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N.

10 SETEMBRO DE 2018

n. 10
DJE de
1
Setembro
2018
N. 10 SETEMBRO DE 2018

T ES ES E F UNDA M ENT OS
B OL ET I M DE A C ÓRDÃ OS P UB LI C A DOS

Este Boletim contém resumos de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.

Elaborado a partir de acórdãos publicados no mês de referência, e cujo julgamento tenha sido noticiado no Infor-
mativo STF, o periódico traz os principais fundamentos e conclusões dos julgados.

A fidelidade deste trabalho ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas almejadas, apenas
poderá ser aferida pela leitura integral do inteiro teor publicado no Diário da Justiça Eletrônico.

SUMÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS............................................................. 4


DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
DIREITO À PRIVACIDADE

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES .......................................................................... 4


PODER JUDICIÁRIO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES .......................................................................... 5


PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA COMUM

DIREITO PENAL

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ............................................................................ 6


PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
CAUSAS SUSPENSIVAS

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................... 6


CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM
GERAL
CORRUPÇÃO PASSIVA

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL........................................................................... 7


LEI DE LICITAÇÕES
CRIMES LICITATÓRIOS

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL........................................................................... 8


LEI DE DROGAS
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

DIREITO PENAL MILITAR

CÓDIGO PENAL MILITAR ................................................................................. 9


APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR
TEMPO DO CRIME

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PROCEDIMENTO ESPECIAL ............................................................................. 10


MANDADO DE SEGURANÇA – LEI 12.016/2009
LEGITIMIDADE ATIVA

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCESSO EM GERAL ................................................................................... 11


COMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

PROCESSO EM GERAL ................................................................................... 12


PROVA
DISPOSIÇÕES GERAIS

RECURSOS .................................................................................................. 13
PRAZOS RECURSAIS
AGRAVO

PROCEDIMENTO ESPECIAL ............................................................................. 13


LEI 12.850/2013 – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

PROVAS...................................................................................................... 14
ATOS PROBATÓRIOS
INTERROGATÓRIO

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

DIREITO CONSTITUCIONAL ORGANIZAÇÃO DOS PODERES


PODER JUDICIÁRIO
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
DIREITO À PRIVACIDADE As cláusulas de segurança jurídica implícitas na
Constituição Federal referendam plenamente a
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos confiança nas atividades prestadas sob presun-
bancário, telefônico e fiscal devem ser mantidos ção de legitimidade e autorizam a sua convalida-
sob reserva, inviabilizado o conhecimento pú- ção.
blico.
Ao decidir processo objetivo, o Supremo Tri-
A Constituição Federal (CF), com funda- bunal Federal (STF) deve percorrer um juízo de
mento na preservação da dignidade da pessoa consequência de suas decisões, para sincro-
humana (CF, art. 1º, III1), revela como regra a nizá-las, da melhor maneira possível, com parâ-
privacidade. A quebra do sigilo das correspon- metros constitucionais tutelados pelo art. 27da
dências, da comunicação telegráfica, de dados Lei 9.868/19996, evitando que a solução venha
e das comunicações telefônicas afigura-se a se fazer aflitiva à segurança jurídica e a outros
como exceção que, voltada para o êxito de in- interesses sociais eventualmente atingidos.
vestigação criminal ou instrução processual pe- Para viabilizar esse tipo de avaliação, con-
nal, há de ser implementada a partir de ordem tudo, é necessário comprovar, concretamente,
judicial (CF, art. 5º, XII2)3. a presença de elementos excepcionais que jus-
Nesse contexto, conclui-se que os dados tifiquem a retração, no tempo, dos efeitos da
aludidos possuem destinação única e, por isso decisão de inconstitucionalidade, que de regra
mesmo, devem ser mantidos sob reserva, não operam ex tunc.
cabendo divulgá-los. A Lei Complementar Realizada essa comprovação, cabe ao STF
105/20014 surge no campo simplesmente pe- resguardar a higidez jurídica de atividades exer-
dagógico pertinente à explicitação do que já de- cidas com base em fundamentos normativos
corre da Lei Fundamental. O sigilo é afastável, que, futuramente, vieram a ter sua validade in-
sim, em situações excepcionais, casos em que firmada.
os dados assim obtidos ficam restritos ao pro-
cesso investigatório em curso.5 Se uma decisão proferida em controle concen-
trado de constitucionalidade pode descortinar
MS 25.940, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 21-
risco para a continuidade de serviços públicos de
9-2018.
alta relevância, tendo em vista a falta de previ-
(Informativo 899, Plenário)
são de concursos, cabe ao STF determinar um

