Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
WALTER SAVASSI
SÃO CARLOS
2021
rsidade e São Pa lo
Escola de Engenharia de São Carlos
Departamento de Engenharia de Estruturas
E E
E
I DI ENSI IS
Walter Savassi
SUMÁRIO
- Introdução 4
2 - Treliças planas 4
2.1 - Determinação geométrica 4
2.2 - Casos excepcionais 4
2.3 - Exemplo 6
2.4 - Chapas treliçadas 9
3 - Treliças tridimensionais 9
3.l - Determinação geométrica 9
3.2 - Sólidotreliçado lO
3.3 - Exemplos geometricamente determinados e indeterminados 12
3.3. l - Tetraedro 12
3.3.2 - Treliça piramidal 12
3.3.3 - Treliças com configuração quadrado-sobre-quadrado 13
4 - Conclusões 16
5 - Referências 19
6 - Apêndice 19
6.1 - Definições 19
4
1-
Para os objetivos deste trabalho, uma estrutura será bem comportada, podendo receber
qualquer carregamento, se for dotada de um conjunto de barras vinculares apropriado, com
posições, orientações e quantidade mínima suficiente para eliminar os movimentos de corpo rígido.
Neste trabalho mostra-se que estruturas treliçadas tridimensionais do tipo quadrado-sobre-quadrado,
com configuração freqüentemente empregada em nosso país, não se enquadram nessa situação e, se
forem dotadas apenas daquele número mínimo de barras vinculares, exibirão movimentos do tipo
mecanismo. Mostra-se ainda como proceder para transformá-las em estruturas bem comportadas,
chamadas, como se sabe, de geometricamente determinadas (dual de estaticamente determinadas).
Admite-se que uma estrutura seja bem comportada quando puder receber qualquer
carregamento, se dotada, pelo menos, do conjunto de barras vinculares acima descrito. Estruturas
constituídas dessa maneira recebem o nome de geometricamente determinadas e serão objetos
exclusivos deste trabalho. De acordo com o critério acima, uma estrutura que tenha apenas o
número mínimo de vínculos e permita a ocorrência de movimentos tipo mecanismo, isto é
deslocamentos de certos pontos sem a conseqüente introdução de deformações específicas em suas
partes ou membros, será considerada inadequada, neste trabalho. Explicitando melhor a natureza
das estruturas assim bem constituídas, sob o ponto de vista da determinação geométrica, pode-se
dizer que elas, por si mesmas (desvinculadas), podem ser consideradas como sólidos rígidos reais
(quando formadas por material monolítico) ou sólidos rígidos equivalentes (quando forem
estruturas reticuladas, como, por exemplo, as treliças). De acordo com as definições do Apêndice,
neste trabalho serão utilizados, dentre outros, os terrnos: treliça, barras simples de treliça, ou barra
de treliça, nó, chapa terra.
Embora seja sabido que existem estruturas que por si só não obedecem a essa condição e que
assim mesmo podem trabalhar como sistemas capazes de receber carregamentos, muitas delas
suportadas por número de vínculos maior do que o mínimo, elas não terão seu comportamento
estudado neste trabalho. Para esse caso, existe, por exemplo, o trabalho de Pellegrino [ l].
2- Treliças planas
2.1- Determinação geométrica
O objetivo final deste trabalho repousa sobre as treliças tridimensionais com configuração
do tipo "quadrado-sobre-quadrado", geometricamente determinadas. Para facilidade de
abordagem, considere-se de início o caso bidimensional das treliças simples, que devem observar,
como condição necessária, à relação ( l)
b = 2n (I)
entre o número de barras b e de nós n, incluídas as barras vinculares. Nesse caso, A e B, da figura 1,
também serão nós. Caso não se considerem as quatro barras vinculares, então, os pontos A e B não
mais serão nós. Isso significa que a posição de cada nó fica definida por meio de duas barras nele
concorrentes, como pode ser demonstrado de duas maneiras, Schiel [2].
l) "Treliça" plana mais simples, figura l: um nó tem sua posição definida por meio de duas barras
de treliça que nele concorrem e que têm cada uma das suas outras extremidades fixada a um
ponto da chapa terra (note-se que, de acordo com a definição de nó, esses dois pontos de
fixação de barras com a chapa terra não são nós, conforme já salientado). Cada novo nó n
poderá ser definido com duas novas b barras. Daí segue a validade da relação (1).
