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ELÉTRONS NUMA
REDE PERIÓDICA II
161
Figura 10.1. Primeira, segunda, terceira e quarta zonas de Brillouin de redes
recíprocas (a) unidimensional e (b) quadrada.
162
Este esquema
contempla
a periodicidade da energia no espaço recíproco, ou
seja, E (k ) = E (k + G ) .
163
intervalo proibido de energias. A figura 9.1 ilustra o esquema de bandas de
sólidos metálicos e isolantes.
164
Tomemos como exemplo uma rede cúbica simples, cuja projeção no plano
(001) é uma rede quadrada. Suponhamos densidades eletrônicas crescentes,
que tenderão a aumentar continuamente o volume delimitado pela superfície
de Fermi. Na figura 10.5 estão representadas as projeções no plano das
superfícies de Fermi correspondentes a densidades eletrônicas crescentes.
No caso de baixa densidade eletrônica, a superfície de Fermi estará
inteiramente contida dentro da 1ª zona e, se estiver distante das fronteiras de
zona, manterá a forma esférica, tal como na teoria de elétrons livres. Este é o
caso da superfície de energia constante representada como E1 na figura 10.5.
Na figura 10.6, em que são esquematicamente representadas as bandas de
energia na direção kx (direção -X) e na direção paralela à diagonal da zona
quadrada (direção -Y), a posição de E1 corresponde a valores de energia para
os quais as bandas mantêm aproximadamente a forma parabólica em todas
as direções do espaço-k (o centro da zona de Brillouin é geralmente denotado
como ponto ). Quando a ocupação eletrônica cresce, a superfície de Fermi se
aproxima da fronteira de zona na direção -X. Este é o caso da curva E2. Na
figura 10.5 notamos que a variação lenta da energia em função de kx logo antes
que a fronteira de zona seja alcançada (ver também figura 9.3), tende a
deslocar as superfícies de mesma energia na direção desta fronteira.
Consequentemente, a superfície E2 desvia da forma esférica e se deforma
como se fosse atraída pela fronteira de zona. Ao se aumentar ainda mais a
densidade eletrônica, a fronteira de zona é alcançada na direção -X, como
mostra a curva E3 na figura 10.6. Na figura 10.5 observa-se que a superfície de
Fermi E3 é parcialmente destruída nesta direção e deixa de ser fechada. O
preenchimento da 1a. zona, no entanto, pode continuar, pois sobram estados
vazios na direção -Y. Aumentando-se ainda mais a densidade de elétrons e
se a largura do gape não for demasiado grande, estados da 2ª zona começarão
a ser preenchidos na direção -X antes do total preenchimento da 1ª zona.
Esta situação é representada pela curva E4 nas figuras 10.5 e 10.6.
165
Nas figuras 10.5 e 10.6 observa-se que, devido ao salto de energia através
do gape, os valores de k logo após a fronteira serão menores que aqueles
previstos pela parábola de elétrons livres (ver também figura 9.3).
Verificamos, novamente, que os limites de zona atraem os contornos de
energia constante. Este efeito faz com que, em três dimensões, as superfícies
de Fermi calculadas na aproximação de elétrons quase livres possam mostrar
formas geométricas muito complexas.
166
Figura 10.7 Superfície de Fermi correspondente à energia E4 nas figuras 10.5 e
10.6 em esquema de (a) zona reduzida e (b) zona periódica. No
esquema (a) as regiões sombreadas estão preenchidas por elétrons.
Figura 10.8 (a) Zona de Brillouin de uma rede quadrada quase inteiramente
preenchida. (b) Os N estados da zona estão inteiramente
preenchidos e o sistema se comporta como um isolante.
167
10.3 MÉTODOS DE CÁLCULO DE BANDAS
(𝑛) 1
Ψ⃗𝑘 (𝑟) = ∑𝑙 𝑒 𝑖𝑘⃗⋅𝑙 𝜙𝑛 (𝑟 − 𝑙) , (10.1)
√𝑁
onde N, como antes, denota o número total de celas unitárias do cristal que,
por simplicidade, supomos ser monoatômico. Observamos que
168
1
k( n ) (r + l ' ) =
N
n (r + l '−l )
e ik l
1
=e ik l '
N
e ik ( l −l ')
n [r − (l − l ' )]
l
ik l '
=e k( n ) (r ) ,
2 2
E (k ) = k( n ) [− + V (r )]k( n ) d 3 r . (10.2)
2m
1
2 2 3
E (k ) = e ik ( l −l ')
n
( r − l ' )[− + V ( r )] n ( r −l )d r . (10.3)
N l ,l ' 2m
Como n (r ) é um orbital atômico, podemos escrever a seguinte equação
de autovalores:
2 2
[− + Va (r )] n (r ) = nn (r ) , (10.4)
2m
e n são suas
onde Va é o potencial atômico de um átomo colocado na origem
auto-energias. Este resultado nos permite estimar E (k ) . Para tanto,
reescrevemos (10.3) como
1
2 2 3
E (k ) = e ik ( l −l ')
{ n ( r − l ' )[− + V a ( r )] n ( r −l ) d r
N l ,l ' 2m
(10.5)
+ n (r − l ' )[V (r ) − Va (r )]n (r − l ) d 3 r}
169
onde somamos e diminuímos o elemento de matriz correspondente ao
potencial atômico Va.
