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Instituto de Oceanografia
Laboratório de Gerenciamento Costeiro
Rio Grande – RS
2008
ii
“Só depois que a última árvore for derrubada, o
último peixe for morto, o último rio envenenado,
o homem irá perceber que dinheiro não se come.”
Pensamento Indígena
iii
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador, prof. Milton Asmus, pela sua dedicação e paciência, além dos
seus preciosos ensinamentos, que me fizeram crescer profissionalmente. Obrigada por me
mostrar um caminho onde eu me realizo: o gerenciamento costeiro.
Ao Msc. Pedro Henrique W. Koehler, a primeira pessoa com quem eu trabalhei
neste laboratório e que doou inteiramente a sua criatividade ao título deste trabalho;
portanto, lançando as bases para a minha monografia.
À Jaqueline Madruga pela imensa contribuição teórica e documental, além de uma
ótima companhia durante meus almoços em Porto Alegre.
A todos os entrevistados do meu trabalho, pela paciência e grande subsídio às
minhas análises.
A todos os pesquisadores do laboratório, que sempre contribuíram com idéias,
críticas e sugestões durante todas as apresentações que fiz nas nossas reuniões semanais.
Ao meu namorado e companheiro William Bauer, por todo o seu amor, atenção,
carinho, dedicação e companheirismo, principalmente nos momentos em que eu mais
precisei.
À minha família, por todo o apoio que eu tive desde o começo da minha graduação.
Agradeço em especial ao meu avô, que, com todo o deu amor, possibilitou a realização dos
meus sonhos; e à minha mãe e amiga, que nunca me deixou faltar seu carinho e apoio,
mesmo estando tão distante.
Aos meus amigos de turma, por todas as horas ótimas que passamos juntos.
E especialmente, a Deus, pois sem Ele simplesmente não sou nada.
iv
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................................vi
ABSTRACT..................................................................................................................................vii
LISTA DE SIGLAS.....................................................................................................................viii
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8
1.1. ÁREA DE ESTUDO...............................................................................................................11
1.2. OBJETIVOS............................................................................................................................14
1.3. MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................................18
1.4. REFERENCIAL TEÓRICO E DOCUMENTAL...................................................................18
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................29
2.1 ELEMENTOS PARA ANÁLISE DA CONJUNTURA AMBIENTAL DO PORTO DO
RIO GRANDE:PROCESSO HISTÓRICO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL..........29
2.2 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO............................................................................41
3. CONSIDERSÇÕES FINAIS...................................................................................................45
4. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................49
ANEXO I.......................................................................................................................................53
ANEXO II......................................................................................................................................63
RESUMO
v
O Porto do Rio Grande, RS, situado a 32°07’20” de latitude Sul e a 52°05’36”de
longitude Oeste, é o porto marítimo mais meridional do Brasil. Localiza-se na margem oeste do
Canal do Norte, que é o escoadouro natural de toda a bacia hidrográfica da Lagoa dos Patos no
Rio Grande do Sul. Como todo sistema portuário, apresenta alto potencial impactante ambiental e
poluidor que, em longo prazo, pode ameaçar a estabilidade ecológica deste ecossistema e
conseqüentemente o sustento das comunidades locais que dele dependem. Portanto, é necessário
que os portos atendam às exigências ambientais, possuindo, entre outras coisas, um licenciamento
ambiental regular. Este projeto propõe a realização de uma análise crítica do processo de
licenciamento ambiental portuário, tendo como estudo de caso o Sistema Ambiental Portuário de
Rio Grande e a relação deste processo com a Política e ações de Gerenciamento Costeiro na
região. A partir de tal análise e, sob um enfoque histórico do licenciamento, pretende-se apontar
críticas e sugestões do processo de gestão ambiental no Porto do Rio Grande, com potencial de
replicabilidade em outros sistemas portuários costeiros.
ABSTRACT
vi
Rio Grande’s Port, RS, located at 32°07’20” South and 52°05’36” West, is the most
southeastern marine port in Brazil. It’s in the west margin of Canal do Norte (Northern canal) that
is the natural drainer of whole watershed of Patos Lagoon in Rio Grande do Sul. As every port
system, it poses as highly potential in terms of impact and pollution that, in the long term, can
threaten the ecological stability of this ecosystem and, hence, the sustainability of local
communities which depend on it. Therefore, it urges that the ports meet the needs of
environmental requirements, providing, among other things, a regular environmental license.
This project proposes the implementation of a critical investigation of the port environmetal
licensing process, moreover, having as a study case, the Rio Grande Port Environmental system
and its reletionship between this process and the Coastal Managment policies in the area. Based
on this analysis and, under a historical approach from licensing, the following work aims at
reviewing and proposing ideas concerning to Rio Grande’s Port Environmental Management
Process, with full viability of replicating such initiative to other port systems.
vii
5. LISTA DE SIGLAS
MP – Ministério Público;
viii
9
1. INTRODUÇÃO
9
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Porto do Rio Grande tem especial destaque
na exportação de soja. Em 2007, ele ocupou o ranking de primeiro maior porto exportador, com
um total de 26.767.600 toneladas do grão. Atualmente o Porto possui uma estrutura ampla e
moderna, com quatro terminais especializados na movimentação de granéis: Bunge, Bianchini,
Tergrasa e Termasa. No total ele possui uma capacidade de armazenagem de cerca de 1.6 bilhões
de toneladas, podendo diariamente receber 78 mil toneladas e expedir 100 mil. Exportador desde
o Século XIX, foi o primeiro porto brasileiro a obter uma Licença de Operação em 1997, sendo
posteriormente renovada no ano de 1998 com algumas condicionantes. Este processo é contínuo
e visa à sua maior integração na Zona Costeira, além de um desenvolvimento com adequação
ambiental, levando à sua valorização comercial sob a condição de “Porto Licenciado”.
O Porto do Rio Grande também é marcado por acidentes importantes como o do navio
maltês Bahamas, que despejou pelo menos oito mil toneladas de ácido sulfúrico no canal em
agosto de 1998, tornando-se uma fonte significante deste contaminante, além de metais pesados
ao canal e à Lagoa dos Patos. Episódios altamente impactantes como este só levam a dúvidas
sobre a adequação do porto com relação a planos imprescindíveis como o Plano de
Gerenciamento de Riscos e o Plano de Emergência Individual, ambos previstos como
condicionantes ao Licenciamento. O Canal de acesso ao Porto do Rio Grande também tem
sofrido sucessivas dragagens nos últimos 15 anos; o que pode alterar significativamente a
hidrodinâmica do regime de enchentes e vazantes da maré, podendo também liberar metais ao
meio hídrico e à biota, além de aterrar fundos de plantas submersas e marismas. Por apresentar
alto potencial impactante e poluidor, percebe-se a necessidade de um gerenciamento ambiental
deste Sistema Portuário. Dentro do contexto da cidade de Rio Grande, juntamente com as
principais indústrias, o porto causa profundas transformações sociais e ambientais. Em longo
prazo, estas mudanças podem ameaçar a estabilidade ecológica do ecossistema da Lagoa dos
Patos, o que é capaz de ameaçar o sustento das pequenas comunidades locais que dependem deste
ambiente.
O Licenciamento do Porto vem induzindo ações de Gestão Ambiental (ainda incipientes
devido à necessidade de planos mais elaborados) que possibilitem torná-lo uma ferramenta
efetiva do manejo integrado deste sistema. No entanto, este licenciamento ainda apresenta
dificuldades de implementação. Este trabalho pretende realizar uma análise histórica do
Licenciamento do Porto do Rio Grande a fim de determinar os possíveis problemas relacionados
10
a este processo, observando a relação deste com os planos e programas governamentais de
gerenciamento costeiro previstos para a região.