5
(2)
A
X
pode-se montar sistema de 2n equações (2) nas 2n incógnitas coordenadas dos nós. Pode ocorrer,
ainda, que esse sistema englobe a situação em que nem todas as equações de (2) sejam linearmente
independentes, conforme se aborda em seguida. Desse modo, a condição (l) é necessária, mas não
suficiente. Podem existir, então, os casos excepcionais.
A treliça pode ser geometricamente determinada, obedecendo à relação ( l ), mas ter sua
configuração geométrica tal que no sistema formado por 2n equações do tipo (2) existam equações
linearmente dependentes. Então, ela permitirá a ocorrência de movimentos nodais, pelo menos
infinitesimais. Será geometricamente determinada, mas designada como caso excepcional.
Como detectar essa situação? A procura, utilizando-se as equações do tipo (2) não é
conveniente, por serem equações quadráticas. Admita-se, então, que variações das coordenadas
nodais (deslocamentos nodais) das extremidades de urna barra possam ocorrer mas não será
permitida variação do seu comprimento
O diferencial total de (2) será
(3)
3C 1k =X; -xk
DX; (;k
6
(4)
onde: [c] é a matriz cujos elementos somente dependerão das coordenadas dos nós ou de pontos de
apoio, e que pode ter o nome sugestivo de matriz cinemática, {d} é um vetor dos deslocamentos
infinitesimais nodais (somente dos nós, ou de direções livres; não contribuem, portanto, as
variações nulas dos deslocamentos prescritos nos apoios) e {a} é o vetor dos diferenciais dos
comprimentos das barras (alongamentos). No caso em estudo (equação 5) o vetor {a} é o vetor
nulo.
Então
Para saber a natureza da solução, calcula-se o determinante Ll da matriz [C] dos coeficientes
em (6). Note-se que essa matriz tem a mesma ordem que a matriz de rigidez da estrutura vinculada,
isto é matriz de rigidez relativa a um vetor de deslocamentos que contem somente os deslocamentos
livres, eliminados os deslocamentos correspondentes a valores prescritos (nulos!) nos apoios.
Conforme é sabido, da álgebra linear, tem-se as duas situações:
Ll =O Solução é possível; poderão ocorrer os deslocamentos dos nós, sem modificação dos
comprimentos das barras. Neste caso a estrutura, geometricamente determinada, é caso excepcional.
2.3-
Por conveniência, apresenta-se o caso mais simples de duas barras e um nó, figura 1.
Usando a equação (4) para cada uma das duas barras (AI e Bl) e já descartando dxA, dyA,
d.'ís, dy8 que são nulos, tem-se
(7)
(8)
(9)
isto é, quando esse determinante for nulo, existirá solução não nula, o que significa que a estrutura é
geometricamente determinada, porém permitirá ocorrência de movimentos infinitesimais de seus
nós, sem alteração dos comprimentos das barras. É o caso que se convencionou chamar de
excepcional. Logo em seguida, analisar-se-á, de maneira sugestiva, essa situação com mais
detalhes.
(10)
(ll)
o que significa que não poderão ocorrer movimentos infinitesimais nos nós sem alterar os
comprimentos das barras. Então, a treliça será geometricamente determinada, sem ser caso
excepcional.
Este caso básico permite algumas demonstrações muito sugestivas. Uma delas consiste em
fazer uso da seguinte situação, conforme a figura 2, com três pontos alinhados A, 1 e B,
correspondentes às extremidades de duas barras simples de treliça AI e JB.
