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2.2.2.

Reacção do induzido de uma máquina síncrona de rotor ranhurado

O enrolamento de excitação de uma máquina de rotor ranhurado (pólos lisos).

Fig.2.18: Alternador com rotor ranhurado (campo no rotor).

O enrolmento, está disposto na maior zona periférica do rotor que constitui a zona dos
pequenos dentes, sendo a outra zona mais pequena do rotor (não bobinada) a zona do grande
dente Fig 2.19. Desprezando a influência das ranhuras que dão a forma em escada à curva da

1
F.M.M., podemos considerar que a F.M.M. de excitação está distribuída ao longo da periferia
do rotor cilíndrico ranhurado, segundo uma lei trapezoidal (Fig. 2.19).

Fig 2.19: F.m.m. do enrolamento de excitação de uma máquina síncrona de rotor ranhurado.
A relação entre a parte enrolada do pólo e todo o passo polar está geralmente compreendida
entre 0,67 e 0,8.

Designemos a coordenada angular espacial ao longo do entreferro por a . Desenvolvendo em


série de Fourier a curva trapezoidal de F.M.M. de excitação (Fig. 2.19), tomando como origem
das coordenadas o centro do grande dente, obtemos:

Fexc  Fexc1 cos a  Fexc 3 cos 3a  Fexc 5 cos 5a  ... (2.7)

A amplitude do harmónico de ordem v será:


 
(1  )
2 2
2 4
Fexcv 
  F exc cos vada 
 F
0
exc cos vada 

2
 
2 a
4
     ecx
 2 F cos vada
(1   )
2 2
Integrando e tendo em atenção que v é um número ímpar. Obtemos:

8 Fexc 1 v 
Fexcv   sen senv
 2  v2 2 2
(2.8)

Fexc representa a F.M.M. do enrolamento de excitação por pólo,

Fexc  wexc iexc , (2.9)

Em que iexc é a corrente de excitação e wexc é o número de espiras por pólo.

2
Para harmónico fundamental (ʋ = 1), tira-se de (2.8):


8sen
Fexc1  2 F k F (2.10)
 2 exc f exc

em que o coeficiente


8sen
kf  2 (2.11)
 
2

se denomina factor de forma do campo de excitação e representa a relação entre a amplitude


da indução da onda fundamental do campo de excitação e o valor máximo real da indução do
campo de excitação.

A F.M.M. de excitação para iexc  const . mantém-se invariável no tempo porque o enrolamento
de excitação é alimentado em c.c.
O conteúdo mínimo relativo em harmónicos é obtido para gama (  = 0,75) e por esta razão
procura-se geralmente nos turbo-alternadores ter para  um valor desta ordem. Por exemplo,
para 24 ranhuras enroladas dentro de um número total de intervalos de ranhura igual a
32, o que é característico de alguns turbo-alternadores de algumas fábricas.

24
   0,75.
32
Procuremos o valor da F.M.M. de excitação que gera o mesmo fluxo que a onda fundamental
de reacção do induzido de um dado valor. Visto que para um circuito magnético não saturado
os fluxos são proporcionais às F.M.M. que os geram, podemos, separando a amplitude da onda
fundamental da F.M.M. do sistema de excitação e igualando à amplitude da onda fundamental
da F.M.M. de reacção do induzido, encontrar a expressão da F.M.M. de reacção do induzido à
escala da F.M.M. de excitação. A amplitude da onda fundamental da F.M.M. do enrolamento
de excitação de um pólo é dada pela equação (2.10). A amplitude da onda fundamental de
reacção do induzido de uma máquina trifásica com carga equilibrada sendo I a corrente de fase,
será pois

m 2 wk b
Fa  I. (2.12)
 p
Podemos calcular o valor da F.M.M. de excitação Fexce equivalente a um dado valor da F.M.M.
de reacção do induzido Fa , substituindo na expressão (2.9) F.exc por uma F.M.M. de
excitação equivalente Fexce e calculando este valor pelas igualdades relativas aos harmónicos
fundamentais da F.M.M. (2.10) e (2.12).
Deste modo

3

8sen
Fa  2 F k F

2 excce f excce

de onde, para o coeficiente de redução da F.M.M. de reacção do induzido a F.M.M. do


enrolamento de excitação

Fexce
ka  (2.13)
Fa
temos

 2 1
ka  
 k f (2.14)
8sen
2
Para cada máquina , o coeficiente k a tem um valor determinado e

m 2 wk b
Fexce  k a Fa  ka I (2.15)
 p
Fazendo em (2.15)

Fexce  wexc iexce


Podemos calcular a corrente de excitação iexce equivalente à corrente do induzido I.

