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10 SETEMBRO DE 2018
n. 10
DJE de
1
Setembro
2018
N. 10 SETEMBRO DE 2018
T ES ES E F UNDA M ENT OS
B OL ET I M DE A C ÓRDÃ OS P UB LI C A DOS
Este Boletim contém resumos de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.
Elaborado a partir de acórdãos publicados no mês de referência, e cujo julgamento tenha sido noticiado no Infor-
mativo STF, o periódico traz os principais fundamentos e conclusões dos julgados.
A fidelidade deste trabalho ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas almejadas, apenas
poderá ser aferida pela leitura integral do inteiro teor publicado no Diário da Justiça Eletrônico.
SUMÁRIO
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITO PENAL
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RECURSOS .................................................................................................. 13
PRAZOS RECURSAIS
AGRAVO
PROVAS...................................................................................................... 14
ATOS PROBATÓRIOS
INTERROGATÓRIO
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1 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada 3 MS 25.686, rel. min. Marco Aurélio, decisão mono-
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis- crática.
trito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Di- 4 Dispõe sobre o sigilo das operações de instituições
reito e tem como fundamentos: (...) III – a dignidade da financeiras e dá outras providências.
pessoa humana;” 5 MS 25.686, rel. min. Marco Aurélio, decisão mono-
2 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção crática.
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 6 “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurí-
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie- dica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo
dade, nos termos seguintes: (...) XII – é inviolável o sigilo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus mem-
da correspondência e das comunicações telegráficas, de bros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em jul-
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a gado ou de outro momento que venha a ser fixado.”
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou ins-
trução processual penal;”
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intervalo para a convocação de novos servido- RE 594.435, rel. min. Marco Aurélio, Repercus-
res. são Geral, Tema 149.
(Informativo 903, Plenário)
Entraves diversos, como adversidade orça-
_________________________________________
mentária, podem dificultar ou impossibilitar o
imediato cumprimento de decisão do STF que
determina a realização de concurso público
para o preenchimento de certas vagas. Essa exi-
gência, entretanto, não se sobrepõe à continui-
dade de serviços públicos de alta relevância
(v.g., saúde, segurança). Assim, a perenidade
desses serviços recomenda seja conferido
tempo hábil para a realização de certame pú-
blico que regularize a situação dos servidores,
de acordo com a determinação do STF.
Nesse ínterim, considerada a situação emer-
gencial e transitória7, admite-se a utilização de
mão de obra obtida mediante contratação tem-
porária, com desvio de função ou com outros
meios que, a rigor, esvaziam o postulado do
concurso público.
ADI 3.415 ED, rel. min. Alexandre de Moraes,
DJE de 28-9-2018.
(Informativo 909, Plenário)
_________________________________________
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA COMUM
7 Lei 8.112/1990. “Art. 117. Ao servidor é proibido: (...) cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e
XVII – cometer a outro servidor atribuições estranhas ao transitórias;”
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8 HC 81.444, rel. min. Nelson Jobim, 2ª T. autos da AP 307, a Corte decidiu que os crimes de corrup-
9 “Art. 15. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, ção ativa e passiva deveriam ser interpretados conjunta-
referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei n. mente, de modo que também para a caracterização da
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e no art. 95 da Lei n. corrupção passiva seria necessária a indicação de um ato
8.212, de 24 de julho de 1991, durante o período em que de ofício a ser praticado pelo funcionário público como
a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos contrapartida à vantagem indevida (AP 307, rel. min. Ilmar
crimes estiver incluída no Refis, desde que a inclusão no Galvão, 2ª T). Posteriormente, essa compreensão foi flexi-
referido Programa tenha ocorrido antes do recebimento bilizada no julgamento da AP 470, em que se passou a ad-
da denúncia criminal. § 1º A prescrição criminal não corre mitir um grau muito maior de indeterminação do “ato de
durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § ofício” (AP 470, rel. min. Joaquim Barbosa, P). Atualmente,
2º O disposto neste artigo aplica-se, também: I – a progra- essa compreensão está sedimentada, de modo que “não
mas de recuperação fiscal instituídos pelos Estados, pelo é necessário estabelecer uma subsunção precisa entre um
Distrito Federal e pelos Municípios, que adotem, no que específico ato de ofício e as vantagens indevidas, mas, sim,
couber, normas estabelecidas nesta Lei; II – aos parcela- uma subsunção casual entre as atribuições do funcionário
mentos referidos nos arts. 12 e 13. § 3º Extingue-se a pu- público e as vantagens indevidas, passando este a atuar
nibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pes- não mais em prol do interesse público, mas em favor de
soa jurídica relacionada com o agente efetuar o paga- seus interesses pessoais” (AP 695, rel. min. Rosa Weber,
mento integral dos débitos oriundos de tributos e contri- 1ª T).
