A posse inglesa do Novo Mundo, diferentemente da posse espanhola, não foi
marcada por cerimônias e rituais. Baseou-se antes em questões mundanas de ordem pratica, e não em “afixar símbolos da autoridade européia”. Justificativas legais para a posse do Novo Mundo como a “descoberta” foram pouco utilizadas pelos colonizadores. Os ingleses do século XVI e início do XVII baseavam seu direito de ocupar o Novo Mundo em termos mais familiares, histórica e culturalmente: eles queriam construir casas e cultivar jardins e lavouras. Dessa forma, entende-se como preocupação primordial dos colonizadores recém chegados: mais importantes que rituais era construir a moradia, culturalmente símbolo de estabilidade e permanência. “A característica central da sociedade inglesa foi, e ainda é, a aldeia”, estrutura que remonta o milênio passado. Assim sendo, para o inglês, estabelecer uma casa significa assumir um assentamento fixo, sinal claro da intenção de fixar. As casas estabeleciam direito legal da posse da terra na qual são construídas na lei inglesa. Outros sistemas europeus exigiam permissão legal ou registros escritos. Construir uma casa também dava direitos semelhantes na legislação inglesa, bem com o realizar alguma atividade na terra ou demonstrar intenção de fazê-lo (limpar a terra, por exemplo). Para os ingleses, o objeto comum – casa, cerca – significa propriedade. A construção de cercas era ordenada pelos oficiais da coroa por seu sentido também político: “cercas e divisas criavam a suposição de propriedade no direito medieval inglês; sua presença visível na paisagem indicava fisicamente a efetiva ocupação inglesa, e comunicava direitos ingleses”. Alem da construção de cercas, os oficiais da coroa também ordenavam outra ação: a agrimensura, pois esta iria avaliar formalmente os limites da propriedade privada, e, portanto legitimar a posse. O ato de fixar símbolos da propriedade privada era chamado de improvement ou melhoria. To improve ou melhorar significava reivindicar a terra para o próprio uso agrícola ou pastoril. Os ingleses, mesmo antes de se estabeleceram na America, estavam predispostos a ver o Novo Mundo como um jardim, e foi isso que os atraiu para o ultramar. Eles se referiam às atividades da colonização como “plantar o jardim”. O motivo para que essa metáfora tivesse um apelo tão forte é que o jardim, ao ser cercado, diferenciava e separava aquilo que é wild (selvagem) do que é cultivated (cultivado), portanto, o jardim simboliza a posse. Logo depois de erigir uma casa, o colonizador inglês plantava um jardim no Novo Mundo. “Plantar”, metaforicamente, significa afixar-se no solo. Sendo assim, o colonizador inglês era uma planta, e a colonização, era uma plantação. “Plantar”, é estabelecer posse efetiva da terra. “Não era uma lei que dava aos ingleses o direito de possuir o novo mundo, era uma ação que estabelecia esses direitos” Construir casas, cercar a terra, criar animais e plantar um jardim são ações que simbolizam a posse. Assim como a expressão “assentar cultura e criação”, outros dois verbos eram usados com freqüência para representar a posse da terra: “encher” e “sujeitar”. Ambos são métodos europeus de trabalhar o solo. O primeiro significa para os ingleses adubar com esterco, e o segundo, usar arado puxado por bois. Os dois termos são bíblicos (Gênesis 1:28) e são interpretados pelos ingleses de maneira singular: como justificativa para possuir terras desocupadas da America. No entanto, a suposição que as ações evidentes indicam propriedade baseava-se na existência de pessoas que partilhavam os mesmos valores culturais, mas isto só ocorria entre os ingleses. Apesar da especificidade dessa suposição, os colonizadores utilizavam a ausência dela entre os nativos – que não cercavam suas terras, não criavam animais. Não tinham habitação fixa, etc. – para negar o direito de posse dos nativos sobre suas terras.