A Zona Costeira, instituída legalmente como um patrimônio nacional desde a década de
80, tem hoje como uma de suas principais formas de proteção o Gerenciamento Costeiro
Integrado. De maneira geral, o Gerenciamento Costeiro é um processo contínuo e dinâmico, onde
as ações são feitas com o intuito do uso sustentável, desenvolvimento e proteção das áreas
costeiras e recursos marítimos (Asmus et al, 2006). No Brasil, o primeiro programa preconizando
este objetivo surgiu no ano de 1988, através da Lei 7.661. Foi então criado o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (PNGC), que tinha como principal objetivo promover o ordenamento do
uso dos recursos naturais e da ocupação dos espaços costeiros, bem como identificar as
potencialidades e vulnerabilidades existentes neste sistema (Polette & Silva, 2003).
O Município de Rio Grande localiza-se na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, entre
os paralelos 31° 47’ 02” e 32° 39’ 45” de latitude Sul e os meridianos de 52° 03’ 10” e 52° 44”
10”. Limita-se ao Norte com a Lagoa dos Patos e à Leste com o Oceano Atlântico. Seu
desenvolvimento e formação está diretamente associado à expansão portuguesa em direção ao
Prata com o interesse de ocupar as terras mais meridionais do Brasil, onde poderiam aproveitar
economicamente o gado bravio. Após a invasão espanhola e a conseqüente perda da sua função
de centro administrativo comercial, essa região evoluiu paulatinamente onde, a partir do séc.
XIX, passou a atuar como o mais importante entreposto comercial da Capitania, servindo como
escoadouro de toda a produção pecuária e de charque do Rio Grande do Sul. 1
Acredita-se que o desenvolvimento da Barra do Rio Grande iniciou em 1737, quando o
Brigadeiro José da Silva Paes iniciou o povoamento dessa região (passando a ser conhecida como
Rio Grande de São Pedro) e construiu a fortificação de madeira denominada de Forte Jesus Maria
José. Em 1846 foi criada a Inspetoria da Praticagem da Barra a fim de melhorar a segurança da
navegação, diminuindo bastante o número de acidentes nesta área. Devido às dificuldades de
1
Alves, F.N. Porto e Barra do Rio Grande – 90 anos de uma secular aspiração que se tornou realidade: brevíssima
notícia histórica (março e setembro de 1915). Biblos, Rio Grande, 18: 87 – 97, 2006.
11
navegação e às profundidades insuficientes do canal de acesso, as obras de fixação de Barra do
Rio Grande iniciaram a sua execução em 1910 e, finalmente, em 1915 o Navio-escola Benjamim
Constant (da Armada Nacional) foi a primeira embarcação a transpor a Barra do Rio Grande após
a sua fixação. Neste mesmo ano foi inaugurado o primeiro trecho do cais do Porto Novo. Devido
à grande importância que adquiriu o complexo hidro-portuário riograndense, o governo do Estado
criou em 1951 o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais, que passaria a administrar o
Porto de Rio Grande. Já em 1970 houve mais uma expansão do porto, passando a contar com o
Superporto. Em 1996 o Porto do Rio Grande foi desmembrado do DEPRC pela Lei Estadual nº
10.722, e ao mesmo tempo foi criada a autarquia Superintendência do Porto de Rio Grande -
SUPRG, que passou então a administrá-lo.
Hoje o Porto do Rio Grande compreende uma área desde a raiz do Molhe Oeste até a
extremidade Oeste do Cais de Saneamento. Portanto, fazem parte desta área o Porto Velho, o
Porto Novo e a Quarta Seção da Barra, abrangendo todos os cais, docas, píers, armazéns, pátios e
edificações. Além disso, também fazem parte da área portuária as vias internas de circulação
rodoviárias e ferroviárias, os terrenos ao longo dessas faixas marginais e em suas adjacências,
além da margem direita do Canal do Norte. As figuras abaixo mostram as instalações atuais e
setores portuários definidos pelo Plano de Zoneamento das áreas do Porto Organizado:
12
Figura 2: Porto Novo
Figura 3: Superporto
2
Figuras 1 até 4: site do Porto do Rio Grande, acessado através do link <http://www.portoriogrande.com.br>
13
Figura 4: São José do Norte
1.2 OBJETIVOS
Tomando como referência o sistema portuário de Rio Grande, este trabalho baseia-se em
alguns questionamentos inicialmente elaborados:
14
É possível implantar o processo licenciatório como respaldo às políticas de
gerenciamento costeiro ou este último funciona apenas como uma condicionante para o
licenciamento? Estes processos são efetivos?
Justificativa
15
A demanda por portos ou terminais especializados, com capacidade de receber navios de
maior calado tem aumentado significativamente. Isso tem gerado uma forte pressão no
desenvolvimento do setor portuário. No entanto, o intenso incremento deste setor acaba por
repercutir significativamente nos processos de uso e ocupação territorial, gerando impactos de
caráter local ou até regional, além de conflitos e competição por espaço e recursos. Além disso,
muitas vezes os portos desenvolvem-se de maneira desordenada e sem planos de gerenciamento
ambiental adequados, o que pode levar a potenciais impactos. Neste contexto estaria encaixado o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, que foi criado (entre outros objetivos), com o intuito
de orientar a utilização racional dos recursos da zona costeira, a fim de garantir a qualidade de
vida da população litorânea e a efetiva proteção dos ecossistemas costeiros. Além disso, também
são propostos os Planos Estaduais e Municipais de Gerenciamento Costeiro, onde foi estabelecida
cada uma das responsabilidades e procedimentos institucionais em cada âmbito, principalmente
no que concerne aos planos de uso e ocupação territorial.
A chamadas cadeias logísticas integradas hoje são exigidas mundialmente dentro do
contexto de mercado globalizado, cujo objetivo comum é o crescimento econômico. Esta cadeia
de suprimentos tem os portos como seu principal elo. Só no Brasil, eles são responsáveis por
mais de 90% da movimentação de mercadorias. No entanto, é imprescindível que estes sistemas
portuários possam induzir o almejado desenvolvimento econômico baseado em uma visão
sistêmica, onde a responsabilidade sócio-ambiental faça parte destas pilastras. Segundo Juarez
Moraes e Silva 3 , não há como dissociar o crescimento econômico das conquistas sociais e da
preservação do meio ambiente, pois este processo é cíclico e virtuoso; caso contrário ele será
vicioso e, portanto, comprometido em si mesmo. Em Janeiro de 2007 o Governo Federal instituiu
o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) que consistiu uma lista de metas e ações criadas
com o intuito de evitar, efetivamente, um “apagão logístico” no país e nas relações internacionais.
Os portos passaram a representar um dos principais gargalos desta política e, portanto, as
dragagens de manutenção para aumento dos canais de navegação se tornaram uma das
prioridades do Plano. De acordo com o Ministério dos Transportes, uma das ações do PAC foi
justamente implementar um programa de dragagem, onde estão sendo investidos, desde 2007,
R$1.4 bilhão de reais no desenvolvimento dos portos brasileiros. O ministério ainda sustenta que
3
Juarez Moraes e Silva é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba e atual Diretor-Presidente dos
Terminais Portuários da Ponta do Félix, além de ser integrante do Conselho de Autoridade Portuária de Antonina
(CAP).
