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Universidade Zambeze

Faculdade de Ciências e Tecnologias

Curso de Engenharia Eléctrica

MÁQUINAS ELÉCTRICAS I

Notas de aulas sobre


Transformador Monofásico

Preparado por:
MSc.: Dmajequete @2021
5. Transformador
5.1 Introdução

Como foi analisado nos temas anteriores, o transformador é uma máquina eléctrica estática que
na base da indução electromagnética consegue transformar a energia eléctrica de determinadas
magnitudes de tensão e corrente, em outras de valores diferentes. É basicamente constituído por
dois ou mais enrolamentos acoplados por meio de fluxo magnético mútuo.
Portanto, se um dos enrolamentos, o primário, for ligado a uma fonte de tensão alterna, será
produzido um fluxo magnético alterno cuja amplitude irá depender da tensão primária, da
frequência da tensão aplicada e do número de espiras. O fluxo mútuo se vinculará com outro
enrolamento, o secundário, e irá induzir nele uma fem cujo valor irá depender do número de
espiras do enrolamento secundário, assim como da magnitude e da frequência. O processo de
transformação tem um grau de rendimento alto em relação ao de máquinas rotativas podendo
chegar até valores de ordem de 99,7% em transformadores grandes.
O mais fundamental no funcionamento do transformador é a existência do fluxo mútuo com
variação temporal concantenado em ambos enrolamentos. De facto isso pode ocorrer em dois
enrolamentos acoplados através de ar, daí que o acoplamento dos mesmos se torna mais efectiva
ao se usar um núcleo de ferro ou outros material ferromagnético, por o fluxo magnético se
manter dentro de um padrão definido e de alta permeabilidade que une ambos enrolamentos.
A importância dos transformadores deve-se ao facto de terem contribuido muito na utilização de
energia eléctrica alternada, possibilitando a realização práctica e económica de transporte de
energia a grandes distâncias. Tendo em conta que o transporte de energia eléctrica desde os
lugares de produção (centrais eléctricas) até aos diferentes centros de consumo é tanto mais
económico quanto mais alta for a tensão das linhas, pois o valor da corrente será menor e
consequentemente a secção dos condutores será menor, o que tem no tipo de estruturas a usar no
sistema.
Os transformadores são comumente usados para (1) transformar (elevar ou baixar) níveis de
tensão e corrente em sistema de energia; (2) acoplar impedâncias em circuitos de comunicação
(3) isolar electricamente, isto é, utiliza-se para eliminar ruídos electromagnéticos em diversos

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tipos de circuitos, bloquear sinais de corrente contínua e nos instrumentos eléctricos para questão
de segurança.

5.2 Princípio de funcionamento de transformador

5.2.1 Princípio de funcionamento de transformador ideal

Considere o transformador monofásico da figura 5.1, constituído por um núcleo magnético real
de permeabilidade finita com perdas no ferro PFe e nos enrolamentos primário e secundário,
respectivamente N1 e N2.
As convecções de sinais adoptadas para las correntes e tensões na figura 5.1 correspondem ao
sentido normal de transferência de energia, isto é, o enrolamento primário constitue um receptor
em relação a fonte de alimentação, o que significa que este enrolamento absorve uma corrente e
uma potência; o enrolamento secundário se comporta como gerador em relação a carga
conectada em seus bornes, fornecendo uma corrente e uma potência.

Figura 5.1: Transformador monofásico com núcleo real.

