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Departamento de Física 3 de dezembro de 2007

Universidade Federal do Paraná

Circuitos elétricos com Corrente Alternada


Circuitos RLC série - Regime permanente
Joniel C. F. Alves1;

Departamento de Física, Universidade Federal do Paraná, entro Politécnico - Campus III - Jardim das Américas
Caixa Postal 19044, CEP: 81531-990 Curitiba/PR, Brasil
e-mail: jcfa06@fisica.ufpr.br

Resumo Os circuitos elétricos oscilantes estão em constante presença em nosso cotidiano, sendo talvez exemplo
mais presente, o fato de que corresponde ao que ocorre na prática na distribuição de tensão à população. Neste
experimento estudaremos alguns princípios básicos de circuitos que se aproximam ao que ocorre no exemplo
citado acima, em que geradores oscilantes fornecem tensões senoidais ou cossenoidais numa certa freqüência,
fazendo análises qualitativas e quantitativas da resposta dos circuitos à determinadas freqüências. Em particular,
estudaremos a ressonância num circuito RLC série em regime permanente senoidal, o qual tem grande aplicação
na recepção de sinais de TV ou rádio por exemplo.

Key words. impedância – reatância indutiva – reatância capacitiva – ressonância

1. Experimento 2. A tensão no capacitos, "C , tem uma diferença de fase


de 90 com relação à corrente no circuito, sendo que a
1.1. Objetivo corrente …ca na frente da tensão;
Nesta experiência será estudado a resposta da corrente 3. A tensão no indutor, "L está adiantada, com relação
no circuito RLC e da diferença de fase entre a corrente e à corrente, de 90 .
a tensão aplicada, quando o circuito é submetido a uma
ddp externa sob a forma de onda senoidal, e os efeitos de
ressonância em um circuito RLC. Usando
1
!0 = p (3)
LC
1.2. Material
freqüência de ressonância do circuito, e de…nindo
Gerador de função; osciloscópio digital; capacitores, indu- impedância,
tores e resistores; placa de conexão; cabos para conexão. "0
Z= (4)
i0
reatância capacitiva
1.3. Fundamentação
Utilizando a lei das malhas pra um circuito RLC, obtemos 1
XC = (5)
!C
di Q
Ri L =0 (1) reatância indutiva
dt C
XL = !L (6)
ou, derivando em relação ao tempo
e reatância total
d2 i di i d X = XL XC (7)
L +R + = (2)
dt2 dt C dt
onde os índices indicam reatância indutiva (L) e capacitiva
Como o circuito está em série a corrente que passa por
(C) respectivamente.
cada elemento é a mesma. Podemos estabelecer:
Resolvendo a equação diferencial 2, obtemos
1. A tensão no resistor, "R , está em fase com a corrente X
i no resistor, que é a corrente n circuito; tan = (8)
R
2 Joniel C. F. Alves: Circuito RLC série - Regime Permanente
p
Z= R2 + X 2 (9) enquanto isso, a impedância Z vale R e a tensão da fonte
é dada por
R X
cos e sin =
= (10) "0 = Zi0 = Ri0 (18)
Z Z
onde é a diferença de fase entre " (tensão da fonte) e i Observamos que dependendo dos valores de L=C e R, pode
(corrente). ocorrer que, na ressonância, as amplitudes das tensões no
capacitor e no indutor ("0;C e "0;L ) sejam maiores do que a
q própria amplitude da tensão da fonte ("0 ), pode ser, inclu-
X = XL XC =) Z = R2 + (XL XC )
2
(11) sive, maior que os valores máximos de operação tolerados
pelos elementos do circuito. Essa situação de operação,
"0 que pode dani…car os equipamentos, pode ser contornada
i=cos (!t + ) (12)
Z retirando-se o sistema da ressonância, por meio da alter-
Dessas expressões vemos que Z, no circuito de cor- ação de L ou C, ou também mantendo a ressonância, mas