Deste modo, o coeficiente k a permite exprimir a F.M.M. do induzido à escala da F.M.M. de


excitação e por consequência a característica em vazio permite determinar a variação de fluxo
da reacção do induzido em função de amplitude do harmónico fundamental da F.M.M.
induzida.

A Tabela 2.2 dá o coeficiente, k a em função de  . Para  = 0,75, valor mais generalizado,


k a  1 e por consequência a amplitude da onda fundamental da reacção do induzido é igual
ao máximo da F.M.M. da excitação equivalente (altura da curva trapezoidal).
O fluxo de reacção do induzido gera no enrolamento do induzido uma f.e.m. de reacção de
induzido E a , proporcional, para u  const à corrente do induzido I:

Ea  xa I (2.16)

Tabela 2.2: Coeficiente de redução da f.e.m. de reacção do induzido de uma


máquina síncrona de rotor ranhurado.

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A grandeza x a chama-se reactância indutiva de reacção do induzido de uma máquina de rotor
ranhurado e segundo a relação

 0 Di l w 2 k b21
x1  2mf (2.17)
k k   p 2
(onde x 1 é a reactância de auto-indução da fase , entrando em consideração mútua das outras
fases, para a onda principal).

2.2.3. Reacção do induzido de uma máquina síncrona de pólos salientes (Teoria das duas
reacções)

Fig.2.20: Alternador monofásico ou trifásico de 4 pólos com estator ranhurado (armadura)


e rotor de pólos salientes (campo).

Rotor de pólos ranhurados (lisos) e de pólos salientes.

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Fig.2.21: Perfil de chapas laminadas utilizadas nos núcleos magnéticos de rotores.
Os geradores síncronos são construídos com rotores de pólos lisos (rotor ranhurado) ou
salientes.
Pólos lisos: São rotores nos quais o entrefero é constante ao longo de toda a periferia do núcleo
de ferro.
Pólos salientes: São rotores que apresentam uma descontinuidade no entreferro ao longo da periferia
do núcleo de ferro. Nestes casos, existem as chamadas regiões interpolares, onde o entreferro é muito
grande, tornando visível a saliência dos pólos.

Fig. 2.22: Aspecto geral de máquinas síncronas (geradores de C.A.)

Numa máquina de pólos salientes o entreferro não é constante (mesmo abstraindo das ranhuras
do estator) em consequência da existência de um grande espaço interpolar.

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A curva sinusoidal do harmónico fundamental da F.M.M. de reacção do induzido em interacção
com o harmónico fundamental da F.M.M. do enrolamento do induzido, cria uma F.M.M.
resultante cujo eixo está deslocado em relação ao eixo dos pólos no sentido oposto ao sentido
de rotação.
Visto que o entreferro, que é simétrico em relação ao eixo dos pólos, é forçosamente
assimétrico em relação ao eixo da F.M.M. resultante deslocada do eixo dos pólos, a curva
resultante do campo obtida a partir da F.M.M. resultante será assimétrica e conterá harmónicos
bastante importantes. A forma do campo resultante e a amplitude da onda fundamental do
campo para a mesma amplitude da F.M.M. resultante, mudarão em função do ângulo  .

Para o cálculo quantitativo da influência da reacção do induzido numa máquina de pólos


salientes, estudar-se o fenómeno, a fim de simplificar os cálculos, como se a F.M.M. de
excitação e a F.M.M. de reacção criassem na máquina fluxos independentes gerando no
enrolamento estatórico f.e.ms. independentes.
Quando o ferro não está saturado poder-se determinar a f.e.m. calculando o fluxo resultante da
máquina através das componentes da F.M.M. e sua resultante, ou calculando os fluxos das
componentes da F.M.M. e a partir destes as componentes das f.e.m. e finalmente por
composição geométrica destas, a sua resultante.
Aqui pode haver uma diferença se se tomar em consideração o fenómeno de saturação do
circuito magnético mas, dado que, para os entreferros relativamente grandes das máquinas
síncronas a influência da saturação é fraca e o seu cálculo é complexo, quando se estuda a
reacção do induzido despreza-se este fenómeno, considerando-o apenas indirectamente ao
traçar os diagramas de tensão.
Deste modo, a onda fundamental do campo devido a F.M.M. de excitação variará
proporcionalmente a amplitude da onda fundamental da F.M.M. Todos os harmónicos da curva
do campo variarão do mesmo modo proporcionalmente à amplitude da onda fundamental da
F.M.M.
Quanto à amplitude da onda fundamental do campo de reacção do induzido. Esta dependerá
não só da onda fundamental da F.M.M. de reacção do induzido mas também do ângulo  . Os
harmónicos da curva do campo de reacção do induzido, devidos à assimetria do entreferro,
dependerão igualmente do ângulo  . Se quiséssemos, como na máquina de rotor ranhurado,
calcular para todo o campo de reacção do induzido o coeficiente k a , o que iria permitir
exprimir a F.M.M. de reacção do induzido à escala da F.M.M. de excitação, é evidente que
dada a dependência deste coeficiente em relação ao ângulo  , entraríamos em cálculos
bastante complexos.
Para estudar este problema também se utiliza a teoria das duas reacções apresentada por
Blondel, exposta nos parágrafos que se seguem.
Depois de ter isolado a onda fundamental da F.M.M. de reacção do induzido pelos métodos
indicados, decompômo-la em duas componentes segundo os eixos principais do circuito
magnético da máquina:

