos que merece ser mencionado à medida
que apresento os termos usados neste livro. Trata-se dos transtornos de
personalidade, padrões vitalícios de comportamento desviante ou mal-
adaptável que são fruto da personalidade central do indivíduo, e não de uma
doença em si. Já mencionei que Alexandre, o Grande, provavelmente
experimentava um transtorno de personalidade narcisista. O narcisismo era
essencialmente quem ele era, não uma doença que o afligia. Nesse sentido, os
transtornos de personalidade são diferentes das doenças mentais tradicionais,
como depressão ou esquizofrenia. Eles podem ser tão perturbadores quanto,
mas resultam de processos diferentes. Uma doença mental pode ser curada,
ou pelo menos colocada em remissão com o tratamento adequado. Os
transtornos de personalidade geralmente não podem, pois refletem a
identidade central do indivíduo. Um desses transtornos, o transtorno de
personalidade limítrofe, que é caracterizado por instabilidade severa,
mudanças rápidas de humor, comportamento manipulativo e agressivo e
irracionalidade e impulsividade, vem recebendo mais atenção nos últimos
tempos. No entanto, há vários outros transtornos de personalidade que
também podem ser motivo de grande preocupação. Na verdade, os
transtornos de personalidade são comuns nos indivíduos que discuto neste
livro.
As raízes do mal
Ao definir a loucura de Hitler como uma faceta de um transtorno de
personalidade, a “tríade sombria”, misturado a paranoia e uma pitada de
isolamento social, sem dúvida estamos transformando em patologia o
próprio conceito de mal. Embora isso nos ajude a compreendê-lo, corre-se o
risco de converter o mal em um quadro banal de instabilidade mental. Isso,
ainda assim, nos leva a duas conclusões relacionadas e perturbadoras: em
primeiro lugar, que esse mal está inextricavelmente relacionado ao nosso
próprio código genético, no mínimo em pequeno grau. E em segundo lugar,
sobretudo se considerarmos a juventude de Hitler e seu pai agressivo uma
circunstância etiológica bastante inexpressiva (dado ser comum a ocorrência
de abuso infantil que, na maioria dos casos, não resulta em crueldade
incapacitante na vítima), que tal mal pode brotar do genoma humano de
forma espontânea e imprevisível.
Hitler não criou ele próprio o mal do Holocausto e, como outros assassinos
em massa, se viu em uma confluência de acontecimentos sociais e políticos.
A Alemanha se viu humilhada por sua rendição na Primeira Guerra
Mundial, sob pressão econômica e social, e desprovida de uma liderança
forte. Um histórico de desumanização e racismo criou o precedente para o
virulento antissemitismo do nazismo e outras visões racistas. [ 123 ] Essas
circunstâncias ofereceram uma oportunidade para um homem como Hitler.
Caso o hipotético viajante do tempo, como gostam de especular muitos
universitários ligeiramente embriagados, tivesse viajado de volta a 1889 e
matado o bebê Hitler, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto ainda
teriam acontecido? [ 124 ] Eu diria que provavelmente não, ou pelo menos
não na forma em que isso se deu. Não quero dizer que teria sido um mundo
cor-de-rosa para a Europa. Um tipo diferente de Segunda Guerra Mundial
poderia muito bem ter acontecido, mas provavelmente de uma outra forma.
Hitler não era o único ingrediente dessa mistura tóxica, mas era especial e
obrigatório.
Mas, retornando à questão do mal, surge a pergunta: se aceitarmos que,
pelo menos até certo ponto, o horror é algo embutido, talvez até um
elemento de adaptação evolutiva do genoma humano, até que ponto um
homem como Hitler é responsável por suas ações? Todos nós podemos ser
reduzidos ao funcionamento bioquímico de nosso cérebro? E se fôssemos
capazes de conhecer e compreender todas essas interações e as circunstâncias
ambientais em que se dariam, poderíamos prever totalmente nossas ações no
futuro? Ou retemos alguma dose de controle e livre-arbítrio e, portanto,
responsabilidade por nosso comportamento?
Essa questão intriga os filósofos há, literalmente, milhares de anos. A
maioria das pessoas concorda que, é claro, a biologia e o meio ambiente
desempenham algum papel na determinação de nossas ações, mas debatem
se o livre-arbítrio é compatível com isso. [ 125 ] Os sistemas de justiça
criminal dos Estados Unidos, do Reino Unido e de muitos outros países são
baseados na ideia de que temos alguma responsabilidade por nossas ações, a
não ser em algumas circunstâncias limitadas de incapacitação mental. Mas
haverá evidências que sustentem o conceito de livre-arbítrio? O mal humano
é real ou apenas o produto descontrolado de uma disfunção cerebral
desviante?
Realizar pesquisas que sustentem o conceito de livre-arbítrio usando
métodos científicos que são, por princípio, determinísticos é, no mínimo,
preocupante. No entanto, há evidências interessantes de que, na maior parte
dos casos, isso estimulou ainda mais o debate. Vamos analisar alguns estudos
de psicologia e neurociência e, em seguida, descobrir como eles se aplicam ao
caso de uma das assassinas em série mais famosas da América do Norte.
Até recentemente, um grande número de pesquisas psicológicas parecia
indicar que a maioria dos comportamentos humanos era automática. Ou
seja, nossos comportamentos estavam sendo moldados inconscientemente
pelos acontecimentos e estímulos ao nosso redor, mesmo quando pensávamos
estar fazendo escolhas conscientes. Em um experimento clássico, psicólogos
expuseram alguns participantes da pesquisa a palavras que evocam o
estereótipo da velhice (cinza, enrugado, aposentado, tricô), enquanto outros
foram expostos a palavras neutras. Quando os participantes deixaram o
experimento, um assistente de pesquisa cronometrou quanto tempo levaram
para caminhar pelo corredor. Aqueles que liam as palavras “idosas”
demoravam mais para cruzar o corredor, como se a simples exposição a
conceitos relacionados a pessoas idosas os fizesse se comportar de maneira
mais idosa (ou seja, caminhar devagar). [ 126 ] Centenas de outros estudos
pareciam confirmar esse resultado básico, chamado de pré-ativação social, em
vários contextos. Se os seres humanos são máquinas tão facilmente
manipuláveis, isso sugere algumas possibilidades interessantes. (Quer que
seus filhos comam mais cenouras? Espalhe pela casa algumas fotos de
coelhos.) A pré-ativação social também abriu a possibilidade de os governos
usarem dicas sutis para controlar o comportamento humano, o que pode ser
algo muito bom ou muito ruim, dependendo do seu ponto de vista.
Só que isso na verdade não funciona. Um estudo de acompanhamento
usou lasers infravermelhos em vez de assistentes de pesquisa humanos para
cronometrar os caminhantes quando saíam do laboratório. Quando
cronometrado desta forma, não foi encontrada nenhuma diferença. Na
verdade, eram os assistentes de pesquisa que inadvertidamente apertavam o
cronômetro mais cedo, causando falsos resultados positivos. [ 127 ] De fato,
ingressamos em um período da ciência psicológica chamado de crise de
replicação, em que talvez de metade a dois terços dos resultados de pesquisa
que pensávamos ser absolutamente verdadeiros agora estão se revelando
falsos sob testes mais rigorosos. [ 128 ] Esse colapso de crenças anteriores na
ciência psicológica previsivelmente deflagrou lutas internas, com alguns
estudiosos afirmando que essas falhas de replicação se devem a “terroristas
metodológicos”. [ 129 ] Nada mal para a psicologia como um reino de
estudiosos desinteressados.
Portanto, parece que os seres humanos não são meras máquinas burras
facilmente manipuladas sem seu conhecimento por cada pequeno estímulo
em seu ambiente. Mas isso não é necessariamente evidência de livre-arbítrio.
Encontrar evidências de livre-arbítrio usando princípios científicos que são
por natureza determinísticos é um processo compreensivelmente difícil. No
entanto, a crença no livre-arbítrio requer alguma forma de prova empírica,
ou ser considerada uma ideia não falsificável. O psicólogo Joseph Rychlak é
famoso por abordar essa questão. No decorrer de uma longa carreira, Rychlak
demonstrou que o aprendizado não se dá de modo mecânico, mas de acordo
com os objetivos, aspirações e avaliações afetivas dos indivíduos, sugerindo
que a vontade é necessária para um aprendizado eficaz. [ 130 ]
As evidências da neurociência têm sido igualmente complexas. As
pesquisas tentam definir o que se dá primeiro: a evidência neurofisiológica da
intenção de se mover, por exemplo, ou a resposta neurofisiológica envolvida
no próprio movimento. Assim, se o movimento sempre antecede a intenção,
o livre-arbítrio é uma ilusão, e nossa percepção da intenção é apenas
subproduto dos movimentos automáticos. O oposto indica que a intenção de
fato causa movimentos posteriores. Resumindo muita neurociência a apenas
algumas observações, no fim das contas há variações. Isso faz sentido. Se
alguém arremessa uma bola na direção da sua cabeça, você automaticamente
se abaixa, sem perder preciosos milissegundos decidindo: “Hmm… Eu me
pergunto se sair do caminho do objeto duro e redondo é uma vantagem.” No
entanto, você ainda pode ter a sensação de querer desviar da bola, mesmo que
o comportamento tenha sido automático. Mas acontece que também
podemos formar a intenção de nos mover, com o movimento se dando mais
tarde. [ 131 ] Não exatamente uma vitória fácil para o livre-arbítrio, mas pelo
menos pistas tentadoras. As teorias científicas do livre-arbítrio postulam que
tais ações são determinadas pela evolução, dando às criaturas maior poder de
resolução de problemas e menor previsibilidade, o que aumenta a capacidade
de sobrevivência. O livre-arbítrio pode ser pensado como um continuum,
aumentando e diminuindo em função das circunstâncias. [ 132 ]
Assim, podemos dizer que bases razoavelmente científicas, tanto empíricas
quanto teóricas, indicam que o livre-arbítrio é plausível. Eu acrescentaria a
aposta de Renouvier, que sugere que é melhor acreditar no livre-arbítrio. [ 133
] Eis o porquê: se existe livre-arbítrio e você acredita nele, você está correto!
Se o livre-arbítrio não existe, você está errado, mas não é culpa sua, já que
estava determinado a acreditar no livre-arbítrio. Se você não acredita no
livre-arbítrio e está correto sobre isso, e daí? Você sempre esteve determinado
a não acreditar no livre-arbítrio. No entanto, se você não acredita no livre-
arbítrio e está errado, a decisão é inteiramente sua, já que foi sua escolha.
Portanto, é melhor acreditar no livre-arbítrio, pois você recebe o crédito por
estar certo e não tem nenhuma culpa por estar errado!
Nossa crença no livre-arbítrio dos outros depende das circunstâncias.
Reconhecemos, por exemplo, que indivíduos com incapacitação mental grave
podem perder algum grau de livre-arbítrio, de modo que não devem ser
responsabilizados por seus crimes. Mas muitas vezes aplicamos isso de forma
desequilibrada, de modo que nossos estereótipos e preconceitos sobre certos
grupos podem nos fazer avaliar seu livre-arbítrio de forma diferente. Nós
temos, por exemplo, estereótipos sobre as mulheres serem inerentemente
morais, protetoras, cooperativas e atenciosas. Como tal, quando as mulheres
demonstram comportamentos malignos, podemos considerar isso uma prova
de fato de que elas são mentalmente incapacitadas, pois nenhuma mulher
escolheria por vontade própria apresentar um comportamento violentamente
mau (uma perspectiva paternalista que, ironicamente, elimina o livre-arbítrio
das decisões femininas, reduzindo-as ao determinismo biológico). Na
verdade, as leis do Reino Unido presumem que as mulheres que matam seus
bebês podem sofrer de “insanidade lactacional”, com frequência reduzindo as
penalidades por infanticídio materno. [ 134 ]
E
m outubro de 2018, quando visitei o Zoológico de Melbourne, na
Austrália, tive a chance de ver o pior dos babuínos-sagrados. Como
muitas espécies de primatas, inclusive os humanos, os babuínos têm
uma enorme capacidade de cometer crueldades uns com os outros. Os
machos competem por posição, muitas vezes de forma violenta. Também
podem ser agressivos com as fêmeas, ao passo que as fêmeas igualmente
formam hierarquias de dominação entre elas, embora empreguem menos
violência física.
Nesse dia em particular, os babuínos estavam sendo alimentados com
cenouras no almoço. Um macho alfa bem-cuidado e empertigado começou a
guardar muitas das cenouras para si mesmo. Um babuíno de aparência
esfarrapada conseguiu encontrar um pedaço e começou a comê-lo.
Enfurecido, o macho alfa imediatamente atacou esse intruso, jogando-o na
borda da área de contenção e mordendo-o. O macho alfa, claro, tomou
aquela cenoura para si, apesar de já ter um estoque descomunal de comida. A
vítima da agressão foi deixada com fome e ferida, com marcas significativas
de mordidas e arranhões nas laterais do corpo. [ 148 ]
Agressão entre machos para afirmar dominância é comum entre os
animais, de insetos a humanos. Esses tipos de comportamentos de
dominância violenta são bastante comuns entre os primatas machos. Eles
estabelecem quem tem acesso a parceiras, quem pode reivindicar a parte do
leão (o que também acontece literalmente entre os leões), dos recursos e
como os indivíduos em um grupo social se relacionam uns com os outros.
Isso também pode causar estresse significativo, já que os machos alfa estão a
todo momento enfrentando desafios físicos de outros machos que,
compreensivelmente, querem usurpar o trono. [ 149 ] É difícil ser o rei.
Os espólios de guerra: o grande conflito da cenoura babuíno de 2018.
E
m 1844, o filósofo comunista Karl Marx escreveu: “A religião é o
suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e
a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo.” Com isso ele
quis dizer que a religião muitas vezes serve para reduzir a dor das pessoas em
um mundo cheio de sofrimento e injustiça, dando-lhes alguma esperança de
uma eternidade pós-agora. Marx não era fã de crenças e fé, o que, ele
percebeu, impedia a classe trabalhadora de exigir mais na vida presente. Mas,
considerando que as filosofias do próprio Marx levaram diretamente à morte
de dezenas de milhões, talvez não seja uma boa ideia ele começar a apontar
culpados.
Não há como duvidar, examinando a citação de Marx com um pouco mais
de otimismo, que a fé ofereceu considerável compreensão, conforto,
comunidade e graça a bilhões de seres humanos que viveram desde que as
religiões começaram a se desenvolver em algum ponto da Idade da Pedra. Ao
mesmo tempo, a religião muitas vezes também esteve no centro de muita
treva, guerras, assassinatos, preconceitos e ódio. Muitas pessoas que sofrem
de doenças mentais são assoladas por fantasias paranoicas de deuses e
demônios, ou pensam que são profetas ou curandeiros mágicos. A religião
pode ser uma força para o bem, mas em sua forma mais sombria também
pode ser um catalisador da loucura. Vale a pena dedicar algum tempo a
estudar as raízes da fé em um poder superior, e por que isso tantas vezes se
transforma em loucura.
As raízes da fé
Até onde sabemos, os seres humanos estão entre as únicas criaturas do
planeta que demonstram claro interesse ritualístico ou religioso. Uma
exceção fascinante são os elefantes; embora não assistam à missa
regularmente ou façam genuflexão com suas trombas, eles demonstram um
interesse particular pelos ossos de seus mortos quando os encontram. [ 205 ]
Biólogos que estudam elefantes sugerem que eles ficam agitados ao encontrar
esses ossos, não demonstrando a mesma preocupação diante dos ossos de
outras criaturas. Essa consciência e esse desconforto com a morte,
aparentemente raros na maioria dos animais, são elementos precursores da
religião, como logo veremos.
A maioria dos antropólogos e arqueólogos busca “objetos fúnebres”, ou
seja, objetos valiosos enterrados com os mortos, que provavelmente seriam
usados na vida após a morte, como indicação de algo semelhante a crença
religiosa. Esse padrão praticamente limitaria a religião à nossa própria
espécie e sugeriria que a religiosidade começou há não mais de cem mil anos
e talvez mais próximo dos quarenta mil anos. [ 206 ] Vamos deixar de lado por
enquanto a possibilidade de que alguma forma de inteligência superior possa
de fato existir. É possível — mas há apenas uma maneira garantida de
descobrir, e cada um de nós terá sua oportunidade! Até lá, a existência de
deus ou deuses não pode ser negada cientificamente [ 207 ] e, como tal, está
além do alcance deste livro. No entanto, é importante estudar como evoluiu a
capacidade de ter fé, e o que isso significa para o modo como às vezes ela
pode ser tão mal utilizada.
Em geral, as teorias evolucionárias da religião sugerem uma de duas
hipóteses: a religiosidade evoluiu porque oferecia vantagens seletivas, ou a
religiosidade é um tipo de equívoco genético, fruto de outras estratégias
evoluídas, como cultura ou teoria da mente. Em relação à primeira — a
teoria de que a religiosidade é uma característica positiva e evoluída —, tem
sido indicado que os rituais religiosos de purificação criam uma estratégia de
resistência a doenças [ 208 ] ou oferecem benefícios relacionados a
comportamento colaborativo e coesão social, [ 209 ] com o benefício
individual de aumentar o status social do observante. [ 210 ] A explicação
alternativa para a evolução da religião é que ela se deu como subproduto de
outras características importantes, como uma tendência a investigar causa e
efeito, ou teoria da mente, uma habilidade pela qual atribuímos capacidade
de raciocínio aos outros. [ 211 ] Nesse sentido, podemos encontrar causa e
efeito quando comportamentos ritualísticos parecem produzir resultados
positivos, mesmo que por acaso, e atribuímos capacidade de raciocínio não
apenas a outros humanos, mas também ao clima, ao oceano e assim por
diante. Assim, equivocadamente atribuímos ação racional (ou seja, “atos de
Deus”) a acontecimentos climáticos, geológicos ou mesmo médicos que são
aleatórios. Essas duas abordagens não necessariamente se excluem
mutuamente, e características acidentais podem ser mais tarde incluídas. Por
exemplo, o medo de punição por transgressões religiosas pode, na verdade,
oferecer vantagens seletivas, na forma de correr menos riscos. [ 212 ]
Outro elemento é o fato de que, ao contrário da maioria das criaturas, nós
evoluímos para compreender a inevitabilidade de nossa própria morte. Uma
batata, uma água-viva ou mesmo um cachorro não necessariamente
compreendem que a morte é inevitável, não importa o que façamos com
nossas vidas. Isso pode dar origem ao “terror da morte”, que, como qualquer
ansiedade, procuramos reduzir. Uma teoria, chamada teoria da gestão do
terror, sugere que reduzimos o terror da morte criando cultura e religião com
rituais presenciais como um meio de nos convencer de que nossas almas
continuarão permanentemente após nossa morte física, desse modo
reduzindo a ansiedade em relação à morte. [ 213 ] Assim, por exemplo, ao
fielmente deixar de comer galinhas, ao pintar nossa pele de roxo toda quinta-
feira e nos curvar ao grande Unicórnio Rosa no Céu, nossas almas podem ser
selecionadas para existir para sempre após a morte de nossos corpos. O
problema surge quando nós, adoradores do Unicórnio Rosa, encontramos
discípulos das Fadas Princesas, que devem comer apenas bengalas doces no
café da manhã e todos os dias parar o que quer que estejam fazendo ao meio-
dia para dar largos sorrisos por vinte minutos. Os dois conjuntos de rituais e
crenças não podem estar certos. Então, ou admitimos que os dois conjuntos
de crenças devem estar errados e retornamos ao terror da morte, ou
exterminamos violentamente os adoradores das Fadas Princesas.
Normalmente, nós escolhemos a última opção.
Em defesa da religião, não é como se os seres humanos tivessem sido
criaturas pacíficas e colaborativas entre culturas não fosse pela religião
organizada. Os seres humanos são, por natureza, bastante violentos. [ 214 ] E
a religião costuma ser usada como pretexto para violência motivada por
outras razões, como território, domínio cultural ou ódio. Curiosamente,
quando exagerada, a religião pode levar a autodestruição, bem como guerra e
assassinato. É um exemplo de autodestruição que estudaremos primeiro.
A dieta de Deus
No melhor dos casos, a religião pode levar os indivíduos a buscar a
iluminação e melhorar. No entanto, isso geralmente vem com a percepção de
que a purificação da alma ocorre à custa do corpo. A imposição de dor,
sofrimento e negligência (às vezes voluntária, às vezes não) com o propósito
de purificação é comum em muitas religiões. Isso pode envolver pequenos
sacrifícios, como católicos evitando uma carne saborosa na Sexta-feira Santa;
sacrifícios mais sérios, como o celibato perpétuo das virgens vestais; ou o
radicalismo da automutilação proposital. Talvez um dos mais famosos entre
esses seja o Festival dos Nove Deuses Imperadores da ilha tailandesa de
Phuket, em que muitos celebrantes perfuram os rostos com diversos tipos de
agulhas, varetas e objetos maiores. Tudo isso sem anestesia, mas com os
participantes entrando em um estado de transe.
As chamas de Waco
A religião é um atrativo comum para pessoas com doenças mentais. Nossa
universidade em Stetson tem um campus aberto, e de vez em quando
membros da comunidade local com doenças mentais perambulam por lá.
Inevitavelmente, quem quer que os encontre os encaminha ao departamento
de psicologia, como se fôssemos uma espécie de clínica universitária. A
maior parte da psicose religiosa que vi foi em ambientes clínicos, mas tive um
ou dois membros infelizes da comunidade em meu escritório, e também de
tempos em tempos recebo pelo correio uma carta em que, de algum modo,
alguém consegue fazer um discurso sobre videogames, Jesus e os nazistas,
tudo em uma caligrafia grossa. Infelizmente, os serviços de saúde mental nos
Estados Unidos continuam bastante deficientes, e há poucos recursos para
cuidados de longo prazo.
Psicose é uma condição na qual um indivíduo tem alucinações ou
experiências perceptivas que não são reais, e delírios ou crenças sobre o
mundo que são falsas, mas resistentes aos choques de realidade. A maior
parte da religião, claro, não é psicótica. Mas a busca por um significado
espiritual comum entre os seres humanos, combinada com as experiências
perceptivas distorcidas de alucinações e psicose, comumente dão origem a
crenças distorcidas sobre a espiritualidade. [ 228 ]
A maioria das pessoas com psicose também tem dificuldades com
comunicação, habilidades sociais, organização e até higiene. Portanto, é
difícil para esses indivíduos transmitir suas crenças religiosas com eficácia a
outras pessoas, atrair seguidores e tudo o mais. No entanto, o DSM inclui
uma condição, o transtorno delirante, que é marcado principalmente pela
presença de delírios, mas no qual as habilidades de comunicação
permanecem intactas. Em outras palavras, a pessoa parece totalmente lúcida,
exceto quando fala sobre o conteúdo de seus delírios. Mesmo então, esses
indivíduos podem ser coerentes e convincentes o suficiente para convencer os
outros de que são profetas, visionários e líderes religiosos. E voilà, nasce uma
nova religião.
A maioria das novas religiões não vai muito longe porque atrair adeptos é
um desafio. O que influencia alguns indivíduos a abandonar crenças mais
tradicionais e se comprometer com um novo culto é um processo complexo.
Normalmente envolve algum grau de descontentamento com a sociedade,
uma promessa de inclusão ou aceitação no culto e a identificação com um
líder carismático. [ 229 ] Desse modo, alguns indivíduos podem ser
particularmente vulneráveis ao recrutamento por seitas, encontrando a
aceitação social que lhes era negada em ambientes mais convencionais. Os
cultos em si provavelmente vão desde aqueles que demostram boa fé na busca
de iluminação espiritual até aqueles intencionalmente predatórios quanto a
finanças, consentimento sexual ou a saúde de seus membros. Em situações
extremas, alguns cultos terminaram com o suicídio em massa de membros,
como as mortes, em 1997, de 39 integrantes do culto Heaven’s Gate, que
acreditavam que uma nave alienígena disfarçada no cometa Hale-Bopp tinha
vindo para levá-los ao céu, [ 230 ] e o suicídio/assassinato em massa mais
conhecido de Jonestown em 1978, no qual mais de novecentas pessoas
morreram.
Outro culto marcado por violência sem sentido foi o Ramo Davidiano, que
ficou conhecido em 1993. O grupo que veio a ser chamado de Ramo
Davidiano era uma dissidência da Igreja Adventista do Sétimo Dia com
rígidas visões religiosas e milenarismo. Durante a maior parte da história do
grupo, os membros seguiram regras severas de comportamento e procuraram
sinais do fim dos tempos. Quando o fim dos tempos não chegou como
esperado, a liderança do grupo se desgastou, um processo que teve seu auge
em meados da década de 1980, quando facções rivais entraram em conflito,
muitas vezes armado. Nesse momento crítico, um homem chamado David
Koresh [ 231 ] se valeu da força para assumir o controle do grupo, instalado
perto de Waco, Texas. Koresh reforçou os elementos típicos de um culto
predatório, incluindo liderança autoritária, isolamento da sociedade e
vantagens particulares para si mesmo. Especificamente, ele tomou como
esposas várias mulheres da comunidade, tendo talvez 13 filhos com elas, ao
mesmo tempo que impunha aos outros membros do grupo regras estritas de
conduta sexual e castidade. [ 232 ] Seu segundo em comando, Steve
Schneider, supostamente deu sua própria esposa legal a Koresh. Ainda assim,
Schneider permaneceu absolutamente leal a Koresh até o fim. Koresh
controlava o comportamento de seus membros de forma rígida,
ridicularizando aqueles que agiam mal e sujeitando os membros a horas de
sermões, sem intervalos para comer ou ir ao banheiro. O Ramo Davidiano
começou a estocar armamentos e se concentrar cada vez mais no fim dos
tempos, com Koresh sendo o líder escolhido que, como o Cordeiro de Deus,
conduziria o grupo através do apocalipse que ele mesmo iniciava ao abrir os
sete selos de um livro que Deus tinha nas mãos. [ 233 ]
Assim, Koresh seduziu seus seguidores com visões de um futuro ardente
inspirado no Apocalipse, sem falar em um conflito com as autoridades do
governo dos Estados Unidos. Koresh alegava ter visões sagradas que lhe
atribuíam posição de liderança, bem como o direito especial de procriar com
várias mulheres. Em troca, oferecia a seus seguidores a promessa de uma
passagem segura através do Armagedom e o abraço de boas-vindas de Deus
se o seguissem. Uma questão interessante a considerar é se o próprio Koresh
acreditava nisso. Uma possibilidade é de que Koresh tenha inventado tudo
para tomar o poder e assumir o controle de um grupo. O uso egoísta da
religião para ganho pessoal tem uma longa e célebre história, desde a venda
de indulgências na Igreja Católica renascentista até os pastores ultrarricos das
megaigrejas de hoje. Sem dúvida, a grande maioria dos líderes religiosos é
sincera ao tentar guiar seus fiéis em direção à iluminação, mas a religião
também pode ser um bom negócio para os espertos e despudorados.
A outra possibilidade é que Koresh realmente acreditava na maior parte do
que dizia, mesmo sendo glorificação pessoal. Isso indicaria que Koresh tinha
um quadro psicótico, mas era coerente o suficiente para transmiti-lo a outras
pessoas e convencê-las de sua validade. Esta é precisamente a combinação
que esperaríamos no caso do transtorno delirante, e é possível que Koresh
apresentasse essa condição. Koresh parece ter tido crenças fortes, e alegou ter
visões de seu papel no fim dos tempos. Ele permaneceu fiel a elas durante
todo o impasse final com o governo federal, e acabou morrendo por isso.
Durante todo o tempo, ele repetiu suas crenças religiosas, afirmou estar
ofuscado por uma “nebulosa de violão” e procurou sinais de Deus sobre o que
fazer. Não significa que Koresh também não pudesse ter traços de
personalidade antissociais, mas indica que ele pode ter sido igualmente
delirante. Em última análise, uma resposta definitiva é impossível em função
da morte de Koresh, e as opiniões ainda são divergentes, mas desconfio de
que esta segunda explicação seja mais provável.
Exatamente como o Ramo Davidiano chamou a atenção das autoridades
federais e quem foi o responsável pela forma como tudo aconteceu é motivo
de muita discussão até hoje. Em seu relatório oficial, o Departamento de
Justiça dos Estados Unidos alegou que o governo federal, por intermédio do
Departamento de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF, na sigla em
inglês), executou um mandado no complexo do Ramo Davidiano relativo à
posse de armas e explosivos ilegais, além de um temor de que algumas das
mulheres com quem Koresh fazia sexo fossem menores de idade. [ 234 ] Isso
se deu em 28 de fevereiro de 1993. A operação foi um fracasso, com tiros
trocados entre integrantes do Ramo Davidiano e os agentes do ATF que
invadiam o complexo. Quatro agentes do ATF morreram, além de cinco
membros do Ramo Davidiano. Outro membro, que estava fora do complexo
no momento do ataque, morreu após uma tentativa de abrir caminho a tiros
de volta ao complexo. Após o ataque fracassado, o FBI assumiu as
negociações com o Ramo Davidiano, [ 235 ] negociações que continuariam
por quase dois meses, até 19 de abril de 1993. O impasse se prolongou,
causando grande constrangimento ao governo dos Estados Unidos, que
parecia impotente para resolver o conflito. O complexo do Ramo Davidiano
foi cercado por agentes federais, incluindo veículos blindados.
Koresh informou aos negociadores que ele próprio havia sido ferido na
operação, mas recusou tratamento médico para seus ferimentos ou os de
outros seguidores. Exigiu e obteve permissão para transmitir suas opiniões
religiosas na rádio local, e no dia seguinte permitiu que várias crianças
deixassem o complexo. No entanto, não saiu do complexo pacificamente com
seus seguidores como a princípio prometera fazer em troca da transmissão de
rádio. Durante as negociações, Koresh insistiu na crença de que precisava de
tempo para terminar de abrir os sete selos e que isso justificava seus atrasos.
Em alguns momentos ficou agitado, segundo relatos do governo, ameaçando
matar as crianças e outras pessoas dentro do complexo.
Koresh continuou permitindo que algumas crianças deixassem o complexo.
Uma dessas crianças levou o que parecia ser um bilhete suicida escrito por
um dos adultos (a mãe da criança), levantando a preocupação de que o Ramo
Davidiano pretendesse cometer suicídio coletivo. Os agentes federais
tentaram aumentar a pressão sobre o Ramo Davidiano cortando a energia
elétrica e tocando música alta para causar privação de sono, ao mesmo tempo
que negociavam um fim pacífico para o impasse. Além das crianças, vários
adultos, principalmente mulheres, também deixaram o complexo.
Em 22 de março, os agentes federais começaram a estudar formas não
letais de forçar o fim do impasse. O esboço geral do plano envolvia uso de
muito gás lacrimogêneo para forçar os membros do Ramo Davidiano a sair
dos prédios. Também estava ficando claro que a tentativa de estressar os
membros do Ramo Davidiano com música alta, incluindo cantos tibetanos,
não funcionara. Vários dias depois, um homem integrante do culto conseguiu
romper o perímetro, juntando-se ao Ramo Davidiano no complexo.
Koresh afirmou estar trabalhando em um manifesto sobre sua visão a
respeito dos sete selos, mas em 19 de abril as autoridades federais perderam a
paciência. Colocaram em prática o plano do gás lacrimogêneo, usando
veículos blindados para superar as barreiras e lançar o gás no complexo. Em
seu relatório, o Departamento de Justiça alegou o temor de que as crianças
no complexo estivessem sendo vítimas de abuso durante o impasse, mas é
provável que o impasse também tivesse se tornado um constrangimento para
o governo.
O clima ruim e fortes ventos dificultaram a ação policial, e os próprios
membros do Ramo Davidiano começaram a atirar nos veículos blindados.
Nove membros do grupo escaparam do complexo durante a invasão e foram
resgatados. No entanto, logo começou um incêndio, causando a morte de 75
membros, incluindo muitas crianças. Koresh morreu em algum momento
durante a conflagração, aparentemente devido a um tiro na cabeça. Muitos
outros membros do grupo também foram baleados, vários deles crianças.
Uma criança morreu devido a um ferimento de faca no peito. Outros
sufocaram ou morreram devido a queimaduras.
As investigações do governo concluíram que o próprio Ramo Davidiano
havia causado o incêndio, possivelmente em três pontos diferentes do
complexo. O Departamento de Justiça afirmou que o gás lacrimogêneo usado
não era inflamável, embora os danos causados aos imóveis pelos veículos
blindados possam ter ajudado a alimentar o fogo. Mas o complexo era
malconstruído, e provavelmente os ventos fortes atiçaram o fogo. Contudo,
uma investigação do Congresso em 2000 sugeriu que várias das latas de gás
poderiam ter equipamento pirotécnico para liberar o gás lacrimogêneo,
embora haja poucas evidências de que tenham causado o incêndio. O
relatório concluiu que o FBI não havia provocado os incêndios
inadvertidamente. [ 236 ]
Verdade suprema
Como vemos no caso do Ramo Davidiano, extremo isolamento e, muitas
vezes, hostilidade para com o restante da sociedade são uma característica
comum a muitos cultos predatórios. Pelo que sabemos do caso do Ramo
Davidiano, eles pareciam contentes em aguardar o fim dos tempos.
Indiscutivelmente, dada a ameaça implícita na acumulação de armas de fogo
e explosivos ilegais, bem como as alegações de abuso de menores, o governo
federal teve muitos motivos para intervir. No entanto, parece haver poucas
evidências de que o Ramo Davidiano fosse uma ameaça imediata para
aqueles fora do complexo na época da invasão em 1993. Na verdade, o
conflito foi iniciado pelo governo, não pelo culto. Se o governo estava certo
ou errado ao fazer isso, ainda é tema de polêmica acalorada.
