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Violência contra mulher: militante relata “acirramento do patriarcado” com Bolsonaro


Em entrevista ao Brasil de Fato, Sônia Coelho falou sobre o desmonte das políticas públicas e a importância do 25N

25 de novembro de 2019

Por Caroline Oliveira


Do Brasil de Fato

Cruzes em frente ao congresso pelo Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher.
Foto Lula Marques

No mundo, uma a cada três mulheres já foi vítima de violência, segundo a Organização Mundial da Saúde.Os casos de
violência contra a mulher, desde agressão a feminicídio, aumentaram vertiginosamente no Brasil, nos últimos dez anos.

Somente entre junho e outubro deste ano, foram contabilizados 518 crimes monitorados pela Rede de Observatórios da
Segurança, em cinco estados brasileiros – Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Apenas no estado
paulista, região que registrou os dados mais exorbitantes, os pesquisadores assinalaram 169 casos de violência, dos quais
60 foram feminicídios.

De acordo com o Atlas da Violência de 2019, foram 4.936 mulheres mortas em 2017, o maior número registrado desde o
início da série histórica, em 2007. Em relação ao primeiro ano da pesquisa, constatou-se um aumento de 30,7%.

O aumento recente, de acordo com Sônia Coelho, integrante do Sempreviva Organização Feminista e da Marcha Mundial
das Mulheres, afirmou, em entrevista ao Brasil de Fato, se deve ao momento político do país – de recrudescimento do
conservadorismo e da tolerância com a violência contra a mulher.

Nesta quinta-feira (25), que recepciona o Dia Latinoamericano e Caribenho de Combate à Violência contra a Mulher, Sônia
Coelho falou com a reportagem sobre o assunto
Coelho falou com a reportagem sobre o assunto.

Brasil de Fato: O aumento de casos de violência contra a mulher retrata, de fato, a realidade?

Sonia Coelho: Eu acredito que durante o atual momento, de extremo conservadorismo, há sim um aumento da violência.
Estamos em um governo que o próprio é a expressão da violência, assim como o seu representante. O tempo todo se atua
pela violência, como liberalizar a posse de arma e afins. Isso contribui para a violência, além do desmonte de políticas
públicas.

A situação econômica do País, de crise, também influencia na expressividade desses dados?

Sim, quando se vive em uma situação de crise e de tremendo desemprego, isso se junta ao desmonte de políticas públicas
para as mulheres, como políticas de atendimento, campanhas, entre outras.

Tudo isso forma um caldo da violência contra a mulher: é o acirramento do patriarcado, o desmonte de políticas, a tolerância
com a violência.

A gente tem visto nos noticiários muitas reportagens sobre casos, por exemplo, de feminicídio. Nesse contexto, surge o
questionamento se a cobertura se deve à Lei do Feminicídio, ao aumento de pesquisas sobre o assunto e afins. Ou, se de
fato, aumentou realmente.

Eu acredito que tenha aumentado realmente porque há uma condição na sociedade favorável a isso. Alcoolismo,
desemprego e uso de drogas não são a causa da violência, de jeito nenhum. Mas quando há uma situação de agravamento
da crise social e de grande desemprego – que foca mais as mulheres, mas foca também os homens – há uma tendência a
acirrar mais a violência. São fatores que contribuem para maior violência contra as mulheres.

As mulheres negras são as mais impactadas por essa conjuntura. Ao passo que a violência contra a mulher branca
diminui, a violência contra a mulher negra aumenta. Tem também a ver com esse contexto?

Eu acho que tem a ver com esse contexto de maior pobreza, menos acesso à Justiça e ao serviço que previnem a violência.
As mulheres negras são justamente as mulheres mais empobrecidas, com menor capacidade de conseguir emprego, com
mais dependência econômica e com menos capacidade de ter apoio das políticas públicas.

A senhora tocou no ponto a Justiça. Qual é o papel do Estado no combate à violência contra a mulher? E diante
desse papel, o que de fato tem feito?

O Estado tem um papel crucial no combate à violência contra a mulher, inclusive oferecendo políticas públicas. E estou
falando boas políticas de educação, que contribuam para a autonomia econômica das mulheres. E aí estou falando também
de políticas de apoio e de acolhimento às mulheres vítimas de violência e de políticas de prevenção à violência.

O que a gente vive nesse momento, no entanto, é um desmonte. Por exemplo, no 13 de novembro deste ano, o presidente
Jair Bolsonaro publicou um decreto que desresponsabiliza o Estado com a manutenção da Casas da Mulher Brasileira, que já
estão funcionando em cerca de seis estados.

São equipamentos grandes e importantes, onde tem todo um atendimento integral no mesmo local. E o mesmo governo
federal que apoiava, fazia o aporte para a manutenção desta casa, desresponsabilizou-se da mesma forma com políticas de
atendimento às mulheres do campo e em áreas de fronteira.

É um recado para a sociedade?

Quando o governo federal tem uma política austera e trata o assunto com desrespeito, existe um efeito quase que dominó. O
pouco que os municípios e estados investem deixa de ser investido, vão acabando com os organismos de políticas para as
mulheres.

Se a gente olhar durante o período em que existia o Ministério da Mulher, havia o Pacto Nacional de Enfrentamento à
Violência Contra as Mulheres. O acordo fazia um acordo, interpelava todos os estados para a criação de políticas públicas,
repassava recursos e cobrava o investimento.
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O mesmo acontecia com os municípios, que tinham organismos de política para as mulheres. Tudo isso incentiva estados e
municípios estarem atentos à situação. A medida em que não há esse, também deixam de promover essas políticas.

Estamos vivendo em um momento de extrema gravidade, onde o Estado se desresponsabiliza de fazer políticas de atenção
às mulheres vítimas de violência.

Diante desse cenário de abandono por parte do Estado, qual deve ser o caráter da organização das mulheres?

A gente trabalha na questão da violência contra a mulher o ano inteiro porque para nós uma das coisas fundamentais no
combate é a auto organização das mulheres.

Não adianta ter leis maravilhosas, e nossas leis aqui são, se não houver mulheres organizadas para cobrar políticas públicas
do Estado.

E especificamente sobre o dia de hoje?

Esse dia foi tirado de um encontro feminista na Colômbia, em 1981, lembrando as irmãs Patria Mercedes Mirabal e Minerva
Argentina Mirabal, que eram militantes políticas na época da ditadura dominicana e que foram brutalmente assassinadas. Aí
ficou esse dia 25 de novembro como o Dia Latinoamericano e Caribenho de Combate à Violência contra a Mulher.

Nesse dia, movimento feminista, geralmente, não faz coisas centralizadas. As pessoas fazem muitos eventos nas suas
regiões, nos bairros. Em São Paulo, temos um ato no Masp. Mas tem muita gente que acaba fazendo nos próprios bairros.

Edição: Rodrigo Chagas/ Brasil de Fato

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