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2.

5 Característica da tensão nos terminais do gerador de corrente alternada


A tensão de saída de um gerador de corrente alternada (CA) é semelhante à de um gerador de
corrente contínua (CC).

No gerador CC, há duas causas para a queda de tensão interna:

1) a resistência da armadura; e
2) a reação da armadura.

A Fig 2.27 e a Eq. (2.61) indicam que há agora três causas para a “queda” de tensão interna no
gerador CA, que são:

1) a resistência da armadura;
2) a reatância da armadura; e
3) a reação da armadura.

Fig.2.27: A tensão nos terminais de saída do gerador de corrente alternada é afectada por três
factores (Ra, Xa e XRA)

Vg  Vt  Ra . I L  X a . I L  X RA . I L (2.61)

Além disso, para um alternador, enquanto os dois primeiros factores sempre tendem a reduzir
a tensão, o terceiro (reação da armadura) pode tender a diminuí-la ou aumentá-la. Assim, a
regulação de tensão do gerador de corrente alternada (CA) difere da do gerador de corrente
continua (CC), em dois aspectos importantes:

(1) há uma queda de tensão devida à reatância da armadura; e


(2) o efeito de reação da armadura (dependendo do factor de potência da carga) pode
produzir um aumento da tensão gerada que tende a tornar mais elevada a tensão nos
terminais.

A variação de tensão causada pela reacção da armadura depende do fator de potência da carga,
se é indutivo ou capacitivo. A reação da armadura afecta a intensidade do campo de corrente
continua (CC) de modo que, quando a carga é indutiva ela enfraquece o campo, e quando é
capacitiva ela fortalece o campo aumentando Vg.

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2.6 Regulação de tensão de alternador de Corrente alternada (CA)

A regulação de tensão de um gerador de corrente alternada (CA) é o aumento percentual na


tensão dos terminais à medida que a carga vai sendo reduzida, desde o valor da corrente de
carga máxima até zero, mantendo-se a velocidade e a excitação do campo constante, ou:

U 0  U nom
RT (%)  x100% (2.62)
U nom

onde:
RT(%) = regulação de tensão percentual;
U0 = Tensão em vazio; e
Unom = Tensão nominal.
Quando a tensão de saída não é constante, ocorre um pisca-pisca nas lâmpadas e a televisão e
outros equipamentos electrónicos não funcionam corretamente. Neste caso, são necessários
aparelhos de regulação de tensão automáticos para minimizar as quedas de tensão na saída
aumentando-se a corrente de campo. A regulação da tensão é geralmente uma função externa
do gerador.

2.6.1 Regulador de Tensão Automático

O regulador de tensão é electrónico e automático. Tem por finalidade monitorar a tensão


terminal do gerador e mantê-la constante no valor ajustado, independentemente das variações
da carga. Ele rectifica a tensão trifásica proveniente da bobina auxiliar, da excitatriz auxiliar,
de TAP's da armadura da máquina principal ou até da rede, levando-a através de um transistor
de potência ao enrolamento de campo da excitatriz principal. Possui também circuitos de
ajustes e proteções para assegurar um controle confiável do gerador.

Fig.2.28: Esquema de ligação do regulador de tensão sendo alimentado pela bobina auxiliar.

Como o tempo de regulagem entende-se por tempo transcorrido desde o início de uma queda
de tensão até o momento em que a tensão volta ao intervalo de tolerância estacionária (por
exemplo ± 0,5%) e permanece estável (“ta”, ver Fig. 2.29). O tempo exacto de regulagem
depende na prática de inúmeros factores, portanto só pode ser indicado aproximadamente.

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Fig. 2.29: Intervalo de tolerância e tempo de regulagem aproximado para excitação com e
sem escovas.

2.7 Geradores de corrente alternada com excitação sem escovas

2.7.1 Tipos de excitação do campo (com escovas ou sem escovas)

Os enrolamentos de campo são ligados em série ou mista. Em ambos os casos, os terminais


extremos dos enrolamentos são ligados geralmente a anéis coletores montados no eixo do rotor.
Independentemente do tipo de campo do rotor, usa-se a excitação independente:

 antigamente proporcionada por um gerador de corrente contínua (CC); e

 actualmente proporcionada por um gerador de corrente alternada (CA),

Os dois tipos de excitação apresentados acima têm a função de excitatriz.

Em grandes geradores de corrente alternada (CA) a excitatriz é montada no mesmo eixo do


gerador principal e fornecem corrente contínua para a excitação do campo da máquina
principal.

