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Wender José de Souza

Sobre Sistemas Hamiltonianos Suaves por Partes

CAMPINAS
2014

i
ii
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica
Ana Regina Machado - CRB 8/5467

Souza, Wender José de, 1984-


So89s SouSobre sistemas hamiltonianos suaves por partes / Wender José de Souza. –
Campinas, SP : [s.n.], 2014.

SouOrientador: Marco Antonio Teixeira.


SouTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Matemática, Estatística e Computação Científica.

Sou1. Filippov, Sistemas de. 2. Campos vetoriais descontínuos. 3. Sistemas


hamiltonianos. 4. Teoria da bifurcação. 5. Singularidades (Matemática). I. Teixeira,
Marco Antonio,1944-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de
Matemática, Estatística e Computação Científica. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: On piecewise Hamiltonian systems


Palavras-chave em inglês:
Filippov systems
Descontinuous vector fields
Hamiltonian systems
Bifurcation theory
Singularities (Mathematics)
Área de concentração: Matemática
Titulação: Doutor em Matemática
Banca examinadora:
Marco Antonio Teixeira [Orientador]
Pedro Toniol Cardin
João Carlos da Rocha Medrado
Maurício Firmino Silva Lima
Paulo Ricardo da Silva
Data de defesa: 10-12-2014
Programa de Pós-Graduação: Matemática

iv

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vi
Abstract
In this work, we consider some aspects of the qualitative theory of non smooth dynamical
systems in R𝑛 . Our main goal is to study a class of such systems where the discontinuity set is
concentrated in a hypersurface Σ and moreover, we assume that in each region determined by Σ
the vector field is a Hamiltonian system.
We present studies related to the regularization of piecewise vector fields in R𝑛 that are volume
preserving on each smooth components. We also analyze singularities of piecewise smooth functions
where normal forms and their unfolding are presented. Finally, we study bifurcations of refractive
Hamiltonian vector fields.

Keywords: Filippov Systems, piecewise vector fields, Hamiltonian systems, bifurcation, sin-
gularity.

Resumo
Neste trabalho consideramos alguns aspectos da teoria qualitativa de sistemas dinâmicos suaves
por partes. Nosso principal objetivo é estudar uma classe de tais sistemas, onde o conjunto de
descontinuidade é dado por uma hipersuperfície Σ e além disso, assumimos que em cada região
determinada por Σ o campo de vetores definido é um sistema Hamiltoniano.
Apresentamos estudos relacionados à regularização de campos de vetores suaves por partes
em R𝑛 que preservam volume nas componentes suaves. Abordamos também singularidades de
funções suaves por partes, onde formas normais e seus desdobramentos são apresentados. Por fim
estudamos bifurcações de campos de vetores Hamiltonianos refrativos.
Palavras-chave: Sistemas de Filippov, campos de vetores suaves por partes, sistemas Hamil-
tonianos, bifurcação, singularidade.

vii
viii
Sumário

Dedicatória xi

Agradecimentos xv

Introdução 1

1 Preliminares 4
1.1 Sistemas Hamiltonianos Suaves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.1 Transformações simpléticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.2 Campos Hamiltonianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Sistemas de Filippov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Sobre Campos de Vetores que Seccionalmente Preservam Volume 12

3 Singularidades de Funções Suaves por Partes 17


3.1 Funções Suaves por Partes definidas em R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 𝑅(Σ)-equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.3 Singularidade de codimensão 0 em H * ((R2 , 0), 𝑓 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.4 Singularidades Tangenciais de uma função 𝐻 ∈ H * (R2 , 𝑓 ) . . . . . . . . . . . . . . 29
3.5 Singularidades não tangenciais ou críticas de uma função 𝐻 ∈ H * (R2 , 𝑓 ) . . . . . . 31
3.5.1 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 ∈ 𝐵𝑘 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.5.2 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 ∈ 𝐶𝑘 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.5.3 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 = ±𝑦 2 + 𝑥3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4 Sistemas Hamiltonianos Suaves por Partes 39


4.1 Campos Hamiltonianos Refrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.2 Estabilidade Estrutural local . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.3 Bifurcações a 1-Parâmetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.3.1 Tangência Cuspidal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.3.2 Ponto de equilíbrio não degenerado - Dobra . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.4 Bifurcações a 2-parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.4.1 Tangência de ordem 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.4.2 Ponto equilíbrio Cuspidal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4.3 Ponto de equilíbrio para ambos os campos 𝑋 e𝑌 . . . . . . . . . . . . . . . 64

ix
Referências 70

x
Aos meus pais Renato e Marlene, a minha irmã Nayane
e minha querida esposa Kamilla.

xi
xii
“Nunca deixe ninguém dizer que você não pode fazer alguma coisa.
Se você tem um sonho, tem que correr atrás dele.
As pessoas não conseguem vencer
e dizem que você também não vai vencer.
Se você quer alguma coisa, corre atrás.”
A Procura da Felicidade
“Se quer viver uma vida feliz,
amarre-se a uma meta,
não às pessoas nem às coisas.”
Albert Einstein

xiii
xiv
Agradecimentos

Após alguns anos de estudo, nada melhor que ter um sonho realizado. Este é o final de uma
etapa de minha vida e o começo de uma ainda melhor. Para chegar até aqui, fui guiado por Deus
que me colocou perto de grandes profissionais, que me deu forças para enfrentar as dificuldades
encontradas pelo caminho e sabedoria para aproveitar as oportunidades e escolher os meus passos.
Ressalvo aqui, o importante apoio de meus familiares e amigos. A estes, dedico meus sinceros
agradecimentos.

• Primeiramente a Deus que tem iluminado e abençoado meu caminho.

• A minha família, com especial carinho a meus pais, Marlene e Renato. Na simplicidade que
lhes foi concedida e sem conhecer o meio acadêmico, estes sempre me apoiaram em todos os
momentos da vida. E a minha querida irmã pelo carinho.

• A minha amada esposa, companheira e amiga Kamilla, que esteve ao meu lado durante toda
minha jornada estudantil.

• Ao meu orientador, Marco Antonio, agradeço pela sabedoria e experiência compartilhada,


pelos ensinamentos e amizade.

• Aos meus amigos e amigas Adriana, Iris, Juliana, Thais, Douglas, Felipe e também ao Pro-
fessor Ricardo Miranda pela amizade e conhecimentos compartilhados. Um agradecimento
especial a minha amiga Kamila, (Kamilinha), pelo apoio e ajuda com as figuras do trabalho.

• Aos professores e funcionários do IMECC/UNICAMP.

• A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.

• E ao CNPq e a Capes pelo suporte financeiro.

xv
xvi
Lista de Ilustrações

1 Espaço de fase dos sistemas estruturalmente estáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.1 Espaço de fase via integral primeira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6


1.2 Definição de campo deslizante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Contato visível (V) e invisível (I) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4 Objetos invariantes admissíveis e não admissíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.1 Exemplo de um campo de vetores Hamiltoniano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.1 Esquema da construção do homeomorfismo 𝑔. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


3.2 Esquema da construção do homeomorfismo 𝑘. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4.1 Exemplo de um campo de vetores Hamiltoniano refrativo. . . . . . . . . . . . . . . . 41


4.2 Um comportamento repulsor em torno de um ponto de dobra-dobra. . . . . . . . . . 43
4.3 Campo de vetores refrativo não Hamiltoniano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.4 Cúspide-cúspide com 𝑎 = 𝑏 = 𝑐 = 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.5 Cúspide-cúspide com 𝑎 = 𝑐 = 1 e 𝑏 = −1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.6 bifurcação Sela-Dobra visível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.7 bifurcação Sela-Dobra invisível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.8 bifurcação Centro-Dobra visível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.9 Curva 𝛾. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.10 bifurcação Centro-Dobra invisível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.11 Surgimento de 3 pontos de dobra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.12 surgimento de um ponto de cúspide para contato de ordem 4. . . . . . . . . . . . . 56
4.13 Bifurcação tangência de ordem 4 caso 𝐼𝐼. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.14 Bifurcação tangência de ordem 4 caso 𝑉 𝐼. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.15 Bifurcação tangência de ordem 4 caso 𝑉 𝑉 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.16 Tipos de pontos equilíbrio cuspidal em Σ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.17 Sela admissível e centro não admissível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.18 Sela admissível e centro em Σ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.19 Sela em Σ e centro não admissível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.20 Equilíbrio degenerado admissível e não admissível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.21 Homoclinica tangente a Σ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.22 Homoclínica em Σ+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.23 Γ transversal a Σ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

xvii
4.24 Bifurcação do ponto equilíbrio cuspidal-dobra visível . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.25 Bifurcação do ponto equilíbrio cuspidal-dobra invisível. . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.26 Sela (transversal) para o campo de vetores 𝑋𝐹𝜆 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.27 Sela (transversal) para o campo de vetores 𝑌𝐺𝜆 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.28 Bifurcação Sela-Sela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.29 Bifurcação Sela-Centro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.30 Bifurcação Centro-Centro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

xviii
Introdução

O principal objetivo desta tese é estudar sistemas Hamiltonianos suaves por partes, cuja princi-
pal motivação é proveniente dos trabalhos de Ekeland I. [6] e de Klok F. [9]. Em ambos trabalhos,
o interesse é estudar o problema fundamental de cálculo variacional em R𝑛 :
{︃∫︁ }︃
𝑇
𝑖𝑛𝑓 𝑓 (𝑥, 𝑥)𝑑𝑡;
˙ 𝑥(0) = 𝑥0 , 𝑥(𝑇 ) = 𝑥1
0

onde 𝑓 é uma função regular mas não convexa. Contudo, as condições de otimização dão origem a
um campo de vetores Hamiltoniano descontínuo, cujas soluções procuradas devem ser contínuas.
A teoria de sistemas Hamiltanianos suaves é uma reformulação da mecânica clássica segundo
Hamilton, que interpretou a mecânica Lagrangeana sob um novo ponto de vista. Entretanto, a
mecânica Hamiltoniana pode ser formulada sem recorrer à mecânica Lagrangeana, por meio do
estudo matemático de variedades simpléticas [12]. Assim como a mecânica Lagrangeana, a mecâ-
nica Hamiltoniana é capaz de estudar e analisar sistemas mais complexos (incapacidade inerente
à mecânica de Newton). As equações diferenciais de Hamilton para um sistema conservativo são
utilizados, geralmente, para aqueles nos quais há alternância periódica entre energia cinética e
energia potencial: uma bola quicando ou um pêndulo. Mas também, são utilizados em sistemas
mais complexos tais como: órbitas planetárias e mecânica quântica.
Os sistemas dinâmicos não-suaves têm evoluído bastante e nos últimos anos tornou-se uma das
fronteiras comuns da Matemática com a Física e Engenharia. Mais especificamente, só estudamos
sistemas de Filippov [7] que são sistemas expressos por equações diferenciais ordinárias descontí-
nuas ao longo de uma hipersuperfície no espaço de fase. Desta forma, faz-se necessário estudar o
contato do campo com a hipersuperfície de descontinuidade Σ. Estudos deste objeto podem ser
encontrados em [13], [18].
Muitos autores tem contribuído no estudo dos sistemas de Filippov, veja por exemplo [5], [8],
[10], [16]. Vale a pena ressaltar aqui também que, técnicas de regularização têm sido um utilíssimo
objeto no estudo de tais sistemas, veja [11], [15] e [17]. Entretanto, isto não ocorre para sistemas
Hamiltonianos suaves por partes.
Nesta tese, desenvolvemos um estudo sobre campos de vetores suaves por partes em R𝑛 onde
sobre cada região do R𝑛 determinada por Σ o campo é suave e preserva volume. Além disso,
apresentamos uma classificação das singularidades de germes de funções suaves por partes em “R𝑛 ”
e por fim, estudamos campos de vetores Hamiltonianos refrativos em R2 e exibimos o diagrama de
bifurcação através de famílias genéricas a 1 e 2 parâmetros. Os resultados obtidos são sumarizados
abaixo:

1
Denotemos por Σ uma subvariedade em R𝑛 de dimensão 𝑛 − 1 que divide o R𝑛 em duas regiões:
Σ e Σ− . Desta forma, entendemos por 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) e 𝐻 = (𝐹, 𝐺) como um campo de vetores e
+

uma função respectivamente, definidos em R𝑛 dados por:

𝑋(𝑝) se 𝑝 ∈ Σ+ 𝐹 (𝑝) se 𝑝 ∈ Σ+ ∪ Σ
{︃ {︃
𝑍(𝑝) = e 𝐻(𝑝) =
𝑌 (𝑝) se 𝑝 ∈ Σ− 𝐺(𝑝) se 𝑝 ∈ Σ− ,

onde 𝑋, 𝑌 são campos suaves e 𝐹 , 𝐺 são funções suaves.


Uma aproximação de 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) por uma família a 1-parâmetro de campos de vetores contínuos
é chamada regularização de 𝑍.
Resultado 1. Apresentamos uma condição necessária e suficiente para que uma regularização
de um campo de vetores suave por partes 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) em R𝑛 ,onde as componentes 𝑋 e 𝑌 de 𝑍 são
campos de vetores suaves que preservam o volume, resulte em campos de votores que preservam
o volume. Em dimensão 2, as componentes 𝑋 e 𝑌 de 𝑍 são Hamiltonianas e uma rugularização
de 𝑍 resulta em campos de vetores Hamiltonianos. Além disso, verificamos que, na vizinhança de
um ponto 𝑝 pertencente à descontinuidade de 𝑍 onde a aplicação de Poincaré esteja bem definida,
as trajetórias de 𝑍 são curvas fechadas. (Teorema 2.0.1, Proposições 3 e 4).
Resultado 2. Existe uma classe de campos de vetores Hamiltonianos suaves por partes 𝑍𝐻
em R2𝑛 para os quais existe uma regularização que é Hamiltoniana. (Proposição 2).
Denotamos por H * (R2 , 𝑓 ) o conjunto das funções 𝐻 = (𝐹, 𝐺) diferenciáveis em todo ponto
exceto em uma curva Σ = 𝑓 −1 (0) e que satisfazem {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑝) = 0 para todo 𝑝 ∈ Σ, onde
𝑓 : R2 → R é uma função suave tendo 0 como valor regular.
Resultado 3. Exibimos as formas normais para funções 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * na vizinhança da
origem onde um dos itens ocorre:

• Os níveis de 𝐹 e 𝐺 são transversais a Σ na origem;

• Os níveis de 𝐹 e 𝐺 que passam pela origem têm ambos um contato de ordem 2 com Σ.

Além disso, concluímos que tais funções são 𝑅(Σ)-estáveis. Veja definição de 𝑅(Σ)-equivalência
19. (Teorema 3.3.1).
Resultado 4. A forma normal das singularidades denominadas tangenciais de 𝐻 ∈ H * que
não são estáveis e das singularidades não-tangenciais ou críticas de 𝐻 de codimensão baixa são
apresentadas, assim como os desdobramentos. (Teorema 3.4.1, Seção 3.5 ).
Resultado 5. Apresentamos o desdobramento de uma singularidade tangencial, cuja forma
normal é
se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝑦 ± 𝑥𝑘
𝐻(𝑥, 𝑦) =
−𝑦 ± 𝑥 se 𝑦 < 0
𝑘

via regularização da função 𝐻. (Teorema 3.4.2).


Resultado 6. Provamos que campos de vetores Hamiltonianos refrativos em R2 que são
localmente estruturalmente estáveis na origem são caracterizados por:

• Campo de vetores 𝑍 que possui um ponto regular na origem;

• Campo de vetores 𝑍 cuja origem é uma dobra-dobra. ( veja definição 6).

2
Figura 1: Espaço de fase dos sistemas estruturalmente estáveis.

Veja figura 1(Teorema 4.2.1 ).


Resultado 7. Famílias genéricas a 1 e 2 parâmetros dos sistemas Hamiltonianos refrativos são
apresentados. (Seções 4.3 e 4.4).

3
Capítulo 1

Preliminares

Nesta seção alguns conceitos básicos e resultado sobre Sistemas Hamiltonianos suave e Sistemas
dinâmicos não suaves são apresentados.

1.1 Sistemas Hamiltonianos Suaves


1.1.1 Transformações simpléticas
Definição 1. Um espaço vetorial simplético (𝑉, 𝜔) é um espaço vetorial 𝑉 de dimensão finita,
munido com uma forma 𝜔 bilinear a qual é anti-simétrica e não-degenerada, isto é,
𝜔(𝑢, 𝑣) = −𝜔(𝑣, 𝑢), 𝑢, 𝑣 ∈ 𝑉
e para todo 𝑢 ̸= 0 ∈ 𝑉 , existe um 𝑣 ∈ 𝑉 satisfazendo 𝜔(𝑢, 𝑣) ̸= 0.
A dimensão de um espaço simplético é sempre par.
Definição 2. Uma transformação linear 𝑇 : 𝑉 → 𝑉 de um espaço simplético 𝑉 é dita simplética
se 𝑇 preserva a forma 𝜔, isto é, se para quaisquer 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑉 tem-se
𝜔 (𝑇 (𝑥), 𝑇 (𝑦)) = 𝜔(𝑥, 𝑦).
Lema 1.1.1. Seja (𝑉, 𝜔) um espaço simplético, ℬ = {𝑣1 , · · · , 𝑣𝑛 } uma base de 𝑉 e 𝑇 : 𝑉 → 𝑉
uma transformação simplética. Sejam Ω̃ = (𝜔(𝑣𝑖 , 𝑣𝑗 ))1≤𝑖,𝑗≤𝑛 e 𝑀 = [𝑇 ]ℬ as matrizes da forma 𝜔 e
da transformação 𝑇 , respectivamente, em relação à base ℬ. Então 𝑀 é anti-simétrica, invertível e
vale 𝑀 𝑡 Ω̃𝑀 = Ω̃.
O próximo lema é um dos resultados clássicos de álgebra linear:
Lema 1.1.2. Duas matrizes invertíveis e anti-simétricas são sempre semelhantes.
Corolário 1. Mantendo a notação do lema 1.1.1, existe uma matriz de mudança de base 𝐴 tal
que Ω̃ = 𝐴𝑡 𝐽𝐴, onde
0 𝐼
[︃ ]︃
𝐽 = 𝐽𝑛 = ,
−𝐼 0
sendo 𝐼 a matriz identidade 𝑛 × 𝑛.

4
A matriz 𝐽 acima é denominada matriz simplética canônica. A forma bilinear induzida
será dita forma simplética usual ou canônica. Tendo em vista os lemas acima, diremos que
uma matriz real 𝑀 2𝑛 × 2𝑛 é uma matriz simplética se

𝑀 𝑡 𝐽𝑀 = 𝐽.

1.1.2 Campos Hamiltonianos


Definição 3. Seja 𝐻 : 𝑈 ⊂ R2𝑛 → R uma função de classe 𝒞 𝑘 , 𝑘 > 1, e ∇𝐻 o gradiente de 𝐻,
(︃ )︃
𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝐻
∇𝐻(𝑥) = (𝑥), · · · , (𝑥), (𝑥), · · · , (𝑥) ,
𝜕𝑥1 𝜕𝑥𝑛 𝜕𝑦1 𝜕𝑦𝑛

onde 𝑥 = (𝑥1 , · · · , 𝑥𝑛 , 𝑦1 , · · · , 𝑦𝑛 ). Um campo de vetores Hamiltoniano é um campo da forma

𝑋𝐻 (𝑥) = 𝐽∇𝐻(𝑥), 𝑥 ∈ 𝑈, (1.1.1)

onde 𝐽 é uma matriz simplética. A função 𝐻 denomina-se Hamiltoniana do sistema (1.1.1).

Usualmente, fixado um sistema de coordenadas (𝑥, 𝑦) em R2𝑛 , define-se um campo de vetores


Hamiltoniano como um sistema de 2𝑛 equações diferenciais ordinárias da forma

𝑥˙ = 𝐻𝑦 (𝑥, 𝑦), 𝑦˙ = −𝐻𝑥 (𝑥, 𝑦), (1.1.2)

onde 𝐻 = 𝐻(𝑥, 𝑦) é uma função real suave definida para (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑈 , onde 𝑈 é um conjunto aberto
de R2𝑛 . Neste caso, temos que 𝐽 é a matriz simplética usual

0 𝐼
[︃ ]︃
𝐽= .
−𝐼 0

A menos de uma mudança de coordenadas (simplética), todo campo Hamiltoniano é desta forma.
Lembremos algumas propriedade importantes dos Sistemas Hamiltonianos.

1. 𝐻 é constante ao longo das soluções do campo associado a 𝐻, isto é, 𝐻 é uma integral


primeira do sistema (1.1.1).

2. Campos de vetores Hamiltonianos preservam volume.

3. 𝑋 : R2 → R2 é um campo de vetores Hamiltoniano se, e somente se, 𝑑𝑖𝑣(𝑋) = 0.

4. Pontos de equilíbrio não degenerados de Sistemas Hamiltonianos 𝑋 : R2 → R2 são do tipo:


Centro ou Sela.

No que se segue, a menos que mencionado o contrário, lidaremos com campos Hamiltonianos
em relação à forma simplética usual.

5
Observação 1. Em R2𝑛 , se encontramos 2𝑛−1 integrais primeiras linearmente independentes para
um campo 𝑋, conseguimos caracterizar completamente suas trajetórias, considerando interseções
entre as superfícies de nível, veja [1]. Estes sistemas são ditos completamente integráveis.
Logo, em R2 , basta uma integral primeira para conhecermos o comportamento das trajetórias do
campo, como veremos no próximo exemplo.
Exemplo 1. Seja 𝑋 um campo de vetores dado por
𝑥˙ = 𝑥
{︃
𝑋(𝑥, 𝑦) =
𝑦˙ = −𝑦 − 3𝑥2 .

Claramente, 𝑋 é um campo de vetores Hamiltoniano e sua função hamiltoniana é 𝐻(𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦+𝑥3 .


Logo, 𝐻 é uma integral primeira do campo vetorial 𝑋 e o espaço de fase deste campo, apresentado
na figura 1.1, é obtido fazendo 𝐻(𝑥, 𝑦) = 𝑘, 𝑘 ∈ R constante.

Figura 1.1: Espaço de fase via integral primeira.

Sejam 𝐻, 𝐹 e 𝐺 funções suaves de 𝑈 ⊂ R2𝑛 em R. Define-se o Colchete de Poisson de 𝐹 e


𝐺 por
𝜕𝐹 𝑇 𝜕𝐺 𝜕𝐹 𝑇 𝜕𝐺
{𝐹, 𝐺} = ∇𝐹 𝑇 𝐽∇𝐺 = −
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝑛
(︃
∑︁ 𝜕𝐹
)︃ (1.1.3)
𝜕𝐺 𝜕𝐹 𝜕𝐺
= (𝑥, 𝑦) (𝑥, 𝑦) − (𝑥, 𝑦) (𝑥, 𝑦) .
𝑖=1 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑦𝑖 𝜕𝑦𝑖 𝜕𝑥𝑖
Claramente {𝐹, 𝐺} é uma função de 𝑈 em R bem definida e não é difícil verificar que {., .} é
anti-simétrica e bilinear. Verifica-se também que, {., .} satisfaz a identidade de Jacobi:
{𝐹, {𝐺, 𝐻}} + {𝐺, {𝐻, 𝐹 }} + {𝐻, {𝐹, 𝐺}} = 0.

6
Teorema 1.1.1. Sejam 𝐹, 𝐺 e 𝐻 funções suaves de 𝑈 ⊂ R2𝑛 em R. Então
1. 𝐹 é uma integral primeira para (1.1.1) se, e somente se, {𝐹, 𝐻} = 0.
2. 𝐻 é uma integral primeira para (1.1.1).
3. Se 𝐹 e 𝐺 são integrais primeira para (1.1.1) então, {𝐹, 𝐺} também é.
Demonstração. Para prova veja [12].

1.2 Sistemas de Filippov


Nesta seção trataremos de alguns conceitos utilizados no estudo de Sistemas de Filippov.
Primeiramente, ressaltamos que, como estudaremos os Sistemas de Filippov localmente (veja
[7]), trataremos com germes de campos de vetores e funções, ou seja, não faremos distinção entre
as aplicações cujas restrições ao domínio de interesse sejam iguais.
Seja 𝑓 : R𝑛 → R, um germe de aplicação suave, com 0 ∈ R um valor regular para 𝑓 . No
decorrer do texto, 𝑓 será usado para denotar a projeção 𝜋𝑛 em R𝑛 , isto é, 𝑓 (𝑥1 , 𝑥2 , · · · , 𝑥𝑛 ) = 𝑥𝑛 .
Desta forma, a hipersuperfície Σ = 𝑓 −1 (0) ∩ 𝑈 é uma subvariedade diferenciável de dimensão 𝑛 − 1
e divide o conjunto aberto 𝑈 em duas regiões abertas

Σ+ = {𝑥 ∈ R𝑛 ; 𝑓 (𝑥) > 0} e Σ− = {𝑥 ∈ R𝑛 ; 𝑓 (𝑥) < 0}.

Considere 𝑋, 𝑌 dois campos de vetores suaves definidos em R𝑛 . Um Sistema de Filippov é um


campo vetorial suave por partes definido da seguinte forma:

𝑋(𝑝) se 𝑥 ∈ Σ+
{︃
𝑍(𝑝) = (1.2.1)
𝑌 (𝑝) se 𝑥 ∈ Σ− ,

e as órbitas soluções ao longo de 𝑝 ∈ Σ seguem a convenção de Filippov.