16
só é possível estimular a economia e gerar empregos se um porto for voltado para o mercado,
tiver uma atividade produtiva e tenha capacidade de reduzir seus custos. No entanto, assim como
o processo de reformas do setor portuário induzido pela Lei de Modernização dos Portos (Lei
8.630/93), não tem se levado em consideração satisfatoriamente a questão ambiental face ao
desenvolvimento portuário. Em conseqüência, as autoridades portuárias não têm se mostrado
voltadas a investimentos na questão ambiental (tais como construção de unidades ambientas
adequadamente estruturadas e pessoal qualificado). É nesse contexto que surge a necessidade de
políticas de Gerenciamento Costeiro bem estruturadas, o que dariam respaldo para mudanças
profundas no sistema tanto estruturais quanto culturais. Portanto, o mais difícil neste processo são
as mudanças de mentalidade que, baseados em uma visão tradicional, acreditam que as medidas
de controle ambiental são uma barreira ao desenvolvimento e não uma vantagem competitiva
(Kitzmann & Asmus, 2006).
A metodologia do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro geralmente não é
contestada ou igualmente analisada de forma crítica pela comunidade e meio acadêmico. Este
trabalho possibilitará entender o papel do Licenciamento Ambiental e a sua relação com o
Gerenciamento Costeiro. Já que o Licenciamento é previsto no Plano Nacional, pretende-se
analisar como este poderia servir como ferramenta complementar ao GERCO; pois a realidade
nos mostra que, contrariamente, o Gerenciamento funciona apenas como um simples
cumprimento de requisitos para o processo de Licenciamento.
De forma específica, o Gerenciamento Costeiro na região Sul do Brasil é muito fraco, o
que leva a iniciativas de realização de programas independentes como o Costa Sul (Asmus &
Tagliani, 2008). O Programa foi uma iniciativa de pesquisadores de diversas instituições do
estado do RS com o intuito de contribuir para a restauração da qualidade ambiental no estuário da
Lagoa dos Patos, a fim de estabelecer as bases para a recuperação econômica das comunidades
litorâneas.
No caso do Porto do Rio Grande, pretende-se entender, através de metodologia analítica,
qual o seu relacionamento com o Gerenciamento Costeiro sob o aspecto de empreendimento
licenciado. Um dos programas ambientais do Porto - Programa de Monitoramento - não deveria
acontecer apenas como condição para a obtenção de Licenças, mas sim como uma forma de
conscientização e da participação pública do porto na condição de ator sócio-ambiental. Diante
de tais aspectos, neste trabalho será dada ênfase às questões legais de gestão, sempre tendo em
17
conta a inserção do porto no contexto local da cidade de Rio Grande, levando-se em consideração
aspectos legislativos estaduais e municipais.
De acordo com o Artigo 225 da Constituição Federal, a defesa do meio ambiente pelo
Poder Público não é uma faculdade, mas um dever constitucional:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O Licenciamento Ambiental
• A prudência ecológica;
• A justiça social;
19
• A eficiência econômica.
Estes três constituintes formam o tripé básico sobre o qual se assenta o desenvolvimento
sustentável. O licenciamento é parte integrante do processo de controle ambiental, que não se
esgota com a concessão da licença de operação do empreendimento, mas monitora e acompanha
seu funcionamento. Da mesma forma, o licenciamento por parte dos estados e do IBAMA exige
declaração dos municípios de que o empreendimento é compatível com a legislação ambiental
(Ribeiro, 2005). Desta forma, no estado do Rio Grande do Sul, o licenciamento é determinado
através de Lei Estadual n° 7.488 de 14 de janeiro de 1981. Cabe lembrar que a legislação federal
é obrigatória para todos os estados no procedimento da autorização. No que concerne às normas
gerais, a legislação federal não invade a competência dos estados ao se fazer presente no
procedimento da autorização; pelo contrário, esta serve apenas para validar os critérios
importantes que devem ser observados com relação à proteção do ambiente.
O Licenciamento Ambiental é, concomitantemente, um importante instrumento de gestão
e uma forte ferramenta do poder público para o controle ambiental. É o procedimento
administrativo pelo qual o órgão ambiental autoriza a localização, instalação, ampliação e
operação de empreendimentos e atividades que utilizam recursos ambientais consideradas efetiva
ou potencialmente poluidoras; ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental. É uma obrigação legal compartilhada tanto pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente
quanto pelo IBAMA como partes integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio
Ambiente). Ele está previsto no Artigo 9º da Lei Federal 6.938/81, da Política Nacional de Meio
Ambiente, como segue:
20
A Licença Ambiental é definida pela Resolução do CONAMA nº 237/97:
21
2. Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos,
projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;
O texto citado acima, adaptado de um provérbio de Lao Tse, demonstra claramente a real
necessidade de programas efetivos de Gerenciamento Costeiro, baseados na complexidade das
22
interações entre homens e entre o homem e a natureza. Esta necessidade, por sua vez, é fruto
destas interações desequilibradas, que se intensificam cada vez mais no que diz respeito à
demanda de bens e serviços dos sistemas costeiros pelo homem.
Não há como falar em Gerenciamento Costeiro sem associá-lo a Políticas Públicas. Essas,
por sua vez, são documentos que expressam a intenção em um tema particular, implicando em
processos administrativos baseados nas decisões tomadas em tais documentos. Nestes processos,
os valores, interesses e recursos competem através de instituições pela influência nas ações
governamentais. Devido a este grande conflito de interesses, todo o trabalho de gerenciamento
costeiro integrado baseia-se em princípios pautados em uma dinâmica geopolítica social.
Portanto, dentro do contexto do Gerenciamento Costeiro, também devem ser levados em
consideração os aspectos subjetivos (dentro da esfera histórico-cultural) que originam as opiniões
divergentes ou convergentes e que, conseqüentemente, são os principais responsáveis pela
geração de conflitos.
Todo processo de gestão ambiental deve ser amparado por políticas que possam dar
suporte e legalidade para as ações que visam o desenvolvimento sustentável. O Gerenciamento
Costeiro, hoje, tem respaldo legal da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), o que
permite estruturar e planejar propostas pertinentes a um quadro de tomada de decisões na área
ambiental. Portanto,
A política Ambiental é um instrumento legal que oferece
um conjunto consistente de princípios doutrinários que
conformam as aspirações sociais e /ou governamentais
no que concerne à regulamentação ou modificação no
uso, controle, proteção e conservação do ambiente. 4
4
LANNA, Antônio Eduardo Leão. Gerenciamento de Bacia Hidrográfica: aspectos conceituais e metodológicos.
Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis, 1995. p. 17.
23
“... a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no país, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e
à proteção da dignidade da vida humana”.
O PNGC, então instituído pela Lei 7.661/88, tinha como principais objetivos o
Zoneamento dos usos e atividades na Zona Costeira, bem como as diretrizes para a utilização do
solo, subsolo e das águas. Dessa forma, ele estabeleceu, além das normas legais, o controle do
gerenciamento de toda a faixa do território nacional, assegurando a sua proteção ambiental.
Apesar das propostas estabelecidas, o Plano não definia com clareza seus objetivos nem a
constituição dos órgãos coordenadores. Aliado a isso, surgiram deficiências na implementação
dos planos regionais, além da notável rigidez para uma atividade de execução descentralizada.
Após uma revisão detalhada do Plano em 1995 pelo COGERCO, as modificações sugeridas por
este grupo levaram ao estabelecimento do PNGC II. Finalmente, em 1997, foi criado o PNGC II
com as modificações propostas pelo COGERCO (após ser aprovado pela Resolução CIRM n°
05). Hoje, o PNGC não se configura como um plano rígido, pois possibilita a elaboração e
execução de planos estaduais e municipais de gerenciamento costeiro. Obviamente, a base dos
planos estaduais e municipais deve ter respaldo do plano nacional para que, desta forma, a ações
sejam uniformizadas e mantenham a unidade nacional. Portanto, as decisões são “verticalizadas”
mas com autonomia necessária para a elaboração de planos em nível regional.
