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RESUMO
Este artigo tem como principal objetivo discutir a nova reforma do Ensino Médio, aprovada
através da Medida Provisória nº 746 (BRASIL, 2016) e da Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, 2017), analisando as principais mudanças em relação ao ensino de língua inglesa
no Brasil. Além disso, foram analisados os relatos de uma professora em relação ao seu
conhecimento, expectativa e avaliação da BNCC Para o referencial teórico utilizou-se:
autores/pesquisadores do ensino de língua estrangeira na Educação Básica, em especial da
língua inglesa, e principalmente os documentos mais recentes que estão pautando a nova
reforma do Ensino Médio (MP nº 746 e a BNCC). Em relação à abordagem metodológica da
pesquisa, podemos classificá-la como sendo de base qualitativa. Na primeira etapa foram
utilizados procedimentos técnicos característicos da pesquisa bibliográfica e da pesquisa
documental. A segunda etapa consistiu numa pesquisa de campo em um centro de ensino da
cidade de Campos Belos-GO, através da aplicação de um questionário para a professora de
língua inglesa do Ensino Médio. Nas análises dos dados foram discutidos o contexto histórico
do ensino de inglês no país, as principais mudanças trazidas pela nova reforma do Ensino
Médio, identificando prováveis benefícios que a mudança poderá trazer, assim como as
dificuldades para sua implementação e melhoria do ensino.
ABSTRACT
This research has as main objective to discuss the new reform of High School, approved
through the Provisional Measure nº 746 (BRAZIL, 2016) and the National Curricular
Common Base (BRASIL, 2017), analyzing the main changes in relation to English language
teaching in Brazil. In addition, was analyzed the reports of a teacher regarding her
knowledge, expectations and evaluation of the BNCC. For the theoretical reference was used:
authors/researchers on the teaching of foreign language in Basic Education, especially the
English language; documents and guidelines that govern the educational practices in High
School, such as the National Curricular Parameters of High School (BRASIL, 2002) and the
Curricular Guidelines for Secondary Education (BRASIL, 2006); and especially the most
recent documents that are guiding the new reform of High School (MP nº 746 and the
BNCC). In relation to the methodological approach of the research, we can classify it as
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Docente e Acadêmica do curso de Letras – Português, Inglês e suas respectivas Literaturas da Universidade
Estadual de Goiás – Campus Campos Belos. E-mail: binynha10@outlook.com
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1. Introdução
As recentes mudanças nas diretrizes que regem o Ensino Médio do país, ocorridas a
partir da aprovação da Medida Provisória 746 de 22 de Setembro de 2016, têm provocado
uma série de polêmicas, como a obrigatoriedade do ensino de Língua Inglesa como única
opção de língua estrangeira. Tendo em vista a necessidade de compreender e conhecer melhor
essas e outras alterações que estão acontecendo no campo da educação, surge a necessidade
de discutir o ensino de Língua Inglesa na nova reforma do Ensino Médio. Busca-se enfatizar a
área de ensino da disciplina de Língua Inglesa, tendo em vista que esta está entre as três
disciplinas consideradas obrigatórias na nova reforma do Ensino Médio (Língua Portuguesa,
Matemática e Língua Inglesa).
O ensino de Língua Inglesa nas escolas regulares vem ocorrendo de forma ineficaz e
estática ao longo dos anos e o fato de esta reforma posicioná-la entre as principais disciplinas
obrigatórias é só o primeiro passo para as mudanças necessárias que precisam ocorrer em
relação à forma como esta é ensinada. Portanto, decidiu-se analisar, discutir e refletir a
respeito das demais mudanças necessárias como, por exemplo, o aumento de carga horária da
disciplina, a mudança das metodologias ultrapassadas que ainda são utilizadas, a melhor
qualificação de professores da língua e a diminuição no número de alunos por turma.
Segundo a pesquisa O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira, elaborada
pelo Instituto de Pesquisas Plano CDE em 2015 para o British Council,
Não importa a gerência da escola, existe forte cobrança para que a aula de
LE seja um espaço para o aprendizado de vocabulário básico (na verdade,
memorização e manuseio auxiliar de dicionário) e elementos de estrutura
sintática. As atividades mais próximas à cultura são a leitura de textos
selecionados (no livro didático, fotocopiados pelo professor e,
modernamente, na Internet) e a assistência a filmes e programas de TV na
LE.
ensino médio, que continuou apenas durante a educação infantil e o ensino fundamental.
Outra mudança proposta pela reforma está ligada ao fato de o currículo do ensino ser
composto pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Segundo o Art. 36, da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que passou a vigorar com as novas alterações instituídas
através da MP nº 746/2016,
A BNCC tem a função de nortear e definir os conteúdos que deverão ser aprendidos
pelos alunos em cada etapa do ensino e se haverá disciplinas excluídas ou não do ensino
médio.
oferece condições reais de aprendizado significativo da língua. Sendo assim, grande parte dos
alunos finalizam a educação básica sem obter qualquer domínio desta língua estrangeira. O
professor Carlos Alberto Gomes Cardim (2016), em artigo publicado em seu blog “Direto da
Reitoria”, defende que
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De acordo com Anjos (2016, p. 98), o termo língua franca é usado para definir “uma língua de contato usada
entre povos que não compartilham uma primeira língua e é comumente entendida como querendo significar
uma segunda língua de seus falantes”. O inglês tem operado nesse sentido, possibilitando comunicação entre
povos, de diferentes culturas.
