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Programa eleições CAELL 2020

Nome da chapa (PEDIR SUGESTÕES)

POR QUE PRECISAMOS DE UM MOVIMENTO ESTUDANTIL NA LETRAS, NA


USP E NO BRASIL?

É de conhecimento de todos os estudantes do curso o grave cenário que atravessa a


educação e a universidade pública no nosso país. Todo dia uma nova notícia coloca em xeque
os planos que almejamos na academia. A impressão é de que nossos sonhos de conseguirmos
uma bolsa de estudo, seja ela de iniciação científica, mestrado, doutorado ou até mesmo de
permanência se tornam cada vez mais distante. O que será da universidade pública em geral e
da letras em particular diante da CPI das Universidades estaduais - que tem como escopo,
através da suposta pretensão de avaliar irregularidades, sucatear as três estaduais,
entregando-as ao financiamento privado? O que será da nossa pesquisa, seja ela na área de
literatura ou linguística, se 84 mil bolsas da CAPES serão suspensas? O que será da qualidade
de nossas aulas se as turmas estão cada vez mais lotadas e os professores não estão sendo
contratados em regime integral de dedicação? Como defender nossos espaços estudantis, a
contratação de professores e ampliação de nossas bolsas, se temos pouquíssima voz nos
órgãos colegiados e conselhos deliberativos da universidade? O momento é difícil, mas há no
que acreditar.
Se por um lado observamos o desmonte completo do caráter público do ensino
superior, por outro temos uma alternativa capaz de avançar em torno de um projeto de
universidade que vá na contramão ao que a extrema-direita nos impõe: o movimento
estudantil, que já se mostrou eficaz em momentos decisivos da História de nosso país.
Sabemos que, diante de um grave cenário de aprofundamento dos ataques aos nossos
direitos conquistados historicamente - com base em uma política de repressão e militarização
da vida social - precisamos fortalecer nossos espaços legítimos de auto-organização e, para
além disso, garantir que nossas entidades estudantis - fortemente ameaçadas no governo de
Jair Bolsonaro - cumpram com o seu papel de defender as demandas da comunidade discente,
apostando principalmente na mobilização unitária. Torna-se necessário, diante desse objetivo,
que sejamos capazes de ​reorganizar o Movimento Estudantil e, a partir de um profundo
debate sobre suas práticas e métodos, fazer com que ele contemple toda a diversidade de
estudantes e volte a ser uma real alternativa de luta política. Achamos que o conjunto dos
estudantes da letras podem assumir um papel fundamental nessa tarefa.
Nos dispomos a objetivos ousados. No entanto, acumulamos algumas derrotas que
colocaram o movimento em um refluxo, dificultando o avanço de nossas lutas. É hora de
darmos um passo atrás, reorganizar nosso movimento através de um ​Congresso de
Estudantes da Letras​​, que não só consulte as demandas das bases, mas organize um
verdadeiro espaço de deliberação sobre os rumos do movimento estudantil, com
representação em todos os anos e habilitações, para dar dois passos a frente e avançar nos
desafios que estão colocados, com muito mais força do que antes. Nos comprometemos
também a nos articularmos com outros CAs e com o próprio DCE para organizarmos o
congresso dos estudantes da USP.
Queremos também incorporar a letras USP nos espaços da EXNEL (Executiva
Nacional dos Estudantes da Letras), como o EREL (Encontro Regional dos Estudantes de
Letras) e ENEL (Encontro nacional dos estudantes de letras), entendendo a importância de
articularmos, a nível estadual e nacional, uma luta conjunta e unitária que encampe as pautas
comuns dos estudantes de letras.
O nosso curso, como discorreremos a seguir, sofre com falta de orçamento, e o
conjunto dos estudantes são fortemente atingidos pelos ataques ao caráter público da
universidade. Dada a postura antidemocrática da nossa reitoria e a nossa sub-representação
nos conselhos deliberativos da universidade, a alternativa que deve ser colocada no nosso
horizonte é a de um movimento estudantil diverso, massificado, unitário, combativo e que
encampe a luta por democracia dentro e fora da universidade.
Defendemos que o ME da Letras tenha capacidade de se ​articular com os
movimentos sociais locais - como bairros sem medo, fórum popular da saúde, coletivo
butantã na luta, cursinhos populares, comitês de bairro, etc - pautando a relação que a
universidade tem com o que acontece fora dela e tirando linhas atuações conjuntas divulgadas
não só nos cursos, mas para os moradores da região. Sabemos que a unidade real com os
movimentos sociais é um imperativo necessário para avançarmos na luta por uma
universidade popular, que produza conhecimento, ciência e tecnologia com e para a
sociedade.
Acreditamos que, para avançarmos nessa luta, devemos estar ao lado daqueles que
mais necessitam de um movimento estudantil fortalecido: ​o estudante trabalhador. Dessa
forma, é necessário que se façam atividades políticas compatíveis com a rotina de quem
trabalha e estuda​, com assembléias menos longas, eventos de debates nos finais de semana,
mobilizações conjuntas fora da universidade e espaços de deliberações importantes em
horários que os jovens trabalhadores da universidade possam participar. A partir do
reconhecimento da necessidade de reorganizar o movimento estudantil da letras e de
pensarmos em caminhos para que consigamos vitórias concretas, que essa chapa se dispõe a
contribuir com propostas que sirvam como sínteses unitárias e comuns entre todos os
movimentos que compreendem a importância de defendermos a universidade pública.

