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REDE PERIÓDICA I
145
Figura 9.1. Estruturas de bandas eletrônicas em sólidos: (a) metal, (b) isolante e
(c) semicondutor, em que elétrons termicamente ativados podem
saltar através do gape.
Figura 9.2. Parábola de elétrons livres distorcida pela abertura de gapes de energia
em valores de k próximos às fronteiras da 1ª. zona de Brillouin.
146
9.2 O TEOREMA DE BLOCH(1)
As equações acima mostram que k (r ) tem a forma de uma onda plana
modulada por uma função que possui a periodicidade da rede.
Observando que
k (r + l ) = e i k ( r +l ) u k (r + l ) .
147
l F (r ) = F (r + l ) , (9.6)
l (r ) (r ) = (r + l ) (r + l )
= (r ) (r + l ) (9.7)
= (r ) l (r )
l l (r ) = l (r + l )
= (r + l + l ) = (r + l + l ) (9.8)
= l l (r )
A propriedade (9.7) nos garante que se (r ) for uma autofunção de H, ela
também o será de l , ou seja
l (r ) = (r + l ) = Cl (r ) , (9.9)
onde Cl é um número que pode ser complexo. Sem nenhuma perda de
generalidade, podemos escolher
Cl = e i k l , (9.10)
onde, em princípio, k é um vetor complexo qualquer.
Consideremos, então, a operação seguinte:
l l (r ) = l Cl (r ) = Cl Cl (r )
(9.11)
= e i k (l +l) (r )
148
algumas direções do cristal. Num sistema de dimensões práticas infinitas, este
tipo de solução não seria fisicamente admissível. Então, genericamente,
podemos escrever
l (r ) = (r + l ) = e i k l (r ) (9.12)
149
− i k (r ) = −i[e i k r u k (r )]
(9.15)
= k k (r ) − i e i k r u k (r )
No capítulo 11, mostraremos que a quantidade k - o momento linear de
um elétron livre - desempenha o papel do momento linear de um elétron de
Bloch em resposta à ação de um campo externo. Assim, chama-se k de
momento cristalino do elétron, em analogia com o momento cristalino q do
fônon.
2 2
− k (r ) + V (r ) k (r ) = Ek k (r ) , (9.2)
2m
onde o termo envolvendo o potencial periódico V (r ) é supostamente fraco
frente ao termo de energia cinética. A estratégia mais simples para resolver o
problema representado pela equação acima é tratá-lo como uma perturbação
ao Hamiltoniano de elétron livre,
150
2 2 (0)
( 0) (0 )
k
=− k = Ek(0) k(0) ,
2m
1 i
k r
k(0) = e k ,
V
2k 2
E (0 )
k
= .
2m
2
k V k'
E (k ) = Ek(0) + k V (r ) k + E (0) − E (0)
. (9.16)
k k k k
2
VG
E (k ) = Ek(0) + V0 + . (9.18)
G 0 Ek(0) − Ek(0−)G
151
VG
k (r ) =
(0)
k
1+
E (0) − E (0)
e iG r
, (9.19)
G 0 k k −G
152
Pode-se verificar que esta função de onda descreve um estado de Bloch,
pois pode ser escrita como
k (r ) = e i k r Ck − G e − i G r ,
G
2 2
Ck −G ' e i ( k −G ')r −
2m
+ V (r ) Ck−G ei ( k −G )r
G
(9.21)
= Ck −G ' e i ( k −G )r
E ( k )
C e i ( k −G )r
k −G
G
2 2
Ck −G ' e i ( k −G ')r −
2m
Ck−G ei ( k −G )r
G
=C
k −G '
e i ( k −G ')r
C
k −G
E (0 )
k −G
e i ( k −G )r
(9.22)
G
153
Ck −G ' e i ( k −G ')r E (k )
C e i ( k −G )r = C C E ( k ) .
k −G k −G k −G
(9.25)
G
154
VG = e ik r V e i ( k −G1 )r
1
V−G = e i ( k −G1 )r V e ik r
1
Por outro lado, o sistema de equações (9.28) tem soluções não triviais se o
determinante principal for nulo, isto é,
[ Ek(0) − E (k )] VG
1 =0 , (9.30)
VG [ Ek(0−)G − E (k )]
1 1
1
2
(
E (k ) = Ek(0−)G + Ek(0)
1
1
2
) (E (0 )
k −G1
− Ek(0) ) + 4V
2
G1
2
. (9.31)
Isto significa que os estados não perturbados originais, e i k r e e i ( k −G1 )r ,
com energias Ek(0 ) e Ek(0−)G , respectivamente, são misturados pela perturbação
1
dando origem a dois outros estados + e − com energias E+ e E–, dadas pela
equação (9.31).
