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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Escola de Ciências Jurídicas e Sociais


Curso de Relações Internacionais

#DARETOSHINE:
O movimento transnacional pela equidade de gênero no futebol e o
legado da Copa do Mundo de 2019

Projeto apresentado como requisito parcial de


avaliação na Disciplina de Trabalho de Iniciação
Científica (TIC 1), do sétimo período do Curso em
Relações Internacionais da Universidade do Vale
do Itajaí, Escola de Ciências Jurídicas e Sociais –
ECJS

Acadêmica: Marina Schoepping Falcão


Cavalcante Lins

Orientador: Paulo Rogério Melo de Oliveira

Itajaí (SC), 02 de dezembro de 2019


1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1.1 Título do Projeto

#DareToShine: O movimento transnacional pela equidade de gênero no


futebol e o legado da Copa do Mundo de 2019.

1.2 Área de Concentração

Gênero e Relações Internacionais.

1.3 Autor

Marina Schoepping Falcão Cavalcante Lins


Endereço: Rua Marechal Hermes, 1202. Glória, Joinville/SC. CEP: 89217-200.
Telefones: (47) 99102-4406
Endereço eletrônico: marina.schoepping@gmail.com

1.4 Professor Orientador

Prof. Dr. Paulo Rogério Melo de Oliveira


2 OBJETO DA PESQUISA

2.1 Tema

O movimento transnacional pela equidade de gênero no futebol e o legado da


Copa do Mundo de 2019.

2.2 Delimitação do Tema

Entre os dias 07 de junho e 07 de julho de 2019 realizou-se na França a


oitava edição da Copa do Mundo Feminina, que ficou marcada pela quebra de
recordes e pela necessidade de se discutir o tema da equidade de gênero,
impulsionado pelo posicionamento de atletas, jornalistas, torcedoras e demais
mulheres envolvidas com o esporte.
Segundo dados da FIFA (2019), mais de um bilhão de pessoas
acompanharam a Copa de 2019 pela TV ou alguma plataforma digital, o que
significou um aumento de 30% em relação à Copa de 2015, e a média de audiência
por partida também dobrou, chegando a 17,27 milhões de espectadores por jogo.
Nas palavras de Gianni Infantino, presidente da FIFA, esses números mostram que
a Copa realizada na França foi "mais do que um evento esportivo", transformando-se
em "um fenômeno cultural" (MENDONÇA, 2019, não paginado). Neste sentido, vale
destacar a escolha da expressão "#DARETOSHINE" ("Ouse Brilhar", em tradução
literal), presente no título deste projeto, que é uma referência ao slogan da Copa do
Mundo de 20191. Assim, inspirado nos eventos e na repercussão desta última edição
do torneio, este trabalho tem como objetivo investigar a luta contra a disparidade de
gênero no futebol, sobretudo no contexto da Copa de 2019, destacando o papel das
organizações internacionais, e procurar caracterizá-la como um movimento
transnacional.

1
Lançado em 19 de setembro de 2017 junto ao emblema oficial do que seria a 8ª edição da Copa do
Mundo Feminina, o slogan DARE TO SHINE™ tinha como objetivo ―refletir a natureza mutável do
futebol e a evolução da competição feminina, que teria tempo de brilhar por toda a França em 2019‖
(FIFA, 2017, não paginado). Importante lembrar que, posteriormente, a Adidas, uma das
patrocinadoras oficiais da competição, anunciou que todas as jogadoras da equipe vencedora
receberiam o mesmo pagamento de bônus dado aos seus colegas do sexo masculino. (LEX
SPORTIVA, 2019).
Em muitas culturas, incluindo a brasileira, os esportes sempre foram
tradicionalmente divididos com base no gênero, refletindo valores e estereótipos que
ressaltam as noções de masculinidade e feminilidade perpetuados socialmente.
Conforme apontam Huggins e Randell (2007, p. 10, tradução livre) ―[...] os ‗esportes
masculinos‘ tradicionais frequentemente enfatizavam a força bruta e a agressão ou a
imitar o comportamento de guerra; enquanto os ‗esportes femininos‘, como a dança,
valorizavam as propriedades da graça, delicadeza e, em muitos contextos, imitavam
ou expressavam formas de sexualidade". Consequentemente, as pessoas
desinteressadas ou sem a habilidade necessária para praticar esses ―esportes" eram
consideradas menos femininas (no caso das mulheres) ou menos masculinas (dos
homens) pela sociedade, e cruzar essas divisões de gênero era visto como um ato
de provocação e resistência às normas sociais.
A história do futebol feminino e o seu desenvolvimento é particular de cada
país. Nos Estados Unidos, por exemplo, a seleção feminina está em um patamar de
projeção superior à masculina e, mesmo assim, suas jogadoras precisam lutar
contra a desigualdade salarial favorecida pelas instituições. Enquanto a equipe
masculina dos EUA sequer se classificou para a Copa do Mundo de 2018 na Rússia,
a equipe feminina é campeã mundial e vencedora de quatro dos oito torneios
disputados até o momento. Elas também conquistaram quatro medalhas de ouro
olímpicas e uma de prata em suas seis participações, iniciadas em 1996 (U.S.
SOCCER).
Essa diferença de tratamento é alvo de críticas dos veículos de comunicação
estadunidenses. São encontradas longas matérias sobre o assunto nos portais da
ESPN (Entertainment and Sports Programming Network), uma das maiores redes
americanas de cobertura esportiva. Também em setembro de 2019, Mia Hamm,
antiga estrela da seleção norte-americana – que teve sua estreia aos 15 anos de
idade em 1987 e levou o time ao primeiro lugar em duas Copas do Mundo e duas
Olimpíadas, além de ter sido a detentora do recorde de mais gols marcados em
competições internacionais até 2013 –, deu uma entrevista para a CNBC Make It
falando sobre o que seria preciso fazer para diminuir a desigualdade salarial entre
futebolistas homens e mulheres, assumindo a posição de defensora ferrenha de
direitos igualitários (CNBC, 2019). "Você investe naquilo que enxerga valor", disse
Hamm. "O fato de que as pessoas não viam as mulheres como valiosas é um erro e
também um prejuízo para a sociedade". A ex-jogadora também enfatiza que investir
nas mulheres não é apenas sobre posicionar-se socialmente, mas também uma
estratégia de negócios que demonstra inteligência. Neste trecho Hamm faz uma
ligação entre o aumento do investimento da FIFA no futebol feminino nos últimos
anos e o aumento da audiência na TV. "Simplesmente faz sentido para os negócios",
diz ela. "Estamos gritando isso há tanto tempo." (CNBC, 2019, não paginado,
tradução livre).
Segundo dados do Hollywood Reporter (2019), antes da Copa do Mundo
realizada este ano na França, todas as 28 jogadoras da seleção feminina entraram
com uma ação contra a Federação de Futebol dos Estados Unidos (em inglês United
States Soccer Federation - USSF) por discriminação de gênero, exigindo que
recebessem o mesmo valor pago à seleção masculina. O processo afirma que o
órgão governamental U.S. Soccer concedeu à equipe masculina um bônus de
desempenho totalizando US$ 5,375 milhões por perder nas oitavas-de-final da Copa
do Mundo de 2014, enquanto a federação forneceu às mulheres US$ 1,725 milhão
pela vitória na Copa do Mundo de 2015. O mesmo documento inicia com a
afirmação de que a USSF é a única empregadora comum entre os homens e as
mulheres que jogam futebol profissionalmente pelos Estados Unidos e informa que:

