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05/10/2017 - 07:47
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06/10/2017 Ação de dissolução parcial de sociedade no novo CPC – JOTA
São diversas as discussões travadas no âmbito dessas ações: se houve justa causa apta a ensejar a
exclusão do sócio; se a natureza da sociedade permite o exercício do direito de retirada pelo
sócio; se houve a convocação prévia para comparecimento em reunião de sócios, visando a
deliberar sobre a exclusão de um sócio, com observância do tempo mínimo necessário previsto
em lei e no contrato social etc. Entre as numerosas discussões, um aspecto gera uma grande
divergência entre os sócios: os critérios para apuração dos haveres, ou seja, dos valores devidos
pela sociedade ao sócio que dela se desliga.
Até a promulgação da Lei nº 13.105/2015 (“Novo CPC”), muitas das discussões em ações de
dissolução parcial de sociedade, apesar de frequentes e reiteradas, eram reguladas de forma
lacônica. A ausência de regulamentação expressa de determinados assuntos e a grande
população de casos sobre a matéria motivou a realização de pesquisas empíricas e estatísticas
sobre o assunto.
O fruto dessas pesquisas, em que se analisaram disputas societárias nos 27 tribunais estaduais no
Brasil, se consolidou na primeira formulação de proposta legislativa pautada em dados
concretos, resultando no Capítulo V do Título III do Novo CPC, que passou a regular de forma
expressa o procedimento especial referente à ação de dissolução parcial de sociedade.
O fato de o Novo CPC prever normas de direito material poderia, em um primeiro momento,
causar uma certa estranheza. Isso porque, o processo se desenvolve como o instrumento apto a
garantir a efetividade do direito material no âmbito do contencioso, pois, como bem ensina José
Carlos Barbosa Moreira, será efetivo o processo que constitua instrumento eficiente de realização
do direito material[1]. Logo, poderia suscitar que um diploma processual deveria conter tão
somente normas processuais que se prestassem a garantir a efetividade das normas de natureza
substancial.
Contudo, sabemos que não é o diploma que define a natureza da norma, e sim a norma
propriamente dita, cuja natureza se extrai de sua exegese individualizada. Normas de natureza
substancial e processual podem conviver de forma harmônica em um mesmo diploma, sendo
aplicadas conforme cada caso. É o caso, por exemplo, de inúmeras disposições da Lei nº
6.404/1976 e da Lei nº 11.101/2005.
O Direito deve se prestar, sobretudo, para pacificar as relações sociais que urgem por uma
solução prática aos conflitos instaurados. As diversas discussões existentes em ações de
dissolução parcial de sociedade, hiporreguladas, instavam por uma solução legislativa. Sendo
assim, ainda que o Novo CPC não seja, em tese, o meio recomendável para a sua regulamentação,
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eis que voltado às questões instrumentais, a positivação de normas expressas em casos lacônicos
eleva o nível de segurança jurídica das relações sociais.
Visando a regular as questões processuais intertemporais, o artigo 1.046 do Novo CPC previu
que, ao entrar em vigor, as disposições do referido diploma legal se aplicariam aos processos
pendentes, ficando revogada a Lei nº 5.869/1973. Já o artigo 14 do Novo CPC prevê que a norma
processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os
atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma
revogada – o que já era matéria de entendimento do Superior Tribunal de Justiça, ao reconhecer
que a instrumentalidade do processo não exclui a aplicação da teoria do isolamento dos atos
processuais[2].
Assim, o artigo 14 do Novo CPC prevê a não retroatividade das normas processuais e o artigo
1.046 do Novo CPC prevê a imediata aplicação das disposições do Novo CPC aos processos
pendentes. E quanto às normas de direito material reguladas pelo Novo CPC?
Trata-se da regra do tempus regit actum, ou seja, o tempo é o que rege o ato. Neste sentido, o
direito é adquirido à época da consumação do ato, em regra, não retroagindo a lei aos fatos
pretéritos.
A título exemplificativo e no que cinge aos critérios para apuração de haveres, um dos maiores
pontos de atenção no contencioso societário, o artigo 1.031 do Código Civil prevê que, salvo
disposição contratual em contrário, nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um
sócio, o valor da sua quota será liquidado com base na situação patrimonial da sociedade,
verificada em balanço especialmente levantado. Ou seja, o artigo 1.031 do Código Civil prevê
que, para calcular o valor da quota do sócio, será levantado o balanço especial[3]. Em breve
síntese, o balanço especial é aquele que, simplesmente, atualiza o valor constante no balanço
patrimonial ordinário até a data da resolução da sociedade, em qualquer dia do ano, salvo o
último dia do exercício social – dado ser este o critério temporal para levantamento do balanço
patrimonial ordinário.