Denotaremos o campo acima por 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ). Chamaremos de Ω = Ω(R𝑛 , 𝑓 ) o espaço destes
campos vetoriais. Podemos tomar Ω = X 𝑘 (R𝑛 ) × X 𝑘 (R𝑛 ), onde por abuso de notação X 𝑘 denota
o conjunto dos campos de vetores de classe 𝒞 𝑘 em Σ+ = Σ+ ∪ Σ e Σ+ = Σ+ ∪ Σ, e munimos Ω da
𝒞 𝑘 -topologia produto.
A fim de estabelecer a dinâmica dada por um campo vetorial de Filippov 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω em
𝑈 , precisamos definir a trajetória de 𝑍 por um ponto 𝑝 ∈ 𝑈 . Para isso, faz se necessário distinguir
se o ponto pertence a Σ+ ,Σ− ou Σ.
Se o ponto 𝑝 pertence à região Σ+ ou Σ− , a trajetória local por 𝑝 é dada pela trajetória
local relativa ao campo 𝑋 ou 𝑌 respectivamente. Para estender a definição de trajetória para Σ,
precisamos distinguir dois subconjuntos de Σ:

• Σ𝑅 = {𝑝 ∈ Σ; 𝑋𝑓 (𝑝).𝑌 𝑓 (𝑝) ̸= 0}, o conjunto dos pontos de Σ onde ambos os fluxos de 𝑋 e


𝑌 encontram transversalmente Σ.
• Σ𝑆 = {𝑝 ∈ Σ; 𝑋𝑓 (𝑝).𝑌 𝑓 (𝑝) = 0}, o conjunto de pontos de Σ onde 𝑋 ou 𝑌 é tangente a Σ.
Ou, onde 𝑋(𝑝) = 0 ou 𝑌 (𝑝) = 0.

7
⟨ ⟩
Nos conjuntos acima 𝑋𝑓 (𝑝) = 𝑋(𝑝), ∇𝑓 (𝑝) é a derivada de Lie de 𝑓 com respeito ao campo
vetorial 𝑋 no ponto 𝑝 ∈ Σ.
Os pontos de Σ𝑆 são chamados de singularidades de 𝑍, os quais estudaremos nas seções que
seguem. O conjunto Σ𝑅 é um subconjunto aberto de Σ e podemos ainda dividir Σ𝑅, seguindo a
convenção de Filippov, em alguns subconjuntos:

• Região de Costura
Σ𝑐 := {𝑝 ∈ Σ/ 𝑋𝑓 (𝑝)𝑌 𝑓 (𝑝) > 0};

• Região de Escape
Σ𝑒 := {𝑝 ∈ Σ/ 𝑋𝑓 (𝑝) > 0 e 𝑌 𝑓 (𝑝) < 0};

• Região de Deslize
Σ𝑑 := {𝑝 ∈ Σ/ 𝑋𝑓 (𝑝) < 0 e 𝑌 𝑓 (𝑝) > 0}.

Desta forma temos que em Σ𝑐 ou as órbitas de 𝑋 chegam em Σ e as órbitas de 𝑌 saem de Σ,


ou as órbitas de 𝑋 saem de Σ e as órbitas de 𝑌 chegam em Σ. Desta forma definimos a solução
de 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) por um ponto 𝑝 ∈ Σ𝑐 concatenando segmentos de órbitas de 𝑋 e 𝑌 . Além disso,
neste caso temos que localmente a solução é única.
Em Σ𝑑 , ambas as órbitas de 𝑋 e 𝑌 estão chegando em Σ. Logo a única opção para a órbita
continuar é restrita a Σ. Para isto, defini-se sobre Σ um campo tangente (veja figura 1.2), 𝑍 𝑑 dado
por:

𝑌 𝑓 (𝑝)
𝑍 𝑑 (𝑝) = 𝜆𝑋(𝑝) + (1 − 𝜆)𝑌 (𝑝), onde 𝜆 = . (1.2.2)
𝑌 𝑓 (𝑝) − 𝑋𝑓 (𝑝)

𝑌 (𝑝)

Σ
𝑋(𝑝)

Figura 1.2: Definição de campo deslizante.

O campo 𝑍 𝑑 é denominado campo deslizante de Z. Observe que uma solução do campo


𝑍 é solução do campo (1.2.1). Desta forma temos que, para um ponto 𝑝 ∈ Σ𝑑 , existem infinitas
𝑑

soluções do campo (1.2.1) que são dadas por uma das opções:

8
• Solução do campo deslizante (1.2.2).

• Concatenando segmentos de trajetórias de 𝑋 ou 𝑌 passando por 𝑝 com segmento de trajetória


de 𝑍 𝑑 começando em 𝑝.

De forma análoga, em Σ𝑒 define-se o campo 𝑍 𝑒 = −(−𝑍)𝑑 e a solução por um ponto 𝑝 ∈ Σ𝑒 .


Segue também que não existe unicidade de soluções.

Definição 4. Um ponto de equilíbrio 𝑝 do campo deslizante 𝑍 𝑑 , isto é, 𝑍 𝑑 (𝑝) = 0 é chamado


pseudo-equilíbrio de 𝑍.

Definição 5. Dizemos que um ponto 𝑝 ∈ R𝑛 é uma singularidade de 𝑍 se satisfaz uma das


condições abaixo:

1. 𝑝 ∈ Σ+ tal que 𝑋(𝑝) = 0;

2. 𝑝 ∈ Σ− tal que 𝑌 (𝑝) = 0;

3. 𝑝 ∈ Σ𝑒 tal que 𝑍 𝑒 (𝑝) = 0;

4. 𝑝 ∈ Σ𝑑 tal que 𝑍 𝑑 (𝑝) = 0;

5. 𝑝 ∈ Σ tal que 𝑋𝑓 (𝑝) = 0 ou 𝑌 𝑓 (𝑝) = 0.

Qualquer ponto que não satisfaz nenhuma das condições da definição 5 é chamado ponto regular.
Note que no item (5) da definição 5 podemos ter 𝑋(𝑝) = 0 ou 𝑌 (𝑝) = 0, isto é, um ponto
de equilíbrio do campo 𝑋 ou do campo 𝑌 na região de descontinuidade Σ. Seja 𝑝 ∈ Σ tal que
𝑋𝑓 (𝑝) = 0 e 𝑋(𝑝) ̸= 0, então 𝑝 é dita uma singularidade tangencial de 𝑋.
Podemos distinguir os tipos de tangências entre um campo 𝑋 e a descontinuidade Σ, analisando
o tipo de contato entre a trajetória de 𝑋 e o bordo Σ da região Σ+ .

Definição 6. Um campo vetorial suave 𝑋 ∈ X 𝑘 (R𝑛 ) possui uma dobra ou tangência quadrática
com Σ = 𝑓 −1 (0) em um ponto 𝑝 se

𝑋𝑓 (𝑝) = 0 e 𝑋 2 𝑓 (𝑝) ̸= 0.

Definição 7. Um campo vetorial suave 𝑋 ∈ X 𝑘 (R𝑛 ), 𝑛 ≥ 3, possui uma cúspide ou tangência


genérica cúbica com Σ = 𝑓 −1 (0) em um ponto 𝑝 se

𝑋𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 2 𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 3 𝑓 (𝑝) ̸= 0,

e o conjunto {︁ }︁
𝐷𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋 2 𝑓 (𝑝)
é linearmente independente.

9
Definição 8. Um campo vetorial suave 𝑋 ∈ X 𝑘 (R𝑛 ), 𝑛 ≥ 4, possui um rabo de andorinha ou
tangência genérica de ordem 4 com Σ = 𝑓 −1 (0) em um ponto 𝑝 se

𝑋𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 2 𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 3 𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 4 𝑓 (𝑝) ̸= 0

e o conjunto {︁ }︁
𝐷𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋 2 𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋 3 𝑓 (𝑝)
é linearmente independente.
Indutivamente definimos
Definição 9. Um campo vetorial suave 𝑋 ∈ X 𝑘 (R𝑛 ), 𝑛 ≥ 𝑘, possui uma tangência de ordem 𝑘
com Σ = 𝑓 −1 (0) em um ponto 𝑝 se

𝑋𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 2 𝑓 (𝑝) = 0, · · · , 𝑋 𝑘−1 𝑓 (𝑝) = 0, 𝑋 𝑘 𝑓 (𝑝) ̸= 0

e o conjunto {︁ }︁
𝐷𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋𝑓 (𝑝), 𝐷𝑋 2 𝑓 (𝑝), · · · , 𝐷𝑋 𝑘−1 𝑓 (𝑝)
é linearmente independente.
Nas definições acima, 𝑋 𝑖 𝑓 (𝑝) = 𝑋(𝑋 𝑖−1 𝑓 )(𝑝), 𝑖 = 2, · · · , 𝑘. Além disso, se um campo de
vetores tem uma tangência de ordem 2𝑚, 𝑚 > 0, com Σ = 𝑓 −1 (0) então esta tangência pode ser
visível ou invisível, dependendo do sinal de 𝑋 2𝑚 𝑓 . Vamos formalizar este conceito abaixo. Veja
também figura 1.3
Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) um campo de vetores definido como na equação (1.2.1).
Definição 10. Dizemos que 𝑝 é uma tangência de ordem 2𝑚 visível, com 𝑚 > 0, para o campo
𝑋 se 𝑋 2𝑚 𝑓 (𝑝) > 0 e invisível se 𝑋 2𝑚 𝑓 (𝑝) < 0. Por outro lado, 𝑝 é uma tangência de ordem 2𝑚
visível, com 𝑚 > 0, para o campo 𝑌 se 𝑌 2𝑚 𝑓 < 0 e invisível se 𝑌 2𝑚 𝑓 (𝑝) > 0.

𝑉𝐼 𝐼𝑉 𝑉𝑉 𝐼𝐼
Figura 1.3: Contato visível (V) e invisível (I)

Seja Σ̄+ e Σ̄− o fecho de Σ+ e Σ− respectivamente. Isto é,

Σ̄𝑖 = Σ𝑖 ∪ Σ, onde 𝑖 = ±.

Dado um Sistema de Filippov 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ), as componentes 𝑋 e 𝑌 são definidas em vizinhanças


abertas de Σ̄+ e Σ̄− respectivamente. Desta forma, os campos vetoriais suaves 𝑋 e 𝑌 podem
possuir pontos de equilíbrio que pertencem ou não a Σ̄+ e Σ̄− , respectivamente. Desta forma
faz-se necessário a seguinte definição.

10
Definição 11. Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) um campo descontínuo em R𝑛 .
• Se 𝑝 ∈
/ Σ̄+ e 𝑋(𝑝) = 0 então, 𝑝 é dito um ponto equilíbrio de 𝑋, consequentemente de 𝑍,
não admissível. Caso contrário, 𝑝 é ponto equilíbrio admissível de 𝑋.
• Se 𝑝 ∈
/ Σ̄− e 𝑌 (𝑝) = 0 então, 𝑝 é dito um ponto equilíbrio de 𝑌 , consequentemente de 𝑍, não
admissível. Caso contrário, 𝑝 é ponto equilíbrio admissível de 𝑌 .
Analogamente, objetos invariantes como, variedades estáveis e instáveis, órbitas periódicas dos
campos vetoriais 𝑋 e 𝑌 que não pertencem a Σ̄+ e Σ̄− também serão chamados de não admissíveis.
Veja um exemplo na figura 1.4.

𝑏
𝑏 é ponto de equilíbrio
admissível de 𝑋

𝛾 é ciclo limite
não admissível de 𝑋

𝑎 é ponto de equilíbrio
não admissível de 𝑋
𝑎

Figura 1.4: Objetos invariantes admissíveis e não admissíveis

A fim de estudar singularidades dos Sistemas de Filippov, distinguindo-as em singularidades


estáveis e instáveis, relações de equivalências são dadas nas literaturas de Sistemas de Filippov,
veja por exemplo [4], [7] e [8].
Definição 12. Dizemos que dois Sistemas de Filippov 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) e 𝑍˜ = (𝑋, ˜ 𝑌˜ ) em Ω(R𝑛 , 𝑓 )
são Σ−equivalentes se existir um homeomorfismo ℎ : R𝑛 → R𝑛 que deixa Σ invariante e que leva
órbitas de 𝑍 em órbitas de 𝑍˜ preservando a orientação das órbitas.
Segue naturalmente da definição 12 o conceito de Σ-estabilidade estrutural.
Definição 13. Dizemos que um campo 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω é Σ-estruturalmente estável se existe uma
vizinhança 𝑉 de 𝑍 em Ω tal que todo 𝑍˜ em 𝑉 é Σ−equivalente a 𝑍.

11
Capítulo 2

Sobre Campos de Vetores que


Seccionalmente Preservam Volume

Nesta seção, tratamos com a regularização de campos de vetores em R𝑛 da forma 𝑍 = (𝑋, 𝑌 )


cujas componentes preservam volume. O conjunto destes campos de vetores 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) denotamos
por Ω𝑘𝑣𝑜𝑙 (R𝑛 , 𝑓 ). Damos condições sob as quais tal regularização mantém a propriedade de que o
fluxo preserva volume. E também apresentamos algumas particularidades no caso em que as
componentes de 𝑍 são campos Hamiltonianos.
Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑘 (R𝑛 , 𝑓 ) um campo de vetores descontínuo sobre R𝑛 . Sotomayor e Teixeira,
em [15], introduziram o processo de regularização. Mais precisamente, consideramos uma família
a 1-parâmetro de campos de vetores suave 𝑍𝜖 , 𝜖 > 0, tal que:
• 𝑍𝜀 é igual a 𝑋 para todo ponto de Σ+ cuja distância a Σ é maior que 𝜀;
• 𝑍𝜀 é igual a 𝑌 para todo ponto de Σ− cuja distância a Σ é maior que 𝜀;
Uma função 𝐶 ∞ 𝜙 : R −→ R é dita uma função transição se 𝜙(𝑥) = −1 para 𝑥 ≤ −1, 𝜙(𝑥) = 1
para 𝑥 ≥ 1 e 𝜙′ (𝑥) > 0 se 𝑥 ∈ (−1, 1). A 𝜙-regularização de 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) é a família a 1-parâmetro
𝑍𝜀 ∈ 𝐶 𝑘 dada por:

1 𝜙𝜀 (𝑓 (𝑞)) 1 𝜙𝜀 (𝑓 (𝑞))
(︃ )︃ (︃ )︃
𝑍𝜀 (𝑞) = + 𝑋01 (𝑞) + − 𝑋02 (𝑞). (2.0.1)
2 2 2 2
Assumimos que 𝜙𝜀 (𝑥) = 𝜙(𝑥/𝜀), para 𝜀 > 0.
Teorema 2.0.1. Sejam 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑘𝑣𝑜𝑙 (R𝑛 , 𝑓 ), 𝜔 uma forma volume para R𝑛 e 𝑍𝜀 uma 𝜙-
regularização ¯ (𝑥) = 0 para todo 𝑥 satisfazendo
de 𝑍. Então, 𝑍𝜀 preserva volume se, e somente se, 𝑍𝑓
̸= 0, onde 𝑍¯ = 𝑋 − 𝑌 .
(︁ )︁
′ 𝑓 (𝑥)
𝜙 𝜀

Lema 2.0.1. Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑘 (R𝑛 , 𝑓 ) um campo de vetores descontínuo satisfazendo


𝑑𝑖𝑣 (𝑋) (𝑥) = 𝑑𝑖𝑣 (𝑌 ) (𝑥) = 0 ∀ 𝑥 ∈ R𝑛 . (2.0.2)
¯ (𝑥) = 0 para todo 𝑥 ∈ R𝑛
Então, 𝑑𝑖𝑣 (𝑍𝜀 )(︁(𝑥) =)︁ 0 para todo 𝑥 ∈ R𝑛 e 𝜀 > 0 se, e somente se, 𝑍𝑓
satisfazendo 𝜙′ 𝑓 (𝑥)
𝜀
̸= 0.

12
Demonstração. Suponha que 𝑋 = (𝑔 1 , · · · , 𝑔 𝑛 ), 𝑌 = (ℎ1 , · · · , ℎ𝑛 ) e 𝑥 = (𝑥1 , · · · , 𝑥𝑛 ). De (2.0.2)
temos, 𝑔𝑥11 + · · · + 𝑔𝑥𝑛𝑛 = 0 e ℎ1𝑥1 + · · · + ℎ𝑛𝑥𝑛 = 0. Além disso, a regularização 𝑍𝜀 de 𝑍 é dada por:
𝑔 1 (𝑥)+ℎ1 (𝑥) 𝑓 (𝑥) 𝑔 1 (𝑥)−ℎ1 (𝑥)
(︁ )︁
𝑥˙1 = +𝜙


2 (︁ 𝜖 )︁ 2 2 2


𝑔 2 (𝑥)+ℎ2 (𝑥)

𝑥˙2 = + 𝜙 𝑓 (𝑥) 𝑔 (𝑥)−ℎ (𝑥)



𝑋𝜖 (𝑥) = ..
2 𝜖 2
(2.0.3)



⎪ .
𝑔 𝑙 (𝑥)+ℎ𝑙 (𝑥) 𝑔 𝑙 (𝑥)−ℎ𝑙 (𝑥)
(︁ )︁
𝑥˙𝑙 = +𝜙 𝑓 (𝑥)



2 𝜖 2

Desta forma, por definição

𝑔 1 (𝑥) + ℎ1𝑥1 (𝑥) 𝑓 (𝑥) 𝑓𝑥1 (𝑥)(𝑔 1 (𝑥) − ℎ1 (𝑥)) 𝑓 (𝑥) 𝑔𝑥11 (𝑥) − ℎ1𝑥1 (𝑥)
(︃ )︃ (︃ )︃
𝑑𝑖𝑣 (𝑍𝜀 (𝑥)) = 𝑥1 + 𝜙′ +𝜙
2 𝜖 2𝜀 𝜖 2
𝑔 (𝑥) + ℎ𝑥2 (𝑥)
2 2
𝑓 (𝑥) 𝑓𝑥2 (𝑥)(𝑔 (𝑥) − ℎ (𝑥)) 𝑓 (𝑥) 𝑔𝑥2 (𝑥) − ℎ2𝑥2 (𝑥)
(︃ )︃ (︃ )︃ 2
2 2
+ 𝑥2 + 𝜙′ +𝜙
2 𝜖 2𝜀 𝜖 2
..
.
𝑔𝑥𝑛𝑛 (𝑥) + ℎ𝑛𝑥𝑛 (𝑥) ′ 𝑓 (𝑥) 𝑓𝑥𝑛 (𝑥)(𝑔 𝑛 (𝑥) − ℎ𝑛 (𝑥)) 𝑓 (𝑥) 𝑔𝑥𝑛𝑛 (𝑥) − ℎ𝑛𝑥𝑛 (𝑥)
(︃ )︃ (︃ )︃
+ +𝜙 +𝜙 .
2 𝜖 2𝜀 𝜖 2
(2.0.4)

Agora, usando que 𝑔𝑥11 + · · · + 𝑔𝑥𝑛𝑛 = 0 e ℎ1𝑥1 + · · · + ℎ𝑛𝑥𝑛 = 0, obtemos


)︃ [︁ ]︁
𝑓 (𝑥) 𝑓𝑥1 (𝑔 1 − ℎ1 ) + 𝑓𝑥2 (𝑔 2 − ℎ2 ) + · · · + 𝑓𝑥𝑙 (𝑔 𝑙 − ℎ𝑙 )
(︃
𝑑𝑖𝑣 (𝑍𝜖 (𝑥)) = 𝜙′
𝜖 2𝜖
(2.0.5)
𝑓 (𝑥) ¯
(︃ )︃
= (2𝜖) 𝜙−1 ′
𝑍𝑓 (𝑥)
𝜖

Por fim, como 𝜀 > 0 o lema segue da última igualdade.


Os dois próximos resultados podem ser considerados como casos particulares dos já então
apresentados, porém, seu enunciado com sua demonstração é apresentada devido à importância
do conjunto de campos neles estudados.
Denotaremos por H (R2𝑛 , 𝑓 ) o conjunto de todas as funções reais 𝐻 = (𝐹, 𝐺) tal que

𝐹 (𝑥, 𝑦) se 𝑓 (𝑥, 𝑦) ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = (2.0.6)
𝐺(𝑥, 𝑦) se 𝑓 (𝑥, 𝑦) < 0

onde 𝐹 e 𝐺 são funções de classe 𝒞 𝑘 , 𝑘 > 1.

Definição 14. Dizemos que 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) é um Sistema de Filippov Hamiltoniano com função
Hamiltoniana 𝐻, se 𝑋 e 𝑌 são campos de vetores Hamiltonianos com funções Hamiltonianas 𝐹 e
𝐺, respectivamente.

13
É importante lembrarmos que, a menos de mencionado o contrário, estaremos considerando a
forma simplética canônica. Veja seção 1.1.1.
Lema 2.0.2. Seja 𝐻 ∈ H (R2𝑛 , 𝑓 ) e 𝑍𝐻 = (𝑋, 𝑌 ) o campo de vetores associado a função (︁ )︁ 𝐻.
Então, 𝑑𝑖𝑣(𝑍𝐻 )𝜀 (𝑥) = 0 se, e somente se, {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑥) = 0 para todo 𝑥 satisfazendo 𝜙′ 𝑓 (𝑥)
𝜀
̸= 0
Demonstração. Como 𝑍𝐻 = (𝑋, 𝑌 ) é o campo de vetores associado à função 𝐻 = (𝐹, 𝐺), temos
que 𝑋 é um campo de vetores 𝐹 -Hamiltoniano e 𝑌 é um campo de vetores 𝐺-Hamiltoniano. Logo,
𝑑𝑖𝑣(𝑋) = 0 e 𝑑𝑖𝑣(𝑌 ) = 0. Agora, pelo lema 2.0.1, é suficiente verificarmos que {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑥) =
¯ (𝑥) onde 𝑍¯ = 𝑋 − 𝑌 . De fato,
𝑍𝑓
⟨ ⟩
{𝑓, 𝐹 − 𝐺} = ∇𝑓 𝑇 𝐽∇(𝐹 − 𝐺) = ∇𝑓, 𝐽(∇(𝐹 − 𝐺)
⟨ ⟩ ⟨ ⟩
= ∇𝑓, 𝐽∇𝐹 − 𝐽∇𝐺) = ∇𝑓, 𝑋 − 𝑌
= ∇𝑓, 𝑍¯ = 𝑍𝑓
¯
⟨ ⟩

Portanto, o lema está provado.


Proposição 1. Sejam 𝐻 ∈ H (R2𝑛 , 𝑓 ), 𝑋𝐻 = (𝑋,(︁𝑌 ) o)︁ campo de vetores associado à função 𝐻
e {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑥) = 0 para todo 𝑥 satisfazendo 𝜙′ 𝑓 (𝑥)
𝜀
̸= 0. Então, o fluxo de (𝑍𝐻 )𝜀 preserva
volume.
Demonstração. Pela recíproca do Lema 2.0.2 temos que 𝑑𝑖𝑣 ((𝑍𝐻 )𝜀 ) (𝑥) = 0. Logo, segue do
Teorema de Liouville que o fluxo de (𝑍𝐻 )𝜀 preserva volume.
Observe que a proposição acima pode ser olhada como um corolário direto do teorema 2.0.1, o
qual apresentaremos a demonstração nas próximas linhas.
Prova do Teorema 2.0.1.
Demonstração. Pelo Teorema de Liouville, temos que:
O fluxo de 𝑍𝜀 preserva volume ⇐⇒ 𝑑𝑖𝑣𝑤 𝑍𝜀 = 0 (2.0.7)
Note que, como 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑘𝑣𝑜𝑙 (R𝑛 , 𝑓 ) então, 𝑋, 𝑌 ∈ X𝑣𝑜𝑙
𝑘
(R𝑛 ) e novamente pelo Teorema de
Liouville, 𝑑𝑖𝑣(𝑋) = 𝑑𝑖𝑣(𝑌 ) = 0. Segue agora do Lema 2.0.1 que
𝑓 (𝑥)
(︃ )︃
¯ (𝑥) = 0 ∀𝑥 ∈ R
𝑑𝑖𝑣(𝑍𝜀 ) = 0 ⇐⇒ 𝑍𝑓 𝑛
satisfazendo 𝜙′
̸= 0, (2.0.8)
𝜀
onde 𝑍¯ = 𝑋 − 𝑌 . Portanto o resultado segue de (2.0.7) e (2.0.8).

Apresentamos até o momento, condições necessárias e suficientes para que o fluxo de uma
regularização do campo vetores 𝑍 ∈ Ω𝑘𝑣𝑜𝑙 preserve volume. Além disso, destacamos um caso
particular: os campos Hamiltonianos. Contudo, cabe aqui uma nova questão: a regularização de
um campo Hamiltoniano suave por partes é ainda um campo Hamiltoniano? O próximo resultado
nos fornece uma família de funções 𝐻 suave por partes definida em R2𝑛 , consequentemente uma
família de campos de vetores Hamiltonianos suave por partes para os quais a questão acima tem
uma resposta positiva.

14
Proposição 2. Sejam 𝑥 = (𝑥1 , · · · , 𝑥𝑛 ) ∈ R𝑛 , 𝑦 = (𝑦1 , · · · , 𝑦𝑛 ) ∈ R𝑛 e

𝐻(𝑥, 𝑦) = 𝑔(𝑥1 )𝑠𝑔𝑛(𝑥1 ) + ℎ(𝑥, 𝑦)

com 𝑔 : R → R and ℎ : R2𝑛 → R de classe 𝒞 𝑘 , 𝑘 ≥ 1. Então, 𝑍𝐻 admite apenas Região de Costura.


Além disso, existe 𝜙-regularização (𝑍𝐻 )𝜖 de 𝑍𝐻 tal que (𝑍𝐻 )𝜖 é um sistema Hamiltoniano com
função Hamiltoniana dada por:

𝐻𝜀 (𝑥, 𝑦) = ℎ(𝑥, 𝑦) + 𝐴𝜀 (𝑥)

onde 𝐴𝜀 (𝑥1 ) = 𝑔 (𝑠)𝜙( 𝑠 )𝑑𝑠.