Entretanto, em alguns geradores de corrente alternada (CA) muito pequenos, o campo do rotor
é produzido por um ímã permanente.

Basicamente, podemos ter três situações para a excitação do enrolamento de campo nos
geradores síncronos CA de armadura estacionária e campo rotativo, que são:

1. Gerador de corrente continua (CC) montado no próprio eixo do rotor da máquina


principal (excitação com escovas e comutador);

2. Conversor estático CA/CC ou Retificador (excitação com escovas e anéis


coletores);

3. Gerador de corrente alternada (CA), de armadura rotativa e campo estacionário,


montado no próprio eixo do rotor da máquina principal (excitação sem escovas e
com ponte de díodos, sistema “Brushless”);

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2.7.2 Geradores com Excitação por Escovas

Nestes geradores o campo no rotor é alimentado em corrente contínua através das escovas e
anéis coletores e a tensão alternada de saída, para alimentação das cargas, é retirada do estator
(armadura). Neste sistema normalmente o campo é alimentado por uma excitatriz chamada de
excitatriz estática. A tensão de saída do gerador é mantida constante dentro de suas
características nominais através do regulador de tensão, que verifica constantemente a tensão
de saída e actua na excitatriz estática.

Quando accionado na rotação nominal e com a excitatriz desconectada do rotor, o processo de


escorvamento inicia-se pela pequena tensão residual do gerador.

Algumas vantagens e desvantagens desse tipo de excitação:

VANTAGENS: Menor tempo de resposta “ta” na recuperação de tensão (aplicação direta de


corrente contínua no rotor).

DESVANTAGENS: Exige manutenção periódica no conjunto escovas e porta escovas. Não é


aconselhável a utilização em cargas sensíveis e de telecomunicações, devido à possibilidade de
gerar rádio interferência em função do contacto das escovas e anéis (possível faiscamento). Por
isso também não pode ser utilizado em atmosferas explosivas.

Fig. 2.30: Excitação do campo realizada através de escovas e excitatriz estática (conversor CA/CC).

2.7.3 Geradores com Excitação sem Escovas (Brushless)

Nestes geradores a corrente contínua para alimentação do campo é obtida sem a utilização de
escovas e anéis coletores, utilizando somente indução magnética. Para isso o gerador possui
um componente chamado excitatriz principal, com armadura rotativa e campo estacionário. A
armadura dessa excitatriz é montada no próprio eixo do gerador. Possui também um conjunto
de diodos girantes (circuito retificador), também montado no eixo do gerador, para alimentação
do campo principal em corrente contínua. Este conjunto de diodos recebe tensão alternada do
rotor da excitatriz principal (armadura da excitatriz), tensão esta induzida pelo estator da
excitatriz principal (campo da excitatriz), que é alimentado em corrente contínua proveniente
do regulador de tensão (automático). Um esquema dos componentes montados no rotor de uma
máquina com excitação brushless é mostrado na Fig. 2.31.

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Fig. 2.31: Esquema de excitação sem escovas “Brushless” (componentes do rotor).

O regulador de tensão monitora constantemente a tensão de saída do gerador e actua no estator


da excitatriz. Com isso, mantém a tensão de saída do gerador constante. A tensão alternada de
saída do gerador, para alimentação das cargas, é retirada do seu estator principal (armadura)
(Fig. 2.32).

Fig. 2.32: A alimentação de potência do regulador de tensão é feita pela bobina auxiliary.

Nos geradores brushless, a potência para a excitação (alimentação do regulador de tensão) pode
ser obtida de diferentes maneiras, as quais definem o tipo de excitação da máquina. Esses tipos
de excitação podem ser das seguintes formas:

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 Alimentação através de bobina auxiliar (ver Fig. 2.32), um conjunto auxiliar de bobinas,
independente, alojado em algumas ranhuras do estator principal da máquina (armadura
principal).

Funciona como uma fonte de potência independente para o regulador de tensão, não sujeita aos
efeitos que acontecem no estator principal da máquina. O regulador recebe tensão alternada
dessa fonte e alimenta o campo da excitatriz principal com tensão retificada e regulada.

Em condições normais de operação, na bobina auxiliar é produzida uma tensão monofásica na


frequência nominal do gerador, sofrendo pequenas distorções na forma de onda dependendo
do tipo de carga (resistiva, indutiva ou capacitiva).