QUEM SOMOS E O QUE QUEREMOS PARA O CAELL?

O Centro Acadêmico de Estudos Literários e Linguísticos Oswald de Andrade


(CAELL) é o maior CA da América Latina em número de alunos representados. É o nosso
instrumento coletivo de luta e mobilização por objetivos – desde nossas necessidades
imediatas, como contratação de professores, até conquistas históricas, como a Universidade
Popular, pública, gratuita, laica e de qualidade que tanto desejamos. Além de ser o nosso
espaço de integração entre estudantes do curso. Nós, da chapa , somos um grupo de
estudantes de diversas habilitações que pensamos que está na hora de modificar não apenas a
lógica das gestões do nosso CA, mas a própria concepção de qual papel nossa entidade deve
cumprir, fortalecendo o debate de como reorganizar o Movimento Estudantil para que ele
cumpra com as exigências que nosso tempo histórico impõe. Nossa chapa é composta por
estudantes da UJC e do MUP (Movimento por uma Universidade Popular), além de
independentes. O momento é de repensarmos nossas práticas e fazermos do Movimento
Estudantil da Letras uma real ferramenta dos e para os estudantes!

A PARTE PELO TODO: A LETRAS EM TEMPOS DE CRISE


Quase metade dos estudantes que ingressam na Letras não conclui o curso. Basta uma
rápida conversa com nossos colegas para entender esse fenômeno preocupante: há aqueles
que deixam o curso por dificuldades e críticas ligadas à grade curricular e às condições
estruturais em que se dão aulas, há os que se veem impedidos de continuar por não conseguir
aliar a luta pela própria subsistência e as demandas do curso, há os que não conseguem
continuar por conta de depressões, crises de ansiedade e outras questões relacionadas à saúde
mental e há os que são vítimas das opressões, perseguições e assédios dentro da universidade.
Nosso curso, desvalorizado por ter um papel de formar também profissionais da educação e
fomentadores de pensamento crítico, é um dos mais sacrificados dentro da USP: apesar de
sermos o maior curso em número de alunos, temos um dos menores orçamentos.
Somado a isso, assistimos aos cortes em assistência estudantil, fechamento de vagas
em creche e desmonte do Hospital Universitário; além de uma série de violências de cunho
machista, racista e LGBTfóbico para as quais a institucionalidade não olha. Sem
financiamento, socialização do cuidado com as crianças, atenção à saúde e combate às
opressões - políticas de permanência fundamentais -, chegamos ao ponto no qual começamos:
quase metade dos estudantes que ingressam na Letras não conclui o curso. Assim,
entendemos que se muito do que nos atinge vai além do próprio curso, precisamos também
que o CAELL seja ferramenta de articulação pelo alcance de nossas pautas. Por isso,
propomos:

● Ciclos de debates sobre a educação pública e popular na nossa sociedade​.