A tabela abaixo mostra uma síntese do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro:
CARACTERÍSTICAS PNGC
24
Todo território nacional em área de Zona Costeira:
Faixa Terrestre:
- Municípios situados até 50km linha de costa que gerem impacto ambiental na Zona
Costeira;
- Municípios estuarino-lagunares;
25
- Compatibilização de ações do GERCO com políticas que incidam sobre zona costeira;
- Continuidade ao SIGERCO;
- Planejar o PNGC com base nos POA nonos níveis Federal, Estadual e Municipal;
26
zona costeira, utilizando fóruns existentes como os Comitês de Bacias Hidrográficas, os
Conselhos de Desenvolvimento Estadual, o Conselho Estadual de Meio Ambiente, Conselho
Estadual da Reserva da Biosfera, Universidades, Prefeituras Municipais e a sociedade civil
organizada.
A Gestão ambiental Portuária (GAP) pode ser definida como um processo contínuo e
dinâmico de tomada de decisões visando o uso e desenvolvimento sustentável da área portuária,
retro-portuária e de seus recursos. No Porto do Rio Grande, ela ocorre por duas frentes distintas:
27
objetivo proteger o meio ambiente ou qualquer outra pessoa ou bem real, podendo ser proposta
pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados ou Municípios.
Outro marco importante para o Porto do Rio Grande foi a proposição de sua Agenda
Ambiental Portuária em Janeiro de 2006. Proposta em nível federal como uma ação articulada
entre o Ministério do Meio Ambiente e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(ANTAQ), a Agenda Ambiental portuária tem por finalidade estabelecer diretrizes de proteção e
controle ambiental através do aumento da articulação entre o setor portuário, órgãos de controle e
a sociedade civil, determinando um desempenho a ser cumprido pela administração do porto. A
Agenda Ambiental Portuária tem como principais objetivos:
A elaboração da Agenda Ambiental Portuária foi proposta com base em quatro fases
consecutivas:
28
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No ano de 1993 o Departamento de Portos, Rios e Canais (DEPRC 5 ) foi autuado pelo
Ministério Público em uma ação judicial (processo n° 13.615/165) com premissas no Art. 225 da
Constituição Federal. Esta Ação Civil Pública foi um fato extremamente relevante para o
encaminhamento do licenciamento do porto. Desta forma, foi possível expor a problemática
ambiental do Porto do Rio Grande, o que levou a um acordo celebrado entre o Ministério Público
e a administração do Porto, com vistas à sua regularização, através de um processo de
licenciamento.
Foi elaborado um estudo de impacto ambiental e relatório correspondente (EIA/RIMA) da
área do Porto pela FURG como cumprimento do que foi estabelecido no Protocolo de Acordo e
Cooperação entre o DEPRC e o Ministério Público da Comarca de Rio Grande. Esse estudo deu
respaldo à implementação do sistema de gestão ambiental portuário, que na época mostrava-se
incipiente e fragmentado. O Relatório de Impacto Ambiental, composto de cinco volumes, foi
entregue ao IBAMA em março do ano de 1997 como subsídio para a obtenção da licença de
operação no decorrer do mesmo ano. O estudo de Impacto Ambiental (neste caso elaborado pela
FURG) representou um documento que, além de diagnosticar as áreas de influência direta e
indireta das atividades portuárias sob aspectos físicos, químicos, bióticos e sócio-econômicos,
também identificou os principais pontos passíveis de melhorias, visando à modernização do
Porto. Desta forma, o documento apresentou uma visão clara e abrangente do estado do Porto na
época, destacando seus processos produtivos. Nele foram analisadas as atividades de embarque e
desembarque de mercadorias, estocagem, distribuição e transporte, destinação final de
subprodutos tóxicos e sucatas, emissões aéreas e demais atividades potencialmente poluidoras.
Portanto, o EIA/RIMA teve grande importância no processo, por ser o documento que deu bases
para a obtenção da Licença Ambiental.
5
O DEPRC era o órgão responsável pela administração do Porto de Rio Grande até a criação da Superintendência do
Porto de Rio Grande – SUPRG.
29
O Porto também firmou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o IBAMA a fim
de regularizar-se junto ao Estado conforme estabelecido no §6° do Art. 4° da Lei Federal n°
7.347/85. Este termo representou um acordo entre o Ministério Público e o responsável pelo dano
(neste caso o porto), impondo-lhe obrigações para a reparação do mesmo, além de possíveis
sanções (multas).
Em 1997, a SUPRG obteve junto ao IBAMA sua primeira Licença de Operação com o
objetivo de dar continuidade ao desenvolvimento de suas atividades, bem como à concessão do
Porto do Rio Grande pela União. Após esta data, o porto apresentou, ao longo de 11 anos de
Licenciamento, três renovações da Licença de Operação n° 03/97, a começar a partir do ano de
1998, quando houve a primeira renovação. Após isso, a segunda renovação ocorreu em 2005,
quase três anos após o seu vencimento, em 2002. Esta última renovação foi concedida em 21 de
Outubro de 2005, sendo válida por mais oito anos (teoricamente podendo ser retirada se não
atendidas as condicionantes). Esta seqüência histórica foi resumida em uma linha do tempo para
melhor visualização dos marcos (Figura 5).
30
LINHA DO TEMPO
LICENCIAMENTO DO PORTO DO RIO GRANDE
Irregularidades no Armazém A-5
1993 1994 1995 1996 1997 1998 99 00 01 2002 2003 04 2005 2006 07 2008
Figura 5
31
Para o desenvolvimento de um processo de licenciamento ambiental são elaborados diversos
documentos técnicos com objetivo de permitir a avaliação da viabilidade ambiental do
empreendimento. Além disso, eles também estabelecem o compromisso do empreendedor com
relação às medidas a serem adotadas para a atenuação dos efeitos adversos de sua implantação e
operação, além da otimização dos efeitos benéficos. As condicionantes definidas a partir da
Licença de Operação 03/97 do Porto do Rio Grande são as citadas abaixo:
A. Condições gerais:
1.1. Publicação da licença em conformidade com a resolução n° 006/86 do CONAMA,
encaminhando também cópias destas publicações ao Ibama.