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jovens não têm nenhuma possibilidade na vida. Pode haver outras línguas, mas o inglês é o
mínimo”3.
Portanto, é possível perceber que a disciplina de Língua Inglesa precisa e deve ser
vista com maior importância pela população e governantes. Através da sua obrigatoriedade
na nova reforma do ensino médio pode-se enxergar reais possibilidades de mudanças e
melhorias em relação ao seu ensino no país, porém é preciso ir além, não se limitando apenas
a essa medida, mas utilizando-a como caminho para o desenvolvimento das muitas outras
melhorias que ainda são necessárias e que exigem uma certa urgência.
O governo federal, em comunhão com os demais governantes estaduais e
municipais, devem gerar meios para que as mudanças necessárias ocorram. Criar a nova
reforma foi um passo importante para a reestruturação do ensino médio no país, porém é
preciso que ocorram maiores investimentos em questões de estruturas física e humana para
que o ensino passe a funcionar de forma mais eficaz. É preciso também investir em melhor
qualificação dos profissionais da educação para que o ensino ocorra de forma a melhorar a
formação dos alunos do país, principalmente da educação pública.
As mudanças e melhorias necessárias precisam e devem atender a todos os alunos,
independente do contexto, pois como é sabido no Brasil a desigualdade é um grande
problema social que atinge, principalmente, as classes médias e baixas. Tem-se que encontrar
meios para que os menos favorecidos financeiramente não sejam impedidos de ter acesso aos
benefícios propostos pela nova reforma como, por exemplo, a implementação e estruturação
dos Centros de Ensino em Período Integral, que exigem maiores investimentos para que
alcancem seus objetivos de ensino.
3
Segundo o jornalista Claudio de Moura Castro, em sua coluna da revista Veja (ano 2016, nº 34, p. 34).
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de Educação, de 2014.
Segundo o Ministro da Educação Mendonça Filho, a BNCC
A versão final desta base (3º versão) foi homologada pela Portaria n° 1.570 e
publicada no Diário Oficial da União (D.O.U.) de 21/12/2017, Seção 1, pág. 146 e representa
um marco histórico para a educação brasileira, tendo em vista que busca garantir o direito de
aprendizagem e desenvolvimento para todos. No entanto, para que a base seja realmente
incorporada no sistema educacional do país, é necessário uma nova formulação dos
currículos dos sistemas e das redes escolares de todos os munícipios e estados brasileiros,
que devem passar a tê-la como referência para o ensino de todas as disciplinas.
Para o ensino do componente curricular Língua Inglesa, a BNCC define em seu
texto que trata-se de
[...] definir a opção pelo ensino da língua inglesa como língua franca, uma
língua de comunicação internacional utilizada por falantes espalhados no
mundo inteiro, com diferentes repertórios linguísticos e culturais. Essa
perspectiva permite questionar a visão de que o único inglês correto – e a ser
ensinado – é aquele falado por estadunidenses ou britânicos, por exemplo.
Desse modo, o tratamento do inglês como língua franca o desvincula da
noção de pertencimento a um determinado território e, consequentemente, a
culturas típicas de comunidades específicas. Esse entendimento favorece
uma educação linguística voltada para a interculturalidade, isto é, para o
reconhecimento das (e o respeito às) diferenças, e para a compreensão de
como elas são produzidas. (BRASIL, 2017 p. 239)
cultural aprofundado.
A BNCC compreende que tratar o componente curricular de Língua Inglesa como
língua franca traz algumas implicações para o seu ensino, entre elas surge a necessidade de
ensinar a língua tendo em vista a formação dos alunos como cidadãos mais ativos e críticos.
Ela defende que “É esse caráter formativo que inscreve a aprendizagem de inglês em uma
perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e
políticas estão intrinsecamente ligadas” (BRASIL, 2017 p. 239).
Desta forma, segundo o documento “[...] o tratamento dado ao componente na
BNCC prioriza o foco da função social e política do inglês e, nesse sentido, passa a tratá-la
em seu status de língua franca.” (BRASIL, 2017 p. 239). Sendo, portanto, necessário elevar a
disciplina à condição de objeto de reflexão da sociedade, onde é preciso quebrar paradigmas
e preconceitos relacionados a territórios e culturas estrangeiras para uma melhor
aprendizagem.
Outra implicação, segundo a BNCC (2017),
deve ser analisado e disponibilizado ao aluno para dele fazer uso observando
sempre a condição de inteligibilidade na interação linguística. (BRASIL,
2017 p. 240)
Sendo, desta forma, através dela que pode-se garantir o direito de aprendizagem
para todos os alunos do país, buscando garantir o desenvolvimento educacional de todos com
conteúdos específicos e adaptados para atender as necessidades de cada etapa de suas vidas.