● Divulgação qualificada e articulação dos estudantes para integrarmos as
mobilizações nacionais, como as da Frente Povo Sem Medo.
● Impulsionar cursos, seminários e oficinas que discutam os ataques à educação,
no intuito de ampliar esse conhecimento no entendimento de que a popularização
da universidade não é uma bandeira abstrata, mas um eixo unificador dos
setores populares que estão em luta pela educação.
A ESTRUTURA DO CURSO
Em nosso curso, a falta de infraestrutura não comporta as atividades, gerando salas
lotadas para disciplinas obrigatórias. Tanto na questão espacial quanto institucional. A
aposentadoria de professores, combinada à falta de contratações, gera acúmulo de matérias,
com professores chegando a dar a mesma disciplina para mais de 200 alunos.
Muitas habilitações sofrem com a falta de professores, o que prejudica a oferta de
disciplinas optativas - os docentes têm de se revezar, sem descanso, entre as obrigatórias.
Além disso, quando pensamos em habilitações, é central também a questão do nosso
“segundo vestibular”, o famoso ranqueamento, que distribui as vagas das habilitações a partir
das médias ponderadas dos estudantes, em um sistema que desconsidera as particularidades
dos sujeitos e os hierarquiza sob critérios que favorecem os já favorecidos.
No entanto, a exclusão vai além do ranqueamento: habilitações como o Inglês exigem
que o aluno já domine o idioma, colocando para fora a maioria dos alunos vindos de escolas
públicas, e cursos como o Alemão e o Francês acabam por afastar alunos que não podem
pagar cursos fora da Universidade, porque não oferecem todo o ensino necessário para o
seguimento do curso. Defendemos:
• ​Um curso atento às demandas daqueles que trabalham.
• Estrategicamente, lutar pelo fim do ranqueamento. Taticamente, oferecer aulas
gratuitas de apoio nas disciplinas do ciclo básico.
• Maior oferecimento de turmas para as disciplinas.
• Contratação imediata de professores para no regime de dedicação integral.
• Cursos gratuitos de apoio nas línguas estudadas nas habilitações.
• Congresso da Letras.
• Discussão sobre a grade curricular. Por uma reforma que seja pensada pelos
estudantes e professores do curso e não pelos governos!

SAÚDE MENTAL E COMBATE ÀS OPRESSÕES

No nosso projeto de universidade, entendemos que precisamos encher os bancos das salas de
aula de mulheres, negras e negros, indígenas, LGBTs e trabalhadores. Mais do que isso:
trazer o conhecimento produzido por esses grupos ao longo da história para as grades dos
nossos currículos e fornecer também uma educação de qualidade voltada aos reais interesses
dessas camadas, colocando-os acima dos interesses daqueles que mercantilizam o
conhecimento, para caminharmos rumo à transformação radical da sociedade. Trata-se de
gerar condições para que aqueles que sempre foram oprimidos possam estar aqui dentro e
conseguir concluir os seus estudos. Nesse sentido, propomos:
•Articulação do CAELL com os coletivos de curso, como o Coletivo Feminista Marias
Baderna, o Coletivo Negro Cláudia Silva Ferreira e o Coletivo Diversidades,
fortalecendo e consolidando-os para que possamos lidar com assédios e violências.
• Construir espaços de formação sobre diversidade sexual e de gênero.
• Lutar por políticas para o acesso e permanência da população transexual e travesti.
• Lutar pela criação e incentivo a disciplinas e linhas de pesquisa que tratem das
questões de gênero, de sexualidade e étnico-raciais.
• Inclusão de produção acadêmica deste público na bibliografia das disciplinas, pois
entendemos que mulheres, negros e LGBTs produziram ao longo da história e devem
ter espaço para que sua voz também ecoe dentro da faculdade.
• Obrigatoriedade das disciplinas relacionadas à literatura e cultura africanas.
• Biblioteca virtual do CAELL, com acervo de produções intelectuais de mulheres,
negras e negros.
• Lutar pela garantia de atendimento psicológico aos estudantes da Letras e pela
elaboração de um mapeamento das causas do adoecimento mental no curso.
• Elaboração de um programa de ensino de línguas estrangeiras para a comunidade
externa, colocando a Letras em diálogo com aqueles a quem deve servir o nosso
conhecimento: o povo.
• Luta pela implementação de cotas para deficientes e adequação estrutural do prédio
para promoção de acessibilidade.
INTEGRAÇÃO E CULTURA
Em um curso de massa como o nosso, permeado também pela já discutida evasão,
entendemos que é fundamental que os estudantes possam se integrar, tanto em contextos
políticos quanto culturais, como uma maneira paliativa de lidar com a sensação de solidão e
falta de perspectiva ou não identificação que muitas vezes experimentamos no curso. Nesse
sentido, propomos:
• Manutenção do modelo bem sucedido de assembleia da atuação gestão, no intervalo
das aulas, mas como um espaço exclusivamente deliberativo das questões que já
tivermos discutido com qualidade previamente, em outros fóruns.
• Reuniões abertas do CAELL periodicamente, ao menos uma vez por mês.
• Manter disponíveis micro-ondas, geladeira e cafeteira da salinha.
• Creche organizada pelos estudantes durante as assembleias e demais espaços, como
semana das habilitações, saraus, reuniões, debates etc.
• Boletim físico e virtual do CAELL.
• Organização de cineclubes e cine-debates temáticos, saraus e teatro.
• Revista do CAELL: periódico trimestral para publicação das produções artísticas e
culturais dos estudantes.
• Organização de festas que tanto colaborem com o financiamento da entidade quanto
promovam a integração dos alunos​.
POR UM MOVIMENTO ESTUDANTIL QUE VOLTE A SER VITORIOSO,
OUSAMOS LUTAR POR UMA UNIVERSIDADE POPULAR!