Apesar de essas jogadoras e jogadores serem chamados para


desempenhar as mesmas responsabilidades de trabalho em suas equipes e
a participar de competições internacionais para sua única empregadora
comum, a USSF, as jogadoras recebem constantemente menos dinheiro do
que seus colegas homens. Isso é verdade mesmo quando o desempenho
delas é superior ao dos jogadores do sexo masculino – tendo as jogadoras,
em contraste com os jogadores do sexo masculino, se tornado campeãs do
mundo" (UNITED STATES DISTRICT COURT, 2019, p. 1, tradução livre).

Mais adiante, embora a USSF tenha firmado a promoção da igualdade de


gênero como uma de suas metas, o processo aponta que:

Na realidade, a USSF fracassou totalmente em promover a igualdade de


gênero. Eles teimam e se recusam a tratar suas funcionárias que são
membros do WNT [Women’s National Team] da mesma forma que tratam
seus funcionários que são membros do MNT [Men’s National Team]. A
USSF, na verdade, admitiu que paga menos às suas funcionárias do que
aos funcionários do sexo masculino e chegou ao ponto de afirmar que ‗as
realidades do mercado são tais que as mulheres não merecem ser pagas
igualmente aos homens‘. A USSF admite tal discriminação proposital de
gênero, mesmo nos momentos em que o WNT obteve mais lucro, jogou
mais jogos, ganhou mais jogos, ganhou mais campeonatos e/ou conquistou
um público de televisão maior (UNITED STATES DISTRICT COURT, 2019,
p. 1, tradução livre).
Além disso, também declara que, se as equipes masculina e feminina
vencessem cada um dos 20 jogos fora dos torneios que são obrigados por contrato a
disputar, as jogadoras ganhariam no máximo US$ 99.000 (US$ 4.950 por jogo),
enquanto a equipe masculina receberia US$ 263.320 (US$ 13.166 por jogo). Para
dar maior sustentação ao processo, há demonstrativos que, de 2013 a 2016, as
jogadoras ganharam US$ 15.000 pela seleção nacional, enquanto os homens
somaram US$ 55.000 em 2014 e US$ 68.750 em 2018 (HESS, 2019). Ademais, de
acordo com os relatórios financeiros auditados da USSF obtidos pelo The Wall
Street Journal (2016), os jogos da seleção feminina dos EUA geraram mais receita
do que os jogos da seleção masculina nos últimos três anos (US$ 1,9 milhão a
mais). De 2016 a 2018, os jogos femininos renderam aproximadamente US$ 50,8
milhões em receita, em comparação com US$ 49,9 milhões nos jogos masculinos
(HESS, 2019).
Outras seleções nacionais, entretanto, mal conseguem o investimento
necessário para manter seus times e só agora estão chegando ao palco de disputas
internacionais. Esta questão é exemplificada em uma matéria do Deutsche Welle,
publicada em junho de 2019, falando sobre a maneira com que os países apoiam as
seleções femininas de futebol. O jornal traz o caso específico da Jamaica, que se
classificou pela primeira vez à Copa do Mundo que seria disputada em 2019, e todas
as suas jogadoras estão empregadas fora do país. Ainda que tenham caído fora na
fase de grupos, só o fato de elas terem se classificado, devido às condições
enfrentadas pelas jogadoras, já é impressionante.

[...] O desinteresse no futebol feminino e as atitudes em relação às


jogadoras dificultaram o crescimento de seguidores em qualquer nível, e a
Federação de Futebol da Jamaica dissolveu o time várias vezes. Nos
últimos cinco anos, porém, as mulheres da Jamaica ganharam o apoio de
Cedella Marley, filha de Bob Marley, que levantou milhares de dólares em
financiamento para a equipe, além de aumentar a atenção e o apoio do
público. Ainda assim, o dinheiro não sai da cabeça das jogadoras:
‗Financeiramente, não faz sentido‘, disse a atacante da Jamaica Ashleigh
Shim ao The New York Times. Algumas jogadoras jamaicanas relataram
ganhos no futebol de apenas algumas centenas de dólares; outra não
ganhou nada (DEUTSCHE WELLE, 2019, não paginado, tradução livre).

