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O PASTOR ACONSELHANDO

O assunto aconselhamento pastoral a enfermos despertou meu interesse, porque na


minha prática pastoral estou enfrentando esta situação com alguns vovôs e vovós do Lar
Ebenézer.
Necessitando conhecer mais a respeito de como tratar com alguém que sofre
enfermidade, os problemas e pensamentos que envolvem o paciente e os métodos para levar
Cristo a estas pessoas, fiz uma pesquisa não muito profunda, mas clara e precisa quanto o que
diz a Bíblia sobre a doença, os problemas relacionados a ela e o conforto que o pastor poderá
levar aos enfermos através do aconselhamento.
Por isso será muito importante para aqueles que queiram entender melhor a
origem da doença, seus problemas, a maneira que o cristão age e a única solução, para tal
situação, tomar alguns minutos de seu precioso tempo e ler esta pequena monografia.
1. A BÍBLIA E A DOENÇA
A doença é uma questão que as Escrituras mencionam muitas vezes. A doença
de Miriã, Naamã, Nabucodonosor, Jó e vários outros personagem do Antigo Testamento e do
Novo Testamento são relatadas.
Um exemplo disto é o interesse de Jesus pelos doentes. Praticamente um quinto
dos Evangelhos é dedicado ao tema da cura. As suas curas e milagres são provas de que um
bom pastor deve cuidar de suas ovelhas e as direcionar para o caminho que traz vida e
salvação , no caso, o próprio Jesus. É interessante notarmos que Jesus, ao curar as pessoas
fazia uma relação com a fé pessoal e o perdão de pecados. Ele dizia: “Faça-se conforme a
vossa fé(Mt 9. 29) e “estão perdoados todos os teus pecados... levanta-te e anda(Mt 9.1-8).
Isto quer dizer que para receber o perdão e ser verdadeiramente curado da
doença que acompanha o homem desde a queda, é de suma importância a confiança de
coração no que Cristo nos oferece gratuitamente através de sua obra redentora. Isto é, perdão
dos pecados, vida e salvação eterna.
1.1 A Doença Faz Parte da Vida
Acredito que nenhuma pessoa possa viver desde seu nascimento até a sua morte
sem portar nenhuma doença. Aqui também incluímos uma gripe, um mal estar, dor de cabeça
ou dor de dente. Desde a queda em pecado, onde o homem perdeu a imagem de Deus,
corrompeu a sua perfeição com a desobediência, a doença se torna parte de sua vida. Inata,
como conseqüência do pecado, acompanha o homem desde os primórdios até os dias
presentes.
A Bíblia não se atém em citar sistematicamente os sintomas da doença física ou
mental. Entretanto, menciona diretamente o alcoolismo, cegueira, febre, surdez, mudez,
insanidade, lepra, impedimento da fala, etc. Provando claramente que a doença faz parte deste
mundo e da nossa vida.

1.2 Doença Pecado e Fé Não São Coisas Necessariamente Relacionadas


Quando Jó perdeu sua família, bens e saúde, seus amigos Bildade, Zofar e Elifaz
tentavam consolá-lo mas ineficazmente, argumentando que todos estes problemas eram
resultados do pecado( Jó 3.8). Jó, homem reto diante dos olhos de Deus descobriu que a
doença nem sempre resulta do pecado do indivíduo - cuja verdade Jesus ensinou claramente
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em João 9. Entretanto, utilizando o exemplo da infidelidade no casamento, a doença que um


homem poderia receber como causa de seu pecado, seria o vírus da AIDS, na pior das
hipóteses. Ainda que, uma outra doença menos séria, não esteja fora de cogitação.
Em análise final, toda doença tem origem, na queda da humanidade em pecado.
Entretanto, os casos individuais de doença não são necessariamente resultantes dos pecados da
pessoa doente.
A Bíblia não apoia os cristãos que afirmam que os doentes estão fora da
vontade de Deus ou lhes falta fé. Deus jamais prometeu curar todas as nossas moléstias nesta
vida e é pernicioso ensinar que a saúde instantânea sempre virá para aqueles cuja fé é forte.