Analisemos este resultado no limite k 0 . Nesta situação
( )
Ek(0−)G − Ek(0) VG , pois o potencial é supostamente fraco. Então, segundo a
1 1
G1 G1
E−( ) = EG(0) 2 − VG e E+ ( ) = EG(0)2 + VG . (9.32)
2 1 1
2 1 1
155
Isto significa que o estado − tem sua energia diminuída por VG se
1
Deve-se notar que, neste modelo simples, apenas dois termos foram
considerados na expansão do potencial periódico. Portanto, apenas dois
termos fazem parte da combinação linear que descreve a função de onda de
Bloch (9.20). Como resultado, apenas um gape, na fronteira da primeira zona
de Brillouin, é obtido. Porém muitos outros vetores da rede recíproca G
podem estar em condições de produzir difração de Laue nos elétrons de
Bloch. Isto significa que muitos termos podem ser necessários na expansão
da função de onda (9.20) para que um espectro de energia E (k ) realista seja
obtido através da resolução do sistema de equações acopladas (9.26).
Figura 9.3. Abertura dos gapes de energia pela perturbação periódica na fronteira
de zona de Brillouin.
− −
G
i 1x
−
G
−i 1 x
= CG1 2 e 2
+ C−G1 2 e 2
G G
(9.33)
+ +
i 1x
+
−i 1 x
= CG1 2 e + C−G1 2 e 2
2
156
Por outro lado, tomando a primeira equação em (9.28) e calculando-a no
ponto k = G1 / 2, obtemos:
E (0)
G1 2 − EG−1 2 CG−1 2 = VG1 C−−G1 2 , (9.34)
CG−1 2 = C −−G1 2
G1 G1
i x −i x G1
−
e 2 +e 2 = 2 cos( x) . (9.35)
2
CG+1 2 = −C −+G1 2 ,
o que significa que a equação (9.33) para + pode ser escrita como
G1 G1
i x −i x G1
+
e 2 −e 2 = 2 sen ( ), (9.36)
2
157
Figura 9.4. Representação esquemática das densidades de probabilidade relativas
aos estados 𝜓 − e 𝜓 + , correspondentes a vetores de onda sobre a
fronteira de zona de Brillouin e dados pelas equações (9.35) e (9.36),
respectivamente.
158
proibido no espectro de energias. Obviamente, para que esta condição seja
satisfeita é também necessário que o estado 𝑘⃗⃗ esteja ocupado por uma
partícula e que esta possa ser espalhada para o estado 𝑘⃗⃗ − 𝐺⃗ .
Temos, então, um dos resultados fundamentais da teoria dos elétrons de
Bloch quase livres: para alguns valores de energia não existem estados
eletrônicos permitidos. O espectro de energia pode apresentar gapes e os
níveis permitidos dividem-se em bandas. Podemos mostrar que existem 2N
orbitais independentes em cada banda de energia, onde N é o número de celas
unitárias do cristal. Assim, se cada átomo contribuir com um elétron de
valência para o gás de elétrons no sólido, a banda 𝜓 − da figura 9.3 estará
semipreenchida e o sistema terá um comportamento metálico, pois haverá
um nível de Fermi separando os estados ocupados dos desocupados para os
quais elétrons podem ser excitados com custo energético infinitesimal. No
entanto, se houver dois elétrons de valência por átomo, a banda 𝜓 − poderá
estar totalmente preenchida enquanto a banda superior permanece vazia. Se
assim for, o sistema mostrará um comportamento isolante, pois para
promover um elétron da banda inferior para estados da banda superior será
necessário fornecer ao menos a energia correspondente à largura do gape,
cujo valor geralmente supera ass energia térmicas usuais e as energias
disponíveis em campos elétricos ou magnéticos aplicados.
Notas biográficas:
(1) Felix Bloch (1905 – 1983). Físico suíço-norte americano que recebeu o prêmio
Nobel de Física de 1952, juntamente com Edward Purcell, por sua contribuição ao
estudo do magnetismo nuclear e desenvolvimento da ressonância nuclear
magnética (RMN); também se destacou na teoria eletrônica de sólidos e no estudo
do ferromagnetismo.
(2) Jean-Baptiste Joseph Fourier, ver nota na página 69.
Leitura sugerida:
C. Kittel – cap. 9
H. Alloul – cap. 3
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