Mais ou menos na mesma época em que o complexo do Ramo Davidiano
queimava, um culto apocalíptico japonês chamado Aum Shinrikyo começava
a agitar as águas do outro lado do Pacífico. Esse culto surgiu na década de
1980, começando como uma espécie de academia de ioga, mas
posteriormente evoluindo para uma crença voltada para a morte,
incorporando elementos de budismo tibetano, hinduísmo, cristianismo e
ideias da Nova Era. O grupo era liderado por um vigarista chamado Shoko
Asahara. Nascido parcialmente cego, Asahara foi criado em um ambiente
humilde, e na infância era conhecido por intimidar os outros, evoluindo
depois para golpes em busca de riqueza. Quando jovem, desenvolveu uma
habilidade de controlar os outros, sobretudo quem sentia dor e necessitava de
apoio. Infelizmente, dedicou essa habilidade a seus próprios objetivos
pervertidos. [ 240 ] Ele dirigia seu culto como um predador, isolando seus
membros, tomando seu dinheiro e cortando seus laços com parentes e
amigos, ameaçando-os espiritualmente e até fisicamente se não o
obedecessem. [ 241 ]
Com a obediência cega de seus seguidores, Asahara se concentrou cada vez
mais em riqueza e poder, bem como em visões do fim do mundo, incluindo
uma fantasia sobre controlar um dispositivo nuclear. [ 242 ] Ressentimento
pela cegueira e por ter sido enviado a uma escola para cegos, o que pode ter
interpretado como isolamento social, aparentemente alimentaram profundos
ódio e ressentimento para com a sociedade. Como consequência, à medida
que a Aum Shinrikyo cresceu, chegando a mais de mil membros em tempo
integral, muito de seu esforço foi dirigido a obter meios de destruição em
grande escala.
Aqui podemos fazer sobre Asahara a mesma pergunta feita sobre David
Koresh. Asahara realmente acreditava na baboseira religiosa que vendia aos
seus seguidores idólatras? No caso de Koresh, a fidelidade às suas visões,
mesmo quando poderia ter salvado a própria vida moderando o discurso, é
um argumento em favor de conteúdo delirante. Isso não significa que Koresh
não fosse um psicopata, mas sugere alguma autenticidade em suas
afirmações, mesmo que elas dificilmente representassem uma doutrina
coerente. No caso de Asahara, o ímpeto parece ter sido conquistar riqueza e
poder e usar sua influência para prejudicar uma sociedade que ele odiava. Isso
indica que Asahara era um psicopata clássico que explorava a religião para
seus próprios objetivos.
Durante algum tempo, a Aum Shinrikyo se esforçou para obter uma arma
nuclear, buscando depósitos de urânio e fazendo contato com cientistas
russos insatisfeitos. [ 243 ] Felizmente isso não deu em nada, e o culto teve de
apelar para armas biológicas ou químicas. Sabe-se que entre o final dos anos
1980 e o início dos anos 1990 o culto assassinou, pelo menos, um crítico da
seita e sua família e cogitou assassinar outros. [ 244 ] No início dos anos 1990,
ele tentou produzir e utilizar várias armas biológicas, incluindo toxina
botulínica, ebola e antraz. [ 245 ] Em todos os casos, os ataques conseguiram
principalmente produzir odores ruins, sem contaminar ninguém. Acontece
que transformar agentes biológicos em arma é mais difícil do que se imagina,
e a Aum Shinrikyo não tinha a capacidade técnica para realizar tal ataque.
Assim, o grupo finalmente voltou-se para armas químicas.
Por que o grupo estava tão determinado a causar mortes em massa? A
maioria dos membros comuns provavelmente tinha pouca ideia do que a
liderança fazia. A direção parecia ser do próprio Asahara, que, como
observado, nutria um enorme ressentimento para com a sociedade. Ele
contaminou seus seguidores, muitos deles também alienados da sociedade,
com a visão de uma sociedade decadente e imoral. A violência era justificada
por trazer o fim dos tempos e salvar a humanidade da imoralidade. Antigos
membros da Aum Shinrikyo falaram sobre fechar os olhos para as evidências
da dubiedade e da maldade de Asahara, tão desesperados estavam pelas
experiências espirituais transcendentais que desejavam e que recebiam
integrando o grupo. [ 246 ]
Mesmo entre os cultos predatórios, a Aum Shinrikyo representa a mais
maligna combinação de um líder carismático, mas psicopata, com seguidores
tão alienados da sociedade que estão dispostos a cometer assassinato para
agradar seu líder e garantir o acesso à vida após a morte. A espiritualidade foi
distorcida para resolver vinganças pessoais, e pessoas vulneráveis foram
usadas para cometer atrocidades. Infelizmente, nas sociedades modernas um
pequeno número de pessoas se vê perdido, alienado e às vezes carente das
habilidades sociais para o sucesso. Esses indivíduos costumam descrever a
conversão a um culto como transformadora, tendo se “encontrado” após
tantos anos perdidos. A experiência significa sacrificar a identidade e a
autonomia anteriores em favor de uma nova fé amorosa, embora exigente, no
personagem do profeta. [ 247 ] Há poucas formas de ajudar essas pessoas
antes que se envolvam com grupos predadores. A maioria dos cultos
predatórios se aproveita de seus membros, mas alguns, como o Aum
Shinrikyo, se lançam violentamente contra a sociedade.
Em 1994, o grupo havia se tornado razoavelmente eficiente no
desenvolvimento da neurotoxina sarin. Como acontece com muitos agentes
nervosos, a morte por envenenamento de sarin é brutal e dolorosa. O agente
nervoso altamente tóxico interfere na comunicação entre nervos e músculos.
A morte normalmente ocorre por asfixia quando os músculos que controlam
a respiração deixam de funcionar, e é acompanhada de contrações dolorosas,
dor lancinante e perda de controle das funções corporais. Acredita-se que o
grupo tenha assassinado alguns oponentes nessa época, possivelmente usando
sarin em alguns assassinatos.
Em junho de 1994, a Aum Shinrikyo levou a cabo seu primeiro ataque em
massa usando sarin, liberando uma nuvem de gás de um caminhão
refrigerado na cidade de Matsumoto. Nesse caso, o motivo parece ter sido
uma briga judicial. A Aum Shinrikyo estava do lado perdedor em uma
disputa imobiliária e procurou eliminar os juízes envolvidos no caso antes de
receber um veredicto negativo. A nuvem de gás matou sete pessoas na cidade
e deixou mais quinhentas nauseadas. [ 248 ] Surpreendentemente, o grupo
não foi investigado pelas autoridades por esse crime hediondo.
Em março de 1995, a Aum Shinrikyo realizou um ataque mais audacioso.
Pacotes com sarin foram deixados em cinco trens do metrô de Tóquio. Os
integrantes do culto perfuraram os pacotes antes de escapar, permitindo que
o conteúdo se derramasse e vaporizasse, espalhando-se pelos trens. Doze
pessoas morreram e, pelo menos, mil outras precisaram ser hospitalizadas,
algumas com ferimentos duradouros. [ 249 ] Dessa vez, a polícia foi alertada
sobre o envolvimento da Aum Shinrikyo no ataque e rapidamente invadiu as
instalações do grupo, prendendo dezenas de membros, entre eles Asahara.
Vários ataques da Aum Shinrikyo envolvendo armas de cianeto de
hidrogênio aconteceram após a prisão de Asahara, embora sem sucesso.
Muitos integrantes do culto foram considerados culpados de vários níveis de
envolvimento nos crimes da seita, e 13, incluindo Asahara, acabaram
condenados à morte por enforcamento pelo ataque com sarin a Tóquio ou
outros assassinatos cometidos pelo grupo. Todos foram enforcados no verão
de 2018. [ 250 ] No entanto, o culto foi rebatizado e ainda sobrevive, sendo
designado uma “religião perigosa” sujeita a vigilância no Japão, e considerado
um grupo terrorista nos Estados Unidos.
A loucura em um grupo como a Aum Shinrikyo funciona em dois níveis.
Em primeiro lugar, no líder psicopata como Asahara, que usa de forma
egoísta as vulnerabilidades dos outros para acumular poder e se vingar
daqueles que acredita terem-no prejudicado. Em segundo lugar, entre os
membros vulneráveis, que submetem a própria identidade à vontade de um
líder carismático, cometendo crimes horríveis para agradá-lo e garantir a vida
após a morte. Infelizmente, a pesquisa sobre a atividade cultista é escassa
demais para permitir entender corretamente como governos, terapeutas e
entes queridos podem agir para evitar que ocorram no futuro tragédias como
o ataque com gás sarin a Tóquio em 1995.
Um bomba em Boston
A única coisa que podemos dizer com algum grau de certeza é que
indivíduos que se sentem alienados, solitários e desesperançados são
particularmente vulneráveis a recrutamento por perigosas ideologias
religiosas. Esses indivíduos podem encontrar em um grupo perigoso o
significado e a aceitação que lhes são negados em contatos sociais mais
convencionais. Isso os motiva a preferir se envolver em atos de violência do
que retornar ao isolamento anterior.
Nenhuma religião tem o monopólio da violência, e mesmo crenças com
mensagens pacifistas profundas, como o cristianismo do Novo Testamento e
o budismo, foram associadas à violência política. Portanto, eu argumento que
a religiosidade é mais vitrine que causa da violência humana, e é improvável
que o curso histórico das atrocidades humanas tivesse sido contabilizado de
forma muito diferente se os seres humanos tivessem evoluído como ateus. Na
verdade, a religião pode servir como um ponto de encontro para aqueles cujas
mentes estão cheias de ódio louco, uma espécie de justificativa moral para
atos que eles teriam cometido de qualquer maneira.
Definir o grau em que a religiosidade pode ser sinal de violência tem sido
algo polêmico na história moderna. Nos Estados Unidos, por exemplo, a
maior parte da violência terrorista tem sido doméstica, ou seja, cometida
sobretudo por norte-americanos quase sempre cristãos [ 251 ] contra outros
norte-americanos. De acordo com um relatório de 2017 do governo federal
dos Estados Unidos, [ 252 ] os casos foram quase igualmente divididos entre
violência perpetrada por radicais de extrema direita (por exemplo,
nacionalistas, grupos de ódio racista etc.), responsáveis por 106 mortes, e
radicais islâmicos, responsáveis por 119 mortes. É importante notar que a
maioria dos extremistas islâmicos era de residentes nos Estados Unidos, não
invasores vindos de outros países. Em décadas passadas, grupos de extrema
esquerda como o Weather Underground também se envolveram em violência
terrorista nos Estados Unidos, mas isso é muito menos comum hoje. Além
disso, para aumentar a confusão, é importante notar que muitos dos
incidentes registrados como terrorismo doméstico também poderiam ser
incluídos na contabilidade de fuzilamentos em massa. Por exemplo, o ataque
a tiros de junho de 2016 na boate Orlando’s Pulse cometido por um
muçulmano norte-americano. Esses incidentes contam como terrorismo
doméstico ou como fuzilamento em massa?
A forma como um crime é definido depende muito da política. Se estamos
falando de controle de armas, os disparos na Pulse são considerados
fuzilamento em massa. Se estamos preocupados com o terrorismo islâmico,
então é um ataque terrorista. Por outro lado, o massacre de Columbine, no
qual dois adolescentes mataram 12 colegas e um professor em sua escola
secundária em 1999, não é nem remotamente considerado terrorismo. Será
Columbine diferente de Pulse porque os assassinos de Columbine eram
brancos sem filiação ou causa política, enquanto o atirador da Pulse
vagamente alegou afinidade com o grupo islâmico radical Estado Islâmico do
Iraque e Levante (Isil na sigla em inglês)?
Curiosamente, pesquisas recentes sugerem que a resposta é não. As
pesquisas indicam que terroristas suicidas, como o atirador da Pulse ou os do
atentado de 11 de setembro, são psicologicamente semelhantes a pessoas que
cometem fuzilamentos em massa ou atiram dentro de escolas, como os
assassinos de Columbine. [ 253 ] Para ser mais específico, eles compartilham
características de personalidades extremamente antissociais, problemas
profundos de saúde mental, incluindo ideação suicida, e um sentimento de
ressentimento para com os outros. Terroristas suicidas estão dispostos a
morrer não apenas por causa das promessas de alguma recompensa celestial,
mas porque já querem morrer. Contudo, como acontece com os atiradores
em massa, eles culpam os outros por seu estado mental e pretendem punir os
outros com violência antes de partir. Com efeito, a loucura do terrorista
suicida e do homicida em massa é mais similar que diferente.
Isso levanta a questão espinhosa de traçar um perfil étnico quando se trata
de terrorismo. O terrorismo não é nenhuma novidade na história, e tem sido
usado por vários grupos culturais e religiosos para intimidar outros grupos. É
usado tanto por governos no poder quanto por grupos não governamentais.
Dependendo da política, das estratégias militares, da economia e de outras
forças, o terrorismo pode explodir em uma região e depois morrer, apenas
para explodir em outra. No entanto, nos Estados Unidos e na Europa é dada
atenção considerável à violência terrorista perpetrada por grupos islâmicos
como Al-Qaeda e Isil. Ataques como o de 11 de setembro, que matou cerca
de três mil norte-americanos, bem como atentados à bomba, tiroteios,
atropelamentos em massa e outros ataques por toda a Europa associaram o
terrorismo ao Oriente Médio e ao islamismo na mente de muitos. Isso ocorre
porque a mente humana tende a funcionar em termos de traços gerais, em
vez de detalhes. Usamos heurísticas para fazer julgamentos rápidos sobre
uma situação. Em grande medida, isso é necessário e fruto de adaptação, nos
permitindo estimar riscos rapidamente. Embora possamos reconhecer que o
terrorismo doméstico nos Estados Unidos é quase igualmente dividido entre
terroristas de extrema direita e terroristas islâmicos, os ataques de 11 de
setembro permanecem fortes na memória de muitos, assim como os ataques
mais recentes, embora menores, por toda a Europa. Sob tais condições, pode
ser difícil para as pessoas manter suas percepções nuançadas.
Por um lado, está claro que grupos islâmicos radicais como o Isil estão
promovendo o terrorismo e que tais grupos representavam um desafio único
no momento em que este livro era escrito. A incapacidade de identificar
quais regiões ou culturas específicas estão lutando contra a violência mais do
que outras só prejudica nossa capacidade de concentrar recursos e atenção.
Ao mesmo tempo, também precisamos reconhecer que a grande maioria das
pessoas do Oriente Médio ou de fé islâmica não é de terroristas violentos e
sente tanta repulsa pela violência radical quanto qualquer um. Mas nosso
cérebro tem dificuldade de lidar com essas nuances, e é fácil que o estado de
alerta recorra à islamofobia e ao racismo de um lado, e à ingenuidade
politicamente correta do outro. Promover o debate entre interessados de
todas as origens sobre como reduzir a violência terrorista é mais frutífero do
que adotar pontos de vista ideológicos rígidos, mas isso também requer dos
humanos um grau de racionalidade que geralmente é escasso. Para avaliar
como o extremismo religioso pode se transformar em violência terrorista,
vamos estudar o caso de Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, irmãos checheno-
americanos que em 2013 mataram quatro pessoas no atentado à bomba à
Maratona de Boston.
Entre 2002 e 2003, os dois irmãos Tsarnaev chegaram aos Estados Unidos
com a família, vindos do Quirguistão, um país perto da Rússia mergulhado
em conflitos políticos. Seus pais receberam asilo nos Estados Unidos e a
família se estabeleceu, como muitas outras famílias de imigrantes. Dzhokhar
se ajustou razoavelmente bem no início, indo bem na escola, mas seu irmão
mais velho, Tamerlan, teve dificuldades. Ele se saiu mal na escola, passou a
frequentar uma mesquita islâmica fundamentalista e foi preso por agredir
uma namorada. Demonstrou cada vez mais interesse por sites jihadistas
violentos. Em 2011, o governo federal norte-americano recebeu um aviso de
que Tamerlan estava se radicalizando e planejava viajar para a Rússia e se
juntar aos insurgentes contra os russos na Chechênia. Mas a investigação foi
concluída sem que fosse detido. [ 254 ] Ele foi colocado em uma lista de
vigilância de terroristas, mas mesmo assim teve autorização para viajar para a
Rússia em 2012.
Atentado à bomba à Maratona de Boston. Foto: Aaron Tang, Creative Commons License.
E
m meados do século XIX, os filósofos alemães Karl Marx e
Friedrich Engels desenvolveram uma filosofia das estruturas sociais
baseada na luta de classes e no igualitarismo utópico. Ao longo da
maior parte da história, governos de todos os tipos — fossem democracias
ou autocracias despóticas — tenderam a cuidar das elites sociais à custa das
massas. Isso se tornou ainda mais verdadeiro nos modernos Estados
capitalistas nos quais as elites, ou a burguesia, controlavam os meios de
produção em detrimento das massas, do proletariado e dos trabalhadores
oprimidos. Marx e Engels mostraram como as sociedades capitalistas
poderiam experimentar uma revolução do proletariado, com o controle da
produção passando para todos os membros da sociedade, o socialismo. Isso
acabaria por levar a uma utópica sociedade sem classes, com propriedade
comum, ou comunismo. [ 260 ] Em vez disso, o comunismo, do modo como
foi aplicado na prática em todo o mundo no século XX, deixou um legado
de miséria, morte e conflito mundial.
Para ser justo, as metas do comunismo estabelecidas por Marx e Engels
incluem um bom número de pontos que podemos considerar razoáveis hoje,
como tributação progressiva, abolição do trabalho infantil e educação
gratuita para crianças. Outros objetivos, entre eles a abolição da propriedade
da terra, a centralização estatal do crédito e das comunicações, e a
redistribuição da população para eliminar as distinções entre urbano e rural
podem parecer um tanto autoritários. Em 1917, o comunismo obteve sua
primeira oportunidade de aplicação em grande escala no governo do Estado
czarista russo em ruínas.
A Rússia czarista estava envolvida na Primeira Guerra Mundial desde
1914, e uma combinação de derrotas militares e problemas sociais e
econômicos de longo prazo levou a um crescente descontentamento. Isso foi
exacerbado pelo fracasso da esposa do czar Nicolau, Alexandra, em liderar
de modo competente o governo em São Petersburgo enquanto ele estava
ausente, falhando em exercer uma boa liderança sobre os exércitos que
lutavam na frente de batalha. [ 261 ] No fim, essa insatisfação com a
monarquia levou à eclosão de movimentos revolucionários ao longo de
1917. O czar e sua família foram presos e, em 1918, fuzilados. Infelizmente
para os fãs das princesas da Disney em toda parte (para não falar da família
do czar), os restos mortais de toda a família imperial foram localizados,
incluindo a mítica filha Anastasia. [ 262 ]
Então entra Vladimir Lênin, que, em grande medida vivendo no exílio na
época, quase perdeu a revolução devido à dificuldade de transporte de volta
à Rússia. [ 263 ] Uma vez retornado, Lênin reuniu outros comunistas russos
exilados e descontentes locais, como Josef Stálin, e lutou pelo comunismo
bolchevique como modelo organizacional do governo da Rússia. A
revolução de outubro de 1917 levou o bolchevismo para a linha de frente do
governo, mas ainda se passariam vários anos de guerra civil com
intervenções dos governos de Reino Unido, Estados Unidos e outros
tentando impedir uma tomada comunista. Mas Lênin e seus camaradas
foram vitoriosos e o comunismo se estabeleceu firmemente na Rússia, e no
que logo se tornaria a União Soviética.
Obviamente, Lênin foi influenciado pelo marxismo, mas também o
adaptou a seus propósitos. Falando de maneira direta, Lênin acreditava
(talvez não sem razão) que as massas populares eram ignorantes demais para
fazer a revolução corretamente por conta própria. Elas precisavam ser
guiadas pela mão forte de uma minoria ideologicamente pura no Partido
Comunista. Portanto, a filiação partidária e a adesão ideológica tornaram-se
as pedras angulares do marxismo-leninismo. Desvios da linha partidária
seriam tratados duramente com censura, humilhação, expulsão do partido e,
às vezes, violência. Se isso está começando a soar menos como aquelas rodas
de pessoas de mãos dadas cantando juntas em êxtase igualitário imaginadas
por alguns fiéis comunistas, bem, você não está errado. Sob Lênin, o
comunismo russo evoluiu para um regime de partido único brutal e
autoritário, que foi um modelo infeliz para o comunismo em todos os
lugares.
Lênin desfrutou de uma posição mítica no Partido Comunista e,
enquanto viveu, foi uma força estabilizadora, ainda que autoritária, para o
Estado russo. Ninguém confundiria Lênin com o Papai Noel, mas ele não
era um defensor do tipo de horror moedor de carne que estava por vir. Mas
Lênin também era sobretudo um pensador, e gradualmente delegou cada
vez mais autoridade prática a um único de seus discípulos: Josef Stálin.
Camarada Stálin
Entre 1922 e 1924, Lênin sofreu uma série de derrames, o último dos quais
o matou. Em algum momento durante esse período, ele talvez tenha
começado a perceber que havia criado um monstro. Em um de seus escritos
finais, criticou Stálin e sugeriu removê-lo de seu poderoso posto de
secretário-geral do partido. Lênin foi atingido por um derrame antes que
pudesse colocar esses pensamentos em prática, mas a existência dessa carta
se tornou um assunto polêmico depois de sua morte, em 1924. No entanto,
as objeções de última hora de Lênin chegaram tarde demais. O monstro que
ele ajudara a criar assumiu o poder na Rússia soviética e implantou o terror
em escala raramente vista antes.
Josef Stálin, batizado Josef Djugashvili, [ 264 ] nasceu em 1879 [ 265 ] em
uma pequena cidade da Geórgia. Não, não o estado americano ao norte da
Flórida. Essa Geórgia era então uma região da Rússia com seu próprio
grupo étnico não russo. Hoje a Geórgia existe como uma nação
independente logo ao sul da Rússia no mesmo sentido em que um rato vive
uma existência independente logo ao sul de um gato. A família de Stálin era
pobre, e o pai, um alcoólatra violento que batia regularmente em Stálin e na
mãe. Alguns que o conheceram naqueles anos suspeitavam que essas surras
ajudaram a transformá-lo na criatura desalmada e desconfiada que se
tornaria tanto ressentido com pessoas em posição de autoridade quanto
insensível ao sofrimento dos outros. [ 266 ] A mãe de Stálin também batia
nele, embora isso parecesse misturado a algum afeto genuíno, bem como à
ambição de que ele se tornasse padre. Os métodos de criação da época eram
em geral severos, e Stálin provavelmente foi exposto a constante negligência
e agressões pelos dois pais, incluindo o uso de enfaixamento infantil, prática
dolorosa e anti-higiênica em que muitas vezes os bebês eram deixados em
sua própria sujeira por horas e depois banhados em água gelada. [ 267 ]
Quando conquistou autoridade no Partido Comunista, Stálin se assegurou
de que a mãe fosse bem cuidada, embora raramente a visitasse e não tenha
comparecido a seu funeral em 1937.
Stálin contraiu varíola quando criança, o que o deixou com cicatrizes no
rosto. Também sofreu um ferimento em um acidente que gerou sequelas no
braço. Mandado para a escola, se destacou, mostrando ser também um
trabalhador esforçado. Sua insensibilidade se revelava na crueldade com
animais. Ele desenvolveu um fascínio pelo poder, especialmente sobre seus
colegas de classe, e começou a se referir a si mesmo como “Koba”, em
homenagem a um herói folclórico georgiano.
A relação de Stálin com sua Geórgia natal seria difícil e complexa. Assim
que assumiu o poder, ele se concentrou nas necessidades da União Soviética
(ou, mais diretamente, dele mesmo), em vez de dar prioridade às suas raízes
georgianas. Isso foi bem evidente durante a incorporação da Geórgia à
União Soviética no início da década de 1920, durante a qual Stálin esmagou
com sucesso o desejo dos comunistas georgianos de status semiautônomo.
Por outro lado, outros consideraram a relação de Stálin com a Rússia
semelhante àquela que ele tinha com o pai. O argumento é que Stálin
assumiu o controle da Rússia como uma figura paterna autoritária para
puni-la com uma campanha de terror. [ 268 ]
Stálin chegou à idade adulta como um criador de problemas para a Rússia
czarista. Antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, o descontentamento
interno era generalizado, e os comunistas bolcheviques procuravam tirar
vantagem disso. Stálin organizou greves e manifestações dos trabalhadores
da indústria, por fim organizando um grupo de indivíduos semelhantes a
ele, que parecia tanto uma máfia quanto um partido político. Stálin
participou de assaltos a bancos e outros esforços criminosos para financiar a
causa comunista. Alinhou-se aos comunistas bolcheviques, em vez do grupo
comunista rival, os mencheviques, talvez porque os bolcheviques tendessem
a ser mais agitadores e favoráveis à violência. Embora usasse pseudônimos e
se mudasse sempre, Stálin foi preso várias vezes, tendo sido enviado para o
exílio na Sibéria. [ 269 ]
No entanto, entre exílios periódicos, Stálin permaneceu ativo no
movimento bolchevique. Provou ser um excelente organizador, uma
habilidade que seria útil assim que os comunistas assumissem o poder. Não
era o gênio literário ou o pensador profundo que Lênin mostrou ser, mas
também não era o bruto irrefletido muitas vezes retratado quando
comparado a Lênin. Ele provou ser um gênio estratégico especialmente no
teatro da política implacável. Seus escritos chamaram a atenção de Lênin,
ajudando na ascensão de Stálin entre os comunistas bolcheviques.
A Rússia czarista experimentou agitações significativas em 1905, quando
se espalharam por todo o país greves, protestos e motins militares,
desencadeados pela derrota da Rússia para o Japão na Guerra Russo-
Japonesa, bem como pelos abusos flagrantes, a corrupção e a injustiça do
sistema czarista de governo. O czar Nicolau II conseguiu manter o poder,
mas os conflitos de 1905 foram um sinal do enfraquecimento da monarquia
na Rússia. Na época das revoluções de 1917, a estrela de Stálin havia
crescido consideravelmente entre os bolcheviques, que, sendo mais
militantes que seus rivais mencheviques, enfim assumiram o poder,
transformando a Rússia na União Soviética.
A morte de Lênin
A morte de Lênin em 1924 levantou a questão de quem iria sucedê-lo.
Stálin era um dos candidatos, mas havia outros, com destaque para Leon
Trótski, que compartilhava com Lênin a capacidade de elaborar um
raciocínio teórico profundo e tinha carisma pessoal. Trótski tinha grande
influência entre os bolcheviques, mas então os incríveis dons de Stálin para
estratégia e organização funcionaram a seu favor.
Stálin teve a sorte de Lênin morrer antes que pudesse reduzir seu poder.
Ele discretamente assumira o controle da máquina do Partido Comunista e
da burocracia governamental durante os anos de Lênin. Muitos dos cargos
que ocupou podem ter parecido pouco excitantes ou de destaque enquanto
Lênin estava vivo, mas isso deu a Stálin uma excelente base de poder depois
da morte de Lênin.
Josef Stálin.
O grande expurgo
No início dos anos 1930, Stálin emergiu como o único governante
indiscutível da União Soviética. A União Soviética não era mais uma
oligarquia governada por um sistema de partido único baseado no
comunismo. Embora a ideologia comunista ainda fosse proclamada, na
verdade a União Soviética se tornara um regime terrorista submetido aos
caprichos de um único homem: Josef Stálin.
Se suas maquinações políticas durante a década de 1920 demonstram os
brilhantes aspectos maquiavélicos da personalidade de Stálin, a década de
1930 deu maior ênfase a dois outros aspectos: falta de consciência ou
empatia pelos outros e extrema paranoia. Juntamente com o narcisismo
claro que impulsionava sua ânsia de poder, isso criou uma mistura perigosa.
Stálin exibiu a tríade sombria de traços de personalidade antissociais,
narcisistas e maquiavélicos discutida anteriormente neste livro, somada a
uma paranoia inesgotável. Isso fez da década de 1930 um dos períodos mais
brutais e controversos do governo de Stálin. Foi marcado por dois
problemas: em primeiro lugar, grande sofrimento e perda de vidas devido às
políticas de Stálin, algo pelo que ele demonstrou pouca preocupação. Em
segundo, o espantoso fracasso em dirigir sua paranoia para a crescente
ameaça representada pela Alemanha nazista, que era bem merecida. Em vez
disso, Stálin concentrou sua fúria sobretudo em seu próprio povo.
Uma dificuldade que se tornou aparente foi a questão dos camponeses. [
271 ] Marx e Engels parecem fazer uma distinção entre proletariado, os
trabalhadores assalariados, e os camponeses que trabalhavam em suas
próprias terras. Marx e Engels consideravam os camponeses ou servos parte
da “classe média baixa” e pareciam argumentar que eles, pelo menos, tinham
alguma possibilidade de ascender à burguesia. Lênin e os bolcheviques
achavam possível encontrar uma causa comum com o campesinato na luta
pela revolução comunista, embora na prática o fervor comunista não tivesse
se espalhado amplamente pelas regiões mais agrárias da Rússia.
Stálin procurou aplicar os princípios do comunismo, pelo menos como ele
os via, ao setor agrícola. Primeiramente associou os fazendeiros donos de
terras, ou kulaks, à burguesia, e os eliminou. Isso implicou a remoção de
famílias inteiras de suas casas e a transferência para o exílio em regiões
remotas como a Sibéria, sem comida, água ou roupas adequadas para
sobreviver à árdua jornada de, às vezes, milhares de quilômetros. Muitos
foram simplesmente fuzilados. O limite de propriedade de terras para um
kulak também era no mínimo vago e inconstante. Muitos fazendeiros mais
pobres, que inicialmente poderiam ter ficado maravilhados ao ver seus
vizinhos ricos expulsos, acabaram integrando a lista de kulaks. Vizinhos
eram encorajados a denunciar uns aos outros ao governo, criando uma
atmosfera de terror entre as classes agrárias.
Stálin então se concentrou na coletivização da agricultura. A produção
agrícola continuou a cair durante o expurgo dos kulaks, o que não
surpreende. Stálin atribuiu isso a estoques escondidos, mas também achava
problemática a questão da propriedade privada de terras agrícolas. A União
Soviética começou a expulsar os camponeses de suas terras agriculturáveis e
a instalá-los em fazendas coletivas administradas pelo governo.
Naturalmente, isso não foi bem recebido e resultou em levantes armados e
também na redução da produção. Em algumas regiões, principalmente na
Ucrânia, houve enormes ondas de fome. Stálin também implantou
programas para eliminar a identidade nacional de algumas populações
regionais, como a execução em massa dos bardos itinerantes ucranianos.
Milhões morreram por execuções, do exílio forçado dos kulaks ou de fome.
As estimativas do número de mortos variam em torno de 11 milhões. [ 272 ]
Estima-se que especificamente a Ucrânia tenha perdido um quinto de sua
população total. [ 273 ] Stálin não demonstrou nenhuma preocupação com
todo esse sofrimento humano.
Durante a década de 1930, Stálin voltou seu terror para dentro, visando os
mecanismos do próprio poder. Isso incluiu o Partido Comunista, o exército,
acadêmicos e até mesmo a polícia secreta. Indivíduos desacreditados foram
presos, torturados, forçados a confessar, bem como a implicar outros em
“facciosismo”, “trotskismo” e colaboração com potências estrangeiras, fossem
países capitalistas ou a Alemanha nazista. Entre os eliminados estavam
estrangeiros, pessoas que haviam se filiado ao Partido Comunista para
progredir na carreira, líderes partidários nacionais e locais e, claro, qualquer
vestígio dos antigos comunistas que tinham criticado ou desafiado Stálin. As
pessoas foram forçadas a confessar seus crimes; muitos acabaram executados
e muitos mais foram presos ou exilados em campos de prisioneiros.
Stálin também dirigiu grande parte de sua ira às forças armadas,
dizimando o oficialato. Muitos oficiais talentosos, tanto de alta quanto de
baixa patente, foram expulsos das forças, presos e executados. O alto
comando foi particularmente atingido. Embora um bom número de oficiais
presos acabasse recebendo permissão para retornar ao serviço, [ 274 ] esse
expurgo decerto deixou o corpo de oficiais inseguro. Os motivos de Stálin
para esse expurgo não são totalmente claros, embora sua paranoia e o desejo
de desestabilizar uma possível força rival presumivelmente tenham
desempenhado um papel. De forma polêmica, esse expurgo do corpo de
oficiais levou à suposição generalizada de que o exército soviético estava
enfraquecido, o que acabou atiçando a ambição de Hitler alguns anos
depois.
Mesmo os responsáveis pelos expurgos não ficaram imunes. A polícia
secreta soviética, então chamada NKVD, [ 275 ] também foi alvo dos
expurgos de Stálin. Os líderes da NKVD, Genrikh Yagoda e Nikolai
Yezhov, foram presos e fuzilados por atividades antissoviéticas. Na verdade,
ninguém estava seguro na Rússia de Stálin.
Os historiadores não sabem ao certo quantos morreram durante os
expurgos da década de 1930, embora sejam comuns números na faixa de
aproximadamente um milhão. [ 276 ] Esses números se referem sobretudo ao
final dos anos 1930, e não incluem mortes por fome ou pelas realocações
forçadas na coletivização agrícola. O que Stálin esperava ganhar com tanto
horror?
Sua paranoia real foi, sem dúvida, um fator. Stálin se tornara ditador da
União Soviética no início dos anos 1930, mas continuava a haver inimigos
em potencial por toda parte. Os velhos bolcheviques que caminharam com
Lênin durante a revolução de 1917 e algumas vezes desafiaram Stálin
durante a década de 1920 eram uma fonte óbvia de preocupação e tinham
de partir. Os comandantes militares controlavam o exército, e podiam tentar
um golpe contra Stálin. Eles também tinham de partir. A União Soviética
era cercada pelas potências militares hostis de Alemanha e Japão, e não era
absurdo suspeitar que os dois países estivessem estabelecendo redes de
espiões na União Soviética. Mas o regime de terror de Stálin não se limitou
a prender pessoas e matá-las. Isso poderia ter provocado resistência. Usando
tortura, forçou as pessoas a confessar e, mais importante, delatar outros
conspiradores. Cruelmente brilhante, essa estratégia destruiu qualquer
confiança que as pessoas pudessem ter umas nas outras. Qualquer
comentário divergente sussurrado para um amigo poderia fazer com que a
NKVD tomasse conhecimento, resultando em prisão, tortura, exílio ou
morte. Ao voltar as pessoas umas contra as outras, fazendo-as temer confiar,
ele acabou com qualquer resistência possível ao regime stalinista.
Camarada Mao
Na grande disputa pelo título de louco mais desprezível da história, Mao
Tsé-tung se situa no topo com Hitler e Stálin e, em termos de contagem de
corpos, pode ganhar o título. Mao tomou as rédeas do comunismo chinês na
década de 1930 e liderou a China comunista até sua morte em 1976.
Durante esse tempo, ele expandiu maciçamente a influência e o papel da
China no cenário internacional. Suas políticas também resultaram na morte
de dezenas de milhões de pessoas, a maioria delas de cidadãos chineses.