Para comprender melhor o funcionamento do transformador, sem que as imperfeições reais da


máquina encubram os fenómenos físicos que tem lugar, vamos supor que de princípio se
cumprem as seguintes condições ideais:
a) Os enrolamentos primário e secundário têm resistências ohmicas desprezíveis, o que significa
não haver perdas por efeito de joule e também nem quedas de tensão nas resistências no
transformador. Em sistema real essas resistências são de pequeno valor, mas não nulas.
b) Não existem fluxos de dispersão, o que significa que todo o fluxo magnético está confinado no
núcleo e concantena ambos enrolamentos, primário e secundário. No transformador real

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existem pequenas partes do fluxo que somente atravessam a cada um dos enrolamentos e que só
os fluxos de dispersão é que completam o circuito a través do ar.
Ao aplicar uma tensõ alternada v1 ao primário, irá circular por ele uma corrente alternada, que irá
produzir por sua vez no núcleo um fluxo alterno cujo sentido será determinado pela lei de Amper
aplicada a esse enrolamento. Na figura 5.1 são mostrados os sentidos positivos da corrente e do
fluxo para o instante definido pela polaridade da tensão aplicada. Devido a variação periódica
desse fluxo, irá se induzir fem nos enrolamentos que de acordo com a lei de Faradey irão
satisfazer as expressões:

; (5.1)

Estas fems têm polaridades assinaladas na figura 5.1, que está de acordo com a lei de Lenz, de
oposição ao trocar do fluxo. Realmente e1 representa uma fcem porque se opõe à tensão aplicada
v1 e limita de facto a corrente do primário. A polaridade assinalada e2 na figura 5.1 tem em conta
que ao fechar o interruptor S do secundário haverá tendência de produzir uma corrente i2 no
sentido mostrado na figura, de tal modo que ao circular pelo enrolamento secundário daria lugar
a uma acção antagónica sbre o fluxo primário conforme a lei de Lenz.
Uma vez designados os sentidos das fems e correntes no transformador, interessa conhecer as
relações existentes entre as tensões, fluxos e as fems. Considerando que os enrolamentos são
ideias, a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff aos circuitos primário e secundário da figura 5.1, resulta
em:

; (5.2)

Se parte de um fluxo de forma senosoidal:


(5.3)

E tendo em conta as equações (5.1) e (5.2) irá se cumprir:


; (5.4)

O que indica que as tensões e fems vão adiantadas 90° em relação ao fluxo, sendo seus valores
eficazes:

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(5.5)

E dividindo entre si as equações anteriores resulta:


(5.6)

donde o factor a se denomina de relação de transformação. Deste modo, em um transformador


ideal a relação das tensões coincide com a relação das espiras, que é em definitivo a relação de
transformação.
Portanto, na condição do interruptor S da figura 5.1 estar aberto, o transformador funciona sem
carga ou regime de vazio. Nessa condição, o primário se comportará como uma bobina com
núcleo de ferro, e o transformador absorverá uma corrente de vazío i0 análoga a corrente iexc, e a
corrente i0 forma un ángulo com a tensão aplicada v1 de tal forma que a potência absorvida
em vazi denominada P0, será igual as perdas no ferro PFe no núcleo do transformador.
(5.7)

Donde V1 e I0 representam os valores eficazes da tensão e da corrente. A corrente I0 tem duas


componentes, uma activa e outra reactiva . Na figura 5.2 se mostra o diagrama fasorial de
um transformador ideal em vazio, donde se mostram as magnitudes anteriores com suas fases
correspondentes, tendo se tomado como referência a fase de tensão aplicada V1.

Figura 5.2: Diagrama fasorial de tensões e correntes em vazio.

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Quando se fecha o interruptor S na figura 5.1, o transformador funciona em carga e aparece uma
corrente i2 que circula pelo circuito secundário, que responde a um valor complexo ou fasorial:

(5.8)

Isto é, a corrente I2 atrasa em relação a fem E2.


A corrente i2 ao circular pelo enrolamento secundário produz uma fmm desmagnetizante N2i2 que
se opõe a fmm primária existente N1i1. É por isso que se esta fmm do secundário não for
neutralizada por uma corrente adicional que circule pelo primário, o fluxo no núcleo se verá
reduzido profundamente, e com as conseguintes reduções nas fems e1 e e2 que são proporcionais
a fmm, e se romperá o equilíbrio entre v1 e e1 no enrolamento primário. Para que se possa
restabelecer o equilíbrio, é preciso neutralizar a fmm N2i2 do secundário mediante uma corrente
adicional primária equivalente a fmm de valor:
(5.9)