∫︀ 𝑥1 ′
𝑥0 𝜀

Demonstração. A prova é feita no caso 𝑛 = 1, o caso geral é totalmente análogo. Primeiramente,


note que
𝑔(𝑥) + ℎ(𝑥, 𝑦) if 𝑥 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) =
−𝑔(𝑥) + ℎ(𝑥, 𝑦) if 𝑥 ≤ 0
O campo de vetores associado a 𝐻 é 𝑍𝐻 = (𝑋, 𝑌 ) onde 𝑋 = (ℎ𝑦 , −𝑔 ′ − ℎ𝑥 ), 𝑌 = (ℎ𝑦 , 𝑔 ′ − ℎ𝑥 ) e
𝑔 ′ = 𝑑𝑥
𝑑𝑔
. Considere 𝑓 : R2 −→ R dada por 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑥. Desta forma, Σ = 𝑓 −1 (0). Por um cálculo
simples obtemos que 𝑋𝑓 (𝑝)𝑌 𝑓 (𝑝) = (ℎ𝑦 (𝑝))2 ≥ 0. Logo, 𝑍𝐻 admite apenas Região de Costura.
Por definição, temos (𝑍𝐻 )𝜀 (𝑥, 𝑦) = (ℎ𝑦 (𝑥, 𝑦), −ℎ𝑥 (𝑥,∫︀ 𝑦) − 𝑔 ′ (𝑥)𝜙(𝑥/𝜀)). Considere agora a se-
guinte função 𝐻𝜀 (𝑥, 𝑦) = ℎ(𝑥, 𝑦) + 𝐴𝜀 (𝑥) onde 𝐴𝜀 (𝑥) = 𝑔 ′ (𝑥)𝜙(𝑥/𝜀)𝑑𝑥. O Teorema Fundamental
do Cálculo garante que

∇𝐻𝜀 (𝑥, 𝑦) = (ℎ𝑥 (𝑥, 𝑦) + 𝑔 ′ (𝑥)𝜙(𝑥/𝜀), ℎ𝑦 (𝑥, 𝑦)).

Segue então que (𝑍𝐻 )𝜀 = −(∇𝐻𝜀 )⊥ . Logo, (𝑍𝐻 )𝜀 é um campo de vetores Hamiltoniano com função
Hamiltoniana 𝐻𝜀 (𝑥, 𝑦) = ℎ(𝑥, 𝑦) + 𝐴𝜀 (𝑥).

Esta família de funções nos leva a indagar se tal resultado vale para qualquer função 𝐻 ∈
H (R2𝑛 , 𝑓 ). No caso, 𝑛 = 2 apresentamos condições necessárias e suficientes. Entretanto, em
dimensão alta, tal questão ainda se encontra em aberto.
Proposição 3. Seja 𝐻 ∈ H (R2 , 𝑓 ) e 𝑍𝐻 o campo de vetores associado a 𝐻. Uma 𝜙−regularização
(𝑍𝐻 )𝜀 de 𝑍𝐻 é Hamiltoniana se, e somente se,

{𝑓, 𝐹 − 𝐺} (𝑝) = 0 (2.0.9)


{︁ (︁ )︁ }︁
para todo 𝑝 ∈ 𝑉 onde 𝑉 = 𝑝 ∈ R2 ; 𝜙′ 𝑓 (𝑝)
𝜀
̸= 0 .

Demonstração. Sabe-se que um campo de vetores 𝑍 é Hamiltoniano se, e somente se, 𝑑𝑖𝑣(𝑍) = 0.
Pelo
(︁ Lema)︁ 2.0.2 𝑑𝑖𝑣((𝑍𝐻 )𝜀 )(𝑥) = 0 se, e somente se, {𝑓, 𝐹 − 𝐺} = 0 para todo 𝑥 satisfazendo
𝜙′ 𝑓 (𝑥)
𝜀
̸= 0. Isto prova o teorema.
O próximo resultado será afirmado sem uma prova, pois um resultado mais geral será provado
numa seção mais adiante (Corolário 2 do teorema 4.1.1)

15
Proposição 4. Seja 𝐻 ∈ H (R2 , 𝑓 ) e 𝑍𝐻 o campo de vetores associado a 𝐻. Se (𝑍𝐻 )𝜀 é um campo
de vetores Hamiltoniano, então, para o campo de vetores descontínuo 𝑍𝐻 a descontinuidade Σ não
tem Região de Deslise (Escape). Além disso, se existe uma vizinhança 𝐼 ⊂ Σ de um ponto 𝑝 ∈ Σ
tal que a aplicação de primeiro retorno 𝜑 esteja definida, então 𝜑|𝐼 = 𝐼𝑑.
Exemplo 2. Considere a função 𝐻 : R2 −→ R dada por 𝐻(𝑥, 𝑦) = 𝑥sgn(𝑥) + 𝑦 2 + 𝑥𝑦. Então,

𝑥 + 𝑦 2 + 𝑥𝑦 if 𝑥 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) =
−𝑥 + 𝑦 + 𝑥𝑦 if 𝑥 ≤ 0.
2

O campo de vetores associado à função 𝐻 é


(2𝑦 + 𝑥, −1 − 𝑦) se 𝑥 ≥ 0
{︃
𝑍𝐻 (𝑥, 𝑦) =
(2𝑦 + 𝑥, 1 − 𝑦) se 𝑥 ≤ 0,

e Σ = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑥 = 0}.
Por um cálculo direto, mostra-se que a origem é um ponto do tipo dobra-dobra e que Σ não
tem Região de Deslize.
Uma 𝜙-regularização de 𝑍𝐻 é a família de campos de vetores de classe 𝒞 𝑘 :
2𝑦 + 𝑥
{︃
(𝑍𝐻 )𝜀 =
−𝑦 − 𝜙(𝑥/𝜀).

Note que (𝑍𝐻 )𝜀 é um campo de vetores Hamiltoniano com função Hamiltoniana

𝐻 = 𝑦 2 + 𝑥𝑦 + 𝐴𝜀 (𝑥) onde 𝐴′𝜀 (𝑥) = 𝜙(𝑥/𝜀).

Além disso, (𝑍𝐻 )𝜀 tem um centro no ponto (0, 0).


O campo 𝑍𝐻 tem dois pontos de equilíbrio dados por 𝑎 = (−2, 1), 𝑏 = (2, −1) e um ponto de
tangência em 𝑐 = (0, 0) os quais são respectivamente, pontos tipo sela, sela e dobra-dobra invisível.
O plano de fase de 𝑍𝐻 é
𝑦

1
2 𝑥
−2

−1

Figura 2.1: Exemplo de um campo de vetores Hamiltoniano.

16
Capítulo 3

Singularidades de Funções Suaves por


Partes

Nosso objetivo neste capítulo é estudar funções suaves por partes 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H (R𝑛 , 𝑓 )
classificando suas singularidades. Novamente, 𝑓 : R𝑛 → R é uma função suave tendo 0 como valor
regular e denotamos por Σ o conjunto:
Σ = {𝑥 ∈ R𝑛 ; 𝑓 (𝑥) = 0} .
No que se segue, lidaremos sempre com germes de funções de R2 e assumiremos 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑦.
Contudo, é importante ressaltar aqui que as formas normais e bifurcações estudadas neste capítulo,
se estendem para dimensão 𝑛 > 2 somando-se termos quadráticos nas variáveis adicionais. Isto
˜ abaixo é estável se 𝐻 o for.
significa que 𝐻
𝐹 (𝑥1 , 𝑥2 ) se 𝑓 (𝑥1 , 𝑥2 ) ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥1 , 𝑥2 ) =
𝐺(𝑥1 , 𝑥2 ) se 𝑓 (𝑥1 , 𝑥2 ) < 0

𝐹 (𝑥1 , 𝑥2 ) + 𝑄(𝑥3 , · · · , 𝑥𝑛 ) se 𝑓 (𝑥1 , · · · , 𝑥𝑛 ) ≥ 0


{︃
˜ 1 , · · · , 𝑥𝑛 ) =
𝐻(𝑥
𝐺(𝑥1 , 𝑥2 ) + 𝑄(𝑥3 , · · · , 𝑥𝑛 ) se 𝑓 (𝑥1 , · · · , 𝑥𝑛 ) < 0
onde, 𝑄 é uma forma quadrática.

3.1 Funções Suaves por Partes definidas em R2


Primeiramente lembramos que H (R2 , 𝑓 ) é o conjunto de todas as funções 𝐻 = (𝐹, 𝐺) tal que
𝐹 (𝑥, 𝑦) se 𝑓 (𝑥, 𝑦) ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = , (3.1.1)
𝐺(𝑥, 𝑦) se 𝑓 (𝑥, 𝑦) < 0

onde 𝐹 e 𝐺 são funções de classe 𝒞 𝑘 , 𝑘 > 1.


Definição 15. Dada uma função 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H (R2 , 𝑓 ) e 𝑝 ∈ Σ com ∇𝐹 (𝑝) ̸= 0, dizemos que
a 𝐹 -ordem de 𝑝 é 𝑘 se a curva de nível de 𝐹 que passa por 𝑝 tem um contato de ordem 𝑘 com a
curva Σ no ponto 𝑝. Se ∇𝐹 (𝑝) = 0 dizemos que a 𝐹 -ordem de 𝑝 é nula.

17
Usaremos a notação 𝐹 -𝑜[𝑝] para a indicar a 𝐹 -ordem de 𝑝.
Exemplo 3. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) onde 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 − 𝑥2 , 𝐺 uma função suave qualquer e Σ =
{(𝑥, 0); 𝑥 ∈ R}. Note que ∇𝐹 (0, 0) = (0, 1) ̸= 0 e a curva 𝐹 −1 (0) = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 = 𝑥2 } é
uma parábola com vértice na origem. Logo, o contato de 𝐹 −1 (0) com Σ em (0, 0) é de ordem 2.
Portanto, 𝐹 -𝑜[𝑝] = 2, onde 𝑝 = (0, 0).
Na definição acima, se a 𝐹 -ordem de 𝑝 é 𝐹 -𝑜[𝑝] = 1, então a curva de nível de 𝐹 é transversal
a Σ em 𝑝.
Definição 16. Se a 𝐹 -𝑜[𝑝] ̸= 1 então dizemos que 𝑝 é um ponto Σ-crítico de 𝐹 . Caso contrário 𝑝
é ponto Σ-regular.
É comum chamarmos um ponto Σ-crítico 𝑝 de singularidade tangencial de 𝐹 sempre que
∇𝐹 (𝑝) ̸= 0.
Definição 17. Dizemos que um ponto 𝑝 é um ponto de dobra crítico de 𝐹 se 𝐹 -𝑜[𝑝] = 2.
Desta forma, podemos definir um ponto de dobra crítico de 𝐹 usando o colchete de Poisson
Veja definição de {., .} em (1.1.3).
Definição 18. Dizemos que um ponto 𝑝 é um ponto de dobra crítico de 𝐹 se

{𝑓, 𝐹 }(𝑝) = 0 e {{𝑓, 𝐹 }, 𝐹 }(𝑝) ̸= 0.

3.2 𝑅(Σ)-equivalência
Vamos denotar por H * (R2 , 𝑓 ) o conjunto das funções 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H (R2 , 𝑓 ) que satisfazem
a condição {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑝) = 0 para todo 𝑝 ∈ Σ.
Algumas propriedades triviais de 𝐻 ∈ H * são:
1. 𝑝 ∈ Σ é um Σ−ponto crítico de 𝐹 se, e somente se, 𝑝 é um Σ−ponto crítico de 𝐺;

2. Suponha que 𝑝 ∈ Σ é um Σ−ponto crítico de 𝐹 . Logo, se a 𝐹 −ordem de 𝑝 é 2𝑛(2𝑛 + 1),


𝑛 ≥ 1 então, 𝑝 é um Σ−ponto crítico de 𝐺 cuja 𝐺−ordem é 2𝑚(2𝑚 + 1), 𝑚 ≥ 1
Proposição 5. Suponha que 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H (R2 , 𝑓 ) é uma função contínua. Então 𝐻 ∈
H * (R2 , 𝑓 ).
Demonstração. Lembre que Σ pode ser escrita da forma
{︁ }︁
Σ = (𝑥, 𝜙(𝑥)) ∈ R2 ; 𝑥 ∈ R e 𝜙 : R → R é de classe 𝒞 𝑘 .

Como 𝐻 = (𝐹, 𝐺) é contínua temos 𝐹 (𝑥, 𝜙(𝑥)) = 𝐺(𝑥, 𝜙(𝑥)). Derivando em 𝑥 conseguimos
(𝐹𝑥 − 𝐺𝑥 ) + (𝐹𝑦 − 𝐺𝑦 )𝜙′ (𝑥) = 0. Então, (1, 𝜙′ ) é ortogonal a ∇(𝐹 − 𝐺). Como (1, 𝜙′ ) é paralelo
(−𝑓𝑦 , 𝑓𝑥 ) segue que, (−𝑓𝑦 , 𝑓𝑥 ) é ortogonal a ∇(𝐹 − 𝐺). Finalmente, {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑝) = 0 para todo
𝑝 ∈ Σ e o resultado segue.

18
Seja 𝐷(2) o conjunto de todas as funções 𝐹 : R2 → R diferenciáveis tal que 𝐹 (0, 0) = 0. No que
segue, trabalhamos com germes 𝐻 = (𝐹, 𝐺) em 𝐷(2) × 𝐷(2) tal que 𝐻 ∈ H * (R2 , 𝑓 ). Denotamos
o conjunto dos germes acima por 𝐷* (2) e por

𝑅(Σ) = {ℎ : R2 → R2 ; ℎ é um homeomorfismo e ℎ(Σ) = Σ}

o conjunto dos germes de homeomorfismos que deixa invariante a subvariedade Σ. Assumimos,


sem perda de generalidade, que Σ = 𝑓 −1 (0) onde 𝑓 : R2 → R é dada por 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑦.
¯ em 𝐷* (2) são 𝑅(Σ)−equivalentes se existe ℎ ∈ 𝑅(Σ) tal que
Definição 19. Dois germes 𝐻 e 𝐻
¯ = 𝐻 ∘ ℎ.
𝐻
Exemplo 4. As funções 𝐻 = (𝐹, 𝐹 ) e 𝐻 ¯ = (𝐺, 𝐺), onde 𝐹, 𝐺 : R2 → R são dadas por 𝐹 (𝑥, 𝑦) =
𝑦 − 𝑥 e 𝐺(𝑥, 𝑦) = −𝑦 + 𝑥 respectivamente, são 𝑅-equivalentes, isto é, existe um difeomorfismo 𝜙
2 2

tal que 𝐻¯ = 𝐻 ∘ 𝜙. Mas, não são 𝑅(Σ)-equivalentes.


De fato a 𝑅-equivalência é dada pelo difeomorfismo 𝜙(𝑥, 𝑦) = (𝑥, −𝑦 + 2𝑥2 ), pois
¯
𝐻 ∘ 𝜙(𝑥, 𝑦) = 𝐻(𝑥, −𝑦 + 2𝑥2 ) = −𝑦 + 2𝑥2 − 𝑥2 = −𝑦 + 𝑥2 = 𝐻(𝑥, 𝑦).

Por outro lado, observe que 𝐻(𝑥, ¯ 𝑦) = −𝐻(𝑥, 𝑦), em particular, temos que 𝐻(𝑢, 0) < 0 e
¯
𝐻(𝑣, 0) > 0 qualquer que seja 𝑢, 𝑣 ̸= 0. Então, dado um homeomorfismo ℎ : R2 → R2 tal que
ℎ(𝑥, 0) = (ℎ1 (𝑥, 0), 0) tem-se que para 𝑥 ̸= 0
¯
𝐻 ∘ ℎ(𝑥, 0) = 𝐻(ℎ1 (𝑥, 0), 0) < 0 e 𝐻(𝑥, 0) > 0.
¯
Portanto, 𝐻 ∘ ℎ(𝑥, 0) ̸= 𝐻(𝑥, ¯ não são 𝑅(Σ)-equivalentes.
0) e concluímos que 𝐻 e 𝐻

3.3 Singularidade de codimensão 0 em H *((R2, 0), 𝑓 )


Nesta seção, caracterizaremos o conjunto Σ0 das aplicações 𝐻 ∈ H * (R2 , 𝑓 ) que são localmente
estruturalmente estáveis em H * (R2 , 𝑓 ), isto é, persistentes à pequenas perturbações. Classificare-
mos os pontos regulares e singularidades genéricas de uma função 𝐻 ∈ H * (R2 , 𝑓 ), para os quais
exibiremos uma forma normal 𝒞 0 e construiremos o homeomorfismo que dá a 𝑅(Σ)-equivalência
topológica entre uma função genérica e sua forma normal.
As próximas duas proposições nos fornecem, respectivamente, formas normais para pontos
regulares e para singularidades genéricas de 𝐻. No que se segue, consideramos os casos em que
a fonte e a meta dos germes são fixadas ( (0, 0) e 0 respectivamente). Assumimos também, sem
perda de generalidade, que os pontos de descontininuidade ou de não diferenciabilidade de 𝐻 são
dados por Σ = 𝑓 −1 (0) onde 𝑓 : R2 → R é dada por 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑦.
Proposição 6. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) para o qual (0, 0) ∈ Σ é um ponto Σ-regular. Então,
numa vizinhança 𝑈 de (0, 0), 𝐻 é 𝑅(Σ)-equivalente à forma normal

𝐹¯ (𝑥, 𝑦) = 𝑥 se 𝑦 > 0
{︃
¯
𝐻(𝑥, 𝑦) = (3.3.1)
¯ 𝑦) = 𝑥 se 𝑦 < 0 .
𝐺(𝑥,

19
Demonstração. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ). Sendo (0, 0) um ponto Σ−regular temos que

{𝑓, 𝐹 }(0, 0) ̸= 0 e {𝑓, 𝐺}(0, 0) ̸= 0.

Por um cálculo simples temos que {𝑓, 𝐹 }(𝑝) = −𝐹𝑥 (𝑝) e {𝑓, 𝐺}(𝑝) = −𝐺𝑥 (𝑝). Logo, se 𝑝 ∈ Σ
então 𝑝 = (𝑥, 0), 𝐹𝑥 (𝑝) = 𝐺𝑥 (𝑝) e 𝐹𝑥 (0, 0) = 𝐺𝑥 (0, 0) ̸= 0. Segue agora do teorema das submersões
que existe uma vizinhança 𝑈 ⊂ R2 da origem e difeomorfismos ℎ : 𝑉 → Σ+ , 𝑔 : 𝑊 → Σ− onde,
𝑉 = 𝑈 ∩ Σ+ e 𝑊 = 𝑈 ∩ Σ− tais que

𝐹 ∘ ℎ(𝑥, 𝑦) = 𝑥 e 𝐺 ∘ 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑥. (3.3.2)

Além disso, temos que ℎ e 𝑔 são dadas por: ℎ(𝑥, 𝑦) = (ℎ1 (𝑥, 𝑦), 𝑦) e 𝑔(𝑥, 𝑦) = (𝑔1 (𝑥, 𝑦), 𝑦).
Defina então 𝑘 : 𝑈 → R2 por
ℎ(𝑥, 𝑦) se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝑘(𝑥, 𝑦) = . (3.3.3)
𝑔(𝑥, 𝑦) se 𝑦 < 0

Claramente 𝑘 é uma aplicação diferenciável em (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑈 − Σ.


Afirmamos agora que 𝑘(Σ) ⊂ Σ e que 𝑘 : 𝑈 → R2 é contínua em 𝑈 ∩ Σ. De fato temos que
ℎ(𝑥, 0) = (ℎ1 (𝑥, 0), 0) ∈ Σ e 𝑔(𝑥, 0) = (𝑔1 (𝑥, 0), 0) ∈ Σ. Agora da equação (3.3.2) e da continuidade
de 𝐻 temos
𝐹 (ℎ1 (𝑥, 0), 0) = 𝐺(𝑔1 (𝑥, 0), 0) = 𝐹 (𝑔1 (𝑥, 0), 0).
Para mostrar a continuidade de 𝑘 é suficiente provarmos que ℎ1 (𝑥, 0) = 𝑔1 (𝑥, 0) para todo 𝑥 tal
que (𝑥, 0) ∈ 𝑈 . Suponha então que ℎ1 (𝑥, 0) = 𝑎 < 𝑏 = 𝑔1 (𝑥, 0) e considere a função
𝜙: R → R
. (3.3.4)
𝑠 ↦→ 𝐹 (𝑠, 0)

Como 𝐹 é diferenciável temos que a função 𝜙 é diferenciável no intervalo [𝑎, 𝑏] e 𝜙(𝑎) = 𝐹 (ℎ1 (𝑥, 0), 0) =
𝐹 (𝑔1 (𝑥, 0), 0) = 𝜙(𝑏). Segue do Teorema de Rolle que existe um ponto 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏] tal que
𝑑𝜙
(𝑐) = 0.
𝑑𝑠
Por outro lado, tem-se que
𝑑𝜙 𝑑
(𝑐) = 𝐹 (𝑠, 0)|𝑠=0 .
𝑑𝑠 𝑑𝑠
Desta forma, existe um ponto (𝑐, 0) ∈ 𝑈 ∩ Σ tal que 𝐹𝑥 (𝑐, 0) = 0, o que é um absurdo.
Logo, ℎ1 (𝑥, 0) = 𝑔1 (𝑥, 0) e consequentemente ℎ(𝑥, 0) = 𝑔(𝑥, 0). Portanto, 𝑘 : 𝑈 → R2 é um
homeomorfismo tal que 𝐻 ∘ 𝑘(𝑥, 𝑦) = 𝑥. Isto prova a proposição.

Proposição 7. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) para o qual (0, 0) ∈ Σ é um ponto tipo dobra-crítico
das funções 𝐹 e𝐺. Então, numa vizinhança 𝑈 de (0, 0), 𝐻 é 𝑅(Σ)−equivalente à forma normal

𝐹¯ (𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑦 + 𝑏𝑥2 se 𝑦 ≥ 0
{︃
¯
𝐻(𝑥, 𝑦) = (3.3.5)
¯ 𝑦) = 𝑐𝑦 + 𝑏𝑥2 se 𝑦 < 0 ,
𝐺(𝑥,

20
onde 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}.
Demonstração. Como (0, 0) ∈ Σ é um ponto dobra crítico das funções 𝐹 e𝐺, então, ou a dobra
é visível, invisível ou visível-invisível. Suponhamos que (0, 0) ∈ Σ seja um ponto dobra crítico
visível. Neste caso temos que,

𝐹𝑥 (0, 0) = − {𝑓, 𝐹 } (0, 0) = 0 = − {𝑓, 𝐺} (0, 0) = 𝐺𝑥 (0, 0), (3.3.6)

−𝐹𝑦 (0, 0).𝐹𝑥𝑥 (0, 0) = {{𝑓, 𝐹 } , 𝐹 } (0, 0) > 0, (3.3.7)

−𝐺𝑦 (0, 0).𝐺𝑥𝑥 (0, 0) = {{𝑓, 𝐺} , 𝐺} (0, 0) < 0. (3.3.8)


¯ −1) com 𝜆
Suponhamos agora que ∇𝐹 (0, 0) = 𝜆(0, 1) com 𝜆 > 0. Então, ∇𝐺(0, 0) = 𝜆(0, ¯ > 0.
Vamos construir um homeomorfismo ℎ : R → R tal que
2 2

¯ = 𝐻 ∘ ℎ−1 e ℎ(Σ) = Σ.
𝐻

Nossa construção é dada por partes:

1. Construiremos um homeomorfismo 𝑔 : R2+ → R2+ tal que

𝐹¯ = 𝐹 ∘ 𝑔 −1 e 𝑔(Σ) = Σ,

onde R2+ = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ 0}.

2. Construiremos um homeomorfismo 𝑘 : R2− → R2− tal que


¯ = 𝐺 ∘ 𝑘 −1 e 𝑘(Σ) = Σ,
𝐺

onde R2− = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≤ 0}.

3. Verificaremos que 𝑔|Σ = 𝑘|Σ .

Segue de (1), (2) e (3) que

𝑔(𝑥, 𝑦) se 𝑦 ≥ 0
{︃
ℎ(𝑥, 𝑦) = (𝑔, 𝑘)(𝑥, 𝑦) =
𝑘(𝑥, 𝑦) se 𝑦 ≤ 0

é o homeomorfismo procurado.
A fim de construir a função ℎ, observe que como ∇𝐹 (0, 0) = 𝜆(0, 1) com 𝜆 > 0 então, 𝐹𝑦 (0, 0) =
𝜆 > 0 e consequentemente da equação (3.3.7) temos 𝐹𝑥𝑥 (0, 0) < 0. Sendo 𝐹𝑦 (0, 0) ̸= 0 o Teorema
das Submersões garante que existe um difeomorfismo Γ : R2 → R2 tal que 𝐹 ∘ Γ−1 (𝑥, 𝑦) = 𝑦. Além
disso, Γ é dada por Γ(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝐹 (𝑥, 𝑦)).
Note que Γ(𝑥, 0) = (𝑥, 𝐹 (𝑥, 0)) e como 𝐹𝑦 (0, 0) > 0 temos que 𝐹 (𝑥, 𝑦) > 𝐹 (𝑥, 0) para todo
𝑦 ≥ 0. Logo, Γ(R2+ ) = 𝐷(𝐹 ) onde 𝐷(𝐹 ) = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ 𝐹 (𝑥, 0)}.