buições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido ob- 12 “Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para ou-
jeto de concessão de parcelamento antes do recebimento trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
da denúncia criminal.” ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem inde-
10 RE 339.535, rel. min. Sepúlveda Pertence, decisão vida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclu-
monocrática. são, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º A pena é au-
11 “Essa posição sofreu evolução jurisprudencial. Nos mentada de um terço, se, em consequência da vantagem
ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
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qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever fun- único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, den-
cional. §2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou tro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratificação
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce- e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco)
dendo a pedido ou influência de outrem: Pena – reclusão, dias, como condição para a eficácia dos atos. Parágrafo
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é au- único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de re-
mentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem tardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que
ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar couber, com os seguintes elementos: I - caracterização da
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever fun- situação emergencial, calamitosa ou de grave e iminente
cional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou risco à segurança pública que justifique a dispensa,
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce- quando for o caso; II – razão da escolha do fornecedor ou
dendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, executante; III – justificativa do preço; IV – documento de
de três meses a um ano, ou multa.” aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens se-
13 “Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hi- rão alocados.”
póteses previstas em lei, ou deixar de observar as formali- 15 BITENCOURT, Cezar Roberto. Direito penal das lici-
dades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena – tações. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 151- 152 apud minis-
detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.” (Sem gri- tra Rosa Weber em seu voto no julgamento do Inq 3.962.
fos no original.) 16 “Art. 37. A administração pública direta e indireta
14 “Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis-
art. 17 e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de trito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justi- legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi-
ficadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo ciência e, também, ao seguinte:”
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17 AP 971, rel. min. Edson Fachin, 1ª T. trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetácu-
18 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licita- los ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tra-
ções e Contratos Administrativos. 14. ed. São Paulo: Dialé- tamento de dependentes de drogas ou de reinserção so-
tica, 2010. p. 901-904 apud ministra Rosa Weber em seu cial, de unidades militares ou policiais ou em transportes
voto no julgamento do Inq 3.962. públicos;”
19 “Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta 20 “Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo,
Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) III – organização ou associação destinados à prática de qual-
a infração tiver sido cometida nas dependências ou ime- quer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34
diações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hos- desta Lei: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
pitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, cultu- pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-
rais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de multa.”
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21 HC 122.042, rel. min. Marco Aurélio, 1ª T. mento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do re-
22 “Art. 5º Considera-se praticado o crime no mo- sultado.”
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corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com rente de direito, em condições idênticas, de terceiro po-
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer derá impetrar mandado de segurança a favor do direito
violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30
autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem (trinta) dias, quando notificado judicialmente.”
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25 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin- estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- dade, nos termos seguintes: (...) LIII – ninguém será pro-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- cessado nem sentenciado senão pela autoridade compe-
priedade, nos termos seguintes: (...) XI – a casa é asilo in- tente;”
violável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar 27 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,
sem consentimento do morador, salvo em caso de fla- precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I
grante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, du- – processar e julgar, originariamente: (...) b) nas infrações
rante o dia, por determinação judicial;” penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presi-
26 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção dente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos Ministros e o Procurador-Geral da República;”
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Somente o STF, nessas circunstâncias, tem julgador que requeira documentos a outros ór-
competência para ordenar busca e apreensão gãos. Além disso, o juiz pode indeferir a provi-
domiciliar que traduza, mesmo que potencial- dência que tenha caráter irrelevante, imperti-
mente, investigação de parlamentar federal, nente, protelatório ou tumultuário (CPP, art.
bem como para selecionar os elementos de 400, § 1º29).
convicção que a ela interessem ou não.
De acordo com o princípio da eventuali-
A legalidade da ordem de busca e apreensão dade, uma vez viabilizada a apresentação de
deve necessariamente ser aferida antes de seu defesa prévia, cabe ao investigado trazer todos
cumprimento, pois, do contrário, poder-se-ia os argumentos de que dispõe, presente o que
incorrer em legitimação de decisão manifesta- narrado na peça acusatória. Ademais, a defesa
mente ilegal, com base no resultado da diligên- pode, no curso da ação penal, requerer a pro-
cia. dução de provas que entender pertinentes, in-
clusive de natureza documental.
Portanto, a realização de diligência por juízo
sem competência constitucional é nula. Deve O eventual auxílio de membro do Ministério Pú-
ser reconhecida não só a imprestabilidade do blico na negociação de acordo de colaboração
resultado da busca realizada no imóvel do par- não afeta a validade das provas apresentadas
lamentar para fins probatórios, como também pelos colaboradores, caso não haja indício con-
de eventuais elementos probatórios direta- sistente de que o fato seja de conhecimento do
mente derivados. Ministério Público.