De onde se deduz o valor da corrente adicional primária:

; (5.10)

Deste modo, e como se indica na figura 5.1, a corrente total necesária no primário i1 será igual a:

(5.11)

que corresponde em forma fasorial a:


(5.12)

De onde se denominou a ⁄ na equação anterior para expressar a relação entre a corrente


primária I1 em vazio I0, e a secundária I2. O equivalente desta equação na sua forma instantânea
mostra que a corrente primária têm duas componentes:
l. Uma corrente de excitação de vazio I0 cuja missão é produzir o fluxo no núcleo magnético e
vencer as perdas no ferro através de seus componentes e respectivamente.
2. Uma componente de carga que equilibra ou neutraliza a acção desmagnetizante da fmm
secundária para que o fluxo no núcleo permaneça constante e independente da carga.

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Uma maneira mais simples de demonstrar a equação 5.12 é proceder na direcção reversa. Assim,
a primeira equação (5.5) indica que se a tensão primária V1 for constante, o fluxo no núcleo
magnético deve permanecer constante, para qualquer regime de carga. Se for denominado de ℛ
a relutância do circuito magnético do transformador, a lei de Hopkinson diz que se o fluxo for
constante, também deve ser constante a fmm necessário para produzi-lo em qualquer regime de
carga. Em particular deverão ser iguais as fmms em vazio e em carga. Em vazio, como as
correntes circulam pelos enrolamentos I1=I0 e I2=0, resultará uma fmm total:
ℱ (5.13)

Enquanto em carga, quando as correntes de circulação são I1 e I2, temos uma fmm resultante:
ℱ (5.14)
O sinal menos da expressão anterior concorda com a acção desmagnetizante do secundário e que
pode se verificar aplicando a teoria dos circuitos magnéticos ao esquema da figura 5.1. Ao
igualar a equação (5.13) e (5.14) dá:
(5.15)
de onde se deduz:
(5.16)

que corresponde a expressão (5.12) já mostrada. A plena carga, a corrente é normalmente pelo
menos vinte vezes maior do que I0, então podemos desprezar na expressão (5.16) a corrente em
vazio versus , que é chamada de corrente secundária reduzida e, consequentemente, a
expressão (5.16) torna-se aproximada:
(5.17)

A magnitude relativa das perdas no núcleo magnético também pode influenciar a forma de onda
da corrente. Em muitos transformadores, o circuito magnético é projectado de forma que o fluxo
máximo necessário opere aproximadamente no joelho da curva de saturação com a tensão
nominal aplicada. Isso reduz a quantidade de distorção da onda senosoidal da corrente de
magnetização.
A corrente de magnetização é necessária para estabelecer o fluxo mútuo que torna possível a
acção do transformador e é, portanto, um parâmetro necessário em todo transformador. No
entanto, é conveniente minimizar este componente de corrente, a fim de reduzir as perdas no

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cobre devido a esta corrente, para melhorar o factor de potência do transformador e para reduzir
os componentes de corrente não senosoidal no circuito eléctrico primário que podem causar
ruído electromagnético indesejável .

5.2.2 Funcionamento de um transformador real

Na secção anterior, foi analisado o comportamento de um transformador ideal em que os


enrolamentos não apresentavam resistência ou fluxos de fuga. Em transformadores reais, ambas
as qualidades devem ser levadas em consideração. O aparecimento de resistência é inerente à
constituição dos enrolamentos com fio condutor. A figura 5.3 mostra o circuito do transformador
da figura 5.1, onde para maior clareza considera-se as resistências R1 e R2 dos enrolamentos, fora
das próprias bobinas.