rente alternada, faz o papel de resistência R em circuitos aumentando o valor de R. Cada opção depende do que se
de corrente contínua. Entretanto, é preciso lembrar que, deseja para a operação do circuito.
em geral, " e i não atingem os valores máximos ao mesmo Por …m, observamos que a ressonância nem sempre é
tempo, havendo entre eles uma diferença de fase dada pelo nociva. Um exemplo simples de aplicação onde se quer
ângulo . Considerando a equação 8 vemos que, quando ressonância, ocorre na recepção de sinais de Tv e rádio,
X > 0, o que correnponde a XL > XC , a tangente de por exemplo.
será negativa, indicando um ângulo negativo. Nesse caso,
observando a equação 12, veremos que a corrente i se 1.4. Procedimento experimental
atrasa com relação à tensão total ". Nesse caso, a tensão
total "0;L no indutor é maior que a tensão "0;C no capaci- 1.4.1. Circuito RC
tor, indicando um circuito com características indutivas. É Montamos o circuito conforme a …gura 1.4.1:
o caso por exemplo, de motores elétricos, nos quais há uma
grande carga resistiva, formada pelos …oo dos enrolamen-
tos, e também indutiva, por causa da indutância associada
aos próprios enrolamentos. Nesse caso, como XL > XC ,
usando as expressões explícitas para XL e XC , veremos
que a freqüência de operação é tal que ! > ! 0 , onde ! 0 é
a freqüência de ressonância.
No caso em que X < 0, ou seja, XL < XC 1 , vemos que
a tangende de é positiva, indicando um ângulo > 0.
Assim, o que se adianta agora é a corrente em relação à
tensão, e o circuto tem características capacitivas. Nesse
caso, a freqüência de operação é tal que ! < ! 0 .
Esquema de montagem experimental - Circuito RC
Quando X = 0, e o circuito está em ressonância, ! =
! 0 , e a tensão e corrente estão em fase. Nesse caso, XL = Monitoramos com o osciloscópio o sinal sobre o resistor e
XC , e a freqüência de operação de operação é dada por o capacitor. Os terminais de terra (terminais pretos) tanto
! = ! 0 . Além disso, os fasores que representam "L e "C se do gerador quanto do osciloscópio devem estar ligados no
anulam perfeitamente. As relações entre i0 e as amplitudes mesmo ponto. Mantivemos o terminal terra do gerador
das tensões indutiva e capacitiva são dadas por: de funções …xo na placa do circuito e depois conectamos
o cabo terra do osciloscópio a este terminal. Por causa
"0;L = XL i0 (13) desta restrição ( de mesmo terminal terra para ambos os
"0;C = XC i0 (14) equipamentos) haverá necessidade de se realizar a troca
de posição entre o capacitor e o resistor, e vice-versa, para
ou monitorar a diferença de potencial sobre cada um desses
"0;L = !Li0 (15) elementos do circuito.
1 O circuito foi montado utilizando um capacitor de
"0;C = i0 (16) 0; 1 F e um resistor de 4; 7 k .
!C
Alimentamos o circuito com o gerador de funções pro-
Na ressonância, ! = ! 0 , e por 3 gramado para gerar ondas senoidais. Com um dos canais
r do osciloscópio medimos a tensão total aplicada e o outro
L
"0;L = "0;C = i0 (17) para medir a tensão no resistor. O gerador foi ajustado
C para produzir uma tensão com freqüência aproximada de
1
Apesar de medida em ohms, como a resistência R, a reatân- 200 Hz.
cia X não é de fato uma resistência, já que não dissipa energia Utilizando a representação dos dois canais dos os-
e pode inclusive ser negativa. ciloscópio no modo V t, e medimos na tela, com ajuda
Joniel C. F. Alves: Circuito RLC série - Regime Permanente 3