B. Condições específicas:
1.1. Apresentar Plano de Gestão Ambiental Integrada, definindo atribuições da Autoridade
Portuária, das Instalações Portuárias e dos Terminais Portuários na área do Porto
Organizado;
1.2. Apresentar os Planos de Emergência individual do Porto Velho e do Porto Novo, de
acordo com a legislação em vigor;
1.3. Apresentar a consolidação dos Planos de Emergência Individual de todos os terminais e
instalações portuárias do Porto Organizado;
1.4. Apresentar manuais de procedimento interno para o gerenciamento dos riscos de
poluição, bem como para a gestão dos diversos resíduos gerados ou provenientes das
atividades de movimentação e armazenamento de óleo e substâncias nocivas ou
perigosas no Porto Velho e Porto Novo;
1.5. Apresentar Plano de Gerenciamento de Riscos e propostas de normas e procedimento de
gerenciamento referentes ao risco de poluição para área do Porto Organizado devendo
contemplar no mínimo:
1.5.1 Controle e monitoramento referente às atividades de lavagem de porões e tanques dos
navios respeitando a proibição do lançamento de efluentes líquidos oriundos destas
atividades;
1.5.2 Abastecimento de todas as embarcações de navegação fluvial e marítima, incluindo as
de pequeno porte, com combustíveis e óleos;
32
1.5.3 Operação de transbordo entre navios na área do Porto Organizado;
1.5.4 Manipulação e armazenamento de cargas perigosas;
1.5.5 Coleta, armazenamento e destinação dos resíduos provenientes das atividades de
utilização, movimentação e armazenagem de substâncias perigosas e óleos, de acordo
com a Lei Federal n° 9966/2000;
1.6. Apresentar Programa de Educação Ambiental do Porto Organizado, contemplando, no
mínimo:
1.6.1. Proposta de implementação de acordo com o que consta no Parecer Técnico;
1.6.2. Ações de Educação Ambiental para as comunidades de pescadores, devendo ser
integradas às atividades de ordenamento pesqueiro do estuário;
1.6.3. Proposta de Educação Ambiental da tripulação das embarcações que utilizam o
porto, especialmente com relação aos problemas da água de lastro e suas formas de
prevenção;
33
1.8.6. Levantamento das atividades pesqueiras desenvolvidas na área de dragagem e
descarte, indicando períodos e interações com ênfase nas áreas de desova,
migrações, espécies endêmicas e ameaçadas de extinção;
1.8.7. Programa de Monitoramento dos impactos da atividade de dragagem e descarte,
enfatizando: distribuição de turbidez antes, durante e depois da dragagem,
relacionando com as variáveis de correntes, ondas, marés e ventos;
1.8.8. Modelagem de dispersão da pluma de sedimentos nas áreas de dragagem e
descarte.
1.9. Apresentar relatórios bienais das Auditorias ambientais de acordo com a legislação
vigente;
1.10. Implementar o Plano de Monitoramento Ambiental Continuado, apresentando
programas relativos aos seguintes itens: físico, química da água, microcontaminantes
orgânicos, geoquímica do sedimento, macro-invertebrados bentônicos, testes
ecotoxicológicos, além do Projeto determinado “Integração, Infra-estrutura e Logística
SIG”. Incluir no Programa de Monitoramento da Biota:
1.10.1. Mamíferos Aquáticos com ocorrência no estuário e zona costeira adjacente;
1.10.2. Aves, incluindo as migratórias, indicando períodos do ano de maior
vulnerabilidade destas espécies;
1.10.3. Ictiofauna, identificando possíveis modificações das comunidades a médio e longo
prazo, além de produzir dados de referência para avaliação de impactos de acidentes
que possam ocorrer.
1.11. Apresentar proposta de Monitoramento da qualidade do ar na área de influência
direta do Porto Organizado;
1.12. Apresentar Programa de Comunicação Social que contemple a formulação de uma
política de comunicação, dando ênfase à divulgação e disponibilização das informações
produzidas no âmbito dos programas ambientais constante no escopo do Parecer Técnico.
A partir da análise de todas as licenças, foi possível notar que as condicionantes iniciais
foram mantidas ao longo de todo o processo e, a cada renovação da licença, eram adicionados
novos termos de acordo com a demanda dos técnicos do IBAMA e as necessidades de
monitoramento observadas.
34
Após a emissão de uma licença e como resultado da avaliação do processo de
licenciamento, é elaborado um parecer técnico pelo IBAMA, onde é feita a análise do
cumprimento (ou não) das condicionantes determinadas no documento. Já o parecer técnico
emitido em maio de 1998 pelo IBAMA teve por objetivo subsidiar a renovação da L.O. n° 03/97
baseada na análise do EIA/RIMA entregue no ano anterior. Foram feitas algumas recomendações
quanto aos programas de monitoramento, a partir dos quais devem ser elaborados relatórios
trimestrais deste acompanhamento. O Porto pareceu apresentar grande dificuldade em atender as
condicionantes relacionadas à elaboração dos Planos de Manejo e Acompanhamento, além dos
estudos de Análise de Riscos e o Programa de Gerenciamento de Riscos. De acordo com a
vistoria realizada em dezembro de 2002, já nesta data faltava ao Porto apresentar:
A partir da análise das vistorias realizadas por técnicos do IBAMA com o intuito da
renovação de licenças, o trabalho comparou este e outros pareceres com as respostas obtidas a
35
partir das entrevistas estruturadas. Com isso, foi possível determinar-se quais os principais
aspectos e problemas referentes ao descumprimento destas condicionantes, além do porquê dos
não eventuais atendimentos.
Cada um dos Programas desenvolvidos pelo Porto, além de ser uma exigência legal, são
instrumentos que servem como suporte de gestão. Portanto, para assegurar a continuidade da
Gestão Portuária, a obtenção das licenças está condicionada à apresentação e implementação
destes Planos e Programas, listados abaixo, que são descritos brevemente de acordo com o que é
instituído legalmente ou com base nos pareceres técnicos do IBAMA:
36
3. O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos é imprescindível ao gerenciamento do Porto
devido à tipologia dos resíduos gerados neste local, que apresentam alto potencial de perigo à
saúde pública, além de facilitar a propagação de agentes epidemiológicos como cólera, dengue,
entre outros. O Plano deve determinar a destinação final dos resíduos classes A (que apresentam
risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido à presença de agentes biológicos) e B
(que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido às suas características
químicas). Conforme Resolução 05 do CONAMA, o plano deve contemplar todos as instalações
geradoras de resíduos, incluindo terminais portuários e porto organizado. O Plano deve conter a
descrição detalhada de todos os procedimentos do gerenciamento de resíduos: segregação,
acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento, destinação final, além do
monitoramento e os licenciamentos ambiental e sanitário.
37
Prioridade dos órgãos integrantes do SISNAMA e do Sistema Nacional de
Educação;
Economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a alocar e o
retorno social apropriado pelo plano ou programa proposto.
De acordo com o último parecer técnico do IBAMA, o porto deve apresentar propostas de ações
de educação ambiental para as comunidades de pescadores e também para a tripulação das
embarcações que utilizam o porto.
6. O Plano de Dragagem
Conforme a Resolução n° 344/04 do CONAMA, o Plano de Dragagem deverá descrever a
atividade detalhadamente, contemplando dados como estimativa de volume a ser dragado,
metodologia, tipo de draga, especificação do descarte, levantamento de atividades pesqueiras
desenvolvidas no local, caracterização do sedimento, entre outros. Esta condicionante possui
termo de referência elaborado pelo IBAMA.
38
9. Plano de Monitoramento da Qualidade do Ar
O Plano de Monitoramento do Ar deverá contemplar a malha amostral de onde precisam ser
instalados equipamentos para medir qualidade do ar em função dos locais na área de influência
que podem estar sendo afetados pela atividade. É uma condicionante um pouco complicada pois
causa até hoje várias dúvidas pelo empreendedor, que alega ser responsabilidade da FEPAM de
realizar este monitoramento.
39
A Ação Civil Pública de 1993 ( ACP n° 13.615/165)
Teve início em 07 de Novembro de 1991, quando foi instaurado, pelo Ministério Público
Estadual, Inquérito Civil a fim de apurar fatos contra o patrimônio público, aos trabalhadores da
orla portuária e ao meio ambiente noticiados em materiais jornalísticos da época. Com base neste
mesmo inquérito, o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais foi então autuado pela
FEPAM, em Outubro de 1992, além do fato do Porto do Rio Grande estar funcionando sem a
devida Licença Ambiental. Estes fatos levaram à autuação do porto pelo Ministério Público
Estadual em 1° de Fevereiro de 1993 e, indiretamente, à obtenção da Licença de Operação de
1997. Estas três propostas foram motivadas principalmente pelas irregularidades ambientais
verificadas no Armazém A-5 (onde o armazenamento de cargas tóxicas era feito de forma
irregular e sem nenhum cuidado) além da situação de deterioração ambiental geral. Ficou então
estabelecido Protocolo Judicial, já citado neste trabalho, no qual o porto assumiria inúmeros
compromissos, entre eles a elaboração de EIA-RIMA e o encaminhamento das correspondentes
conclusões para iniciar o processo de licenciamento ambiental.