Rcl 24.473, rel. min. Dias Toffoli, DJE de 6-9-
2018. O acordo de colaboração premiada deve ser
(Informativo 908, Segunda Turma) celebrado de forma voluntária, de modo que a
participação ministerial não necessariamente
_________________________________________ macula essa qualidade. Além disso, ainda que
PROCESSO EM GERAL rescindido, as provas podem ser utilizadas con-
tra terceiros (Lei 12.850/2013, art. 4º, § 1030).
PROVA
DISPOSIÇÕES GERAIS As provas colhidas ou autorizadas por juízo apa-
rentemente competente à época da autorização
ou produção podem ser ratificadas, mesmo que
No rito da Lei 8.038/1990, não há espaço, entre
seja posteriormente reconhecida a sua incom-
o oferecimento da denúncia e o juízo de admis-
petência.
sibilidade a ser proferido pelo Tribunal, para di-
lações probatórias. De acordo com a teoria do juízo aparente,
se, no momento de apreciação das provas apre-
Embora o pedido de juntada de documentos
sentadas, existem elementos a indicar a com-
trazidos pelas próprias partes seja permitido
petência do juízo que realiza essa atividade, o
em qualquer fase do processo (CPP, art. 23128),
fato de, posteriormente, a competência origi-
não cabe à defesa usar essa regra para pedir ao
nalmente suposta não se confirmar não anula a
28 “Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes ferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou pro-
poderão apresentar documentos em qualquer fase do telatórias.”
processo.” 30 “Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes,
29 “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois ter-
a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, ços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por res-
proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à in- tritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
quirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela voluntariamente com a investigação e com o processo cri-
defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 minal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais
deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, dos seguintes resultados: (...) § 10. As partes podem re-
às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, tratar-se da proposta, caso em que as provas autoincrimi-
interrogando-se, em seguida, o acusado. § 1º As provas natórias produzidas pelo colaborador não poderão ser uti-
serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz inde- lizadas exclusivamente em seu desfavor.”
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validade das provas colhidas31. HC 120.275, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12-
9-2018.
Inq 4.506 e Inq 4.506 AgR-segundo, red. p/ o ac.
(Informativo 902, Primeira Turma)
min. Roberto Barroso e rel. min. Marco Aurélio,
respectivamente. _________________________________________
(Informativo 898, Primeira Turma) PROCEDIMENTO ESPECIAL
________________________________________
LEI 12.850/2013 – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
RECURSOS
ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA
PRAZOS RECURSAIS
AGRAVO A utilização de elementos probatórios, produzi-
dos pelo próprio colaborador, em seu prejuízo,
de modo distinto do firmado com a acusação e
O prazo para interposição de agravo pelo Es-
homologado pelo Judiciário, é prática abusiva e
tado-acusador em processo-crime, visando à su-
viola o direito a não autoincriminação.
bida do recurso especial, é de cinco dias.
A renúncia (ou não exercício) imposta pela
O art. 39 da Lei 8.038/199032 estipula o
Lei em relação ao direito ao silêncio (Lei
prazo de cinco dias para interposição de agravo
12.850/2013, art. 4º, § 1436) se limita à abran-
em face de decisão do presidente do tribunal,
gência e às consequências previstas no acordo.
de seção, de turma ou de relator que causar
gravame à parte. Apenas a Defensoria Pública Nesse sentido, “a possibilidade de compar-
possui a prerrogativa de ter dobrado o prazo de tilhamento de provas produzidas consensual-
recurso em matéria criminal, a teor do art. 5º, mente para outras investigações não incluídas
§ 5º, da Lei 1.060/195033. O benefício legal do na abrangência do negócio jurídico pode colo-
prazo em dobro para o Ministério Público foi car em risco a sua efetividade e a esfera de di-
outorgado somente quanto à atuação nos pro- reitos dos imputados que consentirem em co-
cessos de natureza civil (CPC, art. 18034). laborar com a persecução estatal.”37
Ademais, o Verbete 11635 da Súmula do STJ Deve-se ressaltar que isso não impede que
prevê a contagem do prazo em dobro para a Fa- outras autoridades não aderentes ao acordo re-
zenda Pública e para o Ministério Público so- alizem investigações e persecuções distintas,
mente nas situações em que atuem em favor da como, por exemplo, sobre fatos novos ou não
Administração Pública. incluídos no acordo. Nessa hipótese, veda-se
31 HC 137.438 AgRv, rel. min. Luiz Fux, 1ª T; HC benefício da contagem em dobro quando a lei estabele-
121.719, rel. min. Gilmar Mendes, 2ª T. cer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério
32 “Art. 39. Da decisão do Presidente do Tribunal, de Público.”
