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IMPEDÂNCIA EM SÉRIE DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

Prof. Dr. Felipe Mendes de Vasconcellos


E-mail: felipe.vasconcellos@professores.area1.edu.br
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0508094462424211
Sumário

1. Introdução
2. Parâmetros de Linhas de Transmissão
3. Resistência (R)
4. Indutância (L)
1. Introdução
Componentes de uma linha de transmissão:

(4)
condutores
cadeia de isoladores
(porcelana ou vidro)
(1)
estruturas de suporte (torres,
postes)
cabos pára-raios (cabos de (2) (3)
aço colocados no topo da
estrutura para proteção contra
raios)
1. Introdução

➢ Tipos de condutores
Material

Cobre, alumínio(∗), ligas

(∗)mais barato, mais leve, requer área da seção reta maior que o cobre para
as mesmas perdas

Blindados, nus

Aéreos, subterrâneos
1. Introdução

Condutores de alumínio (linhas aéreas):

Sigla (Inglês/Português) Significado (Inglês/Português)


AAC / CA all aluminum conductor (alumínio puro)
AAAC / AAAC all aluminum alloy conductor (liga de
alumínio pura)
ACSR / CAA aluminum conductor steel reinforced
(alumínio com alma de aço)
ACAR / ACAR aluminum conductor alloy reinforced
(alumínio com alma de liga de alumínio)
outros para aplicações especiais
1. Introdução
ACSR (alumínio com alma de aço): aço mais barato que alumínio, a
alma de aço o faz ser mais resistente à tração (admite lances maiores)
→ é o mais utilizado

https://www.alubar.net.br
1. Introdução
Cabos de cobre (linhas subterrâneas): sólidos ou encordoados.
Condutores isolados com papel impregnado em óleo. Existem outros
tipos de isolação
1. Introdução

Cabos ACCC (Aluminum Composite Conductor Core) - núcleo de


carbono envolvido por fibra de vidro. As fibras de carbono esticam
menos que o aço. A fibra de vidro desenvolve a corrosão típica que
ocorre no contato aço/alumınio

alumınio

alumınio

alma de aço composto


condutor ACCC ACSR tradicional condutor ACCC
1. Introdução

Características dos condutores ACCC:

Mais caro
Maior capacidade de corrente
Menor sag

Sag
1. Introdução

➢ Projeto de linhas de transmissão

Fatores elétricos:
Determinam o tipo de condutor, a área e o número de condutores por
fase, além do número de isoladores.

Esses fatores determinam os parâmetros da linha relacionados com o


modelo da linha
1. Introdução
2. Parâmetros das linhas de transmissão
Resistência (R )

Dissipação de potência ativa devido à passagem de corrente

Condutância (G )

Representação de correntes de fuga através dos isoladores e do efeito


corona (ocorre quando campos elétricos muito intensos na superfície do
condutor causam a ionização do ar, que se torna um conductor)

Depende das condições de operação da linha (umidade relativa do ar,


nível de poluição, etc.)

Seu efeito é em geral desprezado (sua contribuição no comportamento


geral de operação da linha é muito pequena)
2. Parâmetros das linhas de transmissão

Indutância (L)

Deve-se aos campos magnéticos criados pela passagem das correntes

Capacitância (C )

Deve-se aos campos elétricos: carga nos condutores por unidade de


diferença de potencial entre eles

Com base nessas grandezas que representam fenômenos físicos que


ocorrem na operação das linhas, pode-se obter um circuito equivalente
(modelo) para a mesma
2. Parâmetros das linhas de transmissão

Exemplo de circuito equivalente:

R X

Fonte G C G C Carga

Linha de transmissão
3. Resistência (R)

Representa a dissipação de potência ativa:

R =potênciadissipadanocondutor
I2ef

Resistência CC:

ρ − resistividade do material (Ω · m)
R0 = ρℓ ℓ − comprimento (m)
AΩ A− área da seção reta (m2)

Cobre recozido a 20◦: ρ = 1,77 × 10−8 Ω · m

Alum´ınio a 20◦: ρ = 2,83 × 10−8 Ω · m


3. Resistência (R)

ρ depende da temperatura → R0 varia com a temperatura (ρ


aumenta → R0 aumenta):

R12 =T +t2
+t1

em que a constante T depende do material:

234,5 cobre recozido com 100% de condutividade


T= cobre têmpera dura com 97,3% de condutividade
241,0 alum´ınio têmpera dura com 61% de condutividade
228,0
3. Resistência (R)

t2

t1

R1 R2 R

T
3. Resistência (R)

R0 aumenta de 1 a 2% para cabos torcidos (fios de alum´ınio torcidos,


p.ex. cabos ACSR)

Para se ter x metros de cabo, necessita-se de 1,01x a 1,02x metros


de fios para depois agrupá-los e torcê-los

Em corrente alternada a distribuição de corrente não é uniforme pela


seção reta do condutor → a corrente concentra-se na periferia do
condutor

“Área útil” para passagem da corrente diminui → RAC > R0 → efeito


pelicular (“skin effect”)
3. Resistência (R)

Exemplo
Um cabo AAAC Greeley (6201-T81) apresenta as seguintes caracter´ısticas
(dados de tabela):

resistência CC a 20◦ 0,07133 Ω/km


resistência CA a 50◦ 0,08202 Ω/km
coeficiente de variação com a temperatura (α) 0,00347◦C−1

Calcule o aumento percentual da resistência devido ao efeito pelicular,


considerando a seguinte equação para a variação da resistência em função
da temperatura:

R2 = R1 [1 + α (t2 − t1)]
3. Resistência (R)

Exemplo
A resistência CC a 50◦ é:

R500 =R200 [1 + α (50◦ − 20◦)]


= 0,07133 · [1 + 0,00347 · (50◦ − 20◦)] = 0,07876 Ω/km

A relação entre as resistências CA (dada) e CC (calculada) a 50◦ é:

RCA
50
=0,08202
R050 0,07876=1,0414

ou seja, o efeito pelicular faz com que a resistência CA aumente em 4,14%


4. Indutância (L)

Relacionada com os campos magnéticos produzidos pela passagem de


corrente pelo condutor → corrente produz campo magnético

⊗i

H
i H
4. Indutância (L)

Fluxo concatenado com uma corrente (λ): é aquele que enlaça a corrente
líquida

Fluxo concatenado externo ao condutor: a corrente produz um campo


magnético (φ). O fluxo externo concatenado com a corrente enlaça
toda a corrente, portanto:

fluxo magnético (φ)

⊗i
λ=φ
4. Indutância (L)
Fluxo concatenado interno ao condutor: o fluxo interno concatenado
com a corrente a uma distância x do centro do condutor de raio R é:

x
(x)2
λ R λ=φ
φ R
i

Assumindo densidade de corrente (distribuição de carga por área)


uniforme, a corrente enlaçada a uma distância x é proporcional à
correnteπxtotal.
2/πRAparece
2) portanto na expressão de λ a relação entre(
áreas
4. Indutância (L)
Fluxo concatenado em uma bobina:

⊗ i ⊗ i ⊗ i

φ φ φ

λ=3φ

i i

A bobina tem 3 espiras. Logo, o fluxo concatenado “enxerga” três


vezes a corrente i

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4. Indutância (L)
Lei de Faraday:
e =d
dtλ

Relação entre tensão e corrente para o indutor:

e =Ld
dti

Dividindo uma equação pela outra, obtém-se uma expressão para a


indutância:
L=d
diλ

Se o circuito magnético possui permeabilidade magnética constante:

L=λ ver (*)


iH
4.1. Indutância de um condutor

Deve-se calcular:

a indutância devido ao fluxo interno no condutor


a indutância devido ao fluxo externo ao condutor
a indutância total

Consideração: o condutor está isolado, isto é, outros condutores estão


muito afastados e os seus campos magnéticos não o afetam
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

Considere um condutor sólido pelo qual circula uma corrente i

Lei de Ampère:


Hdℓ=ic
c

“A intensidade de campo magnético H (A/m) ao longo de qualquer


contorno é igual à corrente que atravessa a área delimitada por este
contorno.”

