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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

indivíduos, independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo


ou convicção político-filosófica;
 Efetividade: a atuação do Poder Púbico deve ser no sentido de
garantir a efetivação dos direitos e garantias previstas, com me-
canismos coercitivos;
 Indivisibilidade: porque não devem ser analisados isoladamen-
te. Por exemplo: o direito à vida, exige a segurança social (satis-
CONCEITO. CARACTERÍSTICAS. EVOLUÇÃO HISTÓRICA. fação dos direitos econômicos). A declaração universal, lembra
Flávia Piovesan, coloca no mesmo patamar de igualdade os direi-
CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS tos civis e políticos com os direitos econômicos e culturais.
A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este signifi-
ca. Direitos Humanos são os direitos do homem. Diria que são direitos que No final do século XX, a expressão "direitos humanos" assumiu o sig-
visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, nificado exato de direitos do homem, de acordo com a formulação, nas
direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, últimas décadas do século XVIII, das revoluções francesa e americana.
a liberdade, a dignidade da pessoa humana. No entanto, apesar de facil-
mente identificado, a construção de um conceito que o defina, não é uma Direitos humanos é a designação genérica dos direitos que dizem
tarefa fácil, em razão da amplitude do tema. respeito diretamente ao indivíduo, em decorrência de sua condição huma-
na e em consonância com a lei natural. No âmbito dos direitos humanos,
Vejamos quais os conceitos elaborados pelos estudiosos da área, so- distinguem-se duas áreas: a dos direitos civis e a das liberdades civis.
bre Direitos Humanos:
"Direitos Humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou O gozo da liberdade tem também seus limites e condições. Uma pes-
as imposições a este, expressas em declarações, dispositivos legais e soa pode ser legalmente livre para expressar suas opiniões, mas isso não
mecanismos privados e públicos, destinados a fazer respeitar e concreti- lhe assegura o direito de obrigar nenhum veículo a publicá-las. E mesmo
zar as condições de vida que possibilitem a todo o ser humano manter e que o faça mediante pagamento, estará obrigada a responder por suas
desenvolver suas qualidades peculiares de inteligência, dignidade e opiniões, atos ou palavras diante de seus concidadãos. A conquista das
consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades materiais e liberdades, que decorrem de um ideal genérico e comum a todos os
espirituais." homens, só se concretiza quando a elas corresponde uma norma jurídica
"Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões absolu- que assegura sua existência e respeito. Nesse sentido, os movimentos
tamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o pelos direitos civis podem ser vistos como tentativas de concretizar a
respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno igualdade de todos perante a lei.
desenvolvimento da personalidade humana."
"Direitos Humanos são uma idéia política com base moral e estão in- Histórico
timamente relacionados com os conceitos de justiça, igualdade e demo- A concepção de direitos humanos sofreu grande evolução no curso
cracia. Eles são uma expressão do relacionamento que deveria prevalecer da história. Já no quinto século a.C., na tragédia Antígona, de Sófocles, a
entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos e Estados. Os personagem assim se dirige ao rei Creonte, que quer impedi-la de sepultar
Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande o cadáver do irmão: "Mas toda a tua força é fraqueza, diante das tácitas e
ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e eco- imortais leis de Deus." Essa frase invoca uma lei mais alta, a lei natural --
nômico que essa nação adota." os direitos naturais inatos à condição humana. Embora tais direitos pos-
sam não constar de um código, estão inscritos na consciência coletiva da
O ilustre mestre João Baptista Herkenhoff, assim conceitua Direitos humanidade, e por isso têm sido invocados em toda a história, todas as
Humanos: "Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamen- vezes em que foram desrespeitados.
te, entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo
fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que Ao longo dos séculos, sempre houve uma íntima correlação entre a
a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da idéia de lei natural e a concepção dos direitos naturais do homem. Essa
sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política correlação pode ser vista nos textos dos estóicos gregos e romanos, nas
tem o dever de consagrar e garantir". mensagens do cristianismo primitivo, na filosofia de santo Tomás de
Aquino, nos tratadistas medievais ingleses, nos teólogos espanhóis dos
Podemos afirmar, portanto, como já o fizemos em trabalho anterior, séculos XVI e XVII e na obra de Hugo Grotius, fundador do moderno
que entende-se por Direitos Humanos, aqueles direitos inerentes à pessoa direito internacional.
humana, que visam resguardar a sua integridade física e psicológica
perante seus semelhantes e perante o Estado em geral. De forma a limitar Durante o Renascimento, por obra dos pensadores racionalistas, co-
os poderes das autoridades, garantindo, assim, o bem estar social através mo Descartes e Spinoza, começou a tomar vulto essa idéia de um direito
da igualdade, fraternidade e da proibição de qualquer espécie de discrimi- natural garantidor dos direitos essenciais do homem. A intolerância decor-
nação. http://www.dhnet.org.br/direitos rente das guerras religiosas e o absolutismo dificultaram a efetivação de
tais ideais. A paz de Augsburg, celebrada em 1555 na Alemanha para
Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de todos assegurar a igualdade de direitos de católicos e luteranos, estabeleceu
os seres humanos. Normalmente o conceito de direitos humanos tem a entretanto a fórmula cuius regio, eius religio, que obrigava os súditos de
idéia também de liberdade de pensamento e de expressão, e a igualdade um estado a professar a mesma religião do príncipe em cujo território
perante a lei. habitassem.

Características Somente na Inglaterra, em fins do século XVII, graças a inúmeros filó-


São características dos direitos humanos: sofos, entre eles John Locke, autor de Epistola de tolerantia (1689; Carta
 Imprescritibilidade: são imprescritíveis, ou seja, não se perdem sobre a tolerância), é que se passou a reconhecer a existência de direitos
pelo decurso de prazo; humanos. No século XVIII, filósofos e juristas do Iluminismo, com base
 Inalienabilidade: não há possibilidade de transferência, seja a tí- nas teorias do direito natural e do racionalismo, defenderam a idéia de que
tulo gratuito ou oneroso; · todo homem possui direitos naturais, anteriores e superiores ao próprio
 irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia (polêmica estado, que tem a obrigação de garanti-los. A Declaração de Independên-
discussão: eutanásia, aborto e suicídio); cia dos Estados Unidos, de 4 de julho de 1776, reconheceu isso.
 inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito por determina-
ções infraconstitucionais ou por ato das autoridades públicas, sob Também a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promul-
pena de responsabilidade civil, administrativa e criminal; gada pela Assembléia Nacional Francesa, em 26 de agosto de 1789,
 Universalidade: a abrangência desses direitos engloba todos os proclamava em seus 17 artigos que todos os homens são iguais perante a

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lei, com direitos naturais de liberdade de pensamento, de expressão, de consideram que Ocidente não criou a idéia nem o conceito do direitos
reunião e associação, de proteção contra a prisão arbitrária e de rebelar- humanos, ainda que se uma maneira concreta de sistematizá-los, uma
se contra o arbítrio e a opressão. discussão progressiva e o projeto de uma filosofia dos direitos humanos.

A essa primeira admissão de direitos políticos e civis somou-se, no As teorias que defendem o universalismo dos direitos humanos se
século XIX, uma segunda, referente aos direitos econômicos, sociais e contrapõem ao relativismo cultural, que afirma a validez de todos os
culturais, influenciada pelo pensamento socialista e impulsionada pelos sistemas culturais e a impossibilidade de qualquer valorização absoluta
movimentos revolucionários. Depois da segunda guerra mundial, novos desde um marco externo, que neste caso seriam os direitos humanos
movimentos desfraldaram a bandeira dos direitos à saúde e a um meio universais. Entre estas duas posturas extremas se situa uma gama de
ambiente saudável, sem poluição. posições intermediárias. Muitas declarações de direitos humanos emitidas
por organizações internacionais regionais põem um acento maior ou
No século XX, verifica-se no mundo civilizado a plena aceitação dos menor no aspecto cultural e dão mais importância a determinados direitos
direitos humanos, no plano nacional e internacional, embora sem uma de acordo com sua trajetória histórica. A Organização da Unidade Africana
compreensão homogênea de sua natureza doutrinária, ou mesmo de sua proclamou em 1981 a Carta Africana de Direitos Humanos e de Povos,
forma de aplicação. Com relação a alguns princípios, porém, pode-se falar que reconhecia princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos
de um consenso: os direitos humanos representam demandas individuais de 1948 e adicionava outros que tradicionalmente se tinham negado na
de participação nas decisões do governo e na riqueza nacional, sob a África, como o direito de livre determinação ou o dever dos Estados de
forma de acesso à educação básica livre e gratuita, à saúde e à moradia eliminar todas as formas de exploração econômica estrangeira. Mais
condigna, e da prerrogativa de representar contra quaisquer pessoas ou tarde, os Estados africanos que acordaram a Declaração de Túnez, em 6
instituições que limitem o exercício desses direitos; os direitos humanos de novembro de 1992, afirmaram que não se pode prescrever um modelo
fazem parte da ordem legal e moral; os direitos humanos são universais e determinado a nível universal, já que não podem se desvincular as
conferidos a qualquer homem pela simples razão de sua condição huma- realidades históricas e culturais de cada nação e as tradições, normas e
na; os direitos humanos de qualquer pessoa ou grupo têm validade até o valores de cada povo. Em uma linha similar se pronunciam a Declaração
ponto em que não agridam ou impeçam os direitos de outras pessoas e de Bangkok, emitida por países asiáticos em 23 de abril de 1993, e de
grupos. Não existe, entretanto, unanimidade de opiniões quanto aos Cairo, firmada pela Organização da Conferência Islâmica em 5 de agosto
chamados direitos prima facie ou fundamentais: se para alguns eles se de 1990.
limitam ao direito à vida e à liberdade, para outros englobam o direito à
propriedade. Também a visão ocidental-capitalista dos direitos humanos, centrada
nos direitos civis e políticos, se opôs um pouco durante a Guerra Fria,
A aceitação dos direitos humanos encontrou sua expressão mais cla- destacando no seio das Nações Unidas, ao do bloco socialista, que
ra na Carta das Nações Unidas, de 1945, e sobretudo na Declaração privilegiava os direitos econômicos, sociais e culturais e a satisfação das
Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, necessidades elementais.
em que se consubstanciam todos os direitos políticos e civis tradicional-
mente enfeixados nas constituições democráticas e se reafirma a fé nos Os direitos humanos são o resultado de uma longa história, foram
direitos fundamentais do homem, na dignidade e valor da pessoa humana, debatidos ao longo dos séculos por filósofos e juristas. O início desta
na igualdade de direitos entre homens e mulheres e entre as grandes e caminhada , remete-nos para a área da religião, quando o Cristianismo,
pequenas nações. Reconhece a proteção aos homens contra a prisão durante a Idade Média, é a afirmação da defesa da igualdade de todos os
arbitrária, a liberdade de pensamento, consciência e opinião e enumera os homens numa mesma dignidade, foi também durante esta época que os
direitos econômicos e os direitos do trabalhador, admite o direito a salário filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a teoria do direito natural,
igual para a execução de trabalhos iguais, o direito a formar e integrar em que o indivíduo esta no centro de uma ordem social e jurídica justa,
sindicatos, o direito ao descanso, o direito a um adequado nível de vida e mas a lei divina tem prevalência sobre o direito laico tal como é definido
o direito à educação. pelo imperador, o rei ou o príncipe.

Em 1966, após 19 anos de esforços e discussões, a assembléia geral Mais tarde, a Escola do direito natural, defendeu a existência de
da ONU aprovou por unanimidade dois acordos relativos a direitos huma- direitos que pertencem essencialmente ao homem, que são inerentes à
nos, civis e políticos. Esses acordos foram ratificados em 1976, em forma natureza, que ele goza pelo simples fato de ser homem. Com a idade
de duas convenções: uma econômica e social e outra política e civil. moderna, os racionalistas dos séculos XVII e XVIII, reformulam as teorias
Apesar da delonga e da natural dificuldade de fiscalização de sua aplica- do direito natural, deixando de estar submetido a uma ordem divina. Para
ção, ambos os diplomas constituíram um passo importante no reconheci- os racionalistas todos os homens são por natureza livres e têm certos
mento internacional dos direitos humanos e incorporaram os dispositivos direitos inatos de que não podem ser despojados quando entram em
da Declaração Universal. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publica- sociedade. Foi esta corrente de pensamento que acabou por inspirar o
ções Ltda. atual sistema internacional de proteção dos direitos do homem.

A ideia de direitos humanos tem origem no conceito filosófico de A evolução destas correntes veio a dar frutos pela primeira vez em
direitos naturais que seriam atribuídos por Deus; alguns sustentam que Inglaterra, e depois nos Estados Unidos. A Magna Carta (1215) deu
não haveria nenhuma diferença entre os direitos humanos e os direitos garantias contra a arbitrariedade da Coroa, e influencio diversos
naturais e vêem na distinta nomenclatura etiquetas para uma mesma documentos, como por exemplo o Ato Habeas Corpus (1679), que foi a
ideia. Outros argumentam ser necessário manter termos separadas para primeira tentativa para impedir as detenções ilegais. A Declaração
eliminar a associação com características normalmente relacionadas com Americana da Independência surgiu a 4 de Julho de 1776, onde
os direitos naturais., sendo John Locke talvez o mais importante filósofo a constavam os direitos naturais do ser humano que o poder político deve
desenvolver esta teoria. respeitar, esta declaração teve como base a Declaração de Virgínia
proclamada a 12 de Junho de 1776, onde estava expressa a noção de
Existe um importante debate sobre a origem cultural dos direitos direitos individuais.
humanos. Geralmente se considera que tenham sua raiz na cultura
ocidental moderna, mas existem ao menos duas posturas principais mais. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em
Alguns[quem?] afirmam que todas as culturas possuem visões de Franca em 1789, e as reivindicações ao longo dos séculos XIV e XV em
dignidade que se são uma forma de direitos humanos, e fazem referência prol das liberdades, alargou o campo dos direitos humanos e definiu os
a proclamações como a Carta de Mandén, de 1222, declaração direitos econômicos e sociais.
fundacional do Império de Malí. Não obstante, nem em japonês nem em
sânscrito clássico, por exemplo, existiu o termo direito até que se Mas o momento mais importante, na história dos Direitos do Homem,
produziram contatos com a cultura ocidental, já que estas culturas é durante 1945-1948. Em 1945, os Estados tomam consciência das
colocaram tradicionalmente um peso nos deveres. Existem também quem tragédias e atrocidades vividas durante a 2º Guerra Mundial, o que os

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levou a criar a Organização das Nações Unidas em prol de estabelecer e consideração mais estendida, outros autores consideram que os direitos
manter a paz no mundo. Foi através da Carta das Nações Unidas, humanos são uma constante na História e tem suas raízes no mundo
assinada a 20 de Junho de 1945, que os povos exprimiram a sua clássico; também sua origem se encontra na afirmãção do cristianismo da
determinação « em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra; dignidade moral do homem enquanto pessoa.
proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor
da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, Antecedentes remotos
assim como das nações, grande e pequenas; em promover o progresso Um dos documentos mais antigos que vinculou os direitos humanos é
social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade.». A o Cilindro de Ciro, que contêm uma declaração do rei persa (antigo Irã)
criação das Nações Unidas simboliza a necessidade de um mundo de CiroII depois de sua conquista da Babilônia em 539 aC. Foi descoberto
tolerância, de paz, de solidariedade entre as nações, que faça avançar o em 1879 e a ONU o traduziu em 1971 a todos seus idiomas oficiais. Pode
progresso social e econômico de todos os povos. ser resultado de uma tradição mesopotâmica centrada na figura do rei
justo, cujo primeiro exemplo conhecido é o rei Urukagina, de Lagash, que
reinou durante o século XXIV aC, e de onde cabe destacar também
Hammurabi da Babilônia e seu famoso Código de Hammurabi, que data
do século XVIII aC. O Cilindro de Ciro apresentava características
inovadoras, especialmente em relação a religião. Nele era declarada a
liberdade de religião e abolição da escravatura. Tem sido valorizado
positivamente por seu sentido humanista e inclusive foi descrito como a
primeira declaração de direitos humanos.