A disparidade de desenvolvimento e apoio entre os países também pode ser


ilustrada com o jogo de estreia dos Estados Unidos na Copa do Mundo de 2019,
quando venceram a Tailândia pelo placar de 13 a 0. Embora todo esporte possua
potências, espera-se de uma competição internacional que haja certo equilíbrio entre
os competidores, e esse resultado deixa claro que ainda há muito a ser feito para se
alcançar esse estágio. Nas palavras de Nuengruethai Srathongvian, técnico da
Tailândia: ―[...] temos um número limitado de jogadoras disponíveis e somos
pequenos em termos de infraestrutura. Temos que melhorar esse aspecto"
(GLEESON, 2019, não paginado, tradução livre).
Apesar das diferenças, todas as mulheres que resolvem jogar futebol lutam
por uma causa comum, qual seja, o mesmo respeito dado aos seus colegas
homens. A diferença de tratamento entre mulheres e homens no futebol é
gigantesca, a começar pelo fato de que elas realizaram sua primeira Copa do Mundo
em 1991, enquanto eles a disputam desde 1930. O valor dos prêmios conquistados
em competições patrocinadas pela FIFA, por exemplo, é diferente, e existe um
abismo salarial entre o que as jogadoras e os jogadores ganham, conforme ilustrado
pela situação da seleção estadunidense2. É claro que o gênero não é o único motivo
por trás dessas distinções, afinal, o futebol feminino, em âmbito mundial, gera menos
receita do que o masculino, mas ele está na raiz do problema: para acumular mais
receita é preciso investimento, e para receber investimento, é necessário que haja
interesse por parte do público e das instituições.
Por muito tempo os desejos das mulheres foram socialmente reprimidos, pois
esperava-se que elas se comportassem de uma maneira específica. Esta questão
perpassa as mais diversas áreas da vida (como elas agem, o que elas querem para
o futuro, de que forma expressam sua sexualidade, etc.) incluindo o desejo de jogar
futebol, tido como atividade ―masculina‖:

Tanto de maneira sutil como explícita, as mulheres enfrentam muitas


barreiras à participação no esporte, o que impede que mulheres e meninas
colham os muitos benefícios que podem ser obtidos com a prática de
esportes e o exercício de atividades físicas. Em todo o mundo, as mulheres
encontram discriminação e estereótipos. As atletas recebem níveis mais
baixos de cobertura da mídia, sempre sujeitas à linguagem sexista e
depreciativa, não só na mídia mas também por parte das pessoas de suas
comunidades. O mundo esportivo simboliza muitos dos estereótipos de
gênero que persistem hoje em todo o mundo e provou ser altamente
resistente a reformas significativas de gênero. (HUGGINS; RANDELL, 2007,
p. 1, tradução livre).

2
A FIFA, por exemplo, em 2019 dobrou o prêmio em dinheiro para a Copa do Mundo Feminina de
US$ 15 milhões para US$ 30 milhões, embora isso ainda seja uma quantia minúscula comparada aos
US$ 400 milhões pagos às equipes que competiram na Copa do Mundo masculina de 2018 na
Rússia, onde somente a campeã França pegou US$ 38 milhões em bônus (HOLLYWOOD
REPORTER, 2019).
No Brasil, por exemplo, promulgou-se o Decreto-Lei número 3.199, em 1941,
que estabelecia as bases da Organização dos Desportos em todo o país; um de
seus artigos firmava o seguinte: "[...] às mulheres não se permitirá a prática dos
esportes incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo para este efeito,
o Conselho Nacional dos Desportos baixar as necessárias instruções às entidades
desportivas do país [...]" (MOURÃO; MOREL, 2005, p. 5). Até 1975 esse Decreto-Lei
proibia que as mulheres participassem de algumas práticas esportivas, tais como
lutas, boxe, futebol, rugby, polo e water-polo, porque eram considerados esportes
violentos e não adaptáveis ao sexo feminino. Seguindo essa lógica, as mulheres que
desafiassem tais proibições, estariam afrontando também os papéis de gênero e as
estruturas patriarcais. Nas palavras de Huggins e Randell (2007, p. 10-11, tradução
livre),

Cada vez que uma garota tem a coragem de participar de um jogo de


futebol masculino, ou melhor ainda, inicia um time de futebol feminino, ela
demonstra aos meninos de sua comunidade que é forte e pode competir de
igual para igual, desafiando as normas de gênero que veem as mulheres
como frágeis ou inferiores. Nas sociedades em que os papéis das mulheres
são predominantemente confinados à esfera doméstica e onde não se
espera ou lhes seja permitido participar da vida pública, a participação no
esporte pode desafiar essas barreiras e permitir que as mulheres assumam
novos papéis em suas comunidades. Assim, o esporte proporciona um
ambiente no qual as normas de gênero e as concepções aceitas de
masculinidade e feminilidade podem ser renegociadas.

Hoje a visão que se tem das mulheres no esporte é um pouco diferente,


porém, as dificuldades persistem. De acordo com dados de 2014 da FIFA, as
mulheres somam 15% do total de jogadores registrados no mundo; 7% entre os
técnicos; 8% dos representantes capazes de tomar decisões em alto nível; e 10%
entre os árbitros. Dentre os países analisados, somente 60% oferecem "escolinhas"
para meninas (06 aos 12 anos de idade), 66% possuem ligas profissionais femininas
e 60% participam das competições femininas patrocinadas pela FIFA.
É inegável que a questão da igualdade de gênero tem progredido no mundo,
inclusive tornando-se um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU)3 e, por esse motivo,
diversas instituições, organizações, associações e indivíduos ligados às práticas
esportivas começaram a atuar em prol do desenvolvimento do futebol feminino

3
Aqui pontua-se especificamente o Objetivo 5: ―Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas
as mulheres e meninas‖ (ONU, 2019, não paginado, tradução livre).
internacionalmente. Citam-se como exemplos a própria FIFA, que em 2008 lançou o
piloto de sua estratégia chamada Women’s Football Development, cujo orçamento
chegou entre 2015 e 2018 a 22 milhões de dólares; e a UEFA (Union of European
Football Associations), que em 2010 lançou o UEFA Women’s Football Development
Programme, prevendo a expansão do esporte pela Europa em todos os níveis. O
Comitê Olímpico Internacional (COI) promove conferências mundiais sobre as
mulheres no esporte, assim como premiações, seminários, workshops e parcerias, e
também existem associações específicas, como a Women’s FA (WFA)4, a Women's
Football Committee (WFC)5 e a Women in Sport6.
Em apoio à causa, campanhas foram lançadas e endossadas por grandes
times ao redor do mundo. Os principais exemplos são o Barcelona, com a campanha
#WeAreFootballers (FCB, 2019), e a Associação Alemã de Futebol (DFB) que, em
parceria com o banco Commerzbank, lançou um anúncio que não apenas promovia
a seleção alemã, mas também reconhecia o papel do establishment do futebol em
diminuir as conquistas futebolísticas femininas (FAST COMPANY, 2019). Por fim, há
atletas individualmente engajadas na luta, como a estrela norueguesa Ada
Hegerberg, que se recusou a jogar a Copa do Mundo da França em protesto contra
a desigualdade salarial; Marta, craque brasileira nomeada pela ONU Mulheres como
Embaixadora da Boa Vontade para mulheres e meninas no esporte, cuja principal
função de agora em diante será lutar pela igualdade de gênero ao redor do mundo; e