Tão somente pensarmos na reorganização do movimento estudantil e a articulação de


espaços massivos de deliberação, se não acompanhados de um programa universidade que
deixe claro o que defendemos e o que propomos, bem como os caminhos necessários para
alcançá-los, não são suficientes.
Por isso, para além de defendermos aquilo que já conquistamos e lutarmos contra o
que está sendo imposto à nós, queremos também que avançemos na luta por uma
universidade que seja efetivamente popular.
Como já destrinchamos nesse programa, a tendência que observamos aponta para uma
universidade elitizada e precarizada, que abre as portas para o capital privado e se distancia
dos interesses populares. O movimento estudantil se ocupou de organizar grandes lutas em
defesa do caráter público da universidade, que é constantemente ameaçado pelo projeto das
classes dominantes. No entanto, em resposta ao projeto, se faz necessário que o conjunto do
estudantes fortaleçam um movimento estudantil que elabore um projeto contra-hegemônico
de universidade, totalmente vinculado às necessidades do povo, ou seja, uma universidade
verdadeiramente popular. Na contracorrente da educação hegemônica, a universidade popular
se efetiva da seguinte forma:
- Luta pela ampliação das políticas de acesso e permanência, de forma que todos
possam acessar o ensino superior e manter-se dentro dele;
- Produção de ciência, tecnologia e extensão de forma que articule os trabalhadores
com a produção de forma crítica, questionando o caráter tecnicista e mercadológico que
predomina na universidade brasileira.
- Radicalização da autonomia e democracia dentro da universidade de forma que
estudantes, professores e técnico-administrativos estejam em pé de igualdade para
definir os rumos da universidade;
- Articulação com movimentos sociais externos à universidade e que questionam a
sociedade em que vivemos, de forma que se unifiquem as lutas por uma sociedade mais
igualitária, partindo da perspectiva que os problemas que enfrentamos partem do
mesmo princípio.
Todas essas pautas são garantias de sustentação de uma universidade que produza
conhecimento para ajudar no combate ao analfabetismo, à violência urbana, ao racismo, à
lgbtfobia e ao machismo; que pense em projetos de eficiência do transporte público e
coletivo; moradia popular; na garantia de saneamento básico; em remédios e medicamentos
que atendam à população e em uma pesquisa; ciência e tecnologia de fato voltada aos
interesses da classe trabalhadora e soberania de nosso país! Para isso, é necessário um
movimento amplo e massivo, que atraia a juventude trabalhadora da USP em torno desses
eixos programáticos e se debruce no entendimento das especificidades e demandas locais,
sendo capaz de formular um programa alternativo que corresponda a esses anseios. Será
necessária a expansão do debate sobre a importância da produção científica em nosso país,
impulsionando projetos de extensão popular e debates sobre o tema. O Movimento por uma
Universidade Popular, o qual pretendemos impulsionar na USP, se apresenta, a partir da
compreensão das necessidades atuais do movimento estudantil, como um caminho para um
salto qualitativo nas lutas que são travadas por estudantes. O MUP deve ser o eixo unificador
em torno de bandeiras que expressam a síntese coletiva de todos àqueles que pensam em uma
universidade verdadeiramente voltada aos interesses da classe trabalhadora e que faça ecoar
dentro e fora dos muros da USP os anseios históricos da nossa classe!

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