O legado de Mao é mais complexo que os de Hitler e Stálin, e vários
fatores determinam isso. Em primeiro lugar, a moderna República Popular
da China é sucessora direta do governo de Mao. Assim, não há na China
uma ruptura clara com o passado maoísta, como ocorreu com a Alemanha
pós-Hitler ou mesmo com a desestalinização da Rússia. Isso dificulta uma
leitura objetiva do passado de Mao. Em segundo lugar, o próprio Mao
provavelmente criou alguns mitos sobre sua história como parte de seu culto
à personalidade na China. Distinguir o que de fato aconteceu e o que Mao
queria que as pessoas pensassem que aconteceu pode ser difícil. Finalmente,
embora poucas pessoas estejam inclinadas a santificar Mao, há divergências
sobre em que grau as mortes ocorridas durante o regime de Mao podem ser
atribuídas a indiferença intencional ou insensibilidade e não simplesmente a
políticas malconcebidas. “Opa, eu acidentalmente matei de fome dezenas de
milhões de pessoas” talvez seja uma defesa aceita por alguns. Como
consequência, há discordâncias quanto ao grau em que os resultados
positivos do regime de Mao compensam o número de mortos
inquestionavelmente alto. [ 289 ]
Como exemplo disso, veja a polêmica provocada por uma biografia
popular de Mao. O relato de Jung Chang [ 290 ] e Jon Halliday, [ 291 ] muitas
vezes baseado em entrevistas com pessoas envolvidas, pinta um retrato
terrível de Mao como um psicopata conivente, mentiroso e egocêntrico,
totalmente despreocupado com o bem-estar e o sofrimento dos outros. Eles
o acusam de envolvimento direto em episódios de tortura e terror, bem
como um número considerável de casos de traição a seus companheiros
comunistas. Mostram-no como um homem obcecado com a criação de
mitos históricos para parecer um herói, sem merecer. À moda daqueles
acadêmicos que gostam de disputar quem é o mais inteligente, a biografia de
Mao por Chang e Halliday provocou um outro livro simplesmente para
criticar o volume de Chang e Halliday. [ 292 ] Embora alguns dos ensaios
fossem favoráveis, a maioria condenou Chang e Halliday por exagerar as
facetas negativas de Mao e confiar demais em entrevistas. Muitos ensaios
reclamam que Chang e Halliday não são “justos” para com Mao ou, como
disse um colaborador, “Chang e Halliday evitam qualquer tentativa de
equilibrar o bom e o mau em seu legado”. [ 293 ] Esse argumento me deixou
insatisfeito. Estaríamos exigindo biografias “justas” de Hitler se a Alemanha
tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial e sobrevivido como um
moderno estado nazista? Stálin criou uma poderosa superpotência a partir
da União Soviética, mas não tem passe livre para “equilibrar” seu legado
contra os milhões de mortes que causou. Outras críticas — principalmente a
de que o uso do poder por Mao deve ser entendido no contexto das forças
culturais e políticas em jogo na China na época — são justas, mas esse
argumento não compensa o grande papel que uma personalidade única
como a de Mao desempenhou na história da China. Vamos examinar a
história e a personalidade de Mao o melhor que pudermos para esclarecer
esse quadro confuso de relatos conflitantes.
Como muitos dos loucos [ 294 ] deste livro, Mao foi criado em um
ambiente familiar difícil. Ele era espancado violentamente pelo pai,
provavelmente uma introdução precoce ao papel da violência e da crueldade
em determinar comportamentos. [ 295 ] É muito provável que os genes que
moldam traços de personalidade antissociais tenham sido passados de pai
para filho, e se combinaram com a educação severa para gerar uma
personalidade fria e indiferente. Na adolescência e no início da idade adulta,
Mao vagou um pouco, procurando seu caminho. Descobriu o amor pelo
aprendizado e pelos livros, mas não gostava dos clássicos confucionistas, e
sua falta de persistência enfureceu o pai. Mais ou menos nessa época, a
China passou por uma revolução, expulsando a velha dinastia manchu
Qing [ 296 ] e implantando um governo republicano. Durante esse período,
Mao também se casou com a primeira esposa, um casamento arranjado e
infeliz. Ele logo a abandonou, e ela morreu poucos anos depois. [ 297 ]
A revolução comunista na Rússia começou a se espalhar para a China, e
Mao ingressou no Partido Comunista. Começou sua ascensão durante a
década de 1920, muitas vezes à custa de colegas de partido. Alguns relatos
dão conta de uma preocupação genuína de Mao com o bem-estar dos
camponeses e das classes mais baixas, mas ele também demonstrou
habilidade para a política cruel. Assim como o comunismo soviético, o
comunismo chinês se dedicou especialmente a lutas fratricidas. Em sua
biografia contundente, Chang e Halliday alegam que Mao desenvolveu o
gosto pela violência brutal durante uma excursão pelo interior de Hunan
entre 1926 e 1927. Grande parte da violência era de natureza revolucionária,
de camponeses contra proprietários de terras, envolvendo tortura sádica e
humilhação das vítimas. Assim como Stálin na União Soviética da mesma
época, Mao parece ter percebido como a violência e o terror podem conter
massas de pessoas que de outra forma poderiam se rebelar.
Por volta dessa época, a república chinesa também começou a se dividir
politicamente. Os comunistas tornaram-se cada vez mais distantes do
governo majoritário dos nacionalistas, então liderados por Chiang Kai-shek.
Além dessas duas facções, vários senhores da guerra independentes
controlavam vastos territórios. O país estava prestes a se tornar um Estado
falido. A China também era pressionada pelo Japão, cada vez mais
militarizado e agressivo, e interessado nos recursos naturais da China. No
final da década de 1920, a China vivia uma guerra civil, que foi agravada
ainda mais pela invasão e ocupação da Manchúria pelo Japão em 1931. Mao
havia se casado pela segunda vez, porém novamente, em grande medida,
abandonou a esposa e os filhos. A segunda esposa seria executada pelas
forças nacionalistas em 1930.
Nesse cenário, os perdedores foram o povo chinês. Diante de três escolhas
ruins — os comunistas sanguinários, os nacionalistas corruptos e os
invasores japoneses —, muitos chineses resistiram bravamente e morreram
defendendo sua república. Perdidas em meio aos combates entre Mao,
Chiang e os japoneses há literalmente milhões de histórias de pessoas boas e
corajosas que lutaram e morreram por algo melhor. Infelizmente, a maioria
de suas histórias nunca será contada.
Os conflitos civis na China duraram, de modo intermitente, vinte anos, e
acabaram absorvidos pela Segunda Guerra Mundial. Nesse ponto, a criação
de mitos por Mao ganhou força, com histórias notáveis de sucesso, coragem
e gênio militar, especialmente durante a famosa Longa Marcha de 1934 a
1935, quando ele liderou as forças comunistas para fora de um possível cerco
pelas forças nacionalistas. Na verdade, Mao tendia a assumir o crédito pelo
sucesso dos outros, e transferir aos outros a culpa por seus fracassos. É
possível que, longe de uma fuga desesperada, a partida dos comunistas tenha
sido permitida por Chiang, que então aproveitou o movimento para invadir
e assumir o controle de territórios governados por outros senhores da
guerra. [ 298 ] Caso positivo, esse foi um erro colossal da parte de Chiang.
Mao também havia se casado pela terceira vez. O casamento não foi
menos trágico para a dama que os dois anteriores. Embora He Zizhen, sua
esposa, tivesse zelo revolucionário, precisou abandonar vários filhos que deu
à luz em diferentes pontos das viagens do exército comunista, inclusive na
Longa Marcha. Como suas duas esposas anteriores, ela foi descartada por
Mao e supostamente enlouqueceu.
Mao era apoiado pela União Soviética, que geralmente ficava a seu lado
mesmo quando outros líderes comunistas se queixavam. Usando violência,
espiões, chantagem e subterfúgios, Mao conseguiu superar seus rivais,
tornando-se presidente do Partido Comunista Chinês. O partido empregou
técnicas de doutrinação brutais e expurgos sangrentos para manter uma
lealdade baseada em terror nas regiões sob seu controle.
Os soviéticos pressionaram comunistas e nacionalistas a trabalhar juntos
de forma ostensiva na luta contra os japoneses durante a Segunda Guerra
Mundial. A certa altura, Chiang Kai-shek foi preso por um senhor da
guerra local que o forçou a trabalhar com Mao como condição para sua
libertação. No entanto, a cooperação entre comunistas e nacionalistas
permaneceu mínima e os confrontos permaneceram. Os dois lados
continuaram disputando o poder ao mesmo tempo que lutavam contra os
japoneses. E, sem dúvida, nenhum dos lados foi particularmente eficaz no
combate aos exércitos japoneses. Embora o Japão se encontrasse em um
atoleiro na China, os comunistas em grande medida evitaram batalhas
encarniçadas, enquanto Chiang Kai-shek se retirou para o interior da
China, onde os comandantes aliados o encontraram desleixado, corrupto e
sempre pedindo recursos, sem tomar medidas decisivas. [ 299 ] O Japão só foi
expulso da China depois que os exércitos russos invadiram, em agosto de
1945.
A derrota do Japão trouxe a guerra civil chinesa de volta ao primeiro
plano. Inicialmente, os comunistas tiveram desempenho ruim, mas Mao
manteve um controle brutal sobre as forças e as terras governadas pelos
comunistas, usando repressão implacável para assegurar obediência total.
Chiang foi pouco a pouco abalado, inicialmente pela relutância dos norte-
americanos em apoiá-lo e depois pela incompetência ou possível deslealdade
de seus próprios generais. As táticas de Mao foram cruéis, incluindo o cerco
de 1948 à cidade de Changchun, que levou à morte proposital de talvez 160
mil civis. Soldados comunistas teriam atirado em qualquer civil que tentasse
deixar a cidade. Os residentes passaram a comer cascas de árvore, cintos de
couro e possivelmente até seus mortos. [ 300 ] Em 1949, Chiang e seus
últimos partidários se retiraram para a ilha de Formosa, transformando-a no
que o músico do Pink Floyd Roger Waters certa vez chamou de “uma
fábrica de calçados chamada Taiwan”.
Mao estabeleceu uma República Popular da China unificada (com
exceção de Taiwan) em 1949. Por alguma razão, comunistas e outros
autocratas têm grande tendência a incluir palavras como “democrático” e
“república” nos nomes de seus países, confundindo crianças em idade escolar
em todo o mundo. Presumivelmente ainda magoado com a fuga de Chiang
para Taiwan (a separação política da China continental e Taiwan continua
sendo uma questão espinhosa até hoje), Mao começou a expurgar todos que
tivessem alguma relação com os nacionalistas. Também foram incluídos
nesse expurgo sangrento muitos camponeses proprietários de terras. As
execuções públicas tornaram-se comuns, e Mao provavelmente se perguntou
por que haviam saído de moda depois da Idade Média.
Detalhar os muitos abusos praticados por Mao contra seus próprios
cidadãos exigiria (e exigiu) volumes. Dois acontecimentos naturalmente se
destacam: o Grande Salto para a Frente (que deixou milhões em solo, sem
salto) e a Revolução Cultural. Ambos são polêmicos, já que alguns
estudiosos dizem que esses programas desempenharam um papel na
modernização da China. Mas também resultaram na morte de milhões.
iLoucura
Como observei algumas vezes neste livro, nem todos os casos de loucura
resultam em calamidade. Como no caso de Alexandre, o Grande, de vez em
quando eles levam a um momento verdadeiramente inspirador da história.
Agora nos voltamos para um desses, o caso de um homem cuja visão para a
computação pessoal desempenhou um papel importante na evolução de
como lidamos com computação, comunicação, música e filmes.
Na verdade, é difícil falar sobre Steve Jobs sem ouvir ou usar as palavras
“visão” ou “visionário” [ 337 ]. Jobs, o lendário fundador da Apple, é um dos
heróis da onda de uso pessoal de tecnologia no milênio. Mas também era
conhecido como uma figura difícil, insensível e excêntrica. Durante sua vida,
ele ergueu e queimou um bom número de pontes. Nesse sentido, parece
exemplificar um estilo particular de personalidade que não mereceu muita
cobertura na literatura psicológica, mas que seria uma abordagem de “apostar
alto” em inovação e negócios. Vamos dar uma olhada.
Jobs era um filho adotivo criado em um lar cheio de amor e apoio. Ao
contrário de muitas outras pessoas neste livro, há poucos motivos para
acreditar que as arestas mais duras de Jobs tenham sido determinadas —
mesmo parcialmente — por uma situação desfavorável em casa. Mesmo
assim, Jobs tinha uma reputação de mau comportamento e resistência à
autoridade, talvez os primeiros sinais de sua espinhosa personalidade adulta
transparecendo. Em geral, provavelmente superestimamos o peso do
ambiente no desenvolvimento da personalidade, e Jobs pode ser um bom
exemplo de que os genes tendem a superar o ambiente nesse aspecto.
Ele começou a mostrar interesse por eletrônica no secundário, e fez uma
amizade determinante: Steve Wozniak, o menino prodígio da tecnologia que
compunha a faceta design da equipe fundadora da Apple. Jobs desempenhou
o papel de visionário, levando os produtos a alturas cada vez maiores. A
Apple Computer Company foi formada em 1976 (segundo as histórias, na
garagem da família Jobs) e teve seu primeiro sucesso real com o computador
Apple II, no início de 1977.
Provavelmente é difícil superestimar o impacto do Apple II na computação
doméstica. Lembro-me bem disso desde minha juventude, tanto jogando
videogame quanto aprendendo a escrever códigos em Basic, fazendo meus
próprios programas. Foi uma máquina marcante que revolucionou a forma
como incorporamos a tecnologia às nossas vidas.
A essa altura, todas as características da personalidade de Jobs haviam
ficado evidentes. Para começar, ele tendia a excentricidades, e até mesmo o
que os psicólogos às vezes chamam de “pensamento mágico” (crença em
fenômenos que não são sustentados pela ciência). Era um vegetariano radical
que acreditava que isso eliminava a necessidade de banhos. Tinha opiniões
fortes e podia ser brutalmente crítico em relação aos outros, às vezes
humilhando-os em público. Alguns relatos sugerem que Jobs roubou a
parcela do sócio Steve Wozniak de um bônus antecipado pelo trabalho de
ambos, embora Jobs tenha negado. Quando não conseguia o que queria,
tinha acessos de raiva. Jobs foi um visionário incrível e também um
perfeccionista, mas algumas de suas visões resultaram em projetos estranhos
para produtos que não funcionaram tão bem. Por exemplo: por insistência de
Jobs, os primeiros Macintosh não tinham teclas de controle do cursor ou um
disco rígido interno, limitando muito sua memória. Alguns o acusaram de
assumir o crédito pelas ideias de outros. Ele era conhecido por criar um
“campo de distorção da realidade” no qual conseguia convencer outras
pessoas de ideias delirantes e fazê-las parecer razoáveis, e elas recuperavam o
bom senso quando ele partia.
Computador Apple II, Museu da História do Computador.
Jobs também podia ser incoerente na vida pessoal. Talvez o exemplo mais
famoso envolva a primeira filha, Lisa, que ele inicialmente rejeitou, apesar de
um teste de DNA provando a paternidade com 94,4% de certeza. Jobs a
reconheceu quando ela estava no ensino fundamental, mas o grau do seu
envolvimento continua sendo um assunto controverso. Os relatos de Lisa às
vezes o retratam como insensível, incoerente e mesmo inadequado, embora
outros parentes contestem isso. [ 338 ]
Esse estilo de personalidade, combinando visão grandiosa e paixão com
liderança áspera e incoerente, além de crenças excêntricas, não é bem
descrito na literatura psicológica. Evoca elementos de diversos transtornos de
personalidade, como narcisista, esquizotípico (aqueles que tendem a endossar
crenças bizarras e têm habilidades sociais inadequadas) e obsessivo-
compulsivo, sem se encaixar confortavelmente em nenhum deles. Embora as
comparações diretas sejam muitas, ecos do estilo de gestão de Jobs às vezes
podem ser encontrados em descrições de outros líderes visionários, como Jeff
Bezos, [ 339 ] da Amazon, ou Elizabeth Holmes, uma inovadora que
prometeu que sua empresa Theranos revolucionaria os exames de sangue,
mas acabou indiciada por fraude. [ 340 ] Quando bem-sucedidas, essas
personalidades inerentemente iconoclastas podem revolucionar setores
inteiros, tornando-se heróis. Mas a probabilidade é que, na maioria das
vezes, tenhamos conhecimento apenas dos casos de sucesso, e que na maioria
deles a liderança visionária provavelmente destrói e queima (embora não de
forma tão dramática como no caso de Holmes). Esse estilo de liderança é
algo como uma jogada impossível no último instante. Quando funciona, é
incrível. Porém, na maioria das vezes, não funciona.
Em 1985, em disputa com outros executivos da Apple, Jobs foi forçado a
deixar a empresa que ajudara a criar. Foi um golpe pessoal devastador para
Jobs, mas também o levou a se reinventar. Ele fundou a NeXT Computers,
mas seus produtos caros, embora pioneiros, não conseguiram encontrar um
mercado consumidor. Jobs teve muito mais sucesso com a Pixar,
principalmente quando a empresa começou a fazer filmes de animação
charmosos como Toy Story.
Durante os anos sem ele, a Apple começou ter dificuldades. Em 1997, em
queda livre, a Apple comprou a NeXT, trazendo Jobs de volta à empresa que
ajudara a fundar e da qual fora afastado. Essa segunda etapa desencadeou
uma das fases mais brilhantes da vida dele e do desenvolvimento da Apple.
Embora alguns erros tenham sido cometidos, Jobs corrigiu a linha
complicada do Macintosh com a criação do iMac. Ao longo da década e
meia seguintes, a Apple lançou o dispositivo de música iPod, o iTunes, que
mudou o sistema de distribuição de música de álbuns completos para canções
isoladas, o onipresente iPhone e o iPad. Em última análise, Jobs
desempenhou um papel importante em revolucionar a forma como usamos
computadores, assistimos a filmes, ouvimos música e nos comunicamos.
Talvez ele fosse louco a seu modo, e certamente suas relações com os outros
eram muitas vezes tensas, mas ninguém pode dizer que é um histórico ruim
para um inventor.
Jobs se casou com Laurene Powell em 1991 e o casal teve vários filhos.
Entre o sucesso com o renascimento da Apple e o estabelecimento de uma
vida familiar, Jobs parecia ter tudo. No entanto, em 2003 ele foi
diagnosticado com câncer no pâncreas. A princípio, resistiu ao tratamento e
não revelou sua doença publicamente, escolhas que causaram polêmica.
Quando diagnosticado pela primeira vez, Jobs rejeitou a cirurgia em favor de
tratamentos alternativos, dieta e acupuntura. Embora o medo da cirurgia
obviamente seja natural, Jobs teve um raro câncer de crescimento lento, e a
cirurgia, se feita cedo, poderia tê-lo salvado. Naturalmente, nunca poderemos
ter certeza. Jobs enfim procurou tratamentos médicos convencionais, mas o
câncer progrediu. Ele morreu em outubro de 2011, deixando um legado de
revoluções incríveis e relações pessoais e profissionais intempestivas.
Homens da elite e seu desprezo pelos direitos das mulheres
Em outubro de 2017, vieram à tona alegações graves de que o famoso
produtor de Hollywood, Harvey Weinstein, era responsável por diversos
casos de agressões sexuais e estupros de aspirantes a atrizes ao longo de
décadas. Em muitos casos, pessoas ao redor de Weinstein foram acusadas de
cumplicidade ou de, pelo menos, ter conhecimento das agressões e não se
manifestar. [ 341 ] Produtor de muitos filmes famosos, como Pulp Fiction e
Shakespeare apaixonado, Weinstein seria acusado por dezenas de mulheres e
indiciado por agressão sexual e estupro (quando este texto era escrito). As
vítimas contaram histórias assustadoras sobre serem atraídas a reuniões
particulares com Weinstein relativas a assuntos profissionais, apenas para
serem apalpadas ou forçadas a praticar sexo. Muitas temeram que suas
carreiras fossem arruinadas caso rejeitassem os avanços sexuais de Weinstein.
[ 342 ]
As acusações contra Weinstein não foram as primeiras a atingir a indústria
do entretenimento. Nos últimos meses e anos, outros homens famosos do
setor, como Bill O’Reilly e Bill Cosby, também foram acusados de assédio
sexual ou, no caso de Cosby, uma longa sequência de estupros bizarros.
Cosby, a amada figura paterna de The Cosby Show, foi acusado e condenado
em 2018 por drogar e estuprar mulheres inconscientes, com acusações
remontando à década de 1960. [ 343 ] Esse modus operandi específico levou à
especulação de que Cosby poderia ter sonofilia, ou “Síndrome da Bela
Adormecida”, uma preferência por sexo com parceiros inconscientes. [ 344 ]
Mas o caso Weinstein desencadeou uma série mais ampla de acusações a
dezenas, talvez centenas, de homens de destaque na indústria do
entretenimento, no jornalismo, na política e nos negócios. Acusações de
agressão sexual por parte de vários homens de alto perfil lançaram o que foi
chamado de movimento #MeToo e criaram a consciência da presença
contínua de ameaças sexuais na vida das mulheres.
Compreender esse fenômeno é difícil. O quão comum é a agressão sexual
(uma categoria ampla de comportamentos que variam de toques sexuais
indesejados até estupro) em ambientes de elite, e o que isso diz sobre as
relações de gênero de forma mais ampla? Alguns observadores sugeriram,
com razão, que a agressão e o assédio sexual podem ser no mínimo mais
comumente experimentados por mulheres em setores de serviços, como
funcionárias de bares ou restaurantes. Eu sou otimista o suficiente para
acreditar que a maioria dos homens fica chocada com as revelações de
agressões e assédios sexuais generalizados experimentados por mulheres.
Embora algumas mulheres cometam agressões sexuais, os homens superam
amplamente as mulheres como perpetradores. [ 345 ] Isso sugere que há uma
especificidade de gênero na agressão sexual.
Muitas discussões contemporâneas se concentram nas causas sociais de
agressão sexual, patriarcado e “cultura do estupro”. No entanto, por mais
populares que sejam, são difíceis de comprovar. Estupro não é específico de
uma cultura, e nem mesmo específico dos seres humanos; estupro (ou
comportamentos análogos) são vistos em muitas outras espécies animais,
desde insetos até mamíferos. [ 346 ] Os patos, por exemplo, são notórios
estupradores, então não se sinta culpado da próxima vez que tiver a
oportunidade de comer canard a l’orange. [ 347 ] Embora a agressão sexual seja
mais comum entre os homens do que entre as mulheres, a maioria dos
homens não se envolve em agressões sexuais nem aprova outros homens que
o fazem (mesmo que muitas vezes ignorem a extensão das experiências das
mulheres).
As explicações biológicas para o comportamento de estupro, portanto,
parecem ser evidentes. Esses argumentos são complexos, claro, mas
basicamente se resumem ao que poderia ser chamado de argumento dos “pais
e pilantras”. [ 348 ] Essa abordagem teórica sugere que as melhores chances de
o macho ter sucesso reprodutivo vêm de garantir parceiras românticas
consensuais e contribuir para o bem-estar da descendência resultante. Estes
são os “pais”. Mas um pequeno número de homens (os “pilantras”) é incapaz,
socialmente ou por temperamento, de obter sucesso nessa abordagem. Esses
homens talvez não apresentem as qualidades sociais para cortejar as mulheres
rumo ao consenso, ou podem simplesmente ser antissociais. Embora para os
homens o sexo por consentimento seja mais eficiente na reprodução de seus
genes, as mulheres certamente podem engravidar por meio de estupro e,
portanto, a motivação para o estupro pode ser passada de geração a geração
entre um pequeno número de homens. A maioria das pessoas não gosta de
pensar em sexo ou estupro em termos biológicos reducionistas, mas minha
sensação é de que as melhores evidências apontam nessa direção. Mais uma
vez, para deixar claro, esta é apenas uma explicação biológica para o motivo
do estupro, com base nos dados disponíveis. De maneira alguma significa
que o estupro é aceitável, desejável ou que não merece punição quando
ocorre.
Quanto ao motivo para parecer haver maior concentração de agressões
sexuais entre os homens da elite, vale repetir que, mesmo entre as elites, a
maioria dos homens não é agressiva. No entanto, como já vimos neste livro, o
poder tende a atrair certos tipos de personalidade relacionados a narcisismo e
com traços antissociais. Portanto, a associação da invulnerabilidade que vem
com o status de elite e o fato de que tal status tende a atrair homens mais
intrinsecamente insensíveis poderia tornar as agressões sexuais mais
pronunciadas entre homens da elite.
Resumindo até agora: o estupro e a agressão sexual provavelmente têm
muitos determinantes biológicos e de personalidade, mas também podem
prosperar em ambientes sociais nos quais o relato de estupro (e, portanto, a
dissuasão) é desencorajado ou punido. A maioria dos homens não comete
agressões sexuais nem as aprova, mas, vivendo diferentes experiências sociais
e emocionais, pode ignorar o grau em que as mulheres experimentam
ameaças sexuais em seu cotidiano. Assédio sexual e agressão claramente
ocorrem em índices muito mais altos do que a maioria de nós, homens,
poderia imaginar, e os homens de boa fé precisam se unir às nossas amigas,
parentes, sócias e cônjuges para garantir que haja um claro clima de dissuasão
em relação ao comportamento sexual impróprio. Continuo otimista de que
isso é inerentemente factível e que a maioria das pessoas — homens ou
mulheres — o deseja.
Mas então acontece uma guinada. Algumas vezes digo que todos os
movimentos acabam sendo definidos por seus elementos mais ruidosos e
menos racionais. Esse tem sido um problema que assola o feminismo há
décadas (e, para deixar claro, eu me identifico como feminista). Os objetivos
práticos do feminismo — salários iguais, proteção contra a violência, maiores
oportunidades para as mulheres nos negócios, no entretenimento e na
política — são todos valiosos e provavelmente gozam de apoio popular. Mas
o lado acadêmico do feminismo às vezes se permite ser prejudicado por
sistemas ideológicos rígidos que, pode-se dizer, tornam mais fácil retratar
todo o movimento como “agressão aos homens”. Mais uma vez, não estou
dizendo que o feminismo agride os homens, mas que as declarações públicas
impensadas e os tratados acadêmicos de alguns perpetuam essa imagem. [ 349
] E, assim, muitas pessoas adotam o clichê: “Não sou feminista, mas…”
quando obviamente apoiam os objetivos práticos do feminismo, mas rejeitam
o rótulo.
Da mesma forma, o movimento #MeToo causou polêmica quando alguns
indivíduos deram declarações parecendo não ter interesse no devido processo
legal para os acusados de má conduta sexual. Uma das declarações mais
polêmicas foi a da jornalista da Teen Vogue Emily Linden, que tuitou:
“Desculpem. Se as reputações de alguns homens inocentes tiverem de ser
abaladas no processo de derrubar o patriarcado, esse é um preço que eu
decididamente estou disposta a pagar.” Embora não sejam representativos do
movimento #MeToo como um todo, esses comentários receberam muita
atenção. Eles são, sem dúvida, uma reação irada à falta de devido processo
legal que as vítimas femininas de agressão sexual masculina experimentam
desde o início dos tempos, mas mesmo assim prejudicaram o movimento
#MeToo ao retratá-lo como mais interessado em linchamento que em
justiça.
As acusações de agressão sexual contra várias mulheres poderosas também
complicaram a história (embora deva ser notado que elas têm tanto direito ao
devido processo legal quanto os homens acusados). Ironicamente, entre elas
estava Asia Argento, uma das primeiras atrizes a acusar Weinstein de
estupro. [ 350 ] Mesmo que essas acusações contra mulheres sejam
verdadeiras, o fato de que algumas mulheres cometem violência sexual não
justifica o comportamento de muitos homens que fazem o mesmo. Mas
chama a atenção para a tendência de que os movimentos sociais, sobretudo
aqueles movidos pela emoção, têm de construir narrativas simplistas e muitas
vezes tropeçar quando elas se tornam mais complexas.
Em 2018, as audiências no Senado de confirmação da indicação do juiz da
Suprema Corte dos Estados Unidos, Brett Kavanaugh, dividiram ainda mais
as opiniões. Kavanaugh era conhecido como um juiz conservador e,
previsivelmente, sua nomeação dividia conservadores e liberais nos Estados
Unidos. Quando estava prestes a ser confirmado, foi acusado por várias
mulheres, principalmente a dra. Kristine Blasey Ford, de agressões sexuais
quando estudante universitário (1982, no caso da dra. Ford). Mais uma vez,
o país ficou dividido sobre a questão de se alegações de agressão sexual são
intrinsecamente verdadeiras ou se o acusado merece em algum grau o
benefício da dúvida até que as alegações possam ser investigadas.
Harvey Weinstein e Asia Argento. Argento foi uma das muitas mulheres a acusar Weinstein de agressão
sexual, apenas para ser acusada ela mesma de assediar um menor do sexo masculino. Fotos: Georges Biard.
E
m 23 de agosto de 1899, a manchete de um artigo no New York
Times proclamou: “Imperador da China insano.” Infelizmente, o
texto que se seguia não era muito mais longo do que o título; além
da alegação de que o imperador havia desenvolvido sintomas de demência, o
leitor recebe poucas informações adicionais. Presumivelmente o imperador
em questão era o imperador Guangxu, à época com apenas 24 anos,
bastante jovem para sofrer de demência. No final do século XIX, a China
parecia estar em declínio perpétuo, em grande medida à mercê das potências
imperiais europeias, bem como do Japão, e tomada por corrupção e um
governo caótico. No momento da manchete do Times, o imperador
Guangxu estava efetivamente sendo colocado em prisão domiciliar por sua
tia poderosa, a imperatriz viúva Cixi, que se opunha aos seus esforços de
reforma. Nove anos depois, ele foi assassinado: envenenamento por
arsênico, provavelmente também por sua tia. [ 357 ] Portanto, devemos ver
com ressalvas a conveniente alegação de sua demência atipicamente precoce.
Mas o que exatamente é demência, como ela difere de outras formas de
loucura e como influencia o comportamento dos poderosos?
Ao longo da maior parte do livro até agora, estudamos a loucura causada
na maioria dos casos por distúrbios de personalidade, bem como alguns
infelizes presos em posições de autoridade ou influência apesar da presença
de doença mental debilitante. A demência, por outro lado, se refere a
doenças cerebrais orgânicas tipicamente graduais, na maioria dos casos
irreversíveis e cada vez mais prejudiciais. A maioria dos casos de demência,
como os causados pela doença de Alzheimer, ocorre em idade avançada, mas
algumas doenças específicas, como a doença de Huntington, ou mesmo a
sífilis não tratada, [ 358 ] podem causar demência mais cedo.
Crânio demonstrando destruição óssea causada por sífilis não tratada. Foto: Joseph Bryant e Albert Buck.
De orelhada
Sim, estamos prestes a discutir Vincent van Gogh. Van Gogh é famoso por
duas coisas: em primeiro lugar, por ser um dos pintores mais talentosos do
final do século XIX e, em segundo, por cortar parte de sua orelha e dá-la a
uma prostituta de quem gostava. É difícil dizer por qual das duas ele se
destaca.
A curta vida de Van Gogh (ele morreu com cerca de 37 anos) foi marcada
por dor e caos extraordinários. Começou a vida como uma criança rebelde,
depois do que as coisas só pioraram. Nunca tendo sido muito bem-sucedido
com as mulheres (acontece que as meninas não gostam de orelhas como
presentes), ele costumava ficar sozinho, isolado e desanimado. Sobreviveu
principalmente graças à boa vontade do irmão Theo, que sempre acreditou
no incrível talento de Vincent, mesmo que às vezes fosse difícil lidar com
ele.
A questão de Van Gogh não era, estritamente falando, demência no
sentido mais puro (veremos alguns exemplos disso mais adiante neste
capítulo). Mas seus problemas diziam respeito a uma ampla sobreposição de
doença mental tradicional e distúrbio neurológico exacerbado pelo abuso do
poderoso, mas popular, absinto. Assim, vale a pena estudar aqui seu declínio
neurológico e psiquiátrico.
Em primeiro lugar, é importante destacar que Van Gogh era um
indivíduo com muitas qualidades. Obviamente, era um artista
excepcionalmente habilidoso. Sustentou uma afinidade emocional com o
irmão, apesar da relação às vezes turbulenta. E manteve consciência e um
À
profundo anseio emocional e espiritual ao longo da vida. À medida que
investigamos o lado sombrio de Van Gogh, é importante lembrar que ele era
um indivíduo complexo e multifacetado. [ 362 ]
Dito isso, a vida de Van Gogh foi envolta em considerável escuridão. Ele
se apaixonou várias vezes por mulheres que tinham pouco interesse nele, e
as rejeições o lançavam no abismo. Compreensivelmente, teve melhor sorte
com as prostitutas, embora isso fosse um escândalo para sua família. Ele
costumava ser negligente com a própria higiene pessoal, tinha acessos de
raiva, mergulhava em depressões profundas e experimentava delírios
paranoicos e alucinações aterrorizantes.
Também tinha convulsões, particularmente as chamadas convulsões
parciais complexas, que tendem a resultar de lesões localizadas no cérebro.
Elas, em geral, não causam a perda total de consciência e os espasmos
musculares violentos vistos nas convulsões clônico-tônicas mais dramáticas.
Em vez disso, os indivíduos com crises parciais complexas podem parecer
desorientados ou inconscientes de seu ambiente, ter comportamentos
estranhos ou despropositados, apresentar sintomas psicóticos e não ter
consciência ou lembrança do que ocorre durante a crise.
No caso de Van Gogh, os sintomas de epilepsia eram agravados pelo
consumo regular de absinto, uma bebida alcoólica europeia popular e há
muito suspeita de causar convulsões. Recentemente, essa crença foi
contestada em estudos científicos. [ 363 ] No entanto, deixando de lado a
singularidade do absinto, o grande volume de álcool ingerido por Van Gogh
quase certamente contribuiu para seu declínio neurológico. Suas cartas
sugerem que os episódios de convulsões e transtornos de humor estavam
associados a períodos de maior consumo de absinto. Ou, dito de outra
forma, o consumo excessivo de álcool sem dúvida piorou uma situação
neurológica delicada.
Apesar de seu talento, Van Gogh não foi um sucesso em vida.
Estabelecendo um modelo para artistas trágicos posteriores, sua arte só ficou
famosa após sua morte. [ 364 ] O incidente mais famoso da vida de Van
Gogh ocorreu durante um delírio significativo. Van Gogh morava com o
pintor Paul Gauguin e, previsivelmente, os dois tiveram uma violenta
desavença. Quando Gauguin saiu de casa certa noite, Van Gogh o seguiu de
modo ameaçador com uma navalha aberta. Após ser mandado embora, Van
Gogh foi para casa e cortou parte do lóbulo da orelha esquerda, que então
deu de presente à sua prostituta favorita, uma mulher presumivelmente
assustada chamada Rachel. Na manhã seguinte, ele foi levado ao hospital,
onde afirmou não ter nenhuma lembrança do incidente.
