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GEOMETRIA CRISTALINA
INTRODUÇÃO
onde n1, n2, n3 são números inteiros quaisquer, positivos ou negativos, conecta
dois pontos do cristal que possuem vizinhança absolutamente idêntica. O
segundo nível de simetria se manifesta numa escala local e diz respeito às
várias operações de rotação e reflexão que se pode executar com a unidade
cristalina sem deslocá-la por translação. Trata-se da chamada simetria do
grupo do ponto.
A cristalografia, ou o estudo da geometria dos cristais, é uma das áreas que
mais interesse tem despertado desde os primórdios da investigação das
propriedades microscópicas dos sólidos. Esta especialidade teve grande
impulsão com a descoberta dos raios-X no início do século 20.
Posteriormente, a difração de elétrons e a difração de nêutrons também se
tornaram ferramentas fundamentais para a investigação da geometria
cristalina. Ainda hoje os cristalógrafos são numerosos e os problemas com
que se defrontam não perderam a atualidade, sobretudo no que se relaciona
às estruturas cristalinas extremamente complexas formadas por compostos
orgânicos, sistemas biológicos ou por novos materiais sintetizados
artificialmente.
Do ponto de vista teórico, a descrição dos sistemas cristalinos se adapta
particularmente bem ao formalismo da teoria de grupos. No presente estudo,
nós nos limitaremos à análise de alguns casos simples, onde as considerações
de simetria podem ser feitas por mera inspeção, sem o auxílio de um
instrumento algébrico formal. Após uma discussão essencialmente descritiva
sobre as propriedades geométricas dos cristais, nós introduziremos a noção
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de grupo do ponto e exemplificaremos sua aplicação na análise de algumas
das propriedades macroscópicas dos sólidos.
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atômicas também são considerados como representativos de redes
cristalinas bidimensionais. Graças a propriedades mecânicas excepcionais, o
grafeno pode ser suspenso, de modo que uma extensa área da amostra é
colocada sem contato com uma superfície de apoio.
Consideremos inicialmente a rede bidimensional mais genérica possível.
Trata-se da rede oblíqua, mostrada na figura 2.1. Claramente, a definição (i)
de rede de Bravais é satisfeita. Se nós nos posicionarmos sobre um dado
ponto da rede observaremos exatamente a mesma vizinhança qualquer que
seja o ponto. Verificamos também que se escolhermos os vetores primitivos
a1 e a 2 mostrados na figura, nós podemos gerar qualquer ponto da rede com
os vetores translação:
l = n1a1 + n2 a2 ( n1 , n2 = inteiros ) . (2.2)
Por exemplo,
o ponto P da figura 2.1 pode ser representado pelo vetor
l = − a1 + 2a 2 .
Figura 2.1. Rede de Bravais oblíqua; 𝑎⃗1 e 𝑎⃗2 são dois vetores primitivos.
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mais de um ponto da rede e não corresponde a uma superfície de mínima
área.
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Figura 2.3. Cela de Wigner-Seitz da rede bidimensional oblíqua.
Figura 2.4. A rede hexagonal em favos de abelha não é uma rede de Bravais.
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mapeada nela própria por rotações de 2 () () e 2. A rede
hexagonal da figura 2.4 é invariante frente às rotações de
2 () () e . Portanto, rotações por ângulos 2n (ou
rotações de ordem n), onde n = 1, 2, 3, 4 e 6 são compatíveis com a geometria
cristalina. Rotações de 2 e 2 não podem mapear a rede nela própria. A
rotação de 2 também não é uma operação de simetria cristalina, pois não
se pode preencher totalmente o espaço plano com um arranjo de pentágonos
regulares. É interessante notar, contudo, que a projeção num plano da rede
de certas ligas recentemente identificadas, as quais contem alumínio e
manganês, forma arranjos pentagonais. Estes novos sistemas foram batizados
de quase-cristais, pois embora seus átomos distribuam-se segundo um
arranjo geometricamente regular, as condições de cristalinidade definidas
pela rede de Bravais não são satisfeitas.
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Figura 2.5. Redes de Bravais bidimensionais. (a) cela oblíqua ; (b) cela quadrada;
(c) cela hexagonal; (d) cela retangular; (e) cela retangular centrada,
ou rômbica.
Podemos verificar, por simples inspeção, que não resta nenhuma outra
possibilidade de rede de Bravais em duas dimensões. Portanto, existem
apenas 5 redes de Bravais bidimensionais:
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Podemos também dizer que são quatro os sistemas cristalinos
bidimensionais:
oblíquo primitiva
retangular primitiva e centrada
quadrado primitiva
hexagonal primitiva
Figura 2.6. Rede de Bravais cúbica simples. São representados dois conjuntos de
vetores primitivos possíveis, definindo duas celas unitárias primitivas de
mesmo volume.