1 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada 3 MS 25.686, rel. min. Marco Aurélio, decisão mono-
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis- crática.
trito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Di- 4 Dispõe sobre o sigilo das operações de instituições

reito e tem como fundamentos: (...) III – a dignidade da financeiras e dá outras providências.
pessoa humana;” 5 MS 25.686, rel. min. Marco Aurélio, decisão mono-
2 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção crática.
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 6 “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurí-
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie- dica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo
dade, nos termos seguintes: (...) XII – é inviolável o sigilo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus mem-
da correspondência e das comunicações telegráficas, de bros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em jul-
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a gado ou de outro momento que venha a ser fixado.”
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou ins-
trução processual penal;”

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

intervalo para a convocação de novos servido- RE 594.435, rel. min. Marco Aurélio, Repercus-
res. são Geral, Tema 149.
(Informativo 903, Plenário)
Entraves diversos, como adversidade orça-
_________________________________________
mentária, podem dificultar ou impossibilitar o
imediato cumprimento de decisão do STF que
determina a realização de concurso público
para o preenchimento de certas vagas. Essa exi-
gência, entretanto, não se sobrepõe à continui-
dade de serviços públicos de alta relevância
(v.g., saúde, segurança). Assim, a perenidade
desses serviços recomenda seja conferido
tempo hábil para a realização de certame pú-
blico que regularize a situação dos servidores,
de acordo com a determinação do STF.
Nesse ínterim, considerada a situação emer-
gencial e transitória7, admite-se a utilização de
mão de obra obtida mediante contratação tem-
porária, com desvio de função ou com outros
meios que, a rigor, esvaziam o postulado do
concurso público.
ADI 3.415 ED, rel. min. Alexandre de Moraes,
DJE de 28-9-2018.
(Informativo 909, Plenário)
_________________________________________
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA COMUM

Compete à Justiça comum o julgamento de con-


flito a envolver a incidência de contribuição pre-
videnciária sobre complementação de proven-
tos de aposentadoria.

O alcance da competência da Justiça do Tra-


balho revela-se a partir de critérios de Direito
estrito. O conflito que diz respeito a incidência
de contribuição social não está relacionado à
obtenção de verba de natureza trabalhista.
A definição da controvérsia, que depende da
identificação dos sujeitos da exação, considera-
dos os parâmetros estabelecidos pelo institui-
dor do tributo, é questão de natureza exclusi-
vamente tributária.

7 Lei 8.112/1990. “Art. 117. Ao servidor é proibido: (...) cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e
XVII – cometer a outro servidor atribuições estranhas ao transitórias;”

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

DIREITO PENAL Não haveria lógica em permitir que a pres-


crição seguisse seu curso normal no período de
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE inclusão no Refis. Se assim fosse, a adesão ao
programa, por iniciativa do contribuinte, ser-
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA viria mais como uma estratégia de defesa para
CAUSAS SUSPENSIVAS alcançar a prescrição com o decurso do tempo
do que como um meio de promover a regulari-
A prescrição da pretensão punitiva fica suspensa zação dos débitos fiscais, que é a real finalidade
no período em que estiverem sendo cumpridas do programa.
as condições de parcelamento do débito fiscal, ARE 1.037.087 AgR, rel. min. Dias Toffoli, DJE de
desde que a inclusão no Programa Refis (Pro- 5-9-2018.
grama de Recuperação Fiscal) tenha ocorrido (Informativo 911, Segunda Turma)
antes do recebimento da denúncia8.
_________________________________________
A adesão ao programa de parcelamento Re- CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
fis (Lei 9.964/2000, art. 159) suspende a ação
CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
penal durante o período em que cumpridas as
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
condições estabelecidas. Ademais, essa lei se
aplica inclusive em relação a fatos ocorridos an- CORRUPÇÃO PASSIVA
tes de sua vigência10, pois é muito maior a van-
tagem da suspensão da pretensão punitiva do Para a aptidão de imputação de corrupção pas-
que a correspondente desvantagem da suspen- siva, não é necessária a descrição de um especí-
são do prazo prescricional, sobretudo tendo em fico ato de ofício, bastando uma vinculação cau-
vista a possibilidade da extinção da punibili- sal entre as vantagens indevidas e as atribuições
dade, se realizado o pagamento integral do dé- do funcionário público, passando este a atuar
bito tributário (Lei 9.249/1995 e Lei não mais em prol do interesse público, mas em
10.684/2003). favor de seus interesses pessoais11.