Woodrow e Edith Wilson, que pode efetivamente ter atuado como presidente não reconhecida dos Estados
Unidos durante algum tempo.
N
o sul dos Estados Unidos pré-guerra, na década de 1850, os
médicos depararam com uma doença mental peculiar nunca antes
descrita nos manuais médicos. Especificamente, contra toda lógica
e toda razão, e para a perplexidade dos médicos do Sul, alguns escravos
negros estavam jogando fora suas ferramentas e fugindo do trabalho na
esperança de chegar ao Norte não escravista. Dado que — como se pensava
na época — os escravos negros claramente estavam em seu lugar e se
beneficiando da segurança e da orientação de seus senhores brancos, essa
motivação irracional para fugir só poderia ser explicada como doença mental.
Assim, um médico sulista, Samuel Cartwright, publicou detalhes sobre a
condição que chamou de “drapetomania” ou, essencialmente, o desejo
irracional que os escravos sentiam de fugir. [ 397 ]
Tecnicamente, na época o transtorno de fato atendia aos critérios
ostensivos que usamos para julgar quando um comportamento é uma doença
mental. Era desviante, significando que violava as convenções sociais
(brancas) predominantes de comportamento “normal”. O comportamento
envolvia um sinal evidente de angústia. E era mal adaptável, considerando os
riscos significativos que os escravos negros corriam ao adotar esse
comportamento. Cartwright acreditava que os senhores de escravos brancos
muito tolerantes ou muito cruéis provavelmente veriam um aumento na
incidência do comportamento entre seus escravos, e recomendava o chicote
como tratamento. [ 398 ] Os profissionais de medicina do Norte zombaram
do diagnóstico absurdo de Cartwright, e um deles sugeriu sarcasticamente
que também poderia se aplicar a alunos que fugiam das chicotadas do
diretor. [ 399 ] Ainda assim, ele teve algum apelo com os sulistas da época,
para os quais servia como uma narrativa social conveniente.
Retrospectivamente, podemos rir ou nos envergonhar com a drapetomania
como uma noção pseudocientífica obviamente ridícula e racista. Mas ela
também serve como um aviso: o que consideramos loucura muitas vezes é
moldado pela política, pela história e pelas narrativas sociais. A própria
loucura é uma questão política, e politizada. Qual o papel do governo no
tratamento ou acolhimento dos doentes mentais, e como ele equilibra o
devido processo legal com a necessidade evidente de proteger a sociedade dos
loucos perigosos? O modo como definimos e classificamos as doenças
mentais, e nosso sistema para fazer isso (seja o DSM da American
Psychiatric Association ou o ICD da Organização Mundial de Saúde), é
baseado em ciência sólida ou diz mais respeito a narrativas sociais e falácias?
Será que invocar a loucura distrai a sociedade de debates práticos, como o
controle de armas nos Estados Unidos, ou simplesmente isenta pessoas
horríveis de sua responsabilidade pessoal?
No capítulo dois, nós analisamos como a loucura foi tratada ao longo da
história (na maioria das vezes mal) e as polêmicas sobre a confiança moderna
nas intervenções farmacêuticas. Neste capítulo, estudamos a própria política
da loucura. Investigamos diferentes abordagens da loucura pelos governos,
desde o uso de manicômios até o movimento antimanicomial da década de
1960 e suas consequências. Estudamos a interseção entre loucura e crimes
violentos, e como prisões e cadeias se tornaram as principais instâncias de
prestação de serviços de saúde mental. Analisamos o papel da loucura em
fuzilamentos em massa e terrorismo, acontecimentos que causam medo não
apenas nos Estados Unidos (embora tenhamos abundância especialmente
dos primeiros), mas em todo o mundo. Nós nos debruçamos sobre os
sistemas modernos de classificação, como o DSM e o ICD, e analisamos em
que grau eles refletem a realidade da doença mental. E consideramos
algumas opções de como melhorar.
Vá embora!
Certo, então vamos reconhecer que, além de alguns breves momentos de
reforma, a era do confinamento foi em grande medida um show de horrores.
Certamente qualquer mudança seria bem-vinda, e o governo não poderia
estragar as coisas ainda mais, não é? Nunca desafie o governo quanto a isso!
A desinstitucionalização começou nos Estados Unidos na década de 1950
e prosseguiu até a década de 1960 com movimentos abruptos no plano
jurídico e no profissional. Isso aconteceu nos níveis federal e estadual, com os
governos preocupados com o desperdício de dinheiro novo depois do
dinheiro ruim perdido com os manicômios. Ao mesmo tempo, a justiça
começou a se preocupar mais com o devido processo legal para os doentes
mentais. A desinstitucionalização deveria ter duas partes. Em primeiro lugar,
tirar as pessoas dos asilos. Em segundo lugar, transferi-las para um sistema
de saúde mental comunitário que assumiria o trabalho dos asilos. Ah, e não
se esqueça de financiar a segunda parte com dinheiro de impostos; não
vamos nos esquecer dessa segunda parte muito importante.
A ideia toda fazia parte de algo chamado Lei de Saúde Mental
Comunitária. [ 410 ] Pode-se dizer que houve dois obstáculos imprevistos
(bem, três, se você incluir a questão dos impostos) na transferência dos
doentes mentais para centros comunitários. Primeiramente, ninguém os
queria. Esse é um fenômeno às vezes chamado de “Não no meu bairro” ou
“Não no meu quintal”. Os centros comunitários de saúde mental foram
concebidos como instalações menores e mais abertas que funcionariam para o
público geral, ao contrário dos grandes asilos isolados semelhantes a prisões.
Os centros comunitários de saúde mental podiam ter de tudo, desde casas de
recuperação a instalações residenciais semelhantes a escolas. As
comunidades, particularmente as mais ricas, barraram a construção desses
centros comunitários de saúde mental. E, sendo honestos, podemos culpá-los
inteiramente? Mesmo supondo que isso não aumentasse a ocorrência de
crimes na área (chegaremos a isso em breve), ainda era provável que fosse
reduzir o valor dos imóveis. Portanto, embora as pessoas possam apoiar
centros de saúde mental em termos abstratos, ficam nervosas quando o valor
de suas casas é ameaçado. Eu entendo; também tenho uma hipoteca. [ 411 ]
Mas a outra questão é que o novo sistema criou uma trama burocrática
confusa. Os asilos meio que tinham uma vantagem no sentido de que os
serviços prestados ficavam todos sob um mesmo teto e nunca se esperava que
os doentes mentais desempenhassem um papel de coordenação. Mas de
repente a pessoa poderia ter um assistente social e um psiquiatra, morar em
uma instalação comunitária, precisava ir ao tribunal para monitoramento e
talvez lidar com seguro-saúde ou seguridade social. E, claro, cada uma dessas
instituições pode fazer um péssimo trabalho ao se comunicar com as outras
(pense na última vez em que você passou por um procedimento médico que
exigiu uma ida ao hospital e toda a organização necessária). Isso
provavelmente seria frustrante para qualquer um de nós; agora tente
imaginar fazer isso com esquizofrenia.
Como resultado, a maioria das pessoas concorda que foi um fracasso
espetacular transferir as pessoas dos asilos para qualquer tipo de sistema de
saúde mental comunitário funcional. Em vez disso, muitos indivíduos com
doenças mentais antes internados se tornaram desabrigados, encarcerados ou,
em alguns casos, morreram por negligência. [ 412 ] Não estou dizendo que
ninguém ficou bem ou até mesmo melhorou, e alguns poucos sortudos
podem ter sido recebidos de volta pela família. Mas em geral o resultado foi
muito ruim.
Quantos foram afetados? É difícil encontrar boas estimativas, mas em
1987 um estudioso especulou que talvez um milhão e quinhentas mil pessoas
com doenças mentais crônicas foram efetivamente abandonadas na transição
entre os asilos e os centros comunitários de saúde mental em grande medida
inexistentes durante um período de vinte anos. [ 413 ] Outra avaliação coloca
a população dos asilos nos Estados Unidos em seu auge em cerca de meio
milhão. [ 414 ] Em qualquer noite, há cerca de 550 mil pessoas sem-teto nos
Estados Unidos, menos do que em décadas passadas, o que é uma boa
notícia. [ 415 ] No entanto, talvez um terço desses indivíduos seja composto
por doentes mentais crônicos. [ 416 ] Portanto, essa é a população-alvo agora:
pessoas que provavelmente se beneficiariam de algum tipo de moradia
estruturada, digna e humana, mas em vez disso ficaram sem nada.
Além da falta de moradia, a desinstitucionalização às vezes é chamada de
“transinstitucionalização”, na medida em que muitos dos doentes mentais
crônicos simplesmente se mudaram de hospitais estaduais para prisões e
cadeias. Na verdade, os estabelecimentos correcionais são muitas vezes hoje
os maiores fornecedores de cuidados de saúde mental nas regiões em que
operam. [ 417 ]
Pode-se dizer que o desenvolvimento de novos medicamentos para o
tratamento de psicose e outros quadros de saúde mental desempenhou um
papel no movimento de desinstitucionalização. Essas drogas eram a promessa
(provavelmente exagerada) de que os indivíduos poderiam retornar à “vida
real” desde que continuassem tomando a medicação. Essa perspectiva deixava
de considerar dois fatos: primeiro, que os medicamentos tratavam
principalmente alguns sintomas, mas não outros, e, segundo, que muitas
vezes tinham efeitos colaterais graves que desencorajavam o uso contínuo. O
grau em que os laboratórios farmacêuticos impulsionaram a
desinstitucionalização é controverso, e os movimentos em direção à
desinstitucionalização haviam começado antes do surgimento dessas drogas. [
418 ] Após a Segunda Guerra Mundial, muitos estados norte-americanos
fizeram experiências com clínicas comunitárias para complementar as
internações hospitalares. No entanto, muitos pacientes foram readmitidos,
sugerindo que a transição para os cuidados comunitários muitas vezes não
funcionou muito bem. Mas esses problemas continuaram após 1954, quando
os medicamentos antipsicóticos se tornaram amplamente disponíveis. [ 419 ]
Foi apenas na década de 1960 que a população de internados começou a
diminuir nos Estados Unidos.
Muito da motivação parece ter sido político. Um relatório governamental
de 1961, a Joint Commission on Mental Illness and Health (Comissão
Conjunta de Doença Mental e Saúde), desencorajou a construção de
quaisquer outros grandes hospitais estaduais. Foi recomendado um maior
investimento federal em um sistema de saúde mental comunitário. O
presidente Kennedy endossou com um discurso em 1963. Em 1980, a
população dos asilos estaduais havia diminuído de cerca de 550 mil para
cerca de 140 mil. [ 420 ] Um detalhe: a iniciativa federal esqueceu de incluir
qualquer mecanismo para a transferência direta de cuidados dos hospitais
estaduais para um sistema comunitário de saúde mental. Com muita
frequência, as pessoas eram liberadas de hospitais estaduais e recebidas de
braços abertos por, bem, nada.
As pessoas falam muito sobre a importância de reformar o sistema de
cuidados de saúde mental. E tem havido algumas melhorias, como
considerar as síndromes de saúde mental como equivalentes a condições de
saúde física para o reembolso pelas seguradoras. Mas, muitas vezes, não passa
de conversa. A reforma envolveria dinheiro de impostos, uma burocracia
funcional e ciência para determinar o que funciona e o que não funciona.
Também exige um equilíbrio cuidadoso entre o devido processo legal e a
necessidade de confinamento. Será necessário retornar ao sistema de asilos?
Honestamente, é provável que sim, mas não um retorno aos asilos brutais do
passado. Qualquer sistema de confinamento deve funcionar com base no
princípio do ambiente menos restritivo — as pessoas devem ser confinadas
apenas o minimamente necessário para ter bem-estar e receber cuidados —,
em condições humanas, com equipe bem-treinada e remunerada e com
processos legais claros e supervisão judicial. Isso, é claro, exigiria dinheiro, e a
população dos Estados Unidos não se empolga nem com impostos nem com
burocracia. Então, veremos.
Curiosamente, a reforma da saúde mental muitas vezes começa a ser
discutida após acontecimentos trágicos violentos, particularmente homicídio
em massa. Esse é outro tipo de jogo bizarro que as pessoas fazem com as
doenças mentais. Até que ponto a doença mental está associada à violência
na sociedade? E até que ponto as pessoas aventam isso (juntamente com
coisas sem sentido, como videogames) para distrair a população de outras
questões, como controle de armas?
Definindo doença
Como vimos no início do capítulo, definir doença mental é um processo
político/social. A psiquiatria sempre teve dificuldade em categorizar as
doenças mentais. Isso não quer dizer que a doença mental não exista como
algo real, e sim que seus limites tendem a ser mais cinzentos e mais fluidos
do que em muitas doenças físicas. Por exemplo, uma doença como gripe ou
câncer pode ser atribuída diretamente a certos biomarcadores ou agentes
biológicos, como um vírus ou células danificadas. A maioria das doenças
psiquiátricas não tem nada equivalente. Não há exame de sangue para
depressão ou raio-X que possa dizer se seus pensamentos são normais ou
desviantes. E isso tende a tornar a psiquiatria mais confusa. No extremo, a
psiquiatria foi acusada de transformar muitos sentimentos e comportamentos
normais em patologias e lucrar com isso. Vamos examinar esse problema.
A psiquiatria (assim como a psicologia) só surgiu como profissão no final
do século XIX, em grande parte em função dos médicos que ajudavam a
administrar asilos. Nessa fase inicial, a psiquiatria foi fortemente influenciada
pelo pensamento freudiano, com inveja do pênis, complexos de Édipo e todo
tipo de absurdo semelhante. Para ser justo, a teoria freudiana tem algumas
observações interessantes sobre a natureza humana, como os mecanismos de
defesa de negação e racionalização. No entanto, diagnosticar pessoas com
base nessa abordagem tendia a ser caótico, na melhor das hipóteses, e
colocava a psiquiatria em uma posição desconfortável em termos de
credibilidade pública. Dois psiquiatras podiam usar termos e diagnósticos
amplamente diversos ao falar sobre o mesmo paciente. Naturalmente, isso
não parecia nem um pouco científico. [ 430 ]
A psiquiatria precisava de uma nomenclatura comum e, em 1952, a
American Psychiatric Association (APA) a criou com o Diagnostic and
Statistical Manual (DSM). O DSM se tornaria uma importante fonte de
renda para a APA, e também uma fonte de polêmica contínua. O DSM
ainda refletia demais as influências freudianas, e foi revisado em 1968. Ainda
assim, continuou a ter problemas de confiabilidade, com os clínicos
discordando sobre o diagnóstico de indivíduos com doenças mentais. [ 431 ]
O psiquiatra Thomas Szasz fez um violento ataque ao próprio conceito de
doença mental, sugerindo que a medicalização do desvio e da angústia era
um caminho falso e que saúde mental não deveria ser confundida com saúde
médica. [ 432 ] O ponto levantado por Szasz era importante, mas no fim foi
amplamente rejeitado pela psiquiatria, que buscou maior credibilidade para
sua profissão na equivalência com os médicos.
O truque da psiquiatria é que, com algumas exceções, a maioria das
doenças mentais não se assemelha a doenças físicas, seja em termos de
limites claros ou em marcadores biológicos identificáveis. Na época do
DSM-II, em 1968, a psiquiatria se aglutinou cada vez mais em torno do
modelo de doença mental como equivalente à doença física, com toda a
conversa sobre neurotransmissores e desequilíbrios químicos com os quais
nos familiarizamos. Mas esse modelo também tem sido criticado por se
apoiar em dados pouco confiáveis, além de ter feito pouco para melhorar os
resultados da saúde mental. [ 433 ] É difícil argumentar que o cérebro não
desempenha nenhum papel na saúde mental, claro, mas algumas pessoas
questionam se doenças mentais são sinônimo de doenças físicas. Contudo,
esse modelo decididamente abriu um caminho lucrativo para a indústria
farmacêutica, e a preocupação com a relação muito íntima entre Big Pharma
e a psiquiatria em geral, e a APA especificamente, persiste desde então. [ 434 ]
Em 1980, a APA publicou o DSM-III, uma tentativa de tornar as
categorias diagnósticas mais rigorosas, confiáveis e baseadas em dados.
Muitas categorias foram alteradas, adicionadas ou excluídas, mas no geral o
número de potenciais condições de saúde mental se expandiu, uma tendência
que continuaria nas versões posteriores do DSM. Em 1987, o DSM-III-R
apresentou uma espécie de correção de curso. Essas novas versões do DSM
forneceram evidências de que, no mínimo, médicos cuidadosamente
formados poderiam alcançar um grau razoável de confiabilidade no
diagnóstico, embora de modo algum perfeito. [ 435 ] No entanto, elas não
resolveram a questão de se tais diagnósticos são reais. Em outras palavras, as
categorias diagnósticas refletiam categorias reais e distintas de transtornos
com condições identificáveis? Ou foram simplesmente votadas por um
comitê, às vezes refletindo os interesses especiais, as visões de mundo e os
preconceitos dos psiquiatras da APA? Não precisamos de um comitê para
nos dizer que a gripe é diferente de antraz, porque as diferentes criaturas
envolvidas são identificáveis ao microscópio. Mas, por exemplo, depressão e
ansiedade tendem a ocorrer simultaneamente e parecer diferentes em pessoas
diferentes. A depressão e a ansiedade são transtornos diferentes, aspectos do
mesmo transtorno, divididas em dezenas de pequenos transtornos individuais
ou alguma outra coisa?
Claro, a homossexualidade é o modelo óbvio para essa confusão.
Originalmente incluída no DSM, a homossexualidade (assim como a
drapetomania) tinha todos os marcadores de uma doença mental. O
comportamento era considerado desviante pela sociedade da época. Pode
causar angústia em pessoas a quem foi ensinado que era moralmente errado.
E o comportamento persiste a despeito das óbvias consequências negativas,
que vão de ostracismo social à prisão ou, em algumas partes do mundo,
execução. Mas aqui podemos ver a questão levantada por Szasz: a
homossexualidade não era uma doença da mesma forma como o câncer de
cólon é uma doença. Isso refletia um conflito moral entre uma sociedade
conservadora e indivíduos que se desviavam dos valores morais dessa
sociedade conservadora. A homossexualidade era uma doença porque a
sociedade queria que fosse uma doença.
Isso não quer dizer que nesse sentido todas as condições mentais são como
a homossexualidade, que finalmente desapareceu por completo do DSM em
1987. Mas podemos ver os problemas com os limites da doença mental. Não
apenas as condições mentais transbordam umas sobre as outras, mas a
fronteira com a normalidade também não é clara. Se eu desenvolvo depressão
porque um parente querido morreu, isso é uma doença ou uma reação
normal a um acontecimento trágico na vida? Se minha personalidade for
estranha e excêntrica (e tenho certeza de que algumas pessoas diriam que é),
isso garante um diagnóstico DSM caso eu seja, apesar disso, funcional? Por
que decidimos que o consumo excessivo de videogames pode ser uma doença
mental, mas o uso excessivo de quase qualquer outra coisa, seja trabalho,
exercícios, dança, compras ou gatos (tente pesquisar na internet por
colecionador de gatos se você acha que estou brincando) não é digno de um
diagnóstico oficial? [ 436 ]
Um dilema central para a psiquiatria é que a maioria dos diagnósticos
continua a ser de construtos votados por comitês e diagnosticados com base
em observações arbitrárias, em vez de testes médicos sensíveis e específicos.
É por isso que condições de saúde mental às vezes parecem surgir e depois
desaparecer milagrosamente nas diferentes versões do DSM. A síndrome de
Asperger, por exemplo, desapareceu do DSM em sua quinta edição, gerando
muita controvérsia. Mas sobretudo surgem novas, já que o número de
diagnósticos aumentou no DSM-IV (lançado em 1994) e no DSM-5
(lançado em 2013 — e sim, eles mudaram para algarismos arábicos). [ 437 ]
Os critérios para transtornos específicos, como TDAH e depressão, em geral
se tornaram mais flexíveis com o tempo, mais uma vez levantando a questão
dos conflitos de interesse financeiros relacionados à possível prescrição
excessiva de agentes farmacêuticos no tratamento. Na quinta edição é
possível que os indivíduos sejam diagnosticados com depressão mesmo que
passem por um trauma significativo na vida, como a perda de um ente
querido. Isso gerou a preocupação de que a APA estivesse continuamente
tornando patológico qualquer comportamento normal da vida para o qual
pudesse ser dado um comprimido.
Na época do DSM-5, mesmo psiquiatras envolvidos no desenvolvimento
de versões anteriores do DSM ficaram preocupados com o exagero da APA,
bem como com a falta de rigor científico. [ 438 ] Outros órgãos profissionais,
como a British Psychological Society, escreveram artigos criticando
abertamente o DSM-5. [ 439 ] Obviamente as opiniões variam, mas minha
sensação é a de que, pelo menos entre meus colegas psicólogos, as categorias
do DSM não são exatamente “reais”. Certamente a doença mental existe,
mas as categorias do DSM são, na melhor das hipóteses, aproximações
grosseiras e muitas vezes problemáticas, com uma tendência a tornar
patológicos comportamentos normais. Então, se é tão ruim, por que
continuamos usando?
A resposta é simples: reembolso de seguro. Para psicólogos, psiquiatras e
outros terapeutas que buscam reembolso por tratamento, um código de
diagnóstico DSM é necessário para receber. Isso coloca a APA na posição
incomum de ter uma espécie de monopólio de fato sobre a relação entre
terapeutas e seguradoras. Os terapeutas precisam comprar o DSM se quiserem ser
reembolsados pela terapia. Entre os pesquisadores, as categorias do DSM
também fornecem uma linguagem útil para organizar os conceitos de
pesquisa. Pesquisar “transtorno de personalidade limítrofe” parece muito
melhor do que pesquisar “pessoas tensas que ficam mal-humoradas e têm
reações exageradas”. O DSM cria uma ilusão de categorias de doença mental
passíveis de definição, o que é mais palatável do que as fronteiras mutáveis e
confusas entre as doenças mentais, bem como entre a patologia e a
normalidade que provavelmente é a realidade.
Então aí está. Uma doença mental é literalmente decidida por um comitê.
Isso significa que as doenças mentais tendem a ocupar um terreno lamacento
entre as condições reais do cérebro, comportamento e personalidade, e as
construções sociais sobre o que é desejável e o que não é. Consequentemente,
temos condições absurdas, variando de homossexualidade a vício em jogo,
mas também confusão sobre se, digamos, a criança estranha e socialmente
isolada tem uma condição que pode ser tratada ou é apenas um pouco
estranha. O que se torna um diagnóstico continua a ser muito político,
influenciado pela pressão social e política (lembrem-se da Organização
Mundial da Saúde identificando a pressão política como influência para sua
categoria de transtorno do jogo), potenciais conflitos de interesse financeiros,
pensamento de grupo e falta de ceticismo por parte dos membros da APA.
Infelizmente, não há um caminho fácil para sair disso. A OMS tem a
International Classification of Diseases (ICD), mais utilizada fora dos Estados
Unidos. Não acredito que sua abordagem das doenças mentais seja muito
melhor que a do DSM, especialmente porque os dois tendem a ser ligados
em um alto grau. O National Institutes of Mental Health (NIMH, como no
filme Secret of NIMH) está desenvolvendo um Research Domain Criteria
(RDC) de base biológica, pelo menos implicitamente devido à frustração
com o DSM. O RDC parece querer tornar a psiquiatria mais enraizada na
biologia e na ciência (essas duas podem não ser exatamente iguais), mas é
difícil avaliar seu valor até que seja lançado. Como clínicos, podemos odiar o
DSM o quanto quisermos, mas abandoná-lo não é financeiramente viável
para aqueles que buscam reembolso das seguradoras.
Nossa compreensão da doença mental sempre foi corrompida pela política
e pelas convenções sociais. O desenvolvimento do DSM, embora valioso a
princípio, não fez muito para mudar esse estado de coisas. Provavelmente,
continuaremos discutindo sobre o significado da doença mental pelo futuro
próximo.
CAPÍTULO 10
LOUCURA DAS MASSAS
N
o final do século XVIII, duas nações deram seus primeiros passos
desajeitados na direção da democracia. Uma teve sucesso, a outra
falhou. Nos Estados Unidos, os colonos, reagindo principalmente
a disputas econômicas e à dura resposta do Parlamento britânico a elas,
rebelaram-se contra seus senhores no Reino Unido. Quinze anos depois, na
França, os cidadãos também expulsaram seus senhores aristocráticos em
busca de igualdade e liberdade. A experiência dos Estados Unidos resultou
em uma democracia duradoura que persiste, certamente com algumas
falhas, até os dias de hoje. A experiência francesa terminou em terror,
guilhotina, caos, guerra e, por fim, Napoleão, cujo governo megalomaníaco
foi na época quase um alívio. O que aconteceu para tornar o resultado tão
diferente nessas duas novas democracias?
Dizer que comparar a América do século XVIII à França é como
comparar maçãs com laranjas é pouco. No entanto, há algumas
semelhanças. Inicialmente, os dois movimentos viram a ascensão de
agitadores e lutas internas sangrentas entre antigos vizinhos e amigos. De
fato, durante a independência dos Estados Unidos parte da violência mais
cruel ocorreu não entre as tropas britânicas e norte-americanas, mas entre
colonos que apoiaram a rebelião e aqueles (conservadores) que apoiaram o
rei. [ 440 ] Atribuir o sucesso dos Estados Unidos a uma só coisa é
ingenuidade, mas aparentemente nos Estados Unidos cabeças mais
equilibradas (Washington, Jefferson, Franklin, Madison etc.) prevaleceram
e, por assim dizer, foram capazes de manipular as paixões das massas em
uma direção produtiva. Na França, isso sem dúvida não aconteceu, e o caos
do governo da massa levou à tirania do Reino do Terror e à corrupção e
autocracia que se seguiram.
Eu costumo brincar dizendo que se tomarmos decisões políticas
presumindo que as pessoas são basicamente burras, raramente ficaremos
desapontados. Não quero dizer individualmente burras, claro, mas que,
assim que somos reduzidos a uma massa emocional e desinformada, más
decisões sempre são tomadas. Eu me incluo alegremente nessa massa
emotiva e desinformada no que diz respeito à maioria das questões. Pessoas,
mesmo pessoas inteligentes, tendem a tomar decisões de modo mais
emocional do que racional, e quando reunidas em grupos essa tomada de
decisão instintiva pode ser amplificada. O que mais poderia explicar a
corrida para a guerra no Iraque em 2003 ou a adoção da crença de que a
couve realmente é comestível?
Como diz o velho ditado, a democracia é a pior forma de governo, a não
ser todas as outras formas tentadas. [ 441 ] Não me interpretem mal, a
democracia é uma ótima ideia e eu apoio totalmente! Mas também traz
consigo certos desafios, como quanto poder decisório dar aos cidadãos, ou
demos, visto que, como mencionei antes, eles tendem a ser idiotas e tomar
decisões erradas. Além disso, há o risco de que democracias puras
degenerem em um governo de turba, enfurecido e emocional, e efetivamente
se imolem. Enquanto escrevo, as democracias/repúblicas ocidentalizadas
parecem estar quase que universalmente lutando contra nacionalismo,
líderes autoritários, crises migratórias, identidade nacional e demagogia.
Vamos ver como tudo isso termina.
Pode ser instrutivo estudar as raízes da democracia na Grécia antiga para
ver como as coisas funcionaram para eles. Pode ser particularmente útil
examinar como a tomada de decisões da democracia às vezes pode levar à
sua própria ruína. A história pode ser um alerta para todos nós hoje.
E
m março de 2019, um australiano de 28 anos abriu fogo contra duas
mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, perpetrando um dos
piores massacres da história do país. O atirador levou várias armas
de fogo e uma câmera de capacete, com a qual transmitiu a violência.
Grande parte da chacina foi transmitida ao vivo pelo Facebook e mais tarde
se espalhou pela internet. Na porta da primeira mesquita, o atirador foi
saudado por um religioso com um educado “Olá, irmão” antes que abrisse
fogo, matando indiscriminadamente homens, mulheres e crianças. Após o
primeiro massacre, ele seguiu até outra mesquita, onde matou fiéis até ser
detido pela polícia. No total, matou cinquenta pessoas e feriu muitas outras.
O massacre foi inspirado por um movimento crescente de extrema direita
dedicado ao ódio racial e religioso e baseado na ideia de que os brancos
precisam se defender de imigrantes de outros países, especialmente
muçulmanos. Assim como o norueguês que em 2011 matou 77 pessoas, a
maioria adolescentes, em um acampamento de verão, o atirador de
Christchurch deixou para trás um manifesto desvairado cheio de fantasias
paranoicas de novas cruzadas contra o Islã. Ele também provocou os leitores
com declarações bobas sobre redes sociais e videogames que pareciam
calculadas para colocar na direção errada os apavorados morais de sempre.
Esse ataque desencadeou uma nova rodada de reflexão em muitos países
industrializados. Será que uma onda de loucura está assolando a população,
seja na forma de nacionalismo de direita ou extremismo islâmico radical, ou
são apenas jovens insatisfeitos que odeiam a todos? As redes sociais estão se
tornando um meio perigoso através do qual a loucura ou mesmo apenas
ideias malucas se espalham como um incêndio? Estamos à beira de uma
catástrofe cultural global disseminada pela loucura das massas?
Durante os últimos anos da segunda década do século XXI, uma onda de
loucura inchou e varreu o mundo industrializado. Nativismo, autoritarismo
e nacionalismo parecem estar em ascensão nos Estados Unidos, no Reino
Unido, no continente europeu e em grande parte do resto do mundo
industrializado. Essa onda sem dúvida é alimentada por preocupações
legítimas: desigualdade de renda, imigração ilegal, violência terrorista
dirigida ao mundo industrializado e a sensação de que as nações
industrializadas estão perdendo influência para novas potências como a
China. E, como observei no capítulo anterior, vozes altas e radicais tanto à
direita quanto à esquerda provavelmente contribuíram muito para alimentar
as tensões. Será que este período marcará o fim de uma fase histórica em
que as democracias liberais estiveram em ascensão?
Honestamente, eu tendo a ser mais otimista. Em primeiro lugar, devemos
lembrar que sempre há vozes negativas prevendo desgraças. Na década de
1980, as pessoas viviam com medo de uma guerra nuclear inevitável; na
década de 1990, os Estados Unidos e a Europa pareciam prestes a ser
engolidos economicamente pelo Japão; nos anos 2000, o medo do
terrorismo do Oriente Médio se apoderou do mundo. Isso não quer dizer
que não precisamos estar alertas para a loucura crescente em nossos sistemas
políticos, mas sim que é importante reunir todos os dados. Hoje, tanto a
direita quanto a esquerda temem que tenhamos perdido nosso lugar no
mundo (se você for norte-americano) ou que o mundo tenha enlouquecido
(praticamente todos os outros lugares).
Às vezes ajuda fazer um balanço. Temos que lembrar que, pela maioria
dos índices, o mundo hoje parece melhor do que nunca em termos
comportamentais, médicos e econômicos. [ 489 ] Isso não é minimizar os
desafios reais que a sociedade humana enfrenta, seja o aquecimento global,
os padrões de migração humana ou governos autoritários em algumas partes
do mundo. Mas, tendo anunciado o fim da sociedade desde que
conseguimos nos lembrar, talvez devêssemos respirar fundo e partir do
pressuposto de que, quaisquer que sejam os desafios que enfrentamos, não
estamos cambaleando à beira do precipício.
Fazer isso pode nos ajudar a permanecer mais sóbrios diante dos
problemas que enfrentamos. E, vamos lembrar, a tomada de decisão em
extremos emocionais pode levar à loucura política e transformar esses
desafios reais em problemas maiores. No momento, a dificuldade que temos
para escapar da loucura social envolve a crescente polarização política e a
amplificação das vozes mais radicais pelas novas mídias e plataformas
tecnológicas. Como manter a sanidade quando o louco consegue gritar mais
alto?
Objetivo compartilhado
Em Atenas, a democracia foi levada à loucura pela percepção de ameaças
externas à medida que a Guerra do Peloponeso progredia de uma forma que
ameaçava os cidadãos. Em nossa era, as democracias modernas muitas vezes
sentem pressões externas, seja devido a terrorismo, ações ameaçadoras de
nações autoritárias ou imigração descontrolada. No entanto, grande parte da
luta é interna. Nossos inimigos não são mais fascistas ou comunistas de
outros regimes, mas vizinhos com crenças diferentes das nossas e que,
somos levados a acreditar, corromperiam nossa cultura de formas horríveis e
imperdoáveis. Desconfio que é esse o principal fator que nos leva à nossa
atual sensação de loucura e conduz nossos governos, como democracias, a
decisões cada vez piores. Então, como podemos superar esse grau de conflito
em nossas sociedades?
Os seres humanos parecem ter uma noção natural de divisão, prontamente
buscando as diferenças entre si e os outros, e tendem a interpretá-las de
modo hostil. Podemos ver isso em nossos próprios conflitos políticos e
sociais atuais, nos quais as pessoas não apenas discordam, mas decidem que
aqueles de quem discordam são essencialmente maus e devem ser excluídos
da vida pública para sempre. Poucas coisas nos dão um propósito
compartilhado em nosso grupo quanto um grupo externo para demonizar.
Atacar a decrepitude moral de um grupo externo também nos oferece a
oportunidade de anunciar à tribo nossa própria virtude. Isso pode fazer
sentido, na medida em que, historicamente, grupos competiam por recursos
escassos e pode ter sido uma adaptação evolutiva no passado. Entre espécies
agressivas, a desconfiança instintiva de estranhos obviamente é algo que
seria selecionado.
No entanto, nossas tribos se tornaram maiores e mais diversificadas, e a
hostilidade dentro dessas megatribos pode levar a uma incapacidade de
transigir, a um movimento em direção a posições políticas mais radicais (e
imprudentes) e ao colapso do tecido social que mantém uma comunidade
com um propósito compartilhado. Como restauramos essa noção de
propósito?