 componente longitudinal cujo valor máximo coincide com o eixo dos pólos; e

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 componente transversal cujo máximo coincide com o meio do espaço inter-polar.

Fig. 2.22: Eixos longitudinal e transversal de uma máquina síncrona de pólos salientes.
A amplitude da componente longitudinal da onda fundamental da reacção do induzido será:

Fad  Fa sen (2.19)

e a amplitude da componente transversal será:

Faq  Fa cos (2.20)

Visto que nenhuma destas componentes muda de posição em relação ao eixo dos pólos,
podemos calcular para cada uma delas os coeficientes correspondentes:

 k ad para o eixo longitudinal e


 k aq para o eixo transversal,

os quais permitirão exprimir para cada uma destas componentes a F.M.M. de reacção do
induzido à escala da F.M.M. de excitação, do mesmo modo que para uma máquina de rotor
ranhurado se calcula um coeficiente k a que fica invariável para todos os valores do ângulo 

A única diferença é que para uma máquina de rotor ranhurado se considera no enrolamento
estatórico uma f.e.m. única E a devida à onda fundamental de reacção do induzido e numa
máquina de pólos salientes consideram-se duas f.e.m., E ad e Eaq devidas respectivamente às
duas componentes longitudinal e transversal da reacção do induzido, desfasados de 90 o.

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Visto que a forma do campo criado pela mesma onda fundamental da reacção do induzido não
será a mesma para  = 0 e  = 
 , é evidente que os coeficientes
k ad e k aq serão diferentes.
2

a) Reacção do induzido segundo o eixo longitudinal

Na Fig. 2.23(a) está representada a posição da curva da onda fundamental de reacção do



induzido Fad cos   Fa sen cos relativamente ao sistema de pólos, para    .
2

Fig 2.23 (a) F.M.M. e campo magnético da reacção do induzido segundo o eixo longitudinal
de uma máquina síncrona de pólos salientes.

Fig 2.23 (b) Campo magnético segundo o eixo longitudinal do enrolamento de excitação de
uma máquina síncrona de pólos salientes.

A relação entre a largura da peça polar e o intervalo polar (coeficiente do arco polar) é
designado por  . As superfícies tracejadas correspondem à indução criada pela onda
sinusoidal da componente longitudinal da reacção do induzido admitindo que o entreferro é
constante ao longo da expansão polar mas o seu valor é muito pequeno,   0 (o que permite
desprezar o efeito das bordas), e que a permeabilidade do material que constitui o circuito
magnético é infinitamente grande. Desprezando a relutância do ferro no circuito magnético
assim como a permeância do espaço compreendido entre os pólos e entre as expansões polares

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(o que é válido para entre-ferros relativamente pequenos), podemos admitir que a curva de
indução no entre-ferro ao longo da sapata polar tem a mesma forma que a curva da F.M.M.
Visto que o campo perde a sua forma sinusoidal, induzirá no enrolamento estatórico f.e.m. do
harmónico fundamental e também dos harmónicos superiores. Determinemos o coeficiente k d
que exprime a diminuição da amplitude da onda fundamental do campo em relação ao
entreferro uniforme; para esse fim calculemos o harmónico fundamental do campo
representado pela superfície tracejada Fig 2.23 (a).
Se colocarmos a origem das coordenadas no centro do pólo, como na Fig 2.23 (a) desaparecem
os termos em seno, ficando os termos em co-seno. Para a amplitude do harmónico fundamental
do campo Bad 1 obtemos neste caso:
 a
2 2
2 2
Bad 1 
  B cosd   B a
ad cos2 d (2.21)
 
2 2

 
Porque no caso considerado a indução B difere de zero só na zona limitada por   
2 2
, na qual tem o valor