Foi determinada pelo Ministério Público Federal, onde foram intimados o Instituto
Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a Fundação
Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Rossler (FEPAM) e a Superintendência do Porto
do Rio Grande (SUPRG). Nos autos é proposto Termo de ajustamento de conduta como meio
mais rápido e eficiente da resolução deste conflito; ocasionando, assim, o comprometimento das
partes com a preservação do meio ambiente para as futuras gerações. Desta forma a solução pode
ser obtida mediante a prática de mútuas concessões, de forma a conceder o litígio através de
negociação extrajudicial. A principal preocupação abordada está relacionada aos impactos
cumulativos e sinérgicos do conjunto das atividades do porto organizado. Existem fragilidades no
licenciamento ambiental quando este é feito pontualmente, sendo que, na verdade, a análise para
considerar a viabilidade sócio ambiental do porto deve ser feita com base no conjunto e dos
impactos em sua fonte. Nos autos ainda é cobrada uma ação ativa do IBAMA, de forma que ele
40
atue nos processos de planejamento avaliando as decisões políticas e estratégicas que originam os
empreendimentos, e não somente os projetos individualmente.
O Porto do Rio Grande foi novamente intimado no corrente ano por inúmeros fatores
devidamente explicados nos autos do processo. Consta que o autor do processo é o Ministério
Público Federal; sendo que, além da SUPRG, também foram intimados como réus o Estado do
Rio Grande do Sul, a União Federal e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).
Citou-se nos autos que, apesar do não comprimento da maioria das condicionantes pelo porto, ao
longo de todos os anos de licenciamento o IBAMA continuou emitindo as respectivas
renovações. Ficou claramente definido então os erros provenientes de ambos os lados: tanto da
SUPRG em não atendê-los quanto do IBAMA em aceitá-los. Portanto, o Porto do Rio Grande
permanece inadimplente até hoje no que diz respeito ao cumprimento das condicionantes,
esquivando-se de suas obrigações, que por esse motivo acabou sendo autuado pelo Ministério
Público. Concluiu-se nos autos que, considerando que a primeira emissão de licença teve origem
judicial, espera-se também que para o cumprimento de suas condicionantes imponha-se nova
intervenção do Poder Público. Portanto, não basta a mera detenção nominal do documento
licenciatório se o seu titular não cumpre com as determinações destas licenças.
41
problemática muito mais profunda e incerta. Na verdade, o fundamento para a repartição da
competência entre os órgãos é grau de impacto ambiental do empreendimento. Não é relevante se
o bem é de domínio da União, dos estados ou dos municípios; o que se considera é a
predominância do interesse, com base no alcance dos impactos ambientais diretos da atividade.
Entretanto, essa distribuição de competências ainda gera dúvidas e somente será plenamente
esclarecida quando houver a regulamentação das competências comuns da União, dos estados e
dos municípios, previstas na Constituição Federal (Art. 23).
Outro problema é com relação à subjetividade de alguns aspectos importantes
estabelecidos na legislação ambiental, como por exemplo, ao se determinar quando um
empreendimento é ou não causador de significativa degradação ambiental. O uso destes termos
torna a compreensão das leis ainda mais difícil e confusa para os empreendedores, o que dificulta
ainda mais o processo de licenciamento. Com relação às condicionantes, talvez devesse ser
melhor estabelecido pelo órgão licenciador termos de referência que sirvam de base para o
empreendedor embasar-se ou contratar técnicos especializados, melhorando a questão do
gerenciamento e evitando, desta forma, um conflito de competências.
Especificamente no caso do Porto do Rio Grande, a implementação do processo de
adequação legal foi feita de forma gradual. Dentro do processo de licenciamento, isso é
evidenciado pela adição de condicionantes ao longo dos anos do processo, sendo que a maioria
delas foi adicionada somente na última renovação). Também foi possível observar um
crescimento do próprio IBAMA, que é evidenciado através dos pareceres e notas técnicas
emitidas. Entretanto, ainda hoje é observada uma certa superficialidade nos pareceres técnicos.
As discussões talvez pudessem ser mais específicas e detalhadas, o que guiaria melhor o
empreendedor com relação às modificações que devem ser feitas nos seus planos e programas (no
caso da condicionante não ser atendida). Analisando o processo de licenciamento, observou-se
também muita burocracia, o que interfere diretamente no tempo hábil de tramitação do processo.
Além disso, muitas exigências das condicionantes parecem ser extremamente difíceis de serem
cumpridas (isso foi evidenciado indiretamente através das entrevistas), o que demonstra que
algumas lacunas entre o empreendedor e o órgão licenciador ainda não foram devidamente
preenchidas. Também foi apontado pelo representante do IBAMA uma sobreposição de licenças,
neste caso entre o IBAMA (que licencia o porto como um todo) e a FEPAM (que licencia os
terminais), que na prática não deveria ocorrer, gerando uma certa confusão para o empreendedor.
42
Na verdade, o ideal esperado seria uma complementação entre as licenças, onde FEPAM e
IBAMA pudessem atuar em conjunto e de forma articulada. Segundo Kitzmann & Asmus (2006),
em grande parte dos casos há uma grande quantidade de órgãos governamentais regulando uma
mesma atividade portuária, porém distribuídos em diferentes ministérios e com funções nem
sempre claramente definidas, o que acaba por gerar superposição de competências e ações não
integradas de gestão.
As Multas
As multas são penalidades administrativas previstas em lei, que , no caso do Porto do Rio
Grande, a maioria está relacionada ao parcial ou total descumprimento das condicionantes
(prazos, adequação legal ou simplesmente pelo fato de não ter sido entregue) e que funcionam
como um meio de conscientização ambiental do empreendedor. A tramitação dos autos de
infração também gera mais burocracia, pois o empreendedor pode recorrer da multa e o órgão
competente ainda poderá aceitar ou rejeitar o recurso. Normalmente a tramitação do
processo leva vários meses para ser encerrada e, muitas vezes, culminado no não pagamento
da multa pelo réu ou pessoas autuada.
43
Desde o ano de 2005, o porto soma 1,5 milhões em multas, sendo que 1 milhão
corresponde ao não cumprimento das condicionantes e os outros 500 mil referem-se ao
monitoramento inadequado na ocasião de dragagens no canal e a obras no cais do Porto
Novo. Como os autos de infração ainda tramitam, pode-se imaginar que as multas não tem se
mostrado um instrumento de educação ambiental muito efetivo neste caso.
As Entrevistas
44
Um fato interessante a ser observado e repensado é que em todos os casos os
entrevistados concordaram entre si que existe uma grande problemática com relação aos
processos burocráticos, que talvez se fossem revistos poderiam melhorar efetivamente o processo
maior , além de diminuir o tempo de tramitação interna dos documentos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
45
especializados, bem como fiscais para as fases de pós-licença, que são imprescindíveis para a
manutenção da qualidade do processo. Uma vez que essa depende de um acompanhamento
(fiscalização) contínuo, o que demanda tempo e dinheiro, este processo ainda mostra-se como um
instrumento pouco eficiente de gestão ambiental. A Lei define a obrigatoriedade dos Programas
Ambientais como condicionantes às licenças, no entanto ela normalmente não detalha como
devem ser realizados. Em alguns casos, alguns programas podem ser definidos sob a forma de
Lei Federal, resoluções do CONAMA (como é o caso das auditorias ambientais e Planos de
Emergência) ou instruções normativas, mas nem todos os programas são contemplados.
