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Tasso Assunção*
A cada final de ano, costuma-se elaborar mentalmente e até por escrito listas de promessas para o
ano vindouro. Nessa ocasião, afirma-se a amigos e familiares que se vai começar uma dieta, adotar a
prática de exercícios físicos ou deixar de beber ou fumar, inclusive para purificar o corpo dos
excessos natalinos. Enfim, muitas pessoas se comprometem a finalmente arregaçar as mangas e
corrigir aspectos de sua vida que precisam ser mudados.
Seguros e bem intencionados, respeitáveis cidadãos estabelecem metas e até tentam de bom grado
alcançá-las. No entanto, embora haja exceções, a maioria não revela força de vontade suficiente para
levar a bom termo as promessas de Ano Novo e logo se vê novamente absorvida pelo velho e
surrado cotidiano. Acomoda-se. Tais casos demonstram que a decisão de mudança se determinou
apenas pelo fator circunstancial da passagem de ano.
Nessa situação, o abandono dos objetivos estabelecidos indica a ausência do substrato da intenção
mais profunda. Refere-se aqui à intenção que tem origem numa conscientização mais ampla da
necessidade de transformação, nascida de um processo de meditação que pode até ser involuntário,
mas é consistente. Essa intenção se assenta solidamente arraigada no inconsciente do indivíduo e
passa a definir todas as suas atividades posteriores.
É aí que se revela o poder da intenção, o estado mental orientado a concretizar, manter ou evitar
certas condições. Nessa firme aplicação do espírito, a pessoa se propõe algo e sabe, ainda que
instintivamente, que vai realizá-lo; a despeito dos empecilhos que se interponham ao longo do
caminho – realizá-lo-á. Isso porque já não se trata de um mero desejo ou promessa, mas de uma
estável resolução de se empenhar pelo resultado almejado.
Em verdade, todos utilizam o poder da intenção em muitas ocasiões, embora com frequência de
maneira intuitiva. Nesses casos, entra-se em correspondência com a inteligência vital e se põe a
operar um impulso da própria energia primordial, a mesma que criou as células e mantém o universo
em perfeita ordem. É por isso que a superação de dependências físicas e psicológicas e a
consecução de metas aparentemente inalcançáveis se viabilizam.
Portanto, a intenção – não uma disposição superficial – pode constituir um meio de conexão com a
fonte da Criação. Essa fonte, sem a qual o próprio cosmo desmoronaria, pode-se denominá-la como
queira: Deus, espírito, inspiração, não importa; o que conta é que se tome a intenção como uma
interface com o todo. Somente a partir dessa sintonia se podem converter promessas propaladas
ao vento em determinações lastreadas em sólido propósito.
Advirta-se, contudo, que não se trata de esperar o auxílio de alguma força sobrenatural, mas de um
tino sincero. Ou seja, é preciso um discernimento que dissipe a negatividade e acolha a isenção e a
gratidão. Também se fazem essenciais a generosidade e a cooperação, enfim, conceder o melhor de
si a cada instante, entregar-se ao máximo a cada ser com quem interagir, desinteressadamente, pa-ra
que possa emergir o estado natural da consciência.
Atendidos esses requisitos, o que significa instituir a ordem interior e exteriormente, o caminho estará
preparado. Mas isso exige muita meditação, investigação de si mesmo, descoberta e compreensão,
pela qual se desanuvia a percepção, permitindo-se a conexão com a fonte e a liberação do poder da
intenção. Assim, livre dos obstáculos da negatividade, a energia flui livremente e conduz à
realização, não de sonhos, mas da vida em plenitude.