Resenha do Capítulo 1 Renda, lucro e imposto - três aparelhos de captura da obra O
Governo do Homem Endividado de Maurizio Lazzarato
Maurizio Lazzarato apresenta uma reflexão sobre o homem na sociedade capitalista a
partir da dimensão da crise da dívida e da apropriação através da arrecadação dos impostos. Pontua algumas questões da dimensão política da economia capitalista, a partir de alguns autores, dentre eles Carl Schmitt. O capítulo é dividido em uma introdução e nove subseções. Na introdução, o autor destaca que mesmo quando o homem não está se endividando, na crise, ele paga, através e além dos impostos, e estes mantêm e até aumentam a apropriação das riquezas e firmam a expropriação política evidente da democracia. Ele faz uma crítica as ideias propostas por parte dos economistas acerca da produção. E pontua que a apropriação se pauta não na produção propriamente dita, mas no lucro, na renda e no imposto. Na primeira subseção Uma primeira definição do conceito de produção, Lazzarato assinala como o neoliberalismo colocou a renda e o imposto como centrais e não o lucro, desfazendo o conceito de “produção”, que estava posto e tudo que ele trazia. Destaca a importância dada a moeda e o imposto no pós-fordismo. E reflete sobre a origem política da economia e a apropriação durante e após o fordismo. Na subseção O dinheiro nasce do imposto? o autor frisa questões sobre a moeda, imposto, apropriação e crise na obra Mil platôs. Salienta a importância de lutas políticas que fizeram com que o capital tivesse que operar uma mudança. Evidencia essa mudança como relação mais de poder do que econômica. E pondera a importância e papel dos impostos e sua relação com o sistema político democrático. Na terceira subseção Os aparelhos de captura da crise, o autor fala das relações da apropriação fiscal com a crise e o seu desenvolvimento. Enfatiza as questões da captura da renda financeira. Pontua sobre as dívidas e as crises como uma relação, destacando o dinheiro escondido dos super-ricos nos paraísos fiscais. Acentua e reflete o papel do imposto, as questões políticas, o aumento das desigualdades e aprofundamento as crises. Na próxima subseção O impossível reformismo (o impossível New Deal), Lazzarato esclarece que na crise o imposto destrói e formula novo modelo de acumulação. O capitalismo se reconfigura numa nova arrecadação, o cinismo impera e torna-se impossível praticar as políticas reformistas. Na subseção A produção subjetiva da crise, é definida a relação do imposto com o homem endividado de forma subjetiva, destacando a incorporação da obrigação pela consciência do pagamento da dívida de forma coletiva do Estado. Usa-se de vários mecanismos para tornar a população responsáveis por dívidas que não são suas, e o imposto se faz presente e naturalizado como dívida coletiva e mais, subjetiva. Em seguida na subseção A avaliação e a medida, o autor faz considerações gerais sobre aquilo que ele chama de sequências capitalistas, destacando que os três aparelhos de captura do capitalismo (renda, lucro e imposto) possuem seus dinamismos e especificidades, afirmando que faz parte dos três a avaliação/comparação e a apropriação monopolista como operações complementares. E evidencia que não se pode mais distinguir capital e Estado, propriedade privada e pública, a partir dessa coleta de impostos. Nas duas próximas subseções Carl Schmitt e A “guerra civil” e o Estado social, Lazzarato crítica autores que separaram economia e política. Expõe questões sobre produção, apropriação e Estado social discutidas por Carl Schmitt, que destaca a autonomia da política dentro do capitalismo. O autor vai discutir a formulação da expressão “apropriação industrial” de Schmitt e as reflexões a partir do termo grego nomos. Destaca também o pensamento de Schmitt sobre Marx e Lênin. E pontua as ideias dele sobre o Estado social (e os vários elementos que o constituem, suas especificidades) ser o campo de uma “guerra civil” surda. Destaca as questões dos conflitos sociais e políticos no Estado Social. Faz uma crítica a Foucault. Indica que os elementos presentes no Estado Social suscitaram o neoliberalismo. Destaca a ideia de Castel sobre “propriedade social” e seus desdobramentos. Pontua os interesses dos liberais no Estado livre das lutas e direitos sociais. E reflete a crise como uma falha da relação política e dos princípios da economia capitalista. Na última subseção Um alargamento do conceito de produção, Lazzarato destaca a importância do conceito de “antiprodução” de Deleuze e Guattari para a natureza do capitalismo. E reflete as questões da produção e “antiprodução” como instrisecas. Pontua também a questão da desterritorialização no capitalismo e sua característica de destruição. Destacando novamente um conceito de Carl Schmitt, “apropriação de terra” no capitalismo e o fato deste tratar tudo e todos como “objetos” exploráveis. Por fim, ele aponta as ideias dos autores Bruno Latour e Michel Serres sobre a questão ecológica de “Gaia” e “Biogeia” não pontuarem o capitalismo e sua dinâmica. E como a crise é imposta a todos, tornando-nos objetos e talvez gerando nossa destruição.