Uma descoberta consistente na pesquisa psicológica diz respeito a como
os grupos passam a odiar uns aos outros e também como podem encontrar
oportunidades de cooperar. Um famoso estudo chamado experimento
Caverna dos Ladrões reuniu meninos em um acampamento de verão e os
dividiu aleatoriamente em grupos sociais separados. No início, os grupos
não sabiam da existência uns dos outros. A coesão do grupo foi fomentada
nesses grupos de crianças selecionadas ao acaso para dar a elas uma
identidade social. Um grupo foi chamado de Cascavéis, e o outro Águias
(não confundir com a banda Eagles de “Hotel California”). Depois, os
grupos de crianças foram colocados em contato um com o outro.
Como era de se esperar, essa fase de contato não foi boa, especialmente
porque os pesquisadores deram a elas tarefas competitivas. Um grupo
sempre vencia o outro. As provocações verbais começaram, cada grupo
desenvolveu estereótipos negativos do outro como fraco, estúpido ou
mesquinho, e eles começaram a roubar ou vandalizar as propriedades do
outro. Isso não parece muito diferente do Twitter hoje em dia! Basicamente,
quando os dois grupos foram colocados em uma situação em que estavam
competindo e frustrando os objetivos do outro, a hostilidade se intensificou
rapidamente.
Na terceira fase do estudo, os dois grupos foram forçados a cooperar para
um objetivo em comum, no caso, garantir o acesso a uma caixa d’água. Esse
objetivo compartilhado ou coordenado reduziu a tensão e o preconceito
entre os grupos. Isso levou os autores a concluir que encontrar objetivos
comuns pode reduzir a tensão entre grupos. [ 494 ]
Para ser justo, a psicologia tende a encerrar seus experimentos mais legais
com uma bela reverência. Esse experimento foi algumas vezes criticado
porque os pesquisadores interferiram demais, possivelmente influenciando
os resultados. Outros criticam a ética de propositalmente induzir os
meninos a um conflito agressivo entre si, mas esqueça a ética. Isso foi na
década de 1950. Outros experimentos confirmaram pelo menos a ideia geral
do experimento Caverna dos Ladrões, [ 495 ] e até mesmo jogar videogames
de ação cooperativamente pode reduzir as tensões externas. [ 496 ] Portanto,
é provável que haja validade nisso. Historicamente, pudemos ver isso depois
do 11 de setembro, quando a maior parte do país, à esquerda e à direita, se
uniu em apoio ao presidente George W. Bush sem questionar. Claro, isso
levou a uma série de desastres, de modo que é possível ir longe demais com a
coesão do grupo.
Portanto, discórdia demais pode levar à loucura, mas também
conformidade demais. Isso sugere que talvez haja algum tipo de equilíbrio
ideal entre conflito e conformidade que devamos buscar. Se o patriotismo
obsessivo do início dos anos 2000 foi longe demais em uma direção,
certamente a atual cultura de confronto das redes sociais vai longe demais na
outra.
Encontrar uma noção de propósito compartilhado é particularmente
desafiador. Sempre que uma questão social urgente se desenvolve, um lado
parece se apressar a chegar a uma conclusão, com o outro chegando à
conclusão oposta com alegria irracional, os dois lados proclamando que
trabalhar em busca do meio-termo seria uma traição. Poderíamos citar
diversas questões sociais: devemos ter nenhum controle de armas ou
trabalhar para desarmar todo cidadão cumpridor da lei? Eliminamos todos
os abortos ou permitimos que as mulheres tenham a oportunidade de
praticar abortos eletivos até o terceiro trimestre? As vidas negras, azuis ou
todas elas importam? Vemos todos os imigrantes não brancos com
desconfiança ou abrimos nossas fronteiras a todos os que chegam? Não
quero sugerir que o meio-termo seja sempre a melhor resposta, mas quero
dizer que seria útil encontrar formas de lembrar que estamos todos juntos
no barco a remo e podemos discordar, mesmo que fundamentalmente, em
certas questões, e ainda respeitar o valor intrínseco do outro.
Essa é uma escolha que cada um pode fazer individualmente. Significa
encontrar maneiras de transmitir àqueles de quem discordamos que ainda os
respeitamos. Significa conter a satisfação daquela resposta incrível e não
mostrar aos membros da nossa própria tribo quão bem podemos esmagar o
inimigo. Também significa reconhecer quando o oponente tem um
argumento justo, mesmo que ainda discordemos da posição geral. Também
significa saber quando abandonar respeitosamente uma discussão que se
tornou improdutiva. Essa é uma forma de arte em grande medida
moribunda, mas empregá-la pode acabar com discussões e também reduzir
o estresse.
Propósito compartilhado não significa necessariamente escolher um
problema e literalmente trabalhar em conjunto em busca de uma solução,
embora com certeza possa ser. Em vez disso, todos nós precisamos reafirmar
que pertencemos a uma comunidade maior de indivíduos, incluindo aqueles
de quem discordamos ou dos quais somos diferentes. Comunidade
compartilhada não precisa significar opiniões ou ideologias partilhadas, nem
mesmo valores compartilhados, pelo menos não sempre, mas a disposição de
respeitar um processo de negociação e acordo como um caminho para
resolver diferenças para um bem comum.
N
o Natal de 1991, a União Soviética chegou oficialmente ao fim.
Muitos dos seus antigos territórios, desde as pequenas nações
bálticas até a Ucrânia e as repúblicas da Ásia Central, tornaram-se
Estados independentes, embora a Rússia permanecesse grande e majestosa.
A ameaça de uma guerra nuclear perdeu a força, e parecia que estávamos
dando início a uma era de razão, prosperidade econômica e Pax Americana.
Até que houve um pouco disso, sobretudo em relação à prosperidade
econômica, mas a globalização levou à crescente desigualdade de renda e ao
sucateamento da classe trabalhadora, a guerras que pareciam intermináveis
contra terroristas islâmicos e Estados pária e ao aumento da opinião pública
não apenas polarizada, mas, muitas vezes, completamente sem pé nem
cabeça. Pensando bem, os anos 1980 não pareciam mais tão ruins — música
boa, cabelos volumosos, o Burger King de fato fazia uma comida que tinha
condições de competir com o McDonald’s… Se você fosse indiferente à
constante ameaça de uma guerra nuclear, foi mesmo uma era de ouro.
Sendo assim, para os saudosos dos velhos tempos da Guerra Fria,
fevereiro de 2022 trouxe uma oportunidade real de voltar àquela época. Em
24 de fevereiro, a Rússia, que vinha reunindo forças na vizinha ex-república
soviética Ucrânia, invadiu o país por algumas direções distintas. Ao que
tudo indica, o intuito parece ter sido conquistar as principais cidades, depor
o governo liderado pelo presidente Volodymyr Zelensky e estabelecer um
Estado fantoche simpático a Moscou. Em vez disso, no momento em que
este texto é escrito (em abril de 2022), a invasão russa emperrou porque o
planejamento e a logística foram ineficientes, além de soldados mal
treinados, e colunas blindadas foram destroçadas por mísseis antitanque
fornecidos pelo Ocidente. A Rússia supera em muito a Ucrânia em
contingente e recursos materiais, além de contar com armas nucleares.
Portanto, ainda pode sair vitoriosa. Contudo, a incapacidade russa de tomar
a capital ucraniana, Kiev, ou a maioria das outras grandes cidades, tem sido
humilhante.
A invasão da Ucrânia também incitou uma resposta considerável dos
países ocidentais, que tanto estenderam a mão para o governo ucraniano
quanto impuseram sanções prejudiciais à economia russa. Embora outras
nações importantes, como a China e a Índia, tenham se mostrado relutantes
em se opor à investida dos russos, o país está em vias de se tornar um
Estado pária. O mais preocupante é que, à medida que os países da OTAN
fornecem suprimentos para a Ucrânia, envolvendo-se efetivamente em uma
guerra indireta contra os russos, o potencial para um confronto nuclear entre
a Rússia e os países da OTAN com armas nucleares tornou-se uma
possibilidade real, embora ainda pareça algo distante. Por que a Rússia
decidiu arriscar tanto?
Muitos me fizeram essa pergunta nos últimos tempos e, é claro, para
entendermos a questão, precisamos tentar entrar na cabeça do presidente
russo, Vladimir Putin. Infelizmente, os detalhes sobre os primeiros anos de
sua vida são um tanto quanto obscuros, e é provável que seja intencional, já
que se trata de um sujeito que veio do serviço de inteligência soviético, a
KGB, para se tornar um autocrata da Rússia. Putin nasceu no ano de 1952,
em Leningrado, filho único de uma família da classe trabalhadora. São
poucos os detalhes de sua vida doméstica, mas, desde cedo, ele demonstrou
uma ambição de se desenvolver física e intelectualmente, estudando artes
marciais e frequentando escolas soviéticas de elite.
Depois de estudar Direito na faculdade, entrou para a KGB e se tornou
agente na Alemanha Oriental. Ainda estava lá quando o Muro de Berlim
caiu e a União Soviética se desintegrou, acontecimentos que parecem ter
deixado uma marca indelével em Putin. Ele entrou para a política na Rússia
e subiu na hierarquia de conselheiros do presidente russo Boris Yeltsin,
considerado por muitos um alcoólatra à frente de um governo corrupto.
Sem muita influência, Putin desenvolveu um talento especial: usar guerras
separatistas (a começar pela república dissidente da Chechênia) a fim de
condenar duramente seus oponentes para ganhar popularidade.
Em 1999, o debilitado Yeltsin deixou a presidência e indicou Putin para o
cargo, o que, na época, foi uma surpresa. Putin viria a vencer a eleição
presidencial no ano seguinte. De início, parecia inclinado a aprimorar as
relações com o Ocidente e melhorar as questões domésticas de seu país.
Também levou partidários leais a cargos importantes e deu início ao
processo de desgaste das incipientes instituições democráticas russas em prol
da consolidação do poder em suas próprias mãos. Ele reprimiu a liberdade
de expressão, prendeu ou assassinou dissidentes, cortejou os militares e
assumiu o controle dos tribunais e de outras instituições governamentais.
Em uma clássica jogada autocrática, também modificou a Constituição para
que pudesse permanecer no poder por tempo indefinido.
Putin também demonstrou vontade de lançar mão não só da guerra, mas
do uso brutal de bombardeios contra civis para ampliar o poder russo. Ele
aniquilou por completo a resistência chechena, entrou em guerra contra a
vizinha Geórgia em 2008, anexou a Crimeia em 2014, antes território da
Ucrânia, e, desde 2015, envolve-se diretamente no apoio militar ao regime
autoritário de Bashar al-Assad na Síria. A Rússia também se tornou
conhecida por enviar assassinos atrás de dissidentes no exterior, sobretudo
em Londres. E agora, é claro, ele invadiu a Ucrânia.
Até o momento em que escrevo este capítulo, essa ofensiva tem se
mostrado um desastre absoluto. Apesar de contar com forças e
equipamentos muito superiores, os ataques russos não foram capazes de
conquistar as principais cidades do oeste ou do centro da Ucrânia, em
especial Kiev. É difícil obter o número exato, mas as estimativas sugerem
que as baixas entre os russos foram altas (bem como as entre os ucranianos,
principalmente civis). Falhas de planejamento e logística, além de um erro
de julgamento quanto à receptividade do povo ucraniano, parecem ter
contribuído para o desastre. Os países ocidentais atingiram a Rússia com
sanções severas, e as tensões com a OTAN se intensificaram. A economia
russa sofreu com as acusações de crimes de guerra contra civis e o país está
prestes a se tornar um pária internacional.
Há duas perguntas a serem feitas. A primeira é: como Putin conseguiu
cair em tamanha armadilha? E a segunda: até onde ele pode esticar a corda?
Quanto à primeira pergunta, minha impressão é a de que Putin caiu em
vários padrões comuns que são a ruína de autocratas narcisistas e
egocêntricos. Em primeiro lugar, ele começou a levar sua própria narrativa
muito a sério. Putin fabricou a lógica de que a Ucrânia era uma parte
histórica da Rússia e que o governo democrático (embora, sem dúvida,
imperfeito) da Ucrânia era liderado por nazistas. Tal narrativa criou o delírio
de que os russos seriam vistos como salvadores da pátria. Em segundo lugar,
ele se cercou de bajuladores que morrem de medo de apontar seus erros. E,
em terceiro lugar, com ares de Hitler, os êxitos na Chechênia, na Geórgia,
na Síria e na anexação da Crimeia, com relativamente pouca resistência das
potências ocidentais, parecem tê-lo encorajado a arriscar mais e, por fim,
ultrapassar um limite perigoso.
Em poucas palavras, Putin passou a acreditar cegamente nas próprias
ideias, um padrão bem comum de se observar em autocratas egocêntricos,
embora, em geral, ele tivesse se mostrado mais sagaz em ações passadas.
Pode ser tentador para o Ocidente apostar todas as fichas na Ucrânia e
destituir Putin do poder de uma vez, algo que o presidente Biden e outros
líderes ocidentais já chegaram a insinuar ou até mesmo expressar com todas
as letras. Contudo, a Rússia é uma potência nuclear.
Portanto, a pergunta do momento de fato é: se as potências ocidentais
entrassem mesmo em guerra contra a Rússia e isso parecesse evoluir para a
derrocada completa de Putin, será que ele apertaria o botão, não só de armas
nucleares táticas que mirem nos exércitos, mas também de uma guerra
nuclear ampla e estratégica que traria consequências globais catastróficas?
Evitar a destruição mútua depende do bom senso dos atores envolvidos
que optarão por ficar longe da catástrofe. No entanto, quando um psicopata
egoísta vê seu próprio reinado desmoronar à sua volta… Diante a
impossibilidade de ter poder, será que ele tomará uma última medida
drástica e destruirá tudo? Decisões desse tipo não são inéditas… A linha de
raciocínio dos perpetradores de homicídios em massa não é muito diferente,
e não é difícil imaginar a escolha que Hitler teria feito se tivesse acesso a
armas nucleares. Será que Putin faria algo tão terrível? Eu estaria mentindo
se não admitisse estar nervoso.
Muitos fatores distintos podem interferir, é claro. Os subalternos de Putin
podem se recusar a cumprir ordens tão perversas, ou a OTAN pode dar um
jeito de neutralizar as armas nucleares estratégicas da Rússia antes que sejam
acionadas. Até o momento, a inteligência norte-americana parece ter uma
boa noção dos planos de Putin, então só nos resta esperar que a situação se
mantenha assim.
Esta obra trata de pessoas importantes do tipo desprezível, e Putin já
levou sofrimento a inúmeras vidas, sendo o povo da Ucrânia o alvo mais
recente. Entretanto, apesar do meu interesse pelos loucos, parte da premissa
do livro é a hipótese da Grande Pessoa — de que ações e líderes individuais
também podem fazer a diferença para melhor. Sendo assim, no conflito em
questão, o indiscutível oposto de Putin é o presidente da Ucrânia,
Volodymyr Zelensky, que, antes de entrar para a política, era ator e
comediante, e hoje é o herói do momento. Pode ser fácil cair na armadilha
de idolatrar alguém, dizer maravilhas do sujeito e ignorar seus defeitos, mas
seja Zelenksy o que for, sua importante decisão de permanecer em Kiev
quando surgiu a oportunidade de fugir, com a clássica resposta “Preciso de
munição, não de carona”, sem dúvida foi fundamental para manter a
determinação e o moral ucranianos em uma luta que, a princípio, ninguém
achou que eles tivessem chances de ganhar. Para a história, podemos ver, a
partir de Putin e de Zelensky, que personalidades individuais, de fato,
importam.
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direção editorial
Daniele Cajueiro
editora responsável
Ana Carla Sousa
produção editorial
Adriana Torres
Júlia Ribeiro
Mariana Lucena
revisão de tradução
Isabela Sampaio
Mariana Oliveira
revisão
Kamila Wozniak
Adriano Barros
capa
Leandro B. Liporage
diagramação
Douglas Kenji Watanabe
produção de ebook
S2 Books
NOTAS
[ 01 ] Ver Joshua Shenk, “Lincoln’s Great Depression”, Atlantic Monthly, outubro de 2005,
www.theatlantic.com/magazine/archive/2005/10/lincoln-apos-s-great-depression/4247/#
(acessado em 24 de setembro de 2018). Também Douglas Wilson, Honor’s Voice: The
Transformation of Abraham Lincoln (Nova York: Vintage, 1999).
[ 02 ] George McGovern, Grassroots: The Autobiography of George McGovern (Nova York:
Random House, 1977).
[ 03 ] Jonathan Davidson, Kathryn Connor e Marvin Swartz, “Mental Illness in U.S.
Presidents between 1776 and 1974: A Review of Biographical Sources”, Journal of Nervous
and Mental Disease 194 (2006): 47–51.
[ 04 ] As biografias antigas mais conhecidas de Alexandre são A era de Alexandre, de
Plutarco, e A era de Alexandre, de Arriano. Mesmo essas foram escritas muito depois de sua
morte, e persiste o debate sobre qual é mais acurada. Ver A. B. Bosworth, “Errors in
Arrian”, The Classical Quarterly 26 (1976): 117–39. Bosworth afirma que Arriano confiou
muito na narrativa de Ptolomeu, general de Alexandre, que após a morte do imperador
pode ter se preocupado mais com seus próprios interesses que inteiramente com a precisão
histórica.
[ 05 ] Plutarco, de fato, parece atribuir à coisa das cobras na cama o fim do ardor conjugal
entre Filipe e Olímpia, dizendo: “Em outra ocasião uma cobra foi vista estendida ao lado
de Olímpia enquanto ela dormia, e foi isso mais do que qualquer outra coisa, dizem, que
enfraqueceu a paixão de Filipe e esfriou seu afeto por ela, de modo que, a partir de então,
ele raramente dormiria com ela. A razão para isso pode ter sido temer que ela lançasse
algum feitiço maligno sobre ele, ou então recuar de seu abraço por acreditar que ela era
consorte de algum ser superior.” Normalmente, as duas partes em um casamento
contribuem para a ruptura, mas neste caso, quem pode culpar Filipe? Plutarco, The Age of
Alexander (Nova York: Penguin Classics, 2012).
[ 06 ] Guy Rogers, Alexander: The Ambiguity of Greatness (Nova York: Random House,
2005).
[ 07 ] Hermann Bengtson e Edmund Bloedow, History of Greece: From the Beginning to the
Byzantine Era (Ottawa: University of Ottawa Press, 1997).
[ 08 ] Isso parece ser particularmente verdadeiro durante os últimos meses de sua vida ao
retornar à Pérsia, após a conquista da Índia. Ele merece o crédito de ter superado um quase
motim de suas tropas macedônicas precipitado por uma humilhação não intencional
imposta a eles (ao aposentar alguns veteranos mais velhos, Alexandre deu a entender que
não eram mais desejados ou necessários). Plutarco descreve o estado de espírito de
Alexandre da seguinte maneira: “Alexandre havia ficado tenso e apavorado em sua própria
mente e agora se entregou à superstição. Interpretou cada acontecimento estranho ou
incomum, não importa quão trivial, como um prodígio ou um presságio, com o resultado de
que o palácio se encheu de adivinhos, sacrificadores, purificadores e prognosticadores.
Assim, a descrença ou o desprezo pelo poder dos deuses é algo terrível, mas a superstição
também é terrível; como a água, ela constantemente gravita para um nível inferior. Um
pavor irracional encheu a mente de Alexandre de dúvidas tolas uma vez que ele se tornou
um escravo de seus medos.” Isso claramente serve de lição: um poder imenso nem sempre
traz felicidade equivalente.
[ 09 ] Isso ocorre em quase todos os parâmetros, seja examinando homicídios, mortes em
guerras, estupros e assim por diante. Ver Steven Pinker, The Better Angels of Our Nature:
Why Violence Has Declined (Nova York: Viking, 2011).
[ 10 ] Grant McCall e Nancy Shields, “Examining the Evidence from Small-Scale
Societies and Early Prehistory and Implications for Modern Theories of Aggression and
Violence”, Aggression and Violent Behavior 13 (2008): 1–9. O mito de que os humanos
viveram em uma sociedade idílica que se perdeu conforme as culturas evoluíram para
sociedades modernas é indiscutivelmente um dos mais duradouros.
[ 11 ] Francis Fukuyama, O fim da história e o último homem (Rio de Janeiro: Rocco, 2015).
[ 12 ] Steven Pinker, Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism and
Progress (Nova York: Viking, 2018).
[ 13 ] Freedom House, Freedom in the World: Democracy in Crisis, 2018,
https://freedomhouse.org/report/freedom-world/freedom-world-2018 (acessado em 24 de
setembro de 2018).
[ 14 ] Pinker, Enlightenment Now.
[ 15 ] Centers for Disease Control, Suicide Rising across the US, 2018,
www.cdc.gov/vitalsigns/suicide/ (acessado em 24 de setembro de 2018).
[ 16 ] Michael Lofchie, “The Uganda Coup: Class Action by the Military”, Journal of
Modern African Studies 10 (1972): 19–35.
[ 17 ] Richard Ullman, “Human Rights and Economic Power: The United States versus Idi
Amin”, Foreign Affairs, abril de 1978, www.foreignaffairs.com/articles/uganda/1978-04-
01/human-rights-and-economic-power-unitedstates-versus-idi-amin (acessado em 24 de
setembro de 2018).
[ 18 ] Emma Boyle, “Was Idi Amin’s Government a Terrorist Regime?” Terrorism and
Political Violence 29 (2017): 593–609.
[ 19 ] Chibiuke Uche, “The British government, Idi Amin and the Expulsion of British
Asians from Uganda”, Interventions: International Journal of Postcolonial Studies 19 (2017):
818–36.
[ 20 ] Saul David, Operation Thunderbolt (Nova York: Little, Brown, 2015).
[ 21 ] Michael Kaufman, “Idi Amin, Murderous and Erratic Ruler of Uganda in the 70s
Dies in Exile”, New York Times, agosto de 2003, www.nytimes.com/2003/08/17/world/idi-
amin-murderous-and-erratic-ruler-of-uganda-in-the-70-s-dies-in-exile.html (acessado em
24 de setembro de 2018).
[ 22 ] Daniel Kalinaki, “Entebbe Raid Humiliated Amin, Nearly Caused East African
War”, Daily Nation, julho de 2016, www.nation.co.ke/news/Entebbe-raid-embarrassed-
Amin-nearly-caused-East-African-war/1056-3277804-1327oaiz/index.html (acessado em
24 de setembro de 2018).
[ 23 ] Ian Morris, Why the West Rules—For Now: The Patterns of History, and What They
Revel about the Future (Nova York: Farrar, Straus e Giroux, 2010).
[ 24 ] Jared Diamond, Armas, germes e aço: Os destinos das sociedades humanas (Rio de
Janeiro: Record, 2017).
[ 25 ] É importante notar que a história raramente é escrita em um vácuo moral, e os textos
históricos muitas vezes contêm mensagens morais subjacentes. Ao longo de grande parte
do Iluminismo europeu, a história se concentrou na aparente superioridade da cultura
europeia sobre outras culturas de maneiras que defendiam a superioridade cultural e
biológica. Obviamente, essas narrativas eram eurocêntricas e racistas. A história mais
recente, que se concentra em variáveis exógenas para explicar os sucessos das culturas, às
vezes pode parecer uma tentativa de nivelar o campo de jogo moral, cultural e biológico.
Como os textos anteriores, isso também significa algo quando se fala de história. Observo a
improbabilidade de que todas as culturas tenham valor moral inerentemente igual, bem
como de que as diferenças biológicas sejam insignificantes entre povos de regiões distintas
(basta ver cor da pele, estrutura do esqueleto, formato do corpo etc., para confirmar a
influência da genética em diversos povos). Isso não significa que os europeus estavam certos
em afirmar sua superioridade (afinal, a Europa foi um ator menor durante grande parte da
história humana), apenas que devemos estar sempre alertas para a moral dos textos
históricos. Só este livro é verdadeiramente objetivo!
[ 26 ] Sem limites claros, sustentação científica ou valor conceitual, o termo “masculinidade
tóxica” é indiscutivelmente lixo. Como muitos termos pseudocientíficos, ele se baseia em
política de gênero e sinalização de virtude, não em comentários que delineiem nossa
compreensão de gênero. Como muitos desses termos, provavelmente contribui mais para
fomentar a polarização do que para a compreensão — na verdade aumentando a loucura da
sociedade mais do que promovendo o pensamento racional. Os homens decerto foram
demasiadamente representados na violência física ao longo da história, mas resumir isso a
uma masculinidade “ruim” (evidenciada por coisas como gostar de futebol ou videogames
de ação) que poderia ser substituída por uma masculinidade “boa” (tipicamente envolvendo
características valorizadas pela esquerda progressista) é simplificação e moralização
grosseiras desta questão. Ver Christopher Ferguson, “How ‘Toxic Masculinity’ Is Hurting
Boys”, Houston Chronicle, março de 2018, www.houstonchronicle.com/local/gray-
matters/article/toxic-masculinity-gender-norms-harmful-boys-12782202.php (acessado em
25 de setembro de 2018).
[ 27 ] Leslie Carroll, Royal Pains: A Rogue’s Gallery of Brats, Brutes and Bad Seeds (Nova
York: Penguin, 2011). Isso é como que um lembrete do valor do humanismo;
resumidamente, a crença de que as vidas humanas têm um valor intrínseco qualquer que
seja seu lugar na sociedade. O humanismo moderno (que agora consideramos natural no
Ocidente) surgiu durante o Iluminismo europeu, mas ainda não havia se consolidado na
época de Bathory, sem dúvida levando a uma indiferença relativa para com suas ações,
desde que visasse aqueles vistos como seres humanos inferiores.
[ 28 ] Vale a pena notar que às vezes é proposta uma narrativa contrária, de que Bathory foi
vítima de um julgamento simulado e de impressões equivocadas. Essa linha de raciocínio
sugere que a tentativa de Bathory de oferecer serviços médicos a indivíduos doentes foi
confundida com tortura, e que mortes naturais na área — incluindo alguns corpos
enterrados às pressas em suas instalações — devido a doenças foram erroneamente
consideradas homicídios. Somando isso a um julgamento projetado para beneficiar o
principal investigador de Bathory, o palatino György Thurzó, Bathory foi vítima da
misoginia generalizada da época. Esse argumento é interessante, embora no geral eu não o
considere convincente. Procedimentos médicos dolorosos eram comuns na época, e não
costumavam ser equivocadamente atribuídos à tortura sexualizada, e presumivelmente os
surtos de doenças não teriam vitimado sobretudo mulheres jovens. O fato de Elizabeth ter
um curandeiro assistente que desajeitadamente escondeu corpos de vítimas de doenças ao
redor de seu castelo para que os investigadores encontrassem e culpassem a violência teria
de ser um golpe de azar notável para Elizabeth. Os julgamentos naquela época decerto não
eram nada como o devido processo legal reconhecidamente ainda falho da era moderna,
mas os julgamentos dos cúmplices de Bathory teriam que ser fraudados de modo magistral
para que a incriminação não fosse mencionada na narrativa popular. Por fim, as acusações
contra Bathory provavelmente representaram um grande escândalo para a nobreza, e não é
claro quem se beneficiou disso (até mesmo Thurzó, em geral considerado o principal
beneficiário, parece ter demorado para investigar as queixas iniciais sobre o comportamento
de Bathory, e não está claro que tenha se beneficiado de sua prisão). Não é evidente que
Thurzó foi o autor das acusações contra Bathory. Sem dúvida, os crimes de Bathory foram
exagerados, mas é provável que a acusação básica de que ela assassinou várias meninas seja
verdadeira. No entanto, convido os leitores a avaliar uma narrativa divergente e decidir por
si próprios. Ver Irma Szádeczky-Kardoss, “The Bloody Countess: An Examination of the
Life and Trial of Erzsébet Bathory”, Life and Science, setembro de 2005,
https://notesonhungary.wordpress.com/2014/05/31/the-bloody-countess/ (acessado em 25
de setembro de 2018).
[ 29 ] David Daniel, “Eastern Europe”, em Women in Reformation and Counter-Reformation
Europe, org. Sherrin Marshall (Indianápolis: Indiana University Press, 1989).
[ 30 ] László Kürti, “The Symbolic Construction of the Monstruous: The Elizabeth
Bathory Story”, Journal of Ethnology and Folklore Research 46, nº 1 (2009): 133–59.
[ 31 ] Andreas Hill, Niels Habermann, Wolfgang Berner e Peer Briken, “Sexual Sadism
and Sadistic Personality Disorder in Sexual Homicide”, Journal of Personality Disorders 20,
nº 6 (2006): 671–84. Deve-se notar que o diagnóstico de transtorno de personalidade
sádica é controverso. Não está no DSM-V da American Psychiatric Association, embora
alguns estudiosos defendam sua inclusão.
[ 32 ] Na verdade, Kimberly Leach foi uma de suas vítimas mais jovens.
[ 33 ] Ann Rule, The Stranger Beside Me (Nova York: Pocket Books, 2008).
[ 34 ] O truque de Bundy de se passar por uma pessoa ferida para atrair mulheres
prestativas e desavisadas supostamente foi uma inspiração para o personagem de Buffalo
Bill em O silêncio dos inocentes. “Silence of the Lambs: Trivia”, Internet Movie Database,
www.imdb.com/title/tt0102926/trivia (acessado em 5 de outubro de 2018).
[ 35 ] Richard Gray, “Psychopathy and Will to Power: Ted Bundy and Dennis Rader”, em
Serial Killers: Being and Killing, org. S. Waller, 191–205 (Nova York: Wiley-Blackwell, 2010).
[ 36 ] Robert Whitaker, Mad in America (Filadélfia: Basic Books, 2002).
[ 37 ] Alex Alfieri, Christian Strauss, Harald Meller, Pawel Tacik e Silvio Brandt, “The
Woman of Pritschoena: An Example of the German Neolithic Neurosurgery in Saxony-
Anhalt”, Journal of the History of the Neurosciences 21 (2012): 139–46.
[ 38 ] Miguel Faria, “Violence, Mental Illness, and the Brain—A Brief History of
Psychosurgery: Part 1—From Trephination to Lobotomy”, Surgical Neurology International
4 (2013), www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3640229/ (acessado em 13 de outubro
de 2018).
[ 39 ] Tomislav Breitenfeld, M. J. Jurasic e D. Breitenfeld, “Hippocrates: The Forefather of
Neurology”, Neurological Sciences 35 (2014): 1349–52.
[ 40 ] O modo como os quatro humores interagiam no corpo era bastante complexo, de
acordo com Hipócrates, e a bile amarela e preta não era tão abundante quanto as outras.
Embora Hipócrates não faça uma alusão tão clara, é tentador, no entanto, alimentar a
noção de que xixi e cocô podem ter estado pelo menos inconscientemente associados em
sua mente a esses dois últimos.
[ 41 ] A. Roback, “Graeco-Roman Psychiatry”, em History of Psychology and Psychiatry,
202–11 (Secaucus, NJ: Citadel Press, 1961).
[ 42 ] Para ser justo, a medicina científica não foi totalmente interrompida, e avanços
importantes foram feitos no mundo muçulmano durante o período medieval, mesmo com a
medicina europeia em grande parte definhando em sangrias, poções e exorcismos.
[ 43 ] Depois de ter o braço amputado, a pessoa também poderia fazer uma boa barba e
cortar o cabelo. O poste do barbeiro moderno tem origem nos trapos ensanguentados
enrolados em uma vara e usados como divulgação. Lars Himmelmann, “From Barber to
Surgeon—The Process of professionalization”, Svensk Medicinhistorisk Tidskrift 11 (2007):
69–87.
[ 44 ] J. Kroll e B. Bachrach, “Sin and Mental Illness in the Middle Ages”, Psychological
Medicine 14 (1984): 507–14.
[ 45 ] Heinrich Kramer e Sprenger Jacob, Malleus Maleficarum (1487).
[ 46 ] Beatriz Quintanilla, “Witchcraft or Mental Illness?” Psychiatric Times, 21 de junho
de 2010, https://www.psychiatrictimes.com/view/witchcraft-ormental-illness (acessado em
14 de outubro de 2018).
[ 47 ] E, sim, tenho um exemplar.
[ 48 ] Albert Roberts e Linda Kurtz, “Historical Perspectives on the Care and Treatment of
the Mentally Ill”, Journal of Sociology and Social Welfare 14 (1987): 75–94.
[ 49 ] Roberts e Kurtz, “Historical Perspectives on the Care and Treatment of the Mentally
Ill”.
[ 50 ] O professor de psicologia Brent Robbins sugere que com muita frequência a profissão
médica passou a ver os pacientes como, na verdade, futuros cadáveres, reduzindo a empatia
na prática médica. Brent Robbins, The Medicalized Body and Anesthetic Culture (Nova York:
Palgrave Macmillan, 2018).
[ 51 ] Whitaker, Mad in America.
[ 52 ] Whitaker, Mad in America.
[ 53 ] American Psychological Association, Clinical Practice Guideline for the Treatment of
Posttraumatic Stress Disorder (PTSD), 2017, www.apa.org/ptsdguideline/ (acessado em 6 de
outubro de 2018).
[ 54 ] Christiane Steinert, Thomas Munder, Sven Rabung, Jürgen Hoyer e Falk
Leichsenring, “Psychodynamic Therapy: As Efficacious as Other Empirically Supported
Treatmentments? A Meta-Analysis Testing Equivalence of Outcomes”, American Journal of
Psychiatry 174 (2017): 943–53. Também Joseph Carpenter, Leigh A. Andrews, Sara M.
Witcraft, Mark B. Powers, Jasper A. J. Smits e Stefan G. Hofmann, “Cognitive Behavioral
Therapy for Anxiety and Related Disorders: A Meta-Analysis of Randomized Placebo-
Controlled Trials”, Depression and Anxiety (no prelo). Enquanto servia como voluntário no
Conselho de Representantes da APA, eu os informei da meta-análise de Carpenter, mas a
APA não manifestou interesse em levá-la em consideração ou revisar suas diretrizes clínicas
de acordo com isso.
[ 55 ] American Psychological Association, Timeline of APA Policies & Actions Related to
Detainee Welfare and Professional Ethics in the Context of Interrogation and Natonal Security,
2018, www.apa.org/news/press/statements/interrogations.aspx (acessado em 6 de outubro
de 2018). Deve-se notar que os problemas da APA não terminaram com as acusações de
cumplicidade com tortura. Depois que seu relatório interno (o “Relatório Hoffman”) foi
publicado, a organização foi acusada de não seguir o devido processo legal no caso de
muitos indivíduos mencionados no relatório, e no momento em que escrevo é processada
por difamação. A APA está agora em um beco sem saída, e fica claro para mim que sua
abordagem da ética é egoísta, predatória e preocupada com o bem-estar da própria
organização e não com o público em geral. Espera-se que isso mude no futuro.