4
―A Women’s FA (WFA) foi formada em 1969 e, dentro de três anos, a primeira final da Copa
Feminina foi disputada, assim como os primeiros jogos da seleção feminina da Inglaterra. A FA
convidou a WFA a se filiar na mesma base que uma Associação de Condado em 1983 e, dez anos
depois, estabeleceu um Comitê de Futebol Feminino para disputar jogos na Inglaterra. A FA delineou
em 1997 planos para desenvolver o jogo das mulheres, da base à elite. No ano seguinte, nomeou
Hope Powell como treinadora nacional feminina. O futebol se tornou o esporte de maior participação
para mulheres e meninas na Inglaterra no ano de 2002 e o perfil do jogo feminino foi impulsionado
pela realização de grandes torneios em 2005 e 2012, a chegada da Inglaterra a uma final europeia e
duas quartas de final da Copa do Mundo, além do lançamento da Super Liga Feminina da FA‖ (THE
FOOTBALL ASSOCIATION, 2019, não paginado, tradução livre).
5
―Criado em 2013, o objetivo geral do Comitê de Futebol Feminino (WFC) é atuar como uma
plataforma em que são discutidas questões relacionadas ao futebol feminino, seja em nível europeu
ou mundial. Os membros da WFC são familiarizados com o tópico geral do Comitê e usam esse
conhecimento para desenvolver ideias, fazer propostas e compartilhar conhecimentos para promover
o futebol feminino. Após a implementação do Programa de Proteção de Clubes, garantindo cobertura
para clubes de jogadoras em serviço internacional, outros tópicos de discussões futuras incluíram o
Calendário Internacional de Partidas e a promoção da Liga dos Campeões Feminina da UEFA‖ (THE
EUROPEAN CLUB ASSOCIATION, 2019, não paginado, tradução livre).
6
―A instituição Women in Sport foi fundada em 1984, com o objetivo de dar a todas as mulheres e
meninas no Reino Unido a oportunidade de experimentar as recompensas transformacionais do
esporte. Somos a única organização no Reino Unido que pesquisa esporte exclusivamente da
perspectiva de mulheres e meninas. Usamos o insight adquirido para impulsionar a mudança por
meio de campanhas e parcerias‖. (WOMEN IN SPORT, 2019, não paginado, tradução livre).
as americanas Hope Solo, Carli Lloyd, Megan Rapinoe, Alex Morgan e Becky
Sauerbrunn, que buscam perante sua federação igualdade salarial e maior
reconhecimento de seus feitos, afinal, conforme os dados apresentados
anteriormente, o time feminino dos Estados Unidos gera mais receita do que o
masculino, além de possuir vários títulos mundiais e medalhas olímpicas, algo que
seus colegas homens não têm.
Estes exemplos ressaltam a necessidade de ouvir o que as mulheres têm a
dizer e de atender às suas demandas. É perceptível que algumas instituições notam
esta movimentação, algo positivo após muitos anos de luta. É por essa razão que a
Copa do Mundo de 2019 será lembrada, entre outros motivos, pelos manifestos das
jogadoras por uma maior valorização do esporte e pela equidade de gênero. No
caso do Brasil, o principal destaque foi Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora do
mundo, que após a eliminação para as donas da casa em um jogo equilibradíssimo
nas oitavas-de-final da competição, cuja audiência teve o maior índice da história (35
milhões de pessoas assistiram à partida), fez um discurso emocionada que
repercutiu tanto na mídia nacional quanto internacional. ―Sem dúvida‖, disse Marta:

[...] essa Copa do Mundo é um momento especial que temos que aproveitar.
É preciso mais valorização. Nós também temos que valorizar o que
fazemos. Eu queria estar sorrindo ou chorando de alegria. Temos que
chorar no começo pra sorrir no fim. É querer mais, treinar mais, se cuidar
mais e estar pronta pra jogar 90 minutos e mais quantos forem. Não vamos
ter Formiga, Marta e Cristiane para sempre. O futebol feminino depende de
vocês para sobreviver. Valorizem isso! Chorem no começo para sorrir no
fim. (TERRA, 2019, não paginado)

Antes disso, no dia 13 de junho, a estrela da seleção brasileira foi a campo


com uma chuteira toda preta, adornada com um símbolo formado por dois traços
que iam do rosa ao azul em degradê, em referência à campanha Go Equal7 pela
igualdade de gênero. ―São oportunidades que a gente precisa agarrar com unhas e
dentes‖, ressaltou Marta, ao ser questionada sobre o engajamento nesta Copa do
Mundo. ―Eu sempre defendi muito a igualdade em todas as minhas falas, desde o
momento em que eu decidi praticar esse esporte" (CORREIO BRAZILIENSE, 2019,
não paginado).

7
―Go Equal‖ (―Vamos Ser Iguais‖, em tradução livre) é o nome de uma campanha promovida pela
ONU Mulheres em favor da igualdade salarial entre homens e mulheres (REVISTA FÓRUM, 2019,
não paginado).
2.3 Formulação do Problema

A luta das mulheres pela equidade de gênero no futebol e nos esportes de


uma maneira geral já existe há décadas, como é possível verificar por meio das
datas de criação de associações específicas a exemplo da Women's FA (1969) e da
Women in Sport (1984). Recentemente, no entanto, essa luta vem se expandindo:
hoje ela conta com a aderência de grandes instituições como a FIFA e a UEFA, além
de ter criado um debate internacional, que inclui não só atletas pessoalmente
engajadas com o tema, mas também clubes, seleções e até mesmo aqueles que
não entram em campo porém estão envolvidos com o esporte de alguma forma
(jornalistas, torcedores, patrocinadores etc).
Juntas, todas as categorias citadas acima constituem um movimento que não
se limita a um único Estado-Nação e que se manifestou com força durante a Copa
do Mundo de 2019 (ver item 2.2). Neste contexto, seria possível afirmar que há uma
luta contra a disparidade de gênero no futebol, caracterizada como um movimento
transnacional, que conta com um papel fundamental de organizações
internacionais?
3 JUSTIFICATIVA

