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Introdução

A teoria austríaca não acredita nos efeitos


positivos de políticas de estímulos econômicos.
Isso se deve ao seu subjetivismo radical, onde se
acredita que é impossível o estado conseguir
alocar eficientemente os recursos. Utilidade e
custos são imensuráveis, e qualquer tentativa de
beneficiar o indivíduo por meio de políticas
sociais provoca distorção na alocação dos
recursos. Dentre as mais graves nós temos
inflações, deflações e bolhas de crédito.
Entretanto, é bom deixar claro que isso não quer
dizer que todo tipo de deflação é ruim. Existem
casos em que a deflação é apenas um reflexo da
eficiência do capitalismo e das preferências dos
indivíduos.
Preferência temporal
Os recursos na terra são finitos, por isso as
pessoas devem escolher suas necessidades mais
urgentes. Através de suas preferências as pessoas
vão interagindo umas com as outras para atingir
seus objetivos. Agindo em seu próprio interesse,
o que não implica que todas as ações são egoístas,
pois a preferência pode ser ajudar o outro, as
pessoas são mais cuidadosas, já que sabem o
custo de tomar determinada decisão. Tomamos
cuidado nas nossas escolhas por conta da
incerteza, não sabemos o que o futuro nos
reserva, então o melhor a se fazer é procurar um
caminho que diminua nossos riscos. E o mercado
fornece essa diminuição: quanto mais
interagimos uns com os outros, o problema da
informação vai sendo resolvido e,
consequentemente, atingimos nossos objetivos.
Como o economista Friedrich von Hayek nos
ensinou, a informação é dispersa no mercado, e
para conseguirmos eficiência econômica devemos
buscar o conhecimento que nos fará aumentar
nossa satisfação.
A atividade empresarial desempenha um
papel importante na economia. Os empresários
ficam alertas às oportunidades de lucro,
produzindo o que os consumidores determinam.
Na economia de mercado, o soberano é o
consumidor. Aqui entramos com um importante
conceito: preferência temporal. Os consumidores
podem escolher consumir mais no presente ou no
futuro. Se escolherem mais no futuro, destinam
boa parte da renda para poupança, e recebem
uma recompensa enquanto o dinheiro estiver
parado, ou seja, os juros. A taxa de juros é
determinada pela preferência temporal dos
agentes: se desejam consumir mais no presente, a
taxa será alta, pois pegar dinheiro emprestado
(tem pouco disponível) sairá caro, e as pessoas
demonstram que não terão poder de compra alto
no futuro, ou seja, não estimulam novos
investimentos. Os empresários não vão investir
em bens de capital se os agentes preferem
consumir no presente, pois no futuro eles não
teriam renda pra suprir a oferta, caso investissem.
Já no caso inverso, com preferência para o futuro,
os empresários se interessam em investir na
produção, já que o consumo posterior vai crescer.
No primeiro caso, a taxa de juros é alta, no
segundo, baixa. E assim a preferência temporal
ajusta a taxa de juros que envia os sinais corretos
para os empresários.
Inflação e expansão de crédito
Os bancos centrais possuem o monopólio
de emissão de moeda, e quando eles aumentam a
quantidade de dinheiro em circulação, fazem
diminuir o poder de compra da população. Essa
diminuição do valor da moeda é prejudicial para
a economia, principalmente para os mais pobres.
Isso acontece porque os únicos beneficiados
temporários são os primeiros que recebem a
moeda, que tem seu poder de compra aumentado
do nada. Os mais pobres só recebem o aumento
de preço, e tem seu poder de compra reduzido
por conta da política do banco central. Não é a
toa que alguns economistas dizem que a inflação
é o "imposto dos pobres".
O economista Ludwig von Mises diferencia
a inflação "simples" da expansão de crédito[1]. No
primeiro caso, há apenas realocação de recursos
do setor público para o privado. No segundo,