21
¯ = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ −𝑥2 } e considere agora a aplicação 𝜙 : 𝐷(𝐹 ) → 𝐷
Seja 𝐷 ¯ dada por:

(𝑥, 𝑦) se 𝑦 > 0




𝜙(𝑥, 𝑦) = (𝑥 − 𝛼+ (𝑦) + −𝑦, 𝑦) se 𝐹 (𝑥, 0) ≤ 𝑦 ≤ 0 e 𝑥 ≥ 0 ,
−1
(3.3.9)

(𝑥 − 𝛼−−1
(𝑦) − −𝑦, 𝑦) se 𝐹 (𝑥, 0) ≤ 𝑦 < 0 e 𝑥 < 0

onde 𝛼 : R → R é dada por 𝛼(𝑠) = 𝐹 (𝑠, 0) e 𝛼+ = 𝛼|R+ e 𝛼− = 𝛼|R− . Para detalhes da construção
da aplicação 𝜙 veja observação 2.
Note que a função diferenciável 𝛼 : R → R não é invertível, entretanto, 𝛼+ e 𝛼− são invertíveis
numa vizinhança da origem. De fato, 𝐹𝑥𝑥 (0, 0) > 0 implica que 𝛼′ = 𝐹𝑥 é crescente mas, 𝛼′ (0) =

𝐹𝑥 (0, 0) = 0, assim temos 𝛼′ (𝑠) ̸= 0 para todo 𝑠 ̸= 0. Além disso, a função dada por 𝑦 → −𝑦
para 𝑦 < 0 também é invertível. Segue daqui que 𝜙 está bem definida e é uma bijeção.
Resta-nos verificar que 𝜙 é contínua. De fato, se 𝑦 > 0 temos que 𝜙 é diferenciável, pois as
funções coordenadas são diferenciáveis, logo 𝜙 é contínua em todo ponto (𝑥, 𝑦) com 𝑦 > 0. Para
𝑦 = 0 temos por definição que 𝜙(𝑥, 0) = (𝑥, 0). Agora note que se 𝐹 (𝑥, 0) < 𝑦 < 0 então,

lim 𝜙(𝑥, 𝑦) = lim (𝑥 − 𝛼+
−1
(𝑦) + −𝑦, 𝑦) = (𝑥, 0) = 𝜙(𝑥, 0) para 𝑥 ≥ 0, (3.3.10)
𝑦→0 𝑦→0


lim 𝜙(𝑥, 𝑦) = lim (𝑥 − 𝛼−
−1
(𝑦) − −𝑦, 𝑦) = (𝑥, 0) = 𝜙(𝑥, 0) para 𝑥 < 0. (3.3.11)
𝑦→0 𝑦→0

Desta forma temos que 𝜙 é um homeomorfismo. Note também que


⎧ √︁
⎨ ( −𝐹 (𝑥, 0), 𝐹 (𝑥, 0)) se 𝑥 ≥ 0
𝜙(𝑥, 𝐹 (𝑥, 0)) = √︁ . (3.3.12)
⎩ (− −𝐹 (𝑥, 0), 𝐹 (𝑥, 0)) se 𝑥 < 0

Logo, 𝜙(𝛼(𝑠)) ⊂ 𝜕 𝐷¯ = {(𝑥, −𝑥2 ) ∈ R2 ; 𝑥 ∈ R}. Para deixar claro o papel da 𝜙, considere a
aplicação 𝑢 : R → R2 dada por 𝑢(𝑥, 𝑦) = 𝑦. Então,
2

¯
𝑢|𝐷(𝐹 ) = 𝑢|𝐷¯ ∘ 𝜙 e 𝜙(𝜕𝐷(𝐹 )) = 𝜕 𝐷. (3.3.13)

Tomemos agora o difeomorfismo 𝜓 : R2 → R2 dado por 𝜓(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦 − 𝑥2 ). Claramente,


𝜓 (𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦 + 𝑥2 ) e vemos que
−1

¯ ; 𝜓(𝑥, 0) = (𝑥, −𝑥2 ) e 𝐹 ∘ 𝜓 −1 (𝑥, 𝑦) = 𝑦.


𝜓|R2+ = 𝐷 (3.3.14)

Por fim, definamos 𝑔 : R2 → R2 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝜓 −1 ∘ 𝜙 ∘ Γ(𝑥, 𝑦).


Então,

22
𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝜓 −1 ∘ 𝜙(𝑥, 𝐹 (𝑥, 𝑦))
𝜓 −1 (𝑥, 𝐹 (𝑥, 𝑦)) se 𝐹 (𝑥, 𝑦) ≥ 0


⎪ (︁ √︁ )︁
𝑥 − 𝛼+ (𝐹 (𝑥, 𝑦)) + −𝐹 (𝑥, 𝑦), 𝐹 (𝑥, 𝑦) se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 > 0 e 𝐹 (𝑥, 𝑦) < 0
−1

−1
= 𝜓
(︁ √︁ )︁

𝜓 −1 𝑥 − 𝛼−
−1
(𝐹 (𝑥, 𝑦)) − −𝐹 (𝑥, 𝑦), 𝐹 (𝑥, 𝑦) se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 < 0 e 𝐹 (𝑥, 𝑦) < 0

(𝑥,
(︃ 𝐹 (𝑥, 𝑦) + 𝑥 )
2
se 𝐹 (𝑥, 𝑦) ≥ 0



⎪ )︃
⎪ √︁ [︁ √︁ ]︁2
𝑥 − 𝛼+ (𝐹 (𝑥, 𝑦)) + −𝐹 (𝑥, 𝑦), 𝐹 (𝑥, 𝑦) + 𝑥 − 𝛼+ (𝐹 (𝑥, 𝑦)) + −𝐹 (𝑥, 𝑦)



⎪ −1 −1




= (︃ se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 > 0 e 𝐹 (𝑥, 𝑦) < 0 )︃ .

⎪ √︁ [︁ √︁ ]︁2
(𝐹 (𝑥, 𝑦)) − −𝐹 (𝑥, 𝑦), 𝐹 (𝑥, 𝑦) + 𝑥 − 𝛼− (𝐹 (𝑥, 𝑦)) − −𝐹 (𝑥, 𝑦)

−1 −1
𝑥 − 𝛼−







se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 < 0 e 𝐹 (𝑥, 𝑦) < 0

Pelos cálculos feitos até o momento, temos que

𝐹 ∘ Γ−1 = 𝑢|𝐷(𝐹 ) para 𝑦 ≥ 0 , 𝑢|𝐷(𝐹 ) = 𝑢|𝐷¯ ∘ 𝜙 e 𝐹¯ ∘ 𝜓 −1 = 𝑢|𝐷¯ . (3.3.15)

Combinando as igualdades de (3.3.15), verificamos que

𝐹 ∘ Γ−1 = 𝑢|𝐷¯ ∘ 𝜙 = 𝐹¯ ∘ 𝜓 −1 ∘ 𝜙.

𝐹 = 𝐹¯ ∘ 𝜓 −1 ∘ 𝜙 ∘ Γ.
𝐹 = 𝐹¯ ∘ 𝑔 ou 𝐹¯ = 𝐹 ∘ 𝑔 −1 .

Γ
𝐹 𝑢|𝐷(𝐹 )

(𝑥, 𝐹 (𝑥, 0))


𝑔 𝜙

𝐹¯ 𝜓

𝑢|𝐷¯
(𝑥, −𝑥2 )

Figura 3.1: Esquema da construção do homeomorfismo 𝑔.

Segue direto da construção de 𝑔 que 𝑔(Σ) = Σ. Veja esquema da construção do homeomorfismo


𝑔 na figura 3.1.

23
Agora vamos a parte (2) onde construímos o homeomorfismo 𝑘 : R2− → R2− . Apesar desta
construção ser bem similar à construção de 𝑔 não a omitiremos.
Novamente, temos que 𝐺𝑦 (0, 0) = −𝜆 ¯ < 0, então da equação (3.3.8) temos 𝐺𝑥𝑥 (0, 0) < 0. Pelo
Teorema das Submersões existe um difeomorfismo Γ̃ : R2 → R2 tal que
𝐺 ∘ Γ̃−1 (𝑥, 𝑦) = 𝑦, onde Γ̃(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝐺(𝑥, 𝑦)) . (3.3.16)
Observe que Γ̃(𝑥, 0) = (𝑥, 𝐺(𝑥, 0)) é uma curva tangente à reta 𝑦 = 0 na origem e com concavidade
voltada para baixo, já que 𝐺𝑥𝑥 (0, 0) < 0. E mais, como 𝐺𝑦 (0, 0) < 0 temos que para todo 𝑦 < 0
vale que 𝐺(𝑥, 𝑦) > 𝐺(𝑥, 0). Assim, Γ̃(R2− ) = 𝐷(𝐺) onde 𝐷(𝐺) = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ 𝐺(𝑥, 0)}.
Considere agora a aplicação 𝜙˜ : 𝐷(𝐺) → 𝐷 ¯ dada por:

(𝑥, 𝑦) se 𝑦 > 0




˜ 𝑦) = (𝑥 − 𝛽+ (𝑦) + −𝑦, 𝑦) se 𝐺(𝑥, 0) ≤ 𝑦 ≤ 0 e 𝑥 ≥ 0 ,
𝜙(𝑥, −1
(3.3.17)

(𝑥 − 𝛽−−1 (𝑦) − −𝑦, 𝑦) se 𝐺(𝑥, 0) ≤ 𝑦 < 0 e 𝑥 < 0

onde a função 𝛽 : R → R é dada por 𝛽(𝑠) = 𝐺(𝑠, 0) com 𝛽+ = 𝛽|R+ e 𝛽− = 𝛽|R− .


Note que 𝜙˜ age da mesma forma que 𝜙. Logo, 𝜙˜ está bem definida e é um homeomorfismo.
Além disso,
𝑢|𝐷(𝐺) = 𝑢|𝐷¯ ∘ 𝜙˜ e 𝜙(𝜕𝐷(𝐺))
˜ ¯
= 𝜕 𝐷. (3.3.18)
Dando sequência, tomamos o difeomorfismo 𝜓˜ : R2 → R2 dado por 𝜓(𝑥,
˜ 𝑦) = (𝑥, −𝑦 − 𝑥2 )
temos que
𝜓˜−1 = 𝜓,
˜ 𝜓(R
˜ 2)=𝐷

˜ 0) = (𝑥, −𝑥2 )
¯ com 𝜓(𝑥,

¯ ∘ 𝜓˜−1 (𝑥, 𝑦) = 𝑦.
𝐺 (3.3.19)
Estamos prontos para definir o homeomorfismo 𝑘 : R2 → R2 fazendo 𝑘(𝑥, 𝑦) = 𝜓˜−1 ∘ 𝜙˜ ∘ Γ̃(𝑥, 𝑦).
Então,

𝑘(𝑥, 𝑦) = 𝜓˜−1 ∘ 𝜙(𝑥,


˜ 𝐺(𝑥, 𝑦))
𝜓˜ (𝑥, se 𝐺(𝑥, 𝑦) ≥ 0
⎧ −1
⎪ 𝐺(𝑥, 𝑦))
˜
⎪ (︁ √︁ )︁
= 𝜓 (︁𝑥 − 𝛽+ (𝐺(𝑥, 𝑦)) + √︁−𝐺(𝑥, 𝑦), 𝐺(𝑥, 𝑦))︁ se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 > 0 e 𝐺(𝑥, 𝑦) < 0
−1

−1

⎩ ˜−1

𝑥 − 𝛽−−1 (𝐺(𝑥, 𝑦)) − −𝐺(𝑥, 𝑦), 𝐺(𝑥, 𝑦) se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 < 0 e 𝐺(𝑥, 𝑦) < 0

𝜓
(𝑥,
(︃ −𝐺(𝑥, 𝑦) + 𝑥 )
2
se 𝐺(𝑥, 𝑦) ≥ 0



⎪ )︃
⎪ √︁ [︁ √︁ ]︁2
𝑥 − 𝛽+ (𝐺(𝑥, 𝑦)) + −𝐺(𝑥, 𝑦), −𝐺(𝑥, 𝑦) − 𝑥 − 𝛽+ (𝐺(𝑥, 𝑦)) + −𝐺(𝑥, 𝑦)



⎪ −1 −1




= (︃ se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 > 0 e 𝐺(𝑥, 𝑦) < 0 )︃ .

⎪ √︁ [︁ √︁ ]︁2
𝑥 − 𝛽− (𝐺(𝑥, 𝑦)) − −𝐺(𝑥, 𝑦), −𝐺(𝑥, 𝑦) − 𝑥 − 𝛽− (𝐺(𝑥, 𝑦)) − −𝐺(𝑥, 𝑦)



⎪ −1 −1




se 𝑦 ≥ 0, 𝑥 < 0 e 𝐺(𝑥, 𝑦) < 0

Acabamos de verificar que


𝐺 ∘ Γ̃−1 = 𝑢|𝐷(𝐺) para 𝑦 ≤ 0 , ¯ ∘ 𝜓˜−1 = 𝑢|𝐷¯
𝑢|𝐷(𝐺) = 𝑢|𝐷¯ ∘ 𝜙˜ e 𝐺 (3.3.20)

24
Novamente, combinando as igualdades de (3.3.20), verificamos que
¯ ∘ 𝜓˜−1 ∘ 𝜙˜
𝐺 ∘ Γ̃−1 = 𝑢|𝐷¯ ∘ 𝜙˜ = 𝐺
𝐺=𝐺 ¯ ∘ 𝜓˜−1 ∘ 𝜙˜ ∘ Γ̃
𝐺=𝐺¯ ∘ 𝑘 ou 𝐺 ¯ = 𝐺 ∘ 𝑘 −1 .

Γ̃
𝐺 𝑢|𝐷(𝐺)

(𝑥, 𝐺(𝑥, 0))


𝑘 𝜙˜

¯
𝐺 𝜓˜

𝑢|𝐷¯
(𝑥, −𝑥2 )

Figura 3.2: Esquema da construção do homeomorfismo 𝑘.

Segue também da construção de 𝑘 que 𝑘(Σ) = Σ. Veja esquema da construção do homeomor-


fismo 𝑘 na figura 3.2.
Falta agora apenas a parte (3). De fato, temos que
⎧ (︃ √︁ [︁ √︁ ]︁2
)︃
𝑥 − 𝛼+ (𝐹 (𝑥, 0)) + −𝐹 (𝑥, 0), 𝐹 (𝑥, 0) + 𝑥 − 𝛼+ (𝐹 (𝑥, 0)) + −𝐹 (𝑥, 0)
−1 −1






se 𝑥 ≥ 0



𝑔(𝑥, 0) = (︃
√︁ [︁ √︁ ]︁2
)︃ .
𝑥 − 𝛼− (𝐹 (𝑥, 0)) − −𝐹 (𝑥, 0), 𝐹 (𝑥, 0) + 𝑥 − 𝛼− (𝐹 (𝑥, 0)) − −𝐹 (𝑥, 0)
−1 −1







se 𝑥 < 0

Como 𝛼+
−1
(𝐹 (𝑥, 0)) = 𝑥 para todo 𝑥 ≥ 0 e 𝛼−
−1
(𝐹 (𝑥, 0)) = 𝑥 para todo 𝑥 < 0. Obtemos
⎧ (︁√︁ )︁
⎨ −𝐹 (𝑥, 0), 0 se 𝑥 ≥ 0
𝑔(𝑥, 0) = (︁ √︁
⎩ − −𝐹 (𝑥, 0), 0
)︁
se 𝑥 < 0.
Por outro lado, temos que
⎧ (︃ √︁ [︁ √︁ ]︁2
)︃
𝑥 − 𝛽+ (𝐺(𝑥, 0)) + −𝐺(𝑥, 0), −𝐺(𝑥, 𝑦) − 𝑥 − 𝛽+ (𝐺(𝑥, 0)) + −𝐺(𝑥, 0)
−1 −1






se 𝑥 ≥ 0



𝑘(𝑥, 0) = (︃
√︁ [︁ √︁ ]︁2
)︃ .
𝑥 − 𝛽− (𝐺(𝑥, 0)) − −𝐺(𝑥, 0), −𝐺(𝑥, 0) − 𝑥 − 𝛽− (𝐺(𝑥, 0)) − −𝐺(𝑥, 0)
−1 −1







se 𝑥 < 0

25
Como 𝛽+−1 (𝐺(𝑥, 0)) = 𝑥 para todo 𝑥 ≥ 0 e 𝛽−−1 (𝐺(𝑥, 0)) = 𝑥 para todo 𝑥 < 0. Obtemos
⎧ (︁√︁ )︁
⎨ −𝐺(𝑥, 0), 0 se 𝑥 ≥ 0
𝑘(𝑥, 0) = (︁ √︁
⎩ − −𝐺(𝑥, 0), 0
)︁ .
se 𝑥 < 0

Da continuidade de 𝐻 = (𝐹, 𝐺) tem-se 𝐹 (𝑥, 0) = 𝐺(𝑥, 0). Logo, 𝑔(𝑥, 0) = 𝑘(𝑥, 0) e concluímos que
¯ = 𝐻 ∘ ℎ−1
𝐻 e ℎ(Σ) = Σ onde ℎ = (𝑔, 𝑘).

Portanto, 𝐻 e 𝐻 ¯ são 𝑅(Σ)-equivalentes.


A prova para os casos em que a origem é uma singularidade do tipo dobra invisível, ou dobra
visível-invisível ou dobra invisível-visível é dada de forma similar.
Observação 2. Construção da aplicação 𝜙 e 𝜙˜
A construção de 𝜙˜ é exatamente igual a de 𝜙, logo apresentamos apenas uma das construções
aqui. Toda a construção se baseia no fato de que queremos uma aplicação 𝜙 tal que

𝑢 ∘ 𝜙 = 𝑢, (3.3.21)

¯
𝜙(𝐷(𝐹 )) = 𝐷 ¯
e 𝜙(𝜕𝐷(𝐹 )) = 𝜕 𝐷. (3.3.22)
Lembrando que
𝑢(𝑥, 𝑦) = 𝑦, 𝐷(𝐹 ) = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ 𝐹 (𝑥, 0)} e 𝐷¯ = {(𝑥, 𝑌 ) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ −𝑥2 }.
Seja então, 𝜙(𝑥, 𝑦) = (𝜙1 (𝑥, 𝑦), 𝜙2 (𝑥, 𝑦)). Da equação (3.3.21) obtemos que

𝜙2 (𝑥, 𝑦) = 𝑦.
¯ 𝑖𝑛𝑡𝐷 é o interior
Como para todo 𝑝 = (𝑥, 𝑦) ∈ R2 tal que 𝑦 > 0 tem-se 𝑝 ∈ 𝑖𝑛𝑡𝐷(𝐹 ) e 𝑝 ∈ 𝑖𝑛𝑡𝐷,
do conjunto 𝐷. Desta forma podemos fazer

𝜙(𝑥, 𝑦) = (𝑥, 𝑦) para 𝑦 > 0.

Suponhamos agora que (𝑥, 𝑦) ∈ 𝜕𝐷(𝐹 ), então 𝑦 ≥ 0. A fim de obtermos a equação (3.3.22) e
mantermos válida a equação (3.3.21) definimos
⎧ (︁√ )︁
⎨ −𝑦, 𝑦 se 𝑥 ≥ 0
𝜙(𝑥, 𝑦) = (︁ √ )︁ .
⎩ − −𝑦, 𝑦 se 𝑥 < 0

Agora se 𝑝 = (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷(𝐹 ) tal que 𝑦 ≤ 0 e 𝑥 ≥ 0 então a semi reta 𝑟𝑦 =(︁ {(𝑠, 𝑦) ∈)︁ 𝐷(𝐹 ); 𝑠 ≥ 0}
intersepta a fronteira 𝜕𝐷(𝐹 ) de 𝐷(𝐹 ) em um único ponto dado por 𝑞 = 𝛼+ −1
(𝑦), 𝑦 onde 𝛼(𝑥) =
𝐹 (𝑥, 0) e 𝛼+ = 𝛼|R+ . Como 𝛼+ (𝑦) ≥ 0, aplicando 𝜙 no ponto 𝑞 ∈ 𝜕𝐷(𝐹 ) obtemos 𝜙(𝑞) =
−1
√ ¯ Observe que, 𝑑(𝑝, 𝑞) = 𝑥 − 𝛼+
( −𝑦, 𝑦) ∈ 𝜕 𝐷. −1
(𝑦) é a distância entre os pontos 𝑝 e 𝑞. Defina
agora
𝜙(𝑝) = (Π1 ∘ 𝜙(𝑞) + 𝑑(𝑝, 𝑞), 𝑦) ,

26
onde Π1 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 é a função projeção na primeira coordenada. Logo temos que, se 𝐹 (𝑥, 0) ≤ 𝑦 ≤ 0
e 𝑥 ≥ 0 então, (︁ √ )︁
𝜙(𝑥, 𝑦) = 𝑥 − 𝛼+−1
(𝑦) + −𝑦, 𝑦 .
Analogamente, se 𝑝¯ = (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷(𝐹 ) tal que 𝑦 < 0 e 𝑥 < 0 então a semi reta 𝑟¯(︁𝑦 = {(𝑠, 𝑦))︁ ∈ 𝐷(𝐹 ); 𝑠 ≤ 0}
intersepta a fronteira 𝜕𝐷(𝐹 ) de 𝐷(𝐹 ) em um único ponto dado por 𝑞¯ = 𝛼− −1
(𝑦), 𝑦 onde 𝛼− =
√ ¯ e novamente 𝑑(¯
𝛼|R− . Assim, como 𝛼+−1
(𝑦) < 0, obtemos 𝜙(¯ 𝑞 ) = (− −𝑦, 𝑦) ∈ 𝜕 𝐷 𝑝, 𝑞¯) = 𝑥−𝛼−−1
(𝑦)
é a distância entre os pontos 𝑝¯ e 𝑞¯. Defina agora
𝑝) = (Π1 ∘ 𝜙(¯
𝜙(¯ 𝑞 ) + 𝑑(¯
𝑝, 𝑞¯), 𝑦) .
Logo temos que, se 𝐹 (𝑥, 0) ≤ 𝑦 < 0 e 𝑥 < 0 então,
(︁ √ )︁
𝜙(𝑥, 𝑦) = 𝑥 − 𝛼−
−1
(𝑦) − −𝑦, 𝑦 .

Teorema 3.3.1. Seja 𝐻0 = (𝐹0 , 𝐺0 ) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) definida na vizinhança 𝑈 de (0, 0). Se (0, 0) é
um ponto Σ-regular ou uma singularidade genérica então, 𝐻0 é 𝑅(Σ)-estruturalmente estável.
Demonstração. Seja 𝐻0 = (𝐹0 , 𝐺0 ) ∈ H * tal que a origem (0, 0) ∈ Σ é um ponto Σ-regular de 𝐻0 .
Então,
{𝑓, 𝐹0 } (0, 0) = {𝑓, 𝐺0 } (0, 0) ̸= 0. (3.3.23)
Defina 𝜙 : H * → R por
𝜙(𝐻) = {𝑓, 𝐹 } (0, 0). {𝑓, 𝐺} (0, 0).
Observe que 𝜙 é contínua e 𝜙(𝐻0 ) > 0, logo, existe uma vizinhança 𝑉𝐻0 tal que 𝜙(𝐻) > 0 para
todo 𝐻 ∈ 𝑉𝐻0 . Segue da Proposição 6 que 𝐻0 é 𝑅(Σ)-equivalente a 𝐻 para todo 𝐻 ∈ 𝑉𝐻0 . Assim,
temos que 𝐻0 é 𝑅(Σ)-estruturalmente estável, ou seja, 𝑐𝑜𝑑(𝐻0 ) = 0.
Suponha agora que 𝐻0 = (𝐹0 , 𝐺0 ) ∈ H * tem um ponto Σ−singular do tipo dobra na origem
(0, 0) ∈ Σ. Desta forma temos que
{𝑓, 𝐹0 } (0, 0) = 0 = {𝑓, 𝐺0 } (0, 0), (3.3.24)

{{𝑓, 𝐹0 } , 𝐹0 } (0, 0) ̸= 0 e {{𝑓, 𝐺0 } , 𝐺0 } (0, 0) ̸= 0. (3.3.25)


Defina a aplicação
𝜑 : H * × R −→ R
.
(𝐻, 𝑥) ↦−→ {𝑓, 𝐹 } (𝑥, 0)
Temos que 𝜑(𝐻0 , 0) = {𝑓, 𝐹0 } (0, 0) = 0. Além disso, note que
𝜕𝜑
(𝐻0 , 0) ̸= 0.
𝜕𝑥
Para facilitar nossos cálculos assumiremos 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑦. De fato, temos que
(︃ )︃
𝜕𝐹0 𝜕 2 𝐹0 𝜕𝐹0 𝜕 2 𝐹0 𝜕𝐹0
{{𝑓, 𝐹0 } , 𝐹0 } (0, 0) = ∇ − .𝐽.∇𝐹0 (0, 0) = − 2 (0, 0) + (0, 0). (3.3.26)
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥𝜕𝑦 𝜕𝑥

27
Sendo a origem um ponto Σ-dobra de 𝐻0 temos

{𝑓, 𝐹0 } (0, 0) = 0 e {{𝑓, 𝐹0 } , 𝐹0 } (0, 0) ̸= 0.

Segue então da equação (3.3.26) que


𝜕 2 𝐹0
(0, 0) ̸= 0.
𝜕𝑥2
Por outro lado, observando que 𝜑(𝐻, 𝑥) = {𝑓, 𝐹 } (𝑥, 0) = − 𝜕𝐹
𝜕𝑥
(𝑥, 0) obtemos
(︃ )︃
𝜕𝜑 𝜕 𝜕𝐹0 𝜕 2 𝐹0
(𝐻0 , 0) = − (0, 0) = − 2 (0, 0) ̸= 0.
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥

Agora, segue do Teorema das Funções Implícitas, que existe uma vizinhança 𝑉𝐻0 ⊂ H * e uma
função contínua 𝛼 : 𝑉𝐻0 → R tal que

𝛼(𝐻0 ) = 0 e 𝜑 (𝐻, 𝛼(𝐻)) = {𝑓, 𝐹 } (𝛼(𝐻), 0) = 0,

para todo 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ 𝑉𝐻0 .


Desta forma, o ponto (𝛼(𝐻), 0) é um ponto de tangência, uma singularidade da função 𝐹 . Cla-
ramente, como 𝐻 ∈ H * , temos {𝑓, 𝐺} (𝛼(𝐻), 0) = 0 logo, o ponto (𝛼(𝐻), 0) é uma singularidade
de 𝐻.
Consideremos agora as aplicações contínuas

𝜓1 : H* −→ R
,
𝐻 = (𝐹, 𝐺) ↦−→ {{𝑓, 𝐹 } , 𝐹 } (𝛼(𝐻), 0)

𝜓2 : H* −→ R
𝐻 = (𝐹, 𝐺) ↦−→ {{𝑓, 𝐺} , 𝐺} (𝛼(𝐻), 0) .
Note que

𝜓1 (𝐻0 ) = {{𝑓, 𝐹0 } , 𝐹0 } (𝛼(𝐻0 ), 0) = {{𝑓, 𝐹0 } , 𝐹0 } (0, 0) ̸= 0,


𝜓2 (𝐻0 ) = {{𝑓, 𝐺0 } , 𝐺0 } (𝛼(𝐻0 ), 0) = {{𝑓, 𝐺0 } , 𝐺0 } (0, 0) ̸= 0,

logo, existem vizinhanças 𝑉1 e 𝑉2 de 𝐻0 tais que

𝜓1 (𝐻) ̸= 0 ∀ 𝐻 ∈ 𝑉1 ,
𝜓2 (𝐻) ̸= 0 ∀ 𝐻 ∈ 𝑉2 .