[ 56 ] David Rosenhan, “On Being Sane in Insane Places”, Science 179 (1973): 250–58.
[ 57 ] Para ser justo, acaba de sair um livro desafiando a validade desse experimento.
Consulte https://www.nature.com/articles/d41586-019-03268-y.
[ 58 ] Jack Drescher, “Queer Diagnoses Revisited: The Past and Future of Homosexuality
and Gender Diagnoses in DSM and ICD”, International Review of Psychiatry 27 (2015):
386-95.
[ 59 ] Aniko Maraz, Róbert Urbán, Mark Damian Griffiths e Zsolt Demetrovics, “An
Empirical Investigation of Dance Addiction”, PLoS ONE 10 (2015),
http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0125988 (acessado em 5
de outubro de 2018).
[ 60 ] News Media, Public Education and Public Policy Committee, An Official Division
46 Statement on the WHO Proposal to Include Gaming Related Disorders in ICD-11, 2018.
https://div46amplifier.com/2018/06/21/an-official-division-46-statement-on-the-who-
proposal-to-include-gaming-related-disorders-in-icd-11/ (acessado em 5 de outubro de
2018).
[ 61 ] Anthony Bean, Rune K. L. Nielsen, Antonius J. van Rooij e Christopher J.
Ferguson, “Video Game Addiction: The Push to Pathologize Video Games”, Professional
Psychology: Research and Practice 48 (2017): 378–89.
[ 62 ] Para ser justo, alguns clínicos consideram isso positivo, argumentando que permite
que os indivíduos recebam tratamento em vez de serem excluídos caso os sintomas
depressivos sejam uma reação ao luto. Ver, por exemplo, Ronald Pies, “How the DSM-5
Got Grief, Bereavement Right”, PsychCentral (2013), https://psychcentral.com/blog/how-
the-dsm-5-got-griefbereavement-right/ (acessado em 5 de outubro de 2018). Esse
raciocínio tem bons argumentos, mas no geral desconfio que o potencial de abuso é
considerável e dilui ainda mais nossa conceituação de doença mental.
[ 63 ] Kevin Douglas, Laura Guy e Stephen Hart, “Psychosis as a Risk Factor for Violence
to Others: A Meta-Analysis”, Psychological Bulletin 135 (2009): 679–706.
[ 64 ] Christopher J. Ferguson, “Video Games and Youth Violence: A Prospective Analysis
in Adolescents”, Journal of Youth and Adolescence 40 (2011): 377–91.
[ 65 ] Eric Hickey, Serial Murderers and their Victims (Nova York: Cengage, 2015).
[ 66 ] Importante notar que alguns estudiosos afirmam que a psicopatia é uma subclasse do
transtorno de personalidade antissocial (TPA) que é mais propensa à violência. Esse ponto
de vista é razoável, embora não tenha feito seu caminho até sistemas de diagnóstico como o
DSM. Ver Robert Hare, Without Conscience: The Disturbing World of the Psychopath among
Us (Nova York: Guilford Press, 1999). No passado, o uso de termos como psicopatia e
sociopatia tendia a refletir posições ideológicas sobre o transtorno, fosse de base biológica
(psicopatia) ou de aprendizado (sociopatia). O DSM, tentando evitar esses debates
ideológicos sobre a causa, adotou o rótulo TPA. No entanto, este rótulo certamente causa
alguma confusão porque, para o leigo, tende a sugerir indivíduos que evitam os outros, o
que não é tipicamente o caso do TPA.
[ 67 ] Dessa forma, fazendo um alerta de que o uso de uma afirmação por esses grupos
fornece pouco valor probatório da veracidade de tais afirmações. Associações profissionais e
órgãos governamentais tendem a endossar posições vistas como benéficas para essas
organizações, não necessariamente aquelas que são “verdadeiras” em um sentido objetivo e
científico.
[ 68 ] David Adams, S. Barnett, N. Bechtereva, Bonnie Carter, Jose Delgado, José-Luis
Díaz, Andrzej Eliasz, Santiago Genoves, Benson Ginsburg, Jo Groebel, Samir-Kumar
Ghosh, Robert Hinde, Richard Leakey, Taha Malasi, J. Ramirez, Federico Zaragoza,
Diana Mendoza, Ashis Nandy, John Scott e Riitta Wahlstrom, “The Seville Statement on
Violence”, American Psychologist 45 (1990): 1167–68.
[ 69 ] Frans de Waal, “Aggression as a Well-Integrated Part of Primate Social
Relationships: A Critique of the Seville Statement on Violence”, em Aggression and
Peacefulness in Humans and Other Primates, org. James Silverberg e J. Patrick Gray, 37–56.
(Nova York: Oxford University Press, 1992). É uma tradição consagrada de “declarações
consensuais” chegar a tais consensos simplesmente não convidando ninguém que poderia
discordar do consenso desejado.
[ 70 ] Soo Rhee e Irwin D. Waldman, “Genetic and Environmental Influences on
Antisocial Behavior: A Meta-Analysis of Twin and Adoption Studies”, Psychological
Bulletin 128 (2002): 490–529; Christopher J. Ferguson, “Genetic Contributions to
Antisocial Personality and Behavior: A Meta-Analytic Review from an Evolutionary
Perspective”, Journal of Social Psychology 150 (2010): 160–80.
[ 71 ] Kevin Beaver, Joseph A. Schwartz e Jamie M. Gajos, “A Review of the Genetic and
Gene-Environment Interplay Contributors to Antisocial Phenotypes”, em The Development
of Criminal and Antisocial Behavior: Theory, Research and Practical Applications, org. Julien
Morizot e Lila Kazemian, 109–22 (Nova York: Springer, 2010).
[ 72 ] Elizabeth Moes, “Ted Bundy: A Case of Schizoid Necrophilia”, Melanie Klein &
Object Relations 9 (1991): 54–72.
[ 73 ] Jess Wakefield, “Wonderful Tonight: How Old Is Eric Clapton, What Happened to
His Son, What Are the ‘Tears in Heaven’ Singer’s Biggest Songs e Who Is His Wife?”
Sun, 30 de junho de 2018, www.thesun.co.uk/tvandshowbiz/6657776/eric-clapton-son-hit-
songs-wife/ (acessado em 6 de outubro de 2018).
[ 74 ] Muitos dos membros da comissão eram eles próprios cruzados antipornografia, um
conflito de interesses bastante óbvio. Como resultado, a comissão pareceu ter escolhido a
dedo e distorcido as descobertas científicas para apoiar uma agenda antipornografia. Ver
Daniel Linz, Edward Donnerstein e Steven Penrod, “The Findings and Recommendations
of the Attorney General’s Commission on Pornography: Do the Psychological ‘Facts’ Fit
the Political Fury?” American Psychologist 42 (1987): 946–53.
[ 75 ] Christopher J. Ferguson e Richard D. Hartley, “The Pleasure Is Momentary… the
Expense Damnable? The Influence of Pornography on Rape and Sexual Assault”,
Aggression and Violent Behavior 14 (2009): 323–29.
[ 76 ] Taylor Kohut, Jodie L. Baer e Brendan Watts, “Is Pornography Really about ‘Making
Hate to Women’? Pornography Users Hold More Gender Egalitarian Attitudes than
Nonusers in an Representative American Sample”, Journal of Sex Research 53 (2016): 1–11.
[ 77 ] Compreender as mentes e os motivos daqueles que são atraídos por assassinos
famosos — o que não é uma exclusividade de Bundy — seria um estudo psicológico
fascinante.
[ 78 ] Stanley Milgram, “Behavioral Study of Obedience”, Journal of Abnormal and Social
Psychology 67 (1963): 371–78.
[ 79 ] Philip Zimbardo, O efeito Lúcifer: Como pessoas boas se tornam más (Rio de Janeiro:
Record, 2012).
[ 80 ] Stephen Reicher e S. Alexander Haslam, “Rethinking the Psycology of Tyranny: The
BBC Prision Study”, British Journal of Social Psychology 45 (2006): 1–40.
[ 81 ] Peter Gray, “Why Zimbardo’s Prison Experiment Isn’t in My Textbook”, Psychology
Today, 19 de outubro de 2013, www.psychologytoday.com/us/blog/freedom-
learn/201310/why-zimbardo-s-prison-experiment-isn-t-in-my-textbook (acessado em 15
de outubro de 2018); Greg Toppo, “Time to Dismiss the Stanford Prison Experiment?”,
Inside Higher Ed, 20 de junho de 2018, www.insidehighered.com/news/2018/06/20/new-
stanford-prison-experiment-revelations-question-findings (acessado em 15 de outubro de
2018).
[ 82 ] Matthew M. Hollander e Jason Turowetz, “Normalizing Trust: Participants’
Immediately Post-hoc Explanations of Behavior in Milgram’s ‘Obedience’ Experiments”,
British Journal of Social Psychology 56 (2017): 655–74.
[ 83 ] Gina Perry, Behind the Shock Machine: The Untold Story of the Notorious Milgram
Psychology Experiments (Nova York: New Press, 2012).
[ 84 ] Wendy Lower, Hitler’s Furies: German Women in the Nazi Killing Fields (Nova York:
Houghton Mifflin Harcourt, 2013).
[ 85 ] Tom Clark, The Beautiful Beast: Why Was Irma Grese Evil?
www.academia.edu/2183067/The_beautiful_beast_Why_was_Irma_Grese_evil (acessado
em 15 de outubro de 2018).
[ 86 ] Para ser justo, mesmo hoje a história continua a ser reescrita pelas lentes dos
costumes contemporâneos.
[ 87 ] Suetônio, The Life of Caligula,
https://facultystaff.richmond.edu/~wstevens/history331texts/caligula.html.
[ 88 ] Os pretorianos eram uma unidade militar de elite que servia como guardiã do
imperador. Eles também matavam muitos imperadores sempre que se cansavam deles. Vai
saber.
[ 89 ] Fílon, On the Embassy to Gaius, www.earlychristianwritings.com/yonge/book40.html.
[ 90 ] Ver, por exemplo, Aloys Winterling, Caligula: A Biography (Oakland: University of
California Press, 2009).
[ 91 ] Anthony Barrett, Caligula: The Corruption of Power (New Haven, CT: Yale University
Press: 1990).
[ 92 ] José Léon-Carrión e Francisco Javier Chacartegui-Ramos, “Brain Injuries and
Violent Crime”, em Violent Crime: Clinical and Social Implications, org. Christopher J.
Ferguson, 99–118 (Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 2010).
[ 93 ] Barrett, Caligula.
[ 94 ] Dio, Roman History, www.loebclassics.com/view/LCL083/1917/volume.xml.
[ 95 ] Calígula morreu antes de conseguir fazer isso, se é que realmente tinha essa intenção.
[ 96 ] Barrett, Caligula.
[ 97 ] Então, olhando para o Congresso, o quão pior um cavalo poderia se sair?
[ 98 ] Nicholas H. Taylor, “Popular Opposition to Caligula in Jewish Palestine”, Journal for
the Study of Judaism 32 (2001): 54–70.
[ 99 ] Versões anteriores do DSM deixavam isso mais explícito, colocando os transtornos de
personalidade, juntamente com as deficiências intelectuais (ou “retardo mental”, como era
chamado até 2013), sob sua própria classificação ou “eixo”. Presumivelmente, a distinção
entre transtornos nesse eixo e outras condições mentais envolvia a natureza essencial e a
permanência dessas condições.
[ 100 ] De fato, os indivíduos com esquizofrenia costumam desfrutar de uma infância
perfeitamente normal, com sintomas que começam apenas na adolescência ou no início da
idade adulta.
[ 101 ] Não deve ser confundido com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), um
transtorno de ansiedade. O transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) é
semelhante aos conceitos populares de personalidades “tipo A” ou “anal-retentiva” focadas
na limpeza, ordem e na maneira “adequada” de fazer as coisas, muitas vezes imposta
agressivamente aos outros. Se você já discutiu veementemente sobre a maneira “adequada”
de dobrar toalhas, pode ter TPOC. É possível se divertir com pessoas com TPOC
redobrando as roupas delas das formas mais absurdas (enrolar toalhas em tubos, por
exemplo). Em contraste, o TOC é marcado por ansiedade excessiva e pensamentos
intrusivos e desagradáveis (obsessões). Comportamentos compulsivos como contar, verificar
fechaduras, lavar as mãos e assim por diante são adotados como rituais para reduzir a
ansiedade. Os indivíduos com TOC não são particularmente arrumados e organizados,
nem particularmente preocupados com a maneira “adequada” de fazer as coisas, pelo menos
não no sentido de impor aos outros um tipo de superioridade moral.
[ 102 ] Por exemplo, mais de uma vez em meu próprio consultório, fui contratado por pais
que queriam que eu “consertasse” adolescentes com interesses incomuns, geralmente
crianças góticas que adotaram estilos atípicos de vestimenta ou preferências artísticas.
Nesses casos, ajudar os pais a compreender e valorizar seus filhos únicos (que muitas vezes
experimentam transtornos de personalidade esquizotípica ou histriônica) e aceitá-los e
amá-los pelo que são, em vez de esperar pelo milagre da transformação em crianças
“normais”, é mais construtivo do que tentar remodelar uma personalidade estabelecida.
Sendo claro: a maioria dos indivíduos góticos não tem transtornos de personalidade,
embora indivíduos com certos transtornos de personalidade possam gravitar em direção a
estilos de vida mais exóticos.
[ 103 ] E não é pequeno o número na academia, observa-se.
[ 104 ] Pela minha experiência clínica, o transtorno de personalidade limítrofe costuma ser
equivocadamente diagnosticado como transtorno bipolar, apesar de ser muito mais comum.
No transtorno de personalidade limítrofe, as alterações de humor não são por natureza
delirantes, podem mudar muito rapidamente e tendem a ser reações exageradas a
acontecimentos da vida real. Por outro lado, as fases maníaca e depressiva costumam ter
longa duração no transtorno bipolar (uma semana para episódios maníacos, duas semanas
ou mais para episódios depressivos) e com frequência incluem componentes delirantes
durante as fases maníacas, como a crença em que o toque pode curar o doente, em um
esconderijo secreto de milhões de dólares ou em poder voar.
[ 105 ] Yana Weinstein, Marci E. J. Gleason e Thomas F. Oltmanns, “Borderline but Not
Antisocial Personality Disorder Symptoms Are Related to Self-Reported Partner
Aggression in Late Middle-Age”, Journal of Abnormal Psychology 121 (2012): 692–98.
[ 106 ] Sarah L. Desmarais, Andrea Gibas e Tonia L. Nicholls, “Beyond Violence against
Women: Gender Inclusivenes in Domestic Violence Research, Policy and Practice”, em
Violent Crime: Clinical and Social Implications, org. Christopher J. Ferguson, 184–206
(Thousand Oaks, CA: Sage, 2010).
[ 107 ] Nadia Cattane, Roberta Rossi, Mariangela Lanfredi e Annamaria Cattaneo,
“Borderline Personality Disorder and Childhood Trauma: Exploring the Affected
Biological Systems and Mechanisms”. BMC Psychiatry 17 (2017),
https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12888-017-1383-2 (acessado
em 16 de novembro de 2018).
[ 108 ] O narcisismo esteve no centro de uma alegação duvidosa de que a geração dos
millennials experimentava uma “epidemia de narcisismo”. Defendida por alguns psicólogos
como Jean Twenge, essa alegação foi posteriormente desmentida. Ver, por exemplo, Eunike
Wetzel, Anna Brown, Patrick L. Hill, Joanne M. Chung, Richard W. Robins e Brent W.
Roberts, “The Narcissism Epidemic Is Dead; Long Live the Narcissism Epidemic”,
Psychological Science 28 (2017): 1833–47. Isso prova que os livros que depreciam as gerações
mais jovens tendem a vender muito bem para velhos rabugentos, talvez uma lição que eu
devesse ter aprendido melhor.
[ 109 ] Adrian Furnham, Steven C. Richards e Delroy L. Paulhus, “The Dark Triad of
Personality: A 10 Year Review”, Social and Personality Psychology Compass 7 (2013): 199–
216.
[ 110 ] Alan Bullock, Hitler and Stalin (Nova York: Alfred A. Knopf, 1992).
[ 111 ] Bullock, Hitler and Stalin.
[ 112 ] O livro de estudos de caso de Walter Langer apresenta hipóteses mais chocantes
sobre a sexualidade de Hitler. Langer escreveu durante a guerra e previu com sucesso alguns
resultados, como o suicídio de Hitler. Outros elementos do livro parecem um tanto
anacrônicos psicanaliticamente, mas é um exemplo interessante de como os líderes norte-
americanos contemporâneos procuraram entender a mente de Hitler. Walter Langer, The
Mind of Adolf Hitler: The Secret Wartime Report (Nova York: New American Library, 1972).
[ 113 ] Leonard Heston e Renate Heston, The Medical Casebook of Adolf Hitler (Briarcliff
Manor, NY: Stein & Day, 1979).
[ 114 ] O mito de que Hitler ou outros líderes nazistas não apresentavam patologias
mentais significativas é muitas vezes disseminado por fontes que deveriam ser mais bem-
informadas. Por exemplo, às vezes até livros de psicologia afirmam que Hitler tinha “alta
autoestima”, uma observação canhestra que é perigosamente enganosa. Consulte Uli
Shimmack, “Auditing Social Psychology Textbooks: Hitler Had High Self-Esteem”,
Replicability Index (2018), https://replicationindex.com/2018/12/28/socpsytextbookch2self
(acessado em 26 de dezembro de 2018).
[ 115 ] Susan C. South, Robert F. Krueger, Gun Peggy Knudsen, Eivind Ystrom, Nikolai
Czajkowski, Steven H. Aggen, Michael C. Neale, Nathan A. Gillespie, Kenneth S.
Kendler e Ted Reichborn-Kjennerud, “A Population Based Twin Study of DSM-5
Maladaptive Personality Domains”, Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment 8
(2017): 366–75.
[ 116 ] Um fato pouco discutido é que a Polônia, em última instância vítima da agressão
nazista que deu início à Segunda Guerra Mundial no teatro europeu, invadiu e anexou
parte da Tchecoslováquia quando aquela nação se desfez sob a pressão nazista. Uma
alternativa interessante a considerar é se a Alemanha poderia ter unido grande parte da
Europa Oriental, incluindo a Polônia, contra a União Soviética. Infelizmente, isso não
aconteceria, já que a Segunda Guerra Mundial na Europa começou com a invasão da
Polônia em 1939. Obviamente, tudo bem, já que uma vitória nazista na Segunda Guerra
Mundial é algo horrível de se considerar.
[ 117 ] Para uma história detalhada, ver David Faber, Munich, 1938 (Nova York: Simon &
Schuster, 2009).
[ 118 ] Embora seja obviamente menos claro por que motivo alguém desejaria que fosse
esse o caso.
[ 119 ] Análises históricas sugerem que Stálin planejava invadir a Alemanha em 1942. Ver
Constantine Pleshakov, Stalin’s Folly: The Tragic First Ten Days of WWII on the Eastern Front
(Nova York: Houghton Mifflin, 2005).
[ 120 ] A Ucrânia sofreu particularmente com as políticas agrícolas de Stálin na década de
1930, quando ele confiscou a maior parte dos grãos, permitindo que talvez um quarto da
população morresse de fome.
[ 121 ] Embora Hitler não estivesse particularmente interessado em uma guerra com o
Reino Unido, vingar a desonra da derrota na Primeira Guerra Mundial decerto estava em
sua mente no que diz respeito à França.
[ 122 ] A Alemanha terminou a guerra com tanques muito melhores — incluindo os
Panzer IV, Panther e Tiger, bem como com excelentes armas de assalto, especialmente
depois que os defeitos provocados pela produção apressada foram eliminados — do que a
maioria de seus inimigos (a não ser os tanques russos reconhecidamente excelentes). Em
1944, a Alemanha tinha caças a jato, mísseis de cruzeiro, bombas guiadas, mísseis
balísticos, submarinos avançados e um rifle de assalto produzido em massa (o Sturmgewehr
44). Com um pouco mais de tempo, a Alemanha poderia ter projetado um bombardeiro
estratégico eficaz, algo de que carecia, um decente caça de escolta de longo alcance e uma
marinha de superfície.
[ 123 ] Ver Ervin Staub, The Roots of Evil (Cambridge: Cambridge University Press, 1992)
para uma teoria abrangente, a partir de uma perspectiva social, de como os genocídios
ocorrem.
[ 124 ] Esses mesmos estudantes universitários, bem envergonhados, também expõem um
dilema moral interessante: se tais assassinatos com a viagem no tempo fossem possíveis, é
mais perverso assassinar um bebê que até aquele momento não havia cometido nenhum ato
maligno, ou permitir que aquele bebê viva, sabendo do sofrimento que infligirá a
incontáveis milhões de outras pessoas? Felizmente, não deixamos nossas máquinas do
tempo aos cuidados de jovens sob a influência de substâncias curiosas.
[ 125 ] Daí o termo compatibilismo. Para um debate interessante, ver Daniel Dennett e
Gregg Caruso, “Just Deserts”, Aeon, 4 de outubro de 2018, https://aeon.co/essays/on-free-
will-daniel-dennett-and-gregg-caruso-go-head-to-head (acessado em 22 de novembro de
2018).
[ 126 ] John A. Bargh, Mark Chen e Lara Burrows, “Automaticity of Social Behavior:
Direct Effects of Trait Construct and Stereotype Activation on Action”, Journal of
Personality and Social Psychology 71 (1996): 230–44.
[ 127 ] Stéphane Doyen, Olivier Klein, Cora-Lise Pichon e Axel Cleeremans, “Behavioral
Priming: It’s All in the Mind, but Whose Mind?” PLoS ONE 7 (2012),
https://journals.plos.org/plosone/article?
id=10.1371/journal.pone.0029081#pone.0029081.s001 (acessado em 24 de novembro de
2018).
[ 128 ] Open Science Collaboration, “Estimating the Reproducibility of Psychological
Science”, Science, 349 (2015): 1–8; Colin Camerer, Anna Dreber, Felix Holzmeister, Teck-
Hua Ho, Jürgen Huber, Magnus Johannesson, Michael Kirchler, Gideon Nave, Brian A.
Nosek, Thomas Pfeiffer, Adam Altmejd, Nick Buttrick, Taizan Chan, Yiling Chen, Eskil
Forsell, Anup Gampa, Emma Heikensten, Lily Hummer, Taisuke Imai, Siri Isaksson,
Dylan Manfredi, Julia Rose, Eric-Jan Wagenmakers e Hang Wu, “Evaluating the
Replicability of Social Science Experiments in Nature and Science between 2010 and
2015”, Nature Human Behavior 2 (2018): 637–44.
[ 129 ] Rafi Letzter, “Scientists Are Furious after a Famous Psychologist Accused Her
Peers of ‘Methodological Terrorism’”, Business Insider UK,
http://uk.businessinsider.com/susan-fiske-methodological-terrorism-2016-9?r=US &IR=T
(acessado em 24 de novembro de 2018).
[ 130 ] Joseph F. Rychlak, “In Search and Proof of Human Beings, Not Machines”, Journal
of Personality Assessment 85 (2005): 239–56.
[ 131 ] Ver, por exemplo, Mikkel C. Vinding, Mads Jensen e Morten Overgaard, “Distinct
Electrophysiological Potentials for Intention in Action and Prior Intention for Action”,
Cortex: A Journal Devoted to the Study of the Nervous System and Behavior 50 (2014): 86–99;
Também J. Miller e W. Schwartz, “Brain Signals Do Not Demonstrate Unconscious
Decision Making: An Interpretation Based on Graded Conscious Awareness”,
Consciousness and Cognition 24 (2014): 12–21.
[ 132 ] Roy F. Baumeister, “Constructing a Scientific Theory of Free Will”, em Moral
Psychology, vol 4: Free Will and Moral Responsability, org. Walter Sinnott-Armstrong, 235–
55 (Cambridge, MA: MIT Press, 2014).
[ 133 ] Este preceito, em homenagem ao filósofo francês Charles Renouvier, tem uma
semelhança óbvia com a aposta de Pascal, o que sugere que é melhor acreditar em Deus só
por garantia, uma vez que não há recompensas eternas por estar correto sobre o ateísmo.
[ 134 ] Susan Hatters Friedman e Renée Sorrentino, “Postpartum Psychosis, Infanticide,
and Insanity—Implications for Forensic Psychiatry”, Journal of the American Academy of
Psychiatry and the Law 40 (2012): 326–32.
[ 135 ] Patricia Pearson, When She Was Bad (Nova York: Penguin, 1997).
[ 136 ] S. Fernando Rodriguez, Theodore R. Curry e Gang Lee, “Gender Differences in
Criminal Sentencing: Do Effects Vary across Violent, Property, and Drug Offenses?” Social
Science Quarterly 87 (2006): 318–39.
[ 137 ] Ver Patrick T. Galligan, Report on Certain Matters Related to Karla Homolka,
https://drive.google.com/file/d/0B3ORC8Ev2VnnaDg5LWVWVjJzUGM/view (acessado
em 25 de novembro de 2018).
[ 138 ] Anne McGillivray, “‘A Moral Vacuity in Her Which Is difficult if Not Impossible
to Explain’: Law, Psychiatry and the Remaking of Karla Homolka”, International Journal of
the Legal Profession 5 (1998): 255–88.
[ 139 ] Pearson, When She Was Bad, 46. A discrepância nas avaliações psicológicas também
mostra a falta de confiabilidade de tais avaliações e como elas podem ser fruto de
estereótipos e preconceitos.
[ 140 ] “Homolka’s Psychiatric Report Released”, Globe and Mail, 5 de junho de 2005,
www.theglobeandmail.com/news/national/homolkas-psychiatric-report-
released/article20422606/ (acessado em 25 de novembro de 2018).
[ 141 ] Particularmente Pearson, When She Was Bad.
[ 142 ] Tania Kohut, “Convicted Killer Karla Homolka Volunteers at Her Children’s
Montreal School: Reports”, Global News, 31 de maio de 2017,
https://globalnews.ca/news/3491735/karla-homolka-school-montreal/ (acessado em 25 de
novembro de 2018).
[ 143 ] Oeindrila Dube e S. P. Harish, Queens, NBER Working Paper Nº 23337 (abril de
2017), www.nber.org/papers/w23337.pdf (acessado em 25 de novembro de 2018).
[ 144 ] Barnaby Rogerson, The Last Crusades (Nova York: Overlook, 2009).
[ 145 ] Os turcos acabariam por vencer, mas não antes de 1669, muito depois da morte de
Ibrahim.
[ 146 ] Jason Goodwin, Lords of the Horizons (Nova York: Henry Holt, 1998).
[ 147 ] Uma das concubinas de Ibrahim que sobreviveu ao seu reinado, Turhan Hatice
Sultan, tornou-se regente do Império Otomano, uma das mulheres mais poderosas de sua
história. Houve rumores de que sua sogra, a mãe de Ibrahim, Kösem Sultan, foi assassinada
como parte de sua ascensão ao poder. A vida era difícil no Império Otomano.
[ 148 ] Compartilhei o vídeo com um colega biólogo da Universidade Stetson, que
especulou que o outro macho podia ser um mais velho que havia perdido o status. Isso
também pode explicar a hostilidade particular do macho alfa para com ele.
[ 149 ] Os estudos sugerem que os machos alfa de fato têm mais estresse do que os “betas”
— machos de status alto, mas não máximo. Ver Laurence Gesquiere, Niki Learn, M.
Carolina Simão, Patrick O. Onyango, Susan C. Alberts e Jeanne Altmann, “Life at the
Top: Rank and Stress in Wild Male Baboons”, Science 333 (2011): 357–60.
[ 150 ] T. Nishida, “Alpha Status and Agonistic Alliance in Wild Chimpanzees (Pan
Troglodytes Schweinfurthii)”, Primates 24 (1983): 318–36. Também Nicholas E. Newton-
Fisher, “Hierarchy and Social Status in Budongo Chimpanzees”, Primates 45 (2004): 81–
87.
[ 151 ] Thomas Hobbes, Leviathan, 1651.
[ 152 ] Grant McCall e Nancy Shields, “Examining the Evidence from Small-Scale
Societies and Early Prehistory and Implications for Modern Theories of Aggression and
Violence,” Aggression and Violent Behavior, 13 (2008): 1–9.
[ 153 ] Nicole Hess, Courtney Helfrecht, Edward Hagen, Aaron Sell e Barry Hewlett,
“Interpersonal Aggression among Aka Hunter-Gatherers of the Central African Republic:
Assessing the Effects of Sex, Strength, and Anger”, Human Nature 21 (2010): 330–54.
[ 154 ] Ian Armit, “Violence and Society in the Deep Human Past”, British Journal of
Criminology 51 (2011): 499–517.
[ 155 ] Steven Pinker, The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined (Nova
York: Viking, 2011). O medo do crime costuma ser apresentado como mais comum entre
os idosos. De modo interessante, a pesquisa sugere que isso não é verdade. Ver Derek
Chadee e Jason Ditton, “Are Older People Most Afraid of Crime? Revisiting Ferraro and
LaGrange in Trinidad”, British Journal of Criminology 43 (2003): 417–33.
[ 156 ] Isso inclui o abate de bebês. Os chimpanzés, como os humanos, podem ser criaturas
horríveis. Jane Goodall, “Infant-Killing and Cannibalism in Free-Living Chimpanzees”,
Folia Primatologica 28 (1977): 259-82 e “Life and Death at Gombe”, National Geographic
155 (1979): 595–621.
[ 157 ] Isso não significa que seja certo, claro, apenas nos ajuda a entender como pode ter
acontecido.
[ 158 ] O que, claro, levou os otomanos à solução lógica, embora brutal, do fratricídio,
conforme discutido no capítulo 3.
[ 159 ] Dio, Roman History, www.loebclassics.com/view/LCL083/1917/volume.xml.
[ 160 ] Herodiano, History of the Roman Empire since the Death of Marcus Aurelius.
[ 161 ] Heliogábalo também se circuncidou, ao que parece publicamente, o que não era
comum entre os romanos.
[ 162 ] Não fica claro se a vestal virgem em questão, Júlia Aquilia Severa, teve muito a dizer
sobre isso ou sobre seu destino final. A pena por quebrar o voto de castidade para as vestais
virgens costumava ser a execução.
[ 163 ] Andrew Flores, Jody Herman, Gary Gates e Taylor Brown, How Many Adults
Identify as Transgender in the United States? (Los Angeles: Williams Institute, 2016). Nesse
estudo, o número de indivíduos transexuais que não se identificaram como um gênero ou
outro (definitivamente masculino ou feminino) foi tão pequeno que não pôde ser medido
de forma confiável.
[ 164 ] Ver, por exemplo, C. Roselli, “Neurobiology of Gender Identity and Sexual
Orientation”, Journal of Neuroendocrinology 30 (2018): 1–8, ou Dick Swaab e E. Fliers, “A
Sexually Dimorphic Nucleus in the Human Brain”, Science 228 (1985): 1112–15, entre
muitos outros que indicam claramente um núcleo sexualmente dimórfico no hipotálamo
que parece determinar a noção de masculinidade ou feminilidade. Mesmo para um pequeno
número de indivíduos que não se identificam como homens ou mulheres, essa fluidez de
gênero provavelmente ainda resulta dessa região do cérebro. Então, coloque seus meninos
para brincar de boneca o quanto quiser, isso não fará nenhuma diferença em sua identidade
de gênero (eles são mais propensos a dobrar a boneca e fazer dela uma arma).
[ 165 ] Dick Swaab e Alicia Garcia-Falgueras, “Sexual Differentiation of the Human Brain
in Relation to Gender Identity and Sexual Orientation”, Functional Neurology 24 (2009):
17–28.
[ 166 ] Bonnie Auyeung, Simon Baron-Cohen, Emma Ashwin, Rebecca Knickmeyer,
Kevin Taylor, Gerald Hackett e Melissa Hines, “Fetal Testosterone Predicts Sexually
Differentiated Childhood Behavior in Girls and in Boys”, Psychological Science 20 (2009):
144–48. Na verdade, os pais muitas vezes tratam meninos e meninas biológicos de formas
distintas esperando diferenças bastante previsíveis de sexo e gênero que são biologicamente
determinadas. No entanto, tais comportamentos de socialização parecem ter pouco impacto
causal real na identidade de gênero. Por outro lado, podem causar mais disforia naqueles
indivíduos cuja identidade de gênero não corresponde ao seu sexo biológico. Infelizmente,
em busca do objetivo admirável de maior sensibilidade e inclusão para indivíduos cujos
comportamentos de gênero não correspondem às expectativas da sociedade, alguns
militantes criaram o mito de que a identidade de gênero é divorciada de fatores biológicos e
pode ser fortemente moldada apenas pela socialização.
[ 167 ] Milton Diamond, “Sexual Identity, Monozygotic Twins Reared in Discordant Sex
Roles and a BBC Follow-Up”, Archives of Sexual Behavior 11 (1982): 181–86.
[ 168 ] Associated Press, “David Reimer, 38, Subject of John/Joan Case”, New York Times,
12 de maio de 2004, www.nytimes.com/2004/05/12/us/david-reimer-38-subject-of-the-
john-joan-case.html (acessado em 7 de dezembro de 2018).
[ 169 ] Mas todos sabemos que é realmente uma minissaia. Isso não é um juízo de valor.
[ 170 ] O casamento de Isabel com Fernando de Aragão uniu os reinos de Castela e
Aragão, uma união incômoda que até hoje produz uma marola independentista em regiões
da antiga Aragão (Catalunha).
[ 171 ] Se o próprio Colombo pode ser chamado de louco é uma questão polêmica. Sua
reputação varia dependendo de se os historiadores se concentram em sua persistência e suas
realizações notáveis ou em sua teimosia de achar que havia descoberto uma rota para a
Índia e o impacto genocida de sua chegada sobre os nativos da região.
[ 172 ] Barnaby Rogerson, The Last Crusaders (Nova York: Overlook Press, 2009).
[ 173 ] Mary Erickson, “Rethinking Oedipus: An Evolutionary Perspective of Incest
Avoidance”, American Journal of Psychiatry 150 (1993): 411-16; Liqun Luo, “Is There a
Sensitive Period in Human Incest Avoidance? “ Evolutionary Psychology 9 (2011): 285–95.
[ 174 ] Eu limito minha discussão a relacionamentos incestuosos consensuais entre adultos.
O incesto sem consentimento, que ocorre no contexto de abuso sexual infantil ou estupro
entre irmãos, naturalmente traz consigo uma série de outras questões emocionais, de saúde
e jurídicas.