É fácil verificar que
Então
(12)
8
O B
A X
Outra maneira muito cômoda de demonstrar esses fatos, usando uma abordagenz alternativa
e muito ilustrativa, é apresentada em seguida para este caso básico.
Sabe-se que o dobro da área S do triângulo AB I é dado pelo valor do seguinte determinante
(conforme dedução a partir da definição do produto vetorial de dois vetores)
XA YA 1 (13)
2S = xs YB 1
Xj YI 1
XA v
'.-i 1 (XA -x1 ) (}'A- }'I) o (14)
xs YB 1 (xs -x1 ) ( Ys- Y1) o =1x
I(xA- Xf) (vA- YI) I
(x3 -x1 ) (ys-J'I)
Xj YI 1 Xj YI 1
Pode ocorrer caso em que os pontos sejam quase alinhados. Nessa situação a matriz dos coeficientes
será mal-condicionada (determinante com valor muito pequeno).
Considere-se uma treliça simples isolada dos apoios. A treliça isolada mais elementar que se
pode ter é formada por três nós e três barras, constituindo um triângulo. Novos nós poderão
aparecer com o uso de duas novas barras para cada um. No que se refere somente à geometria, a
treliça assim construída, com agrupamentos triangulares, terá comportamento global como se fosse
uma chapa rígida (estrutura bidimensional com rigidez infinita segundo o seu plano e rigidez
desprezível a ações fora desse plano).
Para essa treliça ser geometricamente determinada a equação (1) passa a ser
b = 2n-3 (15)
porque três é o número mínimo de barras necessárias para eliminar os movimentos de corpo rígido
de um plano (chapa).
No caso plano, seriam justamente essas estruturas que teriam interesse para o estudo deste
trabalho. Elas seriam capazes de trabalhar sob a ação de qualquer carregamento, suportando
qualquer sistema plano de forças externas.
De forma dual, também poderia ser tratado o problema considerando-se sua natureza mecânica.
Suponha-se que se quisesse determinar se uma estrutura é estaticamente determinada (dual da geometricamente
determinada).
Utilizando-se a análise matricial de estruturas, monta-se a matriz de rigidez da treliça vinculada e determinam-se os
seus autovalores.
Com eles sabe-se se a matriz é singular (um ou mais autovalores nulos) ou mal-condicionada (um, ou mais, autovalores
muito pequenos em relação aos demais). O caso de matriz singular pode indicar situação de estrutura geometricamente
determinada, porém como caso excepcionaL
Aliás, com a determinação dos autovalores, pode-se, além da identificação da eventual singularidade, ou mau-
condicionamento das matrizes de rigidez ou cinemática, determinar o posto de cada uma delas, Pellegrino [1].
Isto interessaria para saber qual o número de mecanismos diferentes que dela fazem parte.
3- Treliças tridimensionais
3.1 -Determinação geométrica
Um estudo semelhante ao que aqui se apresenta foi feito de forma sistemática e exaustiva
por Pellegrino [l]. Esse autor, porém, tratou do estudo das estruturas geometricamente
indeterminadas, sem a intenção explícita de pretender transformá-las em estruturas
geometricamente determinadas. O seu estudo pode ser utilizado para comprovar o que se analisa no
presente trabalho.
Neste trabalho a intenção é mostrar qual o remédjo para livrar aquelas estruturas
geometricamente indeterminadas do inconveniente de apresentarem possibilidades (indesejadas às
vezes) de deslocamentos do tipo mecanismo, independentemente do número de apoios ou do tipo de
solicitação ou de prescrição de deslocamentos nodais.
Descobriu-se que esse remédio é muito barato e na maioria dos casos da prática significa
adicionar apenas uma barra de treliça à estrutura original, geometricamente indeterminada, para
passar a ter estrutura geometricamente determinada.