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Por outro lado, o artigo 606 do Novo CPC prevê que, na omissão do contrato social, o juiz
definirá, como critério de apuração dos haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de
determinação. Contrariamente ao balanço especial, o balanço de determinação contabiliza os
ativos e passivos no balanço, atualizando-os e realizando uma avaliação de cada item pelo valor
de mercado ou custo de saída[4]. No balanço de determinação, tal como sugere o caput do artigo
606 do Novo CPC, leva-se em consideração os intangíveis da sociedade, contabilizando-os como
ativos para fins de cálculo do valor das quotas.
Caso o sócio tenha sido excluído da sociedade em período anterior à vigência do Novo CPC, o
magistrado não deverá aplicar os critérios contábeis de cálculo de apuração de haveres com base
no disposto no artigo 606 do Novo CPC, eis que inaplicáveis à época.
Tal como a positivação de questões até então reguladas de forma lacônica, o princípio da
irretroatividade também incrementa a segurança jurídica necessária, em especial, em discussões
empresariais. A previsibilidade das decisões – inclusive por meio da não aplicação da norma
posta a fatos pretéritos – é responsável por elevar o nível da segurança jurídica do mercado. Caso
haja imprevisibilidade quanto à aplicação das disposições do procedimento especial da ação de
dissolução parcial de sociedade, a segurança jurídica será automaticamente afetada. Isso porque,
como ressalta Fábio Ulhoa Coelho, é necessário que haja uma previsibilidade das decisões
judiciais no âmbito empresarial. É claro que há uma tolerável margem de imprevisibilidade, mas
a insegurança jurídica passa a existir quando é extrapolado esse limite[5]. Consequentemente, a
inobservância do tempus regit actum, para fins de incidência das normas de direito material do
Capítulo V do Título III do Novo CPC, eleva a insegurança jurídica.
Até o momento, as discussões mantidas nos tribunais estaduais se atêm mais à aplicação, ou não,
do Novo CPC quanto às questões processuais, do que para as questões de natureza substancial.
No entanto, não se pode ignorar que o Novo CPC elencou normas de direito material em seu
Capítulo V do Título III e que, consequentemente, não podem ser aplicadas aos fatos que
ocorreram antes da vigência do Novo CPC.
Resta esperar que os magistrados atentem e respeitem a irretroatividade das normas de natureza
substancial aos fatos pretéritos à vigência do Novo CPC, em atendimento aos princípios e regras
do direito intertemporal e da necessária previsibilidade que as questões empresariais demandam
do Poder Judiciário.
BIBLIOGRAFIA:
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BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Por um processo socialmente efetivo. Revista de Processo. São
Paulo, v. 27, n. 105, p. 183-190, jan./mar. 2002, p. 181.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. MC 13.951/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 11/03/2008, DJe 01/04/2008.
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[1] BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Por um processo socialmente efetivo. Revista de Processo.
São Paulo, v. 27, n. 105, p. 183-190, jan./mar. 2002, p. 181.
[2] MC 13.951/SP, Min. Rel. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 11/03/2008. DJ 01/04/2008.
[3] A interpretação do teor do artigo 1.031 do Código Civil também gerou discussão. Há quem
interprete que o artigo 1.031 do Código Civil, ao determinar o levantamento de um balanço
especial no momento de afastamento do sócio, estaria, na verdade, se referindo ao levantamento
do balanço de determinação, posto que este seria o método contábil mais indicado para apuração
do valor presente da quota. No entanto, não compactuamos com tal entendimento, dado ser
regra basilar da hermenêutica jurídica o fato de que a lei não contém palavras inúteis e, neste
sentido, o artigo 1.031 do Código Civil faz menção ao balanço especial.
[4] COELHO, Fábio Ulhoa. A ação de dissolução parcial de sociedade. Revista de Informação
Legislativa, v. 190, 2011, p. 141-155.
[5] COELHO, Fábio Ulhoa. O Projeto de Código Comercial e a proteção jurídica do investimento
privado. Revista Jurídica da Presidência. Brasília, v. 17, n. 112, jun./set. 2015, p. 243.
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