A leitura do tipo penal do art. 317 do CP12

8 HC 81.444, rel. min. Nelson Jobim, 2ª T. autos da AP 307, a Corte decidiu que os crimes de corrup-
9 “Art. 15. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, ção ativa e passiva deveriam ser interpretados conjunta-
referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei n. mente, de modo que também para a caracterização da
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e no art. 95 da Lei n. corrupção passiva seria necessária a indicação de um ato
8.212, de 24 de julho de 1991, durante o período em que de ofício a ser praticado pelo funcionário público como
a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos contrapartida à vantagem indevida (AP 307, rel. min. Ilmar
crimes estiver incluída no Refis, desde que a inclusão no Galvão, 2ª T). Posteriormente, essa compreensão foi flexi-
referido Programa tenha ocorrido antes do recebimento bilizada no julgamento da AP 470, em que se passou a ad-
da denúncia criminal. § 1º A prescrição criminal não corre mitir um grau muito maior de indeterminação do “ato de
durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § ofício” (AP 470, rel. min. Joaquim Barbosa, P). Atualmente,
2º O disposto neste artigo aplica-se, também: I – a progra- essa compreensão está sedimentada, de modo que “não
mas de recuperação fiscal instituídos pelos Estados, pelo é necessário estabelecer uma subsunção precisa entre um
Distrito Federal e pelos Municípios, que adotem, no que específico ato de ofício e as vantagens indevidas, mas, sim,
couber, normas estabelecidas nesta Lei; II – aos parcela- uma subsunção casual entre as atribuições do funcionário
mentos referidos nos arts. 12 e 13. § 3º Extingue-se a pu- público e as vantagens indevidas, passando este a atuar
nibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pes- não mais em prol do interesse público, mas em favor de
soa jurídica relacionada com o agente efetuar o paga- seus interesses pessoais” (AP 695, rel. min. Rosa Weber,
mento integral dos débitos oriundos de tributos e contri- 1ª T).
buições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido ob- 12 “Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para ou-

jeto de concessão de parcelamento antes do recebimento trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
da denúncia criminal.” ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem inde-
10 RE 339.535, rel. min. Sepúlveda Pertence, decisão vida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclu-
monocrática. são, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º A pena é au-
11 “Essa posição sofreu evolução jurisprudencial. Nos mentada de um terço, se, em consequência da vantagem
ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

não remete a nenhuma exigência da prática de a descrição da conduta delituosa. Na espécie, o


“ato de ofício”, ou sequer de sua indicação, tipo primário não faz referência a quais forma-
para a caracterização da figura básica do delito. lidades devem ser observadas pelo administra-
O crime ocorre com a mera solicitação e/ou re- dor nos casos de contratação direta.
cebimento de vantagem, ou aceitação de sua
As “formalidades” previstas no art. 89 da lei
promessa, em razão da função pública. A even-
limitam-se àquelas estabelecidas no parágrafo
tual prática, ou omissão indevida, do ato de ofí-
único do art. 26 do mesmo diploma. Eventuais
cio consubstancia hipótese de aumento de
diretivas estabelecidas por outras esferas legis-
pena, prevista no § 1º.
lativas ou administrativas, criando novos proce-
A exigência de indicação de um ato concreto dimentos ou exigindo outras formalidades, não
para a caracterização do delito de corrupção, ultrapassarão o plano administrativo e jamais
além de ser contrária ao texto expresso da lei, poderão integrar a norma penal incriminadora.
afasta da punição as manifestações mais graves Esses outros complementos normativos, de ou-
da violação à função pública. tras esferas (estadual, municipal etc.), se existi-
rem, terão seus efeitos limitados ao plano ad-
Inq 4.506 e Inq 4.506 AgR-segundo, red. p/ o ac.
ministrativo, podendo anular o edital ou, de-
min. Roberto Barroso e rel. min. Marco Aurélio,
pendendo das circunstâncias, o próprio cer-
respectivamente.
tame licitatório, sem, contudo, produzir efeito
(Informativo 898, Primeira Turma)
na lei incriminadora15.
_________________________________________
O descumprimento das formalidades referentes
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
à dispensa ou à inexigibilidade de licitação só
LEI DE LICITAÇÕES tem pertinência à repressão penal quando
CRIMES LICITATÓRIOS acompanhada de violação substantiva aos prin-
cípios da Administração Pública (CF, art. 3716).
O art. 89, segunda parte, da Lei 8.666/199313 é Irregularidades pontuais são inerentes à bu-
norma penal em branco, a qual, quanto às for- rocracia estatal e não devem, por si sós, gerar
malidades a que alude, é complementada pelo criminalização de condutas, se não projetam
art. 2614 da mesma lei. uma ofensa consistente (tipicidade material) ao
bem jurídico tutelado, no caso, ao procedi-
A norma penal em branco é aquela que de- mento licitatório.
pende de outra norma jurídica para completar

qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever fun- único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, den-
cional. §2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou tro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratificação
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce- e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco)
dendo a pedido ou influência de outrem: Pena – reclusão, dias, como condição para a eficácia dos atos. Parágrafo
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é au- único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de re-
mentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem tardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que
ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar couber, com os seguintes elementos: I - caracterização da
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever fun- situação emergencial, calamitosa ou de grave e iminente
cional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou risco à segurança pública que justifique a dispensa,
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce- quando for o caso; II – razão da escolha do fornecedor ou
dendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, executante; III – justificativa do preço; IV – documento de
de três meses a um ano, ou multa.” aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens se-
13 “Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hi- rão alocados.”
póteses previstas em lei, ou deixar de observar as formali- 15 BITENCOURT, Cezar Roberto. Direito penal das lici-

dades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena – tações. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 151- 152 apud minis-
detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.” (Sem gri- tra Rosa Weber em seu voto no julgamento do Inq 3.962.
fos no original.) 16 “Art. 37. A administração pública direta e indireta
14 “Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis-
art. 17 e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de trito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justi- legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi-
ficadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo ciência e, também, ao seguinte:”

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

É preciso distinguir o administrador inepto, afastamento indevido de licitação. Portanto,


descuidado, sem destreza, daquele ardiloso, não basta a mera intenção de não realizar lici-
venal ou malicioso. tação em um caso em que tal seria necessá-
rio.”18
Não cabe ao juízo criminal avaliar o mérito
da escolha do administrador, ou mesmo a ne- Inq 3.962, rel. min. Rosa Weber, DJE de 12-9-
cessidade dela à luz do interesse público. O que 2018.
importa avaliar, para a esfera criminal e pre- (Informativo 891, Primeira Turma)
sente a tipificação da denúncia, é se a decisão _________________________________________
administrativa adotada pelo acusado esteve LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
amparada por argumentos legitimáveis sob o
enfoque da legalidade. LEI DE DROGAS
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
O delito do art. 89 da Lei 8.666/1993 exige, além
do dolo genérico — representado pela vontade
consciente de dispensar ou inexigir licitação com A causa de aumento prevista no art. 40, III, da
descumprimento das formalidades —, a configu- Lei 11.343/200619, no que tange ao transporte
ração do especial fim de agir — consistente no público, pressupõe o tráfico no respectivo âm-
dolo específico de causar dano ao erário ou de bito, e não a simples locomoção do detentor da
gerar o enriquecimento ilícito dos agentes en- droga.
volvidos na empreitada criminosa.
Há de interpretar-se teleologicamente o
A compreensão visa a estabelecer uma ne- preceito em jogo, no que versa causas de au-
cessária distinção entre o administrador probo mento quando o cometimento do tráfico ou do
que, sem má-fé, aplica, de forma errônea ou crime do art. 37 da Lei 11.343/200620 ocorra no
equivocada, as intrincadas normas de dispensa âmbito do transporte público ou, como está no
e inexigibilidade de licitação previstas nos arts. dispositivo, em dependências ou imediações de
24 e 25 da Lei 8.666/1993 e aquele que dis- estabelecimentos prisionais, ensino ou hospi-
pensa o certame que sabe ser necessário, na tais, sedes estudantis, sociais, culturais, recrea-
busca de fins espúrios.17 tivas, esportivas ou beneficentes, em local de
trabalho coletivo ou em recinto em que se rea-
O elemento subjetivo consiste não apenas lizem espetáculos ou diversões de qualquer na-
na intenção maliciosa de deixar de praticar a li- tureza, bem como serviços de tratamento de
citação cabível. É imperioso, para a caracteriza- dependentes de drogas ou reinserção social e
ção do crime, que o agente atue voltado a obter unidades militares ou policiais. A abrangência a
outro resultado, efetivamente reprovável e apanhar transportes públicos pressupõe que,
grave, além da mera contratação direta. no âmbito do veículo, tenha sido praticado, em
“Ocorre, assim, a conduta ilícita quando o si, o tráfico, não cabendo potencializar a refe-
agente tem a vontade livre e consciente de pro-
duzir o resultado danoso ao erário. É necessário
um elemento subjetivo consistente em produ-
zir prejuízo aos cofres públicos por meio do

17 AP 971, rel. min. Edson Fachin, 1ª T. trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetácu-
18 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licita- los ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tra-
ções e Contratos Administrativos. 14. ed. São Paulo: Dialé- tamento de dependentes de drogas ou de reinserção so-
tica, 2010. p. 901-904 apud ministra Rosa Weber em seu cial, de unidades militares ou policiais ou em transportes
voto no julgamento do Inq 3.962. públicos;”
19 “Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta 20 “Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo,

Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) III – organização ou associação destinados à prática de qual-
a infração tiver sido cometida nas dependências ou ime- quer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34
diações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hos- desta Lei: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
pitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, cultu- pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-
rais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de multa.”