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Para algumas redes, escolhemos celas unitárias não-primitivas para
facilitar a visualização de seus elementos de simetria. Um exemplo é a rede
cúbica centrada (cc). Como mostra a figura 2.7, a cela convencional não é
primitiva, pois contém 2 pontos de rede por cela.
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Figura 2.8. Etapas para a obtenção da cela de Wigner-Seitz
de uma rede cúbica centrada: (a) → (b) → (c).
(1) Sistema TRICLÍNICO. A cela unitária de uma rede triclínica não possui
nenhum tipo de simetria senão a rotação de ordem 1 (elemento identidade) e
a inversão, que é uma operação de simetria exigida pela definição geral de
rede de Bravais. O sistema triclínico possui apenas uma rede de Bravais e,
para descrevê-la, usamos a cela unitária primitiva da figura 2.9. Este sistema
não possui planos de reflexão. Nenhum elemento, nem compostos simples
cristalizam nesta estrutura.
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Figura 2.9. Rede triclínica.
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Figura 2.11. Rede ortorrômbica; (a) simples, (b) base centrada, (c) centrada,
(d) de face centrada.
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Figura 2.12. Rede tetragonal (a) simples e (b) centrada.
Figura 2.13. A rede hexagonal pode ser representada pela cela hexagonal
convencional, ou pelo prisma reto formado por 𝑎⃗1 , 𝑎⃗2 e 𝑎⃗3
(cela primitiva).
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base centrada obviamente não pode existir, pois distinguiria um dos eixos
com relação aos outros.
Figura 2.14. (a) Rede cúbica simples; (b) cúbica centrada; (c) cúbica de face
centrada (neste caso, os pontos de rede não visíveis não são
representados); (d) rede cúbica vista ao longo de uma diagonal, que é
um eixo de rotação de ordem 3.
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Figura 2.15. Rede trigonal, ou romboédrica.
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2.2 PLANOS CRISTALINOS, DIREÇÕES CRISTALINAS E
ÍNDICES DE MILLER
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Figura 2.17. Exemplos de planos cristalinos no sistema cúbico.
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Claramente, o uso deste quarto índice não é necessário, embora facilite a
visualização do plano.
É muitas vezes útil a notação das direções cristalinas com os índices de
Miller. Usa-se a forma [hkl]. Por exemplo, o eixo x aponta paralelamente ao
vetor 𝑎⃗1 e corresponde à direção [100]; o eixo (-x) está na direção [ 1 00 ] ; a
diagonal do cubo está na direção [111], etc. Nos sistemas cúbicos, a direção
[hkl] é sempre perpendicular ao plano cristalino (hkl). Noutros sistemas
cristalinos, isto pode não ocorrer. Por exemplo, a direção [100] (paralela ao
vetor a1 ) numa rede hexagonal não é perpendicular ao plano (100).
Uma rede cfc pode ser considerada como uma cs com quatro pontos de
base:
0 , (a / 2) ( xˆ + yˆ ), (a / 2) ( xˆ + zˆ) e (a / 2) ( yˆ + zˆ)
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Cl : 0 0 0 1/2 ; 1/2 ; 0 1/2 ; 0 ; 1/2 0 ; 1/2 ; 1/2
Figura 2.19. Estrutura cristalina do diamante. Os átomos situados nos centros dos
tetraedros estão assinalados por círculos cheios para facilitar a
visualização. As ligações tetraédricas são mostradas por traços duplos.
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Figura 2.20. (a) Estrutura hcp; (b) projeção dos átomos da base (2/3 ; 1/3 ; 1/2) no
plano hexagonal; (c) empilhamento compacto hcp com sequência de
planos do tipo ABABAB; (d) empilhamento compacto cfc no qual a
sequência de planos é ABCABCABC...
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Tabela 2.b. Estruturas cristalinas de alguns elementos na forma sólida.
Também são listadas a massa atômica, a densidade e os parâmetros de rede.
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Notas biográficas:
(1) Auguste Bravais (1811-1863); cientista francês com atuação em física, astronomia,
estatística, meteorologia, geobotânica, hidrologia e outros; seu trabalho em
cristalografia, que levou ao conceito de redes cristalinas de Bravais é o mais
conhecido.
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(2) Eugene Wigner e Frederick Seitz; ver notas na pg. 18
(3) William H. Miller (1801-1880); mineralogista britânico, com importante
contribuição na área de cristalografia.
Leitura sugerida:
C. Kitttel: cap 1
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