Documentos muito posteriores, como a Carta Magna da Inglaterra, de


1215, e a Carta de Mandén, de 1222, se tem associado também aos
direitos humanos. Na Roma antiga havia o conceito de direito na
O Cilindro de Ciro hoje no British Museum, a primeira declaração dos cidadania romana a todos romanos.
direitos humanos.
Confirmação do conceito
Os principais objetivos das nações unidas, passam por manter a paz, A conquista da América no século XVI pelos espanhóis resultou em
a segurança internacional, desenvolver relações amigáveis entre as um debate pelos direitos humanos na Espanha. Isto marcou a primeira
nações, realizar a cooperação internacional resolvendo problemas vez que se discutiu o assunto na Europa.
internacionais do cariz econômico, social, intelectual e humanitário,
desenvolver e encorajar o respeito pelos direitos humanos e pelas Durante a Revolução inglesa, a burguesia conseguiu satisfazer suas
liberdades fundamentais sem qualquer tipo de distinção. exigências de ter alguma classe de seguridade contra os abusos da coroa
e limitou o poder dos reis sobre seus súditos, proclamando a Lei de
Assim, a 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Habeas corpus em 1679, em 1689 o Parlamento impôs a Guilhermo III da
Unidas proclamou a Declaração Universal dos Direitos do Homem. A Inglaterra na Carta de Direitos (ou Declaração de direitos) uma série de
Declaração Universal dos Direitos do Homem é fundamental na nossa princípios sobre os quais os monarcas não podiam legislar ou decidir.
Sociedade, quase todos os documentos relativos aos direitos humanos
tem como referência esta Declaração, e alguns Estados fazem referência
direta nas suas constituições nacionais. A Declaração Universal dos
Direitos do Homem, ganhou uma importância extraordinária contudo não
obriga juridicamente que todos os Estados a respeitem e, devido a isso, a
partir do momento em que foi promulgada, foi necessário a preparação de
inúmeros documentos que especificassem os direitos presentes na
declaração e assim força-se os Estados a cumpri-la. Foi nesse contexto
que, no período entre 1945-1966 nasceram vários documentos.

Assim, a junção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, os


dois pactos efetuados em 1966, nomeadamente O Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
sócias e Culturais, bem como os dois protocolos facultativos do Pacto dos
Direitos Civis e Políticos (que em 1989 aboliu a pena de morte),
constituem A Carta Internacional dos Direitos do Homem.

Evolução histórica
Muitos filósofos e historiadores do Direito consideram que não se
pode falar de direitos humanos até a modernidade no Ocidente. Até então,
as normas da comunidade, concebidas na relação com a ordem cósmica,
não deixavam espaço para o ser humano como sujeito singular, se
concebendo o direito primariamente como a ordem objetivo da sociedade.
A sociedade estamental tem seu centro em grupos como a família, a
linhagem ou as corporações profissionais ou laborais, o que implica que
não se concebem faculdades próprias do ser humano enquanto tal. Pelo
contrário, se entende que toda faculdade atribuível ao indivíduo deriva de Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
um duplo status: o do sujeito no seio da família e o desta na sociedade.
Fora do status não há direitos. No século XVII e XVIII, filósofos europeus, destacando-se John Locke,
desenvolveram o conceito do direito natural. Os direitos naturais, para
A existência dos direitos subjetivos, tal e como se pensam na Locke, não dependiam da cidadania nem das leis de um Estado, nem
atualidade, será objeto de debate durante os séculos XVI, XVII e XVIII, o estavam necessariamente limitadas a um grupo étnico, cultural ou religioso
que é relevante porque habitualmente se diz que os direitos humanos são em particular. A teoria do contrato social, de acordo com seus três principais
produto da afirmação progressiva da individualidade e que, de acordo com formuladores, o já citado Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques
ele, a idéia de direitos do homem apareceu pela primeira vez durante a Rousseau, se baseia em que os direitos do indivíduo são naturais e que, no
luta burguesa contra o sistema do Antigo Regime. Sendo esta a estado de natureza, todos os homens são titulares de todos os direitos.

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A primeira declaração dos direitos humanos da época moderna é a gem, historicamente, com o surgimento dos direitos civis, no decorrer do
Declaração dos Direitos da Virgínia de 12 de junho de 1776, escrita por século XVIII – chamado Século das Luzes –, sob a forma de direitos de
George Mason e proclamada pela Convenção da Virgínia. Esta grande liberdade, mais precisamente, a liberdade de ir e vir, de pensamento, de
medida influenciou Thomas Jefferson na declaração dos direitos humanos religião, de reunião, pessoal e econômica, rompendo-se com o feudalismo
que se existe na Declaração da Independência dos Estados Unidos da medieval na busca da participação na sociedade. A concepção moderna
América de 4 de julho de 1776, assim como também influenciou a de cidadania surge, então, quando ocorre a ruptura com o Ancien Régime,
Assembléia Nacional francesa em sua declaração, a Declaração dos em virtude de ser ela incompatível com os privilégios mantidos pelas
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 esta última definia o direito classes dominantes, passando o ser humano a deter o status de "cida-
individual e coletivo das pessoas. dão".

A noção de direitos humanos não experimentou grandes mudanças O conceito de cidadania, entretanto, tem sido freqüentemente apre-
até o século seguinte com o início das lutas operárias, surgiram novos sentado de uma forma vaga e imprecisa. Uns identificam-na com a perda
direitos que pretendiam dar solução a determinados problemas sociais ou aquisição da nacionalidade; outros, com os direitos políticos de votar e
através da intervenção do Estado. Neste processo são importantes a ser votado. No Direito Constitucional, aparece o conceito, comumente,
Revolução Russa e a Revolução Mexicana. relacionado à nacionalidade e aos direitos políticos. Já na Teoria Geral do
Estado, aparece ligado ao elemento povo como integrante do conceito de
Desde o nascimento da Organização das Nações Unidas em 1945, o Estado. Dessa forma, fácil perceber que no discurso jurídico dominante, a
conceito de direitos humanos se tem universalizado, alcançando uma cidadania não apresenta um estatuto próprio pois na medida em que se
grande importância na cultura jurídica internacional. Em 10 de dezembro relaciona a estes três elementos (nacionalidade, direitos políticos e povo),
de 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e apresenta-se como algo ainda indefinido.(1)
proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em sua Resolução
217 A (III), como resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial e A famosa Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen, de 1789,
como intento de sentar as bases da nova ordem internacional que surgia sob a influência do discurso burguês, cindiu os direitos do "Homem" e do
atrás do armistício. Coincidência ou não, foi proclamada no mesmo ano da "Cidadão", passando a expressão Direitos do Homem a significar o con-
proclamação do estado de Israel. junto dos direitos individuais, levando-se em conta a sua visão extrema-
mente individualista, cuja finalidade da sociedade era a de servir aos
Posteriormente foram aprovados numerosos tratados internacionais indivíduos, ao passo que a expressão Direitos do Cidadão significaria o
sobre a matéria, entre os quais se destacam os Pactos Internacionais de conjunto dos direitos políticos de votar e ser votado, como institutos es-
Direitos Humanos de 1966, e foram criados numerosos dispositivos para senciais à democracia representativa.(2)
sua promoção e garantia.
Com o triunfo do liberalismo, sufocou-se, então, a idéia de democra-
DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E EDUCAÇÃO. cia, que só ocorre quando todas as camadas da sociedade têm as mes-
Uma nova concepção introduzida pela Constituição Fede- mas oportunidades de participação no processo econômico. Não era esta
ral de 1988 a preocupação da burguesia do Estado Liberal, no século XVIII.
Texto extraído do Jus Navigandi
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2074 A idéia de cidadão como participante da vida política do país em que
reside, fica facilmente perceptível pela leitura do Article VI da Déclaration,
Valerio de Oliveira Mazzuoli que dispõe:
advogado, professor da Faculdade de Direito de Presidente Prudente "La loi est l’expression de la volonté générale; tous les citoyens ont
(SP) droit de concourir personnelement, ou par leurs représentants à sa forma-
"A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e tion; elle doit être le même pour tous, soit qu’elle protège soit qu’elle
direitos dos seres humanos não é um dado. É um construído da convivên- punisse. Tous les citoyens étant égaux à ses yeux, sont également admis-
cia coletiva, que requer o acesso ao espaço público. É este acesso ao sibles à toutes dignités, places et emplois publics, selon leur capacité, et
espaço público que permite a construção de um mundo comum através do sans autres distinctions que celles de leurs vertus et de leurs talents."
processo de asserção dos direitos humanos." (Hannah Arendt)
Mais à frente, a Declaração, no seu Article XIV, também privilegia os
1. INTRODUÇÃO citoyens, nestes termos:
O objetivo do presente ensaio é tecer algumas reflexões sobre o rela- "Les citoyens ont le droit de constater par eux-mêmes ou par leurs re-
cionamento dos direitos humanos com a concepção contemporânea de présentants la nécessité de la contribution publique, de la consentir libre-
cidadania. Isto é, objetiva-se fazer um conjugado entre o processo de ment, d’en suivre l’emploi et d’en déterminer la quantité, l’assiette, le
internacionalização dos direitos humanos e a nova concepção de cidada- recouvrement et da durée."
nia introduzida pela Constituição Federal de 1988.
Na lição lapidar do Prof. José Afonso da Silva: "A idéia de representa-
Para tanto, num primeiro momento, buscou-se delinear, ainda que ção, que está na base no conceito de democracia representativa, é que
brevemente, o processo de internacionalização dos direitos humanos, cujo produz a primeira manifestação da cidadania que qualifica os participantes
marco inicial foi a Declaração Universal de 1948, bem como, a forma da vida do Estado – o cidadão, indivíduo dotado do direito de votar e ser
através da qual a Constituição brasileira de 1988 se relaciona com os votado –, oposta à idéia de vassalagem tanto quanto a de soberania
instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos ratificados aparece em oposição à de suserania. Mas, ainda assim, nos primeiros
pelo Estado brasileiro. tempos do Estado Liberal, o discurso jurídico reduzia a cidadania ao
conjunto daqueles que adquiriam os direitos políticos. Então, o cidadão
Depois de feito este estudo prévio, verificou-se de que maneira a no- era somente aquela pessoa que integrasse o corpo eleitoral. Era uma
va Carta brasileira, rompendo com a ordem jurídica anterior, passou a cidadania "censitária", porque era atributo apenas de quem possuísse
comungar os direitos humanos internacionalmente consagrados com a certos bens ou rendas".(3)
concepção contemporânea de cidadania.
A idéia de cidadão, que, na Antigüidade Clássica, conotava o habitan-
Por fim, buscou-se delinear qual o papel da educação em direitos te da cidade – o citadino – firma-se, então, como querendo significar
humanos, e quais as maneiras de se implementar, de forma sólida, além aquele indivíduo a quem se atribuem os direitos políticos, é dizer, o direito
dos princípios éticos que o cercam, uma cultura de direitos humanos, em de participar ativamente na vida política do Estado onde vive. Na Carta de
nosso meio e em nossa sociedade. 1824, por exemplo, falava-se, nos arts. 6.º e 7.º, em cidadãos brasileiros,
como querendo significar o nacional, ao passo que nos arts. 90 e 91 o
2. A CONSAGRAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO termo cidadão aparece designando aquele que pode votar e ser votado.
A cidadania é um processo em constante construção, que teve ori- Estes últimos eram chamados de cidadãos ativos, posto que gozavam de

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direitos políticos. Aqueles, por sua vez, pertenciam à classe dos cidadãos soas sujeitas à sua jurisdição.
inativos, destituídos dos direitos de eleger e ser eleito. Faziam parte, nas
palavras de José Afonso da Silva, de uma "cidadania amorfa", posto que Neste contexto marcado por inúmeras violações de direitos, cujo sal-
abstratos e alheios a toda uma realidade sociológica, sem referência do maior foram 11 milhões de mortos durante o período nazista, foi ne-
política.(4) cessário construir toda uma normatividade internacional, a fim de resguar-
dar e proteger esses direitos, até então inexistente. Viram-se os Estados
Assim, Homem e Cidadão recebiam significados diversos. É dizer, o obrigados a construir uma normatividade internacional eficaz, em que o
Cidadão teria um plus em relação àquele, consistente na titularidade de respeito aos direitos humanos encontrasse efetiva proteção. O tema,
direitos na ordem política, na participação da vida da sociedade e na então, tornou-se preocupação de interesse comum dos Estados, bem
detenção de riqueza, formando, assim, uma casta especial e mais favore- como um dos principais objetivos da comunidade internacional.(6)
cida, distinta do resto da grande e carente massa popular, considerados
simples indivíduos.(5) Como bem explica a Prof.ª Flávia Piovesan, diante da ruptura "do pa-
radigma dos direitos humanos, através da negação do valor da pessoa
Esta idéia, entretanto, vai sendo gradativamente modificada, quando humana como valor fonte do Direito", passou a emergir "a necessidade de
do início do processo de internacionalização dos direitos humanos, inicia- reconstrução dos direitos humanos, como referencial e paradigma ético
do com a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de que aproxime o direito da moral".(7)
1948. Passa-se a considerar como Cidadãos, a partir daí, não somente
aqueles detentores dos direitos civis e políticos, mas todos aqueles que O "direito a ter direitos", segundo a terminologia de Hannah Arendt,
habitam o âmbito da soberania de um Estado e deste Estado recebem passou, então, a ser o referencial primeiro de todo este processo interna-
uma carga de direitos (civis e políticos; sociais, econômicos e culturais) e cionalizante. Como resposta às barbáries cometidas no Holocausto,
também deveres, dos mais variados. começa, então, a aflorar todo um processo de internacionalização dos
direitos humanos, criando uma sistemática internacional de proteção,
A Constituição brasileira de 1988, consagra, desde o seu Título I (inti- mediante a qual se torna possível a responsabilização do Estado no plano
tulado Dos Princípios Fundamentais), esta nova concepção de cidadania, externo, quando, internamente, os órgãos competentes não apresentarem
iniciada com o processo de internacionalização dos direitos humanos. respostas satisfatórias na proteção desses mesmos direitos.
Deste modo, ao contrario do que ocorria no constitucionalismo do Império,
hoje, em face da Constituição vigente, aquela doutrina da cidadania ativa Um passo concreto foi dado, quando, no início do ano de 1945, em
e passiva, não tem mais nenhuma procedência. Chapultepec, no México, os vinte e um países da América se reuniram
firmando a tese de que um dos principais objetivos das Nações Unidas
Para bem se compreender o significado dessa nova concepção de ci- seria a elaboração de uma Carta dos Direitos do Homem, razão pela qual
dadania introduzida pela Carta de 1988, entretanto, é importante tecermos a Carta das Nações Unidas, de 26 de junho de 1945, ficara impregnada
alguns comentários sobre a gênese do processo de internacionalização da idéia do respeito aos direitos fundamentais do homem, desde o seu
dos direitos humanos, iniciado com o pós-Segunda Guerra, que culminou segundo considerando, onde se afirmou "a fé nos direitos fundamentais
na Declaração Universal de 1948, revigorada pela segunda Conferência do homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na igualdade dos
Mundial sobre Direitos Humanos, ocorrida em Viena, no ano de 1993. direitos de homens e mulheres e das Nações grandes e pequenas".(8)

