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Lesão de ligamento cruzado anterior.

Abordagem
fisioterapêutica
A articulação do joelho pode ser descrita como uma articulação sinovial
condilóidea volumosa, complexa e instável formada por três ossos: o fêmur
distal, a tíbia proximal e a patela. Existem dois graus de liberdade de
movimento, os movimento de flexão e extensão ocorrem no plano sagital e a
rotação axial ocorre no plano transversal (PALMER & EPLER, 2009);
entretanto, podemos levar em consideração que os movimentos de dobradiça
são associados ao deslizamento e rolamento e à rotação em torno de um eixo
vertical (MOORE et al., 2013). Na flexão da articulação do joelho há inclinação
ou diminuição do ângulo entre o fêmur e a parte inferior da perna; na extensão
há o aumento do ângulo entre o fêmur e a parte inferior da perna; na rotação
lateral o movimento rotatório lateral da parte inferior da perna faz com que haja
um afastamento em relação a linha mediana e na rotação medial ocorre um
movimento giratório medial da parte inferior da perna em direção à linha média
(FLOYD, 2011).

Uma das características em destaque na complexa articulação do joelho são


suas grades dimensões e formatos incongruentes, o que a faz fraca no ponto
de vista mecânico. Devemos levar em consideração que o joelho possui
importantes funções biomecânicas e que está sempre sujeito a estresse
considerável e distensão pela ação combinada de suas funções de sustentação
de peso e locomoção (FLOYD, 2011). Para manter sua estabilidade faz uso
principalmente da ação dos tecidos moles, em vez de sua configuração óssea
(NEUMANN, 2011). Essa grande articulação conta então com a ação da força
dos músculos e seus tendões e por diversas estruturas tais como ligamentos,
cápsulas articulares e meniscos, que irão contribuir para sua estabilidade
(SMITH et al., 5ed).

Sendo assim, o conhecimento da anatomia e da cinesiologia do joelho é um


dos pré-requisitos essenciais para que se possa ter uma maior dimensão e
compreensão dos principais mecanismos de lesão, bem como a efetiva
intervenção terapêutica (NEUMANN, 2011).

Dos ligamentos presentes no joelho damos destaque ao ligamento cruzado


anterior por ser o mais frequentemente lesado, ocorrendo o rompimento
principalmente em esportes que exigem muita rotação. Para o joelho manter
sua estabilidade o mesmo depende muito de seus ligamentos, o joelho tem
uma amplitude de movimento restrita de 0º a 150° somente em um plano e são
os ligamento que impedem o movimento indesejado (DANDY, 2000).

O rompimento do ligamento cruzado anterior é uma das lesões mais comuns e


mais sérias do joelho (FLOYD, 2011). O ligamento cruzado anterior tem a
função de manter a tíbia para trás em relação ao fêmur, caso haja o
rompimento do ligamento cruzado anterior a tíbia se moverá para frente. A
instabilidade presente no joelho após a ruptura do ligamento cruzado anterior é
fácil de avaliar depois do traumatismo, antes mesmo de ter ocorrido o
sangramento e o edema dos tecidos, após 15 minutos do ocorrido fica mais
difícil de avaliar devido o edema e o espasmo muscular protetor. Estimaram a
incidência de 0,24 lesão do LCA a cada 1.000 indivíduos saudáveis ao ano, em
análise da população dirigida ao Hospital de San Diego (FATARELLI et al.,
2001).

MECANISMO DA LESÃO DE LCA

A laceração do LCA ocorre como resultado de desaceleração brusca,


hiperextensão ou lesão rotacional que geralmente não envolve contato com
outro indivíduo (BRODY & HALL, 2012). A lesão pode ser total ou parcial
(COHEN, 2008), de maneira geral, o rompimento ou a lesão ocorre decorrente
de forças rotatórias sem contato associados à fixação do pé e a movimentos
rápidos de direção (FLOYD, 2011). A lesão do LCA pode estar associada a
lesões do LCM, do menisco medial e do menisco lateral, em alguns casos o
coto do LCA pode ficar aderido à sinovial do LCP, dando a falsa ideia de um
joelho normal.

A maior parte das rupturas do LCA envolve uma subluxação transitória do


joelho, o que provoca um trauma secundário a outros tecidos, incluindo o osso,
a cartilagem articular, meniscos ou o LCM (NEUMAN, 2011).

Os pacientes com lesão de LCA podem apresentar artrocinemática articular


alterada no plano transversal (BRODY & HALL, 2012). A lesão resulta em
significativas limitações da atividade e restrições, como o de participar de
atividades habituais devido à instabilidade. Atividades vigorosas e contínuas
sobre um joelho com lesão de LCA pode causar também lacerações meniscais.
A lesão do LCA é detectada no exame físico por diversos testes específicos
para pesquisar o LCA e por meio de exames complementares por meio de
imagem. Atualmente, o exame de escolha é a ressonância nuclear magnética
(Figura 2) (COHEN, 2008).