dos cursores t1 e t2 , o intervalo de tempo ( t) entre as oscilatórios cuja amplitude decresce com o tempo. O in-
cristas das duas ondas. Depois disto, utilizando tervalo de tempo entre cada pico equivale a um período
de oscilação. Utilizando os cursosres podemos determinar
= f t360 (19) este período. Para garantir uma medida mais con…ável,
cosideramos o intervalo de tempo entre dois picos e dividi-
podemos obter a diferença de fase.
mos por dois, obtendo assim o período médio de oscilação,
Para diferentes valores de freqüência, repetimos as me-
lembrando que fn = T 1 , obtemos fn = 961; 6 Hz que é
didas e montamos a tabela 1.
a freqüência natual do circuito.
Ajustamos o gerador para um sinal senoidal, e vari-
Tabela 1. Diferença de fase entreas ondas amos a freqüência do sinal desde fn -200 Hz até fn +300
Hz. Também com os cursores medimos as amplitudes da
Freqüência t = t2 t1
Hz (ms) ( )
tensão sobre o resistor, o capacitor, e a difereça de fase
50 4,4 79,2 entre a onda da tensão aplicada ao circuito e a onda da
100 1,680 60,48 tensão sobre o resistor. Ajustamos a tensão fornecida pela
150 0,960 51,84 fonte para 1 V.
200 0,620 44,64 Com isto montamos a tabela 2:
400 0,210 30,24
600 0,100 21,6
800 0,040 11,52 Tabela 2. Resposta do circuito RLC usando um resistor de
1000 0,026 9,36 22
1500 40,010 5,4
Freqüência VR VC Vt t
Hz (mV ) (mV ) (mV ) ( s)
760 76,60 968,80 306,2 220
811,6 89,06 1094 262 152
1.4.2. Circuito RLC - Regime permanente 861,6 98,44 1156 200 100
911,6 104,7 1156 178,1 30
Montamos o circuito conforme a …gura 1.4.2 936,6 101,0 1078 193 -70
961,6 98,4 984,4 215,6 -112
986,6 93,75 921,9 243,7 -128
1011,6 86,25 859,4 259,4 -148
1061,6 74,37 712,0 293,8 -176
1111,6 65,62 581 325 -160
1161,6 57,81 512,5 337,5 -160
1211,6 53,13 425 356,3 -152
1261,6 48,44 375 362,5 -164

e por 19 a tabela 3:

Tabela 3. Diferença de fase e corrente para RLC com R = 22

Esquema de montagem experimental - Circuito RLC I


série ( ) (A)
60,19 0,00348
44,41 0,00405
Os terminais de terra (terminais pretos) tanto do ger- 31,02 0,00447
ador quanto do osciloscópio devem estar ligados no mesmo 9,85 0,00476
ponto. Mantivemos o terminal terra do gerador de funções -23,60 0,00459
…xo na placa do circuito e depois conectamos o cabo terra -38,77 0,00447
do osciloscópio a este terminal. O circuito foi montado -45,46 0,00426
utilizando um capacitor de 680 nF e um resistor de 22 e -53,90 0,00392
-67,26 0,00338
uma bobina de 1200 espiras. Ajustamos a saída do gerador
-64,03 0,00298
para uma onda quadrada com freqüência aproximada de -66,91 0,00263
20 Hz. -66,30 0,00242
Um dos grá…cos que aparecem na tela corresponde à -74,48 0,00220
variação da diferença de potencial em função do tempo
sobre o resistor. Como temos VR = RI com R constante,
o comportamento da corrente no circuito é idêntico ao Repetimos o procedimento para um resistor de 220
de VR . Neste grá…co, observamos uma seqüência de sinais e obtemos as tabelas 4 e 5:
4 Joniel C. F. Alves: Circuito RLC série - Regime Permanente

Tabela 4. Resposta do circuito RLC usando um resistor de


220

Freqüência VR VC Vt t
Hz (mV ) (mV ) (mV ) ( s)
606,5 562,5 953,1 781,2 150
656,5 606,5 953,1 765,6 110
706,5 1,609 937,0 750,0 90
756,5 1,687 906,3 718,7 50
781,5 681,2 906,3 718,7 40
806,5 693,7 890,6 718,7 30
831,5 700,0 875,0 718,7 10
856,5 700,0 859,4 703,1 10
906,5 700,0 812,5 703,1 0
956,5 700,0 765,6 703,1 -20
1006,5 681,3 734,4 703,1 -36
1056,5 668,8 675,0 703,1 -40
1106,5 656,2 631,2 718,7 -56