Seja então, 𝑉 = 𝑉𝐻0 ∩𝑉1 ∩𝑉2 . Assim temos que, 𝐻0 ∈ 𝑉 e o ponto (𝛼(𝐻), 0) é uma singularidade
do tipo dobra da função 𝐻 para toda 𝐻 ∈ 𝑉 . Agora, pela proposição 7, obtemos que 𝐻0 é 𝑅(Σ)-
equivalente a 𝐻 para todo 𝐻 ∈ 𝑉 . Portanto, 𝐻0 é 𝑅(Σ)-estruturalmente estável.

28
3.4 Singularidades Tangenciais de uma função 𝐻 ∈ H *(R2, 𝑓 )
Na seção anterior descrevemos o conjunto Σ0 constituído pelas funções 𝐻 ∈ H * que são
𝑅(Σ)-estruturalmente estáveis, isto é, 𝑅(Σ)-cod𝐻 = 0. Nesta seção, o objetivo é estudar funções
𝐻 = (𝐹, 𝐺) suaves por partes, para as quais a origem é uma singularidade instável e não é ponto
crítico de 𝐹 e nem de 𝐺. Exibiremos o desdobramento da forma normal destas singularidades.
Primeiramente, lembramos que, se a origem é uma singularidade de 𝐻, então

{𝑓, 𝐹 } (0, 0) = {𝑓, 𝐺} (0, 0) = 0.

Como já mencionado na última seção, assumimos que Σ = 𝑓 −1 (0) onde 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑦. Assim,
obtemos da última equação acima que
𝜕𝐹 𝜕𝐺
(0, 0) = (0, 0) = 0.
𝜕𝑥 𝜕𝑥
Como estamos supondo que a origem não é ponto crítico de 𝐹 e nem de 𝐺, isto é, ∇𝐹 (0, 0) ̸= 0 e
∇𝐺(0, 0) ̸= 0 então, claramente

𝜕𝐹 𝜕𝐺
(0, 0) ̸= 0 e (0, 0) ̸= 0.
𝜕𝑦 𝜕𝑦
Observe também que, como 𝑐𝑜𝑑𝐻 > 0 segue do teorema 3.3.1 que a 𝐹 -ordem, e consequentemente
a 𝐺-ordem da origem é maior que 2. 𝐹 -𝑜[(0, 0)] = 𝐺-𝑜[(0, 0)] > 2.
Suponhamos então que 𝐹 -𝑜[(0, 0)]=𝐺-𝑜[(0, 0)] = 𝑘. Logo, podemos escrever

𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝑐𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 .


∑︁

𝑖+𝑗>𝑘

Como 𝐺(𝑥, 0) = 𝐹 (𝑥, 0), temos

𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎
¯𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝑐¯𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 com 𝑐¯𝑖0 = 𝑐𝑖0 ∀𝑖 > 𝑘.
∑︁

𝑖+𝑗>𝑘

Podemos, baseado na teoria de funções definidas em variedades com bordo estudada por Arnold
em [2], assumir que 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 com desdobramento dado por

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥.

Assim, temos
𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎
¯𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝑐¯𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 com 𝑗 ̸= 0.
∑︁

𝑖+𝑗>𝑘

𝐺𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑎
¯𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥 + 𝑐¯𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 com 𝑗 ̸= 0
∑︁

𝑖+𝑗>𝑘

Desta forma podemos enunciar o seguinte resultado.

29
Teorema 3.4.1. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * para o qual a origem (0, 0) é uma singularidade de 𝐻
com 𝐹 -𝑜[(0, 0)] = 𝐺-𝑜[(0, 0)] = 𝑘 com 𝑘 > 2. Então, o desdobramento de H é 𝑅(Σ)-equivalente ao
desdobramento
𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥 se 𝑦 ≥ 0
{︃
¯
𝐻(𝑥, 𝑦) = .
𝑎𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥 se 𝑦 < 0

No próximo resultado apresentamos o desdobramento da forma normal

𝐻 = (𝐹, 𝐺) = (𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 , 𝑎𝑦 + 𝑏𝑥𝑘 ) com 𝑎 = −1, (3.4.1)

via regularização da função não suave 𝐻. Primeiramente, definiremos regularização de uma função
𝐻 = (𝐹, 𝐺) suave por partes. A regularização apresentada aqui é similar à regularização de campos
de vetores descontínuos dada por Sotomayor e Teixeira, veja [11] e [15].

Definição 20. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) uma função definida em R2 suave por partes. Uma
regularização de 𝐻 é uma família a 1-parâmetro 𝐻𝜖 tal que:

1. 𝐻0 = 𝐻;

2. 𝐻𝜖 é diferenciável para todo 𝜖 > 0.

Seja 𝜙 : R −→ R uma função de classe 𝒞 ∞ tal que 𝜙′ (𝑥) > 0 para todo 𝑥 ∈ R e além disso,

lim 𝜙(𝑥) = 1 e lim 𝜙(𝑥) = −1.


𝑥→∞ 𝑥→−∞

Um exemplo de uma função 𝜙 com tais características é a função:

𝜙 : R −→ R
2 .
𝑥 ↦→ 𝜋
𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛 𝑥

Definição 21. Uma 𝜙−regularização de uma função 𝐻 = (𝐹, 𝐺)𝑓 é a família a 1-parâmetro dada
por:
1 + 𝜙𝜖 (𝑓 (𝑥, 𝑦)) 1 − 𝜙𝜖 (𝑓 (𝑥, 𝑦))
𝐻𝜖 (𝑥, 𝑦) = .𝐹 (𝑥, 𝑦) + .𝐺(𝑥, 𝑦)
2 2
onde 𝜙𝜖 (𝑥) = 𝜙(𝑥/𝜖).

Teorema 3.4.2. A 𝜙−regularização 𝐻𝜖 da função 𝐻 dada em (3.4.1) tem 𝑅-codimensão 𝑘 − 2 e


além disso,
lim 𝐻𝜖 + 𝐺𝜆 = 𝐻𝜆 ,
𝜖→0

onde 𝐺𝜆 é a parte perturbada do desdobramento de 𝐻𝜖 .

Demonstração. Sendo a função 𝐻 dada por

se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝑦 ± 𝑥𝑘
𝐻(𝑥, 𝑦) = ,
−𝑦 ± 𝑥𝑘 se 𝑦 < 0

30
segue da definição 21 que
𝐻𝜖 = ±𝑥𝑘 + 𝜙(𝑦/𝜖)𝑦.
Considerando a expansão de Taylor da função 𝜙 em torno da origem e como 𝜙′ (𝑥) > 0, podemos
escrever 𝜙(𝑥) = 𝑥 + 𝑜(𝑥2 ).
Desta forma, segue do teorema de Renè Thom (veja [14]) que o germe 𝐻𝜖 é 𝑅-equivalente a
¯
𝐻(𝑥, 𝑦) = ±𝑥𝑘 + 𝑦 2 para todo 𝜖 > 0 e o desdobramento é dado por

𝐻¯𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 2 ± 𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥.

Segue daí que a 𝑅−codimensão de 𝐻𝜖 é igual a 𝑘 − 2.


Consideremos agora 𝐺𝜆 = 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥 e 𝐻𝜖,𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝐻𝜖 + 𝐺𝜆 . Então,

lim 𝐻𝜖,𝜆 (𝑥, 𝑦) = lim(±𝑥𝑘 + 𝜙(𝑦/𝜖)𝑦 + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥)


𝜖→0 𝜖→0
= 𝐻(𝑥, 𝑦) + 𝜆1 𝑥𝑘−2 + · · · + 𝜆𝑘−2 𝑥 = 𝐻𝜆 .

3.5 Singularidades não tangenciais ou críticas de uma fun-


ção 𝐻 ∈ H *(R2, 𝑓 )
Até o presente momento, estudamos singularidades 𝑝 ∈ Σ de uma função 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H *
para as quais as curvas de nível de 𝐹 e 𝐺 passando pelo ponto 𝑝 é tangente à curva Σ.
Nesta seção vamos prosseguir com o estudo das singularidades de 𝐻, contudo lidaremos agora
com singularidades 𝑝 de 𝐻 = (𝐹, 𝐺) tais que ∇𝐹 (𝑝) = 0 ou ∇𝐺(𝑝) = 0. Na classificação apre-
sentada nesta seção, utilizamos fortemente o estudo das singularidades de funções definidas em
variedades com bordo, realizado por Arnold. Veja [2] e [3].
Seja então 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) tal que a origem (0, 0) ∈ Σ é um ponto crítico de 𝐹 = 𝐻|R2+
onde R2+ = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ 0} e com valor crítico zero.
Nosso estudo nesta seção se restringe aos germes de funções 𝐹 no ponto (𝑥, 𝑦) = (0, 0) com
fronteira 𝑦 = 0 dados pelas famílias abaixo:

𝐵𝑘 = ±𝑦 𝑘 ± 𝑥2 , 𝐶𝑘 = 𝑥𝑦 ± 𝑥𝑘 e 𝐹˜ = ±𝑦 2 + 𝑥3 ; 𝑘 ≥ 0. (3.5.1)

Nosso objetivo agora é determinar a função 𝐺 uma vez que a função 𝐹 pertence à família dada
pela equação (3.5.1) acima, de modo que 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * e também determinar o desdobramento
de 𝐻 em H * via o desdobramento de 𝐹 e 𝐺 restrito ao semi-plano.

3.5.1 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 ∈ 𝐵𝑘


Seja 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑏𝑦 𝑘 + 𝑎𝑥2 , com 𝑎, 𝑏 ∈ {−1, 1}. Temos que seu desdobramento é dado por

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑏𝑦 𝑘 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑦.

31
Como 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * é tal que
𝑎𝑥2 = 𝐹 (𝑥, 0) = 𝐺(𝑥, 0)
segue que
𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥2 + 𝑎𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 , com 𝑗 > 0.
∑︁

𝑖+𝑗≥1
Desta forma podemos escrever
𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥2 + 𝑦𝑔(𝑥, 𝑦), onde 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 . (3.5.2)
∑︁

𝑖,𝑗≥0

Sabemos que, sendo (0, 0) uma singularidade de 𝐹 , então (0, 0) é uma singularidade de 𝐺 e
existem duas possibilidades para analisarmos: ou (0, 0) é um ponto regular da função 𝐺, isto é,
∇𝐺(0, 0) ̸= 0 ou (0, 0) é um ponto crítico da função G, ou seja, ∇𝐺(0, 0) = 0.
• (0, 0) é ponto regular de 𝐺.
Derivando a função 𝐺 obtemos
∇𝐺(𝑥, 𝑦) = (2𝑎𝑥 + 𝑦𝑔𝑥 (𝑥, 𝑦), 𝑔(𝑥, 𝑦) + 𝑦𝑔𝑦 (𝑥, 𝑦))
como (0, 0) é ponto regular de 𝐺 isto é, ∇𝐺(0, 0) ̸= 0, concluímos que 𝑔(0, 0) ̸= 0. Desta forma
obtemos a seguinte forma normal
±𝑦 𝑘 + 𝑎𝑥2 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = (3.5.3)
𝑦 + 𝑎𝑥2 se 𝑦 < 0
Observe que a 𝐺-ordem da origem (0, 0) é 2. Logo, é uma singularidade estável de 𝐺. Segue então
que uma perturbação de 𝐻 se restringe a uma perturbação de 𝐹 , logo o desdobramento de 𝐻 é:
±𝑦 𝑘 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = . (3.5.4)
𝑦 + 𝑎𝑥2 se 𝑦 < 0
• (0, 0) é ponto crítico de 𝐺.
Tendo em vista a equação (3.5.2) e nos restringindo às funções dadas por 𝐵𝑘 , 𝐶𝑘 e 𝐹˜ , veja
equação (3.5.1), obtemos que:
𝐺(𝑥, 𝑦) = ±𝑥2 ± 𝑦 𝑟 , 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑘
ou
𝐺(𝑥, 𝑦) = ±𝑥2 + 𝑥𝑦.
Além disso, note que o desdobramento de 𝐺 é independente do desdobramento de 𝐹 , donde
concluímos que o desdobramento dos germes 𝐻 = (𝐹, 𝐺) em H * é dado respectivamente por:

±𝑦 𝑘 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑦 se 𝑦 ≥ 0


{︃
𝐻𝜆𝛼 (𝑥, 𝑦) = (3.5.5)
±𝑦 𝑟 + 𝑎𝑥2 + 𝛼1 𝑦 𝑟−1 + · · · + 𝛼𝑟−1 𝑦 se 𝑦 < 0
±𝑦 𝑘 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑦 + 𝛽𝑥 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆𝛽 (𝑥, 𝑦) = , (3.5.6)
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥2 + 𝛽𝑥 se 𝑦 < 0
onde 𝑎 ∈ {−1, 1}.

32
Observação 3. Analisando os níveis de 𝐻𝜆𝛼 e 𝐻𝜆𝛽 ¯ das funções para 𝑟 = 2, vemos que a cada
¯ 𝛽) tal que 𝐻𝜆𝛼 é 𝑅(Σ)−equivalente a
par de parâmetros (𝜆, 𝛼) podemos associar um único par (𝜆,
¯ .
𝐻𝜆𝛽

3.5.2 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 ∈ 𝐶𝑘


Seja agora 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 onde 𝑎 ∈ {−1, 1}. Temos que o desdobramento de 𝐹 é dado por

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥. (3.5.7)


Sendo então 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * contínua nos pontos 𝑝 = (𝑥, 0), obtemos

𝐹 (𝑥, 0) = 𝐺(𝑥, 0) = 𝑎𝑥𝑘 .

Segue daqui que


𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥𝑘 + 𝑎𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 , com 𝑗 > 0
∑︁

𝑖+𝑗≥1

ou seja, podemos escrever

𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥𝑘 + 𝑦𝑔(𝑥, 𝑦), onde 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑖𝑗 𝑥𝑖 𝑦 𝑗 . (3.5.8)


∑︁

𝑖,𝑗≥0

Como (0, 0) é um ponto crítico de 𝐹 , então (0, 0) é uma singularidade de 𝐺 e novamente temos
dois casos a analisar: (0, 0) é um ponto regular da função 𝐺, isto é, ∇𝐺(0, 0) ̸= 0 ou (0, 0) é um
ponto crítico da função G, ou seja, ∇𝐺(0, 0) = 0
• (0, 0) é um ponto regular de 𝐺
Temos que (︁ )︁
∇𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑘𝑎𝑥𝑘−1 + 𝑦𝑔𝑥 (𝑥, 𝑦), 𝑔(𝑥, 𝑦) + 𝑦𝑔𝑦 (𝑥, 𝑦)
logo, ∇𝐺(0, 0) ̸= 0 implica que 𝑔(0, 0) = 𝑏 ̸= 0. Assim, 𝑦𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑏𝑦 + 𝑜[(𝑥, 𝑦)2 ] e obtemos a
seguinte forma normal para 𝐻 = (𝐹, 𝐺).

𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) =
𝑏𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 se 𝑦 < 0

onde 𝑎, 𝑏 ∈ {−1, 1}. Além disso, o desdobramento de 𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑏𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 é dado por:

𝐺𝛼 (𝑥, 𝑦) = 𝑏𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝛼1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝛼𝑘−1 𝑥. (3.5.9)

Segue então de (3.5.7), (3.5.9) e da igualdade 𝐹𝜆 (𝑥, 0) = 𝐺𝛼 (𝑥, 0) que 𝜆𝑖 = 𝛼𝑖 para todo 𝑖 =
1, · · · , 𝑘 − 1. Portanto, temos que

𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥 se 𝑦 ≥ 0


{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) =
𝑏𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥 se 𝑦 < 0

é o desdobramento de 𝐻.

33
• (0, 0) é ponto crítico de 𝐺.
Consideremos agora que a função 𝐺 : R2− → R, R2− = {(𝑥, 𝑦); 𝑦 ≤ 0}, tem um ponto crítico na
origem, isto é, ∇𝐺(0, 0) = 0. Da equação (3.5.8), e como estamos lidando com as funções dadas
por 𝐵𝑘 , 𝐶𝑘 e 𝐹 da equação (3.5.1), obtemos que 𝐺 é dada por:
𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥𝑘 + 𝑏𝑥𝑦 com 𝑘 ≥ 2
além disso, para 𝑘 = 3 devemos considerar também
𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥3 + 𝑏𝑦 2 ,
onde em ambos casos 𝑎, 𝑏 ∈ {−1, 1}. E os respectivos desdobramentos são
𝐺𝛼 (𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥𝑘 + 𝑏𝑥𝑦 + 𝛼1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝛼𝑘−1 𝑥 (3.5.10)
e
𝐺𝛼 (𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑥3 + 𝑏(𝑦 + 𝛼1 𝑥)2 + 𝛼2 𝑥 + 𝛼3 𝑦. (3.5.11)
Desta forma obtemos as seguintes famílias de germes de funções 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * :
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = (3.5.12)
𝑏𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 se 𝑦 < 0,
tal que 𝑘 ≥ 2 e 𝑎, 𝑏 = ±1,
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = , (3.5.13)
𝑏𝑦 2 + 𝑎𝑥3 se 𝑦 < 0
onde 𝑎, 𝑏 ∈ {−1, 1}.
Considere 𝐻 dada pela equação (3.5.12). Observando (3.5.7), (3.5.10) e da igualdade 𝐹𝜆 (𝑥, 0) =
𝐺𝛼 (𝑥, 0) obtemos que 𝛼𝑖 = 𝜆𝑖 para todo 𝑖 = 1, · · · , 𝑘 − 1. Contudo, neste caso o desdobramento
de 𝐻 não segue imediatamente como nos casos já estudados. De fato, podemos notar que para a
família 𝐻𝜆 dada por
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
𝑏𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥 se 𝑦 < 0
quaisquer que sejam os valores de 𝜆𝑖 , 𝑖 = 1, · · · , 𝑘, tais que 𝐹 não tem um ponto crítico 𝑝 ∈ Σ
tem-se obrigatoriamente que 𝐺 também não tem um ponto crítico 𝑞 ∈ Σ. Ou seja, sempre que
𝜆 = (𝜆1 , · · · , 𝜆𝑘−1 ) tira de Σ o ponto crítico de 𝐹 , tira-se também de Σ o ponto crítico da 𝐺. Logo,
esta família não descreve todas as bifurcações de 𝐻.
Entretanto, resolvemos esta questão fazendo uma nova perturbação 𝜆𝑘 𝑦. Logo, o desdobra-
mento de 𝐻 é dado por:
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥𝑘 + 𝜆1 𝑥𝑘−1 + · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = .
𝑏𝑥𝑦 + 𝑎𝑥 + 𝜆1 𝑥
𝑘 𝑘−1
+ · · · + 𝜆𝑘−1 𝑥 + 𝜆𝑘 𝑦 se 𝑦 < 0
Agora considere 𝐻 dada pela equação (3.5.13). Neste caso temos que 𝜆1 = 𝑏𝛼12 e 𝜆2 = 𝛼2 e o
desdobramento de 𝐻 em H * é dado por:
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝑏𝛼12 𝑥2 + 𝛼2 𝑥 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝛼 (𝑥, 𝑦) = .
𝑏(𝑦 + 𝛼1 𝑥) + 𝑎𝑥 + 𝛼2 𝑥 + 𝛼3 𝑦 se 𝑦 < 0
2 3

34
3.5.3 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 = ±𝑦 2 + 𝑥3
Tomemos então 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑦 2 + 𝑥3 , 𝑎 = ±1. Claramente 𝐹 tem um
ponto crítico na origem. Desta forma, por cálculos similares aos apresentados nas seções 3.5.1 e
3.5.2, temos que a origem (0, 0) é uma singularidade de 𝐺, onde

𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑥3 + 𝑦𝑔(𝑥, 𝑦). (3.5.14)

• A origem (0, 0) é ponto regular de 𝐺


Da equação (3.5.14) temos que
(︁ )︁
∇𝐺 = 3𝑥2 + 𝑦𝑔𝑥 (𝑥, 𝑦), 𝑔(𝑥, 𝑦) + 𝑦𝑔𝑦 (𝑥, 𝑦)

assim como 0 ̸= ∇𝐺(0, 0) = (0, 𝑔(0, 0)), temos que 𝑔(0, 0) = 𝑏 ̸= 0. Obtemos então a seguinte
forma normal para 𝐻:
𝑎𝑦 2 + 𝑥3 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = ,
𝑏𝑦 + 𝑥3 se 𝑦 < 0
onde 𝑎, 𝑏 ∈ {±1}.
Tendo em mãos que os desdobramentos 𝐹𝜆 e 𝐺𝛼 de 𝐹 e 𝐺 são dados respectivamente por

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑎(𝑦 + 𝜆1 𝑥)2 + 𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦,

𝐺𝛼 (𝑥, 𝑦) = 𝑏𝑦 + 𝑥3 + 𝛼𝑥.
Concluímos de 𝐹𝜆 (𝑥, 0) = 𝐺𝛼 (𝑥, 0) que 𝛼 = 𝜆2 e o desdobramento de 𝐻 = (𝐹, 𝐺) em H * é:

𝑎(𝑦 + 𝜆1 𝑥)2 + 𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = .
𝑏𝑦 + 𝑥3 + 𝜆21 𝑥2 + 𝜆2 𝑥 se 𝑦 < 0

• A origem (0, 0) é ponto crítico de 𝐺.


Suponhamos agora que 𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑎𝑦 2 + 𝑥3 , 𝑎 = ±1 e que ∇𝐺(0, 0) = 0. Então, da equação
(3.5.14), e mais uma vez lembrando que estamos nos restringindo às funções dadas na equação
(3.5.1), temos que
𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑥3 + 𝑏𝑦 2 ou 𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑥3 + 𝑥𝑦.
Observe que o caso em que 𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑥3 +𝑥𝑦 é similar ao caso estudado na equação (3.5.13) da seção
3.5.2. Para ver isto, basta considerar 𝐻 = (𝐺, 𝐹 ). Logo, resta-nos apenas o caso 𝐺(𝑥, 𝑦) = 𝑥3 +𝑏𝑦 2 .
Assim temos que
𝑎𝑦 2 + 𝑥3 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = .
𝑏𝑦 2 + 𝑥3 se 𝑦 < 0
E o desdobramento de 𝐻 em H * é:
Se 𝑎 = 𝑏
𝑎(𝑦 + 𝜆1 𝑥)2 + 𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = .
𝑎(𝑦 + 𝜆1 𝑥)2 + 𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆4 𝑦 se 𝑦 < 0

35
E se 𝑎 = −𝑏, assumamos 𝑎 = 1 e 𝑏 = −1, então, como

(𝑦 + 𝜆1 𝑥)2 + 𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = .
−𝑦 2 + 𝑥3 + 𝜆21 𝑥2 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆4 𝑦 se 𝑦 < 0

Os próximos resultados é enunciado a fim de sintetizar o estudo deste capítulo.

Teorema 3.5.1. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * tal que a origem é uma singularidade de 𝐻 com 𝐹 (0) =
𝐺(0) = 0 e que 0 ≤ 𝑅(Σ)-𝑐𝑜𝑑(𝐻) ≤ 2. Então, 𝐻 é 𝑅(Σ)-equivalente a um dos germes da tabela
3.1.

Símbolo Germe Desdobramento 𝑅(Σ)-cod.


𝑦 + 𝑎𝑥2 𝑦 + 𝑎𝑥2
{︃ {︃
D 0
±𝑦 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 + 𝑎𝑥2
𝑦 + 𝑎𝑥3 𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆𝑥
{︃ {︃
C 1
±𝑦 + 𝑎𝑥3 ±𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆𝑥
±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆𝑦
{︃ {︃
SD/CeD 1
𝑦 + 𝑎𝑥2 𝑦 + 𝑎𝑥2
𝑦 + 𝑎𝑥4 𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥
{︃ {︃
𝑇4 2
±𝑦 + 𝑎𝑥4 ±𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥
±𝑦 3 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 3 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦
{︃ {︃
eCD 2
±𝑦 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 + 𝑎𝑥2
±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦
{︃ {︃
S/SCe/Ce 2
±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆2 𝑦
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥
{︃ {︃
𝑆 2𝐶 2
𝑏𝑦 + 𝑎𝑥3 𝑏𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥

Tabela 3.1: Classificação de germes de funções.

Conjecturamos, nos próximos dois resultados, a forma normal e seus respectivos desdobramen-
tos das funções de 𝑅(Σ)-codimensão 3 e 4.

1. Se 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * é uma função de 𝑅(Σ)-codimensão igual a 3, então, 𝐻 é 𝑅(Σ)-


equivalente a um dos germes da tabela 3.2.

2. Se 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * é uma função de 𝑅(Σ)-codimensão igual a 4, então, 𝐻 é 𝑅(Σ)-


equivalente a um dos germes da tabela 3.3.

36
Símbolo Germe Desdobramento 𝑅(Σ)-cod.
𝑦 + 𝑎𝑥5 𝑦 + 𝑎𝑥5 + 𝜆1 𝑥3 + 𝜆2 𝑥2 + 𝜆3 𝑥
{︃ {︃
𝑇5 3
±𝑦 + 𝑎𝑥5 ±𝑦 + 𝑎𝑥5 + 𝜆1 𝑥3 + 𝜆2 𝑥2 + 𝜆3 𝑥
±𝑦 4 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 4 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 3 + 𝜆2 𝑦 2 + 𝜆3 𝑦
{︃ {︃
𝑃 𝑐4 𝐷 3
𝑦 + 𝑎𝑥2 𝑦 + 𝑎𝑥2
±𝑦 3 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 3 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦
{︃ {︃
eCS/eCCe 3
𝑦 2 + 𝑎𝑥2 ±𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆3 𝑦
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥4 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥3 + 𝜆2 𝑥2 + 𝜆3 𝑥
{︃ {︃
𝑆 3 𝑇4 3
±𝑦 + 𝑎𝑥4 ±𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥3 + 𝜆2 𝑥2 + 𝜆3 𝑥
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥
{︃ {︃
𝑆2 3
±𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 ±𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝑏𝜆21 𝑥2 + 𝜆2 𝑥
{︃ {︃
𝑆 2 𝑒𝑐 3
𝑏𝑦 2 + 𝑎𝑥3 𝑏(𝑦 + 𝜆1 )2 + 𝑎𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦
𝑎𝑦 2 + 𝑥3 𝑎(𝑦 + 𝜆1 )2 + 𝑎𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦
{︃ {︃
𝑒𝑐 𝐶 3
𝑏𝑦 + 𝑥3 𝑏𝑦 + 𝑥3 + 𝑎𝜆21 𝑥2 + 𝜆2 𝑥

Tabela 3.2: Classificação de germes de funções.