Figura 5.3: Transformador real com resistências eléctricas e fluxo de dispersão

Observa-se também no transformador real que de todo o fluxo produzido pelos enrolamentos há
apenas uma parte comum a ambos e representada por Փ na figura 5.3; Esta é uma consequência
dos fluxos de dispersão que surgem nos enrolamentos e que se distribuem por percursos não
magnéticos, em particular pelos condutores e pelo ar que circunda nas bobinas. Se Փ1 e Փ2 forem
chamados de fluxos totais que passam pelos enrolamentos primário e secundário e Փd1 e Փd2 os
respectivos fluxos de fuga, o seguinte será atendido:
; (5.18)

À primeira vista, a introdução de fluxos de dispersão complica o estudo, uma vez que a ideia do
único fluxo comum que existia no transformador ideal desaparece. De qualquer maneira se esta
forma de proceder pode ser preservada se bobinas com o mesmo número de espiras dos

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enrolamentos correspondentes forem adicionadas em série a cada enrolamento, de modo que
quando as respectivas correntes circulam por eles dêem origem aos mesmos fluxos de fuga Փd1 e
Փd2 que nos enrolamentos reais. Na figura 5.4 foi representada a tal ideia, onde os respectivos
coeficientes de auto-indução dessas bobinas adicionais (com núcleo de ar) foram indicados com
Ld1 e Ld2, cujos valores de acordo com sua definição serão:
; (5.19)

E que dão ligar as reactâncias de dispersão X1 e X2 de ambos enrolamentos:


; (5.20)

Figura 5.4: Transformador real com bobinas ideais no núcleo

Com a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff aos circuitos primário e secundário da figura 5.4, resulta
em:

; (5.21)

donde os valores de e1 e e2 vem expressas pelas equações:

; (5.22)

que correspondem aos valores eficazes segundo a equação (5.5):


; (5.23)

donde Փm é o fluxo comum máximo que circula pelo circuito magnético da figura 5.4.

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As equações (5.21) podem ser expressas na forma complexa:
; (5.24)

Se levar em conta a equação (5.23), a relação entre os valores eficazes das fems induzidas será:
(5.25)

Uma equação que sempre é válida tanto para o transformador ideal (veja a equação 5.6) quanto
no transformador real que é estudado aqui. Agora, se a equação (5.21) ou (5.24) for levada em
consideração, no transformador real as igualdades entre fems e tensões que apareceram no
transformador ideal (ver equações 5.2), de modo que no caso real a razão entre as tensões
primária e secundária não seja mais igual à razão de transformação (ver equação 5.6). Nos
transformadores usados pela indústria, as quedas de tensão em plena carga são da ordem de 1 a
10% das tensões nominais, então as relações (5.24) tornam-se as equações aproximadas:
; (5.26)

E daí a relação entre as tensões primária e secundária será aproximadamente igual a:


(5.27)

Se o transformador trabalha em vazio, as relações reais (5.24) se transformam em:


; (5.28)

uma vez que I2 é igual a zero. Uma vez que na prática a corrente em vazio I0 é da ordem de 0,6 a
8% de I1n (corrente nominal ou de plena carga do primário), as quedas de tensão em vazio
definidas por R1I0 e X1I0 na primeira equação (5.28) são muito pequenas (na ordem de 0,004 a
0,06% de V1) e, portanto, em vazio as igualdades podem ser consideradas suficientemente
exactas:
; (5.29)

donde V20 representa a magnitude da tensão secundária em vazio. Por conseguiente, e tendo em
conta as expressões (5.25) e (5.29), poderá se escrever:

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(5.30)

que define a relação de transformação como o quociente entre a tensão primária aplicada ao
transformador e a tensão secundária no modo em vazio.
Em operação com carga, a primeira relação aproximada (5.26) e a primeira equação (5.23)
indicam que os fluxos magnéticos em vazio e com carga são praticamente iguais, o que significa
que as fmms em ambos os estados de carga eles coincidem, de modo que a equação (5.16), que
relaciona as correntes do transformador, pode ser considerada válida para todos os efeitos e é
reescrita a seguir:
(5.31)

As equações (5.24) e (5.31) definem o comportamento eléctrico do transformador em carga. As


equações (5.24) relacionam as tensões as fems e quedas de tensão dentro dos enrolamentos do
transformador, enquanto (5.31) indica a relação entre as correntes primária, secundária e de vazio.