Embora a igualdade de gênero seja um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), pouco se
estuda sobre gênero nos cursos de Relações Internacionais no Brasil. Isso não
significa desinteresse pelo tema, mas sim que as discussões costumam girar
excessivamente em torno de abordagens tradicionais, atribuindo à questão de
gênero um papel secundário, o que fica claro quando nota-se que a maioria
esmagadora dos autores clássicos estudados pelos alunos de Relações
Internacionais é formada por homens. Durante entrevista ao E-International
Relations (2016, não paginado, tradução livre), J. Ann Tickner é perguntada sobre o
discurso no campo das Relações Internacionais ser predominantemente masculino,
ao que ela responde com as seguintes palavras:

O que consideramos o ‗cânone‘ nas RIs tem sido amplamente povoado por
homens brancos ocidentais, embora isso esteja mudando um pouco com
mais mulheres entrando no campo. Como mencionei anteriormente, agora
existem histórias revisionistas que estão chamando a atenção para autores
não-brancos, mas a maioria delas também é do sexo masculino. E como a
filósofa da ciência Sandra Harding nos lembra (e Keller também), os
homens fazem perguntas sobre questões que são importantes para eles e
respondem de certas maneiras preferidas. E, é claro, o assunto privilegiado
em RI – segurança nacional e guerra – é muito masculino. Os estudos de
segurança são um campo em que ainda há poucas mulheres e um em que
as mulheres se sentem particularmente marginalizadas. Termos como
política ‗alta‘ e ‗baixa‘ e ‗realismo‘ versus ‗idealismo‘ são altamente
marcados pelo gênero. Olhar para o discurso através de lentes de gênero
nos ajuda a ver o mundo de maneira diferente.

Em seu livro Gender in International Relations: Feminist Perspectives on


Achieving Global Security (1992), Tickner fala um pouco sobre a sua experiência
como uma das primeiras mulheres a ganhar destaque no ramo acadêmico das
Relações Internacionais e questiona a ―masculinização‖ da área:

Como a elaboração de políticas externas e militares tem sido


amplamente conduzida por homens, a disciplina que analisa essas
atividades está fadada a ser principalmente sobre homens e
masculinidade. Raramente percebemos que pensamos nesses
termos; na maioria dos campos do conhecimento, nos acostumamos
a equiparar o que é humano ao que é masculino. Em nenhum lugar
isso é mais verdadeiro do que nas relações internacionais, uma
disciplina que, embora a maior parte tenha resistido à introdução do
gênero em seu discurso, baseia suas suposições e explicações
quase que inteiramente nas atividades e experiências dos homens
(TICKNER, 1992, p. 6, tradução livre).

A falta de investimento neste campo do conhecimento seria justificativa


suficiente para este trabalho, que ainda possui um agravante no país: de acordo com
o último relatório do Fórum Econômico Mundial sobre a desigualdade de gênero no
mundo lançado em 2018, que analisou a situação de 149 países, o Brasil ocupa a
posição 95.
O futebol também não recebe a devida atenção das Relações Internacionais.
Os trabalhos existentes sobre o tema costumam se prender a duas abordagens: o
esporte como uma ferramenta de fazer política ou o papel desempenhado por
instituições como a FIFA. Citamos os exemplos materializados nas obras FIFA e o
soft power do futebol nas relações internacionais (2017), de Juliano Oliveira Pizarro,
Futebol: o esporte como ferramenta política, seu papel diplomático e o prestígio
internacional (2011), de Igor Chagas Amazarray e Esporte, Poder e Relações
Internacionais (2008), de Douglas Wanderley de Vasconcellos. Considerando que o
futebol é um fenômeno mundial, certamente há mais para ser explorado no tema.
Posto isso, unir dois campos (gênero e futebol) que ainda têm muito a
oferecer, para melhor compreender aspectos pouco explorados das Relações
Internacionais, constituiria um estudo de relevância para o aprofundamento desta
área, pois colocaria o gênero no centro da discussão e mostraria que o esporte
(futebol) também pode servir como uma forma de resistência ao patriarcado, que
oprime as mulheres e ainda opera no espectro da sociedade atual, em continuidade
ao processo de inferiorização das mulheres em relação às práticas esportivas vistas
como masculinas.
4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Investigar se a luta contra a disparidade de gênero no futebol, sobretudo no


contexto da Copa de 2019, destacando o papel das organizações internacionais,
caracteriza-se como um movimento transnacional.

4.2 Objetivos Específicos

a) Investigar de que forma o futebol feminino se desenvolveu historicamente,


mas sobretudo durante os últimos 28 anos com a realização da primeira Copa do
Mundo Feminina em 1991;
b) Contextualizar a luta das jogadoras por equidade, mostrando as suas
ações individuais e a luta junto às organizações internacionais;
c) Explicitar o movimento transnacional pela equidade de gênero no futebol e
suas contribuições para a sociedade.
5 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA DO TEMA