10
b =3n (16)
b = 3n-6 (17)
por ser seis o número mínimo de barras vinculares a usar para eliminar os movimentos de corpo
rígido de um sólido no espaço tridimensional.
A expressão do comprimento da barra genérica ik será, agora,
(18)
(19)
Do mesmo modo que no caso bidimensional, esse sistema terá solução não nula, portanto
caracterizando caso excepcional, quando o determinante de [c] fosse nulo, isto é
{d}={O}
quando
Aqui, neste caso tridimensional, também é possível analisar de forma sugestiva o caso da
"treliça" tridimensional mais simples que é composta por três barras concorrentes em um nó 1 e
tendo cada uma das outras extremidades fixada à fundação nos pontos A, B, C. figura 3.
A equação (21) para este caso particular ficará com a forma matricial
(22)
Por outro lado, qualquer outra situação em que os pontos não estejam de acordo com o que
foi afirmado acima daria
12
e a única solução possível seria a solução trivial, correspondente, portanto, ao caso de treliça
geometricamente determinada, caso regular.
D c
:[8:]X
Planta
B
A
B
Perspectiva
c
b =3x5 -6 =9
Mas a estrutura tem oito barras. Logo, não é um STGD. De fato, considere-se essa estrutura
vinculada com número mínimo de seis barras. Fazendo uso da seguinte notação Nabc, onde N é o
nome do Nó e a, b ou c indicando, respectivamente, as direções paralelas a x, y ou z das barras
13
vinculares, seja Axyz, Dxz, Bz a vinculação para essa estrutura. Mesmo sem calcular o determinante
L1 da matriz [C] dessa estrutura pode-se perceber com facilidade que, com a vinculação imposta,
será possível modificar as distâncias segundo AC ou BD às custas de movimento do nó C, com
componentes segundo x, y, z, sem alterar comprimentos das barras.
Adicionando-se agora urna barra diagonal A C (ou BD), no plano x, y, fica claro que, mesmo
com um número mínimo de barras de apoios, conforme já escolhido acima, não mais será possível
ter o movimento do nó C. A treliça transformou-se em um STGD, conforme o cálculo de L1 poderá
confirmar (nesse caso será possível calcular L1 pois a matriz [c] terá ordem 9 x 9). Sobre essa
estrutura, tanto a indeterminada quanto a determinada geometricamente, vide considerações
adicionais no final deste texto.
17
18
16
15
Quanto às barras existentes tem-se b = 4 x 8 = 32. A utilização da equação (17) mostra que
o número de barras necessárias será: b = 3 x I3- 6 = 33.
Há, portanto, falta de uma barra.
Os únicos locais onde essa barra faltante poderá ser alojada são os das diagonais dos
quadrados dos banzos. Colocando-a no quadrado do banzo superior, ligando os pontos SI, S3, fica-
se com um núcleo formado por dois tetraedros (SI-S2-S3-I9) e (SI-S3-S4-I9) justapostos pela face
(SI-I9-S3). Esse núcleo é, pois, um sólido treliçado. A partir dele, todos os outros nós da treliça
poderão ser definidos com temos de barras, conforme indicado na tabela Tl. A treliça, agora
geometricamente determinada, fica com o aspecto da figura 7.