2.8. Comportamento do gerador em vazio e sob carga

Em vazio (com rotação constante), a tensão de armadura depende do fluxo magnético gerado
pelos pólos de excitação, ou ainda da corrente que circula pelo enrolamento de campo (rotor).
Isto porque o estator não é percorrido por corrente, portanto é nula a reação da armadura, cujo
efeito é alterar o fluxo total.

A relação entre tensão gerada e a corrente de excitação chamamos de característica a vazio


(Fig. 2.33), onde podemos observar o estado de saturação da máquina.

Fig. 2.33: Característica a Vazio.

Em carga, a corrente que atravessa os condutores da armadura cria um campo magnético,


causando alterações na intensidade e distribuição do campo magnético principal. Esta alteração
depende:

 da corrente;

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 do cosφ; e
 das características da carga.

Abaixo são descritas as características de funcionamento do alternador para carga resistiva,


indutiva e capacitiva:

a) Carga puramente resistiva:

Se o gerador alimenta um circuito puramente resistivo, é gerado pela corrente de carga um


campo magnético próprio.

O campo magnético induzido produz dois pólos (gerador bipolar Fig. 2.34 (a)) defasados de
90º em atraso em relação aos pólos principais, e estes exercem sobre os pólos induzidos uma
força contrária ao movimento, gastando-se potência mecânica para se manter o rotor girando.

Fig. 2.34: Carga puramente resistiva.

O diagrama da fig. 2.34 (b) mostra a alteração do fluxo principal em vazio (Φo) em relação ao
fluxo de reacção da armadura (ΦR). A alteração de Φo é pequena, não produzindo uma variação
muito grande em relação ao fluxo resultante Φ. Devido a queda de tensão nos enrolamentos da
armadura será necessário aumentar a corrente de excitação para manter a tensão nominal (fig.
2.35.

Fig. 2.35: Variação da corrente de excitação para manter a tensão de armadura constante.

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b) Carga puramente indutiva:

Neste caso, a corrente de carga (I) está defasada em 90º em atraso em relação a tensão (E), e o
campo de reação da armadura (ΦR) estará consequentemente na mesma direção do campo
principal (Φo), mas em polaridade oposta. O efeito da carga indutiva é desmagnetizante (fig.
2.3.3.a e 2.3.3.b).

Fig. 2.36: Carga puramente indutiva.

As cargas indutivas armazenam energia no seu campo indutor e a devolvem totalmente ao


gerador, não exercendo nenhum conjugado frenante sobre o induzido (rotor). Neste caso, só
será necessário energia mecânica para compensar as perdas.

Devido ao efeito desmagnetizante será necessário um grande aumento da corrente de excitação


para se manter a tensão nominal (fig. 2.35).

Fig. 2.35: Variação da corrente de excitação para manter a tensão de armadura constante.

c) Carga puramente capacitiva:

A corrente de armadura (I) para uma carga puramente capacitiva está defasada de 90º,
adiantada, em relação à tensão (E). O campo de reação da armadura (ΦR) consequentemente
estará na mesma direção do campo principal (Φ) e com a mesma polaridade.

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O campo induzido, neste caso, tem um efeito magnetizante (fig. 2.38 (a) e 2.38 (b).

(a) (b)
Fig. 2.38: Carga puramente capacitiva.

As cargas capacitivas armazenam energia em seu campo eléctrico e a devolvem totalmente ao


gerador, não exercendo também, como nas cargas indutivas, nenhum conjugado frenante sobre
o induzido (rotor). Devido ao efeito magnetizante será necessário reduzir a corrente de
excitação para manter a tensão nominal (fig. 2.35).
Fig. .35: Variação da corrente de excitação para mater a tensão de armadura constante.

Fig. 2.35: Variação da corrente de excitação para manter a tensão de armadura constante

d) Cargas intermediárias:

Na prática, o que encontramos são cargas com desfasamento intermediário entre totalmente
indutiva ou capacitiva e resistiva. Nestes casos, o campo induzido pode ser decomposto em
dois campos, um transversal e outro desmagnetizante (indutiva) ou magnetizante (capacitiva).
Somente o campo transversal tem um efeito frenante, consumindo desta forma potência
mecânica da máquina accionante. O efeito magnetizante ou desmagnetizante é compensado
alterando-se a corrente de excitação.