[ 175 ] Robin Bennett, Arno Mutulsky, Alan Bittles, Louanne Hudgins, Stefanie Uhrich,
Debra Lochner Doyle, Kerry Silvey, C. Ronald Scott, Edith Cheng, Barbara McGillivray,
Robert D. Steiner e Debra Olson, “Genetic Counseling and Screening of Consanguineous
Couples and Their Offspring: Recommendations of the National Society of Genetic
Counselors”, Journal of Genetic Counseling 11 (2002): 97–119.
[ 176 ] Isso foi promovido ativamente, por exemplo, pela rainha Vitória, que tinha parentes
em famílias reais de muitas nações e, é claro, manteve um casamento por amor com seu
primo em primeiro grau, o príncipe Albert. Esses laços familiares não impediram a eclosão
da Primeira Guerra Mundial.
[ 177 ] Que, ao contrário de seus primos espanhóis, seria expulso do poder somente após a
Primeira Guerra Mundial.
[ 178 ] Dizem que Maria Antonieta, uma Habsburgo que eu estudo em um capítulo
posterior, tinha um toque disso, criando um lábio inferior projetado.
[ 179 ] Como no caso das doenças hereditárias, nem todos os Habsburgo tinham a
mandíbula Habsburgo. As mulheres da família parecem ter sido poupadas das piores
consequências desse traço, embora seja menos certo se foram poupadas de outros elementos
da consanguinidade.
[ 180 ] Gonzalo Alvarez, Francisco Ceballos e Celsa Quintiero, “The Role of Inbreeding in
the Extinction of an European Royal Dynasty”, PLoS One 4 (2009):
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0005174 (acessado em 9
de dezembro de 2018).
[ 181 ] J. H. Elliot, Imperial Spain 1469–1716 (Nova York: Penguin: 2002).
[ 182 ] Alvarez, Ceballos e Quintiero, “The Role of Inbreeding in the Extinction of a
European Royal Dinasty”.
[ 183 ] Anne teve em torno de 17 gestações, das quais apenas cinco resultaram em filhos
nascidos vivos e apenas uma criança que sobreviveu à infância. A criança morreu aos 11
anos.
[ 184 ] Tecnicamente, isso ocorreu em 1701, alguns anos após a queda de Jaime II, visto
que os últimos Stuart protestantes não produziram herdeiros.
[ 185 ] Uma régua de cálculo pode ajudar a acompanhar as contas.
[ 186 ] E assim perdeu a oportunidade de quebrar uma linha absurdamente longa de Jorges.
[ 187 ] Seu primeiro-ministro chefe durante a guerra, Lord North, tentou renunciar várias
vezes citando sua própria incapacidade de administrar a guerra, mas Jorge III ignorou seus
esforços.
[ 188 ] Barbara Tuchman, March of Folly (Nova York: Random House, 1985).
[ 189 ] Janice Hadlow, A Royal Experiment: The Private Life of King George III (Nova York:
Henry Holt, 2014).
[ 190 ] Hadlow, A Royal Experiment.
[ 191 ] Francis Willis e o tratamento dispensado ao rei Jorge III são o tema dos famosos
peça e filme As loucuras do Rei George, embora seja improvável que o tratamento de Willis
tenha sido tão útil quanto o filme sugere.
[ 192 ] Tecnicamente, ele era o príncipe de Gales enquanto Jorge III ainda estava vivo.
[ 193 ] Hadlow, A Royal Experiment.
[ 194 ] Esse sintoma provavelmente ajudou a criar a crença absurda de que a porfiria
estivesse relacionada a mitos sobre vampiros.
[ 195 ] Ida Macalpine e Richard Hunter, “The ‘Insanity’ of King George III: A Classic
Case of Porphyria”, British Medical Journal 1 (1966): 65–71.
[ 196 ] Timothy Peters e Allan Beveridge, “The Madness of King George III: A
Psychiatric Re-Assessment”, History of Psychiatry 21 (2010): 20–37.
[ 197 ] Crianças do ensino fundamental, por outro lado, acham isso legal.
[ 198 ] Para ser justo, há especulações a respeito de um possível surto anterior da doença
em 1765, embora poucos registros médicos tenham sobrevivido e não fique claro se os
sintomas de saúde mental estavam envolvidos.
[ 199 ] Ver também Dean Keith Simonton, “Mad King George: The Impact of Personal
and Political Stress on Mental and Physical Health”, Journal of Personality 66 (1998): 443–
66.
[ 200 ] Timothy Cox, Nicola Jack, Simon Lofthouse, John Watling, Janice Haines e
Martin J Warren, “King George III and Porphyria: An Elemental Hypothesis and
Investigation”, The Lancet 366 (2005): 332–35.
[ 201 ] O arsênico, apesar de conhecido como veneno, às vezes era misturado a outros
medicamentos proposital ou acidentalmente. Ôps.
[ 202 ] Vassiliki Rentoumi, Timothy Peters, Jonathan Conlin e Peter Garrard, “The Acute
Mania of King George III: A Computational Linguistic Analysis”, PLoS ONE 12 (2017),
www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5362044/ (acessado em 13 de dezembro de
2018).
[ 203 ] John O’Farrell, An Utterly Impartial History of Britain (Londres: Transworld
Publishers, 2007).
[ 204 ] O que foi bom para o Reino Unido, que tinha de gastar recursos defendendo o
principado alemão, com o qual tinha pouco em comum além do monarca compartilhado.
[ 205 ] Karen McComb, Lucy Baker e Cynthia Moss, “African Elephants Show High
Levels of Interest in the Skulls and Ivory of Their Own Species”, Biology Letters 2 (2006):
26–28. Eles, entretanto, não constroem cemitérios ou realizam sessões espíritas.
Exatamente o que os elefantes podem estar pensando ou sentindo permanece
desconhecido, pois os elefantes raramente concordam em participar de pesquisas.
[ 206 ] Ian Tattersall, “Once We Were Not Alone”, Scientific American, janeiro de 2000,
https://www.scientificamerican.com/article/once-we-were-not-alone/ (acessado em 15 de
dezembro de 2018).
[ 207 ] Significando que não há evidências para refutar tais crenças. A questão de saber se
alguma forma de vida nos espera após a morte simplesmente está além do alcance da
ciência. Poderia ser concebido um experimento, embora os participantes, de forma bastante
inconveniente, fossem incapazes de trazer relatos. Isso, é claro, significa que os ateus são tão
culpados quanto os indivíduos religiosos por afirmar que suas crenças são fatos, quando elas
não podem ser confirmadas pela ciência.
[ 208 ] John A. Terrizzi, “Is Religion an Evolutionously Evoked Disease-Avoidance
Strategy?” Religion, Brain & Behavior 7 (2017): 328–30.
[ 209 ] Ara Norenzayan, Azim F. Shariff, Will M. Gervais, Aiyana K. Willard, Rita A.
McNamara, Edward Slingerland e Joseph Henrich, “The Cultural Evolution of Prosocial
Religions”, Behavioral and Brain Sciences 39 (dezembro de 2014).
[ 210 ] Ara Norenzayan e Azim F. Shariff, “The Origin and Evolution of Religious
Prosociality,” Science 322 (2008): 58–62.
[ 211 ] Lee A. Kirkpatrick, “Toward an Evolutionary Psychology of Religion and
Personality”, Journal of Personality 67 (1999): 921–52.
[ 212 ] Dominic Johnson e Jesse Bering, “Hand of God, Mind of Man: Punishment and
Cognition in the Evolution of Cooperation”, Evolutionary Psychology 4 (2006): 219–33.
[ 213 ] Andrea M. Yetzer, Tom Pyszczynski e Jeff Greenberg, “A Stairway to Heaven: A
Terror Management Theory Perspective on Morality”, em Atlas of Moral Psychology, org.
Kurt Gray e Jesse Graham, 241–51 (Nova York: Guilford Press, 2018).
[ 214 ] Não exatamente uma característica unicamente humana. O mundo natural é
violento, cruel e brutal mesmo dentro das espécies.
[ 215 ] Normalmente, 85% do peso corporal mínimo é usado como parâmetro, embora o
DSM-5 mais recente tenha removido o número específico. AN não deve ser confundida
com outras formas de anorexia provocadas por condições médicas como quimioterapia ou
câncer de estômago.
[ 216 ] Christopher J. Ferguson, “The Devil Wears Stata: Thin-Ideal Media’s Minimal
Contribution to Our Understanding of Body Insatisfaction and Eating Disorders”, Archives
of Scientific Psychology 6 (2018): 70–79.
[ 217 ] Michael B. King e Gillian Mezey, “Eating Behaviour of Male Racing Jockeys”,
Psychological Medicine 17 (1987): 249–53.
[ 218 ] Desculpem, jóqueis!
[ 219 ] Fernando Espi Forcen e Carlos Espi Forcen, “The Practice of Holy Fasting in the
Late Middle Ages: A Psychiatric Approach”, Journal of Nervous and Mental Disease 203
(2015): 650–53.
[ 220 ] Diz-se que Catarina teria resistido um pouco mais, raspando a cabeça, usando um
véu e suportando o trabalho braçal exigido dela como punição por desobedecer aos pais. E
as crianças de hoje com Cristo e cabelos!
[ 221 ] Isabella Sukkar, Madeleine Gagan e Warren Kealy-Bateman, “The 14th Century
Religious Women Margery Kempe and Catherine of Siena Can Still Teach Us Lessons
about Eating Disorders Today”, Journal of Eating Disorders 5 (julho de 2017),
https://jeatdisord.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40337-017-0151-5 (acessado em
18 de dezembro de 2018).
[ 222 ] Eu brinco, mas é claro que AN não é motivo de riso para aqueles que a
experimentam. Procure ajuda caso esteja passando por isso.
[ 223 ] R. Bianucci, P. Charlier, P. Evans e O. Appenzeller, “Temporal Lobe Epilepsy and
Anorexia Nervosa in St. Catherine of Siena (1347-1380)”, Journal of the Neurological
Sciences 379 (2017): 122–23.
[ 224 ] Bianucci, Charlier, Evans e Appenzeller, “Temporal Lobe Epilepsy and Anorexia
Nervosa in St. Catherine of Siena”.
[ 225 ] Sukkar, Gagan e Kealy-Bateman, “The 14th Century Religious Women”.
[ 226 ] Francesco M. Galassi, Nicole Bender, Michael E. Habicht, Emanuele Armocida,
Fabrizio Toscano, David A. Menassa e Matteo Cerri. “St. Catherine of Siena (1347–1380
d.C.): One of the Earliest Historic Cases of Altered Gustatory Perception in Anorexia
Mirabilis”, Neurological Sciences (no prelo).
[ 227 ] Albert Rothenberg, “Eating Disorder as a Modern Obsessive-Compulsive
Syndrome”, Psychiatry: Interpersonal and Biological Processes 49 (1986): 45–53. Ver também
Joy D. Humphreys, James R. Clopton e Darcy A. Reich, “Disordered Eating Behavior and
Obsessive Compulsive Symptoms in College Students: Cognitive and Affective
Similarities”, Eating Disorders: The Journal of Treatment & Prevention 15 (2007): 247–59.
[ 228 ] Felicity Ng, “The Interface between Religion and Psychosis”, Australasian Psychiatry
15 (2007): 62–66.
[ 229 ] Dominiek D. Coates, “‘Cult Commitment’ from the Perspective of Former
Members: Direct Rewards of Membership versus Dependency Inducing Practices”,
Deviant Behavior 33 (2012): 168–84.
[ 230 ] Wendy Gale Robinson, “Heaven’s Gate: The End?” Journal of Computer-Mediated
Communication 3 (1997), https://academic.oup.com/jcmc/article/3/3/JCMC334/4584381
(acessado em 21 de dezembro de 2018). O culto também era conhecido por sua aparência
andrógina, incluindo castração para muitos dos homens (irc!) e roupas idênticas.
[ 231 ] Seu nome de batismo era Vernon Howell; ele se renomeou David Koresh para ter
um nome com conotação bíblica.
[ 232 ] William L. Pitts, “Davidians and Branch Davidians”, Handbook of Texas Online,
Texas State Historical Association, 2010,
https://tshaonline.org/handbook/online/articles/ird01 (acessado em 22 de dezembro de
2018).
[ 233 ] Robert R. Agne, “Reframing Practices in Moral Conflict: Interaction Problems in
the Negotiation Standoff at Waco”, Discourse & Society 18 (2007): 549–78.
[ 234 ] US Departament of Justice, Report to the Deputy Attorney General on the Events at
Waco, Texas (Washington, DC: US Departament of Justice, 1993),
www.justice.gov/archives/publications/waco/report-deputy-attorney-general-events-waco-
texas (acessado em 22 de dezembro de 2018).
[ 235 ] Simultaneamente, os Texas Rangers começaram a investigar se o ataque do ATF ao
Ramo Davidiano teria vazado.
[ 236 ] Committee on Government Reform, The Tragedy at Waco: New Evidence Examined
(Washington, DC: Government Printing Office, 2000),
www.congress.gov/106/crpt/hrpt1037/CRPT-106hrpt1037.pdf (acessado em 22 de
dezembro de 2018).
[ 237 ] Robert R. Agne, “Reframing Practices in Moral Conflict: Interaction Problems in
the Negotiation Standoff at Waco”, Discourse & Society 18 (2007): 549–78.
[ 238 ] Dick Reavis, Ashes of Waco: An Investigation (Syracuse, NY: Syracuse University
Press, 1998).
[ 239 ] A. Adityanjee, “Jauhar: Mass Suicide by Self-Immolation in Waco, Texas”, Journal
of Nervous and Mental Disease 182 (1994): 727–28.
[ 240 ] David Holley, “Japanese Guru: A Youthful Bully’s Quest for Power”, Los Angeles
Times, 27 de março de 1995, https://www.latimes.com/archives/la-xpm-1995-03-27-mn-
47649-story.html (acessado em 23 de dezembro de 2018).
[ 241 ] Alexander E. Raevskiy, “Psychological Aspects of the Aum Shinrikyo Affair”,
Psychology in Russia: State of the Art 7 (2014): 34–39.
[ 242 ] Robert Jay Lifton, “Aum Shinrikyo: The Threshold Crossed”, Journal of Aggression,
Maltreatment & Trauma 9 (2004): 57–66.
[ 243 ] Lifton, “Aum Shinrikyo”.
[ 244 ] Ian Reader, “Scholarship, Aum Shinrikyô, and Academic Integrity”, Nova Religio 3
(2000): 368–82.
[ 245 ] William Rosenau, “Aum Shinrikyo’s Biological Weapons Program: Why Did It
Fail?”, Studies in Conflict & Terrorism 24 (2001): 289–301.
[ 246 ] Lifton, “Aum Shinrikyo”.
[ 247 ] Benjamin Beit-Hallahmi, “Apocalyptic Dreams and Religious Ideologies: Losing
and Saving Self and World”, Psychoanalytic Review 90 (2003): 403–39.
[ 248 ] Kyle B. Olson, “Aum Shinrikyo: Once and Future Threat?” Emerging Infectuous
Diseases 4 (1999): 513–16,
www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2627754/pdf/10458955.pdf (acessado em 24 de
dezembro de 2018).
[ 249 ] Olson, “Aum Shinrikyo”.
[ 250 ] “Tokyo Sarin Attack: Aum Shinrikyo Cult Leaders Executed”, BBC News, 6 de
julho de 2018, www.bbc.com/news/world-asia-43395483 (acessado em 24 de dezembro de
2018).
[ 251 ] Uso o termo para indicar aqueles que foram criados em uma cultura majoritária
vagamente cristã, mas que podem exibir vários graus de fé real, que vão do
fundamentalismo ao ateísmo.
[ 252 ] U.S. Government Accountability Office, Countering Violent Extremism
(Washington, DC: United States Government Accountability Office, 2017),
www.gao.gov/assets/690/683984.pdf (acessado em 26 de dezembro de 2018).
[ 253 ] Adam Lankford, “A Comparative Analysis of Suicide Terrorists and Rampage,
Workplace, and School Shooters in the United States from 1990 to 2010”, Homicide
Studies: An Interdisciplinary & International Journal 17 (2013): 255–74.
[ 254 ] Inspectors General of the Intelligence Community, Central Intelligence Agency,
Departament of Justice and Departament of Homeland Security, Unclassified Summary of
Information Handling and Sharing Prior to the April 15, 2013 Boston Marathon Bombings
(Washington, DC: Office of Inspectors General, 2014),
https://oig.justice.gov/reports/2014/s1404.pdf (acessado em 26 de dezembro de 2018).
[ 255 ] Phillip Martin, “Is the Waltham Triple Murder Investigation at a Dead End?”
WGBH, 12 de abril de 2018, www.wgbh.org/news/2018/04/12/news/waltham-triple-
murder-investigation-dead-end (acessado em 26 de dezembro de 2018).
[ 256 ] Massachusetts Emergency Management Agency, After Action Report for the Response
to the 2013 Boston Marathon Bombings, December 2014,
www.mass.gov/files/documents/2016/09/uz/after-action-report-for-the-response-to-the-
2013-boston-marathon-bombings.pdf (acessado em 26 de dezembro de 2018).
[ 257 ] Ann O’Neill, “Boston Marathon Bomber Dzhokhar Tsarnaev Sentenced to Death”,
CNN, 15 de maio de 2015, www.cnn.com/2015/05/15/us/boston-bombing-tsarnaev-
sentence/index.html (acessado em 26 de dezembro de 2018).
[ 258 ] O’Neill, “Boston Marathon Bomber Dzhokhar Tsarnaev Sentenced to Death”.
[ 259 ] Saeed Ahmed, “Who Were Rizwan Farook and Tashfeen Malik?”, CNN, 3 de
dezembro de 2015, www.cnn.com/2015/12/03/us/syed-farook-tashfeen-malik-mass-
shooting-profile/index.html (acessado em 30 de dezembro de 2018).
[ 260 ] Tentar descrever o comunismo sucintamente em algumas frases é, obviamente, uma
tarefa árdua. O comunismo é uma filosofia política complexa com muitas vertentes, mas
aqueles interessados em entendê-lo por completo podem começar lendo o Manifesto
Comunista de Marx e Engels. Não é longo e está convenientemente disponível na internet
para revolucionários iniciantes de todos os cantos. Karl Marx e Friedrich Engels,
Communist Manifesto (1948), www.slp.org/pdf/marx/comm_man.pdf (acessado em 1º de
janeiro de 2019).
[ 261 ] O caso de Nicolau e Alexandra era presença garantida neste livro, dadas suas
neuroses pessoais e os desastres causados por elas. Nicolau geralmente é visto pela história
como um marido e pai decente, mas um péssimo czar. Principalmente porque meio que não
era a coisa dele. Ele poderia ter sido um contador ou dentista perfeitamente razoável. Mas
czar? Não. Ele e Alexandra se amavam de verdade, mas seu filho nasceu com hemofilia,
uma condição dolorosa e, na época, intratável e fatal. A doença do filho criou neuroses
significativas em Alexandra, por fim fazendo com que se envolvesse com o notório
charlatão Rasputin. O caos que Alexandra e Rasputin criaram no governo de São
Petersburgo, a capital, decerto não pode ser totalmente culpado pela queda do governo
czarista, mas claramente não ajudou. É interessante estudar as neuroses de Alexandra e
como elas contribuíram para a revolução russa.
[ 262 ] Robert K. Massie, The Romanovs: The Final Chapter (Nova York: Random House,
2012).
[ 263 ] A Alemanha, inimiga da Rússia, ajudou, abençoada seja.
[ 264 ] Stálin foi um apelido que ele assumiu mais tarde na vida, significando “homem de
aço”. Isso foi, é claro, pré-Super-Homem. Também é perceptível uma vaidade um tanto
descarada na escolha de tal apelido.
[ 265 ] A data é dada como sendo 1878 ou 1879.
[ 266 ] Alan Bullock, Hitler and Stalin (Nova York: Alfred A. Knopf, 1992).
[ 267 ] Um estudioso usa o termo “salsichas encharcadas de excremento” para descrever os
bebês enfaixados da época. Ver Stephanie Shakhireva, “Swaddled Nation: Modern Mother
Russia and a Psychohistorical Reassessment of Stalin”, Journal of Psychohistory 35 (2007):
34–60.
[ 268 ] Shakhireva, “Swaddled Nation”.
[ 269 ] Stephen Kontin, Stalin: Paradoxes of Power, 1878-1928 (Nova York: Penguin, 2015).
[ 270 ] A esta altura vou parar de alimentar este moedor de carne com nomes russos que
soam exóticos. Basta dizer que, na época em que a Segunda Guerra Mundial estourou, a
maioria dos homens de alto escalão que haviam sido camaradas de Stálin durante o tempo
de Lênin e aliados nos anos após a morte de Lênin estava morta por ordem de Stálin.
[ 271 ] A distinção entre o que se entende por “camponês” ou “servo” é, reconhecidamente,
insatisfatoriamente vaga.
[ 272 ] Esse número é quase o dobro do número de judeus que se estima terem morrido
durante o Holocausto nazista.
[ 273 ] Alan Bullock, Hitler and Stalin.
[ 274 ] Talvez o mais famoso tenha sido Konstantin Rokossovsky, que se tornaria um dos
mais célebres comandantes soviéticos na guerra contra a Alemanha após ser libertado da
prisão.
[ 275 ] Precursor do KGB.
[ 276 ] Michael Ellman, “Soviet Repression Statistics: Some Comments”, Europe-Asia
Studies 54 (2002): 1151–72.
[ 277 ] Eles ainda não haviam assinado o Pacto Tripartite.
[ 278 ] Bullock, Hitler and Stalin.
[ 279 ] Constantine Pleshakov, Stalin’s Folly: The Tragic First Ten Days of the WWII on the
Eastern Front (Nova York: Houghton Mifflin, 2005).
[ 280 ] Viktor Suvorov, The Chief Culprit: Stalin’s Grand Design to Start World War II
(Annapolis, MD: Naval Institute Press, 2013).
[ 281 ] David Glantz, Stumbling Colossus (Lawrence: University Press of Kansas, 1998).
[ 282 ] Pleshakov, Stalin’s Folly.
[ 283 ] Um excelente resumo das evidências de todos os lados deste debate é de Ia. S.
Drabkin, “‘Hitler’s War’ or ‘Stalin’s War’?” Journal of Russian and East European Psychology
40 (2002): 5–30.
[ 284 ] Jonathan Fenby, Alliance: The Inside Story of How Roosevelt, Stalin and Churchill Won
One War and Began Another (Nova York: Simon & Schuster, 2008).
[ 285 ] “Russians”, de Sting, é minha preferida.
[ 286 ] Vtadimir Hachinski, “Stalin’s Last Years: Delusions or Dementia?” European Journal
of Neurology 6 (1999): 129–32.
[ 287 ] Hachinski, “Stalin’s Last Years”.
[ 288 ] Hachinski, “Stalin’s Last Years”.
[ 289 ] Ver, por exemplo, Lee Feigon, Mao: A Reinterpretation (Chicago: Ivan R. Dee,
2002), para uma interpretação muito mais positiva de Mao do que você encontrará aqui.
[ 290 ] Um ex-Guarda Vermelho, ou jovem militante pró-Mao, cuja família foi perseguida
pelo regime comunista depois de rejeitar sua violência.
[ 291 ] Jung Chang e Jon Halliday, Mao: The Unknown Story (Nova York: Alfred A. Knopf,
2005).
[ 292 ] Gregor Benton e Lin Chun, Was Mao Really a Monster? The Academic Response to
Chang and Halliday’s “Mao: The Unknown Story” (Abingdon, UK: Routledge, 2010).
[ 293 ] Delia Devin, “Dark Tales of Mao the Merciless”, em Was Mao Really a Monster? The
Academic Response to Chang and Halliday’s “Mao: The Unknown Story”, org. Gregor Benton e
Lin Chun, 15-20 (Abingdon, Reino Unido: Routledge, 2010). Os editores do livro, em sua
introdução, parecem estar entre aqueles que veem as mortes por fome sob Mao como sendo
acidentais, não fruto de insensibilidade ou indiferença intencional, comparando-a a outras
fomes evitáveis. Isso destaca a incerteza quanto a se as ações de Mao devem ser
comparadas, digamos, à implantação insensível e proposital por Stálin da fome dos
ucranianos na década de 1930, ou talvez à incompetência e indiferença burocrática com que
o Reino Unido tratou os irlandeses durante a fome da batata dos anos 1800, que também
era evitável. Como qualquer dessas fomes persistiu por anos sem correção nos esforços ou
preocupação para com os moribundos e mortos, isso me parece discutir minúcias. Dizer
que o Reino Unido também é responsável por atrocidades contra outros (o que é verdade)
faz pouco para descartar a culpa de Mao nas mortes de seus próprios cidadãos. Este é um
clássico “e que tal aquilo?”.
[ 294 ] E isso, curiosamente, parece ser mais consistente para os homens do que para as
mulheres.
[ 295 ] Alexander V. Pantsov e Steven L. Levine, Mao: The Real Story (Nova York: Simon
and Schuster, 2013).
[ 296 ] O último imperador Qing, o menino-imperador Pu Yi, tem sua própria história
fascinante, tema do filme O último imperador. Pu Yi, no fundo um homem comum
impedido de ter um desenvolvimento normal em sua infância, tornou-se o imperador
fantoche dos japoneses na Manchúria durante a Segunda Guerra Mundial. Isso obviamente
não funcionou para ele a longo prazo, mas depois da guerra ele foi reabilitado pelos
comunistas chineses como uma espécie de ferramenta de propaganda. Surpreendentemente
para alguém manipulado por China, Japão e Rússia, ele morreu de causas naturais em 1967.
[ 297 ] Edgar Snow, Red Star over China (Nova York: Grove Press, 1938).
[ 298 ] Chang e Halliday, Mao: The Unknown Story.
[ 299 ] Barbara W. Tuchman, Stilwell and the American Experience in China: 1911–1945
(Nova York: Random House, 2017).
[ 300 ] Andrew Jacobs, “China Is Wordless on Traumas of Communists’ Rise”, New York
Times, 1º de outubro de 2009,
www.nytimes.com/2009/10/02/world/asia/02anniversary.html (acessado em 13 de janeiro
de 2019).
[ 301 ] Mao Yushi, “Lessons from China’s Great Famine”, CATO Journal 34 (2014): 483–
90.
[ 302 ] Frank Dikötter, Mao’s Great Famine: The History of China’s Most Devastating
Catastrophe, 1958-62 (Nova York: Walker, 2010).
[ 303 ] David Lester, “Suicide and the Chinese Cultural Revolution”, Archives of Suicide
Research 9 (2005): 99–104.
[ 304 ] Chang e Halliday, Mao: The Unknown Story.
[ 305 ] Stephen Uhalley Jr. e Jin Qiu, “The Lin Biao Incident: More Than Twenty Years
Later”, Pacific Affairs 66 (1993): 386–98.
[ 306 ] Nicholas D. Kristof, “Suicide of Jiang Qing, Mao’s Widow, Is Reported”, New York
Times, 5 de junho de 1991, www.nytimes.com/1991/06/05/obituaries/suicide-of-jiang-
qing-mao-s-widow-is-reported.html (acessado em 14 de janeiro de 2019).
[ 307 ] Ver Derek Watkins, “What China Has Been Building in the South China Sea”,
New York Times, 27 de outubro de 2015,
www.nytimes.com/interactive/2015/07/30/world/asia/what-china-has-been-building-in-
the-south-china-sea.html (acessado em 14 de janeiro de 2019). As ilhas estão sendo usadas
pela China para controlar as vias navegáveis na área, que ela reivindica, apesar das
reivindicações de países vizinhos como Vietnã e Filipinas. Se eles fizerem uma ilha tropical
para mim, talvez eu escreva biografias mais simpáticas de Mao no futuro.
[ 308 ] Steve Jackson, “Papers Reveal Mao’s View of Women”, BBC News, 13 de fevereiro
de 2008, http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/7243500.stm (acessado em 14 de janeiro
de 2019).
[ 309 ] Zing-yang Kuo e Yut-hang Lam, “Chinese Religious Behavior and the Deification
of Mao Tse-Tung”, The Psychological Record 18 (1968): 455–68.
[ 310 ] Que, sendo um grande realizador, assassinou entre um quarto e um terço da
população de seu país.
[ 311 ] Férias? Certamente. Embora veremos se consigo um visto depois desta biografia de
Mao.
[ 312 ] Herbert E. Krugman, “The Role of Hostility in the Appeal of Communism in the
United States”, Psychiatry: Journal for the Study of Interpersonal Processes 16 (1953): 253–61.
Por ser da década de 1950, o periódico embrulha isso em uma baboseira psicanalítica, então
fique atento.
[ 313 ] George Windholz, “Karl Marx’s Paranoid Ideation in the Communist Manifesto”,
Imagination, Cognition and Personality 20 (2000): 257–73.
[ 314 ] H. J. Eysenck e Thelma T. Coulter, “The Personality and Attitudes of Working-
Class British Communists and Fascists”, Journal of Social Psychology 87 (1972): 59–73.
[ 315 ] Incluo aqui o Império Bizantino como o terço final da história de Roma, embora
durante a maior parte da existência de Bizâncio a própria cidade de Roma não tenha feito
parte desse império. No entanto, o Império Bizantino foi simplesmente a metade
sobrevivente do Império Romano após a queda da metade ocidental no século V d.C.
[ 316 ] É interessante que alguns dos nomes mais famosos da história da república romana
tenham sido, de fato, inimigos da república. Outro exemplo seria Pirro, o sujeito de quem
recebemos o termo “vitória de Pirro”, significando uma vitória tão cara que provavelmente
resultará na perda da guerra como um todo.
[ 317 ] Normalmente a justificativa ideal para agendas morais insidiosas.
[ 318 ] Caso você ache que estou sendo polêmico, foi mais ou menos o que aconteceu com
Sócrates. É verdade que provavelmente não acontecia muito.
[ 319 ] Lívio, The History of Rome, http://mcadams.posc.mu.edu/txt/ah/Livy/.
[ 320 ] Anthony Everitt, The Rise of Rome (Nova York: Random House, 2013).
[ 321 ] Everitt, The Rise of Rome.
[ 322 ] O socialismo chega a Roma!
[ 323 ] Segundo a história, durante um confronto Tibério apontou para sua cabeça, um
sinal tradicional de que estava em apuros, mas o Senado, de um modo um tanto sem
sentido, interpretou isso como a busca de uma coroa.
[ 324 ] Plutarco, Lives, https://oll.libertyfund.org/pages/plutarch-s-parallel-lives.
[ 325 ] Plutarco, Lives.
[ 326 ] Plutarco, Lives.
[ 327 ] Suetônio, The Lives of the Twelve Caesars, www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus:text:1999.02.0132.
[ 328 ] Kit Morrell, “Cato and the Courts in 54 B.C.” Classical Quarterly 64 (2014): 669–
81.
[ 329 ] Os franceses gostavam de seus Luíses.
[ 330 ] Antonia Fraser, Marie Antoinette: The Journey (Nova York: Anchor Books, 2001).
[ 331 ] Evelyn Farr, I Love You Madly: Marie-Antoinette and Count Fersen: The Secret Letters
(Londres: Peter Owen, 2016).
[ 332 ] Nancy Barker, “Let Them Eat Cake: The Mythical Marie Antoinette and the
French Revolution”, The Historian 55 (1993): 709–24.
[ 333 ] De quem, de fato, deriva o termo “mesmerizar”.
[ 334 ] Daniel Ricciuto, “Anton Mesmer and Mesmerization: Past and Present”, Historical
Review 83 (2005): 135–37.
[ 335 ] Ryan Fogg e Stephen A. Boorjian, “The Sexual Dysfunction of Louis XVI: A
Consequence of International Politics, Anatomy, or Naivete?”, BJU International 106
(2010): 457–59.
[ 336 ] Evelyne Lever, Marie Antoinette: The Last Queen of France (Nova York: St. Martin’s
Griffon, 2000).
[ 337 ] Para esta análise de Steve Jobs, exceto quando indicado o contrário, confiei em duas
biografias. Uma foi a biografia oficial de Walter Isaacson, Steve Jobs (São Paulo: Companhia
das Letras, 2011). A outra foi a narrativa clara e vívida de Karen Blumenthal, Steve Jobs: The
Man Who Thought Different (Nova York: Feiwel and Friends, 2012). Este último é bom para
quem deseja uma leitura rápida ou para leitores mais jovens, enquanto a biografia de
Isaacson é um livro muito mais aprofundado.
[ 338 ] Ver Katy Waldman, “‘Small Fry’, Reviewed: Lisa Brennan-Jobs’s Mesmerizing,
Discomfiting Memoir”, New Yorker, setembro de 2018, www.newyorker.com/books/page-
turner/small-fry-reviewed-lisa-brennan-jobss-mesmerizing-discomfiting-memoir (acessado
em 2 de fevereiro de 2019); Jordan Valinsky, “Laurene Powell Jobs Pushes Back on her
Stepdaughter’s Memoir”, CNN, 28 de agosto de 2018,
https://money.cnn.com/2018/08/28/technology/laurene-powell-jobs-statement/index.html
(acessado em 2 de fevereiro de 2019).
[ 339 ] Jodi Kantor e David Streitfeld, “Inside Amazon: Wrestling Big Ideas in a Bruising
Workplace”, New York Times, 16 de agosto de 2015,
www.nytimes.com/2015/08/16/technology/inside-amazon-wrestling-big-ideas-in-a-
bruising-workplace.html?_r=0 (acessado em 2 de fevereiro de 2019).
[ 340 ] Carolyn Johnson, “Elizabeth Holmes, Founder of Blood-Testing Company
Theranos, Indicted on Wire Fraud Charges”, Washington Post, 15 de junho de 2018,
https://www.washingtonpost.com/business/economy/elizabeth-holmes-founder-of-blood-
testing-company-theranos-indicted-on-wire-fraud-federal-authorities-
announce/2018/06/15/8779f538-70df-11e8-bd50-b80389a4e569_story.html (acessado em
2 de fevereiro de 2019).
[ 341 ] Jim Ruttenberg, “A Long-Delayed Reckoning of the Cost of Silence on Abuse”,
New York Times, 22 de outubro de 2017, www.nytimes.com/2017/10/22/business/media/a-
long-delayed-reckoning-of-the-cost-of-silence-on-abuse.html (acessado em 3 de fevereiro
de 2019).