Tabela Tl - 2 x 2 módulos
·· ' · de locaçao
Se~quenc1a - dos nos a partir· do nuc
' leo
Nó Barras definidoras
n Sl-Il, 19-Il, S2-Il
12 S2-12, 19-12, S3-12
I3 S3-I3, 19-B, S4-I3
14 S4-14, 19-!4, Sl-I4
15 Il-15, S2-15, 12-15
16 12-16, S3-16, I3-I6
17 I3-I7, S4-17, 14-17
18 14-18, Sl-18, Il-18
b = 3n- 6 = 3x25- 6 = 69
Então, pareceria que existem três barras sobrando. Mas isso não significa que a estrutura seja
geometricamente superdeterminada, porque essas três barras, supostamente excedentes, não são
necessárias para definir um STGD, conforme se demonstra. Além disso, o fato mais importante é
que com uma análise mais cuidadosa, baseada no procedimento já descrito para construir um STGD,
15
do caso de 2 x 2 módulos, mostra-se que existe uma barra faltante em uma posição diagonal
horizontal de algum quadrado. Ela poderá ser colocada, por exemplo, na posição da diagonal do
quadrado inferior central, na figura 9_ Usando notação da numeração dos nós inferiores da figura 8,
essa barra adicional diagonal horizontal será designada como 11-13_
Com a adição dessa barra (11-13) forrna-se um núcleo no centro, composto por dois
tetraedros (11-12-13-SJ) e (11-13-14-SJ) conectados pela face comum (IJ-13-SJ). Esse núcleo é um
sólido treliçado. A partir dele, com procedimento semelhante ao do caso anterior de 2 x 2 módulos,
pode-se definir sucessivamente a posição de todos os outros nós do sólido treliçado, agora com 3 x
3 módulos.
A seqüência pode ser a que se indica na Tabela T2_
I15
Il3
Tabela T2 - 3 x 3 módulos
sequenc1a
. A de 1ocacao
• - dos nos a parti r do nuc
' 1eo
NO Barras definidoras
S2 S l-S2, Il -S2, 12-S2
S3 Sl-S3, I2-S3, 13-S3
S4 Sl-S4, I3-S4, 14-S4
S5 Sl-S5,14-S5,11-S5
S6 S2-S6, S3-S6, I2-S6
S7 S3-S7, S4-S7, I3-S7
S8 S4-S8, S5-S8, 14-S8
S9 S5-S9, S2-S9, Il-S9
15 12-15, S2-15, S6-15
16 12-16, S6-16, S3-16
17 13-17, S3-17, S7-I7
18 13-18, S7-18, S4-18
19 14-19, S4-19, S8-19
no 14-Il O, S8-Il O, S5-Il O
Ill Il-1ll, S5-Ill, S9-Ill
Il2 Il-112, S9-Il2, S2-Il2
Il3 15-!13, 16-Il3, S6-Il3
Il4 17-!14, 18-Il4, S7-I14
Il5 19-Il5, Il0-Il5, S8-Il5
Il6 Ill-Il6, I12-Il6, S9-Il6
16
Observe-se que as barras (I12-15), (16-17), (18-19) e (IJ0-111), não foram utilizadas durante o
processo de composição da treliça. Obviamente, por outras razões, por exemplo, construtivas, essas
barras de meio de lado do banzo inferior poderão ser re-inseridas na estrutura, que ficará sendo,
então, geometricamente superdeterrninada.
Com a adição da diagonal de quadrado, (11-13), e sem as barras (Il2-15), (16-17), (18-19),
(IJO-Ill), de meio de lado do banzo inferior, a treliça geometricamente determinada de 3 x 3
módulos fica com a situação da figura 9, com 69 barras existentes, obedecendo à condição (17).
Figura 9- 3 x 3 módulos
Configuração correta- Geometricamente determinada
(*) O sinal negativo do determinante decorre apenas da orientação das barras (definida pela ordem em que os pontos
nodais da treliça são numerados). O valor bastante grande desse número deve-se ao íàto de se ter usado em como
unidade de comprimento.