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

rência a ponto de envolver a simples locomo- DIREITO PENAL MILITAR


ção do portador da droga21.
HC 120.275, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12- CÓDIGO PENAL MILITAR
9-2018. APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR
(Informativo 902, Primeira Turma)
TEMPO DO CRIME
_________________________________________

O posterior licenciamento de militar não desca-


racteriza a condição de procedibilidade para a
aferição de prática de crime militar.

Conforme o art. 5º do Código Penal Mili-


22
tar , observa-se a data do evento delituoso
para a configuração de crime militar.
HC 132.847, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12-
9-2018.
(Informativo 908, Primeira Turma)
_________________________________________

21 HC 122.042, rel. min. Marco Aurélio, 1ª T. mento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do re-
22 “Art. 5º Considera-se praticado o crime no mo- sultado.”

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

DIREITO PROCESSUAL CIVIL (Informativo 896, Segunda Turma)


_________________________________________
PROCEDIMENTO ESPECIAL
MANDADO DE SEGURANÇA – LEI 12.016/2009
LEGITIMIDADE ATIVA

O possuidor não conta com legitimidade ativa


para impetrar mandado de segurança objeti-
vando a anulação de decisão proferida pelo Con-
selho Nacional de Justiça (CNJ) em procedi-
mento administrativo que alcança tão somente
o poder público e o detentor do domínio do imó-
vel.

Nos termos da Lei 12.016/2009, a legitimi-


dade para impetração do mandado de segu-
rança requer a constatação de interesse na im-
petração, o qual se verifica no caso (i) daquele
que sofre ou tem justo receio de sofrer violação
de seu direito líquido e certo por ato de autori-
dade (Lei 12.016/2009, art. 1º23) ou (ii) daquele
que, embora não tendo sido atingido pelo ato
coator, posiciona-se na mesma condição jurí-
dica daquele que o foi, exigindo-se ainda, para
tanto, a inércia do titular do direito originário
(Lei 12.016/2009, art. 3º24).
Além disso, mesmo na hipótese de existir
promessa de compra e venda, o promissário
pagador não se torna parte legítima. A legitimi-
dade para a impetração se constata sobre rela-
ções jurídicas havidas no momento da prolação
do ato coator, não havendo que se falar em le-
gitimidade futura por aquisição posterior da ti-
tularidade do imóvel. Como a figura do promis-
sário comprador não ostenta um título de pro-
priedade, não traz consigo nenhuma relação ju-
rídica subjacente que se mostre relacionada
com a decisão administrativa proferida pelo
CNJ.
MS 32.096 AgR-terceiro, MS 32.967 AgR-ter-
ceiro e MS 32.968 AgR-terceiro, rel. min. Dias
Toffoli, DJE de 20-9-2018.

23 “Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para as funções que exerça.”


proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas 24 “Art. 3º O titular de direito líquido e certo decor-

corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com rente de direito, em condições idênticas, de terceiro po-
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer derá impetrar mandado de segurança a favor do direito
violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30
autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem (trinta) dias, quando notificado judicialmente.”