Símbolo Germe Desdobramento 𝑅(Σ)-cod.


𝑦 + 𝑎𝑥6 𝑦 + 𝑎𝑥6 + 𝜆1 𝑥4 + 𝜆2 𝑥3 + 𝜆3 𝑥2 + 𝜆4 𝑥
{︃ {︃
𝑇6 4
𝑏𝑦 + 𝑎𝑥6 𝑏𝑦 + 𝑎𝑥6 + 𝜆1 𝑥4 + 𝜆2 𝑥3 + 𝜆3 𝑥2 + 𝜆4 𝑥
𝑏𝑦 5 + 𝑎𝑥2 𝑏𝑦 5 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 4 + 𝜆2 𝑦 3 + 𝜆3 𝑦 2 + 𝜆4 𝑦
{︃ {︃
𝑃 𝑐5 𝐷 4
𝑦 + 𝑎𝑥2 𝑦 + 𝑎𝑥2
𝑏𝑦 3 + 𝑎𝑥2 𝑏𝑦 3 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦
{︃ {︃
eC 4
𝑐𝑦 3 + 𝑎𝑥2 𝑐𝑦 3 + 𝑎𝑥2 + 𝜆3 𝑦 2 + 𝜆4 𝑦
𝑏𝑦 4 + 𝑎𝑥2 𝑏𝑦 4 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 3 + 𝜆2 𝑦 2 + 𝜆3 𝑦
{︃ {︃
𝑃 𝑐4 𝑆/𝑃 𝑐4 𝐶𝑒 4
𝑐𝑦 2 + 𝑎𝑥2 𝑐𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆4 𝑦
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥5 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥5 + 𝜆1 𝑥4 + 𝜆2 𝑥3 + 𝜆3 𝑥2 + 𝜆4 𝑥
{︃ {︃
𝑆 4 𝑇5 4
𝑏𝑦 + 𝑎𝑥5 𝑏𝑦 + 𝑎𝑥5 + 𝜆1 𝑥4 + 𝜆2 𝑥3 + 𝜆3 𝑥2 + 𝜆4 𝑥
𝑥𝑦 + 𝑎𝑥4 𝑥𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥3 + 𝜆2 𝑥2 + 𝜆3 𝑥
{︃ {︃
𝑆3 4
𝑏𝑥𝑦 + 𝑎𝑥4 𝑏𝑥𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥3 + 𝜆2 𝑥2 + 𝜆3 𝑥 + 𝜆4 𝑦
𝑏𝑦 2 + 𝑎𝑥3 (𝑦 + 𝜆1 𝑥)2 + 𝑥3 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆3 𝑦
{︃ {︃
𝑒𝑐 4
𝑐𝑦 2 + 𝑎𝑥3 −𝑦 2 + 𝑥3 + 𝜆21 𝑥2 + 𝜆2 𝑥 + 𝜆4 𝑦

Tabela 3.3: Classificação de germes de funções.

37
Daremos aqui um nome para cada símbolo que aparece na tabela.
𝐷 = Tangência ordem 2-Tangência ordem 2;
𝐶 = Tangência ordem 3-Tangência ordem 3;
𝑆𝐷/𝐶𝑒𝐷 = Ponto crítico Sela-Tangência ordem 2/ Centro-Tangência ordem 2;
𝑇4 = Tangência ordem 4-Tangência ordem 4;
𝑒𝐶𝐷 = Ponto crítico Dobra-Tangência ordem 2;
𝑆/𝑆𝐶𝑒/𝐶𝑒 = Ponto crítico Sela-Sela/ Sela-Centro/ Centro-Centro;
𝑆 2 𝐶 = Ponto crítico. Sela-Tangência ordem 3. (Uma separatriz da sela tem contato de ordem
2 com Σ);
𝑇5 = Tangência de ordem 5-Tangência de ordem 5;
𝑃 𝑐4 𝐷 = Ponto crítico cúspide-Tangência ordem 2;
𝑒𝐶𝑆/𝑒𝐶𝐶𝑒 = Ponto equilíbrio Dobra-Sela/ Ponto equilíbrio Dobra-Centro;
𝑆 3 𝑇4 = Ponto crítico Sela-Tangência 4. (Uma separatriz da sela tem contato de ordem 3 com
Σ);
𝑆 2 = ponto crítico Sela-Sela. (Uma separatriz da sela tem contato de ordem 2 com Σ);
𝑆 2 𝑒𝑐 = Ponto crítico Sela- ponto crítico Dobra tangente a Σ; (Uma separatriz da sela tem
contato de ordem 2 com Σ);
𝑒𝑐 𝐶 = Ponto crítico Dobra tangente a Σ-tangência ordem 3;
𝑇6 = Tangência ordem 6-tangência ordem 6;
𝑃 𝑐5 𝐷 = Ponto crítico andorinha-tangência ordem 2;
𝑒𝐶 = Ponto equilíbrio Dobra-Ponto equilíbrio Dobra;
𝑃 𝑐4 𝑆/𝑃 𝑐4 𝐶𝑒 = Ponto crítico cúspide-Sela/ Ponto crítico cúspide-Centro;
𝑆 4 𝑇5 = Ponto crítico Sela-Tangência 5. (Uma separatriz da sela tem contato de ordem 4 com
Σ);
𝑆 3 = Ponto crítico Sela-Ponto crítico Sela. (Uma separatriz das selas tem contato de ordem 3
com Σ);
𝑒𝑐 = Ponto crítico Dobra tangente a Σ-Ponto crítico Dobra tangente a Σ.

38
Capítulo 4

Sistemas Hamiltonianos Suaves por


Partes

Neste capítulo estudamos campos de vetores Hamiltonianos suaves por partes em R2 . Apre-
sentamos a classificação e o diagrama de bifurcação de codimensão baixa para uma classe de tais
sistemas Hamiltonianos denominados Refrativos. A principal motivação aqui é o trabalho do Eke-
land [6] que em seus estudos sobre o problema fundamental do cálculo variacional se depara com
Sistemas Hamiltonianos descontínuos.

4.1 Campos Hamiltonianos Refrativos


Definição 22. Um sistema descontínuo 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω é dito Refrativo se satisfaz 𝑋𝑓 (𝑝) =
𝑌 𝑓 (𝑝) para todo 𝑝 ∈ Σ. Além disso, se 𝑋 e 𝑌 são campos de vetores suaves Hamiltonianos então,
dizemos que 𝑍 é um sistema Hamiltoniano refrativo.

Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) um campo de vetores Hamiltoniano suave por partes com função hamiltoniana
associada a 𝑍 dada por 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H (R2 , 𝑓 ). Segue direto da definição do colchete de Poisson
{., .} (equação 1.1.3) que

𝑋𝑓 (𝑝) = {𝑓, 𝐹 }(𝑝) e 𝑌 𝑓 (𝑝) = {𝑓, 𝐺}(𝑝).

Desta forma, todos os conceitos básicos apresentados na seção 1.2 do capítulo 1 podem ser reescritos
em função do colchete de Poisson {., .}. A fim de destacar a função associada a cada campo de
vetores Hamiltoniano, faremos uso da notação {., .}.
A definição 22 para o caso Hamiltoniano pode ser reescrita da forma:

Definição 23. Dizemos que um sistema Hamiltoniano suave por partes 𝑍𝐻 = (𝑋, 𝑌 ) com função
hamiltoniana associada dada por 𝐻 = (𝐹, 𝐺) é um sistema refrativo se

{𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑝) = 0

para todo ponto 𝑝 pertencente à descontinuidade Σ de 𝑍𝐻 , ou seja, se 𝐻 ∈ H * (R2 , 𝑓 ).

39
Denotemos por Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 (R , 𝑓 ) o conjunto de todos os campos de vetores Hamiltonianos refrativos.
2

E adotaremos a notação 𝑍𝐻 para representar um campo de vetores Hamiltoniano associado à função


𝐻.
Claramente, da definição 23 tem-se que:
• Se 𝑝 ∈ Σ é uma singularidade (ponto Σ-singular) do campo de vetores 𝑋, isto é, 𝑝 é um
ponto de tangência de 𝑋 com Σ ou 𝑝 é um ponto de equilíbrio de 𝑋. Então, 𝑝 também é
uma singularidade do campo de vetores 𝑌 .
• A descontinuidade Σ é composta apenas por região de costura e pontos singulares de 𝑍.
Antes de enunciarmos o principal resultado desta seção, apresentaremos um exemplo de um
campo de vetores Hamiltoniano refrativo em R2 .
Considere o campo de vetores
(1, −2𝑥) se 𝑦 > 0
{︃
𝑍(𝑥, 𝑦) = . (4.1.1)
(−1, −2𝑥) se 𝑦 < 0

Claramente, 𝑍 é um campo de vetores Hamiltoniano pois, os campos suaves 𝑋 = (1, −2𝑥) e


𝑌 = (−1, −2𝑥) são Hamiltonianos. A função hamiltoniana associada a 𝑍 é:

𝑦 + 𝑥2 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = (𝐹, 𝐺) = .
−𝑦 + 𝑥2 se 𝑦 < 0.
Além disso,
{𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑥, 0) = −𝐹𝑥 (𝑥, 0) + 𝐺𝑥 (𝑥, 0) = −2𝑥 + 2𝑥 = 0,
onde 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑦. Logo, 𝑍 ∈ Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 (R , 𝑓 ).
2

Como
{𝑓, 𝐹 }(0, 0) = {𝑓, 𝐺}(0, 0) = 0,
{{𝑓, 𝐹 }, 𝐹 }(0, 0) = −𝐹𝑦 (0, 0)𝐹𝑥𝑥 (0, 0) = −2 < 0,
{{𝑓, 𝐺}, 𝐺}(0, 0) = −𝐺𝑦 (0, 0)𝐺𝑥𝑥 (0, 0) = 2 > 0,
obtemos que, (0, 0) é um ponto tipo dobra-dobra invisível de 𝑍. A aplicação de Poincaré em torno
da origem é a identidade 𝐼𝑑(𝑠) = 𝑠. Portanto, o plano de fase de 𝑍 é dado pela figura 4.1.
Teorema 4.1.1. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) e 𝑍𝐻 o campo de vetores Hamiltoniano associado
¯ = (𝐹¯ , 𝐺)
a 𝐻. Então, existe uma aplicação contínua 𝐻 ¯ ∈ H * tal que o campo de vetores associado
a𝐻¯ é equivalente ao campo de vetores associado a 𝐻.

Demonstração. Note que Σ = 𝑓 −1 (0), onde 𝑓 é uma função de classe 𝒞 𝑘 e zero é um valor regular.
Então, podemos escrever
{︁ }︁
Σ = (𝑥, 𝜙(𝑥)) ∈ R2 ; 𝑥 ∈ R e 𝜙 : R → R é de classe 𝒞 𝑘 .

Por hipótese, {𝑓, 𝐹 − 𝐺}(𝑥, 𝜙(𝑥)) = 0 ∀𝑥 ∈ R2 então,

𝑓𝑥 (𝑝) [(𝐹𝑦 − 𝐺𝑦 )(𝑝)] − 𝑓𝑦 (𝑝) [(𝐹𝑥 − 𝐺𝑥 )(𝑝)] = 0 , ∀ 𝑝 = (𝑥, 𝜙(𝑥)). (4.1.2)

40
Σ

Figura 4.1: Exemplo de um campo de vetores Hamiltoniano refrativo.

Além
⟨ disso, como⟩ o campo de vetores (1, 𝜙′ (𝑥)) é tangente a Σ in 𝑝 = (𝑥, 𝜙(𝑥)) segue que
(1, 𝜙′ (𝑥)), ∇𝑓 (𝑝) = 0. Isto implica que

(𝜙′ (𝑥), −1) é paralelo a ∇𝑓 (𝑝). (4.1.3)


Agora de (4.1.2) e (4.1.3) obtemos
𝜙′ (𝑥) [(𝐹𝑦 − 𝐺𝑦 )(𝑝)] + [(𝐹𝑥 − 𝐺𝑥 )(𝑝)] = 0. (4.1.4)
Reescrevendo a equação (4.1.4) conseguimos:
𝜙′ (𝑥)𝐹𝑦 (𝑥, 𝜙(𝑥)) + 𝐹𝑥 (𝑥, 𝜙(𝑥)) = 𝜙′ (𝑥)𝐺𝑦 (𝑥, 𝜙(𝑥)) + 𝐺𝑥 (𝑥, 𝜙(𝑥)).
A expressão acima pode ser escrita como
𝑑 𝑑
𝐹 (𝑥, 𝜙(𝑥)) = 𝐺(𝑥, 𝜙(𝑥)). (4.1.5)
𝑑𝑥 𝑑𝑥
Defina 𝐴(𝑥) = 𝐹 (𝑥, 𝜙(𝑥)) e 𝐵(𝑥) = 𝐺(𝑥, 𝜙(𝑥)). Pela (4.1.5) e pelo Teorema Fundamental do
Cálculo 𝐹 (𝑥, 𝜙(𝑥)) = 𝐴(𝑥) = 𝐵(𝑥) + 𝐶 = 𝐺(𝑥, 𝜙(𝑥)) + 𝐶.
Considere agora, 𝐻¯ = (𝐹¯ , 𝐺)
¯ onde 𝐹¯ (𝑥, 𝑦) = 𝐹 (𝑥, 𝑦) e 𝐺(𝑥,
¯ 𝑦) = 𝐺(𝑥, 𝑦) + 𝐶. Claramente, 𝐻
¯
é uma função contínua. Além disso, como 𝐺 ¯ e 𝐺 diferem apenas por uma constante 𝐶, o campo
¯
de vetores associado a 𝐺 é exatamente o mesmo campo de vetores associado a 𝐺. Isto prova o
teorema.

Segue diretamente do teorema 4.1.1 acima, que podemos estender a propriedade 1 da seção
1.1.2 para campos Hamiltonianos refrativos: Dado um campo Hamiltoniano refrativo 𝑍 existe
uma função hamiltoniana 𝐻 tal que 𝐻 é constante ao longo das soluções de 𝑍.
Outra consequência imediata do teorema 4.1.1 e importantíssima para a classificação das sin-
gularidades apresentadas nas próximas seções é expressada no corolário abaixo:

41
Corolário 2. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H * (R2 , 𝑓 ) e 𝑍𝐻 o campo de vetores Hamiltoniano associado
a 𝐻. Se a origem é uma singularidade isolada de 𝑍 tal que para alguma vizinhança 𝑈 ⊂ R2 da
origem a aplicação de Poincaré está bem definida, então, as trajetórias de 𝑍𝐻 em 𝑈 são órbitas
fechadas.
Observação 4. O corolário 2 não é verdadeiro para campos de vetores Hamiltonianos suaves por
partes 𝑍𝐻 tal que a função hamiltoniana 𝐻 não pertence ao conjunto H * .
De fato, considere o campo de vetores
(1, −2𝑥) se 𝑦 > 0
{︃
𝑍(𝑥, 𝑦) = (4.1.6)
(−1, −2𝑥 − 3𝑥 ) se 𝑦 < 0
2

então, sua função hamiltoniana associada é


𝑦 + 𝑥2 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦) = (𝐹, 𝐺) =
−𝑦 + 𝑥 + 𝑥 se 𝑦 < 0.
2 3

Primeiramente, é fácil ver que a origem é um ponto de dobra-dobra invisível. Lembre que, uma
solução de 𝑋 e 𝑌 está contida numa curva de nível de 𝐹 e 𝐺 respectivamente. Temos que,

𝐹 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 + 𝑥2 , 𝐺(𝑥, 𝑦) = −𝑦 + 𝑥2 + 𝑥3 e Σ = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 = 0}.

Como a origem é um ponto de dobra-dobra invisível, temos que a aplicação de Poincaré 𝜙1 de 𝑋


na vizinhança da origem está definida e resolvendo a equação 𝐹|Σ = 𝑘 obtemos

𝜙1 (𝑥) = −𝑥.

Agora, considere o ponto 𝑝 = (𝑎, 0) ∈ Σ com 𝑎 > 0. Note que 𝑝 ∈ (𝐺)−1 (𝑎2 + 𝑎3 ). Assim,
encontrando a solução de (𝐺)−1 (𝑎2 + 𝑎3 ) ∩ Σ, mais especificamente, resolvendo a equação

𝑥3 + 𝑥2 − 𝑎3 − 𝑎2 = 0,

podemos definir uma aplicação 𝜙2 : (0, 31 ) → (− 23 , 0) dada por


1 √
𝜙2 (𝑥) = − (𝑥 + 1 − −3𝑥2 − 2𝑥 + 1).
2
Desta forma, a função de Poincaré para o campo de vetores 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) numa vizinhança da
origem é:
1 2
(︂ )︂ (︂ )︂
𝜙 : 0, −→ 0, ,
3 3
onde 𝜙(𝑥) = 𝜙1 ∘ 𝜙2 (𝑥). Este comportamento é ilustrado na figura 4.2.

Observação 5. Observe que o corolário 2 não é verdadeiro se não estamos tratando com campos
Hamiltonianos. Primeiramente, note que, se 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) é um campo de vetores descontínuo
(refrativo) que não é Hamiltoniano e com descontinuidade Σ = {(𝑥, 0); 𝑥 ∈ R} então,

𝑋2 (𝑥, 0) = 𝑌2 (𝑥, 0) onde 𝑋 = (𝑋1 , 𝑋2 ) e 𝑌 = (𝑌1 , 𝑌2 ).

42
− 23 1
3

Figura 4.2: Um comportamento repulsor em torno de um ponto de dobra-dobra.

Agora considere
(𝑥 + 1, −𝑥) se 𝑦 > 0
{︃
𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) = .
(−1, −𝑥) se 𝑦 < 0
Claramente, 𝑋2 (𝑥, 0) = −𝑥 = 𝑌2 (𝑥, 0) e 𝑍 não é um campo de vetores Hamiltoniano, pois 𝑋 não é
Hamiltoniano. Entretanto, a origem é uma singularidade de 𝑍 com um comportamento repulsor.
De fato, dado 𝑝 = (𝑥0 , 0) onde 𝑥0 > 0 então a solução de 𝑌 passando por 𝑝 é:
1
𝑦(𝑥) = (−𝑥20 + 𝑥2 ).
2
Então, 𝑦(𝑥) = 0 se, e somente se, 𝑥 = 𝑥0 ou 𝑥 = −𝑥0 . Por outro lado, a solução de 𝑋 passando
por −𝑥0 é:
𝑦(𝑥) = 𝑥0 + 𝑥 + 𝑙𝑛(1 − 𝑥0 ) − 𝑙𝑛(1 + 𝑥).
Além disso, 𝑦(𝑥0 ) ̸= 0. Veja figura 4.3.

-p p

Figura 4.3: Campo de vetores refrativo não Hamiltoniano.

43
4.2 Estabilidade Estrutural local
Lembramos que, dado 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) um campo de vetores Hamiltoniano com função hamiltoniana
associada 𝐻 = (𝐹, 𝐺), as trajetórias de 𝑋 e 𝑌 estão contidas nas curvas de níveis de 𝐹 e 𝐺
respectivamente. Além disso, da observação 1 do capítulo 1, temos que em dimensão 2, 𝐹 e 𝐺
descrevem todo o comportamento das soluções de 𝑋 e 𝑌 respectivamente. Desta forma, segue do
teorema 4.1.1 que para estudarmos o campo 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓 𝐻𝑎𝑚 (R ) é suficiente conhecermos o
2

comportamento dos níveis de 𝐻 = (𝐹, 𝐺), onde 𝐻 é contínua.


Portanto, levando em conta o que acabamos de discutir, vamos enunciar o resultado de estabi-
lidade dos campos Hamiltonianos refrativos cuja, demonstração é exatamente igual à do teorema
3.3.1.
Definição 24. Dizemos que um campo 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 é Σ-estruturalmente estável se existe
˜
uma vizinhança 𝒱 de 𝑍 em Ω𝐻𝑎𝑚 tal que todo 𝑍 em 𝒱 é Σ-equivalente a 𝑍.
𝑅𝑒𝑓

Teorema 4.2.1. Seja 𝑍0 = (𝑋0 , 𝑌0 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓


𝐻𝑎𝑚 (R , 𝑓 ) definido na vizinhança 𝒰 da origem (0, 0). Se
2

(0, 0) é um ponto regular ou um ponto singular dobra-dobra então, 𝑍0 é Σ-estruturalmente estável.


Demonstração. Como já mencionamos, a prova é similar à do teorema 3.3.1. Desta forma, vamos
apenas apontar os passos utilizados aqui. Lembre que 𝑋𝑓 (𝑝) = {𝑓, 𝐹 }(𝑝), onde 𝐹 é a função
hamiltoniana associada ao campo de vetores 𝑋.
• No caso regular definimos uma função
𝜙: Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 −→ R
,
𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ↦−→ 𝑋𝑓 (0, 0).𝑌 𝑓 (0, 0)
e o resultado segue da continuidade de 𝜙.
• No caso singular, definimos a função
𝜑 : Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 × R −→ R
.
(𝑍, 𝑥) ↦−→ 𝑋𝑓 (𝑥, 0)
Aplicamos o Teorema da Função Implícita e utilizamos a hipótese de que 𝑋𝑓 (𝑥, 0) = 𝑌 𝑓 (𝑥, 0)
para garantir a existência de vizinhança 𝒱𝑍0 de 𝑍0 ,tal que se 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ 𝒱𝑍0 tem-se
𝑋𝑓 (𝑝𝑍 ) = 𝑌 𝑓 (𝑝𝑍 ) = 0 para algum ponto 𝑝𝑧 ∈ Σ.
Agora o teorema segue das funções contínuas
𝜓1 : Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 −→ R
𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ↦−→ 𝑋 𝑓 (𝑝𝑍 ),
2

𝜓2 : Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 −→ R
𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ↦−→ 𝑌 𝑓 (𝑝𝑍 ).
2

Ekeland em [6], obtém uma versão deste resultado do ponto de vista do estudo de problema
variacional.

44
4.3 Bifurcações a 1-Parâmetro
Na seção anterior descrevemos os campos 𝑍 ∈ Ω𝑅𝑒𝑓𝐻𝑎𝑚 que são estruturalmente estáveis. Nesta
seção, temos como objetivo descrever o conjunto de bifurcações genéricas de cod 1. Como nosso
estudo neste capítulo se limita aos campos de vetores definidos em R2 , então, pela observação 1,
é suficiente descrevermos a menos de orientação, o comportamento das funções dadas no capítulo
3. Entretanto, para campos Hamiltonianos suave por partes em R2𝑛 , 𝑛 > 1, a forma simplética
utilizada é fundamental. Veja o exemplo 5 abaixo:

Exemplo 5. Seja 𝐻 = (𝐹, 𝐺) : R4 → R dada por:

𝑦 + 𝑥2 /2 + 𝑧 2 /2 + 𝑤3 /3 se 𝑦 > 0
{︃
𝐻(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑤) = .
−𝑦 + 𝑥 /2 + 𝑧 /2 + 𝑤 /3 se 𝑦 < 0
2 2 3

Temos que
𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑤) = 𝑦 + 𝑥2 /2 + 𝑧 2 /2 + 𝑤3 /3 + 𝜆𝑤,
é o desdobramento de 𝐹 restrito a R4+ = {(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑤) ∈ R4 ; 𝑦 ≥ 0}, isto é, 𝐹 tem 𝑐𝑜𝑑 = 1.
Agora considere as seguintes matrizes simpléticas de R4 :

0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1
⎡ ⎤ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤
⎢ 0 0 0 1 ⎥ ⎢ −1 0 0 0 ⎥ ⎢ 0 0 −1 0 ⎥
𝐽1 = ⎢ ⎥ , 𝐽2

=⎢ ⎥ , 𝐽3

=⎢ ⎥.

−1 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0
⎢ ⎢ ⎢
⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦
0 −1 0 0 0 0 −1 0 −1 0 0 0

Temos que ∇𝐹𝜆 = (𝑥, 1, 𝑧, 𝑤2 + 𝜆) e o campo associado a 𝐹𝜆 é:

• Para 𝐽1

𝑋𝐹𝜆 = 𝐽1 ∇𝐹𝜆 = (𝑧, 𝑤2 + 𝜆, −𝑥, −1).


Assim,

𝑋𝐹𝜆 𝑓 = 𝑤2 + 𝜆 , 𝑋𝐹2𝜆 𝑓 = −2𝑤 , 𝑋𝐹3𝜆 𝑓 = 2.



Logo, concluímos que para 𝜆 < 0 temos dois planos dados por {𝑦 = 0, 𝑤 = ± −𝜆} constituídos
por pontos tipo dobra e que colidem em 𝜆 = 0, onde obtemos o plano {𝑦 = 0, 𝑤 = 0} constituído
por pontos de cúspide e para 𝜆 > 0 todos os pontos de Σ são regulares. Portanto, ocorre de fato
uma bifurcação em 𝜆 = 0.

• Para 𝐽2

𝑋𝐹𝜆 = 𝐽2 ∇𝐹𝜆 = (1, −𝑥, 𝑤2 + 𝜆, −𝑧).


Assim, 𝑋𝐹𝜆 𝑓 = −𝑥 e 𝑋𝐹2𝜆 𝑓 = −1. Neste caso, qualquer que seja 𝜆 temos um único plano
{𝑥 = 𝑦 = 0} constituído por pontos tipo dobra. Logo, concluímos que o campo dado pela matriz
simplética 𝐽2 tem como função hamiltoniana a função 𝐹𝜆 , porém, o campo 𝑋𝐹𝜆 é estável.

45
• Para 𝐽3

𝑋𝐹𝜆 = 𝐽3 ∇𝐹𝜆 = (𝑤2 + 𝜆, −𝑧, 1, −𝑥).


Assim, 𝑋𝐹𝜆 𝑓 = −𝑧 e 𝑋𝐹2𝜆 𝑓 = −1. Analogamente ao caso anterior, para qualquer que seja 𝜆 temos
um único plano {𝑧 = 𝑦 = 0} constituído por pontos tipo dobra.