2 PROBLEMAS RELACIONADOS A DOENÇA


A doença envolve muito mais do que mau funcionamento físico, ela está
associada a uma grande variedade de reações psicológicas e espirituais que preocupam tanto
aos médicos como aos pastores e conselheiros leigos. Muitas destas influências psicológicas e
espirituais agravam a moléstia física e atrasam ou impedem a recuperação do paciente.
2.1 A Influência da Dor
Existem grandes diferenças individuais na maneira como as pessoas são afetadas
pela dor como reagem a ela e a intensidade e duração da mesma. A dor intensa e breve - como
a experimentada na cadeira do dentista - é diferente daquela que atormenta e nunca se afasta
do paciente com câncer. A dor que sabemos ser de curta duração - como um dor de cabeça - é
tratada de modo diferente daquela duradoura ou não diagnosticada.

2.2 Sentimento de Desesperança


A doença interrompe as nossas rotinas. Muitas vezes não compreendemos o que
está errado em nossos corpos e temos medo porque não sabemos quando vamos sarar. Se
estamos muito doente é necessário que sejamos atendidos por outras pessoas, as quais
parecem muitas vezes mais indiferentes ou científicos do que compassivos e sensíveis conosco.
Os hospitalizados tendem a sofrer sete categorias de tensão psicológica. As
pessoas ficam com medo de estranhos, ansiosos devido a separação dos amigos e da rotina,
possuem também o medo de perder o amor ou a aprovação de nossos familiares ou amigos.
Também possuem o medo de perder o controle sobre o seu próprio corpo, em suas funções
biológicas. Outra é o medo de expor e perder partes do corpo devido a gravidade da doença. A
culpa e o medo do castigo ocorre quando a doença, especialmente acidentes, levam muitas
vezes a pessoas a pensar que seu sofrimento possa ser um castigo por pecados ou faltas
cometidas no passado.
Apesar dessas tensões serem comuns, existem diferenças no modo das pessoas
reagirem. Algumas sentem-se deprimidas, culpadas, auto acusadoras, embaraçadas ou
desanimadas. Outras ficam zangadas e críticas, especialmente, com relação aos médicos. Mas
também existem aquelas que procuram encarar do melhor modo possível a situação e, como
resultado, quase sempre se recuperam mais depressa.

2.3 A Experiência da Emoção


Algumas emoções são as características predominantes no paciente enfermo.
Dentro delas se destaca o medo da dor, a possibilidade de haver complicações físicas.
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Tornando-se uma pessoas indefesa, isolada, sem futuro certo. Sem a esperança de recuperação,
esperando a hora da morte.
Para estas pessoas sem esperança é muito fácil irara-se consigo mesma, em
relação a doença, aos médicos, familiares e inclusivamente a Deus.
Muitas vezes pode ocorrer um sentimento de culpa, quanto a doença e seu
passado. Alguém que adorava tomar chimarrão muito quente contrai um câncer, por exemplo,
colocará a culpa nele porque nunca fez nada para evitar o pior.
Tudo isto pode se transformar numa depressão, que algumas vezes leva ao
suicídio ou a perda da vontade de recuperar-se.