3. O LEGADO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE 1948 AO PRO- Assim, a partir do surgimento da Organização das Nações Unidas, em
CESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 1945, e da conseqüente aprovação da Declaração Universal dos Direitos
Decorrido mais de meio século da proclamação da Declaração Uni- Humanos, em 1948, o Direito Internacional dos Direitos Humanos começa
versal de 1948, adentramo-nos hoje, ao que parece, na era internacional a aflorar e a solidificar-se de forma definitiva, gerando, por via de conse-
dos direitos ou dos direitos internacionalmente consagrados. Testemunha- qüência, a adoção de inúmeros tratados internacionais destinados a
se, hoje, uma crescente evolução na identidade de propósitos entre o proteger os direitos fundamentais dos indivíduos. Trata-se de uma época
Direito Interno e o Direito Internacional, no que respeita à proteção dos considerada como verdadeiro marco divisor do processo de internacionali-
direitos humanos, notadamente um dos temas centrais do Direito Interna- zação dos direitos humanos.(9) Antes disso a proteção aos direitos do
cional contemporâneo. homem estava mais ou menos restrita apenas a algumas legislações
internas dos países, como a inglesa de 1684, a americana de 1778 e a
A normatividade internacional de proteção dos direitos humanos, con- francesa de 1789. As questões humanitárias somente integravam a agen-
quistada através de incessantes lutas históricas, e consubstanciada em da internacional quando ocorria uma determinada guerra, mas logo men-
inúmeros tratados concluídos com este propósito, foi fruto de um lento e cionava-se o problema da ingerência interna em um Estado soberano e a
gradual processo de internacionalização e universalização desses mes- discussão morria gradativamente. Assim é que temas como o respeito às
mos direitos. minorias dentro dos territórios nacionais e direitos de expressão política
não eram abordados a fim de não se ferir o até então incontestável e
Os direitos humanos passaram, então, com o amadurecimento evolu- absoluto princípio de soberania.(10)
tivo deste processo, a transcender os interesses exclusivos dos Estados,
para salvaguardar, internamente, os interesses dos seres humanos prote- Surge, então, no âmbito da Organização das Nações Unidas, um sis-
gidos. tema global de proteção dos direitos humanos, tanto de caráter geral (a
exemplo do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos), como de
Esta nova concepção, assim, pretendeu afastar, de vez, o velho e ar- caráter específico (v.g., as Convenções internacionais de combate à
raigado conceito de soberania estatal absoluta, que considerava como tortura, à discriminação racial, à discriminação contra as mulheres, à
sendo os Estados os únicos sujeitos de direito internacional público, para violação dos direitos das crianças etc.). Revolucionou-se, a partir deste
proteger e amparar os direitos fundamentais de todos os cidadãos. Os momento, o tratamento da questão relativa ao tema dos direitos humanos.
indivíduos, a partir de então, foram erigidos à posição – de há muito Colocou-se o ser humano, de maneira inédita, num dos pilares até então
merecida – de sujeitos de direito internacional, dotados de mecanismos reservados aos Estados, alçando-o à categoria de sujeito de direito inter-
processuais eficazes para a salvaguarda dos seus direitos internacional- nacional. Paradoxalmente, o Direito Internacional feito pelos Estados e
mente protegidos. para os Estados começou a tratar da proteção internacional dos direitos
humanos contra o próprio Estado, único responsável reconhecido juridi-
É, entretanto, somente a partir da Segunda Guerra Mundial (1939- camente, querendo significar esse novo elemento uma mudança qualitati-
1945) que o Direito Internacional dos Direitos Humanos, efetivamente, se va para a comunidade internacional, uma vez que o direito das gentes não
consolida. Nascidos dos horrores da era Hitler, e da resposta às atrocida- mais se cingiria aos interesses nacionais particulares. Neste cenário, o
des cometidas a milhões de pessoas durante o nazismo, esses acordos cidadão, antes vinculado à sua Nação, passa a tornar-se, lenta e gradati-
internacionais protetivos dos direitos da pessoa humana têm criado obri- vamente, verdadeiro "cidadão do mundo".(11)
gações e responsabilidades para os Estados no que diz respeito às pes-

Direitos Humanos e Cidadania 5 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Mas a estrutura normativa de proteção internacional dos direitos hu- Conferência (Viena, 1993), reiterando os propósito da Declaração de
manos, além dos instrumentos de proteção global, de que são exemplos, 1948, consagrou os direitos humanos como tema global, reafirmando sua
dentre outros, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto universalidade, indivisibilidade e interdependência. Foi o que dispôs o
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos parágrafo 5.º da Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993,
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e cujo código básico é a chama- nestes termos:
da international bill of human rights, abrange também os instrumentos de "Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdepen-
proteção regional, aqueles pertencentes aos sistemas europeu, america- dentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os
no, asiático e africano (v.g., no sistema americano, a Convenção Ameri- direitos humanos de forma global, justa e eqüitativa, em pé de igualdade e
cana sobre Direitos Humanos). Da mesma forma que ocorre com o siste- com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais
ma de proteção global, aqui também se encontram instrumentos de alcan- devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos
ce geral e instrumentos de alcance especial. Gerais são aqueles que históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger
alcançam todas as pessoas, a exemplo dos tratados acima citados; espe- todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem
ciais, ao contrário, são os que visam apenas determinados sujeitos de seus sistemas políticos, econômicos e culturais".
direito, ou determinada categoria de pessoas, a exemplo das convenções
de proteção às crianças, aos idosos, aos grupos étnicos minoritários, às Compreendeu-se, finalmente, que a diversidade cultural (relativismo)
mulheres, aos refugiados, aos portadores de deficiência etc. não pode ser invocada para justificar violações aos direitos humanos. A
tese universalista defendida pelas nações ocidentais saiu, ao final, vence-
Tais sistemas, cabe observar, não são dicotômicos, mas complemen- dora, afastando-se de vez a idéia de relativismo cultural, em se tratando
tares uns dos outros, onde fica permitido ao indivíduo que sofreu violação de proteção internacional dos direitos humanos.
de direitos a escolha do aparato mais benéfico, tendo em vista que, não
raramente, vários direitos são tutelados por dois ou mais instrumentos de Enriqueceu-se, pois, o universalismo desses direitos, afirmando-se
alcance global ou regional ou ainda de alcance geral ou específico. Essa cada vez mais o dever dos Estados em promover e proteger os direitos
diversidade de sistemas, assim, interagem em prol da proteção da pessoa humanos violados, independentemente dos respectivos sistemas, não
humana.(12) mais se podendo questionar a observância dos direitos humanos com
base no relativismo cultural ou mesmo com base no dogma da soberani-
O "Direito Internacional dos Direitos Humanos", emergido com princí- a.(13) E, no que toca à indivisibilidade, ficou superada a dicotomia até
pios próprios, passa, então, a efetivamente solidificar-se como um corpus então existente entre as "categorias de direitos" (civis e políticos de um
juris dotado de uma multiplicidade de instrumentos internacionais de lado; econômicos, sociais e culturais, de outro), historicamente incorreta e
proteção que impõe obrigações e responsabilidades para os Estados no juridicamente infundada, porque não há hierarquia quanto a esses direitos,
que diz respeito às pessoas sujeitas à sua jurisdição. Sua observância, estando todos eqüitativamente balanceados, em pé de igualdade. É dizer,
assim, deixou de se subscrever ao interesse estritamente doméstico dos a classificação tradicional das "gerações de direitos" não corresponde,
Estados, para passar a ser matéria de interesse do Direito Internacional e historicamente, ao desenvolvimento do processo de efetivação e solidifi-
objeto de sua regulamentação. cação dos direitos humanos.

Rompendo com a distinção rígida existente entre Direito Público e Di- Objeta-se que se as gerações de direitos induzem à idéia de suces-
reito Privado, e libertando-se dos clássicos paradigmas até então existen- são – através da qual uma categoria de direitos sucede à outra que se
tes, o Direito Internacional dos Direitos Humanos passa a afirmar-se como finda –, a realidade histórica aponta, em sentido contrário, para a concomi-
um novo ramo do direito, dotado de autonomia, princípios e especificidade tância do surgimento de vários textos jurídicos concernentes a direitos
próprios, cuja finalidade é a de assegurar a proteção do ser humano, nos humanos de uma ou outra natureza. No plano interno, por exemplo, a
planos nacional e internacional, concomitantemente. consagração nas Constituições dos direitos sociais foi, em geral, posterior
ao dos direitos civis e políticos, ao passo que no plano internacional o
Foi neste cenário que a Declaração Universal de 1948, composta de surgimento da Organização Internacional do Trabalho, em 1919, propiciou
trinta artigos, precedidos de um "Preâmbulo" com sete considerandos, a elaboração de diversas convenções regulamentando os direitos sociais
conjugou num só todo tanto os direitos civis e políticos, tradicionalmente dos trabalhadores, antes mesmo da internacionalização dos direitos civis
chamados de direitos e garantias individuais (arts. 1.º ao 21), quanto os e políticos no plano externo.(14)
direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 ao 28). O art. 29 proclama
os deveres da pessoa para com a comunidade, na qual o livre e pleno O processo de desenvolvimento dos direitos humanos, assim, opera-
desenvolvimento de sua personalidade é possível, e no art. 30 consagra se em constante cumulação, sucedendo-se no tempo vários direitos que
um princípio de interpretação da Declaração sempre a favor dos direitos e mutuamente se substituem, consoante a concepção contemporânea
liberdades nela proclamados. Assim o fazendo, combinou a Declaração, desses direitos, fundada na sua universalidade, indivisibilidade e interde-
de forma inédita, o discurso liberal com o discurso social, ou seja, o valor pendência.
da liberdade com o valor da igualdade.
Afasta-se, pois, a visão fragmentária e hierarquizada das diversas ca-
Firma-se, então a concepção contemporânea de direitos humanos, tegorias de direitos humanos, para se buscar uma "concepção contempo-
fundada no duplo pilar baseado na universalidade e indivisibilidade desses rânea" desses mesmos direitos, a qual foi introduzida pela Declaração
direitos. Diz-se universal "porque a condição de pessoa há de ser o requi- Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de
sito único para a titularidade de direitos, afastada qualquer outra condi- Viena de 1993. Como destaca Carlos Weis, insistir na idéia geracional de
ção"; e indivisível "porque os direitos civis e políticos hão de ser somados direitos, "além de consolidar a imprecisão da expressão em face da noção
aos direitos sociais, econômicos e culturais, já que não há verdadeira contemporânea dos direitos humanos, pode se prestar a justificar políticas
liberdade sem igualdade e nem tampouco há verdadeira igualdade sem públicas que não reconhecem indivisibilidade da dignidade humana e,
liberdade". portanto, dos direitos fundamentais, geralmente em detrimento da imple-
mentação dos direitos econômicos, sociais e culturais ou do respeito aos
A Declaração de 1948, dessa forma, demarca – repita-se – a concep- direitos civis e políticos previstos nos tratados internacionais já antes
ção contemporânea de direitos humanos, deixando claro que não há citados" (15)
direitos civis e políticos sem direitos sociais, econômicos e culturais, ou
seja, não há liberdade sem igualdade. Da mesma forma, não há igualdade Desta forma, a dicotomia até então existente – leciona José Afonso
sem a plena a eficaz proteção da liberdade, ou seja, a igualdade fica da Silva – entre direitos civis (mais conhecidos como direitos individuais) e
esvaziada quando não assegurado o direito de liberdade concebido em políticos e direitos econômicos, sociais e culturais, vai sendo suplantada
seu sentido amplo. pelo reconhecimento doutrinário da universalidade, indivisibilidade e
interdependência dos direitos humanos.(16) E isto porque pensava-se que
Após um quarto de século da realização da primeira Conferência os direitos civis e políticos eram de aplicação imediata, bastando a abs-
Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Teerã em 1968, a segunda tenção do Estado para sua efetivação, ao passo que os direitos econômi-

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cos, sociais e culturais eram de aplicação progressiva, requerendo uma instância, quando a decisão recorrida: b) declarar a inconstitucionalidade
atuação positiva do Estado para que pudessem ser eficazes.(17) de tratado ou lei federal".

Problema muito discutido dizia respeito à eficácia das normas da De- Há, pois, neste cenário de proteção dos direitos humanos, um enfra-
claração Universal de 1948, uma vez que ela, por si só, não dispõe de quecimento da noção da não-interferência internacional em assuntos
aparato próprio que a faça valer. À vista disso é que, sob o patrocínio da internos, flexibilizando, senão abolindo, a própria noção de soberania
ONU, se tem procurado firmar vários pactos e convenções internacionais estatal absoluta.
a fim de assegurar a proteção aos direitos fundamentais do homem nela
consagrados, dentro dos quais destacam-se o Pacto Internacional dos A inovação, no § 2.º ao art. 5.º da Constituição de 1988, referente aos
Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, tratados internacionais de que o Brasil seja parte, assim, além de ampliar
Sociais e Culturais, ambos aprovados pela Assembléia-Geral da ONU, em os mecanismos de proteção da dignidade da pessoa humana, vem tam-
Nova York, aos 16 de dezembro de 1966. Surgiram estes tratados, pois, bém reforçar e engrandecer o princípio da prevalência dos direitos huma-
com a finalidade de conferir dimensão jurídica à Declaração de 1948, nos, consagrado pela Carta como um dos princípios pelo qual a República
tendo o primeiro pacto regulamentado os arts. 1.º ao 21 da Declaração, e Federativa do Brasil se rege nas suas relações internacionais (CF, art. 4.º,
o segundo os arts. 22 a 28.(18) II).

