17/0058026 Professor: Dra. Erick Calheiros Lima Disciplina: Filosofia da Linguagem
Jurgen Habermas – Verdade e Justificação
Ensaios filosóficos
Em ‘realismo após a virada linguística – introdução’, Habermas elucida
quais serão os objetos de estudo dos seus ensaios nesse livro. Considerando a abertura que a pragmática linguística possibilitou, no caso, serviu-se à formulação de uma teoria do agir comunicativo e da racionalidade. Com isso em vista, esses ensaios propõem-se a corrigir duas questões fundamentais da filosofia teórica, por um lado visa responder à questão ontológica do naturalismo: como a normatividade de um mundo da vida estruturado linguisticamente pode ser conciliada com a necessidade de um desenvolvimento histórico-natural de formas de vida socioculturais. Por outro lado, visa a questão epistemológica do realismo: como conciliar a suposição de um mundo que independe de nossas descrições, com a descoberta da filosofia da linguagem, cujo acesso nos é negado, que não seja mediatizado pela linguagem. Num primeiro momento, no capítulo sobre linguagem enquanto comunicação ou representação, Habermas traz um relato histórico sobre como a filosofia da linguagem é desenvolvida, desde Frege a Wittgenstein, perpassando pelas vias que deram primazia a linguagem enquanto simples e puramente representação, desde a concepção mentalista até a uma concepção de análise semântica, com Wittgenstein têm-se uma virada de paradigma, cujo primado da linguagem seria do seu caráter pragmático, da sua práxis. Todavia, assume que a filosofia analítica deu continuidade à teoria do conhecimento tratando como paradigmático a proposição enunciativa ou a asserção. Por essa via, assume que as questões da teoria da comunicação e da ação, da moral e do direito foram consideradas de segunda ordem. Contudo, importante é se pensar qual a relação entre representação e comunicação, para Michael Dummet a linguagem assume duas funções principais, de ser instrumento de comunicação e de ser um veículo de pensamento. Quando questionado sobre a função primaria, duas alternativas surgem a partir daí, (a) primeira é de que comunicação não pode exercer independência sobre representação e (b) segundo que representação não pode exercer um primado, ser independente, sobre comunicação. Para a primeira alternativa, surgiria uma “caricatura intencionalista de comunicação” e para a segunda se perderiam de vista as condições epistêmicas para a compreensão de proposições. (a) É necessário que o falante que afirme “Kp”, e que comunica o fato “que p”, que existe antes de tudo uma condição de verdade para que sua proposição possa ser antes de tudo aceita, e logo em seguida possa ter condição de se representar. Quando se diz algo nesse sentido, existe um propósito ilocucionário nessa frase, a de que o destinatário possa não tão somente tomar conhecimento de sua opinião, mas chegar também a mesma concepção, de forma a compartilhar também da mesma opinião. Com isso, pretende demonstrar uma conexão interna entre comunicação bem-sucedida e representação dos fatos. (b) É preciso que existam formas de acesso a condições de verdade que prescindam toda e qualquer interpretação. Nesse caso, só podemos compreender uma proposição quando sabemos qual é o caso quando ela é verdadeira. De (a) a (b) conclui-se que as funções de representação e comunicação se pronunciam mutuamente. Contudo, para além das ideias de Dummet, Habermas busca em meio a toda a história do estudo de linguagem, terreno fértil para exercer aquilo que pretende-se fazer nesses ensaios, retomar os problemas que permaneciam suspensos desde tradições que custavam arriscar-se, abordando, diferente de Frege e Russel cuja tendência redutora de análise da linguagem se limitaria a semântica da proposição, propõe-se a trazer a tona as questões postas por um pragmatismo de inspiração kantiana. Filosofia hermenêutica e filosofia analítica – Duas versões complementares da virada linguística