4- Conclusões
Mostrou-se que uma treliça tridimensional geometricamente determinada e com apenas seis
barras vinculares não exibirá movimentos do tipo mecanismo (caso regular), quando obedecer à
relação b =3n-6 e apresentar matriz [C] com determinante não nulo. Utilizando essa conclusão
17
básica foi possível mostrar que, por exemplo, o caso da treliça tridimensional do tipo quadrado-
sobre-quadrado, com 3 x 3 módulos, somente será caso regular quando tiver mais uma barra
localizada na posição da diagonal horizontal de um dos quadrados do banzo inferior (confronte
última linha da Tabela T3). Na realidade, essa diagonal poderá estar em qualquer um dos nove
quadrados dos banzas. Mostrou-se ainda o procedimento completo de formação dessa estrutura, a
partir de módulo básico, por si só geometricamente determinado, constituído por dois tetraedros
unidos por uma face comum. Essa conclusão pode ser estendida para os casos de treliças desse tipo
que tenham m x m módulos no banzo inferior. Em outros casos, m x n, m diferente de n, também
será possível descobrir onde acrescentar barras para tomar a estrutura geometricamente
determinada. Chama-se atenção, por exemplo, para o caso de treliças 1 x n, que são assim montadas
como partes a erigir em primeiro lugar, em certas posições da edificação, e que servirão de apoio
para a montagem do restante da estrutura. Essas treliças 1 x n precisariam de barras diagonais
(mesmo que temporárias) nos banzas onde existem quadrados consecutivos, porque não são
geometricamente determinadas. Basta utilizar a equação ( 17) para confirmar esse fato. Finalmente
esclarece-se que o uso do valor do determinante, para avaliar se uma treliça é caso regular, admite, a
priori, que ela seja geometricamente determinada ou que, pelo menos, a condição (17) está
respeitada. Isso porque, quando a treliça não respeitar à condição (17), a matriz [C] não será
quadrada. Por isso, embora mais dispendiosa, a versão dual que calcula os autovalores da matriz de
rigidez da estrutura, para determinar se ela é geometricamente determinada ou não, poderá ser
preferível, por generalidade.
Havendo apenas oito barras, a ordem da matriz [C] será 8 x 9. Sendo matriz retangular não
se pode calcular o seu determinante. Como se sabe da álgebra linear, nessa situação, o sistema de
equações homogêneas (equação (21 )) terá infinitas soluções não nulas, confirmando que a estrutura
terá comp01tamento de mecanismo, não sendo, portanto um STGD.
Entretanto, acrescentando-se apenas mais uma barra vincular, Cz, não será difícil, neste
caso, perceber que a estrutura então poderá receber qualquer carregamento. Basta verificar que a
vinculação segundo z retira mais uma das componentes do vetor {d} que agora ficará com oito
componentes {d~: 8 ,c(v 8 ,d~:c.c~vc.c~vD,c(v 1 ,dy 1 ,dz 1 }'. Nesse caso a matriz [c] terá ordem 8 x 8 e, sendo
quadrada, terá valor para o seu determinante. Esse valor deverá ser diferente de zero, uma vez que
não há possibilidade de ocorrência de movimentos de mecanismo, como a seguir se demonstra.
Como os quatro nós da base quadrada estão com vinculação segundo z, não poderão sair do
plano ABCD. Ora, se esse impedimento existe, não será mais possível alterar os comprimentos das
distâncias diagonais AC ou BD, a não ser com deformações nas barras.
Utilizando-se a mesma notação da figura 4, demonstra-se que nessa estrutura, agora também
com a vinculação adicional Cz, não poderão ocorrer deslocamentos nos nós que ainda mantêm
liberdades a não ser com ocorrência de deformações das barras. Nesse caso, como já é sabido, o
sistema de equações (21) somente terá solução nula, isto é o determinante do sistema será diferente
de zero. A demonstração, na verdade, é apenas um exercício de utilização da teoria exposta.
18
Em lugar de montar explicitamente a matriz [C] completa, de ordem 8 x 8, uma vez que
com a vinculação imposta tem-se que {dx:A = cly 11 = dz 11 = dz 8 = dzc = dx: 0 = dz 0 =0}, pode-se considerar
separadamente cada uma de suas quatro primeiras linhas, correspondentes às barras AD, AB, DC e
BC da base piramidal quadrada e obter diretamente quatro dos valores incógnitos (nulos neste caso).