4.3.1 Tangência Cuspidal


Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 e 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H
*
a função hamiltoniana associada a 𝑍. Suponha-
mos que a origem (0, 0) ∈ Σ é um ponto tipo cúspide-cúspide para 𝑍, isto é,

{𝑓, 𝐹 }(0, 0) = {{𝑓, 𝐹 }, 𝐹 }(0, 0) = 0 e {{{𝑓, 𝐹 }, 𝐹 }, 𝐹 }(0, 0) ̸= 0

{𝑓, 𝐺}(0, 0) = {{𝑓, 𝐺}, 𝐺}(0, 0) = 0 e {{{𝑓, 𝐺}, 𝐺}, 𝐺}(0, 0) ̸= 0.


Segue da tabela 3.1 que uma forma normal para o desdobramento de 𝐻 é dada por

𝑐𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆𝑥 se 𝑦 > 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = , (4.3.1)
𝑏𝑦 + 𝑎𝑥3 + 𝜆𝑥 se 𝑦 < 0

onde 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}. O campo de vetores associado a 𝐻𝜆 é:

(𝑐, −3𝑎𝑥2 − 𝜆) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) = . (4.3.2)
(𝑏, −3𝑎𝑥2 − 𝜆) se 𝑦 < 0

Descreveremos aqui dois casos, as demais possibilidades são análogas

• 𝑎 = 𝑏 = 𝑐 = 1.

Temos que 𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 + 𝑥3 + 𝜆𝑥 = 𝐺𝜆 (𝑥, 𝑦). além disso, temos:

{𝑓, 𝐹𝜆 }(𝑥, 𝑦) = −3𝑥2 − 𝜆.


√︁ √︁ √︁
Assim, {𝑓, 𝐹𝜆 }(𝑥, 𝑦) = 0 se, somente se, 𝑥 = ± − 𝜆3 . Logo, 𝑝1 = ( − 𝜆3 , 0) e 𝑝2 = (− − 𝜆3 , 0) são
dois pontos de tangência do campo 𝑋𝐹𝜆 caso 𝜆 < 0. E mais, como
√︃ √︃
𝜆 𝜆
{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑝1 ) = −6 − e {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑝2 ) = 6 − ,
3 3
concluímos daqui que:

• Se 𝜆 < 0, então existem dois pontos de dobra para o campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 , a saber, 𝑝1 e 𝑝2 .
As dobras são visível e invisível respectivamente, e colidem em 𝜆 = 0 onde temos um ponto
de cúspide na origem.

• Se 𝜆 > 0 então as dobras desaperecem e todos os pontos 𝑝 ∈ Σ são pontos regulares de 𝑋𝐹𝜆 .

46
De maneira análoga, como 𝐺𝜆 = 𝐹𝜆 , obtemos os mesmos resultados para o campo 𝑋𝐺𝜆 . Porém,
neste caso, 𝑝1 e 𝑝2 são dobras invisível e visível de 𝑋𝐺𝜆 respectivamente. Veja figura 4.4.

• 𝑎 = 𝑐 = 1 e 𝑏 = −1.

Note que neste caso vale a seguinte igualdade

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝐺𝜆 (𝑥, −𝑦),

ou seja, a função 𝐻𝜆 = (𝐹𝜆 , 𝐺𝜆 ) é simétrica com relação ao eixo dos 𝑥, ou melhor, 𝐻𝜆 é simétrica
com relação à descontinuidade Σ. Portanto, precisamos apenas estudar a função 𝐹𝜆 , a qual descreve
o comportamento do campo 𝑋𝐹𝜆 , e tal estudo acabamos de ver no caso anterior. Assim, obtemos
todo comportamento local de 𝑍𝐻𝜆 mediante reflexão por Σ e invertendo a orientação das trajetórias.
Veja figura 4.5. Observe que neste caso temos uma família de órbitas fechadas na vizinhança do
ponto 𝑝2 . Este fato é facilmente verificado devido à simetria aqui existente, contudo, também pode
ser notado utilizando o corolário 2.

𝜆<0 𝜆=0 𝜆>0


Figura 4.4: Cúspide-cúspide com 𝑎 = 𝑏 = 𝑐 = 1.

𝜆<0 𝜆=0 𝜆>0


Figura 4.5: Cúspide-cúspide com 𝑎 = 𝑐 = 1 e 𝑏 = −1.

Desta forma podemos enunciar a seguinte proposição:

Proposição 8. Seja 𝑍𝐻 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓𝐻𝑎𝑚 o campo de vetores associado à função 𝐻 e (0, 0) um


ponto de cúspide-cúspide para o campo 𝑍𝐻 . Então, o desdobramento versal de 𝑍𝐻 é 𝒞 0 -equivalente
ao desdobramento do campo 𝑍˜ dado por:

(𝑐, −3𝑎𝑥2 − 𝜆) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍˜𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
(𝑏, −3𝑎𝑥2 − 𝜆) se 𝑦 < 0

com 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}.

47
4.3.2 Ponto de equilíbrio não degenerado - Dobra
Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 e 𝐻 = (𝐹, 𝐺) ∈ H
*
sua função hamiltoniana. Suponhamos que
a origem (0, 0) ∈ Σ é um ponto equilíbrio de 𝑋𝐹 não degenerado. Sabemos que (0, 0) deve ser
também uma singularidade de 𝑌 e a fim de apresentarmos aqui sistemas de 𝑐𝑜𝑑1, vamos supor que
(0, 0) é uma singularidade genérica, isto é, (0, 0) é um ponto de dobra para 𝑌 . Em qualquer outra
situação temos que a codimensão é maior que 1.
Um ponto de equilíbrio não degenerado de um campo Hamiltoniano 𝑋𝐹 é dado pelos pontos
críticos de 𝐹 tal que a matriz hessiana tem autovalores não nulos, ou seja, temos que a origem
(0, 0) é um ponto de Centro ou um ponto de Sela para o campo 𝑋𝐹 . Logo, temos dois casos para
estudar: Sela-Dobra e Centro-Dobra.

1 Sela-Dobra

Neste caso, é importante impormos condições genéricas sobre as separatrizes de sela. Vamos
supor que ambas separatrizes de sela são transversais à descontinuidade. Segue da Tabela 3.1 que
a forma normal para o desdobramento de 𝑍 é dada por:

(2𝑏𝑦 + 𝜆, −2𝑎𝑥) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
(𝑐, −2𝑎𝑥) se 𝑦 < 0

onde 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1} e 𝑠𝑔𝑛(𝑎) ̸= 𝑠𝑔𝑛(𝑏). E a função hamiltoniana associada a 𝑍𝜆 é

𝑏𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = .
𝑐𝑦 + 𝑎𝑥2 se 𝑦 < 0

Como ∇𝐹𝜆 = (2𝑥𝑎, 2𝑏𝑦 + 𝜆) temos

𝜆
∇𝐹𝜆 = 0 ⇔ 𝑥 = 0 e 𝑦 = − .
2𝑏
Além disso,
{𝑓, 𝐹𝜆 } = {𝑓, 𝐺𝜆 } = −2𝑎𝑥, (4.3.3)

{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 } = −4𝑎𝑏𝑦 − 2𝑎𝜆 e {{𝑓, 𝐺𝜆 }, 𝐺𝜆 } = −2𝑎𝑐. (4.3.4)


Suponhamos

• a=c=1, b=-1.

Se 𝜆 < 0 então, 𝑋𝐹𝜆 tem um ponto de equilíbrio tipo sela não admissível em 𝑝𝜆 = (0, 𝜆2 ) e uma
dobra visível na origem. A origem (0, 0) é também um ponto de dobra visível para o campo 𝑌𝐺𝜆 .
Temos que o ponto equilíbrio colide com Σ em 𝑝0 = (0, 0) quando 𝜆 = 0, onde temos a sela-dobra
visível. Por outro lado, se 𝜆 > 0, obtemos em 𝑝𝜆 um ponto equilíbrio admissível e a origem agora
é uma dobra invisível para o campo 𝑋𝐹𝜆 e visível para 𝑌𝐺𝜆 . (Veja figura 4.6);
Suponhamos agora

48
𝜆<0 𝜆=0 𝜆>0

Figura 4.6: bifurcação Sela-Dobra visível.

• a=-1, b=c=1

Neste caso temos que se 𝜆 < 0 então, 𝑋𝐹𝜆 tem um ponto equilíbrio tipo sela admissível em
𝑝𝜆 = (0, − 𝜆2 ) e uma dobra invisível na origem (0, 0). Das equações (4.3.3) e (4.3.4) temos que (0, 0)
é ponto de dobra invisível para o campo de vetores 𝑌𝐺𝜆 .
Note que as separatrizes do campo 𝑋𝐹𝜆 são dadas por
(︃ )︃ (︃ )︃2
𝜆2 𝜆
𝐹𝜆−1 − = {(𝑥, 𝑦) ∈ R ; 𝑦 +
2
− 𝑥2 = 0},
4 2
(︁ 2
)︁
isto é, 𝐹𝜆−1 − 𝜆4 = 𝑟1 ∪ 𝑟2 onde 𝑟1 e 𝑟2 são as retas

𝜆 𝜆
𝑦 =𝑥− e 𝑦 = −𝑥 − ,
2 2
respectivamente. E mais,
(︃ )︃ (︃ )︃
𝜆 𝜆
𝑟1 ∩ Σ = , 0 = 𝑝1 e 𝑟2 ∩ Σ = − , 0 = 𝑝2 .
2 2

Agora, como (0, 0) é um ponto de dobra-dobra invisível temos uma aplicação de Poincaré definida
em Σ ∩ 𝐵[0, 𝜆2 ], onde 𝐵[0, 𝜆2 ] é uma bola fechada de centro (0, 0) e raio 𝜆2 . Segue do corolário
2, (teorema 4.1.1), que existe uma órbita homoclínica Γ para o campo 𝑍𝜆 . Além disso, todas as
órbitas limitadas por Γ são fechadas. (Veja figura 4.7).
Novamente, o ponto de equilíbrio colide com Σ em (0, 0), onde temos um ponto tipo sela-dobra
invisível. E para 𝜆 > 0, 𝑋𝐹𝜆 tem um ponto de equilíbrio não adimissível em 𝑝𝜆 . Das equações
(4.3.3) e (4.3.4) temos que (0, 0) é uma dobra visível para o campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 e invisível para
𝑌𝐺𝜆 .
Todas as outras possibilidades são análogas às apresentadas.

2 Centro-Dobra

Assim como no caso anterior, vamos considerar os casos dobra invisível e visível. Diferentemente
do caso sela-dobra, a única condição exigida aqui é que o ponto equilíbrio tipo centro do campo
vetorial 𝑋𝐹 seja não degenerado. Contudo, a bifurcação do ponto centro-dobra para o campo 𝑍𝐻

49
𝜆<0 𝜆=0 𝜆>0

Figura 4.7: bifurcação Sela-Dobra invisível.

também ocorre quando deslocamos o ponto equilíbrio para o interior de Σ+ ou Σ− . Segue da tabela
3.1 que a forma normal para este caso é:

(2𝑏𝑦 + 𝜆, −2𝑎𝑥) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
(𝑐, −2𝑎𝑥) se 𝑦 < 0

onde 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1} e 𝑠𝑔𝑛(𝑎) = 𝑠𝑔𝑛(𝑏). E a função hamiltoniana associada a 𝑍𝜆 é

𝑏𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = .
𝑐𝑦 + 𝑎𝑥2 se 𝑦 < 0

Suponhamos 𝑎 = 𝑏 = 1. Assim temos

∇𝐹𝜆 = (2𝑥, 2𝑦 + 𝜆)

{𝑓, 𝐹𝜆 } = −2𝑥 e {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹 } = −4𝑦 − 2𝜆


Logo, 𝑝𝜆 = (0, − 𝜆2 ) é um ponto de equilíbrio tipo centro do campo 𝑋𝐹𝜆 e (0, 0) é um ponto tipo
dobra.
Se 𝜆 < 0 então, o ponto de equilíbrio 𝑝𝜆 é admissível e (0, 0) é uma dobra visível. O ponto de
equilíbrio colide com Σ em
(0, 0) = 𝑝0 = lim 𝑝𝜆 .
𝜆→0

E se 𝜆 > 0, o ponto de equilíbrio 𝑝𝜆 é não admissível e (0, 0) é uma dobra invisível do campo
vetorial 𝑋𝐹 .
Sendo assim, se 𝑌𝐺 tem um ponto tipo dobra visível na origem, o campo 𝑍 se bifurca como na
figura 4.8

𝜆<0 𝜆=0 𝜆>0


Figura 4.8: bifurcação Centro-Dobra visível.

50
Por outro lado, se a origem é um ponto tipo dobra invisível para o campo vetorial 𝑌𝐺 então,
temos uma aplicação de Poincaré 𝜙 bem definida na vizinhança de (0, 0) para todo 𝜆 ̸= 0. De fato,
se 𝜆 ≥ 0, a boa definição de 𝜙 se deve ao fato da origem (0, 0) ser um ponto tipo dobra-dobra do
campo vetorial 𝑍 = 𝑍𝐻𝜆 . Por outro lado, se 𝜆 < 0, podemos tomar 𝛿 > 0 suficientemente pequeno
tal que, se −𝛿 < 𝜆 < 0, existe um arco de trajetória 𝛾 de uma órbita fechada do campo 𝑋𝐹𝜆 que
intercepta Σ em dois pontos com sinais opostos como mostra a figura 4.9.

Figura 4.9: Curva 𝛾.

A aplicação de Poincaré segue agora por continuidade e do fato que (0, 0) é um ponto tipo
dobra invisível para o campo vetorial 𝑌𝐺 .
Segue agora do corolário 2 que para todo 𝜆 as trajetórias de 𝑍𝐻 são órbitas fechadas. (Veja
figura 4.10).

𝜆<0 𝜆=0 𝜆>0


Figura 4.10: bifurcação Centro-Dobra invisível.

Podemos classificar os comportamentos apresentados nesta seção pela proposição


Proposição 9. Seja 𝑍𝐻 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓 𝐻𝑎𝑚 o campo de vetores associado à função 𝐻 tal que a
origem (0, 0) é uma singularidade do campo 𝑍𝐻 do tipo ponto equilíbrio não degenerado-dobra.
Então, o desdobramento de 𝑍𝐻 é 𝒞 0 -equivalente ao desdobramento do campo 𝑍˜ dado por:
(2𝑏𝑦 + 𝜆, −2𝑎𝑥) se 𝑦 > 0
{︃
𝑍˜𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
(𝑐, −2𝑎𝑥) se 𝑦 < 0
com 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}.

4.4 Bifurcações a 2-parâmetros


Nesta seção, estudaremos famílias genéricas a 2-parâmetros. Para obter singularidades de 𝑐𝑜𝑑
2, devemos considerar as singularidades genéricas de 𝑐𝑜𝑑 1 apresentadas na seção anterior 4.3 e

51
violar (quebrar) algumas das condições genéricas que as definem. Vamos listar as situações que
examinaremos abaixo:

• Ambos campos vetoriais possuem uma tangência de ordem 4 em 𝑝 = (0, 0).

• A origem é um ponto de equilíbrio degenerado (𝑐𝑜𝑑1) para um dos campos de vetores e um


ponto tipo dobra para o outro.

• A origem é um ponto de equilíbrio não degenerado para ambos os campos de vetores.

4.4.1 Tangência de ordem 4


Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓𝐻𝑎𝑚 (R , 𝑓 ) e 𝐻 = (𝐹, 𝐺) sua função hamiltoniana. Suponhamos que a
2

origem é um ponto de tangência de ordem 4 para os campos vetoriais 𝑋 e 𝑌 . Sendo par, o contato
dos campos vetoriais 𝑋 e 𝑌 , temos que estes podem ser visíveis ou invisíveis. Logo temos quatro
casos a analisar 𝑉 𝐼, 𝐼𝑉 , 𝑉 𝑉 e 𝐼𝐼, onde 𝑉 = visível e 𝐼 = invisível.
Da tabela 3.1 temos que as formas normais de 𝑍 e 𝐻 são dadas respectivamente por:

(𝑏, −4𝑎𝑥3 − 2𝜆1 𝑥 − 𝜆2 ) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
(𝑐, −4𝑎𝑥3 − 2𝜆1 𝑥 − 𝜆2 ) se 𝑦 < 0

𝑏𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
𝑐𝑦 + 𝑎𝑥4 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥 se 𝑦 < 0
onde 𝜆 = (𝜆1 , 𝜆2 ) e 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}.
Os quatro casos citados acima são dados por 𝑍𝜆 (ou 𝐻𝜆 ) de acordo com o sinal de 𝑎, 𝑏 e 𝑐.
Assim, a menos de orientação, consideremos que:

• VI é dado tomando 𝑎 = 1, 𝑏 = 𝑐 = −1;

• IV é dado tomando 𝑎 = 𝑏 = 𝑐 = 1;

• VV é dado tomando 𝑎 = 1 = 𝑐, 𝑏 = −1;

• II é dado tomando 𝑎 = 1 = 𝑏, 𝑐 = −1.

Nos casos VI e IV temos 𝐹𝜆 = 𝐺𝜆 . Em II temos que 𝐻𝜆 = (𝐹𝜆 , 𝐺𝜆 ), onde 𝐹𝜆 (𝑥, −𝑦) =


𝐺𝜆 (𝑥, 𝑦), ou seja, 𝐻𝜆 é simétrica com relação ao eixo 𝑥, consequentemente à descontinuidade
Σ. Analogamente, no caso VV também temos uma simetria com relação à descontinuidade Σ.
Entretanto, podemos obter o comportamento do caso VV a partir do II. De fato, note que, em
𝜆 = 0 temos que os casos VV e II são dados respectivamente por:

−𝑦 + 𝑥4 se 𝑦 ≥ 0 𝑦 + 𝑥4 se 𝑦 ≥ 0
{︃ {︃
¯
𝐻(𝑥, 𝑦) = e 𝐻(𝑥, 𝑦) = .
𝑦 + 𝑥4 se 𝑦 < 0 −𝑦 + 𝑥 se 𝑦 < 0
4

¯
E temos que 𝐻(𝑥, 𝑦) = 𝐻(𝑥, −𝑦).

52
Portanto, para descrevermos os comportamentos de VI, IV, VV e II, basta estudarmos o campo
de vetores
1
(︃ )︃
(𝑋𝐹 )𝜆 = ,
−4𝑥3 − 2𝜆1 𝑥 − 𝜆2
associado à função
𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 + 𝑥4 + 𝜆1 𝑥2 + 𝜆2 𝑥,
definida para todo 𝑦 ≥ 0.
Desta forma, consideremos a função 𝐹𝜆 dada acima e as seguintes equações que nos auxiliarão
no que segue:
{𝑓, 𝐹𝜆 } = −4𝑥3 − 2𝜆1 𝑥 − 𝜆2 . (4.4.1)
Claramente, a existência de pontos de tangências dependem dos valores de 𝜆1 e 𝜆2 . Entretanto,
como o grau do polinômio acima é 3 sempre temos pelo menos um ponto de tangência.
𝜆1
{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 } = −12𝑥2 − 2𝜆1 e {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 } = 0 ⇔ 𝑥2 = − , (4.4.2)
6

{{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 } = −24𝑥. (4.4.3)


Caso 1: 𝜆1 = 0 e 𝜆2 ̸= 0
Da equação (4.4.1) temos
√︃
𝜆2
{𝑓, 𝐹𝜆 }(𝑥, 0) = 0 ⇔ 𝑥 =
3
− ,
4
e da equação (4.4.2) temos
⎛ √︃ ⎞
𝜆2 ⎠
{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑝𝜆2 ) < 0, onde 𝑝𝜆2 = ⎝ − ,0 ,
3

ou seja, temos um ponto tipo dobra invisível 𝑝𝜆2 para todo 𝜆2 ̸= 0.


Caso 2: 𝜆1 ̸= 0 e 𝜆2 = 0
De (4.4.1) temos que

{𝑓, 𝐹𝜆 }(𝑥, 0) = 0 ⇔ 4𝑥3 + 2𝜆1 𝑥 = 0


√︃ √︃
𝜆1 𝜆1
⇔ 𝑥 = 0, 𝑥 = − − ou 𝑥 = − .
2 2
√︁ √︁
Seja 𝑞1 = (0, 0), 𝑞2 = (− − 𝜆21 , 0) e 𝑞3 = ( − 𝜆21 , 0).
Se 𝜆1 < 0 segue de (4.4.2) que

{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑞1 ) > 0, {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑞2 ) < 0 {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑞3 ) < 0.

Logo, 𝑞1 , 𝑞2 e 𝑞3 são pontos tipo dobra visível, invisível e invisível respectivamente. (Veja figura
4.11)

53
𝑞2 𝑞1 𝑞3

Figura 4.11: Surgimento de 3 pontos de dobra.

Por outro lado, se 𝜆1 > 0 então apenas 𝑞1 = (0, 0) está definida e 𝑞1 é ponto de dobra invisível.
Caso 3: 𝜆1 , 𝜆2 ̸= 0
Da equação (4.4.1) temos que os pontos de tangência são dados pelas soluções de:
4𝑥3 + 2𝜆1 𝑥 + 𝜆2 = 0. (4.4.4)
As soluções desta equação são definidas por:
(︂ )︂ 2
3
√︁
−27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22 − 6𝜆1
𝑅1 = (︂ )︂ 1 ;
3
√︁
6 −27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22

(︂ )︂ 2 √ (︂
[︃ )︂ 2 ]︃
3 3
√︁ √︁
− −27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22 + 6𝜆1 + 𝑖 3 −27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22 + 6𝜆1
𝑅2 = (︂ )︂ 1 ;
3
√︁
12 −27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22

(︂ )︂ 2 √ (︂
[︃ )︂ 2 ]︃
3 3
√︁ √︁
− −27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22 + 6𝜆1 − 𝑖 3 −27𝜆2 + 3 24𝜆1 + 81𝜆2 + 6𝜆1
3 2

𝑅3 = (︂ )︂ 1 .
3
√︁
12 −27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22

Como estamos interessados apenas nas soluções reais, temos


• Se 𝜆1 > 0, existe apenas uma solução real da equação 4.4.4 dada por 𝑅1 .
Vamos agora verificar o sinal de 𝑅1 e qual o tipo de tangência determinada por 𝑅1 . Por simples
substituição temos que se 𝜆2 = 0, então, 𝑅1 = 0 (este é o caso 2 estudado acima). Afirmamos que,
para qualquer 𝜆1 > 0, a função 𝑅1 = 𝑅1 (𝜆1 , 𝜆2 ) é decrescente em 𝜆2 . De fato
(︂ )︂ 2
3
√︁
𝑑 −27𝜆2 + 3 + + 6𝜆1 24𝜆31 81𝜆22
𝑅1 (𝜆1 , 𝜆2 ) = − √︁ )︂ 1 ,
𝑑𝜆2 (︂ √︁ 3
2 24𝜆1 + 81𝜆2 −27𝜆2 + 3 24𝜆1 + 81𝜆2
3 2 3 2

54
√︁
como 𝜆1 > 0 e 24𝜆31 + 81𝜆22 > 9𝜆2 obtemos
𝑑
𝑅1 (𝜆1 , 𝜆2 ) < 0.
𝑑𝜆2
Logo, 𝑅1 < 0 para 𝜆2 > 0 e 𝑅1 > 0 para 𝜆2 < 0. Além disso, obtemos da equação (4.4.2) que
{{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(𝑝) < 0 onde 𝑝 = (𝑅1 , 0). Isto é, 𝑝 = (𝑅1 , 0) é ponto tipo dobra invisível para o
campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 .
• Se 𝜆1 < 0, temos três subcasos a analisar:
1. 8𝜆31 + 27𝜆22 > 0 ⇒ existe apenas uma solução real dada por 𝑅1 .

2. 8𝜆31 + 27𝜆22 = 0 ⇒ existem duas soluções reais dadas por 𝑅1 e 𝑅2 = 𝑅3 .

3. 8𝜆31 + 27𝜆22 < 0 ⇒ As três soluções 𝑅1 𝑅2 e 𝑅3 são reais.


Suponhamos então que:
1. 8𝜆31 + 27𝜆22 > 0
Como 𝜆1 < 0 temos que o numerador de 𝑅1 é sempre positivo, segue que, se 𝜆2 < 0 então
𝑅1 > 0 e se 𝜆2 > 0, então 𝑅1 < 0. Além disso, segue da equação 4.4.2 que 𝑝 = (𝑅1 , 0) é um ponto
tipo dobra invisível. Logo, este caso é equivalente ao caso 𝜆1 > 0.
2. 8𝜆31 + 27𝜆22 = 0
Neste caso, conseguimos da igualdade 8𝜆31 + 27𝜆22 = 0 que
(︂ √︁ )︂ 2
3
−27𝜆2 + 3 24𝜆31 + 81𝜆22 + 6𝜆1 = 0.

Assim temos 𝑅2 = 𝑅3 . Logo, os pontos de tangências neste caso são dados por 𝑝 = (𝑅1 , 0) e
𝑞 = (𝑅2 , 0) onde
2
3(−𝜆2 ) 3 − 2𝜆1 𝑅1
𝑅1 = e 𝑅2 = − .
1
6(−𝜆2 ) 3 2
(︁ )︁ 3
Usando novamente que 8𝜆31 + 27𝜆22 = 0 e 𝜆1 < 0 temos que 𝜆2 = ± − 2𝜆3 1 2
, assim:
√ √ √ √
• Se 𝜆2 > 0, então 𝑅1 = − 36 −𝜆1 e 𝑅2 = 66 −𝜆1 .
√ √ √ √
• Se 𝜆2 < 0, então 𝑅1 = 36 −𝜆1 e 𝑅2 = − 66 −𝜆1 .
Além disso, como
2𝜆1 𝜆1
(𝑅1 )2 = − e (𝑅2 )2 = − ,
3 6
segue da equação 4.4.2 e 4.4.3 que 𝑅1 é um ponto tipo dobra invisível e 𝑅2 é um ponto tipo cúspide.
(Veja figura 4.12).

55
𝑝 𝑞 𝑞 𝑝
𝜆2 < 0 𝜆2 > 0
Figura 4.12: surgimento de um ponto de cúspide para contato de ordem 4.