4. A ABERTURA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 AO A Carta de 1988 passou a reconhecer explicitamente, portanto, no
SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMA- que tange ao seu sistema de direitos e garantias, uma dupla fonte norma-
NOS tiva: aquela advinda do direito interno (direitos expressos e implícitos na
Rompendo com a ordem jurídica anterior, marcada pelo autoritarismo Constituição), e aquela outra advinda do direito internacional (decorrente
advindo do regime militar, que perdurou no Brasil de 1964 a 1985, a dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
Constituição brasileira de 1988, no propósito de instaurar a democracia no parte).
país e de institucionalizar os direitos humanos, faz como que uma revolu-
ção na ordem jurídica nacional, passando a ser o marco fundamental da Não bastasse esse extraordinário avanço, um outro ainda se apresen-
abertura do Estado brasileiro ao regime democrático e à normatividade ta. Os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos ratificados
internacional de proteção dos direitos humanos. pelo Estado brasileiro, passam a incorporar-se automaticamente em
nosso ordenamento, pelo que estatui o § 1.º do art. 5.º da nossa Carta:
Como marco fundamental do processo de institucionalização dos di- "As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm a-
reitos humanos no Brasil, a Carta de 1988, logo em seu primeiro artigo, plicação imediata".
erigiu a dignidade da pessoa humana a princípio fundamental (art. 1.º, III),
instituindo, com este princípio, um novo valor que confere suporte axioló- Ora, se as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais
gico a todo o sistema jurídico e que deve ser sempre levado em conta têm aplicação imediata, os tratados internacionais de proteção dos direitos
quando se trata de interpretar qualquer das normas constantes do orde- humanos, uma vez ratificados, por também conterem normas que dispõe
namento nacional. sobre direitos e garantias fundamentais, terão, dentro do contexto consti-
tucional brasileiro, idêntica aplicação imediata. Da mesma forma que são
A nova Constituição, além disso, seguindo a tendência do constitucio- imediatamente aplicáveis aquelas normas expressas nos arts. 5.º a 17 da
nalismo contemporâneo, deu um grande passo rumo a abertura do siste- Constituição da República, o são, de igual maneira, as normas contidas
ma jurídico brasileiro ao sistema internacional de proteção de direitos, nos tratados internacionais de direitos humanos de que o Brasil seja parte.
quando, no parágrafo 2.º do seu art. 5.º, deixou estatuído que:
"Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem Atribuindo-lhes a Constituição a natureza de "normas constitucionais",
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos e passando tais tratados a ter aplicabilidade imediata tão logo ratificados,
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja fica dispensada, por isso, a edição de decreto de promulgação a fim de
parte". irradiar seus efeitos tanto no plano interno como no plano internacional.
Já, nos casos de tratados internacionais que não versam sobre direitos
Estabelecendo a Carta de 1988 que os direitos e garantias nela elen- humanos, este decreto, materializando-os internamente, faz-se necessá-
cados "não excluem" outros provenientes dos tratados internacionais em rio. Em outra palavras, com relação aos tratados internacionais de prote-
que a República Federativa do Brasil seja parte, é porque ela própria está ção dos direitos humanos, foi adotado no Brasil o monismo internaciona-
a autorizar que tais direitos e garantias constantes nesse tratados "se lista kelseniano, dispensando-se da sistemática da incorporação, o decre-
incluem" no ordenamento jurídico brasileiro, como se escritos no rol de to executivo presidencial para seu efetivo cumprimento no ordenamento
direitos constitucionais estivessem. É dizer, se os direitos e garantias pátrio, de forma que a simples ratificação do tratado por um Estado impor-
expressos no texto constitucional "não excluem" outros provenientes de ta na incorporação automática de suas normas à respectiva legislação
tratados internacionais, é porque, pela lógica, na medida em que tais interna.
instrumentos passam a assegurar também direitos e garantias, a Constitu-
ição "os inclui" no seu catálogo dos direitos protegidos, ampliando, destar- Além disso, todos os direitos insertos nos referidos tratados interna-
te, o seu "bloco de constitucionalidade". cionais, cuja incorporação é automática, passam, também, a constituírem
cláusulas pétreas, não podendo ser suprimidos sequer por emenda à
Assim, ao incorporar em seu texto esses direitos internacionais, está Constituição (CF, art. 60, § 1.º, IV). É o que se extrai do resultado da
a Constituição atribuindo-lhes uma natureza especial e diferenciada, qual interpretação dos §§ 1.º e 2.º, do art. 5.º da Lei Fundamental, em cotejo
seja, a natureza de "norma constitucional", os quais passam a integrar, com o art. 60, § 4.º, IV, da mesma Carta. Isto porque, o §1.º, do art. 5.º, da
portanto, o elenco dos direitos constitucionalmente protegidos. Constituição da República, como se viu, dispõe expressamente que "as
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
Dessa forma, tanto os direitos como as garantias constantes dos tra- imediata". E o art. 60, § 4.º, IV, por sua vez, estabelece que qualquer
tados internacionais de que o Brasil seja parte, passam, com a ratificação proposta de emenda constitucional tendente a abolir os direitos e garanti-
desses mesmos instrumentos, a integrar o rol dos direitos e garantias as individuais não será objeto sequer de deliberação, tendo em vista o
constitucionalmente protegidos. núcleo imodificável desses direitos.

Há que se enfatizar, porém, que os demais tratados internacionais Em suma, tendo ingressado tais tratados pela porta de entrada do pa-
que não versem sobre direitos humanos, não têm natureza de norma rágrafo 2.º do art. 5.º da Carta Magna de 1988, passam eles, da mesma
constitucional; terão sim, natureza de norma infraconstitucional (mas forma que aqueles direitos e garantias insertos no texto constitucional: a)
supra-legal), extraída justamente do citado art. 102, III, b, da Carta Magna, a estar dentro dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1º,
que confere ao Supremo Tribunal Federal a competência para "julgar, inc. II a V); b) a permear os objetivos fundamentais do Estado brasileiro
mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última (art. 3º, inc. I, III e IV); c) a ser diretrizes que regem as relações interna-

Direitos Humanos e Cidadania 7 A Opção Certa Para a Sua Realização


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cionais da República Federativa do Brasil (art. 4º, inc. II), e; d) a constituí- da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
rem cláusula pétrea do texto constitucional (art. 60, § 4º, inc. IV), dando visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercí-
lugar à intervenção federal em caso de sua não-observância (art. 34, inc. cio da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205).
VII, b).
Outro dispositivo em que fica bastante marcada esta nova concepção
5. O CIDADÃO E A CIDADANIA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA de cidadania, é o art. 64 do Ato das Disposições Constitucionais Transitó-
DE 1988 rias, que dispõe: "A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, dos
"Tudo o que acontece no mundo, seja no meu país, na minha cidade Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta ou
ou no meu bairro, acontece comigo. Então eu preciso participar das deci- indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público,
sões que interferem na minha vida. Um cidadão com um sentimento ético promoverão edição popular do texto integral da Constituição, que será
forte e consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre mão posta à disposição das escolas e dos cartórios, dos sindicatos, dos quar-
desse poder de participação." Herbert de Souza (Betinho) téis, das igrejas e de outras instituições representativas da comunidade,
gratuitamente, de modo que cada cidadão brasileiro possa receber do
Como se viu, em face do processo de internacionalização dos direitos Estado um exemplar da Constituição do Brasil."
humanos, iniciado com a Declaração Universal de 1948, e reiterado na
segunda Conferência de Viena, em 1993, cidadãos, hoje, são todos Enfim, a Constituição de 1988, enriqueceu e ampliou os conceitos de
aqueles que habitam o âmbito da soberania de um Estado e deste Estado cidadão e cidadania. Seu entendimento, agora, como leciona José Afonso
têm assegurados, constitucionalmente, direitos fundamentais mínimos. da Silva, "decorre da idéia de Constituição dirigente, que não é apenas um
repositório de programas vagos a serem cumpridos, mas constitui um
O cidadão, torna-se, então, aquele indivíduo a quem a Constituição sistema de previsão de direitos sociais, mais ou menos eficazes, em torno
confere direitos e garantias – individuais, políticos, sociais, econômicos e dos quais é que se vem construindo a nova idéia de cidadania".(21) De
culturais –, e lhe dá o poder de seu efetivo exercício, além de meios forma que, não mais se trata de considerar a cidadania como simples
processuais eficientes contra a violação de seu gozo ou fruição por parte qualidade de gozar direitos políticos, mas sim de aferir-lhe um núcleo
do Poder Público. mínimo e irredutível de direitos (fundamentais) que devem se impor,
obrigatoriamente, à ação dos poderes públicos.
A Constituição brasileira de 1988, com a transição para o regime de-
mocrático e conseqüente abertura à normatividade internacional, consa- A cidadania, assim considerada – conclui brilhantemente o Prof. José
grou, expressamente, esta nova concepção de cidadania, como se depre- Afonso da Silva –, "consiste na consciência de pertinência à sociedade
ende da leitura de vários dos seus dispositivos, estando hoje superada a estatal como titular dos direitos fundamentais, da dignidade como pessoa
antiga doutrina, do tempo do constitucionalismo do império, da cidadania humana, da integração participativa no processo do poder, com a igual
ativa e passiva que significava a prerrogativa de quem podia participar da consciência de que essa situação subjetiva envolve também deveres de
vida política do país, ou seja, de quem detinha os direitos políticos,(19) e respeito à dignidade do outro e de contribuir para o aperfeiçoamento de
daqueles a quem faltava este atributo. todos".(22)

Observe-se que a Carta de 1988, ao tratar, no seu art. 14, dos direitos Vestir a camisa de cidadão, então, é ter consciência dos direitos e de-
políticos, não se refere, sequer em um momento, à expressão cidadania, veres constitucionalmente estabelecidos e participar ativamente de todas
dizendo apenas que a "soberania popular será exercida pelo sufrágio as questões que envolvem o âmbito de sua comunidade, de seu bairro, de
universal e pelo voto direito e secreto, com valor igual para todos (…)". sua cidade, de seu Estado e de seu país, não deixando passar nada, não
Pelo contrário: a Constituição faz uma separação entre cidadania e direi- se calando diante do mais forte nem subjugando o mais fraco.(23)
tos políticos quando, no seu art. 68, § 1.º, II, ao tratar das leis delegadas,
exclui do âmbito da delegação legislativa a "nacionalidade, cidadania, Vê-se, dessa forma, que a Carta de 1988 endossa esse novo conceito
direitos individuais, políticos e eleitorais". de cidadania, que tem na dignidade da pessoa humana sua maior raciona-
lidade e sentido. Consagra-se, de uma vez por todas, os pilares universais
Em alguns outros dispositivos da Constituição, a palavra cidadania dos direitos humanos contemporâneos fundados na sua universalidade,
(ou cidadão) poderia ainda ter a significação de direitos políticos, mas indivisibilidade e interdependência.
mesmo assim de forma implícita, a exemplo dos arts. 22, XIII, e 5.º, LXXII-
I. No primeiro se lê que compete à União legislar sobre "nacionalidade, A universalidade dos direitos humanos consolida-se, na Constituição
cidadania e naturalização", e no segundo que "qualquer cidadão é parte de 1988, a partir do momento em que ela consagra a dignidade da pessoa
legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio humana como núcleo informador da interpretação de todo o ordenamento
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade adminis- jurídico, tendo em vista que a dignidade é inerente a toda e qualquer
trativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o pessoa, sendo vedada qualquer discriminação. Quanto à indivisibilidade
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da dos direitos humanos, a Constituição de 1988 é a primeira Carta brasileira
sucumbência".(20) que integra, ao elenco dos direitos fundamentais, os direitos sociais, que
nas Cartas anteriores restava espraiados no capítulo pertinente à ordem
Mas o que importa é que a Constituição de 1988 abandona, sem em- econômica e social. A Carta de 1988, assim, foi a primeira a explicitamen-
bargo disso, o velho conceito de cidadania ativa e passiva, incorporando te prescrever que os direitos sociais são direitos fundamentais, sendo pois
em seu texto a concepção contemporânea de cidadania introduzida inconcebível separar o valor liberdade (direitos civis e políticos) do valor
pela Declaração Universal de 1948 e reiterada pela Conferência de igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais).
Viena de 1993.
Conclui-se, portanto, que a Constituição brasileira de 1988 endossa,
Foi nesse sentido que, pioneiramente, estatuiu a Carta de 1988, em de forma explícita, a concepção contemporânea de cidadania, afinada
seu art. 1.º, que a República Federativa do Brasil, formada pela união com as novas exigências da democracia e fundada no duplo pilar da
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos.
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos, dentre
outros, a cidadania (inc. II). Na mesma esteira, o disposto no art. 5.º, 6. EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: RESPONSABILIDADE
incisos LXXI ("conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de DE TODOS
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades Por fim, é necessário tecermos algumas palavras sobre o papel da
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania educação no processo de solidificação dos direitos humanos e da cidada-
e à cidadania") e LXXVII ("são gratuitas as ações de habeas-corpus e nia, cujo fundamento também se encontra no texto constitucional brasilei-
habeas-data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da ro.
cidadania"). No seu Título VIII, Capítulo II, Seção I, a Carta Magna de
1988 dispõe, ainda, que a "educação, direito de todos e dever do Estado e A Constituição de 1988, ao consagrar a universalidade e indivisibili-

Direitos Humanos e Cidadania 8 A Opção Certa Para a Sua Realização


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dade dos direitos humanos, também entrega ao Estado e ao cidadão – de Somente assim é que o exercício da cidadania e o respeito aos direi-
forma implícita – a tarefa de educar (dever) e ser educado (direito) em tos humanos estarão completos e definitivamente assegurados.
direitos humanos e cidadania. Somente com a colaboração de todos os
partícipes da sociedade e do Estado, é que os direitos humanos funda- 7. CONCLUSÕES
mentais alcançarão a sua plena efetividade. O papel de cada um na I – A idéia de cidadania surgiu como querendo significar a qualida-
construção desta nova concepção de cidadania é fundamental para o de do indivíduo a que se atribuíam direitos políticos de votar e
êxito dos objetivos desejados pela Declaração Universal de 1948 e pela ser votado. Falava-se, então em cidadãos ativos, que gozavam
Carta Constitucional brasileira. de direitos políticos, e em cidadãos inativos, destituídos dos di-
reitos de eleger e ser eleito. Assim, Homem e Cidadão recebi-
A educação em direitos humanos deve se dar de uma forma tal que am significados distintos. O Cidadão teria um plus em relação
os princípios éticos fundamentais que o cercam, sejam para todos nós – àquele, consistente na titularidade de direitos na ordem política.
membros da coletividade – tão naturais como que o próprio ar que respi- II – Em virtude do processo de internacionalização dos direitos hu-
ramos. A consolidação da cidadania, em sua forma plena, deve ser o fator manos, iniciado com a elaboração da Declaração Universal de
principal da criação de uma cultura em direitos humanos. A Declaração 1948, esta idéia vai sendo gradativamente modificada, passan-
Universal de 1948, a esse propósito, deixa bem claro que: "A instrução do a considerar-se cidadãos, todos aqueles que habitam o âm-
[leia-se: educação] será orientada no sentido do pleno desenvolvimento bito da soberania de um Estado e deste Estado recebem direi-
da personalidade humana e do fortalecimento e do respeito pelos direitos tos e deveres.
humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a III – Começou-se, a partir daí, a testemunhar-se uma crescente evo-
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos lução na identidade de propósitos entre o Direito Interno e o Di-
raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em reito Internacional, no que respeita à proteção dos direitos hu-
prol da manutenção da paz" (Artigo XXVI, 2.ª alínea). manos. Os direitos humanos passaram, então, com o amadu-
recimento evolutivo desse processo, a transcender os interes-
E foi seguindo esta trilha traçada pela Declaração Universal, que a ses exclusivos dos Estados, para salvaguardar, internamente,
Carta brasileira de 1988 estatuiu, no seu art. 205, que a "educação, direito os interesses dos seres humanos protegidos, afastando-se de
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada vez, o velho e arraigado conceito de soberania estatal absoluta,
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da que considerava como sendo os Estados os únicos sujeitos de
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para direito internacional público.
o trabalho". Assim o fazendo, conjugou a Constituição, de forma expressa, IV – O "direito a ter direitos", segundo a terminologia de Hannah A-
os "direitos humanos", a "cidadania" e a "educação", como querendo rendt, passou, então, a ser o referencial primeiro de todo este
significar que não há direitos humanos sem o exercício pleno da cidadani- processo internacionalizante. Aflorou-se, então, todo um pro-
a, e que não há cidadania sem uma adequada educação para o seu cesso de internacionalização dos direitos humanos, criando
exercício. De forma que, somente com a interação destes três fatores – uma sistemática internacional de proteção, mediante a qual se
direitos humanos, cidadania e educação – é que se poderá falar em um torna possível a responsabilização do Estado no plano externo,
Estado Democrático assegurador do exercício dos direitos e liberdades quando, internamente, os órgãos competentes não apresenta-
fundamentais decorrentes da condição de ser humano. rem respostas satisfatórias na proteção desses mesmos direi-
tos.
Como se vê, é também papel da educação o preparo para o exercício V – O Direito Internacional dos Direitos Humanos, como novo ramo
da cidadania, considerada aqui no seu sentido amplo, cuja consagração do Direito Internacional Público, emerge com princípios pró-
está assegurada tanto constitucionalmente, no âmbito do direito interno, prios, autonomia e especificidade, sendo característica de suas
quanto internacionalmente, no contexto dos instrumentos internacionais normas a expansividade decorrente da abertura tipológica de
de proteção dos direitos humanos. seus enunciados. Libertou-se, de vez, a rígida distinção até en-
tão existente entre Direito Público e Direito Privado, libertando-
Enfim, a efetiva proteção dos direitos humanos – nas palavras de D- se dos seus clássicos paradigmas.
yrceu Aguiar Dias Cintra Junior – "depende em muito de um processo VI – Os direitos humanos passaram, então, a fundar-se nos pilares
educacional capaz de formar novas gerações que se envolvam, desde da universalidade e indivisibilidade, consagrados pela Declara-
cedo, no compromisso ético com o tema".(24) ção universal de 1948 e reiterado pela Segunda Conferência
Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena, no ano de
E o que também dizem as sábias palavras do mestre André Franco 1993. Compreendeu-se, enfim, que o relativismo cultural não
Montoro, em mais uma de suas lições de extremada felicidade: pode ser invocado para justificar violações aos direitos huma-
"Não basta ensinar direitos humanos. É preciso lutar pela sua efetivi- nos internacionalmente consagrados. Ficou superada a dico-
dade. E, acima de tudo, trabalhar pela criação de uma cultura prática tomia até então existente entre "categorias de direitos" (civis e
desses direitos".(25) políticos de um lado; econômicos, sociais e culturais, de outro),
historicamente incorreta e juridicamente infundada, porque não
A falta de uma cultura em direitos humanos destrói, pois, todo o refe- há hierarquia quanto a esses direitos, estando todos eqüitati-
rencial ético e principiológico galgado ao longo deste mais de meio século vamente balanceados, em pé de igualdade.
da proclamação da Declaração Universal de 1948, inobstante o alto preço VII – A Constituição brasileira de 1988, marco fundamental do pro-
pago por toda a comunidade internacional para a consagração desses cesso de institucionalização dos direitos humanos no Brasil, re-
direitos, bem como para a sua efetiva positivação em diversos instrumen- cebe os tratados internacionais de proteção dos direitos huma-
tos internacionais de proteção. A conseqüência mais dramática disso, nos com índole e nível constitucional, além de dar aplicação
consiste no fato de ser toda a sociedade levada à irreflexão acerca da imediata às suas normas devidamente incorporadas. A abertura
produção do mal em massa (de que foi exemplo, dentre outros, o genocí- do sistema se deu no art. 5.º, § 2.º, que dispõe: "Os direitos e
dio cometido durante o período nazista) e na conseqüente falta de um garantias expressos nesta Constituição não excluem outros de-
mínimo de senso político e de espírito crítico por parte dos indivíduos que correntes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
a compõe.(26) tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte".
A tarefa de implementar os direitos humanos através da educação é, VIII – Assim, tendo tais tratados ingressado pela porta de entrada do
assim, dever de todos – cidadãos e governo. A educação em direitos § 2.º do art. 5.º da Carta Magna de 1988, passam eles, da
humanos, pois, deve se dar de forma a que os princípios éticos fundamen- mesma forma que aqueles direitos garantidos no texto constitu-
tais que os cercam sejam assimilados por todos nós, passando a orientar cional: a) a estar dentro dos fundamentos da República Federa-
as ações das gerações presentes e futuras, em busca da reconstrução tiva do Brasil (art. 1º, inc. II a V); b) a permear os objetivos fun-
dos direitos humanos e da cidadania em nosso país. damentais do Estado brasileiro (art. 3º, inc. I, III e IV); c) a ser
diretrizes que regem as relações internacionais da República