Tabela 5. Diferença de fase e corrente para RLC com R =


220 Figura 1. Variação de tan em função do inverso da freqüên-
cia
I
( ) (A)
32,75 0,00256
26,00 0,00275
22,89 0,00731 que dá um desvio de 25% dos valores obtidos em relação
13,62 0,00767 ao valor nominal. Observamos que neste caso, a reatância
11,25 0,00310 capacitiva é inversamente proporcional à freqüência como
8,71 0,00315 previsto por em 5, e desde que > 0 o circuito tem car-
3,35 0,00318 acterísticas capacitivas (como não podia deixar de ser) e
3,44 0,00318
a corrente está adiantada em relação à tensão.
0 0,00318
-6,89 0,00310
-13,04 0,00310 2.2. Circuito RLC série
-15,21 0,00304
-22,31 0,00298 Plotando a corrente em função da freqüência 2.2 para
R1 = 22 e R2 = 220 , dados nas tabelas de 2 a 5
:
2. Análise dos dados
2.1. Circuito RC
Com os dados da tabela 1 plotamos o grá…co 1 de tan
em função de f 1 obtendo:
A partir de 5 e 8, podemos escrever
XC 1
tan = =
R !CR
1 1
tan = f (20)
2 CR
que nos mostra uma relação linear entre tan e f 1
. A
partir dos pontos experimentais, ajustamos a reta:
1
tan = (253; 644) f 0; 1837 (21)

onde, por simples analogia com 20 observamos que o co-


e…cinte linear encontrado em 21 está associado a possíveis
erros de medidas e, de acordo com os valores nominais dos
componentes do circuito: Corrente em função da freqüência (normalizada pela
freqüência de ressonância) num circuito RLC série para
2 RC = 2 (4; 7 k ) (0; 1 F) = 0; 00295 F R1 e R2 = 10R1
Joniel C. F. Alves: Circuito RLC série - Regime Permanente 5

As curvas obtidas tem a forma de uma gaussiana com ajustados manualmente no osciloscópio. Contudo, quali-
pico na freqüência de ressonância do circuito. Como a cor- tativamente, não há perda de informação no comporta-
rente na ressonância é limitada apenas pela resistência, mento da corrente com relação à freqüência. O comporta-
uma variação na resistência é acompanhada de uma vari- mento da diferença de fase também condiz com a previsão
ação no valor de pico da curva de resposta de corrente. teórica, onde o circuito passa da característica capacitiva
Este efeito é visível no grá…co 2.2, e indica que, quanto para indutiva (dada a relação das reatâncias em função da
menores são as resistências do circuito, mais pontiaguda é freqüência em 5 e 6). Também, salvo o desvio na deter-
a curva de resposta. minação de f0 ;é possível determinar as características da
Com os dados coletados também é possível plotar ressonância num circuito RLC série, qual sejam ! = ! 0 ,
xf =f0 para as duas resistências 2.2: = 0, X = 0, Z = R e i(t) = imax .
Em suma, este experimento serviu como bom exem-
pli…cador do estudo de circuitos com corrente alternada,
podendo ser otimizado adotando-se outros métodos para
certas medidas e/ou abrindo mão de mais critério e cautela
na coleta dos dados.

Referências
Bartkowiak, R. A. 1995,Circuitos Elétricos, Makron Books do
Brasil Ed. Ltda
Halliday, D. & Resnick, R., Física, 1966, Ao livro técnico S.A.
e Editora da Universidade de São Paulo
Eisberg, R.M. & Lerner, L., Fundamentos de Física Vol. II e
III, 1981, McGraw-Hill
Nussenzveig, H. M.,Física Básica Vol. 3, 1998, Ed. Edgard
Blücher Ltda

Variação da diferença de fase com a freqüência

Observamos que a diferença de fase diminui com o au-


mento da freqüência, passa por zero e começa a crescer em
módulo, e também é notável que a curva é menos acentu-
ada para a resistência menor, sendo praticamente linear.
Ambas as curvas são dadas por:
XL XC
= arctan (22)
R
Além disso, próximo à freqüência de ressonância (f =
f0 = 1), as duas curvas tendem a zero.

3. Conclusões
Apesar da aparente discrepância quantitativa, foi possível
a partir deste experimento con…rmar qualitativamente os
fenômenos pertinentes aos circuitos RC e RLC.
Para o circuito RC por exemplo, foi possível observar
o comportamento previsto pela teoria (equação 20) para
a qual, a reatância capacitiva é inversamente proporcional
à freqüência como dado por 5, e o fato de termos > 0,
o que demostra que a corrente está adiantada em relação
à tensão.
No circuito RLC, observando os efeitos da resistência
para a ressonância (ver 2.2), temos uma boa concordância
com a previsão teórica. O desvio dos picos visto no grá…co
2.2, se deve, possívelmente à um erro na determinação da
freqüência natural do circuito, uma vez que os cursores são

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