Tradicionalmente, os debates mais populares das Relações Internacionais


costumam circunscrever-se a convenções e tratados, guerra e paz e a prática de
representações e negociações diplomáticas, que partem do pressuposto de que os
Estados são os atores principais. Porém, nas últimas décadas, o conceito de ator e o
leque temático das Relações Internacionais se expandiram significativamente.
Em sua definição clássica, os atores internacionais são os entes que
"exercem, influenciam ou amoldam, direta ou indiretamente, o cenário internacional
por meio da interação de inputs e outputs" (CASTRO, 2012, p. 428). Em outras
palavras, trata-se de uma relação de causa-efeito que gera comportamentos de
aprendizagem por parte dos Estados, que buscam (além de sua sobrevivência)
maximizar seus ganhos e reduzir suas perdas, otimizando suas políticas, posições e
interesses frente aos conflitos constantes das Relações Internacionais (CASTRO,
2012). Neste sentido, não há dúvidas de que os Estados continuam a ser um dos
principais atores da política internacional, mas devido às mudanças de cenário e das
formas de se fazer política, existe hoje uma aposta crescente nos atores não-
estatais.
Fernandes (2007) propõe uma reflexão sobre esse tema, mostrando de que
maneira as abordagens teóricas das Relações Internacionais, à semelhança de
outras disciplinas das ciências sociais e humanas, se transformaram no decorrer das
décadas. Segundo o autor, em um passado não muito distante, o mainstream das
RIs era constituído "pelas abordagens realistas/neo-realistas, com algum peso das
abordagens liberais/neoliberais – sobretudo na teorização norte-americana da
disciplina" (FERNANDES, 2007, p. 75), porém esta relativa homogeneidade deu
lugar, desde o final dos anos 80 do século passado, a "um conjunto de novas
abordagens, tais como as construtivistas, as feministas, as pós-estruturalistas/pós-
modernistas, os estudos críticos, etc" (FERNANDES, 2007, p. 75). Na opinião do
autor, esta virada pós-moderna foi resultado dos debates pós-positivistas realizados
entre os estudiosos da disciplina.
O pós-positivismo, conforme Barros (2017), constitui uma plataforma
intelectual não-unitária e, como consequência disso, abriga pensamentos
diversificados, mas que possuem uma base comum: uma postura crítica diante dos
fundamentos do pensamento positivista. De forma geral, é possível dizer que
"enquanto as teorias positivistas percebem seu empreendimento como uma busca
pela explicação do mundo, as pós-positivistas baseiam-se na ideia de compreensão
dele" (HOLLIS, SMITH, 1992 apud BARROS, 2017, p. 8). Trata-se, portanto, de um
pluralismo metodológico.
Seguindo essa lógica, Fernandes (2007) traz uma discussão interessante
sobre ideologias e teorias das Relações Internacionais. Para o autor, a ideologia
nacionalista tradicionalmente se articula com a visão realista/neo-realista das RIs,
enquanto a ideologia multiculturalista tende a estar ligada às abordagens pós-
positivistas, que "rejeitam o realismo e pretendem promover a construção de
entidades pós-nacionais (e pós-estaduais/pós-soberanas)" (FERNANDES, 2007, p.
76), motivo pelo qual as teorias contemporâneas das Relações Internacionais
costumam enfatizar o papel do indivíduo. Esta comparação proposta pelo autor é
relevante para o presente trabalho, pois relaciona-se à ideia de que o movimento
pela equidade de gênero no futebol ultrapassa as fronteiras nacionais.
De acordo com Castro (2012, p. 438): ―Os atores não estatais não possuem
vinculação direta, sob o ponto de vista orgânico ou institucional, com a summa
potestas8 estatal. Cada um dos setores não estatocêntricos vai possuir propósitos
específicos diferenciados dos atores estatais.‖ Entretanto, isso não significa dizer
que não exista um compromisso com um arcabouço jurídico ou institucional, como o
próprio autor escreve, mas sim que:

[...] Os atores não estatais possuem objetivos diferentes do publicismo


constitucionalizado estatal; tais atores não estatais estão atrelados a várias
regras jurídicas, porém, possuem objetivos e fundamentos ético-morais e
propósitos normativos bastante diferenciados. Diferentemente do Estado
(ator estatal de primeira categoria), os atores não estatais podem entrar em
processo de falência no sentido jurídico-financeiro, como exemplo
ilustrativo. (CASTRO, 2012, p. 438)

Conforme Vasconcellos (2008) assinala, esses atores são mobilizados por


questões diversas como o meio ambiente e a sustentabilidade, a propriedade
intelectual e o esporte. Novos temas como estes costumam fazer parte daquilo que
classificamos como terceiro setor: a área das Relações Internacionais constituída
por redes, pela esfera pública não-estatal e pelas ONGs globais, cuja importância é
ressaltada por Castro (2012, p. 440), quando ele diz que a sociedade civil
organizada
8
Termo em latim que significa ―poder supremo‖ ou ―poder soberano‖.
[...] tem realizado importantes missões e marcados posicionamentos na
política internacional, especialmente após o reconhecimento de sua força de
mobilização popular após a fracassada Reunião da OMC em Seattle em
1999. Os movimentos sociais exerceram, dessa forma, importante papel na
redefinição da agenda internacional cujas preocupações poderiam se voltar
mais para a atenção às minorias e aos reclames da ética e do humanismo
engajado.

Em relação às práticas esportivas em si, tem-se o conhecimento de que ao


longo da história elas já serviram ―[...] de móvel, mote e meio de propagandas
nacionalistas, de teatro de peças políticas, de palanque de discursos populistas e de
plataforma de pretendido domínio ideológico" (VASCONCELLOS, 2008, p. 9).
Contudo, sua contribuição também pode ser positiva, atuando como um "instrumento
e cenário de sã divulgação institucional dos países, de percuciente formação de
imagem externa, de pacificação e congraçamento mundial" (VASCONCELLOS,
2008, p. 9). O futebol é sabidamente um dos esportes mais populares do mundo,
podendo inserir-se nessas definições. Por conseguinte, é um fenômeno importante a
ser estudado no campo das Relações Internacionais. Para além de sua possível
utilização como ferramenta da política internacional, os esportes constituem uma
poderosa instituição cultural que está fortemente ligada à identidade e à ideologia.
(MEÂN, 2001). Dentre eles, há modalidades como o futebol, por exemplo, que por
muito tempo reforçaram a ideia da superioridade masculina e ativamente resistiram à
inclusão das mulheres. Por se tratar de um espaço hegemonicamente masculino
com ênfase em poder, força física, agressividade e velocidade, construiu-se o
discurso de que o futebol não era um esporte para as mulheres. Aquelas que ainda
assim quisessem praticá-lo encontrariam barreiras nas próprias instituições
esportivas que o regulam, com o estabelecimento de exclusões legais e recusa a
sancionar competições femininas. (MEÂN, 2001). Nas palavras de Franzini (2005, p.
2):

É notório que o universo do futebol caracteriza-se por ser, desde sua


origem, um espaço eminentemente masculino; como esse espaço não é
apenas esportivo, mas também sociocultural, os valores nele embutidos e
dele derivados estabelecem limites que, embora nem sempre tão claros,
devem ser observados para a perfeita manutenção da ‗ordem‘, ou da
‗lógica‘, que se atribui ao jogo e que nele se espera ver confirmada.
Ao entrar em campo as mulheres estariam, portanto, subvertendo a ordem.
Mudanças que ameacem a preservação do status quo sempre serão alvo de
represálias na sociedade e é claro que com o futebol não seria diferente.
Para desenvolver as ideias apresentadas neste projeto e descobrir se de fato
há um movimento transnacional pela equidade de gênero no futebol será necessário
o domínio de dois conceitos principais: gênero e transnacionalismo.