Direitos Humanos e Cidadania 9 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Federativa do Brasil (art. 4º, inc. II), e; d) a constituírem cláusu- e da Inglaterra? Dentro do NAFTA os cidadãos mexicanos terão
la pétrea do texto constitucional (art. 60, § 4º, inc. IV), dando os mesmos direitos que os norte-americanos? Ou alguns serão
lugar à intervenção federal em caso de sua não-observância mais cidadãos que os outros?" (Prefácio ao livro de Charles An-
(art. 34, inc. VII, b). tonio Kieling, Manifesto da cidadania, p. 14).
IX – A Constituição de 1988 abandona o velho conceito de ci- 6. Nas palavras de André Franco Montoro, a barbárie cometida du-
dadania ativa e passiva, incorporando em seu texto a con- rante o período nazista "provocou a revolta da consciência mun-
cepção contemporânea de cidadania introduzida pela De- dial e a constituição de um Tribunal Internacional, em Nuremberg,
claração Universal de 1948 e reiterada pela Conferência de para julgar os crimes contra a humanidade, violadores dos fun-
Viena de 1993. A Carta de 1988 endossa esse novo conceito damentos éticos da vida social. E deu origem ao movimento im-
de cidadania, que tem na dignidade da pessoa humana sua pulsionado pelas aspirações da população de todo mundo, culmi-
maior principiologia e racionalidade, consagrando-se de uma nando com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que
vez por todas, os pilares universais dos direitos humanos con- constitui um dos documentos fundamentais da civilização con-
temporâneos. temporânea. A Declaração abre-se com a denúncia histórica dos
X – A universalidade dos direitos humanos consolida-se, na Consti- ‘atos bárbaros, que revoltam a consciência da humanidade’. E a-
tuição de 1988, a partir do momento em que ela consagra a firma solenemente como valores universais, os direitos humanos
dignidade da pessoa humana como núcleo informador da inter- básicos, como o direito à vida, à liberdade, à segurança, à educa-
pretação de todo o ordenamento jurídico, tendo em vista que a ção, à saúde e outros, que devem ser respeitados e assegurados
dignidade é inerente a toda e qualquer pessoa, sendo vedada por todos os Estados e por todos os povos" ("Cultura dos Direitos
qualquer discriminação. Quanto à indivisibilidade dos direitos Humanos", p. 23).
humanos, a Constituição de 1988 integra, ao elenco dos direi- 7. Flávia Piovesan. Direitos humanos e o direito constitucional inter-
tos fundamentais, os direitos sociais, que nas Cartas anteriores nacional, 4.ª ed., p. 129.
restavam espraiados no capítulo pertinente à ordem econômica 8. José Afonso da Silva. "Impacto da Declaração Universal dos Di-
e social. reitos Humanos na Constituição brasileira de 1988", p. 190-191.
XI – A Constituição brasileira de 1988 endossa, portanto, de forma 9. Como destaca Carlos Weis: "A recente sistematização dos direi-
explícita, a concepção contemporânea de cidadania, afinada tos humanos em um sistema normativo internacional, marcada
com as novas exigências da democracia e fundada no duplo pi- pela proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos
lar da universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos. pela Assembléia-Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro
XII – A tarefa de implementar os direitos humanos através da educa- de 1948, representa tanto o ponto de chegada do processo histó-
ção é dever de todos – cidadãos e governo. A educação em di- rico de internacionalização dos direitos humanos como o traço i-
reitos humanos, pois, deve se dar de forma a que os princípios nicial de um sistema jurídico universal destinado a reger as rela-
éticos fundamentais que o cercam sejam assimilados por todos ções entre os Estados e entre estes e as pessoas, baseando-se
nós, passando a orientar nossas ações, em busca da recons- na proteção e promoção da dignidade fundamental do ser huma-
trução dos direitos humanos em nosso país. Só assim é que o no" (Direitos humanos contemporâneos, p. 21).
efetivo exercício da cidadania e o respeito aos direitos huma- 10. Cf. Ana Flávia Barros-Platiau e Ancelmo César Lins de Góis. "Di-
nos estarão completos. reito internacional e globalização", p. 35.
11. Ana Flávia Barros-Platiau e Ancelmo César Lins de Góis. Idem,
NOTAS ibidem.
12. Cf. Flávia Piovesan. Temas de direitos humanos, p. 31-32. O
1. O dicionarista Pedro Nunes, assim define o cidadão: "Pessoa que Prof. José Afonso da Silva, a esse respeito, leciona: "Em face
goza dos direitos civis e políticos de um Estado, devendo, entre- dessa diversificação, cabe, desde logo, uma observação geral,
tanto, obrigações atinentes aos mesmos. Cidadão brasileiro – na- qual seja: a de que tanto os tratados regionais como os destina-
cional que usufrui esses direitos; o estrangeiro, quando naturali- dos a proteger especialmente determinadas categorias de pesso-
zado. Tal qualidade pode também verificar-se pelo jus soli, quan- as ou situações especiais são complementares aos tratados ge-
do a pessoa nascida num Estado toma nacionalidade deste, ou rais de proteção dos direitos humanos. Não existem normas regi-
em virtude do jus sanguinis, se se origina por vínculo de sangue e onais de direitos humanos, mas apenas acordos regionais para
neste caso o filho segue a nacionalidade dos pais. O qualificativo verificar a aplicação de normas internacionais – observa Cristina
cidadão é empregado nos países de regime republicano. Corres- M. Cerna" ("Impacto da Declaração Universal dos Direitos Huma-
ponde a súdito, termo usado nos Estados monárquicos. No pas- nos na Constituição brasileira de 1988", p. 196).
sado, apenas os ricos e nobres eram considerados cidadãos em 13. Cf. Ana Flávia Barros-Platiau e Ancelmo César Lins de Góis. "Di-
alguns Estados, e, noutros, excluíam também as mulheres. Diz- reito internacional e globalização", p. 37.
se também do habitante de uma cidade. Citadino." (Dicionário de 14. Cf. Carlos Weis. Op. cit., p. 40-41.
tecnologia jurídica, p. 173). 15. Carlos Weis. Idem, p. 43-44.
2. Cf. José Afonso da Silva. "Faculdades de Direito e construção da 16. José Afonso da Silva. "Impacto da Declaração Universal dos Di-
cidadania", p. 138-139. reitos Humanos na Constituição brasileira de 1988", p. 196.
3. José Afonso da Silva. Idem, p. 139. 17. Cf. José Afonso da Silva. Idem, p. 196-197.
4. Cf. José Afonso da Silva. Idem, ibidem. 18. Cf. José Afonso da Silva. Idem, p. 193-194.
5. Nas palavras de Loraine Slomp Giron: "Hegel demonstra que na 19. Compõem os direitos políticos, na Carta de 1988, os direitos de
nova sociedade o indivíduo não nasce cidadão, para tornar-se ci- votar e ser votado, de referendo, plebiscito e iniciativa popular
dadão ele deve participar do mundo do trabalho. No mundo do das leis (CF, art. 14, incs. I, II e III). A soberania popular é exerci-
trabalho livre a cidadania só é conquistada por aquele que pode da pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
participar da produção. Os que estão fora dos setores produtivos igual para todos. O plebiscito consiste na prévia consulta ao povo
são apenas indivíduos e não cidadãos: condição de produtor e de (eleitorado) sobre a viabilidade de determinado projeto de lei ou
participante de uma corporação (sindicato) é que garante ao ho- medida administrativa. Compete ao Congresso Nacional a sua
mem sua condição de membro de um estado (sic), portanto de autorização bem como a do referendo (CF, art. 49, XV). Foi e-
cidadão. O enfraquecimento do Estado Nacional corresponde – xemplo de plebiscito a oportunidade de escolha entre república e
de uma certa forma – ao enfraquecimento da cidadania. O surgi- monarquia, que se deu no dia 7 de setembro de 1993 (art. 2.º, do
mento dos Mega Estados renova a dicotomia entre os direitos do ADCT, EC n.º 02). Já no referendo a consulta ao povo é posterior
indivíduo e do Estado. A antiga querela sobre o confronto entre o à adoção de determinada medida pelo governo ou à edição de
indivíduo e o estado (sic), que ocupou o pensamento iluminista, uma lei. Aqui, o eleitorado, depois de editada a medida, é chama-
volta a atualidade. Na Comunidade Européia os cidadãos dos pe- do para ratificá-la ou lhe retirar a eficácia, por meio do voto. Por
quenos países – como os gregos e os portugueses – terão os fim, a iniciativa popular consiste na apresentação, pelo povo, de
mesmos direitos que os dos grandes países como aos da França projeto de lei à Câmara dos Deputados subscrito, por nomínimo,

Direitos Humanos e Cidadania 10 A Opção Certa Para a Sua Realização


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um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por estruturalmente, legou-lhes a posição que ocupam na organiza-
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos e- ção social. Uma nova revolução do Senso político é que possibili-
leitores de cada um deles (CF, art. 61, § 2.º). O plebiscito, o refe- tará à humanidade reorganizar-se estruturalmente de forma dife-
rendo e a iniciativa popular são regulados pela Lei n.º 9.709, de rente das sociedades de hoje, pois acelera-se, cada vez mais, a
18 de novembro de 1988. percepção holística dos que compõem a sociedade, possibilitan-
20. Da mesma forma, os seguintes dispositivos: "Art. 58. O Congres- do que os líderes percam seu poder centralizador para as deci-
so Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e tem- sões das ‘massas populares’" (Manifesto da cidadania, cit., p. 39).
porárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no
respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 2º - Informações bibliográficas:
Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão (inc. V)."; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Direitos humanos, cidadania e edu-
"Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a cação. Uma nova concepção introduzida pela Constituição Federal de
qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do 1988. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 51, out. 2001. Disponível em:
Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2074>. Acesso em: 14 fev.
República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superio- 2008.
res, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma
e nos casos previstos nesta Constituição."; "Art. 74, § 2º. Qual-
PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA UTILIZAÇÃO DA FORÇA E
quer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte le-
gítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegali- ARMAS DE FOGO, ADOTADO PELA ONU EM 07/07/1990.
dades perante o Tribunal de Contas da União."; "Art. 89. O Con-
selho da República é órgão superior de consulta do Presidente da O Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime
República, e dele participam: VII - seis cidadãos brasileiros natos, e o Tratamento dos Delinqüentes, Recordando o Plano de Ação de Milão
com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados 130 adotado por consenso pelo Sétimo Congresso das Nações Unidas
pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes e aprovado
dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de pela Assembléia Geral na sua Resolução 40/32 de 29 de Novembro de
três anos, vedada a recondução."; "Art. 98. A União, no Distrito 1985,
Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: II - justiça de paz,
remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, uni- Recordando também a Resolução 14 do Sétimo Congresso 131 na
versal e secreto, com mandato de quatro anos e competência pa- qual o Congresso solicitou ao Comitê para a Prevenção do Crime e a Luta
ra, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em contra a Delinqüência que considerasse medidas adequadas para favore-
face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e cerem a aplicação efetiva do Código de Conduta para os Funcionários
exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além Responsáveis pela Aplicação da Lei,
de outras previstas na legislação."; "Art. 101. O Supremo Tribunal
Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cida- Tomando nota com satisfação dos trabalhos realizados em aplicação
dãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco a- da Resolução 14 do Sétimo Congresso pelo Comitê, pela Reunião Prepa-
nos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada."; e, fi- ratória Inter-regional do Oitavo Congresso das Nações Unidas para a
nalmente: "Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes consagrada às
que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a U- "Normas e Princípios Orientadores da Organização das Nações Unidas
nião, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei no domínio da prevenção do crime e da justiça penal e aplicação e priori-
complementar que dispuser sobre sua organização e funciona- dades tendo em vista a definição de novas normas" e pelas reuniões
mento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do preparatórias regionais do Oitavo Congresso,
Poder Executivo. § 1º - A Advocacia-Geral da União tem por che- 1. Adota os Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Ar-
fe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presiden- mas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da
te da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, Lei, que figuram no anexo à presente resolução;
de notável saber jurídico e reputação ilibada." 2. Recomenda os Princípios Básicos para ação e aplicação a nível
21. José Afonso da Silva. "Faculdades de Direito e construção da ci- nacional, regional e inter-regional, tendo em conta a situação e as
dadania", cit., p. 141. tradições políticas, econômicas, sociais e culturais de cada país;
22. José Afonso da Silva. Idem, p. 142. 3. Convida os Estados membros a tomarem em consideração e a
23. Cf. Carla Rodrigues & Herbert de Souza. Ética e cidadania (cole- respeitarem os Princípios Básicos no quadro das respectivas le-
ção polêmica). São Paulo: Editora Moderna, 1994. Para Charles gislação e prática nacionais;
Antonio Kieling: "A cidadania e, conseqüentemente, o bem co- 4. Convida igualmente os Estados membros a submeterem os Prin-
mum só existem quando o Estado, o mantenedor da organização cípios Básicos à atenção dos funcionários responsáveis pela apli-
social, preserva a sobrevivência, sem distinção, desde o mais cação da lei e de outros membros do poder executivo, de magis-
vulnerável ser até o mais apto, regulamentando as ações. A cida- trados, advogados, órgãos legislativos e do público em geral;
dania exige a perfeita sintonia entre os Poderes e o Povo, entre 5. Convida ainda os Estados membros a informarem o Secretário-
as diferentes classes e faixas etárias e entre as diferentes etnias. Geral, de cinco em cinco anos a partir de 1992, dos progressos
E do conjunto maior sairá a vitória da Democracia" (Manifesto da realizados na aplicação dos Princípios Básicos, incluindo a sua
cidadania. Caxias do Sul: Maneco Livraria & Editora, 2001, p. difusão, incorporação na legislação, práticas, procedimentos e
100). políticas internas, problemas encontrados na sua aplicação a ní-
24. Dyrceu Aguiar Dias Cintra Junior. "O judiciário brasileiro em face vel nacional e assistência que poderia ser necessária da parte da
dos direitos humanos", p. 32-33. comunidade internacional e solicita ao Secretário-Geral que ela-
25. André Franco Montoro. "Cultura dos Direitos Humanos", p. 28. bore um relatório sobre o assunto para o Nono Congresso das
26. Nas palavras de Charles Antonio Kieling: "Se, no passado, o Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos
Senso político significou para o homem perceber a natureza co- Delinqüentes;
mo um todo, entendê-la, dominá-la e ao mesmo tempo perceber 6. Apela aos Governos para que promovam a organização, a nível
que era necessário defender-se de suas adversidades a fim de ti- nacional e regional, de seminários e cursos de formação sobre a
rar proveito dela, hoje significa perceber o conjunto social. Muito função de aplicação da lei e sobre a necessidade de limitar a utili-
mais complexo que um Senso Político contra a natureza animal é zação da força e de armas de fogo pelos funcionários responsá-
desenvolver um Senso político contra as várias formas de domi- veis pela aplicação da lei;
nação que oprimem o seu humano dentro do ‘tecido’ social. É ne- 7. Solicita insistentemente às comissões regionais, aos institutos re-
cessário um novo despertar do Senso Político. Os seres humanos gionais e inter-regionais para a prevenção do crime e a justiça
oprimidos e dominados precisam perceber o conjunto social que, penal, às instituições especializadas e outros organismos do sis-