Seção, de Turma ou de Relator que causar gravame à 35 “A Fazenda Pública e o Ministério Público têm prazo
parte, caberá agravo para o órgão especial, Seção ou em dobro para interpor agravo regimental no Superior Tri-
Turma, conforme o caso, no prazo de 5 (cinco) dias.” bunal de Justiça.”
33 “Art. 5º O juiz, se não tiver fundadas razões para in- 36 “Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes,
deferir o pedido, deverá julgá-lo de plano, motivando ou conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois ter-
não o deferimento dentro do prazo de setenta e duas ho- ços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por res-
ras. (...) § 5º Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja tritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou voluntariamente com a investigação e com o processo cri-
quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoal- minal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais
mente de todos os atos do processo, em ambas as Instân- dos seguintes resultados: (...) § 14. Nos depoimentos que
cias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos.” prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu de-
34 “Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em fensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compro-
dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a par- misso legal de dizer a verdade.”
tir de sua intimação pessoal, nos termos do art. 183, § 1º. 37 LAMY, Anna Carolina. Reflexos do acordo de leniên-
§ 1º Findo o prazo para manifestação do Ministério Pú- cia no processo penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.
blico sem o oferecimento de parecer, o juiz requisitará os p. 159-161 apud ministro Gilmar Mendes em seu voto no
autos e dará andamento ao processo. § 2º Não se aplica o julgamento do Inq 4.420 AgR.
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somente a utilização, para esses casos, de ele- DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
mentos probatórios produzidos pelos próprios
colaboradores em razão do negócio firmado38. PROVAS
Se o imputado não é abrangido pelo acordo de ATOS PROBATÓRIOS
leniência em questão, não há óbices ao compar- INTERROGATÓRIO
tilhamento de provas, desde que o pedido se
mostre adequadamente delimitado e justifi-
O disposto no art. 400 do Código de Processo
cado39.
Penal 42 sobre o momento do interrogatório do
“É assente na jurisprudência desta Corte a acusado não se aplica ao processo-crime militar.
admissibilidade, em procedimentos administra-
Prevalece o previsto no art. 302 do Código
tivos, de prova emprestada do processo pe-
de Processo Penal Militar43 ante o princípio da
nal”40.
especialidade.
Contudo, nas hipóteses de meios de obten-
HC 132.847, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12-
ção de prova como colaboração premiada (ou
9-2018.
acordos de leniência), devem ser adotadas cau-
(Informativo 908, Primeira Turma)
telas especiais.
_________________________________________
“Nesses casos, ao estabelecer os estreitos
parâmetros de tais atividades, fica clara a inten- SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ção do legislador em assegurar que a obtenção
de provas seja realizada de forma compatível SECRETARIA DE DOCUMENTAÇÃO
com os direitos fundamentais envolvidos, como COORDENADORIA DE DIVULGAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
a intimidade, a inviolabilidade do domicílio e o (CDJU)
sigilo das comunicações (CF, art. 5º, X, XI e cdju@stf.jus.br
XII)”41.
Inq 4.420 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, DJE de
13-9-2018.
(Informativo 913, Segunda Turma)
_________________________________________
38 “(...) não seria vedado ao TCU realizar a fiscalização sileira de Ciências Criminais, v. 122, ago. 2016 apud minis-
da aplicação de dinheiro público em hipóteses já alberga- tro Gilmar Mendes em seu voto no julgamento do Inq
das pelos acordos de leniência. Todavia, sua atuação deve 4.420 AgR.
limitar-se ao escopo de buscar integralmente a reparação 42 “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento,
do dano causado, sem inviabilizar o cumprimento dos ci- a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
tados acordos.” (Trecho do voto do ministro Gilmar Men- proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à in-
des no julgamento do MS 35.435 MC, rel. min. Gilmar quirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
Mendes). defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222
39 Pet 6.845, rel. min. Edson Fachin, decisão monocrá- deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos,
tica; Pet 7.463, rel. min. Edson Fachin, decisão monocrá- às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
tica. interrogando-se, em seguida, o acusado.”
40 RE 810.906 AgR, rel. min. Roberto Barroso, 1ª T. 43 “Art. 302. O acusado será qualificado e interrogado
41 GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Limites ao com- num só ato, no lugar, dia e hora designados pelo juiz, após
partilhamento de provas no processo penal. Revista Bra- o recebimento da denúncia; e, se presente à instrução cri-
minal ou preso, antes de ouvidas as testemunhas.”
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