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2.9. Reactâncias
A análise básica do desempenho transitório de máquinas síncronas é muito facilitada por uma
transformação linear de variáveis, na qual as três correntes de fase do estator ia, ib e ic são
substituídas por três componentes, a componente de eixo direto id, a componente de eixo em
quadratura iq, e uma componente monofásica io, conhecida como componente de seqüência
zero (eixo zero).
Para operação equilibrada em regime permanente (fig 2.5.1), io é nula (não sendo discutida,
portanto).

Fig. 2.39: Diagrama esquemático de uma síncrona.


O significado físico das componentes de eixo directo e em quadratura é o seguinte: A máquina
de pólos salientes tem uma direção preferencial de magnetização determinada pela saliência
dos pólos de campo. A permeância ao longo do eixo polar ou direto, é consideravelmente maior
do que ao longo do eixo interpolar ou quadratura.

Utilidade do conhecimento das reatâncias


Um circuito efetivo de rotor, no eixo direto, além do enrolamento de campo principal, é
formado pelas barras amortecedoras.
.
.
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Enrolamento amortecedor
Na maior parte das máquinas síncronas existe ainda um terceiro enrolamento colocado no rotor,
do tipo gaiola, semelhante ao das máquinas assíncronas. Este enrolamento destina-se a
amortecer oscilações de binário mecânico que provoquem quebras de sincronismo, e que
poderiam causar a saída de serviço da máquina uma vez que fora do sincronismo esta deixa de
produzir binário útil (motor ou gerador). Fora do sincronismo circularão correntes neste
enrolamento, à frequência de escorregamento, que pela lei de Lenz criam binário com sentido
oposto à variação, que tende a repor a situação de sincronismo. Este enrolamento amortecedor
possibilita ainda o arranque assíncrono de uma máquina síncrona, que de outra maneira não
possui binário de arranque.

Fig. 2.40: Pólo saliente de uma máquina com as barras do enrolamento amortecedor.

Utilidade do conhecimento das reatâncias


Considerando uma máquina operando inicialmente em vazio e um curto-circuito trifásico
súbito aparecendo em seus terminais, na figura abaixo, pode ser observada uma onda de
corrente de estator em curto-circuito tal como pode ser obtida num osciloscópio (Fig. 2.41).

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Fig. 2.41: Corrente de Armadura Simétrica em Curto-Circuito em uma MS.

Reatância subtransitória (Xd”)

É o valor de reatância da máquina correspondente a corrente que circula na armadura durante


os primeiros ciclos, conforme pode ser visto na Fig. 2.41 (Período Subtransitório). Seu valor
pode ser obtido dividindo-se o valor da tensão da armadura antes da falta pela corrente no início
da falta, para carga aplicada repentinamente e à freqüência nominal.

(2.63)
onde:
E = Valor eficaz da tensão fase-neutro nos terminais do gerador síncrono, antes do
Curtocircuito;
I'' = Valor eficaz da corrente de curto-circuito do período sub-transitório em regime
permanente. Seu valor é dado por:

(2.64)

.
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Reatância transitória (Xd’)
É o valor de reatância da máquina correspondente à corrente que circula na armadura após o
período sub-transitório do curto-circuito, perdurando por um número maior de ciclos (maior
tempo).
Seu valor pode ser obtido dividindo-se a tensão na armadura correspondente ao início do
período transitório pela respectiva corrente, nas mesmas condições de carga.

(2.65)
onde:
E = Valor eficaz da tensão fase-neutro nos terminais do gerador síncrono, antes do
Curtocircuito;

I' = Valor eficaz da corrente de curto-circuito do período transitório considerado em regime


permanente. Seu valor é dado por:

(2.66)
Reatância síncrona (Xd)
É o valor da reatância da máquina correspondente a corrente de regime permanente do curto-
circuito, ou seja, após o término do período transitório do curto. Seu valor pode ser obtido pela
tensão nos terminais da armadura ao final do período transitório do curto dividido pela
respectiva corrente.

(2.67)
onde:
E = Valor eficaz da tensão fase-neutro nos terminais do gerador síncrono, antes do
curtocircuito.

I = Valor eficaz da corrente de curto-circuito em regime permanente. Seu valor é dado por:

(2.68)
A importância do conhecimento destas reatâncias está no facto de que a corrente no estator
(armadura) após a ocorrência de uma falta (curtocircuito) nos terminais da máquina terá valores
que dependem destas reatâncias.
Assim, pode ser conhecido o desempenho da máquina diante de uma falta e as consequências
daí originadas.

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gerador síncrono é o único componente do sistema eléctrico que apresenta três reatâncias
distintas, cujos valores obedecem à inequação:

(2.69)

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