Posteriormente, monta-se o restante do sistema, que envolverá apenas os outros quatro valores
incógnitos além dos valores nulos já obtidos anteriormente ou provenientes das informações das
condições homogêneas do contorno.
Para a barra AD:
{x 0 - x 1 }ch 0 + {x 1 - x0 }dx:1 +
&'o- Y1 }c(vo +[vi - Yo }clyl +
{z D - Z I }dz D + {z I - Z D }dz I = 0
ou
19
Neste caso particular, em que o vértice 1 está no centro do quadrado da base e o sistema de
referência tem origem no nó A, pode-se simplificar a notação fazendo-se:
Esse valor permite concluir que a estrutura com sete barras vinculares, embora
intrinsecamente seja geometricamente indeterminada, não terá movimentos de mecanismo.
A introdução de uma vinculação adicional, Cz, teve efeito equivalente ao da existência de
uma barra diagonal adicional (AC, ou BD). A estrutura toma-se capaz de receber carregamentos.
Porém, intrinsecamente, continua sendo geometricamente indeterminada quando se considerar
apenas o mínimo de seis barras vinculares.
Estes comentários finais explicam também porque treliças com as configurações usuais
(figuras 5 e 8) têm sido utilizadas na prática da engenharia construtiva, porém com barras vinculares
em número maior do que o mínimo que seria necessário. Todavia, segundo este trabalho, tais
estruturas levam consigo o "defeito conceitual" intrínseco da indeterminação geométrica, pois
ruiriam caso ficassem apenas com seis barras vinculares!
5 - Referências
[l] Pellegrino S. & Calladine C.R., "Matrix analysis of statically and kinematically indeterminate
frameworks", Int. J. Solids Structures, vol. 22(4 ), pp. 409-428, 1986.
[2] Schiel, F. "Introdução à Resistência de Materiais", Harper & Row do Brasil, São Paulo, 1984.
6- Apêndice
6.1 - Definições
Barra de trelica - elemento estrutural destinado a ter solicitação axial por força normal,
exclusivamente. Neste trabalho será referida apenas como barra na maioria dos casos.
Nó - é o ponto onde se encontram exclusivamente barras de treliça. Corresponde à idealização de
uma articulação perfeita.
Trelica- Estrutura composta exclusivamente por barras e nós.
Chapa - É um elemento estrutural, composto por uma lâmina plana, com espessura pequena em
relação às dimensões no seu plano, com rigidez finita a ações (carregamentos, etc.) que tenham
resultante somente nesse plano.
Chapa treliçada- É uma idealização que considera uma treliça geometricamente determinada como
chapa, por exemplo, para fins de estudo de sua vinculação com uma outra estrutura.
20
Chapa terra - Também uma idealização, que considera, no caso plano, a terra (ou um corpo com
posição considerada geometricamente definida) como apoio para uma outra estrutura plana (chapa
ou treliça). Por conseqüência, a terra também será sólido que apóia estruturas tridimensionais.
Apoio fixo - Ponto de uma estrutura, de posição definida, que impedirá a ocorrência de duas
translações em um plano (da barra de treliça, da chapa, ou da chapa treliçada, no caso plano), ou de
três translações em direções distintas no espaço (no caso de sólido estrutural tridimensional).
Apoio móvel - Ponto de uma estrutura, que não poderá transladar segundo uma coordenada. No
caso de estrutura plana esse ponto poderá mover-se na direção ortogonal à da translação impedida.
No caso tridimensional esse ponto poderá transladar segundo duas outras direções ortogonais entre
si e à direção da translação impedida. O termo móvel indica a possibilidade restante de uma
translação em uma ou mais direções.
Tetraedro trelicado- Estrutura treliçada tridimensional equivalente ao tetraedro sólido. É a treliça
tridimensional geometricamente determinada mais simples.
Sólido treliçado -Estrutura treliçada tridimensional equivalente a um sólido real.