TRATAMENTO

Podemos identificar consequências distintas possíveis após a ruptura


ligamentar que irá variar de acordo com o grau da lesão e resposta do
paciente, sendo uma delas o bom resultado sem cirurgia a qual o paciente é
capaz de levar uma vida normal sem quaisquer dificuldade, na outra já se
encontra uma instabilidade tão significativa que o paciente necessitará de
reconstrução do ligamento. Deve ser levado em consideração que lesões
associadas afeta o programa de reabilitação.

Os problemas em relação à reabilitação a considerar quando se trata um


indivíduo após lesão do LCA incluem comprometimentos, limitações na
atividade e restrições na participação identificados durante a avaliação e
quaisquer lesões concomitantes (BRODY & HALL, 2012).

TRATAMENTO CONSERVADOR
No tratamento conservador há uma remoção do sangue do joelho por
aspiração minuciosa ou por artroscopia. Uma vez removido o sangue, poderá
ser instituída a fisioterapia logo após o estágio agudo, para recuperação de
ADM normal, controle de equilíbrio, normalização da marcha e fortalecimento
de todos os grupos musculares, dando destaque aos flexores do joelho
(KISNER & COLBY, 2009). Neste tratamento não é possível restaurar a
integridade do ligamento, mas poderá restaurar a função.

Alguns indivíduos experimentam episódios de instabilidade após lesão do LCA


em virtude de sua importância no controle do centro instantâneo de rotação e
subsequentemente fracassam na tentativa de um tratamento conservador
(BRODY & HALL, 2012).

TRATAMENTO CIRÚRGICO

No tratamento cirúrgico a correção do ligamento cruzado anterior é possível,


sendo necessária uma reconstrução completa do mesmo. Este é indicado para
futebolista profissional que precisa retornar a um esporte sem demora, ou para
um paciente com instabilidade muito visível, o mesmo é aconselhado
imediatamente depois do traumatismo (COHEN, 2008). Aproximadamente um
paciente a cada três precisará da reconstrução após a ruptura do cruzado
anterior, o restante dividem-se igualmente entre aqueles que têm problemas
menores ocasionais e aqueles que não têm qualquer tipo de sintoma (DANDY,
2000).

Há diversos fatores que influenciam na decisão de realizar a reconstrução


cirúrgica, estes incluem o ligamento lesado, a localização e tamanho da lesão,
bem como seu grau de instabilidade dada pelo paciente, presença de
patologias associadas, nível desejado de função e o risco de ocorrer outra
lesão (KISNER & COLBY, 2009). A indicação da reconstrução ligamentar
corresponde ao período aproximado de 3 semanas após a lesão, a partir do
momento em que a articulação se encontre com amplitude média de 90º,
realizada de forma ativa e indolor, quando realizada a reconstrução ligamentar
na fase aguda aumenta a incidência de artrofibrose e retarda a reabilitação. A
reconstrução do ligamento cruzado anterior pode ser feita com diferentes tipos
de enxerto, e sua utilização depende da preferência e da experiência do
cirurgião (COHEN, 2008).

Estes incluem tendão patelar, tendões flexores do joelho e tendão de cadáver


denominado de aloenxerto. No caso do enxerto realizado a partir do tendão
patelar, é utilizada sua parte central, sendo 1/3 do tendão removida juntamente
com um bloco de osso da patela e da tíbia. Este já foi o enxerto mais utilizado
pelos médicos especialistas na década de 90, onde fora considerado o padrão
ouro para reconstrução de LCA, porém neste tipo de enxerto é possível que
haja o risco de fratura de patela ou ruptura do tendão patelar após a cirurgia,
além do que os pacientes referem dor na parte anterior do joelho e ao ajoelhar-
se.

Nos enxertos utilizando-se tendões dos flexores, isquiotibiais, são removidos


dois dos tendões deste grupamento muscular, o semitendineo e o grácil, e
dobrados em conjunto para criar um novo LCA, hoje são os mais utilizados
pelos cirurgiões e possui a vantagem de ter uma incisão menor que a incisão
para a retirada do tendão patelar, além da dor no pós operatório costuma se
menor. O aloenxerto é mais comumente usado em pacientes com menor
demanda, no Brasil sua disponibilidade é muito restrita e o fator preço também
dificulta sua utilização, este é mais usado quando um enxerto autógeno
apropriado não está disponível, como por exemplo, quando o tecido do próprio
paciente não é apropriado para a colheita do enxerto (KISNER & COLBY,
2009).

Após a cirurgia, o paciente passa por um programa completo de reabilitação na


fisioterapia, para progressivamente recuperar e retornar com segurança à suas
atividades de vida diárias e no caso de esportistas às suas atividades
esportivas. É importante levarmos em consideração que, mesmo que o
paciente realize uma reconstrução cirúrgica, estas estão com um risco elevado
de desenvolver osteoartrose do joelho relacionada a estresse em algum
momento de suas vidas (NEUMAN, 2011).

PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO DE REABILITAÇÃO DE LCA

São designadas algumas metas durante o processo de reabilitação pós-


operatória de reconstrução ligamentar, sendo elas restaurar a estabilidade e
mobilidade articular, obter apoio de peso indolor e estável, força e resistência
suficientes para suprir as demandas funcionais e habilidade de retornar às
atividades (KISNER & COLBY, 2009). Para isso é necessário um bom
programa de reabilitação, na qual podemos encontrar uma gama de protocolos
de tratamento propostos, o que devemos levar em consideração antes da
escolha de qual protocolo seguir é observar a gravidade da lesão, as lesões
associadas caso haja e ainda é válido ressaltar o respeito à individualização do
paciente para que possa haver sucesso no decorrer do tratamento. A seguir
será descrito alguns protocolos de reabilitação pós-cirúrgica de reconstrução
de ligamento cruzado anterior.

SEGUNDO O PROTOCOLO DE REABILITAÇÃO PÓS-CIRÚRGICA DE LCA


POR FISIOTERAPEUTAS ERNESTO FERREIRA E ÂNGELA MADUREIRA.

FASE I (1ª e 2ª SEMANAS)

Marcha com duas canadianas com apoio proprioceptivo.


Electroestimulação (vasto interno).
Mobilização da rótula (vertical e horizontal).
Contracções isométricas do quadricípete.
TENS.
Crioterapia.

FASE II (3ª e 4ª SEMANAS)

Marcha com duas canadianas, carga parcial (50% do peso corporal).


Electroestimulação.
Mobilização da rótula.
Mobilização passiva de 0ºa 120º. Mobilização activa de 0º a 90º.
Fortalecimento muscular do quadricípete e isquiotibiais.
Exercícios proprioceptivos sentado.
Fortalecimento muscular de flexores, abdutores, adutores e extensores da
anca.
Alongamento da cadeia posterior (isquiotibiais e gémeos).
Massagem com especial incidência sobre a cicatriz e “portões de entrada”.
TENS.
Crioterapia.

Hidroterapia
Mobilização passiva e activa do joelho.
Treino de marcha.
Exercícios proprioceptivos em apoio bipodal.
Fortalecimento de quadricípete, isquiotibiais e gémeos
(utilização de Aquafins e step).
Alongamento da cadeia posterior (isquiotibiais e gémeos).

FASE III (5ª e 6ª SEMANAS)

Carga total, marcha com uma canadiana (só na quinta semana).


Electroestimulação.
Mobilização passiva de 0º a 135º. Mobilização activa de 0º a120º.
Bicicleta estática (sem resistência).
Fortalecimento muscular do quadricípete e isquiotibiais.
Fortalecimento muscular de flexores, abdutores, adutores e extensores da
anca.
Exercícios proprioceptivos em apoio bipodal.
Alongamentos da cadeia posterior (isquiotibiais e gémeos).
Massagem.
TENS.
Crioterapia.

FASE IV (7ª a 9ª SEMANAS)

Inicio da musculação em cadeia cinética aberta (legcurl, legextension,


legpress, gémeos e anca).
Electroestimulação.
Mobilização passiva do joelho (amplitude completa).
Bicicleta com resistência progressiva.
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).
Massagem.
TENS.
Crioterapia.

Hidroterapia
Bicicleta subaquática.
Mobilização passiva e activa do joelho.
Treino de marcha.
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Fortalecimento de quadricípete, isquiotibiais e gémeos
(utilização de Aquafins e step).
Alongamento da cadeia posterior (isquiotibiais e gémeos).

FASE V (10ª à 12ª SEMANAS)

Musculação em cadeia cinética aberta.


Trabalho excêntrico do quadricípete.
Electroestimulação.
Mobilização passiva do joelho.
Bicicleta com resistência.
Corrida na passadeira.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Massagem.
TENS.
Crioterapia.

Hidroterapia
Trabalho pliométrico na cama elástica com apoio
bipodal.
Corrida.
Exercícios de técnica de corrida.
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).

FASE VI (13ª à 16ª SEMANAS)

Musculação em cadeia cinética aberta e fechada.


Electroestimulação.
Mobilização passiva completa.
Bicicleta.
Corrida na relva ou na praia.
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Trabalho pliométrico na cama elástica com apoio bipodal.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).
TENS.
Crioterapia.

Hidroterapia
Trabalho pliométrico na cama elástica com apoio
bipodal.
Corrida.
Exercícios de técnica de corrida.
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).

FASE VII (17ª à 24ª SEMANAS)


Musculação.
Bicicleta.
Corrida, treino condicionado e progressivo (na respectiva modalidade).
Exercícios proprioceptivos adaptados à modalidade.
Trabalho pliométrico.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).
Crioterapia.
Hidroterapia
Trabalho pliométrico na cama elástica com apoio
bipodal.
Corrida.
Exercícios de técnica de corrida.
Exercícios proprioceptivos em apoio unipodal.
Alongamentos (quadricípete, isquiotibiais e gémeos).
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