Você está na página 1de 3

UnB – Universidade de Brasília – Darcy Ribeiro

Aluno: Filipe Davi Cardoso dos Santos


17/0058026
Professor: Dra. Erick Calheiros Lima
Disciplina: Filosofia da Linguagem

Jurgen Habermas – Verdade e Justificação


Ensaios filosóficos

Em ‘realismo após a virada linguística – introdução’, Habermas elucida


quais serão os objetos de estudo dos seus ensaios nesse livro. Considerando a
abertura que a pragmática linguística possibilitou, no caso, serviu-se à
formulação de uma teoria do agir comunicativo e da racionalidade. Com isso em
vista, esses ensaios propõem-se a corrigir duas questões fundamentais da
filosofia teórica, por um lado visa responder à questão ontológica do naturalismo:
como a normatividade de um mundo da vida estruturado linguisticamente pode
ser conciliada com a necessidade de um desenvolvimento histórico-natural de
formas de vida socioculturais. Por outro lado, visa a questão epistemológica do
realismo: como conciliar a suposição de um mundo que independe de nossas
descrições, com a descoberta da filosofia da linguagem, cujo acesso nos é
negado, que não seja mediatizado pela linguagem.
Num primeiro momento, no capítulo sobre linguagem enquanto
comunicação ou representação, Habermas traz um relato histórico sobre como
a filosofia da linguagem é desenvolvida, desde Frege a Wittgenstein,
perpassando pelas vias que deram primazia a linguagem enquanto simples e
puramente representação, desde a concepção mentalista até a uma concepção
de análise semântica, com Wittgenstein têm-se uma virada de paradigma, cujo
primado da linguagem seria do seu caráter pragmático, da sua práxis. Todavia,
assume que a filosofia analítica deu continuidade à teoria do conhecimento
tratando como paradigmático a proposição enunciativa ou a asserção. Por essa
via, assume que as questões da teoria da comunicação e da ação, da moral e
do direito foram consideradas de segunda ordem.
Contudo, importante é se pensar qual a relação entre representação e
comunicação, para Michael Dummet a linguagem assume duas funções
principais, de ser instrumento de comunicação e de ser um veículo de
pensamento. Quando questionado sobre a função primaria, duas alternativas
surgem a partir daí, (a) primeira é de que comunicação não pode exercer
independência sobre representação e (b) segundo que representação não pode
exercer um primado, ser independente, sobre comunicação. Para a primeira
alternativa, surgiria uma “caricatura intencionalista de comunicação” e para a
segunda se perderiam de vista as condições epistêmicas para a compreensão
de proposições.
(a) É necessário que o falante que afirme “Kp”, e que comunica o fato “que
p”, que existe antes de tudo uma condição de verdade para que sua
proposição possa ser antes de tudo aceita, e logo em seguida possa
ter condição de se representar. Quando se diz algo nesse sentido,
existe um propósito ilocucionário nessa frase, a de que o destinatário
possa não tão somente tomar conhecimento de sua opinião, mas
chegar também a mesma concepção, de forma a compartilhar também
da mesma opinião. Com isso, pretende demonstrar uma conexão
interna entre comunicação bem-sucedida e representação dos fatos.
(b) É preciso que existam formas de acesso a condições de verdade que
prescindam toda e qualquer interpretação. Nesse caso, só podemos
compreender uma proposição quando sabemos qual é o caso quando
ela é verdadeira.
De (a) a (b) conclui-se que as funções de representação e comunicação
se pronunciam mutuamente.
Contudo, para além das ideias de Dummet, Habermas busca em meio a
toda a história do estudo de linguagem, terreno fértil para exercer aquilo que
pretende-se fazer nesses ensaios, retomar os problemas que permaneciam
suspensos desde tradições que custavam arriscar-se, abordando, diferente de
Frege e Russel cuja tendência redutora de análise da linguagem se limitaria a
semântica da proposição, propõe-se a trazer a tona as questões postas por um
pragmatismo de inspiração kantiana.
Filosofia hermenêutica e filosofia analítica – Duas versões complementares
da virada linguística

Você também pode gostar