5.1 GÊNERO

Joan Scott (1989, p. 21) define o gênero como "[...] um elemento constitutivo
de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos" e, portanto,
uma forma primária de significar as relações de poder. Por ser um campo de estudo
e uma ferramenta analítica cuja consolidação é recente, não há unanimidade entre
suas vertentes, motivo pelo qual a autora aponta para a necessidade de uma visão
mais ampla que não fixe o seu olhar apenas sobre o universo doméstico e a família,
como alguns antropólogos costumam fazer, por exemplo, mas que inclua o mercado
de trabalho, a educação e o sistema político, pois o gênero ―[...] é construído
igualmente na economia, na organização política e, pelo menos na nossa sociedade,
opera atualmente de forma amplamente independente do parentesco" (SCOTT,
1989, p. 22). Entende-se por ―gênero‖, então, o elemento legitimante e construtor de
relações sociais, utilizado para explicar o fenômeno a ser investigado por esta
pesquisa.
É importante ressaltar, no entanto, que existe uma distinção entre gênero
(algo socialmente construído) e sexo (biológico). Conforme Charlotte Hooper explica
em seu livro Manly states: masculinities, international relations, and gender politics
(2001), essa diferenciação foi popularizada por Ann Oakley na década de 70 e
rapidamente se tornou uma norma aceita por grande parte da teoria feminista e da
literatura de estudos de gênero, pois ela permitiu evidenciar que:

[...] diferenças de gênero que dizem respeito à formação de identidades de


gênero e qualidades da masculinidade e da feminilidade fossem tratadas
como aspectos de um desenvolvimento social e psicológico, separadas das
questões referentes às diferenças de sexo biológico. (HOOPER, 2001, p.
24, tradução livre)
Hooper classifica essa divisão como "sociossexual", assinalando que foi ela a
responsável por permitir que a análise de identidade de gênero fosse movida
diretamente "para o domínio dos processos sociais e institucionais" (HOOPER,
2001, p. 24, tradução livre). Desta forma, boa parte da energia feminista sempre se
concentrou na dimensão institucional da análise sobre as desigualdades de gênero,
que vão desde as lutas das ―feministas liberais fazendo campanhas pela igualdade
de gênero na esfera pública, passando pela análise feminista-socialista das relações
de produção, e a reprodução e suas contribuições para a subordinação econômica
das mulheres, chegando às teorias feministas radicais que têm o patriarcado como o
ponto central de organização social‖ (HOOPER, 2001, p. 24, tradução livre).
Os pontos levantados por Scott e Hooper vão ao encontro direto da discussão
levantada por Laura J. Shepherd (2010) sobre o que entendemos por teoria, na qual
a autora demonstra que este conceito pode ser adaptado para melhor trabalharmos
a questão de gênero. Via de regra, encaramos as teorias como ferramentas cuja
função é explicar e prever fenômenos. Contudo, Shepherd pontua que as teorias não
precisam necessariamente ser vistas dessa forma (SHEPHERD, 2010, p. 4,
tradução livre): "[...] Em vez de manter um compromisso com a teoria como algo que
pode ser aplicado ao mundo como ele existe independentemente de nossa
interpretação, podemos ver a teoria como prática e ―'teorizar [como] um modo de
vida, uma forma de vida, algo que todos fazemos todos os dias, o tempo todo'"
(ZALEWSKI apud SHEPHERD, 2010, p. 4). Neste sentido, por conseguinte,
"teorizar" significa que a maneira como pensamos sobre o mundo é constitutiva
deste mundo. Em outras palavras, a nossa percepção da política internacional (quais
problemas precisam ser resolvidos, quem será o responsável por tomar as decisões,
etc.) condiciona as nossas respostas a ela, que, por sua vez, afetam e impactam a
nossa realidade política e social. A autora continua:

Nesta visão, a teoria é um verbo e não uma ferramenta a ser aplicada, e é


algo que informa nossa vida cotidiana. Se pensarmos em gênero como algo
que estamos 'teorizando' diariamente, talvez possamos começar a entender
por que o gênero é importante. As ideias sobre comportamentos de gênero
apropriados e inadequados são amplas, influentes e, às vezes,
inconscientes, mas, por que afetam e impactam o modo como nos
comportamos no mundo, são de interesse do estudioso de política
internacional. (SHEPHERD, 2010, p. 4, tradução livre)
O gênero não é apenas algo com o qual as pessoas se identificam ou uma
forma de encarar o mundo, mas também uma lógica que é produto e produz as
maneiras pelas quais compreendemos e fazemos política internacional. Shepherd
(2010) sustenta seu argumento com a demonstração de que o modo com que
agimos é determinado pelos nossos corpos. Em nosso subconsciente, homens e
mulheres fazem separações sobre como devem se comportar com base em seu
gênero. Assim, a autora destaca que "[...] essas suposições sobre corpos estão
intrínseca e inerentemente relacionadas ao estudo e práticas da política
internacional, porque a política internacional é estudada e praticada por corpos que
possuem gênero‖ (SHEPHERD, 2010, p. 6, tradução livre).
Seguindo a lógica trabalhada pelas autoras presentes nesta seção, faremos
uso da categoria gênero para compreender e explicar as disparidades existentes
entre os homens e as mulheres que praticam futebol.

5.2 SOCIEDADE CIVIL GLOBAL E TRANSNACIONALISMO

Trabalhar com a ideia de um movimento transnacional pela equidade de


gênero no futebol exige o entendimento de um outro conceito formulado pela
primeira vez na década de 1990, com a intensificação da globalização e das
relações transnacionais: sociedade civil global. Compreendê-lo é fundamental,
pois é "a existência ou o processo de desenvolvimento de uma sociedade civil que
se estenda por todo o globo" (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 215) que possibilita a
realização de um movimento como este que o trabalho se propõe a investigar.
O termo "sociedade civil" é definido por Herz e Hoffmann (2004, p. 216) como
"a esfera das relações entre indivíduos, entre grupos, entre classes sociais, que se
desenvolveram à margem das relações de poder que caracterizam as instituições
estatais". Ele representa, portanto, "o terreno dos conflitos econômicos, ideológicos,
sociais e religiosos que o Estado deve resolver, intervindo como mediador ou
suprimindo-os" (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 216). Expandindo para o cenário
global, este conceito transforma-se em um "espaço de atuação e pensamento
ocupado por iniciativas de indivíduos ou grupos, de caráter voluntário e sem fins
lucrativos, que perpassam as fronteiras dos Estados" (HERZ; HOFFMANN, 2004, p.
218).
Existem diversos tipos de ações coletivas e organização na sociedade civil
global, com variações que dependem do grau de institucionalização e autonomia de
cada participante. Herz e Hoffmann (2004, p. 220) elencam como principais: os
movimentos sociais transnacionais, as coalizões ou redes transnacionais, as redes
de advocacia, as redes de políticas globais, as comunidades epistêmicas e as
organizações não-governamentais. A questão da equidade de gênero no futebol
encontra representantes em todas essas modalidades. Para resumi-las e delimitar a
discussão, utilizaremos a ideia de "rooted cosmopolitans"9 de Sidney Tarrow. O
autor a define da seguinte forma:

[rooted cospomolitans são] indivíduos e grupos que mobilizam recursos e


oportunidades nacionais e internacionais para promover reivindicações em
nome de atores externos, contra oponentes externos ou a favor de objetivos
que eles têm em comum com aliados transnacionais. (TARROW, 2005, p.
29, tradução livre)

Além de ativistas transnacionais e seus defensores, essa noção também inclui


executivos de negócios, advogados e funcionários internacionais (e os nacionais que
estejam em contato regular com eles). Os ativistas transnacionais são apenas um
subgrupo dos rooted cosmopolitans, porém é exatamente esta a definição que nos
interessa: ―[ativistas transnacionais] são pessoas e grupos que possuem raízes em
contextos nacionais específicos, mas que se engajam com atividades políticas
contenciosas que os envolvem em redes transnacionais de contatos e conflitos‖
(TARROW, 2005, p. 29, tradução livre).
De acordo com o autor, o caráter incomum da contemporaneidade não é o
fato de ela ter separado os indivíduos de suas sociedades ou criado cidadãos
transnacionais, mas sim de ter produzido um estrato de pessoas que, em suas vidas
e atividades cotidianas, são capazes de combinar os recursos e as oportunidades de
suas próprias sociedades em redes transnacionais através do que conhecemos por
"ativismo além das fronteiras" (KECK apud TARROW, 2005, p. 43). É por esta lente
que o presente trabalho pretende analisar e caracterizar a luta das mulheres pela
equidade de gênero no futebol, demonstrando por meio da ideia de
transnacionalismo que sua luta não se limita às fronteiras de seus respectivos
países.

9
Do inglês: ―rooted‖ significa ―enraizado‖; ―cosmopolitans‖ significa cosmopolitas.
6 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

Metodologicamente, o trabalho utiliza técnicas de pesquisa bibliográfica e


documental, incluindo uma ação movida pela seleção feminina dos Estados Unidos
contra a USSF, relatórios e dados estatísticos de organizações internacionais
diretamente ligadas ao esporte como a FIFA, entre outros. Para fundamentar cada
um de seus principais temas, optamos pelos seguintes livros e artigos: a) Futebol:
Esporte, Poder e Relações Internacionais (2008) de Douglas Wanderley de
Vasconcellos; As narrativas sobre o futebol feminino: o discurso da mídia impressa
em campo (2005) de Ludmila Mourão e Márcia Morel; Futebol é "coisa para macho"?
Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol (2005) de Fábio
Franzini; e The Contribution of Sports to Gender Equality and Women's
Empowerment (2007) de Allison Huggins e Shirley Randell; b) Gênero: Manly states:
masculinities, international relations, and gender politics (2001) de Charlotte Hooper;
Gênero: uma categoria útil para análise histórica (1989) de Joan Scott; Gender
Matters in Global Politics: a feminist introduction to international relations (2010)
organizado por Laura J. Shepherd; e Gender in International Relations: feminist
perspectives on achieving global security (1992) de J. Ann Tickner; e c)
Transnacionalismo: Organizações Internacionais: história e prática (2004) de
Mônica Herz e Andrea Hoffmann; e The New Transnational Activism (2005) de
Sidney Tarrow.
Num primeiro momento, para atingir os objetivos propostos pela pesquisa,
realizaremos um levantamento histórico sobre a origem e o desenvolvimento do
futebol feminino, com destaque para o período pós-1991 (ano da realização da
primeira Copa do Mundo Feminina). Uma vez concluída essa etapa, a pesquisa
seguirá para a coleta de dados sobre a luta pela equidade de gênero no futebol,
reunindo todo tipo de publicação sobre o tema: estatísticas, entrevistas, relatórios,
artigos, livros, reportagens etc. O material coletado servirá de base para a
reconstrução das lutas femininas que posteriormente serão analisadas por meio das
lentes teóricas do gênero e do transnacionalismo. Por fim, tendo a relação entre a
história das lutas e a teoria estabelecida, o método indutivo será utilizado para se
chegar à resposta do problema de pesquisa. Este método, conforme Prodanov e
Freitas (2013, p. 28), "parte de um fenômeno para chegar a uma lei geral por meio
da observação e de experimentação, visando a investigar a relação existente entre
dois fenômenos para se generalizar". Neste raciocínio, portanto, a generalização
deriva de observações de casos da realidade concreta, através da qual os
pesquisadores partem da observação de fatos ou fenômenos cujas causas desejam
conhecer e, em seguida, buscam compará-los com a finalidade de descobrir as
relações existentes entre eles, chegando assim à generalização, com base na
relação verificada entre os fatos ou fenômenos (PRODANOV; FREITAS, 2013).

6.1 CRONOGRAMA

MÊS META

Janeiro/Fevereiro Realizar todas leituras necessárias,


levantar o material que será utilizado no
desenvolvimento da monografia, escrever
a introdução e iniciar o Capítulo 1.

Março Concluir o Capítulo 1 e iniciar o Capítulo 2.

Abril Concluir o Capítulo 2 e iniciar o Capítulo 3.

Maio Concluir o Capítulo 3 e escrever as


considerações finais.

Junho Fazer uma revisão geral da monografia e


adequá-la às normas da ABNT.
7 ESTRUTURA PROVISÓRIA DA PROPOSTA DE ARTIGO

INTRODUÇÃO
1. FUTEBOL TAMBÉM É COISA DE MENINA: UMA HISTÓRIA DO FUTEBOL
FEMININO
2. A LUTA PELA EQUIDADE DE GÊNERO NO FUTEBOL
3. O MOVIMENTO TRANSNACIONAL PELA EQUIDADE DE GÊNERO NO
FUTEBOL
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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