Para avaliar aproximadamente as duas integrais da expressão (10.5),
supomos que o recobrimento entre orbitais atômicos centrados em sítios
diferentes é pequeno. Então, de acordo com a equação (10.4), a primeira
integral em (10.5) terá como resultado n (l − l ' ) , pois admitimos que as
n são ortonormalizadas. Por outro lado, na segunda integral em (10.5)
podemos deslocar a origem por um vetor da rede direta sem alterar o
resultado. Fazemos, então
ou seja,
⃗
𝐸(𝑘⃗ ) ≅ 𝜀𝑛 + ∑𝐿⃗ 𝑒 𝑖𝑘⋅𝐿⃗ 𝑡𝑛 (𝐿⃗) . (10.8)
170
no segundo termo da equação (10.8), o qual é o responsável pela abertura de
uma banda centrada na energia de átomo isolado 𝜀𝑛 .
Vamos exemplificar a aplicação da equação (10.8) para o caso de uma rede
cúbica simples, considerando que o recobrimento entre funções de onda do
tipo atômico seja significativo apenas para sítios primeiros vizinhos. Os
vetores da soma em (10.8) serão:
L = (a,0,0) , (− a,0,0) , (0, a,0) , (0,−a,0) , (0,0, a ) e (0,0,− a ) .
A soma em L fica
171
O método das ligações fortes revela um princípio importante da teoria de
bandas. Consideremos, inicialmente, N átomos idênticos e isolados no estado
fundamental. Cada átomo será caracterizado pela mesma configuração
eletrônica e, considerando o conjunto, cada estado atômico será N vezes
degenerado. Se os N átomos condensarem num sólido (com um átomo por
cela unitária primitiva) de forma que haja um recobrimento não-nulo entre
funções de onda de átomos em celas vizinhas, a degenerescência de um dado
orbital atômico é levantada, abrindo-se uma banda de N estados, cuja largura
total dependerá do grau de recobrimento entre os orbitais vizinhos. Isto
significa dizer que a largura de banda dependerá essencialmente da natureza
do orbital atômico e da distância de separação entre átomos, conforme
ilustrado na figura 10.10.
1
k (r ) =
N
eik l cnn (r − l ) . (10.10)
l n
172
O método das ligações fortes não é adequado para a descrição de bandas
largas, originadas por elétrons das camadas atômicas externas, de tipo s ou p.
No entanto, a aproximação produz bons resultados quando aplicada ao
cálculo de bandas estreitas, formadas por elétrons originado de estados
atômicos do tipo d ou tipo f, mais internos e característicos dos metais de
transição e dos lantanídeos, respectivamente.
Num sistema de muitas bandas originadas de orbitais atômicos, tal como
representado na figura 10.10, é necessário se acrescentar índices adicionais
ao vetor de onda para especificar a origem de cada uma das bandas. Este são,
em geral, especificados pelos números quânticos n e l que caracterizam o
estado atômico inicial.
1
(kn ) =
N
eik l n (r − l ) , (10.11)
l
173
de uma onda plana. As funções k que descrevem estes estados com energias
positivas devem ser ortogonais aos estados dados pela equação (10.11), pois
ambos devem ser soluções da mesma equação de Schrödinger.
Com base nestas considerações, no método das ondas planas
ortogonalizadas, propõe-se funções de onda do tipo
k = e ik r − n (n
)
k
(10.12)
n
k (kn ) = 0 , (10.13)
174
e com isto torna-se possível se obter uma convergência rápida nas expansões
perturbativas e limitar o sistema (9.26) a um pequeno conjunto de equações.
Pode-se mostrar que o problema dos estados de Bloch tratado com ondas
planas ortogonalizadas é equivalente ao da expansão em ondas planas,
expressa pela equação (9.20), porém sob a condição de que os elétrons
estejam sob ação de um pseudo-potencial fraco o suficiente para que as
componentes de alta frequência nas expansões de Fourier sejam pequenas e
possam ser desprezadas sem erro apreciável no cálculo das energias de
banda.
175
10.3.4 Teoria do Funcional Densidade
ΗΨ = (Κ + 𝑉 + 𝑣 )Ψ = 𝐸Ψ , (10.17)
ℏ2 1
𝑖=1 ∇𝑖 + ∑𝑖=1 𝑉 (𝑟𝑖 ) + ∑𝑖 ∑𝑗≠𝑖 𝑣(𝑟𝑖 − 𝑟𝑗 )] Ψ = 𝐸Ψ .