2.4 A Presença de Reações na Família.


Quando a pessoa fica doente, sua família é afetada e ao perceber isto o paciente
se perturba. As mudanças na rotina familiar devido a uma doença, problemas financeiros,
dificuldades em organizar as visitas no hospital, e outros fatores podem causar tensão que
ocasionalmente resulta em fadiga, irritabilidade e preocupação. Numa tentativa de se animarem
mutuamente e evitarem a preocupação, o paciente e a família algumas vezes se recusam a
discutir seus verdadeiros temores ou sentimentos uns com os outros e, como resultado, cada
um sofre sozinho, temendo o pior mas fazendo de conta que “ tudo vai bem a recuperação não
tarda” .1
3 CONFORTO ATRAVÉS DO ACONSELHAMENTO
3.1 Através da Atenção do Pastor
Tem o pastor luterano uma boa razão para visitar pessoas doentes? Afinal de
contas o atendimento nos hospitais está melhorando. Os médicos são mais cuidadosos. As
enfermeiras fazem tudo pelo doente. Quem tem oportunidade de pagar um hospital particular
tem acesso a televisão, bons livros, a família sempre estará presente com tais pessoas. Há
algum motivo mais forte para que o pastor se faça presente num momento em que a saúde de
alguém entra em declínio?
Sabemos que a presença do pastor nesta hora é muito própria. Visto que,
especialmente quando o doente é da igreja, o pastor é um representante de Deus na terra. E
também alguém que como Deus, se importa com suas ovelhas e com todas que precisam entrar
para o rebanho de Jesus. O Pastor é uma pessoa que pode trazer o real conforto para um
doente. As pessoas, de uma forma ou de outra são mais abertas para tratar de assuntos
delicados com alguém que conhecem e muito prestigiam. Estão atentos para receber o
conforto que só é possível quando apresentarmos a obra redentora do médico dos médicos. O
único que pode livrar a pessoa da maior doença deste mundo, a saber, o pecado e a morte
eterna. Cristo, só Ele pode trazer conforto para corações abatidos, preocupados com a morte.
Sim, nestes momentos em que o paciente sente que a morte se aproxima, com uma capa preta
e uma foice empunhada para cortar-lhe o último suspiro de vida, sem a esperança da vida
eterna, certamente a morte e o que acontecerá com ele depois desta vida, será seu maior
motivo de preocupação.
Neste sentido, o Brasil sendo uma cultura cristã, mesmo sendo sincretista em
alguns aspectos, promove uma certa facilidade para tratarmos do conceito bíblico de vida
depois da morte. O povo em geral acredita que a morte não é o fim de tudo. Muitos não sabem
o que fazer com este conceito, por isso é muito importante que o pastor leve mais e com maior
vigor a esperança em Cristo, o caminho a verdade e a vida.

COLLINS R. Gary ACONSELHAMENTO CRISTÃO. São Paulo : Vida Nova. p329-342.


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No entanto, é importante que o pastor seja responsável pela instrução de


pessoas, as quais também podem crescer nesta certeza da vida eterna e levar este
conhecimento, esta confiança de coração para seus amigos, familiares, vizinhos etc.

3.2 Pela Escritura Sagrada


Numa visita informal, temos que saber utilizar bem o nosso tempo para não
prejudicar a nossa comunicação com o paciente. A tabela que está em anexo mostra alguns
cuidados necessários.2
Muitos podem dizer que gastarão mais tempo observando as regras do que
levando a mensagem de Cristo para as pessoas.
Com a prática certamente saberemos como agir e quanto tempo conversar com
o enfermo. Um exemplo disto é o trabalho que venho desenvolvendo no Lar Ebenézer, no
município de Gravatai. Algumas pessoas querem que eu fique mais tempo com elas e outras,
ao se desinteressarem pelo assunto, tentam falar sobre outras coisas.
Quero ressaltar com isto que há tempo para falar de muitas coisas, mas no caso
de uma visita pastoral é de suma importância que a primeira coisa a ser falada é a respeito de
Jesus e da vida eterna, enquanto o enfermo está aberto para nos ouvir.
Existem pessoas que nos surpreendem pela receptividade e a vontade de
quererem saber mais de Cristo e da própria palavra de Deus em si. Ao visitar um senhor que
sofre de escoriações nas duas pernas, portanto, impossibilitado de caminhar, fico surpreso
quando ao dizer que sou estudante de teologia, ele pega a sua bíblia e faz algumas perguntas
para mim. Tais como, quem é o único que nos pode livrar da morte eterna, ou diga-me se as
palavras do credo apostólico são verdadeiras. Sendo um senhor luterano, queria me testar se
verdadeiramente eu confessava a mesma fé que ele. Só a partir deste “ quebra gelo”, feito pelo
enfermo, tive acesso ao seu ouvido e ao seu coração, para levar-lhe Cristo.
Então, ele pediu-me para ler o Salmo 23, enquanto lia, aquele senhor chorava e
dizia: “ Obrigado Senhor porque me livraste da morte, nada poderá faltar para mim neste
mundo”. Notei então que a Bíblia é uma arma vital para, por meio de passagens conhecidas,
despertar aquelas esperanças de uma pessoa cristã. Mas e uma pessoa que teve pouco contato
com a palavra de Deus durante a sua vida? É necessário lermos ou dizermos alguns versículos
bíblicos para “ tocá-la”? Se cremos e confessamos que Deus age através de meios, palavra e
sacramentos, não temos o direito de negar este benefício as pessoas. Não estou afirmando que
tudo o que você disser deve ser citado e comprovado na hora, mas que suas palavras sejam
palavras que lembrem versículos ou fatos relatados na Bíblia. Sabemos que o Espírito Santo
age onde e quando quer, mas também sabemos que ele usa de meios para transformar o
coração das pessoas. Ele poderá agir através de uma piada, mas não é para contar piadas que o
pastor ou um cristão visitará uma pessoa enferma. A piada poderá alegra-la naquele momento,
mas a alegria verdadeira e plena é aquela que se apega nos méritos de Cristo e os recebe, por
fé, gratuitamente.