Direitos Humanos e Cidadania 11 A Opção Certa Para a Sua Realização


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tema das Nações Unidas, às outras organizações intergoverna- vida, à liberdade e à segurança das pessoas, bem como à responsabilida-
mentais interessadas e às organizações não governamentais do- de dos mesmos na manutenção da segurança pública e da paz social e à
tadas de estatuto consultivo junto do Conselho Econômico e So- importância das suas qualificações, formação e conduta, Os Governos
cial, que participem ativamente na aplicação dos Princípios Bási- devem ter em conta os Princípios Básicos a seguir enunciados, que foram
cos e informem o Secretário-Geral dos esforços feitos para difun- formulados tendo em vista auxiliar os Estados membros a garantirem e a
dir e aplicar os Princípios Básicos, bem como da medida em que promoverem o verdadeiro papel dos funcionários responsáveis pela
aqueles princípios são aplicados, e solicita ao Secretário-Geral aplicação da lei, a observá-los no quadro das respectivas legislação e
que inclua essa informação no seu relatório para o Nono Con- prática nacionais e a submetê-los à atenção dos funcionários responsá-
gresso; veis pela aplicação da lei, bem como de outras pessoas como os juízes,
8. Convida o Comitê para a Prevenção do Crime e a Luta contra a os magistrados do Ministério Público, os advogados, os representantes do
Delinqüência a examinar com prioridade os meios de garantir a poder executivo e do poder legislativo e o público em geral.
aplicação efetiva da presente resolução;
9. Solicita ao Secretário-Geral que: Disposições gerais
a) Tome as medidas adequadas para submeter a presente resolu- 1. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e
ção à atenção dos Governos e de todos os organismos das Na- aplicar regras sobre a utilização da força e de armas de fogo con-
ções Unidas interessados e para assegurar a mais ampla difusão tra as pessoas, por parte dos funcionários responsáveis pela apli-
possível dos Princípios Básicos; cação da lei. Ao elaborarem essas regras, os Governos e os or-
b) Inclua os Princípios Básicos na próxima edição da publicação das ganismos de aplicação da lei devem manter sob permanente ava-
Nações Unidas intitulada Direitos do Homem: Compilação de Ins- liação as questões éticas ligadas à utilização da força e de armas
trumentos Internacionais; de fogo.
c) Forneça aos Governos, que o solicitem, os serviços de peritos e 2. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desen-
conselheiros regionais e interregionais para colaborarem na apli- volver um leque de meios tão amplo quanto possível e habilitar os
cação dos Princípios Básicos e informe o Nono Congresso sobre funcionários responsáveis pela aplicação da lei com diversos ti-
a assistência técnica e a formação efetivamente prestadas; pos de armas e de munições, que permitam uma utilização dife-
d) Elabore um relatório para a décima segunda sessão do Comitê, renciada da força e das armas de fogo. Para o efeito, deveriam
sobre as medidas tomadas para aplicação dos Princípios Bási- ser desenvolvidas armas neutralizadoras não letais, para uso nas
cos; situações apropriadas, tendo em vista limitar de modo crescente
10. Solicita ao Nono Congresso e às respectivas reuniões preparató- o recurso a meios que possam causar a morte ou lesões corpo-
rias que apreciem os progressos realizados na aplicação dos rais. Para o mesmo efeito, deveria também ser possível dotar os
Princípios Básicos. funcionários responsáveis pela aplicação da lei de equipamentos
defensivos, tais como escudos, viseiras, coletes antibalas e veí-
ANEXO culos blindados, a fim de se reduzir a necessidade de utilização
Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo de qualquer tipo de armas.
pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei 3. O desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não le-
Considerando que o trabalho dos funcionários responsáveis pela apli- tais deveria ser objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de re-
cação da lei representa um serviço social de grande importância e que, duzir ao mínimo os riscos com relação a terceiros, e a utilização
conseqüentemente, há que manter e, se necessário, aperfeiçoar, as suas dessas armas deveria ser submetida a um controle estrito.
condições de trabalho e o seu estatuto, 4. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, no exercício
Considerando que a ameaça à vida e à segurança dos funcionários das suas funções, devem, na medida do possível, recorrer a mei-
responsáveis pela aplicação da lei deve ser considerada como uma ame- os não violentos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só
aça à estabilidade da sociedade no seu todo, poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outros meios se
Considerando que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultado de-
têm um papel essencial na proteção do direito à vida, à liberdade e à sejado.
segurança da pessoa, tal como garantido pela Declaração Universal dos 5. Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja in-
Direitos do Homem e reafirmado no Pacto Internacional sobre os Direitos dispensável, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei
Civis e Políticos, devem:
Considerando que as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclu- a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à
sos prevêem as circunstâncias em que os funcionários prisionais podem gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar;
recorrer à força no exercício das suas funções, Considerando que o artigo b) Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respei-
3.º do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Apli- tarem e preservarem a vida humana;
cação da Lei dispõe que esses funcionários só podem utilizar a força c) Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pes-
quando for estritamente necessário e somente na medida exigida para o soas feridas ou afetadas, tão rapidamente quanto possível;
desempenho das suas funções, Considerando que a reunião preparatória d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas
inter-regional do Sétimo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto
do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes, que teve lugar em Varenna possível.
(Itália), acordou nos elementos que deveriam ser apreciados, no decurso 6. Sempre que da utilização da força ou de armas de fogo pelos
dos trabalhos ulteriores, com relação às restrições à utilização da força e funcionários responsáveis pela aplicação da lei resultem lesões
de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, ou a morte, os responsáveis farão um relatório da ocorrência aos
Considerando que o Sétimo Congresso, na sua resolução, sublinha, seus superiores, de acordo com o princípio 22.
nomeadamente, que a utilização da força e de armas de fogo pelos fun- 7. Os Governos devem garantir que a utilização arbitrária ou abusi-
cionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser conciliada com o va da força ou de armas de fogo pelos funcionários responsáveis
respeito devido pelos Direitos do Homem, pela aplicação da lei seja punida como infração penal, nos termos
Considerando que o Conselho Econômico e Social, na secção IX da da legislação nacional.
sua Resolução 1986/10, de 21 de Maio de 1986, convidou os Estados 8. Nenhuma circunstância excepcional, tal como a instabilidade polí-
membros a concederem uma atenção particular, na aplicação do Código, tica interna ou o estado de emergência, pode ser invocada para
à utilização da força e de armas de fogo pelos funcionários responsáveis justificar uma derrogação dos presentes Princípios Básicos. Dis-
pela aplicação da lei e que a Assembléia Geral, na sua Resolução 41/149, posições especiais
de 4 de Dezembro de 1986, se congratula com esta recomendação do 9. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem fa-
Conselho, zer uso de armas de fogo contra pessoas, salvo em caso de legí-
Considerando que é conveniente atender, tendo em devida conta as tima defesa, defesa de terceiros contra perigo iminente de morte
exigências de segurança pessoal, ao papel dos funcionários responsáveis ou lesão grave, para prevenir um crime particularmente grave que
pela aplicação da lei na administração da justiça, na proteção do direito à ameace vidas humanas, para proceder à detenção de pessoa

Direitos Humanos e Cidadania 12 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

que represente essa ameaça e que resista à autoridade, ou im- Habilitações, formação e aconselhamento
pedir a sua fuga, e somente quando medidas menos extremas se 18. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir
mostrem insuficientes para alcançarem aqueles objetivos. Em que todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei se-
qualquer caso, só devem recorrer intencionalmente à utilização jam selecionados de acordo com procedimentos adequados, pos-
letal de armas de fogo quando isso seja estritamente indispensá- suam as qualidades morais e aptidões psicológicas e físicas exi-
vel para proteger vidas humanas. gidas para o bom desempenho das suas funções e recebam uma
10. Nas circunstâncias referidas no princípio 9, os funcionários res- formação profissional contínua e completa. Deve ser submetida a
ponsáveis pela aplicação da lei devem identificar-se como tal e reapreciação periódica a sua capacidade para continuarem a de-
fazer uma advertência clara da sua intenção de utilizarem armas sempenhar essas funções.
de fogo, deixando um prazo suficiente para que o aviso possa ser 19. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir
respeitado, exceto se esse modo de proceder colocar indevida- que todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei re-
mente em risco a segurança daqueles responsáveis, implicar um cebam formação e sejam submetidos a testes de acordo com
perigo de morte ou lesão grave para outras pessoas ou se se normas de avaliação adequadas sobre a utilização da força. Os
mostrar manifestamente inadequado ou inútil, tendo em conta as funcionários responsáveis pela aplicação da lei que devam trans-
circunstâncias do caso. portar armas de fogo deveriam ser apenas autorizados a fazê-lo
11. As normas e regulamentações relativas à utilização de armas de após recebimento de formação especial para a sua utilização.
fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem 20. Na formação dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei,
incluir diretrizes que: a) Especifiquem as circunstâncias nas quais os Governos e os organismos de aplicação da lei devem conce-
os funcionários responsáveis pela aplicação da lei sejam autori- der uma atenção particular às questões de ética policial e de di-
zados a transportar armas de fogo e prescrevam os tipos de ar- reitos do homem, em particular no âmbito da investigação, aos
mas de fogo e munições autorizados; b) Garantam que as armas meios de evitar a utilização da força ou de armas de fogo, incluin-
de fogo sejam utilizadas apenas nas circunstâncias adequadas e do a resolução pacífica de conflitos, ao conhecimento do compor-
de modo a reduzir ao mínimo o risco de danos inúteis; c) Proíbam tamento de multidões e aos métodos de persuasão, de negocia-
a utilização de armas de fogo e de munições que provoquem le- ção e mediação, bem como aos meios técnicos, tendo em vista
sões desnecessárias ou representem um risco injustificado; d) limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos
Regulamentem o controle, armazenamento e distribuição de ar- de aplicação da lei deveriam rever o seu programa de formação e
mas de fogo e prevejam nomeadamente procedimentos de acor- procedimentos operacionais, em função de incidentes concretos.
do com os quais os funcionários responsáveis pela aplicação da 21. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir
lei devam prestar contas de todas as armas e munições que lhes aconselhamento psicológico aos funcionários responsáveis pela
sejam distribuídas; e) Prevejam as advertências a efetuar, sendo aplicação da lei envolvidos em situações em que sejam utilizadas
caso disso, se houver utilização de armas de fogo; f) Prevejam a força e armas de fogo.
um sistema de relatórios de ocorrência, sempre que os funcioná-
rios responsáveis pela aplicação da lei utilizem armas de fogo no Procedimentos de comunicação hierárquica e de inquérito
exercício das suas funções. 22. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem estabe-
lecer procedimentos adequados de comunicação hierárquica e de
Manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais inquérito para os incidentes referidos nos princípios 6 e 11 f). Pa-
12. Dado que a todos é garantido o direito de participação em reuni- ra os incidentes que sejam objeto de relatório por força dos pre-
ões lícitas e pacíficas, de acordo com os princípios enunciados na sentes Princípios, os Governos e os organismos de aplicação da
Declaração Universal dos Direitos do Homem e no Pacto Interna- lei devem garantir a possibilidade de um efetivo procedimento de
cional sobre os Direitos Civis e Políticos, os Governos e os servi- controle e que autoridades independentes (administrativas ou do
ços e funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem re- Ministério Público), possam exercer a sua jurisdição nas condi-
conhecer que a força e as armas de fogo só podem ser utilizadas ções adequadas. Em caso de morte, lesão grave, ou outra con-
de acordo com os princípios 13 e 14. seqüência grave, deve ser enviado de imediato um relatório deta-
13. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem esfor- lhado às autoridades competentes encarregadas do inquérito
çar-se por dispersar as reuniões ilegais, mas não violentas, sem administrativo ou do controle judiciário.
recurso à força e, quando isso não for possível, limitar a utilização 23. As pessoas contra as quais sejam utilizadas a força ou armas de
da força ao estritamente necessário. fogo ou os seus representantes autorizados devem ter acesso a
14. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem uti- um processo independente, em particular um processo judicial.
lizar armas de fogo para dispersarem reuniões violentas se não Em caso de morte dessas pessoas, a presente disposição aplica-
for possível recorrer a meios menos perigosos, e somente nos li- se às pessoas a seu cargo.
mites do estritamente necessário. Os funcionários responsáveis 24. Os Governos e organismos de aplicação da lei devem garantir
pela aplicação da lei não devem utilizar armas de fogo nesses que os funcionários superiores sejam responsabilizados se, sa-
casos, salvo nas condições estipuladas no princípio 9. bendo ou devendo saber que os funcionários sob as suas ordens
utilizam ou utilizaram ilicitamente a força ou armas de fogo, não
Manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas tomaram as medidas ao seu alcance para impedirem, fazerem
15. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem uti- cessar ou comunicarem este abuso.
lizar a força na relação com pessoas detidas ou presas, exceto se 25. Os Governos e organismos responsáveis pela aplicação da lei
isso for indispensável para a manutenção da segurança e da or- devem garantir que nenhuma sanção penal ou disciplinar seja
dem nos estabelecimentos penitenciários, ou quando a seguran- tomada contra funcionários responsáveis pela aplicação da lei
ça das pessoas esteja ameaçada. que, de acordo como o Código de Conduta para os Funcionários
16. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem uti- Responsáveis pela Aplicação da Lei e com os presentes Princí-
lizar armas de fogo na relação com pessoas detidas ou presas, pios Básicos, recusem cumprir uma ordem de utilização da força
exceto em caso de legítima defesa ou para defesa de terceiros ou armas de fogo ou denunciem essa utilização por outros fun-
contra perigo iminente de morte ou lesão grave, ou quando essa cionários.
utilização for indispensável para impedir a evasão de pessoa de- 26. A obediência a ordens superiores não pode ser invocada como
tida ou presa representando o risco referido no princípio 9. meio de defesa se os responsáveis pela aplicação da lei sabiam
17. Os princípios precedentes entendem-se sem prejuízo dos direi- que a ordem de utilização da força ou de armas de fogo de que
tos, deveres e responsabilidades dos funcionários dos estabele- resultaram a morte ou lesões graves era manifestamente ilegal e
cimentos penitenciários, tal como são enunciados nas Regras se tinham uma possibilidade razoável de recusar cumpri-la. Em
Mínimas para o Tratamento de Presos, em particular as regras qualquer caso, também existe responsabilidade da parte do supe-
33, 34 e 54. rior que proferiu a ordem ilegal.