6. Considerações finais
Diante do que foi exposto no presente artigo, cujo tema foi “O ensino de Língua
Inglesa na nova reforma do ensino médio”, é possível concluir que esta nova reforma
instituída através da Medida Provisória 746 de 22 de setembro de 2016 desempenha um
importante avanço para o ensino de língua inglesa no Brasil. Tendo em vista que a disciplina
passou a ser posicionada entre as três principais disciplinas que deverão ser ensinadas
durante o ensino médio, esta poderá ser tratada com mais valorização e ser trabalhada com
maior ênfase.
De certa forma, a reforma traz esperança e gera confiança para que o cenário de
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ensino da língua se transforme e melhore, de forma que a disciplina possa finalmente vir a
alcançar seus objetivos. Neste sentido, a disciplina pode deixar de ser vista sob o pensamento
negativista que vem se espalhando ao longo dos anos, favorecendo a crença de que é
impossível aprender inglês nas escolas públicas brasileiras.
A terceira versão do documento Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017)
também exerce grande importância neste contexto, pois promove uma nova reflexão quanto à
configuração do ensino médio, procurando atender às demandas atuais e gerar melhores
condições para o ensino significativo da língua. A análise deste documento é essencial, pois
este servirá como base para nortear todas as etapas de ensino dos alunos das escolas
brasileiras, descrevendo quais habilidades deverão ser trabalhadas em cada etapa de ensino,
garantindo, assim, uma continuidade nos conteúdos trabalhados o que, segundo pesquisa
realizada pelo British Council (2015) é considerado de suma importância para o ensino da
língua.
No entanto, muitas mudanças ainda precisam ocorrer para que o ensino da língua
inglesa ocorra de forma significativa, principalmente no que se refere à formação dos
professores e às crenças em relação à aprendizagem de inglês na escola pública. Além disso,
existe a questão da carga-horária da disciplina, do uso de metodologias inadequadas e
ultrapassadas, da falta de material didático, do número excessivo de alunos em sala de aula
etc.
Para efetivar qualquer mudança no ensino na escola pública é necessário que todos
os envolvidos, ou seja, professores, alunos, comunidade, Estado etc., desejem e se disponham
a buscar meios para que as mudanças realmente ocorram, desenvolvendo ações que visam a
valorização da disciplina que deve ser vista como essencial, além da exigência de tomada de
decisões por parte dos governantes.
Com a realização deste estudo, pôde-se enxergar possibilidades de mudanças em
relação ao ensino da disciplina de língua inglesa a partir desta nova reforma. No entanto, é
necessária uma mudança de pensamento e atitude, principalmente por parte dos profissionais
da área de ensino de LE, que devem contribuir para mudar a crença deles próprios, e depois
dos alunos e da sociedade, e acreditar que é possível sim aprender língua inglesa nas escolas
públicas brasileiras.
Neste sentido, a disciplina poderá passar a ser valorizada e tratada de forma
adequada e não mais como uma disciplina complementar, conforme apontado pelo relatório
do British Council (2015). A partir deste reconhecimento, as mudanças trazidas pela nova
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reforma e pela BNCC poderão de fato obter chances para alcançar seus objetivos e, desta
forma poderão ajudar a mudar a atual realidade do ensino de inglês no país.
Entende-se que o primeiro importante passo foi dado através do posicionamento da
disciplina de língua inglesa entre as três principais disciplinas a serem ensinadas no ensino
médio. Além desse, outro passo importante foi a escolha do documento BNCC por posicionar
o ensino da língua como língua franca, o que contribui significativamente para a ampliação
da conscientização de professores e alunos em relação ao modo como esta língua deve ser
compreendida e ensinada. Não é mais a língua de determinados países, de territórios isolados,
mas sim a língua do mundo globalizado, das tecnologias, das relações internacionais, uma
língua de todos. O mais importante não é mais decorar regras gramaticais, pronunciar como
um falante nativo, mas sim o processo comunicativo.
7. Referências
ANJOS, Flavius Almeida dos. O inglês como língua franca global da contemporaneidade: em
defesa de uma pedagogia pela sua desestrangeirização e descolonização. Revista Letra
Capital, v. 1, n. 2, jul./dez. 2016, p. 95-117.
BRASIL. Base nacional comum curricular: educação é a base. 2017. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>
Acesso em 20 abr. 2018.
______. Seis aspectos para a revisão da 3º versão da BNCC: componente língua inglesa.
Leitura crítica. 2017. Disponível em: <www.britishcouncil.org.br>Acesso em: 20 out. 2018.
CARDIM, Paulo. Ensino médio: o desafio do ensino da língua inglesa. Belas artes. 2016.
Disponível em: <http://www.belasartes.br/diretodareitoria/artigos/ensino-medio-o-desafio-do-
ensino-da-lingua-inglesa> Acesso em: 26 out. 2017.