10
N. 10 SETEMBRO DE 2018

DIREITO PROCESSUAL PENAL originariamente, nas infrações penais comuns,


os membros do Congresso Nacional.
PROCESSO EM GERAL Desse modo, se houver duas pessoas (uma
COMPETÊNCIA delas parlamentar federal) investigadas crimi-
nalmente por fatos relacionados, por continên-
COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO cia ou conexão, após o desmembramento do
feito caberá à Justiça comum proceder à inves-
Usurpa a competência do Supremo Tribunal Fe- tigação somente no que toca ao não detentor
deral (STF) a decisão de juízo de 1º grau que de- de foro por prerrogativa de função.
termina a busca e apreensão não individualizada
Outrossim, ainda que ambas residam no
de entes dotados de capacidade probatória no
mesmo imóvel, não pode o juízo de 1º grau de-
domicílio de parlamentar federal investigado pe-
terminar busca e apreensão nesse imóvel de
rante o STF, sob o pretexto de o mandado se re-
maneira insuficientemente individualizada, a
ferir exclusivamente a outra pessoa, não deten-
pretexto de proceder a encontro fortuito de
tora de foro por prerrogativa de função, e inves-
provas, ou com esteio na teoria do juízo apa-
tigada criminalmente por fatos relacionados por
rente, ciente de que os crimes são objeto de in-
continência ou conexão, após o desmembra-
vestigação primariamente pelo STF.
mento do feito.
A prerrogativa de foro perante o STF se re-
A busca e apreensão é um meio de obtenção laciona ao membro do parlamento, e não à ti-
de prova, que se destina à aquisição de entes tularidade de imóvel. Do contrário, ainda que
(coisas materiais, vestígios ou declarações) do- se tratasse de imóvel funcional do Congresso
tados de capacidade probatória. A busca e não habitado por parlamentar, estar-se-ia a in-
apreensão domiciliar, por expressa determina- terditar, de forma desarrazoada, uma diligência
ção constitucional, ressalvada a hipótese de fla- de busca e apreensão por ordem judicial não
grante delito, exige autorização judicial (CF, art. emanada do STF.
5º, XI25).
A questão central para validar a admissibili-
Ademais, não é qualquer autorização judi- dade dessa medida invasiva, deferida por juízo
cial que permite validamente romper a garantia diverso do STF, é a absoluta incomunicabilidade
da inviolabilidade de domicílio, sendo necessá- do resultado da diligência com o titular de prer-
rio conjugá-la com a garantia constitucional do rogativa de foro.
juiz natural, segundo a qual ninguém será pro-
cessado nem sentenciado senão pela autori- De outra parte, ainda que o juízo de 1º grau,
dade competente (CF, art. 5º, LIII26). Portanto, após a apreensão, proceda a uma triagem do
em estrita observância ao princípio do juiz na- material arrecadado, para selecionar e apartar
tural, apenas o juiz constitucionalmente com- elementos de convicção relativos a parlamen-
petente pode ordenar uma medida de busca e tar federal, a medida não se sustenta, por im-
apreensão domiciliar. plicar, por via reflexa, inequívoca e vedada in-
vestigação de detentor de prerrogativa de foro
Nos termos do art. 102, I, b27, da Constitui- e manifesta usurpação da competência do STF.
ção Federal, compete ao STF processar e julgar,

25 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin- estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- dade, nos termos seguintes: (...) LIII – ninguém será pro-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- cessado nem sentenciado senão pela autoridade compe-
priedade, nos termos seguintes: (...) XI – a casa é asilo in- tente;”
violável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar 27 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,

sem consentimento do morador, salvo em caso de fla- precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I
grante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, du- – processar e julgar, originariamente: (...) b) nas infrações
rante o dia, por determinação judicial;” penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presi-
26 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção dente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos Ministros e o Procurador-Geral da República;”

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N. 10 SETEMBRO DE 2018

Somente o STF, nessas circunstâncias, tem julgador que requeira documentos a outros ór-
competência para ordenar busca e apreensão gãos. Além disso, o juiz pode indeferir a provi-
domiciliar que traduza, mesmo que potencial- dência que tenha caráter irrelevante, imperti-
mente, investigação de parlamentar federal, nente, protelatório ou tumultuário (CPP, art.
bem como para selecionar os elementos de 400, § 1º29).
convicção que a ela interessem ou não.
De acordo com o princípio da eventuali-
A legalidade da ordem de busca e apreensão dade, uma vez viabilizada a apresentação de
deve necessariamente ser aferida antes de seu defesa prévia, cabe ao investigado trazer todos
cumprimento, pois, do contrário, poder-se-ia os argumentos de que dispõe, presente o que
incorrer em legitimação de decisão manifesta- narrado na peça acusatória. Ademais, a defesa
mente ilegal, com base no resultado da diligên- pode, no curso da ação penal, requerer a pro-
cia. dução de provas que entender pertinentes, in-
clusive de natureza documental.
Portanto, a realização de diligência por juízo
sem competência constitucional é nula. Deve O eventual auxílio de membro do Ministério Pú-
ser reconhecida não só a imprestabilidade do blico na negociação de acordo de colaboração
resultado da busca realizada no imóvel do par- não afeta a validade das provas apresentadas
lamentar para fins probatórios, como também pelos colaboradores, caso não haja indício con-
de eventuais elementos probatórios direta- sistente de que o fato seja de conhecimento do
mente derivados. Ministério Público.
Rcl 24.473, rel. min. Dias Toffoli, DJE de 6-9-
2018. O acordo de colaboração premiada deve ser
(Informativo 908, Segunda Turma) celebrado de forma voluntária, de modo que a
participação ministerial não necessariamente
_________________________________________ macula essa qualidade. Além disso, ainda que
PROCESSO EM GERAL rescindido, as provas podem ser utilizadas con-
tra terceiros (Lei 12.850/2013, art. 4º, § 1030).
PROVA
DISPOSIÇÕES GERAIS As provas colhidas ou autorizadas por juízo apa-
rentemente competente à época da autorização
ou produção podem ser ratificadas, mesmo que
No rito da Lei 8.038/1990, não há espaço, entre
seja posteriormente reconhecida a sua incom-
o oferecimento da denúncia e o juízo de admis-
petência.
sibilidade a ser proferido pelo Tribunal, para di-
lações probatórias. De acordo com a teoria do juízo aparente,
se, no momento de apreciação das provas apre-
Embora o pedido de juntada de documentos
sentadas, existem elementos a indicar a com-
trazidos pelas próprias partes seja permitido
petência do juízo que realiza essa atividade, o
em qualquer fase do processo (CPP, art. 23128),
fato de, posteriormente, a competência origi-
não cabe à defesa usar essa regra para pedir ao
nalmente suposta não se confirmar não anula a