∑𝑁 2 𝑁 𝑁 𝑁
[− (10.18)
2𝑚 2
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Hohenberg e Kohn mostraram que, ao menos para o estado fundamental, é
possível reverter a equação (18.19), ou seja, se pode escrever a auto-função
do sistema de muitos corpos como um funcional da densidade eletrônica,
Com base nesta suposição, o funcional energia (18.21) pode ser escrito
como
𝑁𝑒 = ∫ 𝑛(𝑟) 𝑑 3 𝑟 . (18.24)
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muitas partículas em interação é tratado através da densidade eletrônica. O
conhecimento desta quantidade permite a determinação com boa precisão
das propriedades do estado fundamental do sistema, e em particular da
energia, com um custo computacional reduzido se comparado com aquele
exigido pelos métodos da teoria de bandas que são baseados nas funções de
onda tentativa.
V V
dN (k ) = 3 d 3 k = 3 dk ⊥ dS n , (10.26)
8 8 Sn ( E )
178
Figura 10.13. Elemento de volume do espaço recíproco correspondente
à equação (10.26).
V
8 3
dk ⊥ dS n .
Sn ( E )
1 dS n dk ⊥
n (E) =
8 Sn ( E ) dEn
3
. (10.27)
Lembrando que En = En (k ) é determinada pelas técnicas de cálculo de
bandas, e que
dEn (k ) = k En (k ) dk ⊥ ,
1 dS n
n (E ) =
8 3 ,
k En (k )
(10.28)
Sn ( E )
179
(10.28) diverge para infinito. Em três dimensões, porém, estas singularidades
são integráveis e n (E) permanece finito, embora resultem divergências na
derivada dn / dE. Estes pontos são conhecidos como singularidades de van
Hove(3). A figura 10.14 representa esquematicamente uma dada função
densidade de estados contendo quatro singularidades de van Hove, duas das
quais ocorrem nas bordas da banda.
180
destes sólidos favorece a simplicidade da descrição de suas propriedades
eletrônicas.
181
10.5.3 Metais Trivalentes
Os sólidos com três elétrons de valência por cela unitária são todos
metálicos. O exemplo clássico é o alumínio, cuja configuração eletrônica é
cristalizam em estruturas trigonais com dois átomos por cela unitária. Assim,
conta-se 10 elétrons por cela, os quais preenchem quase exatamente 5
bandas. A 5ª banda não é totalmente preenchida e ocorre uma pequena
superposição (overlap) com a 6ª banda. Disto decorre que estes sólidos são
condutores, porém apresentam baixa condutividade elétrica. Estes sistemas
são denominados de semimetais.
Os cristais com número par de elétrons de valência por cela unitária não
são necessariamente isolantes, pois pode ocorrer recobrimento de bandas.
Por exemplo, a 2ª zona de Brillouin pode começar a ser preenchida antes que
a primeira zona esteja completa, tal como se discutiu na secção 10.2. Este
fenômeno ocorre com os elementos da coluna 2A que, embora divalentes, são
todos metálicos na forma sólida. Nestes casos, o intervalo de energias
proibidas não é suficientemente largo para que todos os elétrons sejam
mantidos na primeira zona em todas as orientações do espaço recíproco. Os
sólidos dos alcalino-terrosos não são tão bons metais quanto os
monovalentes, pois a energia de Fermi se situa numa região de baixa
182
densidade de estados no intervalo de recobrimento entre bandas de natureza
s e p. Nos átomos isolados, o estado p não é ocupado. Porém, no sólido a banda
que dele se origina tem um pequeno recobrimento com a banda gerada pelos
estados de natureza s. A figura 10.16 mostra, esquematicamente, a densidade
de estados para o magnésio, que possui estrutura hcp.
Os três elementos do grupo 2B,
183
Figura 10.17. (a) Bandas de energia e (b) densidade de estados (esquemáticas)
para o Ge: [Ar] 3d10 4s2 4p2.
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10.5.8 Os Metais de Terras-Raras (ou Lantanídios)
Notas biográficas:
(1) Pierre C. Hohenberg (1934 – 2017). Físico teórico nascido na França que também
adotou a nacionalidade norte-americana. Além de seu trabalho em colaboração com
W. Kohn no desenvolvimento da teoria do funcional densidade, realizou
contribuições de destaque na área de mecânica estatística e fenômenos críticos.
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(2) Walter Kohn (1923 – 2016). Físico e químico teórico nascido na Austria, que adotou
nacionalidade norte-americana. Ficou conhecido sobretudo pela proposta e
desenvolvimento da teoria do funcional densidade, no que teve colaboração
destacada de P. Hohenberg e L.J. Sham. Recebeu o prêmio Nobel de Química de 1998
por sua contribuição ao entendimento das propriedades eletrônicas dos materiais.
(3) Léon Van Hove (1924 – 1990). Físico belga que se destacou em matemática, física
de sólidos, física nuclear e de partículas, além de cosmologia. Foi diretor da Divisão
Teórica do CERN, em Genebra.
Leitura sugerida:
C. Kittel – caps. 9 e 10
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