A análise das licenças ambientais, bem como dos pareceres técnicos emitidos pelo
IBAMA, trouxe mais questionamentos do que respostas, o que leva a concluir que este cenário
ainda é atualmente pouco trabalhado, principalmente no que concerne à questão da real
importância do Licenciamento Ambiental. Além disso, os pareceres técnicos não são
suficientemente tratados, tornando esta importante ferramenta um tanto quanto superficial. A
discussão das condicionantes são pouco detalhistas. Elas deveriam ser mais específicas e
minuciosas, o que guiaria melhor o empreendedor com relação às modificações nos seus Planos e
Programas.
Especificamente para o Porto do Rio Grande, fica aqui a sugestão de que oportunidades
de discussões, como a da Agenda Ambiental Portuária, devem ser retomadas, pois são
instrumentos de gestão participativa importantíssimos para o enriquecimento do processo, além
de uma grande oportunidade de melhoria e estreitamento da relação empreendedor / órgão
licenciador. Isso porque a Agenda constituiria em um consenso entre todas as partes envolvidas,
que isoladamente não são completas, mas que em conjunto representariam uma visão mais
integrada da todos os aspectos portuários.
Por fim, a compilação e análise das licenças, relatórios e dos diplomas legais deram
respaldo para tentar responder aos questionamentos inicialmente propostos no início deste
trabalho:
46
Grande, esse processo não se mostra totalmente efetivo devido a muitos problemas observados
nas licenças, que vão desde dificuldades na elaboração dos Planos Ambientais até a sobreposição
de competências entre os órgãos. Agora não parece importante realmente determinar quem são as
partes efetivamente envolvidas, mas sim de se estabelecer o quão elas realmente estão envolvidas
nas questões ambientais, pois de nada adianta saber fazer o processo caso não haja vontade de
realizá-lo.
47
assunto. Tudo isso acaba por gerar lacunas no processo de gestão portuária, mostrando ao mesmo
tempo a complexidade e fragilidade deste processo. As mudanças devem ocorrer agora e não há
culpados neste cenário, mas sim pessoas (e aqui se inclui desde os empreendedores até técnicos
dos órgãos competentes) que podem tentar compatibilizar idéias entre si (em prol de um mesmo
objetivo) e quem sabe, avanços de Educação Ambiental e de mudança de mentalidades.
48
4. REFERÊNCIAS
ASMUS, M. L. TAGLIANI, P. R. A.; Programa Costa Sul no estuário da Lagoa dos Patos. Isso é
Gerenciamento Costeiro?. Anais do Seminário Cidades Costeiras Sustentáveis (CCS 2008).
Florianópolis, março de 2008 (in press). 10 p.
49
Paraná (SEMA/PR); associação de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento de Antonina
(ADEMADAN); Facudades Integradas Espírita (UNIBEM), 2007. 312 p.
MACHADO, P. A. L. Direito ambiental Brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1998.
894 p.
50
MARRONI, E. V. Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II: Reflexões sobre a importância
da participação comunitária nos processos de gestão pública. Rio Grande: Fundação
Universidade Federal do Rio Grande, 2002. 220 p.
SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.412 p.
51
TORRES, R.J. & PHILOMENA, A.L. Dragagem do Porto do Rio Grande (RS): Uma análise
preliminar. 2001.
52
- ANEXO I -
QUETIONÁRIOS
53
2. Qual a importância do licenciamento Ambiental para o Ibama e os demais órgãos
estaduais de fiscalização?
O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente
e permite que o órgão ambiental exerça o controle das atividades consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras, objetivando estabelecer as condições específicas para as
diferentes fases de implantação e operações destas atividades e empreendimentos.
4. A senhora acredita que este processo é eficiente? Apresenta falhas? Quais são elas?
Considero que o fato da legislação ambiental brasileira ser relativamente recente o processo
de licenciamento ambiental ainda apresenta-se como um instrumento pouco eficiente. Uma das
grandes dificuldades enfrentadas pelos órgãos ambientais ainda é a formação de equipe técnica
54
especializada e definição de procedimentos administrativos para atendimento da legislação
ambiental referente às distintas tipologias de empreendimentos. Considero que a principal
dificuldade encontrada hoje seria referente à fase de pós-licença, uma vez que esta fase demanda
acompanhamento contínuo e de fundamental importância para a gestão ambiental.
Com relação ao Licenciamento Ambiental de Portos:
5. Quais são as condicionantes que menos são cumpridas pelos empreendedores? Qual
seria a razão para o não atendimento destas?
Tendo em vista que a atividade portuária brasileira precede a legislação ambiental em muitas
décadas, considero que os gestores portuários apresentam uma resistência natural a adequar suas
instalações e atividades as condições estabelecidas pelos órgãos ambientais. Tanto a estrutura
como as atividades portuárias são consideradas de efetivo impacto ambiental, devendo desta
forma ser regularizadas para atender a legislação ambiental assim como realizar monitoramento
das atividades potencialmente poluidoras continuamente a fim de indicar a necessidade de
intervenção na gestão ambiental do referido empreendimento.
As razões para o não atendimento das condicionantes são as mais diversas possíveis,
tendo como principal justificativa o fato dos portos não apresentarem orçamento previsto para a
realização de tais atividades, ausência de recursos humanos habilitados em seus quadros
funcionais para a gestão ambiental, manutenção de um sistema de gestão ambiental é muito
dispendioso, entre outras.
Cabe ressaltar que a violação ou inadequação de quaisquer condicionantes da licença
ambiental podem levar o órgão ambiental a suspender ou cancelar a licença, assim como aplicar
as sanções legais. O Decreto no 6.514, de 22 de julho de 2008, que regulamenta a Lei de Crimes
Ambientais (Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998), estabelece em seu Art. 66 multa de R$
500,00 (quinhentos reais) a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) por fazer funcionar
estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, em desacordo com a licença
obtida. O não atendimento das condicionantes específicas das licenças ambientais podem estar
relacionadas com a certeza de que o empreendimento não será embargado para a regularização
das pendências ambientais.
55
6. Existe muita dificuldade no licenciamento de um porto, já que as licenças são
emitidas de maneira distinta para o atracadouro, o porto organizado e os terminais
de carga?
A complexidade do sistema portuário por si só já faz com que o processo de licenciamento
apresente um alto grau de dificuldade. Considerando que estes empreendimentos encontram-se
instalados e em operação há um período expressivo de tempo sem as devidas preocupações em
relação ao meio ambiente faz com que tenhamos um imenso passivo ambiental. Muitos desses
empreendimentos encontram-se instalados em locais inapropriados para este tipo de atividade e
não podendo ser realocados, o que acarreta maior dificuldade no processo de regularização do
empreendimento diante a legislação ambiental vigente. Obviamente que a falta de definição de
competência dificulta ainda mais a tarefa de regularização ambiental, uma vez que o
licenciamento em uma mesma área ocorre em das esferas de competência e muitas vezes de
forma pouco coerente. Faz-se necessário estabelecer convênios entre os órgãos do SISNAMA
para que seja possível o licenciamento ambiental integrado, não somente na área do organizado
como nos setores industriais adjacentes a área do .
56
8. A senhora acredita que, pode-se assim dizer, a Ação Civil Pública, em 1993, foi
imprescindível para iniciar o processo de Licenciamento do porto ? Por quê?
Haja vista o longo tempo transcorrido para a regulamentação da Lei 6.938/81 que define a
necessidade de licenciamento e de revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras
como sendo um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente e a situação específica
do Porto do Rio Grande em relação a degradação ambiental considero que esta ACP foi
fundamental para que se desse início ao processo de regularização ambiental do .