temos a manipulação da taxa de juros pelo
estado, que provoca os ciclos econômicos. Com o
objetivo é facilitar o crédito para os empresários,
a preferência temporal dos agentes não é levada
em conta. Por exemplo, se a taxa de juros do
mercado fosse de 6% e o banco central
manipulasse para baixar para 4%, investimentos
que não seriam feitos antes, agora serão.
Contudo, esses investimentos não levam em
conta que a preferência temporal dos agentes é
de 6%, então, no futuro, não haverá demanda
para tanta produção. Assim, os empresários
endividados irão à falência. Ou seja, a
manipulação dos juros feita pelo estado é a causa
dos ciclos econômicos.
Um crescimento que respeite a preferência
temporal dos agentes é sustentável, pois os
recursos estão sendo alocados de forma que as
pessoas querem. Se os juros são baixados
artificialmente, os recursos não vão ser alocados
segundo a escolha original dos agentes, pois, os
empresários vão investir esperando demanda
futura, e os consumidores resolveram gastar mais
no presente. O único resultado possível é a crise e
quebra geral de empresas e bancos. E quando isso
acontece é necessário que o governo não tente
salvá-los, pois se os investimentos foram
incorretos, ajudá-los só seria criar uma bola de
neve: num primeiro momento a economia
voltaria a crescer, para depois a quebradeira se
tornar mais profunda.
Deflação
Apesar de o mainstream acadêmico
demonstrar o contrário, a deflação não é
necessariamente ruim. Deflação é quando a
moeda se torna mais valiosa e mais escassa em
relação à demanda. Segundo Joseph Salerno,
existem quatro tipos de deflação[2]: Growth
Deflation, Cash-Building Deflation, Bank-Credit
Deflation e Confiscatory Deflation.
Growth Deflation.
O aumento da produção, maior que a
desvalorização da moeda (causada pelo governo),
causa a valorização relativa da mesma. Isso é o
que temos visto durantes vários anos. Por
exemplo, o preço de aparelhos eletrônicos baixou
com o tempo devido ao ganho de produtividade e
avanço tecnológico. Então a moeda ganhou poder
de compra para esses produtos. Esse tipo de
deflação é benéfico, pois aumenta a satisfação das
pessoas.
Cash-Building Deflation
É o aumento da demanda por moeda com o
intuito de poupá-la. Essa deflação não é ruim,
pois está de acordo com a preferência temporal
dos agentes. Os indivíduos resolvem poupar mais
para consumir no futuro. É uma deflação de
acordo com as leis de mercado.
Bank-Credit Deflation
Essa deflação ocorre devido às reservas
fracionárias. Quando os depositantes vão sacar
seu dinheiro do banco e percebem que não há
para todo mundo, a corrida pela moeda aumenta
seu valor. Isso pode causar ainda uma crise
sistêmica, pois as pessoas ficarão desconfiadas
dos demais bancos, e podem fazer o mesmo. O
resultado será uma demanda crescente por
moeda, que causa sua valorização. Como está
claro, essa deflação não é boa, pois ocorre pela
errada percepção dos agentes de que os bancos
realmente têm toda a moeda que diz ter.
Confiscatory Deflation
Os governos usam como desculpa a inflação
para confiscar a poupança dos indivíduos. Essa
ação desrespeita o direito de propriedade das
pessoas, pois elas não podem usar o que lhes
pertence. E toda agressão à propriedade causa
ineficiência econômica, então esse tipo de
deflação não é desejável.
Conclusão
Pudemos perceber que qualquer tentativa
de manipulação da moeda por parte de uma
entidade coercitiva causa distorções no mercado
e perda de bem-estar dos indivíduos. A solução,
como para as demais áreas, é deixar que o
mercado cuide do fornecimento de moeda, que é
a única forma de gerar eficiência para as pessoas.
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Notas:
[1] Ver Larry J. Sechrest, Explaining
Malinvestment and Overinvestment.
[2] Ver Joseph T. Salerno, An Austrian
Taxonomy of Deflation.

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