3. 8𝜆31 + 27𝜆22 < 0


Neste caso, temos três pontos de tangências dados por 𝑝1 = (𝑅1 , 0) 𝑝2 = (𝑅2 , 0) e 𝑝3 = (𝑅3 , 0).
Além disso, segue por substituição direta na equação (4.4.2) que todos são pontos tipo dobra,
sendo duas dobras invisíveis e uma visível. A dinâmica aqui é similar à do caso 2. (Veja figura
4.11)
Estamos aptos agora, a descrever o diagrama de bifurcação do campo descontínuo 𝑍𝜆 nos casos
𝑉 𝐼, 𝐼𝑉 , 𝑉 𝑉 e 𝐼𝐼. O caso 𝐼𝐼 segue do que acabamos de discutir e do fato que 𝐹𝜆 (𝑥, −𝑦) =
𝐺𝜆 (𝑥, −𝑦). O diagrama deste caso é apresentado na figura 4.13
𝜆2

𝜆1

Figura 4.13: Bifurcação tangência de ordem 4 caso 𝐼𝐼.

Para os demais casos devemos analisar as curvas de níveis de 𝐹𝜆 que passam pelos pontos 𝑝2 e
𝑝3 . De fato, sabemos que 𝑝2 e 𝑝3 são funções que dependem de 𝜆 = (𝜆1 , 𝜆2 ). Suponhamos 𝑘 e 𝑘¯ os
níveis de 𝐹𝜆 por 𝑝2 e 𝑝3 respectivamente, ou seja,
¯ 1 , 𝜆2 ).
𝐹𝜆 (𝑝2 ) = 𝑘(𝜆1 , 𝜆2 ) e 𝐹𝜆 (𝑝3 ) = 𝑘(𝜆
¯ 1 , 𝜆2 ).
Segue daqui que 𝑝2 e 𝑝3 estão no mesmo nível de 𝐹𝜆 se, e somente se, 𝑘(𝜆1 , 𝜆2 ) = 𝑘(𝜆
Entretanto, temos que
¯ 1 , 𝜆2 ) ⇔ 𝜆2 = 0
𝑘(𝜆1 , 𝜆2 ) = 𝑘(𝜆 ou 8𝜆31 + 27𝜆22 = 0.

56
Desta forma na região dada por 8𝜆31 + 27𝜆22 < 0, 𝜆1 < 0 e 𝜆2 ̸= 0 temos que os pontos 𝑝2 e 𝑝3
não pertencem ao mesmo nível de 𝐹𝜆 .
Concluímos agora, da discussão do início desta seção, que o diagrama de bifurcação dos casos
𝐼𝑉 e 𝑉 𝑉 são dados nas figuras 4.14 e 4.15 respectivamente.
𝜆2 O caso 𝑉 𝐼 é similar ao 𝐼𝑉 .

𝜆1

Figura 4.14: Bifurcação tangência de ordem 4 caso 𝑉 𝐼.

𝜆2

𝜆1

Figura 4.15: Bifurcação tangência de ordem 4 caso 𝑉 𝑉 .

57
4.4.2 Ponto equilíbrio Cuspidal
Seja 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓
𝐻𝑎𝑚 (R , 𝑓 ) e 𝐻 = (𝐹, 𝐺) sua função hamiltoniana. Vamos considerar aqui
2

um campo de vetores 𝑍 tal que a origem é um ponto equilíbrio de codimensão 1 para o campo
vetorial 𝑋, a saber, 𝑋 tem um ponto equilíbrio cuspidal. A fim de que o campo vetorial 𝑋 restrito
a R̄2+ = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 ; 𝑦 ≥ 0} tenha codimensão 2, devemos impor a condição que 𝐹 −1 (0) seja
transversal à descontinuidade Σ onde, 𝐹 é a função hamiltoniana de 𝑋.
Além disso, a origem é um ponto tipo dobra para o campo vetorial 𝑌 . Assim, segue da tabela
3.1 que
(3𝑏𝑦 2 + 2𝜆1 𝑦 + 𝜆2 , −2𝑎𝑥) se 𝑦 > 0
{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) =
(𝑐, −2𝑎𝑥) se 𝑦 < 0

𝑏𝑦 3 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
𝑐𝑦 + 𝑎𝑥2 se 𝑦 < 0
onde 𝜆 = (𝜆1 , 𝜆2 ) e 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}.
Para reforçarmos as notações utilizadas, costumamos denotar um campo vetorial 𝑍𝜆 = (𝑋𝜆 , 𝑌𝜆 )
por 𝑍𝐻𝜆 = (𝑋𝐹𝜆 , 𝑋𝐺𝜆 ) a fim de deixar claro quais são as funções associadas aos campos de vetores
𝑋𝜆 , 𝑌𝜆 e 𝑍𝜆 respectivamente.
Vamos agora descrever a dinâmica do campo vetorial 𝑍𝜆 . Primeiramente, note que, dependendo
dos valores de 𝑎 e 𝑏 temos comportamentos distintos em torno da origem. E a menos de orientação,
o espaço de fase local do campo de vetores 𝑍0 é dado por um dos casos exibidos na figura 4.16.

𝑖 : 𝑏 = 𝑐 ̸= 𝑎 𝑖𝑖 : 𝑎 = 𝑐 ̸= 𝑏 𝑖𝑖𝑖 : 𝑎 = 𝑏 ̸= 𝑐 𝑖𝑣 : 𝑎 = 𝑏 = 𝑐
Figura 4.16: Tipos de pontos equilíbrio cuspidal em Σ.

Nos casos (𝑖) e (𝑖𝑖) da figura 4.16 dizemos que a curva 𝐹 −1 (0) é admissível enquanto que nos
casos (𝑖𝑖𝑖) e (𝑖𝑣) é não admissível. Daremos aqui os detalhes do caso em que 𝐹 −1 (0) é admissível.
Logo, consideremos sem perda de generalidade que 𝑎 = −1 e 𝑏 = 1. Desta forma temos:

(3𝑦 2 + 2𝜆1 𝑦 + 𝜆2 , 2𝑥) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) = ,
(𝑐, 2𝑥) se 𝑦 < 0

𝑦 3 − 𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) = .
𝑐𝑦 − 𝑥2 se 𝑦 < 0
Além disso temos que ∇𝐹𝜆 = (−2𝑥, 3𝑦 2 + 2𝜆1 𝑦 + 𝜆2 ), assim os pontos de equilíbrio de 𝑋𝐹𝜆 ,
caso existam, são dados por: 𝑝𝜆 = (0, 𝑦𝜆+ ) e 𝑞𝜆 = (0, 𝑦𝜆− ) onde
√︁
−2𝜆1 ± 4𝜆21 − 12𝜆2
𝑦𝜆± = . (4.4.5)
6

58
E mais, o tipo do ponto de equilíbrio é dado pelo sinal do determinante da matriz

0 6𝑦 + 2𝜆1
(︃ )︃
𝐷𝑋𝐹𝜆 = . (4.4.6)
2 0

isto é, se 𝑢 é ponto de equilíbrio de 𝑋𝐹𝜆 então 𝑑𝑒𝑡 (𝐷𝑋𝐹𝜆 ( 𝑢)) > 0 implica que 𝑢 é equilíbrio tipo
centro e se 𝑑𝑒𝑡 (𝐷𝑋𝐹𝜆 ( 𝑢)) < 0 implica que 𝑢 é equilíbrio tipo Sela.
Temos também de {𝑓, 𝐹𝜆 } = 2𝑥 e {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 } = 2𝜆2 que a origem (0, 0) ∈ Σ é um ponto de
dobra sempre que 𝜆2 ̸= 0. Vamos analisar esses pontos em cada região do plano (𝜆1 , 𝜆2 ).

• 𝜆1 = 0 e 𝜆2 ̸= 0

Se 𝜆2 < 0 segue das equações 4.4.5 e 4.4.6 que o campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 tem dois pontos de equilíbrio
dados por (︃ √ )︃ (︃ √ )︃
−3𝜆2 − −3𝜆2
𝑝𝜆 = 0, e 𝑞𝜆 = 0, ,
3 3
onde 𝑝𝜆 é um ponto tipo Sela e 𝑞𝜆 é tipo centro. Além disso, temos que 𝑝𝜆 é admissível e 𝑞𝜆 é não
admissível. (Veja figura 4.17). E a origem (0, 0) é um ponto tipo dobra invisível.

𝑝𝜆

𝑞𝜆

Figura 4.17: Sela admissível e centro não admissível.

Agora se 𝜆2 > 0 então os pontos de equilíbrio do campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 desaparecem, contudo
temos uma dobra visível na origem (0, 0).

• 𝜆1 ̸= 0 e 𝜆2 = 0

Neste caso, se 𝜆1 < 0 temos dois pontos equilíbrios do campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 dados por
(︃ )︃
−2𝜆1
𝑝𝜆 = 0, e 𝑞𝜆 = (0, 0)
3

59
𝑝𝜆

Σ
0

Figura 4.18: Sela admissível e centro em Σ.

e da equação 4.4.6 temos que 𝑝𝜆 é um ponto equilíbrio admissível tipo Sela e 𝑞𝜆 ∈ Σ é topo centro.
(veja figura 4.18).
Por outro lado se 𝜆1 > 0 temos também das equações 4.4.5 e 4.4.6 que 𝑝𝜆 é um ponto equilíbrio
tipo centro de 𝑋𝐹𝜆 porém é não admissível e 𝑞𝜆 ∈ Σ neste caso é ponto tipo centro. (Veja figura
4.19).

0 Σ

𝑝𝜆

Figura 4.19: Sela em Σ e centro não admissível.

• 𝜆1 , 𝜆2 ̸= 0
Segue da equação 4.4.5 três subcasos para ser analisado:
𝜆21 − 3𝜆2 = 0 𝜆21 − 3𝜆2 > 0 e 𝜆21 − 3𝜆2 < 0
• 𝜆21 − 3𝜆2 = 0
Neste caso temos que (︃ )︃
𝜆1
∇𝐹𝜆 (𝑝) = 0 ⇔ 𝑝 = 0, − ,
3

60
além disso, 𝑑𝑒𝑡𝐷𝑋𝐹𝜆 (𝑝) = 0, ou seja, 𝑝 é um ponto de equilíbrio degenerado. Agora substituindo
𝜆2
𝜆2 = 31 em 𝐹𝜆 = 𝑦 3 − 𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦 podemos reescrever 𝐹𝜆 da seguinte forma:
(︃ )︃3
𝜆1 𝜆31
𝐹𝜆1 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 + − 𝑥2 − . (4.4.7)
3 27
𝜆2
Segue da equação 4.4.7 que ao longo da curva 𝜆2 = 31 deslocamos o ponto de equilíbrio cuspidal
para fora da descontinuidade Σ. De fato, temos que se 𝜆1 < 0 então o ponto de equilíbrio
𝑝 = (0, − 𝜆31 ) é admissível. Se 𝜆1 > 0, 𝑝 = (0, − 𝜆31 ) é não admissível. Além disso, 𝑋𝐹𝜆 tem
um ponto tipo dobra visível na origem (0, 0) ao longo de toda a curva 𝜆21 − 3𝜆2 = 0. (Veja figura
4.20).

Σ
𝜆1 < 0 𝜆1 > 0
Figura 4.20: Equilíbrio degenerado admissível e não admissível.

• 𝜆21 − 3𝜆2 > 0

Neste caso, temos que 𝑋𝐹𝜆 tem dois pontos equilíbrio dados por:

𝑝𝜆 = (0, 𝑦𝜆+ ) e 𝑞𝜆 = (0, 𝑦𝜆− ),

onde √︁
−𝜆1 ± 𝜆21 − 3𝜆2
𝑦𝜆± = .
3
Além disso, da equação 4.4.6 temos
√︁
𝑑𝑒𝑡𝐷𝑋𝐹𝜆 (𝑝𝜆 ) = −4 𝜆21 − 3𝜆2 < 0,
√︁
𝑑𝑒𝑡𝐷𝑋𝐹𝜆 (𝑞𝜆 ) = 4 𝜆21 − 3𝜆2 > 0,
logo, 𝑝𝜆 é ponto de equilíbrio tipo sela e 𝑞𝜆 é ponto de equilíbrio tipo centro.
Vamos dividir a região 𝜆21 − 3𝜆2 > 0 em quatro subregiões:
𝜆21
(i) 𝜆1 > 0 e 0 < 𝜆2 < 3

Neste caso temos que 𝑦𝜆+ , 𝑦𝜆− < 0 logo, 𝑝𝜆 e 𝑞𝜆 são não admissíveis. Contudo, temos que a origem
(0, 0) é ponto tipo dobra visível para o campo 𝑋𝐹𝜆 .

61
(ii) 𝜆1 > 0 e 𝜆2 < 0

Aqui 𝑦 + > 0 e 𝑦 − < 0, logo 𝑝𝜆 é ponto de equilíbrio admissível e 𝑞𝜆 é não admissíveis. Além
disso, como 𝜆2 < 0 e {{𝑓, 𝐹𝜆 }, 𝐹𝜆 }(0, 0) = 2𝜆2 temos que (0, 0) é um ponto tipo dobra invisível.
Concluímos daqui que este caso é equivalente ao caso (𝜆1 = 0 e 𝜆2 ̸= 0) para valores de 𝜆2 < 0.
(Veja figura 4.17).
𝜆21
(iii) 𝜆1 < 0 e 0 < 𝜆2 < 3

Sob estas condições temos que 𝑦 + , 𝑦 − > 0 e desta forma os pontos de equilíbrio 𝑝𝜆 e 𝑞𝜆 são
admissíveis e 𝜆2 > 0 nos garante que (0, 0) é um ponto tipo dobra visível.
Como 𝑝𝜆 e 𝑞𝜆 são admissíveis, precisamos analisar o comportamento das separatrizes do ponto
de equilíbrio tipo sela dado por 𝑝𝜆 .
Para isto lembremos que as separatrizes são dadas pela equação:

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝐹𝜆 (𝑝𝜆 ). (4.4.8)

Assim fazendo 𝑦 = 0 na equação (4.4.8) acima e tendo em mente que

𝐹𝜆 (𝑥, 𝑦) = 𝑦 3 − 𝑥2 + 𝜆1 𝑦 2 + 𝜆2 𝑦

obtemos os pontos onde as separatrizes de sela do ponto 𝑝𝜆 interceptam Σ. Note que a equação
(4.4.8) restrita a 𝑦 = 0 tem no máximo duas soluções dadas por:

1
√︂ √︁ √︁
𝑥± = ± −6𝜆1 + 6𝜆1 𝜆1 − 3𝜆2 − 18𝜆2 𝜆21 − 3𝜆2 + 27𝜆2 𝜆1 .
3 2 2
9
𝜆2 𝜆2
Como 𝜆1 < 0 então temos 𝑥± = 0 se, e somente se, 𝜆2 = 41 . Ou seja, se 𝜆2 = 41 então a curva
Γ = 𝐹𝜆−1 (𝐹𝜆 (𝑝𝜆 )) dada pela equação (4.4.8) intercepta Σ em um único ponto, a saber, na origem.
Além disso, como ∇𝐹𝜆 (0, 0) = (0, 𝜆2 ) temos que para 𝜆2 ̸= 0 a curva Γ é tangente a Σ em (0, 0),
pois caso contrário, necessariamente Γ tocaria Σ em dois pontos. (Veja figura 4.21).

𝑝𝜆

𝑞𝜆

Figura 4.21: Homoclinica tangente a Σ.

62
𝜆21 𝜆21
Suponhamos agora 4
< 𝜆2 < 3
e seja
√︁ √︁
𝑅(𝜆1 , 𝜆2 ) = −6𝜆31 + 6𝜆21 𝜆21 − 3𝜆2 − 18𝜆2 𝜆21 − 3𝜆2 + 27𝜆2 𝜆1 .

𝜆2 𝜆21
√︁
De 41 < 𝜆2 < 3
obtemos 0 < 𝜆21 − 3𝜆2 < − 𝜆21 . Logo, por simples manipulação algébrica,
obtemos
𝑅(𝜆1 , 𝜆2 ) < 3𝜆31 < 0,
pois 𝜆1 < 0. Logo, 𝑥± ∈
/ R e portanto Γ não intercepta Σ. (Veja figura 4.22).

𝑝𝜆

𝑞𝜆

Figura 4.22: Homoclínica em Σ+ .

𝜆21
De forma analoga concluímos que se 0 < 𝜆2 < 4
então Γ intercepta Σ nos pontos (𝑥± , 0) de
forma transversal. (Veja figura 4.23) .

𝑝𝜆
Γ

𝑞𝜆
Σ

Figura 4.23: Γ transversal a Σ.

(iv) 𝜆1 < 0 e 𝜆2 < 0

É equivalente ao caso (ii) acima.

• 𝜆21 − 3𝜆2 < 0

63
𝜆2

𝜆1

Figura 4.24: Bifurcação do ponto equilíbrio cuspidal-dobra visível

𝜆2
Neste caso 𝑋𝐹𝜆 não possui ponto de equilíbrio. Entretanto como 𝜆2 > 31 temos que a origem é
um ponto tipo dobra visível.
Concluímos agora que se (0, 0) é um ponto de dobra visível para o campo vetorial 𝑋𝐺𝜆 então
o diagrama de bifurcação do campo vetorial descontínuo é apresentado pela figura 4.24.
Por outro lado, se (0, 0) é um ponto de dobra invisível para o campo vetorial 𝑌𝐺 então temos uma
aplicação de Poincaré bem definida na vizinhança de (0, 0) para todo campo 𝑍𝜆 com 𝜆 pertencente
à região 𝒫 dada por:

𝜆21
𝒫 = {(𝜆1 , 𝜆2 ) ∈ R2 ; 𝜆2 < 0} ∪ {(𝜆1 , 𝜆2 ) ∈ R2 ; 0 ≤ 𝜆2 < 𝑒𝜆1 < 0}.
4
Segue então do corolário 2 que para todo 𝜆 ∈ 𝒫 o campo vetorial 𝑍𝜆 tem uma órbita homoclínica
Γ𝜆 e além disso, se 𝐷 é a região limitado por Γ𝜆 então para todo 𝑝 ∈ 𝑖𝑛𝑡(Γ𝜆 ) tem-se que a orbita
que passa por 𝑝 é fechada. O diagrama de bifurcação neste caso é exibido na figura 4.25.

4.4.3 Ponto de equilíbrio para ambos os campos 𝑋 e 𝑌


Vamos considerar agora 𝑍 = (𝑋, 𝑌 ) ∈ Ω𝑅𝑒𝑓 𝐻𝑎𝑚 (R , 𝑓 ) tal que a origem (0, 0) é um ponto de
2

equilíbrio não degenerado dos campos de vetores 𝑋 e 𝑌 . Desta forma temos três singularidades
distintas a ser analisada: Sela-Sela, Sela-Centro e Centro-Centro.
Uma condição de genericidade é necessária nos casos onde pelo menos um dos campos tem um
ponto tipo sela na origem: As separatrizes devem ser transversais à descontinuidade Σ. Novamente
da tabela 3.1 obtemos:

64
𝜆2

𝜆1

Figura 4.25: Bifurcação do ponto equilíbrio cuspidal-dobra invisível.

(2𝑏𝑦 + 𝜆1 , −2𝑎𝑥) se 𝑦 > 0


{︃
𝑍𝜆 (𝑥, 𝑦) =
(2𝑐𝑦 + 𝜆2 , −2𝑎𝑥) se 𝑦 < 0

𝑏𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆1 𝑦 se 𝑦 ≥ 0
{︃
𝐻𝜆 (𝑥, 𝑦) =
𝑐𝑦 2 + 𝑎𝑥2 + 𝜆2 𝑦 se 𝑦 < 0,
onde 𝑎, 𝑏, 𝑐 ∈ {−1, 1}.

1. Sela-Sela

Já vimos no estudo dos casos de codimensão 1 como ocorre o comportamento dos campos de
vetores 𝑋𝜆 com 𝑋0 tendo um ponto de equilíbrio não degenerado tipo sela na origem . (Veja seção
4.3.2).
Vamos supor sem perda de generalidade que 𝑎 = 1 e 𝑏 = 𝑐 = −1. Desta forma temos que
as dinâmicas dos campos vetoriais 𝑋𝐹𝜆 restrito ao semi-plano 𝑦 ≥ 0 e 𝑌𝐺𝜆 restrito ao semi-plano
𝑦 ≤ 0 são dados respectivamente pelas figuras 4.26 e 4.27.
Assim estamos aptos a descrever o comportamento de 𝑍𝜆 = 𝑍𝐻𝜆 . E isto é o que faremos no
que segue.
Se 𝜆1 = 0 e 𝜆2 ̸= 0 então para 𝜆2 < 0 temos um ponto de sela admissível para o campo vetorial
𝑌𝐺𝜆 e a origem é um ponto tipo sela-dobra invisível para o campo vetorial 𝑍𝐻𝜆 , ou seja, (0, 0) é
ponto tipo sela para 𝑋𝐹𝜆 e ponto tipo dobra para 𝑌𝐺𝜆 . Para 𝜆2 > 0 a sela do campo vetorial 𝑌𝐺𝜆
é não admissível e a origem é um ponto tipo sela-dobra visível.

65
𝜆1 < 0 𝜆1 = 0 𝜆1 > 0
Figura 4.26: Sela (transversal) para o campo de vetores 𝑋𝐹𝜆 .

𝜆2 < 0 𝜆2 = 0 𝜆2 > 0
Figura 4.27: Sela (transversal) para o campo de vetores 𝑌𝐺𝜆 .

Se 𝜆2 = 0 e 𝜆1 ̸= 0 então para 𝜆1 < 0 temos um ponto de sela não admissível para o campo
vetorial 𝑋𝐹𝜆 e a origem é um ponto tipo dobra visível-sela para o campo vetorial 𝑍𝐻𝜆 . Para 𝜆1 > 0
a sela do campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 é admissível e a origem é um ponto tipo dobra invisível-sela.
Se 𝜆1 , 𝜆2 > 0 temos ponto tipo sela admissível para o campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 e não admissível para
𝑌𝐺𝜆 . E a origem é um ponto tipo dobra invisível-dobra visível.
Se 𝜆1 , 𝜆2 < 0 temos ponto tipo sela não admissível para o campo vetorial 𝑋𝐹𝜆 e admissível para
𝑌𝐺𝜆 . E a origem é um ponto tipo dobra visível-dobra invisível.
Se 𝜆1 < 0 e 𝜆2 > 0 ambos os pontos tipo sela são não admissíveis e neste caso, a origem é um
ponto de dobra-dobra visível para o campo vetorial 𝑍𝐻𝜆 .
Por fim, se 𝜆1 > 0 e 𝜆2 < 0, ambos os campos de vetores 𝑋𝐹𝜆 e 𝑌𝐺𝜆 possuem um ponto equilíbrio
tipo sela admissível e neste caso precisamos analisar como suas separatrizes se comportam. De
fato suponhamos que 𝑝𝜆 e 𝑞𝜆 sejam os pontos de equilíbrio de 𝑋𝐹𝜆 e 𝑌𝐺𝜆 respectivamente. Sejam
𝛾𝑝+𝜆 e 𝛾𝑝−𝜆 as separatrizes instável e estável de 𝑝𝜆 , analogamente𝛾𝑞+𝜆 e 𝛾𝑞−𝜆 as separatrizes instável e
estável de 𝑞𝜆 . Como cada uma das separatrizes interceptam Σ em um único ponto façamos:

𝑢𝑖𝑝𝜆 = 𝛾𝑝𝑖 𝜆 ∩ Σ e 𝑢𝑖𝑞𝜆 = 𝛾𝑞𝑖𝜆 ∩ Σ, onde 𝑖 = +, −.

E temos que

• Se 𝜆1 = −𝜆2 então 𝑢+
𝑝𝜆 = 𝑢𝑞𝜆 e 𝑢𝑝𝜆 = 𝑢𝑞𝜆 .
− − +

Assim temos um órbita heteroclínica Γ1 .

• Se 𝜆1 < −𝜆2 então 𝑢+


𝑝𝜆 < 𝑢𝑞𝜆 e 𝑢𝑝𝜆 > 𝑢𝑞𝜆
− − +

E temos uma órbita homoclínica Γ2 com 𝛼,𝜔-limites igual a 𝑝𝜆 .

• Se 𝜆1 > −𝜆2 então 𝑢+


𝑝𝜆 > 𝑢𝑞𝜆 e 𝑢𝑝𝜆 < 𝑢𝑞𝜆
− − +

E temos uma órbita homoclínica Γ3 com 𝛼,𝜔-limites igual a 𝑞𝜆 .

66
e Além disso, (0, 0) é um ponto tipo dobra-dobra invisível para o campo vetorial 𝑍𝐻𝜆 . E mais,
segue do corolário 2 que as órbitas limitadas por Γ1 , Γ2 e Γ3 são todas fechadas.

Observação 6. Nas regiões 𝑅1 , 𝑅2 e 𝑅3 dadas por:

𝑅1 = {(𝜆1 , 𝜆2 ) ∈ R2 ; 𝜆1 , 𝜆2 > 0}

𝑅2 = {(𝜆1 , 𝜆2 ) ∈ R2 ; 𝜆1 < 0, 𝜆2 > 0}


𝑅3 = {(𝜆1 , 𝜆2 ) ∈ R2 ; 𝜆1 , 𝜆2 < 0}
também ocorre encontros e desencontros entre as separatrizes de 𝑝𝜆 e 𝑞𝜆 , contudo o comportamento
local é o mesmo em toda região 𝑅𝑖 , 𝑖 = 1, 2, 3. O diagrama de bifurcação do caso sela-sela é
apresentado na figura 4.28.

Os casos Sela-Centro e Centro-Centro são similares ao apresentado e suas bifurcações são


apresentadas nas figuras 4.29 e 4.30 respectivamente.
𝜆2

𝜆1

Figura 4.28: Bifurcação Sela-Sela

67
𝜆2

𝜆1

Figura 4.29: Bifurcação Sela-Centro

68
𝜆2

𝜆1

Figura 4.30: Bifurcação Centro-Centro

69
Referências Bibliográficas

[1] R. Abraham, J. E. Marsden, T. S. Raiu, and R. Cushman. Foundations of mechanics. Ben-


jamin/Cummings Publishing Company Reading, Massachusetts, 1978.

[2] S.M. Arnold, V.I. Gusein-Zade, A.N. Varchenko, et al. Singularities of differentiable maps.
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