Esta expressão é válida para CC ou CA (utilizando fasores neste caso)


4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno
Considere a seguinte situação (condutor visto de frente):

dℓ

dx x

Resolvendo a equação de Ampère:


H (2π x) =πx 2
πR2 i → H =x
2πR2 iA/m
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

Densidade de fluxo:

B = µr µ0 H Wb/m2

em que µ0 = 4π · 10−7 H/m é a permeabilidade do vácuo e µr é a


permeabilidade relativa do material
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

Considere o elemento tubular de espessura dx e comprimento ℓ:

dS = ℓdx
dS

dx H
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

O fluxo magnético é igual à densidade de fluxo B vezes a área da


seção transversal que o campo atravessa (H ⊥ dS ):

dφ = B dS Wb

Da figura tem-se dS = ℓdx e:

dφ = µrµoHℓdx Wb

O fluxo por unidade de comprimento do condutor é (dividindo por ℓ):

dφ = µrµoHdx Wb/m
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

O fluxo concatenado com a corrente é proporcional à área de raio x:

2
dλ=x
R2 dφ
2
=x
R2 µrµ0Hdx
2 x
=x idx
R2 µrµ0 2πR2
| {zH }

x3
=µrµ0
2πR4 idxWb/m
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

Integrando:

∫R x3 rµ0
λint = µrµ0
0 2πR4 idx=µ8πiWb/m

e independe do raio do condutor, dependendo somente do material e


da intensidade da corrente
4.1.1. Indutância devido ao fluxo interno

A indutância devido ao fluxo interno é dada por:

Lint =d = λint → Lint =µrµ0


8πH/m
i

(∗) considerando permeabilidade constante

eéconstante. Para materiaiscomo o alum´ınio, cobre, ar, água,


tem-se µr = 1 e:

Lint =1
2 ·10−7 H/m
4.1.2. Indutância devido ao fluxo externo
Considere a seguinte situação em que se deseja obter o fluxo
concatenado externo ao condutor:

x dx
i

φ
4.1.2. Indutância devido ao fluxo externo
A corrente i é totalmente enlaçada. Aplicando a Lei de Ampère:


Hdℓ=i
c

2πxH = i

H =i
2πx
Densidade de campo magnético:

= µ0H =µ0i
2πx
(∗) µr = 1 (ar)
4.1.2. Indutância devido ao fluxo externo

Fluxo magnético (lembrando do elemento tubular de comprimento ℓ e


espessura dx):

dφ = BdS = Bℓdx

Fluxo por unidade de comprimento:

dφ = Bdx =µ0i
2πxdx
O fluxo concatenado é igual ao fluxo pois o mesmo enlaça toda a
corrente uma vez:

dλ = dφ = Bdx =µ0i
2πxdx
4.1.2. Indutância devido ao fluxo externo
O fluxo concatenado externo deve ser calculado entre dois pontos
externos ao condutor:

P1
D1
x dx
i

D2

φ P2
4.1.2. Indutância devido ao fluxo externo

O fluxo entre dois pontos P1 e P2 quaisquer externos ao condutor é


obtido pela integração de d λ:

∫ D2
λext = λ12 = dλ
D1

em que D1 e D2 são as distâncias dos pontos ao condutor


(considera-se que r ≪ x). Logo:

∫ D2 µ0i dx (D2)
λ12 = = µ0i Wb/m
D1 2π x 2πln D1
4.1.2. Indutância devido ao fluxo externo

Indutância devido ao fluxo externo entre os dois pontos:

)
(D2 (D2)
= λ12 = µ0 = 2 · 10−7 ln H/m
i 2πln D1 D1

(∗) considerando permeabilidade constante


4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

Considere a linha monofásica:

r1 r2
i ⊙ ⊗ −i

Hipótese simplificadora:
r1,r2 ≪ D
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios
O fato da corrente no condutor 1 ser i e a corrente no condutor 2 ser
−i faz com que o cálculo de H para uma distância maior que a
distância entre os condutores seja nula, pois neste caso a corrente
total enlaçada será nula (itotal = i + (−i ) = 0):

0 ⊙ ⊗
0

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4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

Indutância externa entre os condutores produzida pelo condutor 1:

Uma linha de fluxo com raio maior ou igual a (D + r2) e com centro no
condutor 1 não estará concatenada com o circuito, não induzindo
portanto nenhuma tensão

Em outras palavras, a corrente enlaçada por esta linha de fluxo é nula,


uma vez que a corrente no condutor 2 é igual e de sentido oposto à do
condutor 1
Uma linha de fluxo externa ao condutor 1 e com raio menor ou igual a
(D − r2) envolve uma vez a corrente total
As linhas de fluxo com raios entre (D − r2) e (D + r2) cortam o
condutor 2 → envolvem uma fração da corrente do condutor 2 que
varia entre 0 e 1
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