[ 342 ] Ronan Farrow, “From Aggressive Overtures to Sexual Assault: Harvey Weinstein’s
Accusers Tell their Stories”, New Yorker, 10 de outubro de 2017,
www.newyorker.com/news/news-desk/from-aggressive-overtures-to-sexual-assault-harvey-
weinsteins-accusers-tell-their-stories (acessado em 3 de fevereiro de 2019).
[ 343 ] Graham Bowley e Joe Coscarelli, “Bill Cosby, once a Model of Fatherhood,
Sentenced to Prison”, New York Times, 25 de setembro de 2018,
www.nytimes.com/2018/09/25/arts/television/bill-cosby-sentencing.html (acessado em 3
de fevereiro de 2019).
[ 344 ] Stephanie Pappas, “Bill Cosby Deposition: What Is Somnophilia?” LiveScience,
www.livescience.com/51562-what-is-somnophilia.html (acessado em 3 de fevereiro de
2019).
[ 345 ] Christopher J. Ferguson e D. Cricket Meehan, “An Analysis of Females Convicted
of Sex Crimes in the State of Florida”, Journal of Child Sexual Abuse: Research, Treatment, &
Program Innovations for Victims, Survivors, & Offenders 14 (2005): 75–89.
[ 346 ] Randy Thornhill e Craig T. Palmer, A Natural History of Rape: Biological Bases of
Sexual Coercion (Cambridge, MA: MIT Press, 2000).
[ 347 ] Richard Prum, The Evolution of Beauty: How Darwin’s Forgotten Theory of Mate
Choice Shapes the Animal World—and Us (Nova York: Doubleday, 2017).
[ 348 ] Martin Gottschalk e Lee Ellis, “Evolutionary and Genetic Explanations of Violent
Crime”, em Violent Crime: Clinical and Social Implications, org. Christopher J. Ferguson,
57–74 (Thousand Oaks, CA: Sage, 2010).
[ 349 ] Cathy Young, “Feminists Treat Men Badly: It’s Bad for Feminism”, Washington
Post, 30 de junho de 2016,
https://www.washingtonpost.com/posteverything/wp/2016/06/30/feminists-treat-men-
badly-its-bad-for-feminism/; Leslie Knight, “Enough with the Male-Bashing”, Forbes, 26
de abril de 2011, www.forbes.com/2011/04/26/enough-with-the-male-
bashing.html#58b005ed6e5c (acessado em 3 de fevereiro de 2019).
[ 350 ] Maria Puente, “Asia Argento Shock: Could #MeToo Be Damaged by Statutory
Rape Allegation against Her?” USA Today, 20 de agosto de 2018,
www.usatoday.com/story/life/people/2018/08/20/metoo-damaged-rape-allegation-agains-
leader-asia-argento/1042473002/ (acessado em 7 de fevereiro de 2019).
[ 351 ] Grace Panetta, “Sen. Dianne Feinstein Denies Withholding Christine Blasey Ford
Allegations Against Brett Kavanaugh for Policial Reasons”, Business Insider, setembro de
2018, www.businessinsider.com/dianne-feinstein-refutes-accusations-she-withheld-ford-
allegations-political-ploy-2018-9 (acessado em 6 de fevereiro de 2019).
[ 352 ] Christal Hayes, “‘I Was Angry and I Sent It’: Another Kavanaugh Accuser Refered
to FBI after Recanting”, USA Today, 2 de novembro de 2018,
www.usatoday.com/story/news/politics/2018/11/02/brett-kavanaugh-acuser-refered-fbi-
doj-investigation/1863210002/ (acessado em 8 de fevereiro de 2018).
[ 353 ] Talvez o mais famoso nos últimos anos tenha sido o caso de estupro do time de
lacrosse de Duke em 2006. Nesse caso, três estudantes brancos foram acusados de estupro
por uma estudante afro-americana de outra universidade que também trabalhava como
stripper. Apesar das inconsistências nos relatos dela, os promotores prosseguiram com o
caso, e diversos acadêmicos assinaram uma carta presumindo a culpa dos acusados. As
acusações acaram sendo retiradas e os jogadores de lacrosse, inocentados. O promotor do
caso foi suspenso por improbidade. A acusadora neste caso foi condenada pelo assassinato
de um namorado vários anos depois.
[ 354 ] Greg Hampikian, Emily West e Olga Askelrod, “The Genetics of Innocence:
Analysis of 194 U.S. DNA Exonerations”, Annual Review of Genomics and Human Genetics
12 (2011): 97–120.
[ 355 ] Lara Bazelon e Jennifer Thompson, “Christine Blasey Ford Memory of her Assault
Isn’t a Case of Mistaken Identity”, Slate, outubro de 2018, https://slate.com/news-and-
politics/2018/10/brett-kavanaugh-christine-blasey-ford-mistaken-identity.html (acessado
em 9 de fevereiro de 2019).
[ 356 ] Elizabeth Loftus, “Memory Faults and Fixes”, Issues in Science and Technology 18
(2002): 41–50.
[ 357 ] Louisa Lim, “Who Murdered China’s Emperor 100 Years Ago?” NPR, novembro
de 2008, https://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=96993694 (acessado em
13 de fevereiro de 2019).
[ 358 ] Sério. Engula seu constrangimento e tome sua penicilina.
[ 359 ] Ruth A. Sibbett, Tom C. Russ, Alison Pattie, John M. Starr e Ian J. Deary, “Does
Incipient Dementia Explain Normal Cognitive Decline Determinants? Lothian Birth
Cohort 1921”, Psychology and Aging 33 (2018): 674–84.
[ 360 ] Infelizmente não lembro quem disse isso, mas lembro de ter lido alguns anos atrás.
Infelizmente, esta citação em particular não terá créditos.
[ 361 ] Embora o estudo a seguir também inclua o caso de um palhaço de circo anão que
foi ferido várias vezes como parte de um número de “arremesso de anão”, no qual foi
repetidamente nocauteado. E você acha que tem um trabalho difícil. Ann McKee, Robert
Cantu, Christopher Nowinkski, E. Tessa Hedley-Whyte, Brandon E. Gavett, Andrew E.
Budson, Veronica E. Santini, Hyo-Soon Lee, Caroline A. Kubilus e Robert A. Stern,
“Chronic Traumatic Encephalopathy in Athletes: Progressive Tauopathy After Repetitive
Head Lesions”, Journal of Neuropathology and Experimental Neurology 68 (2009): 709–35.
[ 362 ] Dietrich Blumer, “The Illness of Vincent van Gogh”, American Journal of Psychiatry
159 (2002): 519–26.
[ 363 ] Dirk Lachenmeier, David Nathan-Maister, Theodore Breaux, Eva-Maria Sohnius,
Kerstin Schoeberl e Thomas Kuballa, “Chemical Composition of Vintage Preban Absinthe
with Special Reference to Thujone, Fenchone, Pinocamphone, Metanol, Copper, and
Antimony Concentrations”, Journal of Agriculture and Food Chemistry 56 (2008): 3073–81.
[ 364 ] Presumivelmente, a oferta e a demanda desempenham um papel nisso. A morte de
um artista necessariamente reduz a oferta, aumentando o valor de cada peça de arte.
Verdade que isso não é uma panaceia para o escrevinhador não apreciado. Muitos pintores
vão para o túmulo com suas obras efetivamente jogadas no caixão com eles.
[ 365 ] Embora o consumo de álcool possa causar diretamente alguma perda de tecido
cerebral, a maior parte dos danos vem da deficiência de tiamina provocada pelo consumo
crônico de álcool.
[ 366 ] A Alemanha tentou convencer o México a lançar uma invasão ao sul dos Estados
Unidos, então é justo.
[ 367 ] M. Dennis, “Looking Backward: Woodrow Wilson, the New South and the
Question of Race”, American Nineteenth Century History 3 (2002): 77–104.
[ 368 ] H. W. Brands, Woodrow Wilson (Nova York: Henry Holt, 2003).
[ 369 ] Um sujeito bastante decente que teve a infelicidade de estar espremido entre Teddy
Roosevelt e Woodrow Wilson, de modo que ninguém se lembra dele.
[ 370 ] Embora deva ser dito que, naquela época, os democratas não eram necessariamente
liberais, como muitas vezes se supõe hoje.
[ 371 ] E agradeço à televisão a cabo e à internet por nos resgatar.
[ 372 ] Tecnicamente, são apenas eles até agora, mas a temporada eleitoral de 2020 se
aproxima com um monte de candidatas.
[ 373 ] A. Scott Berg, Wilson (Nova York: G. P. Putman’s Sons, 2013).
[ 374 ] Obviamente estou resumindo muita história complexa de forma bastante rápida
aqui. Para ler mais eu recomendaria Barbara Tuchman, The Guns of August (Nova York:
Random House, 1994) e Robert K. Massie, Dreadnought (Nova York: Random House,
1991).
[ 375 ] Matthew White, Atrocities: The 100 Deadliest Episodes in Human History (Nova
York: W.W. Norton, 2012).
[ 376 ] Essa, na verdade, foi uma fonte de tensão que levou à guerra. Ironicamente, os
alemães tinham vergonha de testar sua nova frota, em grande parte mantendo-a desativada
durante a guerra. Na única vez em que a deixaram ir para a frente durante a Batalha da
Jutlândia, em 1916, a frota alemã sem dúvida teve um desempenho melhor do que a
britânica. Os alemães provavelmente venceram a batalha por pontos (mais navios inimigos
afundaram), mas ficaram nervosos e devolveram seus navios ao porto, onde permaneceram
pelo resto da guerra. Isso fez da batalha uma vitória estratégica britânica, apesar das perdas
maiores.
[ 377 ] Os irlandeses se rebelariam contra os britânicos em 1916 durante o Levante da
Páscoa. Embora militarmente malsucedido, conquistou apoio à independência irlandesa
tanto na Irlanda quanto no Reino Unido.
[ 378 ] Ainda menos realista, a Alemanha fantasiou que o Japão também poderia aderir.
Não funcionou.
[ 379 ] Antes da guerra, a Itália havia se aliado às Potências Centrais, mas ficou fora dos
conflitos iniciais e depois mudou de lado em 1915.
[ 380 ] Brands, Woodrow Wilson.
[ 381 ] De qualquer maneira ele realmente pensou nisso, apesar do derrame.
[ 382 ] Lou Cannon, President Reagan: The Role of a Lifetime (Nova York: Public Affairs,
2000).
[ 383 ] Robert E. Gilbert, “Ronald Reagan’s Presidency: The Impact of an Alcoholic
Parent”, Political Psychology 29 (2008): 737–65.
[ 384 ] Patti Davis, The Way I See It (Nova York: Putnam, 1992).
[ 385 ] Sem querer zombar do incidente, mas a piada é com Hinkley, já que Foster mais
tarde reconheceu ser gay.
[ 386 ] 100th Congress, Senate Report #216: Iran Contra Investigation Report, 1987,
https://archive.org/stream/reportofcongress87unit#page/n7/mode/2up (acessado em 24 de
fevereiro de 2019).
[ 387 ] Seymour M. Hersh, “The Iran-Contra Committees: Did They Protect Reagan?”
New York Times, 29 de abril de 1990, www.nytimes.com/1990/04/29/magazine/the-iran-
contra-committees-did-they-protect-reagan.html?pagewanted=all&src=pm (acessado em
24 de fevereiro de 2019).
[ 388 ] L. Backman, S. Jones, A. Berger, E. Laukka e B. Small, “Multiple Cognitive
Deficits during the Transition to Alzheimer’s Disease”, Journal of Internal Medicine 256
(2004): 195–204.
[ 389 ] Craig Shirley, Last Act: The Final Years and Emerging Legacy of Ronald Reagan
(Nashville, TN: Nelson Books, 2015).
[ 390 ] Lawrence K. Altman, “A Recollection of Early Questions about Reagan’s Health”,
New York Times, 15 de junho de 2004, www.nytimes.com/2004/06/15/health/the-doctor-s-
world-a-recollection-of-early-questions-about-reagan-s-health.html (acessado em 24 de
fevereiro de 2019).
[ 391 ] Alex Spillius, “Ronald Reagan Had Alzheimer’s ‘While in White House’ His Son
Claims”, Telegraph, www.telegraph.co.uk/news/worldnews/us-political/8262924/Ronald-
Reagan-had-Alzheimers-while-in-White-House-his-son-claims.html (acessado em 25 de
fevereiro de 2019).
[ 392 ] Visar Berisha, Shuai Wang, Amy LaCross e Julie Liss, “Tracking Discourse
Complexity Preceding Alzheimer’s Disease Diagnosis: A Case Study Comparing the Press
Conferences of Presidents Ronald Reagan e George Herbert Walker Bush”, Journal of
Alzheimer’s Disease 45 (2015): 959–63.
[ 393 ] François Boller e Margaret Forbes, “History of Dementia and Dementia in
History: an Overview”, Journal of the Neurological Sciences 158 (1998): 125–33.
[ 394 ] Uma das primeiras descrições vem da China. Ver Jia Liu, Lu-ning Wang e Jin-zhou
Tian, “Recognition of Dementia in Early China”, Neurobiology of Aging 33 (2012):
2948.e11-2948.e13.
[ 395 ] P. Stride e K. Lopes Floro, “Henry VIII, McLeod Syndrome and Jacquetta’s
Curse”, Journal of the Royal College of Physicians, Edinburg 43 (2013): 353–60.
[ 396 ] E, para que fique registrado, a doença de Alzheimer ocorre na minha própria
família, então eu sei do que estou falando.
[ 397 ] Gary Greenberg, The Book of Woe (Nova York: Blue Rider Press, 2013).
[ 398 ] Há, tenho certeza, um lugar muito especial no inferno para Samuel Cartwright.
[ 399 ] S. B. Hunt, “Dr. Cartwright on ‘Drapetomania’”, Buffalo Medical Journal 10 (1855):
438–42, https://books.google.com/books?
id=coBYAAAAMAAJ&pg=PA438#v=onepage&q&f=false (acessado em 2 de março de
2019).
[ 400 ] A loucura, por outro lado, sempre foi uma característica da política.
[ 401 ] Termos como esses, agora bastante pejorativos, foram na verdade considerados
grandemente técnicos durante o século XIX. Pego esta citação em particular de Edward
Wakefield, que na verdade era um reformista preocupado. Edward Wakefield, “Plan of an
Asylum for Lunatics”, The Philanthropist 2 (1812): 226–29.
[ 402 ] A maioria dos governos ainda era de monarquias centralizadas. Quando tais
governos tinham alguns trocados, o que não era tão frequente quanto você possa pensar,
esses monarcas tinham a escolha óbvia de financiar serviços para os doentes mentais ou,
digamos, comprar um novo pônei. Basta percorrer os grandes palácios do mundo para ver
qual escolha a realeza costumava fazer.
[ 403 ] Talvez não a grande perda que podemos imaginar, como veremos em breve.
[ 404 ] Ian McMillan, “Insight into Bedlam: One Hospital’s History”, Journal of
Psychosocial Nursing and Mental Health Services 35 (1997): 28–34.
[ 405 ] Laura Wright, “Syntactic Structure of Witnesses’ Narratives from the 16th-
Century Court Minute Books of the Royal Hospitals of Bridewell and Bedlam”,
Neuphilologische Mitteilungen 96 (1995): 93–105.
[ 406 ] Rainha “virgem” e tudo mais, sabe.
[ 407 ] McMillan, “Insight into Bedlam”.
[ 408 ] Presumivelmente ele e Samuel Cartwright são companheiros de beliche no inferno.
[ 409 ] As proteções legais para indivíduos mentalmente doentes confinados melhoraram
desde a maior parte da história de Bedlam.
[ 410 ] James Gilligan, “The Last Mental Health Hospital”, Psychiatric Quarterly 72
(2001): 45–61.
[ 411 ] E obrigado, caro leitor, por ajudar com isso.
[ 412 ] Gilligan, “The Last Mental Health Hospital”.
[ 413 ] Lawrence French, “Victimization of the Mentally Ill: An Unintended Consequence
of Deinstitutionalization”, Social Work (novembro–dezembro 1987): 502–5.
[ 414 ] Joni Lee Pow, Alan A. Baumeister, Mike F. Hawkins, Alex S. Cohen e James C.
Garand, “Deinstitutionalization of American Public Hospitals for the Mentally Ill before
and after the Introduction of Antipsychotic Medications”, Harvard Review of Psychiatry 23
(2015): 176–87.
[ 415 ] É difícil encontrar bons números sobre a falta de moradia, como se pode imaginar.
As estimativas variam de acordo com as fontes e os parâmetros de avaliação. A estimativa
aproximada de 500 mil é para o ano inteiro e foi citada em 2017 pelo governo dos Estados
Unidos. Se pensarmos em quantas pessoas ficaram sem teto em determinado período de
determinado ano, esse número pode ser várias vezes maior.
[ 416 ] Pow, Baumeister, Hawkins, Cohen e Garand, “Deinstitutionalization of American
Public Hospitals”.
[ 417 ] Gilligan, “The Last Mental Health Hospital”.
[ 418 ] Pow, Baumeister, Hawkins, Cohen e Garand, “Deinstitutionalization of American
Public Hospitals”.
[ 419 ] Pow, Baumeister, Hawkins, Cohen e Garand, “Deinstitutionalization of American
Public Hospitals”.
[ 420 ] Pow, Baumeister, Hawkins, Cohen e Garand, “Deinstitutionalization of American
Public Hospitals”.
[ 421 ] Esses fuzis são comumente chamados de “fuzis de assalto”, mas essa terminologia é
tecnicamente incorreta.
[ 422 ] Nos últimos anos, os criminologistas têm argumentado contra revelar os nomes de
perpetradores de homicídios em massa. O argumento é que alguns (embora certamente não
todos) buscam a fama, e não usar seus nomes é uma forma de reduzir esse incentivo. Minha
própria leitura dos dados é que, embora alguns atiradores certamente expressem interesse
pela fama, isso não é de modo algum universal entre os atiradores e, quando ocorre, é
provavelmente apenas uma pequena parte de sua motivação. Portanto, não acredito que a
omissão de nomes venha a desempenhar um papel importante na redução dos assassinatos
em massa. No entanto, pouco se perde ao fazer isso, então vou seguir essa convenção e me
referir ao autor do crime simplesmente como o atirador de Sandy Hook.
[ 423 ] Christopher J. Ferguson, Mark Coulson e Jane Barnett, “Psichological Profiles of
School Shooters: Positive Directions and One Big Wrong Turn”, Journal of Police Crisis
Negotiations 11 (2011): 141–58.
[ 424 ] State’s Attorney for the Judicial District of Danbury, Report of the State’s Attorney for
the Judicial District of Danbury about the Shootings at Sandy Hook Elementary School and 36
Yogananda Street, – Newtown, Connecticut on December 14 2012, 2013.
[ 425 ] O termo “videogame violento” é amplamente sem sentido. Tem pouco valor
científico, sobretudo por ser um termo emocionalmente evocativo. Afinal, não falamos
muito sobre “livros violentos”, embora, é claro, essas coisas existam e incluam muitos textos
religiosos.
[ 426 ] Christopher J. Ferguson, “Do Angry Birds Make for Angry Children? A Meta-
Analysis of Video Game Influences on Children’s and Adolescents’ Aggression, Mental
Health, Prosocial Behavior, and Academic Performance”, Perspectives on Psychological
Science 10 (2015): 646–66.
[ 427 ] S. Fazel e M. Grann, “The Population Impact of Severe Mental Illness on Violent
Crime”, American Journal of Psychiatry 163 (2006): 1397–1403.
[ 428 ] Kevin S. Douglas, Laura S. Guy e Stephen D. Hart, “Psychosis as a Risk Factor for
Violence to Others: A Meta-Analysis”, Psychological Bulletin 135 (2009): 679–706.
[ 429 ] Christopher J. Ferguson. “Video Games and Youth Violence: A Prospective
Analysis in Adolescents”, Journal of Youth and Adolescence 40 (2011): 377–91.
[ 430 ] Greenberg, The Book of Woe.
[ 431 ] Robert L. Spitzer e Joseph L. Fleiss, “A Re-Analysis of the Reliability of
Psychiatric Diagnosis”, British Journal of Psychiatry 125 (1974): 341–47.
[ 432 ] Thomas S. Szasz, “The Myth of Mental Illness”, American Psychologist 15 (1960):
113–18.
[ 433 ] Brett J. Deacon, “The Biomedical Model of Mental Disorder: A Critical Analysis
of Its Validity, Utility, and Effects on Psychotherapy Research”, Clinical Psychology Review
33 (2013): 846–61.
[ 434 ] Greenberg, The Book of Woe.
[ 435 ] Michael B. First, “The Importance of Developmental Field Trials in the Revision of
Psychiatric Classifications”, Lancet Psychiatry 3 (2016): 579–84.
[ 436 ] Há os que defendem a inclusão de muitos desses transtornos no DSM ou no CID,
mas no momento eles não são diagnósticos oficiais.
[ 437 ] Provavelmente eles se cansaram de explicar que V não era de Vingança.
[ 438 ] Para um relato completo e intrigante disso, consulte Gary Greenberg, The Book of
Woe: The DSM and the Unmaking of Psychiatry (Nova York: Blue Rider Press, 2013).
[ 439 ] Allen Frances, “The British Psychological Society Condemns DSM-5”, Psychology
Today, julho de 2011, www.psychiatrictimes.com/dsm-5/british-psychological-society-
condemns-dsm-5 (acessado em 16 de março de 2019).
[ 440 ] Thomas Allen, Tories: Fighting for the King in America’s First War (Nova York:
Harper Paperbacks, 2011).
[ 441 ] Normalmente creditado a Winston Churchill, embora não pareça ter tido origem
com ele.
[ 442 ] Tucídides, The Complete Writings of Thucydides, trad. R. Crawley (Nova York:
Random House, 1934).
[ 443 ] Em essência, Sócrates foi executado por ser irritante, teimoso e chato, mas
corrupção da juventude e incentivo à delinquência estavam entre as acusações.
[ 444 ] O nome da prova atlética vem dessa batalha e da lendária história de um hoplita
grego que correu do local da batalha de volta a Atenas para anunciar a vitória antes de cair
morto de exaustão. Uma história adorável, mas parece ser, na melhor das hipóteses, uma
confusão de eventos reais.
[ 445 ] Donald Kagan, The Outbreak of the Peloponnesian War (Ithaca, NY: Cornell
University Press, 1969).
[ 446 ] Esparta provavelmente ganhou por pontos.
[ 447 ] Como nos Coríntios da carta de Paulo na Bíblia.
[ 448 ] As coisas sempre ficam piores quando os parentes estão envolvidos, não é?
[ 449 ] A princípio, digitei incorretamente como “democrazy” e pensei que talvez devesse
deixar assim.
[ 450 ] Peter Green, Armada from Athens: The Failure of the Sicilian Expedition, 415-413
(Londres: Holder and Stoughton, 1970).
[ 451 ] Green, Armada from Athens.
[ 452 ] Xenofonte. Hellenica, http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus:text:1999.01.0206.
[ 453 ] Xenofonte, Hellenica.
[ 454 ] Para ser justo, podemos considerar o longo Império Bizantino principalmente um
empreendimento dirigido pelos gregos, mas se concentrou sobretudo em Constantinopla,
nem tanto em Atenas, Esparta, Corinto ou Tebas. Atenas permaneceu importante e enfim
recuperou seu status de capital da Grécia recém-independente no século XIX.
[ 455 ] De fato, Tucídides basicamente deixa de mencionar Epidamnus após os estágios
iniciais da guerra.
[ 456 ] Por exemplo, tendo trabalhado em campi universitários durante anos, posso dizer,
claro, que definitivamente há alguns ideólogos enchendo a cabeça dos jovens com bobagens
horríveis, a maioria dos quais é de esquerda. Mas a maioria dos professores universitários
está mais preocupada em ensinar química, matemática ou psicologia do que em fazer os
alunos votarem em qualquer candidato à presidência em particular.
[ 457 ] Elaine Kamarack, Alexander Podkul e Nick Zeppos, Political Polarization and Voters
in the 2016 Congressional Primaries, Brookings Center for Effective Public Management,
2017, www.brookings.edu/wp-content/uploads/2017/01/primaries-paper-ii.pdf (acessado
em 27 de março de 2019).
[ 458 ] John Sides, Chris Tausanovich e Christopher Warshaw, “On the Representativeness
of Primary Electorates”, British Journal of Political Science (no prelo).
[ 459 ] David Brady, Hahrie Han e Jeremy Pope, “Primary Elections and Candidate
Ideology: Out of Step with the Primary Electorate?”, Legislative Studies Quarterly 32
(2007): 79–105.
[ 460 ] Michael Rogin, “Politics, Emotion, and the Wallace Vote”, British Journal of
Sociology 20 (1969): 27–49.
[ 461 ] Shigeo Hirano, James M. Snyder Jr. e Michael M. Ting, “Distributive Politics with
Primaries”, Journal of Politics 71 (2009): 1467–1480.
[ 462 ] Michael D. Henderson, Sunshine Hillygus e Trevor Tompson, “‘Sour Grapes’ or
Rational Voting? Voter Decision Making among Thwarted Primary Voters in 2008”, Public
Opinion Quarterly 74 (2010): 499–529.
[ 463 ] Scott O. Lilienfeld, Joshua D. Miller e Donald R. Lynam, “The Goldwater Rule:
Perspectives from, and Implications for, Psychological Science”, Perspectives on Psychological
Science 13, nº 1 (janeiro de 2018): 3–27.
[ 464 ] Lilienfeld, Miller e Lynam, “The Goldwater Rule”.
[ 465 ] Brandy X. Lee, The Dangerous Case of Donald Trump: 27 Psychiatrists and Mental
Health Experts Assess a President (Nova York: Thomas Dunne Books, 2017). Curiosamente,
para um livro em que o diagnóstico de narcisista é feito com grande frequência, o editor e
os colaboradores têm seus próprios momentos, como quando o autor se gaba de ter cinco
grandes editoras brigando pelo livro.
[ 466 ] Donald J. Trump e Tony Schwartz, The Art of the Deal (Nova York: Random House,
1987).
[ 467 ] Michael Kranish e Marc Fisher, Trump Revealed: An American Journey of Ambition,
Ego, Money, and Power (Nova York: Scribner, 2016). Desenvolvido pelo Washington Post,
este livro faz pouco esforço para parecer imparcial, a começar por um prólogo bastante
debochado.
[ 468 ] Verdade que não está claro se Trump vê dessa forma, já que ele tende a não
expressar muita tristeza pelas exigências de seu pai.
[ 469 ] Kranish e Fisher, Trump Revealed.
[ 470 ] Quando a questão foi levantada durante a eleição presidencial de 2016, Trump
lembrou que o marido de sua adversária Hilary Clinton, o ex-presidente Bill Clinton, havia
sido acusado por várias mulheres de agressão sexual e, em grande medida, foi deixado em
paz.
[ 471 ] Washington Post Staff, “Full Text: Donald Trump Announces a Presidential Bid”,
Washington Post, 16 de junho de 2015, www.washingtonpost.com/news/post-
politics/wp/2015/06/16/full-text-donald-trump-announces-a-presidential-bid/?
utm_term=.e8b9aaee886f (acessado em 1º de abril de 2019).
[ 472 ] Michael T. Light e Ty Miller, “Does Undocumented Immigration Increase Violent
Crime?”, Criminology 56 (2018): 370–401.
[ 473 ] Michelangelo Landgrave e Alex Nowrasteh, Incarcerated Immigrants in 2016: their
Numbers, Demographics and Countries of Origin, The Cato Institute, 2018,
www.cato.org/publications/immigration-research-policy-brief/their-numbers-
demographics-countries-origin (acessado em 1º de abril de 2019).
[ 474 ] Jeb Bush concorreu contra Trump nas primárias republicanas e perdeu. Caso fosse
eleito presidente, teria sido o terceiro Bush na Casa Branca durante minha vida, e eu não
sou tão velho.
[ 475 ] Os republicanos, por enquanto, em grande medida marcharam sob o comando de
Trump.
[ 476 ] Drew M. Parton e Michael R. Ent, “Vulnerable Narcissism Predicts Greater
Spiteful Punishment of a Third-Party Transgressor”, Journal of Research in Personality 76
(2018): 150–53.
[ 477 ] Ressalvando que ambos são termos muito abrangentes.
[ 478 ] Anthony N. Washburn e Linda J. Skitka, “Science Denial across the Political
Divide: Liberals and Conservatives Are Similarly Motivated to Deny Attitude-Inconsistent
Science”, Social Psychological and Personality Science (no prelo).
[ 479 ] Donald Braman, Dan M. Kahan e James Grimmelmann, “Modeling Facts,
Culture, and Cognition in the Gun Debate”, Social Justice Research 18 (2005): 283–304.
[ 480 ] Dan M. Kahan, Asheley Landrum, Katie Carpenter, Laura Helft e Kathleen Hall
Jamieson, “Science Curiosity and Political Information Processing”, Political Psychology 38
(2017): 179–99.
[ 481 ] Aja Hoggart, “An Author Canceled Her Own YA Novel over Accusations of
Racism. But Is It Really Anti-Black?”, Slate, janeiro de 2019,
https://slate.com/culture/2019/01/blood-heir-ya-book-twitter-controversy.html (acessado
em 1º de abril de 2019). Esclarecendo, eu não li Blood Heir porque, você sabe, ele foi
suspenso.
[ 482 ] Andrew Sullivan, “When Racism Is Fit to Print”, New York Magazine, agosto de
2018, http://nymag.com/intelligencer/2018/08/sarah-jeong-new-york-times-anti-white-
racism.html (acessado em 1º de abril de 2019).
[ 483 ] American Psychological Association, APA Guidelines for Psychological Practice for
Boys and Men, agosto de 2018, www.apa.org/about/policy/boys-men-practice-
guidelines.pdf (acessado em 3 de abril de 2019).
[ 484 ] Este é o inverso de como a terapia costuma ser feita, com os terapeutas tentando
entender o ponto de vista do paciente em vez do oposto. Em uma discussão que tive com
um dos autores, ele reconheceu que teorias feministas e interseccionais eram a base das
diretrizes. Não estou dizendo que tais teorias não têm valor, mas talvez não fossem o ponto
de partida correto para a compreensão da saúde mental dos homens.
[ 485 ] A esta altura, “má-fé” é algo que se aplica à esquerda.
[ 486 ] De fato, durante minha vida a censura foi defendida com maior frequência pela
direita. É decepcionante ver a esquerda assumir essa posição mais recentemente.
[ 487 ] Na verdade, posso dizer por experiência própria que outros países, incluindo o
México, que com frequência é a bête noire dos atuais debates sobre imigração nos Estados
Unidos, têm políticas de imigração mais rígidas. Certa vez tive negado meu visto de
entrada na Austrália. Felizmente, depois de tempo e dinheiro nada triviais, consegui
convencer os australianos de que não sou um criminoso condenado.
[ 488 ] Alex Lockie, “Conclusive Proof That Is Trump’s Policy to Separate Children from
their Families at the Border”, Business Insider, junho de 2018,
www.businessinsider.com/trump-administration-policy-separating-children-border-cbp-
dhs-2018-6 (acessado em 3 de abril de 2019).
[ 489 ] Steven Pinker, Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism and
Progress (Nova York: Viking, 2018).
[ 490 ] Geralmente considerado um dos mais sábios imperadores chineses.
[ 491 ] Fundadora do movimento de emancipação das mulheres no Reino Unido. Tive a
honra de me hospedar uma vez na casa de seu filho.
[ 492 ] É importante notar que estar livre da doença mental não era um critério. Sabe-se
que a doença mental está presente em muitos grandes governantes, incluindo Lincoln e
Winston Churchill, ambos sofrendo de uma depressão não trivial.
[ 493 ] Na verdade, a distribuição étnica dos perpetradores de homicídios em massa é
aproximadamente equivalente à das populações nacionais de onde eles vêm. E, claro, a
grande maioria dos muçulmanos não apoia ataques em massa contra civis.
[ 494 ] Muzafer Sherif, “Superordinate Goals in the Reduction of Intergroup Conflict”, em
Intergroup Relations: Essential Readings, org. Michael A. Hogg e Dominic Abrams, 64–70
(Nova York: Psychology Press, 2001).
[ 495 ] Lutfy N. Diab, “A Study of Intragroup and Intergroup Relations between
Experimentally Produced Small Groups”, Genetic Psychology Monographs 82 (1970): 49–82.
[ 496 ] Paul J. C. Adachi, Gordon Hodson, Teena Willoughby, Carolyn Blank e Alexandra
Ha, “From Outgroups to Allied Forces: Effect of Intergroup Cooperation in Violent and
Nonviolent Video Games on Boosting Favorable Outgroup Attitudes”, Journal of
Experimental Psychology: General 145 (2016): 259–65.
[ 497 ] Estou ansioso por meu diploma honorário em ciência política por chamar atenção
para isso.
[ 498 ] Embora minha postura não esteja muito distante disso. Eu acredito em direitos
vegetais.
[ 499 ] Achava-se que altas velocidades esmagariam corpos humanos ou sugariam o ar de
seus pulmões.
[ 500 ] Ainda falamos sobre “detonar” nossa comida, algo que vem das preocupações
iniciais com os fornos de micro-ondas.
[ 501 ] Amy Orben e Andrew Przybylski, “The Association between Adolescent Well-
Being and Digital Technology Use”, Nature: Human Behavior 3 (2019): 173–82.
[ 502 ] Esse é um assunto para outro livro que, tenho certeza, alguém já escreveu.
[ 503 ] E, para deixar claro, não pretendo de forma alguma depreciar os homens das
cavernas.
[ 504 ] Encontrei Joe Biden uma vez. Ele não cheirou meu cabelo.
[ 505 ] Seja moralmente certo ou errado, desconfio de que foi estrategicamente brilhante
separar-se de um Partido Democrata que, enquanto este livro era escrito, parecia estar em
perpétua turnê de desculpas.
[ 506 ] Como se costuma dizer, mesmo um relógio parado está certo duas vezes por dia.
[ 507 ] Snopes.com, “Are Bert and Ernie Gay?” www.snopes.com/fact-check/open-sesame/
(acessado em 14 de abril de 2019).
[ 508 ] A última coisa que ouvi enquanto escrevia foi que uma versão editada foi
programada para lançamento futuro. No entanto, os censores autodesignados venceram.
[ 509 ] The Knight Foundation, Free Expression on Campus: A Survey of U.S. College
Students and US Adults, 2016, https://knightfoundation.org/wp-
content/uploads/2020/01/FreeSpeech_campus.pdf (acessado em 14 de abril de 2019)
A África e os africanos na história e
nos mitos
Silva, Alberto da Costa e
9786556402666
208 páginas