Direitos Humanos e Cidadania 13 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS ENCARREGADOS DA Nos parágrafos a. e b. dos comentários do Artigo 1, a seguinte defini-
APLICAÇÃO DA LEI, ADOTADO PELA ONU PELA RESO- ção é fornecida:
“a. O termo ‘Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei’ inclui
LUÇÃO 34/169 DE 17/12/1979. todas as autoridades legais, tanto nomeadas quanto eleitas, que
exercem poderes policiais, especialmente poderes de prisão e de
CÓDIGO DE BOM COMPORTAMENTO PARA A POLÍCIA detenção.
O ambiente social global está em constante mutação e exige cada b. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por au-
vez mais dos Estados, suas Instituições e seus funcionários. As pessoas toridades militares, quer estejam uniformizadas ou quer não, ou
não esperam apenas que o Estado disponibilize os melhores serviços, por forças de segurança do Estado, a definição de Funcionários
mas espera também que a conduta de suas Instituições e seus funcioná- Encarregados pela Aplicação da Lei deve ser considerada inclu-
rios seja ética e responsável. indo as autoridades destes tais serviços.” [grifo do autor]

Sabemos que não basta fazer as coisas bem; é fundamental fazê-las O artigo 2o requer que os encarregados da aplicação da lei, no cum-
da forma correta. A forma como os Funcionários efetuam o seu trabalho é primento do dever, respeitem e protejam a dignidade humana, mantenham
tão importante como o trabalho em si. É fundamental que sua conduta e defendam os direitos humanos de todas as pessoas.
seja íntegra e em conformidade com as leis e os regulamentos que regem
as suas atividades. O Artigo 3 fornece normas sobre o uso da força, nos seguintes ter-
mos:
Notadamente, no que concerne a atividade da Polícia, esta questão “Os Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei podem fazer
deve ser tratada com especial distinção, pois seus Funcionários Encar- uso da força quando estritamente necessário e até a extensão requerida
regados de Aplicar a Lei (FEAL) possuem, com exclusividade, as facul- para o cumprimento de seu dever”.
dades profissionais para privar uma pessoa de liberdade ou, até mesmo,
usar a força e arma de fogo contra um cidadão. O Parágrafo a. dos Comentários estabelece que o uso da força polici-
al deveria ser excepcional, e que, enquanto a polícia faz uso de uma tal
O emprego desses poderes deve ajustar-se aos princípios de legali- força dentro do razoavelmente necessário para a prevenção do crime ou
dade, necessidade e proporcionalidade. Porém esses três conceitos para a realização ou para a assistência à detenção legítima de delinqüen-
podem ser interpretados subjetivamente, como por exemplo: tes ou de cidadãos suspeitos, nenhuma outra força além dessa pode ser
- No caso da legalidade, não é só importante a lei, mas também usada.
saber seu espírito, cabendo ao FEAL aplicar o poder discricioná-
rio. O Parágrafo b. destaca que a lei nacional normalmente restringe o
- Na hipótese de recorrer à força, o grau a ser empregado (propor- uso da força policial de acordo com o princípio da proporcionalidade, e
cionalidade) em uma determinada situação dependem de uma afirma que deve ser entendido que tais princípios nacionais de proporcio-
avaliação subjetiva dessa necessidade. nalidade devem ser respeitados na interpretação daquele artigo.

Essa avaliação subjetiva, por sua vez, não pode depender somente O parágrafo c. dá ênfase ao uso de armas de fogo, o qual é conside-
de uma noção pessoal de ética, mas sim de uma ética profissional. rado como sendo uma medida extrema e que qualquer esforço deveria
ser feito para proibir seu uso, especialmente contra crianças. Ele estabe-
Quando se busca um médico ou um advogado está se manifestando lece que, em geral, as armas de fogo não deveriam ser usadas, a não ser
confiança nesta pessoa. quando um cidadão suspeito oferece uma resistência armada ou, ainda,
coloca em risco a vida de outras pessoas, e que medidas menos extremas
O mesmo acontece quando os cidadãos necessitam da ajuda de um não são suficientes para detê-lo ou apreendê-lo. O mesmo parágrafo
FEAL. Esperam entre outras coisas, que se guarde a confidencialidade da obriga à rápida apresentação de um relatório às autoridades competentes
informação e proteção. cada vez que uma arma de fogo é utilizada pela polícia.

As pessoas confiam na existência de uma deontologia profissional e, As normas sobre o uso da força pelos Funcionários Responsáveis pe-
neste contexto, o que mais se destaca é o Código de Conduta das la Aplicação da Lei, incorporadas no Artigo e nos Comentários, reiteram a
Nações Unidas para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação importância dos princípios de proporcionalidade (a força sendo usada
da Lei. (Código de Conduta) somente até a necessária extensão) e da necessidade (a força sendo
usada somente quando é estritamente necessária). O primeiro parágrafo
Este instrumento foi adotado por intermédio da resolução 34/169, de dos Comentários do Artigo põe em evidência as razões para as quais o
17 de dezembro de 1979, da Assembléia Geral das Nações Unidas. uso da força é considerado necessário – na prevenção do crime e no
Por meio desta resolução, o Código de Conduta foi transmitido aos exercício dos poderes legais de apreensão; porém, o termo “razoavelmen-
Governos com a recomendação de que uma consideração favorável fosse te necessário”, utilizado no parágrafo, parece abrandar um pouco o termo
dada no que se refere à sua utilização dentro da estrutura da legislação ou “estritamente necessário”, utilizado no próprio Artigo (e, da mesma manei-
prática nacional como um conjunto de princípios a serem observados ra, o termo “absolutamente necessário”, utilizado no Artigo 2.2 da Con-
pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei. Não é um trata- venção Européia sobre os Direitos Humanos). A diferença é provavelmen-
do, mas pertence à categoria dos instrumentos que proporcionam normas te atribuída à falta de cuidado na redação do instrumento legal, pois é
orientadoras aos Governos sobre questões relacionadas com direitos claro que a norma se apóia na noção de “estrita” ou “absoluta” necessida-
humanos e justiça criminal. de.

É importante notar que (como foi reconhecido por aqueles que elabo- O terceiro parágrafo dos Comentários exclui a utilização das armas de
raram o código) esses padrões de conduta deixam de ter valor prático a fogo por qualquer outra razão que não seja a legítima defesa. O significa-
não ser que o seu conteúdo e significado, através de educação, treina- do da exigência, como expressa naquele parágrafo, pela qual um relatório
mento e acompanhamento, passem a fazer parte da crença de cada deve ser apresentado quando uma arma de fogo é disparada por um
indivíduo encarregado da aplicação da lei. policial, é parte do processo para assegurar uma responsabilidade efetiva
da polícia para com seus atos. Não se trata de uma mera formalidade. É
O Código consiste em oito artigos, cada um acompanhado de comen- de fato um elemento importante na investigação obrigatória que segue
tários explicativos. uma morte causada por uma autoridade policial, e pode agir como uma
dissuasão contra o uso ilegítimo de armas de fogo pela polícia.
O artigo 1o estipula que “os encarregados da aplicação da lei de-
vem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe,...” Como se verifica, o poder do uso da força e emprego de armas de fo-
go pelos FEAL têm implicações de grande alcance e profundidade e, por

Direitos Humanos e Cidadania 14 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

esta razão, foi elaborado um instrumento internacional específico que Neste sentido se verifica que o Comitê Internacional da Cruz Ver-
estabelece princípios para seu emprego. Este documento, denominado melha tem contribuído significativamente com a difusão destas normas,
Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo foi adotado através da capacitação de profissionais de várias Forças Policiais e de
pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e Segurança pelo Mundo e mais recentemente com o trabalho de Integra-
o Tratamento de Infratores em 07 de setembro de 1990. ção das Normas Internacionais de Direitos Humanos aplicáveis às
Funções Policiais, nas matrizes curriculares de Cursos de Formação, na
O artigo 4o estipula que os assuntos de natureza confidencial em po- área de Treinamento e na área de Doutrina Policial de algumas Polícias
der dos encarregados da aplicação da lei devem ser mantidos confidenci- no Brasil e outros Paises Latino-Americanos, com os quais firmou convê-
ais, a não ser que o cumprimento do dever ou a necessidade de justiça nio para este fim. André Luiz Rabello Vianna
exijam estritamente o contrário.
RESOLUÇÃO Nº 34/169, DE 17/12/1979 - CÓDIGO DE CON-
Em relação a esse artigo, é importante reconhecer o fato de que, de- DUTA PARA OS POLICIAIS
vido à natureza das suas funções, os encarregados da aplicação da lei se ARTIGO 1.º
vêem em uma posição na qual podem obter informações relacionadas à Os policiais devem cumprir, a todo o momento, o dever que a lei lhes
vida particular de outras pessoas, que podem ser prejudiciais aos interes- impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos
ses ou reputação destas. A divulgação dessas informações, com outro fim ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a
além do que suprir as necessidades da justiça ou o cumprimento do dever sua profissão requer.
é impróprio e os encarregados da aplicação da lei devem abster-se de
fazê-lo. ARTIGO 2.º
No cumprimento do seu dever, os policiais devem respeitar e proteger
O artigo 5o reitera a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as
cruel, desumano ou degradante. pessoas.
O artigo 6o diz respeito ao dever de cuidar e proteger a saúde das ARTIGO 3.º
pessoas privadas da sua liberdade. Os policiais só podem empregar a força quando tal se apresente estri-
tamente necessário, e na medida exigida para o cumprimento do seu
O artigo 7o proíbe os encarregados da aplicação da lei de cometer dever.
qualquer ato de corrupção, Também devem opor-se e combater rigorosa-
mente esses atos. ARTIGO 4.º
As informações de natureza confidencial em poder dos policiais de-
O artigo trata da disposição final exortando os encarregados da a-
8o vem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever ou
plicação da lei a respeitar a lei e a este Código. Os encarregados da as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento.
aplicação da lei são incitados a prevenir e se opor a quaisquer violações
da lei e do código. Em casos onde a violação do código é (ou está para ARTIGO 5.º
ser) cometida, os encarregados da aplicação da lei devem comunicar o Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir,
fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades apropria- instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou
das ou organismos com poderes de revisão ou reparação. tratamento cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superio-
res ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma
Com o objetivo de promover a aplicação do citado Código de Condu- ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer
ta, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, em 24 de maio de outra emergência pública como justificação para torturas ou outras penas
1989, por ocasião de sua 15a sessão plenária, adotou os Princípios ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para os
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, que prevê uma ARTIGO 6.º
série de providências, dentre as quais se destacam: Os policiais devem assegurar a proteção da saúde das pessoas à sua
“A. Princípios Gerais guarda e, em especial, devem tomar medidas imediatas para assegurar a
1. Os princípios consagrados no Código deverão ser incorporados prestação de cuidados médicos sempre que tal seja necessário.
na legislação e práticas nacionais[...]
4. Os Governos devem adotar as medidas necessárias para que os ARTIGO 7.º
funcionários responsáveis pela aplicação da lei recebam instru- Os policiais não devem cometer qualquer ato de corrupção. Devem,
ção, no âmbito da formação de base e de todos os cursos poste- igualmente, opor-se rigorosamente a eles, e combater todos os atos desta
riores de formação e de aperfeiçoamento, sobre disposições da índole.
legislação nacional relativas ao Código assim como outros textos
básicos sobre a questão dos direitos do homem[...] ARTIGO 8.º
B. Questões Específicas Os policiais devem respeitar a lei e o presente Código. Devem, tam-
2. Remuneração e condições de trabalho. Todos funcionários res- bém, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se vigorosamente a
ponsáveis pela aplicação da lei devem ser satisfatoriamente re- quaisquer violações da lei ou do Código. Os policiais que tiverem motivos
munerados e beneficiar de condições de trabalho adequadas[...] para acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação deste Código,
3. Disciplina e supervisão. Devem ser estabelecidos mecanismos e- devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras
ficazes para assegurar a disciplina interna e o controle externo autoridades com poderes de controle ou de reparação competentes.
assim como a supervisão dos funcionários responsáveis pela a-
plicação da lei[...] Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo
II. Implementação do código pelos Policiais
Disposições gerais
A. A nível nacional 1. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e
1. O Código deve estar à disposição de todos os funcionários respon- aplicar regras sobre a utilização da força e de armas de fogo con-
sáveis pela aplicação da lei e das autoridades competentes na sua própria tra as pessoas, por parte dos policiais. Ao elaborarem essas re-
língua[...] gras, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem
manter sob permanente avaliação as questões éticas ligadas à u-
B. A nível internacional tilização da força e de armas de fogo.
1. Os Governos devem informar o Secretário-Geral, em intervalos a- 2. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desen-
propriados de, pelo menos, cinco anos, sobre os progressos na implemen- volver um leque de meios tão amplo quanto possível e habilitar os
tação do Código[...]” policiais com diversos tipos de armas e de munições, que permi-