10. Quais são as condicionantes menos cumpridas pelo Porto do Rio Grande? Será que
está relacionada com alguma condição sócio-ambiental do município?
57
2.9 Auditoria ambiental Não atendida
2.10 Implementar plano de monitoramento Parcialmente atendida
continuado
2.11 Qualidade do ar Não atendida
2.12 Comunicação social Atendida
2.13 Implementar planos e programas Parcialmente atendida
2.14 Entrega de relatórios Parcialmente atendida
2.15 Relatório Anual Prazo estendido
2.16 Relatórios assinados por profissionais Não Atendida
habilitados
11. E quanto às multas, a senhora acredita que elas são eficientes? Por quê?
As multas são sanções administrativas previstas em lei para as infrações cometidas pelos
empreendedores. Como pode ser contatado nos autos do processo de licenciamento buscou-se
construir com o empreendedor um processo de adequação a legislação ambiental gradual, o
qual iria se ajustando a medida que o empreendedor fosse apresentando o detalhamento dos
planos e programas solicitados no corpo da licença. Entretanto, como o empreendedor não
58
cumpriu os prazos estabelecidos inclusive reincidindo no seu descumprimento optou-se pela
lavratura do auto de infração. Uma vez que o auto de infração seja sustentado pelas instâncias
superiores, o autuado tem direito a recurso, o qual pode ser rejeitado, ficando o empreendedor
obrigado a pagar a multa, caso contrário vai para a dívida ativa da União.
12. Qual a vantagem em conceder as renovações de licença ao sem mesmo ele ter
cumprido a maioria das condicionantes?
Na época da renovação da LO do Porto do Rio Grande o entendimento era de que se ele já
possuía uma licença, encontrava-se a frente dos outros portos que ainda estavam em fase de
regularização. Nesse sentido entendeu-se que o porto iria aprimorar a gestão baseado nas novas
orientações estabelecidas na renovação de LO. O que não se mostrou eficiente, pois o porto ao
considerar que estaria de posse da LO já se encontrava regular, mesmo que suas condicionantes
não estivessem sendo construídas e implementadas. O entendimento técnico atual é que data de
validade da LO do porto deve ser revista e eles deverão entrar com requerimento de renovação
que deverá ser emitido somente com a regularização do diante da legislação ambiental vigente.
59
2. O senhor acredita que este processo é eficiente? As melhorias dentro do são visíveis?
Sim, enquanto política de desenvolvimento sustentável com certeza é. É uma forma de
mudança de mentalidades, trabalhar de forma mais coordenada e isso é eficiente.
3. O senhor acredita que, pode-se assim dizer, a Ação Civil Pública, em 1996, foi
imprescindível para iniciar o processo de Licenciamento do ? Por quê?
Sim, pois provocou, trouxe à tona, mesmo que forçadamente, a consciência ambiental dos
administradores do porto . Se não tivesse ocorrido esta ação civil pública provavelmente hoje o
porto não seria licenciado. Portanto, esse fato, que começou com a voz de prisão do
Superintendente, foi fundamental para o início do processo.
7. Quais são as condicionantes mais difíceis de serem cumpridas pelo do Rio Grande?
Qual a razão?
As condicionantes burocráticas, não há problema na elaboração dos Programas definidos
nas condicionantes. Por exemplo, o IBAMA exige Plano de Gestão ambiental integrada, onde
60
deve ser definida a atribuição da autoridade portuária, das instalações portuárias e dos terminais
portuários, na área do organizado, estabelecendo uma estrutura administrativa com definição
hierárquica e suas atribuições, mas isso pela Legislação do não pode ser feito. Se você interpretar
a licença ambiental como uma forma de educação ambiental, nesse sentido esse instrumento não
vale nada. Não está sendo usada a vertente pedagógica da licença ambiental.
8. E quanto às multas, o senhor acredita que elas são eficientes? Por quê?
Não, porque elas são burocráticas e isso só gera maior burocracia. Ela não é eficiente na
sua essência. Na minha opinião, existe crime ambiental (que pela legislação ambiental brasileira é
descumprir a lei) e crime ao ambiente, que é quando você realmente agride o ambiente (mas este
não é previsto em Lei). Por exemplo, quando há um derramamento de óleo você está cometendo
um crime ao ambiente. Mas o porto é multado por não fazer uma auditoria ambiental, e isto para
mim não tem nada de eficaz; só me gera um processo na justiça federal (ao qual hoje eu sou
indiciado) papelada e mais papelada, à qual eu tenho que responder a quatro processos pelo
Ministério Público! Em vez de cuidar do ambiente, eu tenho que ficar respondendo ao Ministério
Público por ações ao ambiente, sendo que na verdade não aconteceu nada. As multas com certeza
são um fator importante, mas não há coerência na maneira como elas são determinadas,
principalmente no que diz respeito ao IBAMA de Rio Grande.
61
O ESREG não licencia, a tarefa é realizada pelo Ibama Sede em Brasília. Somente vistorias
são realizadas, principalmente pela equipe do Núcleo de Licenciamento em Alegre (RS) e
esporadicamente pelo ESREG em Rio Grande (RS).
2. Você acredita que o fato da Regional não licenciar diretamente o Porto do Rio
Grande representa uma desvantagem? Por quê?
Não. O Ibama deve licenciar somente obras e serviços de significativo impacto regional,
portanto a execução do licenciamento pela Sede é pertinente. A participação dos ESREGs
depende de critérios técnicos e conveniências logísticas que podem ser resolvidas pelo
IBAMA Sede.
3. Como funciona o caso das vistorias realizadas por vocês? Elas são esporádicas ou
constantes? Quais os descumprimentos legais mais recorrentes do porto ?
São esporádicas e realizadas em conjunto com técnicos do Núcleo de Licenciamento ou do
IBAMA Sede. O do Rio Grande não atendeu diversas condicionantes específicas constantes
da LO expedida pelo IBAMA. Em sua maioria essas condicionantes são também exigências
estabelecidas pela Lei 9.966/2000. Caso essas condicionantes estivessem cumpridas o
ESREG poderia ter um papel mais ativo no acompanhamento e execução dos Planos de
Emergências, por exemplo, que são condicionantes previstas na LO.
62
- ANEXO II -
Diplomas Legais
A Lei 5.357 de 1967 disciplina sobre as penalidades para embarcações e terminais marítimos ou
fluviais de qualquer natureza que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras. A infração será
punida com multa de acordo com a dimensão da embarcação ou terminal.
A Lei 6.938 de 1981, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, além de instituir o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o Licenciamento Ambiental no país. A sua
criação pode ser considerada um marco com relação à Legislação Ambiental por dispor os
primeiros diplomas legais voltados à proteção do meio ambiente.
A Lei 7.347 de 1985 disciplina, entre outras matérias, a Ação Civil Pública relacionada à
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente. Prevê ação cautelar para evitar danos ao
meio ambiente e também a condenação em dinheiro como pena.
63
A Lei 8.630 de 1993 disciplina sobre a organização e administração dos Portos, determinando o
regime jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias (LEI DOS
PORTOS).
A Lei 9.605 de 1988 disciplina o conceito de crime ambiental, determinando as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas lesivas ao meio ambiente.
A Lei 9.795/99 dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e dá outras providências.
A Lei 9.966 de 2000 dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada
por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição
nacional e dá outras providências.
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A Resolução do CONAMA n° 357 de 17 de março de 2005 dispõe sobre a classificação dos
corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como as condições e
padrões idéias para o lançamento de efluentes.
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