3.3 Pela Oração


3.3.1 Orar: O que é isto?
Jesus acreditou que é possível entrar em contato com Deus através da oração.
Ele fez isto. Ele falou aos seus seguidores, não somente, ou sobre qual condição um homem

COLLINS R. Gary ACONSELHAMENTO CRISTÃO. São Paulo : Vida Nova. p 336.


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pode orar, mas Jesus ensinou seus discípulos a orar o Pai-Nosso. Suas instruções foram para
orar em silêncio e humildade. 3
Usar a oração com o enfermo é coloca-lo em contato com Deus. Deus atende
a oração e está disposto a ouvir nossos agradecimentos ou pedidos.
O paciente que ora, “ Deus dê-me forças para encarar esta dor”, e ‘ paciência
para achar através desta enfermidade um maior entendimento de Ti”, recebe sua resposta mais
diretamente do que o paciente que ora, “ Deus afaste de mim a dor” , ou, “ eu não posso
agüentar tamanho sofrimento, deixe-me morrer”.4
Por isso é importante o pastor ensinar a verdadeira forma de orar, fazendo
orações nas visitas e instruindo o povo para que tenham maior contato com Deus através do
caminho da oração.

3.3.2 Orar a Partir da Realidade do Paciente


Conhecendo a situação do paciente, a doença que o acompanha, se possível um
pouco da situação familiar em que se encontra, o pastor deve monopolizar sua atenção nele e
na pessoa enferma. As vezes isto não ocorre. O pastor faz algumas orações memorizadas,
quando está com pressa, nervoso ou até mesmo chocado pela situação que o paciente se
encontra. Esta também é uma questão interessante, porque as vezes o pastor não possui este
dom, ou sejamos mais francos, este conceito de valorizar a qualidade de suas visitas. Se ele
não pode fazer este trabalho com qualidade é de suma importância que treina seus
congregados para efetuá-lo na comunidade.5
Conhecendo melhor os conceitos que o paciente possui sobre a oração, toda a
situação de médicos e auxiliares que estão em contato direto com o enfermo, podemos levar
melhor o diagnóstico divino, a saber Jesus Cristo, o “ remédio que dá certeza da cura eterna”.
Se o paciente notar que estamos fazendo uma oração somente pelo simples ato
de efetuá-la, poderemos criar uma barreira muito grande, que implicará numa aceitação ou não
de uma subsequente visita.
CONCLUSÃO
Vimos durante este breve estudo que é de suma importância o pastor efetuar
direta ou indiretamente a questão prática e teórica da visitação de enfermos.
Diretamente quando ele mesmo assume a responsabilidade de ser um guia para
levar, mais uma vez ou pela primeira vez a esperança da vida eterna em Cristo Jesus.
Indiretamente quando ele treina pessoas que serão servos capazes de levar o
alimento, o “pão da vida” para aqueles que passam fome de Salvação.
Considerando que este é um trabalho árduo que teoricamente necessitaria de
dedicação exclusiva de um pastor, no caso de uma Capelão Hospitalar, por exemplo, gosto da
idéia do pastor ser um capacitador dos santos para efetuarem, com a mesma autoridade, a
saber, a palavra de Deus visitas a enfermos da própria congregação e de outras pessoas.
Mas, para tanto, o pastor deve saber como funciona um hospital, qual deve ser
a melhor forma de abordagem ao paciente, assim poderá ensinar e capacitar pessoas para este
sublime trabalho, que agrada a Deus e nos torna cristãos mais instruídos e convictos da nossa
herança eterna.
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CABOT, Richard C. AND DICKS, Russel L. THE ART OF MINISTERING TO THE SICK. New York : The
Macmillan Company. p. 215
4
Id. Ibid. p.216.
5
Id. Ibid. p. 219.

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