Direitos Humanos e Cidadania 15 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

tam uma utilização diferenciada da força e das armas de fogo. que lhes sejam distribuídas;
Para o efeito, deveriam ser desenvolvidas armas neutralizadoras e) Prevejam as advertências a serem efetuadas, se for o caso,
não letais, para uso nas situações apropriadas, tendo em vista li- quando armas de fogo forem utilizadas;
mitar de modo crescente o recurso a meios que possam causar a f) Prevejam um sistema de relatórios de ocorrência, sempre que os
morte ou lesões corporais. Para o mesmo efeito, deveria também policiais utilizem armas de fogo no exercício das suas funções.
ser possível dotar os policiais de equipamentos defensivos, tais
como escudos, viseiras, coletes anti-balísticos e veículos blinda- Manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais
dos, a fim de se reduzir a necessidade de utilização de qualquer 12. Sendo a todos garantido o direito de participação em reuniões lí-
tipo de armas. citas e pacíficas, de acordo com os princípios enunciados na De-
3. O desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não le- claração Universal dos Direitos do Homem e no Pacto Internacio-
tais deveria ser objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de re- nal sobre os Direitos Civis e Políticos, os Governos e as organi-
duzir ao mínimo os riscos com relação a terceiros, e a utilização zações policiais devem reconhecer que a força e as armas de fo-
dessas armas deveria ser submetida a um controlo estrito. go só podem ser utilizadas de acordo com os princípios 13 e 14.
4. Os policiais, no exercício das suas funções, devem, na medida do 13. Os policiais devem esforçar-se por dispersar as reuniões ilegais
possível, recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a for- mas não violentas sem recorrer à força e, quando isso não for
ça ou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de possível, devem limitar a utilização da força ao estritamente ne-
fogo se outros meios se mostrarem ineficazes ou não permitirem cessário.
alcançar o resultado desejado. 14. Os policiais só podem utilizar armas de fogo para dispersar reuni-
5. Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja in- ões violentas se não for possível recorrer a meios menos perigo-
dispensável, os policiais devem: sos, e somente nos limites do estritamente necessário. Os polici-
a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à ais não devem utilizar armas de fogo nesses casos, salvo nas
gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar; condições estipuladas no princípio 9.
b) Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respei-
tarem e preservarem a vida humana; Manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas
c) Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pes- 15. Os policiais não devem utilizar a força na relação com pessoas
soas feridas ou afetadas, tão rapidamente quanto possível; detidas ou presas, exceto se isso for indispensável para a manu-
d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas tenção da segurança e da ordem dentro dos estabelecimentos
próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto prisionais, ou quando a segurança das pessoas esteja ameaçada.
possível. 16. Os policiais, em suas relações com pessoas detidas ou presas,
6. Sempre que da utilização da força ou de armas de fogo pelos po- não deverão utilizar armas de fogo, exceto em caso de defesa
liciais resultem lesões ou a morte, os responsáveis farão um rela- própria ou para defesa de terceiros contra perigo iminente de
tório da ocorrência aos seus superiores, de acordo com o princí- morte ou lesão grave, ou quando essa utilização for indispensável
pio 22. para impedir a evasão de pessoa detida ou presa representando
7. Os Governos devem garantir que a utilização arbitrária ou abusi- o risco referido no princípio 9.
va da força ou de armas de fogo pelos policiais seja punida como 17. Os princípios precedentes não prejudicam os direitos, deveres e
infração penal, nos termos da legislação nacional. responsabilidades dos funcionários dos estabelecimentos peni-
8. Nenhuma circunstância excepcional, tal como a instabilidade polí- tenciários, estabelecidos nas Regras Mínimas para o Tratamento
tica interna ou o estado de emergência, pode ser invocada para de Presos, particularmente as regras 33, 34 e 54.
justificar uma derrogação dos presentes Princípios Básicos.
Habilitações, formação e aconselhamento .
Disposições especiais 18. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir
9º - Policiais não devem usar armas contra pessoas, exceto para se que todos os policiais sejam selecionados de acordo com proce-
defender ou defender terceiros contra iminente ameaça de morte dimentos adequados, possuam as qualidades morais e aptidões
ou lesão grave, para evitar a perpetração de um crime envolven- psicológicas e físicas exigidas para o bom desempenho das suas
do grave ameaça à vida, para prender pessoa que represente tal funções e recebam uma formação profissional contínua e comple-
perigo e que resista à autoridade, ou para evitar sua fuga, e ape- ta. Deve ser submetida a reapreciação periódica a sua capacida-
nas quando meios menos extremos forem insuficientes para atin- de para continuarem a desempenhar essas funções.
gir tais objetivos. Nesses casos, o uso intencionalmente letal de 19. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir
arma só poderá ser feito quando estritamente necessário para que todos os policiais recebam formação e sejam submetidos a
proteger a vida. testes de acordo com normas de avaliação adequadas sobre a u-
10. Nas circunstâncias referidas no princípio 9, os policiais devem i- tilização da força. O porte de armas de fogo por policiais só deve-
dentificar-se como tal e fazer uma advertência clara da sua inten- ria ser autorizado após completada formação especial para a sua
ção de utilizarem armas de fogo, deixando um prazo suficiente utilização.
para que o aviso possa ser respeitado, exceto se esse modo de 20. Na formação dos policiais, os Governos e os organismos de apli-
proceder colocar indevidamente em risco a segurança daqueles cação da lei devem conceder uma atenção particular às questões
responsáveis, implicar um perigo de morte ou lesão grave para de ética policial e de direitos do homem, em particular no âmbito
outras pessoas ou se se mostrar manifestamente inadequado ou da investigação, às alternativas para o uso da força ou de armas
inútil, tendo em conta as circunstâncias do caso. de fogo, incluindo a resolução pacífica de conflitos, ao conheci-
11. As normas e regulamentações relativas à utilização de armas de mento do comportamento de multidões e aos métodos de persu-
fogo pelos policiais devem incluir diretrizes que: asão, de negociação e mediação, bem como aos meios técnicos,
a) Especifiquem as circunstâncias nas quais os policiais sejam auto- visando limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os or-
rizados a transportar armas de fogo e prescrevam os tipos de ar- ganismos de aplicação da lei deveriam rever o seu programa de
mas de fogo e munições autorizados; formação e procedimentos operacionais à luz de casos concretos.
b) Garantam que as armas de fogo sejam utilizadas apenas nas cir- 21. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem disponi-
cunstâncias adequadas e de modo a reduzir ao mínimo o risco de bilizar aconselhamento psicológico aos policiais envolvidos em si-
danos inúteis; tuações em que tenham sido utilizadas a força e armas de fogo.
c) Proíbam a utilização de armas de fogo e de munições que provo-
quem lesões desnecessárias ou representem um risco injustifica- Procedimentos de comunicação hierárquica e de inquérito
do; 22. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem estabe-
d) Regulamentem o controle, armazenamento e distribuição de ar- lecer procedimentos adequados de comunicação hierárquica e de
mas de fogo e prevejam procedimentos de acordo com os quais inquérito para os incidentes referidos nos princípios 6 e 11-f. Para
os policiais devam prestar contas de todas as armas e munições os incidentes que sejam objeto de relatório por força dos presen-

Direitos Humanos e Cidadania 16 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

tes Princípios, os Governos e os organismos de aplicação da lei seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre
devem garantir a possibilidade de um efetivo procedimento de os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos
controle, e que autoridades independentes (administrativas ou do territórios sob sua jurisdição.
Ministério Público), possam exercer a sua jurisdição nas condi-
ções adequadas. Em caso de morte, lesão grave, ou outra con- Artigo I
seqüência grave, deve ser enviado de imediato um relatório deta- Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
lhado às autoridades competentes encarregadas do inquérito dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras
administrativo ou do controle judiciário. com espírito de fraternidade.
23. As pessoas contra as quais sejam utilizadas a força ou armas de
fogo ou os seus representantes autorizados devem ter acesso a Artigo II
um processo independente, incluindo um processo judicial. Em Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
caso de morte dessas pessoas, a presente disposição aplica-se estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja
aos seus dependentes. de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza,
24. Os Governos e organismos de aplicação da lei devem garantir origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condi-
que os funcionários superiores sejam responsabilizados se, sa- ção.
bendo ou devendo saber que os funcionários sob as suas ordens
utilizam ou utilizaram ilicitamente a força ou armas de fogo, não Artigo III
tomaram as medidas ao seu alcance para impedir, fazer cessar Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
ou comunicar este abuso.
25. Os Governos e organismos responsáveis pela aplicação da lei Artigo IV
devem garantir que nenhuma sanção penal ou disciplinar seja Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o
tomada contra policiais que, de acordo como o Código de Condu- tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
ta para os Policiais e com os presentes Princípios Básicos, se re-
cusem a cumprir uma ordem de utilização da força ou armas de Artigo V
fogo ou denunciem essa utilização por outros policiais. Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,
26. A obediência a ordens superiores não pode ser invocada como desumano ou degradante.
meio de defesa se os policiais sabiam que a ordem de utilização
da força ou de armas de fogo de que resultaram a morte ou le- Artigo VI
sões graves era manifestamente ilegal e se tinham uma possibili- Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida
dade razoável de recusar-se a cumpri-la. Em qualquer caso, tam- como pessoa perante a lei.
bém será responsabilizado o superior que proferiu a ordem ilegal.
Artigo VII
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a
igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Ge- discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incita-
ral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 mento a tal discriminação.

Preâmbulo Artigo VIII


Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade Artigo IX
e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da ne-
cessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem co- Artigo X
mum, Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de
pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, contra ele.
Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações a-
mistosas entre as nações, Artigo XI
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Car- 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser
ta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido pro-
pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e vada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe te-
que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida nham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua de-
em uma liberdade mais ampla, fesa.
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desen- 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que,
volver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou
direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que
direitos e liberdades, aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituo-
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liber- so.
dades é da mis alta importância para o pleno cumprimento desse com-
promisso, Artigo XII
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua fa-
A Assembléia Geral proclama mília, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interfe-
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objeti- rências ou ataques.
vo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por Artigo XIII
promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência
medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o dentro das fronteiras de cada Estado.

Direitos Humanos e Cidadania 17 A Opção Certa Para a Sua Realização


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2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o xistência compatível com a dignidade humana, e a que se acres-
próprio, e a este regressar. centarão, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar
Artigo XIV para proteção de seus interesses.
1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e
de gozar asilo em outros países. Artigo XXIV
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legi- Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razo-
timamente motivada por crimes de direito comum ou por atos ável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.
contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXV
Artigo XV 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação,
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais in-
do direito de mudar de nacionalidade. dispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, do-
ença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos
Artigo XVI meios de subsistência fora de seu controle.
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer retrição de 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência
raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimô- especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matri-
nio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao mônio, gozarão da mesma proteção social.
casamento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consen- Artigo XXVI
timento dos nubentes. 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pe-
lo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução e-
Artigo XVII lementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada
outros. no mérito.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento
da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos
Artigo XVIII direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e re- promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
ligião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as ativida-
liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, des das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em 3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instru-
particular. ção que será ministrada a seus filhos.

Artigo XIX Artigo XXVII


Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este di- 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural
reito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo cien-
receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e indepen- tífico e de seus benefícios.
dentemente de fronteiras. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e ma-
teriais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou ar-
Artigo XX tística da qual seja autor.
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pa-
cíficas. Artigo XVIII
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que
os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam
Artigo XXI ser plenamente realizados.
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de sue país,
diretamente ou por intermédio de representantes livremente esco- Artigo XXIV
lhidos. 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o li-
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do vre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
seu país. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará su-
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta jeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente
vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por su- com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos
frágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên-
assegure a liberdade de voto. cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma socieda-
de democrática.
Artigo XXII 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações
social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional Unidas.
e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre Artigo XXX
desenvolvimento da sua personalidade. Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada
como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de
Artigo XXIII exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destrui-
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, ção de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego. CIDADANIA
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remune- O conceito de cidadania sempre esteve fortemente atrelado à noção
ração por igual trabalho. de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma e- direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao

Direitos Humanos e Cidadania 18 A Opção Certa Para a Sua Realização


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votar (direto), seja ao concorrer a cargo público (indireto). No entanto, seu país a maioridade for determinada com idade mais baixa.
dentro de uma democracia, a própria definição de Direito, pressupõe a a) 12 anos.
contrapartida de deveres, uma vez que em uma coletividade os direitos de b) 14 anos.
um indivíduo são garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos c) 16 anos.
demais componentes da sociedade Cidadania, direitos e deveres. d) 18 anos.

História 05. Assinale a alternativa que não se encontra explicitada no texto da


O conceito de cidadania tem origem na Grécia clássica, sendo usado Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
então para designar os direitos relativos ao cidadão, ou seja, o indivíduo a) Toda pessoa tem direito a um prenome.
que vivia na cidade e ali participava ativamente dos negócios e das b) O direito à vida deve ser protegido por lei e, em geral, desde o nasci-
decisões políticas. mento.
c) Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separa-
Cidadania, pressupunha, portanto, todas as implicações decorrentes dos dos adultos e conduzidos a tribunal especializado.
de uma vida em sociedade. d) Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal.

Ao longo da história o conceito de cidadania foi ampliado, passando a 06. Indique qual destes instrumentos prevê, em seu artigo 4º, a aplicação
englobar um conjunto de valores sociais que determinam o conjunto de de medidas especiais de ação afirmativa, de caráter temporário, des-
deveres e direitos de um cidadão. tinadas a acelerar a igualdade entre os indivíduos, buscando superar
injustiças cometidas no passado contra as mulheres
Nacionalidade a) Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A nacionalidade é pressuposto da cidadania - ser nacional de um b) Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Estado é condição primordial para o exercício dos direitos políticos. c) Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação
Entretanto, se todo cidadão é nacional de um Estado, nem todo nacional é contra a Mulher.
cidadão - os indivíduos que não estejam investidos de direitos políticos d) Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violên-
podem ser nacionais de um Estado sem serem cidadãos. cia contra a Mulher.

No Brasil 07. Estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a


Os direitos políticos são regulados no Brasil pela Constituição Federal Corte Interamericana de Direitos Humanos como meios de proteção e
em seu art. 14, que estabelece como princípio da participação na vida órgãos competentes “para conhecer dos assuntos relacionados com o
política nacional o sufrágio universal. Nos termos da norma constitucional, cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes
o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de nesta Convenção” a
dezoito anos, e facultativos para os analfabetos, os maiores de dezesseis a) Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
e menores de dezoito anos e os maiores de setenta anos. b) Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura.
c) Carta das Nações Unidas.
A Constituição proíbe o alistamento eleitoral dos estrangeiros e dos d) Declaração Universal dos Direitos Humanos.
brasileiros conscritos no serviço militar obrigatório, considera a
nacionalidade brasileira como condição de elegibilidade e remete à 08. Assinale o documento que não se relaciona aos antecedentes formais
legislação infra-constitucional a regulamentação de outros casos de das declarações de direitos.
inelegibilidade (lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990). a) Magna Carta (1215).
b) “Petition of Rights” (1628).
PROVA SIMULADA c) “Habeas Corpus Act” (1679).
d) “Chart of Liberties” (1732).
01. Com relação aos direitos e garantias individuais inscritos na Constitui-
ção Federal é correto afirmar: 09. No Brasil, o “Habeas Corpus” foi inicialmente explicitado como norma
a) é vedada, em qualquer situação, a existência da pena de morte. constitucional pela
b) é assegurada assistência aos filhos dos trabalhadores urbanos e a) Constituição de 1824.
rurais, até os 7 anos de idade em creches e pré-escolas. b) Constituição de 1891.
c) é assegurada a prestação de assistência religiosa nas entidades de c) Emenda Constitucional de 1926.
internação coletiva, nos termos da lei. d) Constituição de 1934.
d) é livre a criação de associações para fins lícitos vedada, em qualquer
hipótese, sua dissolução compulsória . 10. O princípio da igualdade perante a lei é mencionado
a) somente pela Constituição Federal.
02. A prevalência dos direitos humanos constitui um dos b) pela Constituição Federal e pela Declaração Universal dos Direitos
a) princípios que regem a República Federativa do Brasil nas suas Humanos.
relações internacionais. c) pela Constituição Federal e pela Convenção Americana de Direitos
b) objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. Humanos.
c) objetivos derivados da República Federativa do Brasil. d) pela Constituição Federal, pela Declaração Universal dos Direitos
d) objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e Humanos e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos.
dos municípios.
11. O direito de indenização à pessoa condenada por erro judiciário é
03. Resolução proclamada pela Assembléia Geral da ONU contém trinta mencionado
artigos, precedidos de um Preâmbulo, com sete considerandos, na a) somente pela Constituição Federal.
qual se assegura o princípio da indivisibilidade dos direitos humanos. b) pela Constituição Federal e pela Declaração Universal dos Direitos
O texto acima se refere à Humanos.
a) Carta das Nações Unidas. c) pela Constituição Federal e pela Convenção Americana de Direitos
b) Declaração Universal dos Direitos Humanos. Humanos.
c) Declaração Americana dos Direitos Humanos. d) pela Constituição Federal, pela Declaração Universal dos Direitos
d) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Humanos e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos.

04. Complete: 12. O direito à presunção de inocência é mencionado


A Convenção sobre Direitos da Criança considera como criança todo a) somente pela Constituição Federal.
ser humano com idade inferior a ______, a não ser quando por lei de b) pela Constituição Federal e pela Declaração Universal dos Direitos

Direitos Humanos e Cidadania 19 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Humanos.
c) pela Constituição Federal e pela Convenção Americana de Direitos
Humanos.
d) pela Constituição Federal, pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos.

RESPOSTAS
01. C 07. A
02. A 08. D
03. B 09. B
04. D 10. D
05. B 11. C
06. C 12. D

Direitos Humanos e Cidadania 20 A Opção Certa Para a Sua Realização

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