28 “Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes ferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou pro-
poderão apresentar documentos em qualquer fase do telatórias.”
processo.” 30 “Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes,
29 “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois ter-
a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, ços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por res-
proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à in- tritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
quirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela voluntariamente com a investigação e com o processo cri-
defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 minal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais
deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, dos seguintes resultados: (...) § 10. As partes podem re-
às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, tratar-se da proposta, caso em que as provas autoincrimi-
interrogando-se, em seguida, o acusado. § 1º As provas natórias produzidas pelo colaborador não poderão ser uti-
serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz inde- lizadas exclusivamente em seu desfavor.”

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validade das provas colhidas31. HC 120.275, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12-
9-2018.
Inq 4.506 e Inq 4.506 AgR-segundo, red. p/ o ac.
(Informativo 902, Primeira Turma)
min. Roberto Barroso e rel. min. Marco Aurélio,
respectivamente. _________________________________________
(Informativo 898, Primeira Turma) PROCEDIMENTO ESPECIAL
________________________________________
LEI 12.850/2013 – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
RECURSOS
ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA
PRAZOS RECURSAIS
AGRAVO A utilização de elementos probatórios, produzi-
dos pelo próprio colaborador, em seu prejuízo,
de modo distinto do firmado com a acusação e
O prazo para interposição de agravo pelo Es-
homologado pelo Judiciário, é prática abusiva e
tado-acusador em processo-crime, visando à su-
viola o direito a não autoincriminação.
bida do recurso especial, é de cinco dias.
A renúncia (ou não exercício) imposta pela
O art. 39 da Lei 8.038/199032 estipula o
Lei em relação ao direito ao silêncio (Lei
prazo de cinco dias para interposição de agravo
12.850/2013, art. 4º, § 1436) se limita à abran-
em face de decisão do presidente do tribunal,
gência e às consequências previstas no acordo.
de seção, de turma ou de relator que causar
gravame à parte. Apenas a Defensoria Pública Nesse sentido, “a possibilidade de compar-
possui a prerrogativa de ter dobrado o prazo de tilhamento de provas produzidas consensual-
recurso em matéria criminal, a teor do art. 5º, mente para outras investigações não incluídas
§ 5º, da Lei 1.060/195033. O benefício legal do na abrangência do negócio jurídico pode colo-
prazo em dobro para o Ministério Público foi car em risco a sua efetividade e a esfera de di-
outorgado somente quanto à atuação nos pro- reitos dos imputados que consentirem em co-
cessos de natureza civil (CPC, art. 18034). laborar com a persecução estatal.”37
Ademais, o Verbete 11635 da Súmula do STJ Deve-se ressaltar que isso não impede que
prevê a contagem do prazo em dobro para a Fa- outras autoridades não aderentes ao acordo re-
zenda Pública e para o Ministério Público so- alizem investigações e persecuções distintas,
mente nas situações em que atuem em favor da como, por exemplo, sobre fatos novos ou não
Administração Pública. incluídos no acordo. Nessa hipótese, veda-se