Simplificações:

Admitir D ≫ r1, r2 → (D − r1) ≈ (D − r2) ≈ D


Considerar condutor 2 como um ponto, localizado a uma distância D
do centro do condutor 1

Então:

L1,ext =µ0
2πlnr1
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios
Indutância externa entre os condutores produzida pelo condutor 2
(lembrar a hipótese simplificadora r2 ≪ D e o condutor 1 é
representado por um ponto localizado no centro do condutor):

L2,ext =µ0
2πlnr2
Indutâncias internas: como considera-se que cada condutor “enxerga”
o outro como um ponto, o fluxo externo de um condutor não afeta o
fluxo interno do outro. Então:

L1,int =µrµ0 =1
2 ·10−7 H/m

L2,int =µrµ0 =1 2 ·10−7 H/m

4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

Indutância total devido ao condutor 1:

L1 = L1,int + L1,ext
(D)
= µrµ0+ µ0 2πln
8π r1
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios
Considerando que a permeabilidade relativa dos materiais mais
comuns das linhas (cobre, alum´ınio) é unitária e que
µo = 4π · 10−7 H/m:

)]
(D
L1 =µ0 [1
2π 4+ln r1
[ ( )
(D)]
= 2 · 10−7 · ln e1/4 + ln
r1
[ ( )]
= 2 · 10−7 · lne1/4D
r1
[ ( )]
= 2 · 10−7 · ln D
r1e−1/4
)
(D
= 2 · 10−7 ln H/m
r′1
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

A expressão anterior é semelhante à do fluxo externo, só que engloba


também o fluxo interno. Equivale, portanto, ao fluxo externo de um
condutor com raio:

r′1 =r1e−1/4 =0,7788r1

que é chamado de raio efetivo ou GMR - Geometric Mean Radius ou


RMG - Raio Médio Geométrico
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios
Indutância total devido ao condutor 2 - o procedimento é o mesmo
usado para o condutor 1, resultando em:

L2 = L2,int + L2,ext
) [ ( )]
(D D
= µrµ0+ µ0 2πln = 2 · 10−7 · ln
8π r2 r2e−1/4
)
(D
= 2 · 10−7 ln H/m
r′2

onde:

r′2 =r2e−1/4 =0,7788r2

é o raio efetivo ou GMR - Geometric Mean Radius do condutor 2


4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios
Indutância total - é a soma das indutâncias dos condutores 1 e 2:

L=L1 +L2
[ )] [ )]
(D (D
= 2 · 10−7 · ln + 2 · 10−7 · ln
[ r′1 )] r′2
(D2
= 2 · 10−7 · ln
r′1r2
[ ( )]
= 4 · 10−7 · ln D
√ H/m
r′1r2

a indutância depende da distância entre os fios, dos raios dos


condutores e do meio (µr e µ0 estão embutidos no termo 4 · 10−7)
a indutância independe da corrente
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

Se os condutores tiverem o mesmo raio:

r′1 =r2 =r′

e a indutância será:
)
(D (D)
L = 4 · 10−7 · ln = µ0 H/m
r′ π ·ln r′
4.2. Indutância de uma linha monofásica a dois fios

Exemplo - linha monofásica


Determine a indutância de uma linha monofásica cuja distância entre
condutores é de 1,5 m e o raio dos condutores é igual a 0,5 cm.

Os dois condutores têm mesmo raio. O raio efetivo (GMR) é:

r′ = 0,7788 · 0,5 · 10−2 = 0,0039 m

A indutância da linha vale:


( )
1,5
L = 4 · 10−7 · ln = 2,38 µH/m
0,0039
Estudo Dirigido

Livro Elementos de Análise de Sistemas de Potência – William


Stevenson
Capítulo 3
Referências Bibliográficas

1. STEVENSON, W. D. Elementos de Análise de


Sistemas de Potência. 2ª Ed. Editora McGraw-Hill
do Brasil, São Paulo,1986.
2. CAMARGO, C. C. B. Transmissão de Energia
Elétrica – Aspectos Fundamentais. 3ª Ed. Editora
UFSC, Florianópolis, 2006.
3. ZANETTA Jr., LUIZ CERA. Fundamentos de
Sistemas Elétricos de Potência. 1ª. Ed. Editora
Livraria da Física, São Paulo, 2005.

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