B  Bad cos (2.22)

Em que Bad representa o valor máximo da indução da componente longitudinal da reacção do


induzido, isto é, valor de B ao centro da expansão polar.
Obtemos por integração:
a
2
Bad
Bad 1 
 (1  cos 2 )d
a

2
 (2.23)
B  sen2  2   sen
 ad .    Bad
 2    
2

O coeficiente

Bad 1
kd  (2.24)
Bad

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Que nos dá o grau de diminuição da amplitude do harmónico fundamental do campo de reacção
do induzido longitudinal, é chamado factor de forma do campo de reacção do induzido
longitudinal, devendo-se o seu aparecimento ao facto de existir ar entre as expansões, o que
dá origem a uma irregularidade na conformação do entreferro. Segundo (2.23) e (2.24), para
  const.  0
  sen
kd  (2.25)

A indução máxima do campo de reacção do induzido ao longo do eixo longitudinal, é no caso
geral e tendo em consideração os dentes do estator

0
Bad  Fad
k 
(2.26)

Em que  é o valor do entreferro correspondente ao centro da expansão.


Procuremos agora o harmónico fundamental do campo criado pelas F.M.M. dos pólos. Se o
entreferro em face de expansão é uniforme e muito pequeno, o campo de excitação é da forma
de um rectângulo cuja base é igual a  Fig 2.19 (b). Esta curva tem um harmónico
fundamental cuja amplitude é igual a


2 2
4 
Bexc1 
 

Bexc cos d 

sen
2
Bexc (2.27)

2

No caso geral Bexc representa o valor máximo da indução do campo de excitação sob o centro
da expansão e é igual a:

0
Bexc  Fexc (2.28)
k 

A razão entre a amplitude de indução da onda fundamental do campo de excitação Bexc1 e o


valor máximo da indução deste campo
Bexc1
kf  (2.29)
Bexc

É denominada factor de forma do campo de excitação.


Para um entreferro uniforme e muito pequeno, no espaço correspondente à expansão, este
coeficiente (segundo (2.27)), é igual a:
4 
kf  sen (2.30)
 2

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Podemos determinar a F.M.M. do enrolamento de excitação Fexcd , equivalente à F.M.M. de
reacção do induzido ao longo do eixo longitudinal, Fad , partindo da condição de igualdade dos
harmónicos fundamentais do campo magnético criados por estas F.M.M.

0 
Fexcd k f  0 Fad k d
k  k
donde

kd
Fexcd  Fad  k ad Fad
kf
o coeficiente

kd
k ad  (2.31)
kf

Chama-se coeficiente de redução da F.M.M. da reacção do induzido ao longo do eixo


longitudinal à F.M.M. do enrolamento de excitação, ou de modo abreviado coeficiente de
reacção longitudinal. Para   const.  0 , este coeficiente segundo (2.25) e (2.30) é:
  sen
k ad  (2.32)

4 sen
2

Os dados práticos respeitantes aos coeficientes introduzidos acima são indicados a seguir.

Para um valor dado de k ad , a F.M.M. de excitação equivalente Fexcd é calculada pela relação:

m 2 wk b
Fexcd  k ad Fad  k ad Isen (2.33)
 p

Por outro lado temos

Fexcd  wexc iexcd (2.34)

Igualando as expressões de Fexcd em (2.33) e (2.34) podemos igualmente obter a corrente de


excitação iexcd equivalente à componente longitudinal da corrente estatórica: I d  Isen .
Assim:

m 2 wk b
iexcd  k ad I d (2.35)
 pwexc

A f.e.m. E ad induzida no enrolamento estatórico pela F.M.M. de reacção longitudinal Fad é a


f.e.m. de auto-indução de uma fase do enrolamento estatórico devida a este campo incluindo a

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indução mútua devida às outras fases do estator. Para   const , a f.e.m. E ad é proporcional
a Fad e por consequência à componente longitudinal I d da corrente:

E ad  xad I d (2.36)

O coeficiente de proporcionalidade x ad é a reactância indutiva de reacção do induzido


segundo o eixo longitudinal.
Dada a não uniformidade do entreferro das máquinas de pólos salientes (configuração da peça
polar). O harmónico fundamental do campo de reacção do induzido segundo o eixo
longitudinal diminui proporcionalmente a k d e obtém-se o valor de x ad multiplicando x a
tirado de (2.18) por k d :

 0 Di l w 2 k b2
xad  2mf kd
k k   p 2 (2.37)

A expressão (2.37) mostra de maneira nítida a relação entre x ad e as características da


máquina.

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