31 HC 137.438 AgRv, rel. min. Luiz Fux, 1ª T; HC benefício da contagem em dobro quando a lei estabele-
121.719, rel. min. Gilmar Mendes, 2ª T. cer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério
32 “Art. 39. Da decisão do Presidente do Tribunal, de Público.”
Seção, de Turma ou de Relator que causar gravame à 35 “A Fazenda Pública e o Ministério Público têm prazo

parte, caberá agravo para o órgão especial, Seção ou em dobro para interpor agravo regimental no Superior Tri-
Turma, conforme o caso, no prazo de 5 (cinco) dias.” bunal de Justiça.”
33 “Art. 5º O juiz, se não tiver fundadas razões para in- 36 “Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes,

deferir o pedido, deverá julgá-lo de plano, motivando ou conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois ter-
não o deferimento dentro do prazo de setenta e duas ho- ços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por res-
ras. (...) § 5º Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja tritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou voluntariamente com a investigação e com o processo cri-
quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoal- minal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais
mente de todos os atos do processo, em ambas as Instân- dos seguintes resultados: (...) § 14. Nos depoimentos que
cias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos.” prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu de-
34 “Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em fensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compro-
dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a par- misso legal de dizer a verdade.”
tir de sua intimação pessoal, nos termos do art. 183, § 1º. 37 LAMY, Anna Carolina. Reflexos do acordo de leniên-

§ 1º Findo o prazo para manifestação do Ministério Pú- cia no processo penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.
blico sem o oferecimento de parecer, o juiz requisitará os p. 159-161 apud ministro Gilmar Mendes em seu voto no
autos e dará andamento ao processo. § 2º Não se aplica o julgamento do Inq 4.420 AgR.

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somente a utilização, para esses casos, de ele- DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
mentos probatórios produzidos pelos próprios
colaboradores em razão do negócio firmado38. PROVAS
Se o imputado não é abrangido pelo acordo de ATOS PROBATÓRIOS
leniência em questão, não há óbices ao compar- INTERROGATÓRIO
tilhamento de provas, desde que o pedido se
mostre adequadamente delimitado e justifi-
O disposto no art. 400 do Código de Processo
cado39.
Penal 42 sobre o momento do interrogatório do
“É assente na jurisprudência desta Corte a acusado não se aplica ao processo-crime militar.
admissibilidade, em procedimentos administra-
Prevalece o previsto no art. 302 do Código
tivos, de prova emprestada do processo pe-
de Processo Penal Militar43 ante o princípio da
nal”40.
especialidade.
Contudo, nas hipóteses de meios de obten-
HC 132.847, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12-
ção de prova como colaboração premiada (ou
9-2018.
acordos de leniência), devem ser adotadas cau-
(Informativo 908, Primeira Turma)
telas especiais.
_________________________________________
“Nesses casos, ao estabelecer os estreitos
parâmetros de tais atividades, fica clara a inten- SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ção do legislador em assegurar que a obtenção
de provas seja realizada de forma compatível SECRETARIA DE DOCUMENTAÇÃO
com os direitos fundamentais envolvidos, como COORDENADORIA DE DIVULGAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
a intimidade, a inviolabilidade do domicílio e o (CDJU)
sigilo das comunicações (CF, art. 5º, X, XI e cdju@stf.jus.br
XII)”41.
Inq 4.420 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, DJE de
13-9-2018.
(Informativo 913, Segunda Turma)
_________________________________________

38 “(...) não seria vedado ao TCU realizar a fiscalização sileira de Ciências Criminais, v. 122, ago. 2016 apud minis-
da aplicação de dinheiro público em hipóteses já alberga- tro Gilmar Mendes em seu voto no julgamento do Inq
das pelos acordos de leniência. Todavia, sua atuação deve 4.420 AgR.
limitar-se ao escopo de buscar integralmente a reparação 42 “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento,

do dano causado, sem inviabilizar o cumprimento dos ci- a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
tados acordos.” (Trecho do voto do ministro Gilmar Men- proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à in-
des no julgamento do MS 35.435 MC, rel. min. Gilmar quirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
Mendes). defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222
39 Pet 6.845, rel. min. Edson Fachin, decisão monocrá- deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos,
tica; Pet 7.463, rel. min. Edson Fachin, decisão monocrá- às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
tica. interrogando-se, em seguida, o acusado.”
40 RE 810.906 AgR, rel. min. Roberto Barroso, 1ª T. 43 “Art. 302. O acusado será qualificado e interrogado
41 GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Limites ao com- num só ato, no lugar, dia e hora designados pelo juiz, após
partilhamento de provas no processo penal. Revista Bra- o recebimento da denúncia; e, se presente à instrução cri-
minal ou preso, antes de ouvidas as testemunhas.”

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