5.3 Circuito equivalente do transformador

Ao longo dos anos diversos conceitos foram elucidados para contribuir para o entendimento da
teoria e do funcionamento dos dispositivos electromagnéticos e, portanto, facilitar sua análise.
Um dos conceitos mais convenientes deste tipo é o da rede eléctrica equivalente que "modela" a
tensão, a corrente e as relações magnéticas dentro do dispositivo real. Os circuitos equivalentes
dos transformadores foram concebidos e usados muito antes da "era do computador" em que
vivemos. No entanto, essas representações de circuitos equivalentes são particularmente
adequadas para simulação de computador de sistemas eléctricos de todos os tipos.
Os circuitos equivalentes de transformadores foram usados em representações da teoria do
quadrípolos em sistemas telefônicos e outros sistemas de comunicação em alta frequência muito
antes do advento do computador digital moderno. Existem actualmente muitos programas de
software disponíveis na maioria dos computadores digitais, para os quais quase todas as formas
de circuitos equivalentes de transformador são convenientemente adequadas. Os circuitos
equivalentes também são muito úteis na compreensão da operação física de dispositivos
electromagnéticos e no estabelecimento de técnicas sistemáticas para seu projecto.

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Este tipo de circuito é útil para calibrar núcleos de transformador, estudar os efeitos da geometria
do núcleo sobre as trajectórias de fluxo de fuga e as relutâncias e calcular indutâncias de fuga e
mútuas. O circuito equivalente magnético não representa os componentes de perda no núcleo
magnético, embora possa ser estendido para representá-los. Um circuito equivalente desse tipo
contém apenas um parâmetro de circuito (resistência), que representa a relutância magnética. Os
enrolamentos do transformador aparecem apenas na medida em que afectam os potenciais
magnéticos ou as fmms de estado estacionário.
O circuito equivalente do transformador que se deseja analisar pode conter os três tipos de
elementos de circuitos eléctricos; Ele pode ser usado para descrever quase todos os aspectos da
operação eléctrica do transformador em todas as frequências de excitação e com muitas variantes
de formas de onda de tensão e corrente. Começaremos com o circuito equivalente de baixa
frequência, no qual a capacidade do transformador pode ser ignorada.

Figura 5.5: Modelo de transformador em que se mostram tensões, correntes e fluxos instantâneos.

5.3.1 O transformador ideal: relações de impedância


Um recurso útil no desenvolvimento de um circuito equivalente de transformador é o conceito de
transformador ideal, que é definido como um transformador com resistência de enrolamentos
nula, reactância de dispersão zero, corrente de magnetização zero (que equivale a ter, de acordo
com (3.8), magnetização zero relutância, ou um núcleo com permeabilidade infinita) e perdas no
núcleo nulas. O transformador ideal contém o circuito magnético ideal, e é simplesmente uma
relação de espiras.
Analisemos agora as relações de corrente e tensão em um transformador ideal. Assume-se que o
interruptor S1 na figura 5.5 é fechado e que a corrente secundária i2 flui através da impedância de
carga ZL. Segue que esta corrente é equilibrada por uma corrente primária igual a ai1, a tensão na

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impedância de carga é i2ZL e é igual em magnitude à tensão induzida no secundário, uma vez que
a resistência secundária e a indutância de dispersão são consideradas nulas. Portanto, é notório
que a tensão induzida no primário está relacionada com aquela induzida no secundário pela
equação e1 = ae2. A tensão terminal do primário é igual a esta tensão induzida para o
transformador ideal e é expressa como:
( ) (5.32)

A relação entre a tensão primária e a corrente primária ⁄ dá uma impedância equivalente,


que é a impedância de carga referida ao enrolamento primário, às vezes chamada de impedância
de carga "vista do primário", escrita como:
(5.33)

Mediante uma análise semelhante a anterior pode se demonstrar que uma impedância do
primário referida ao enrolamento secundário ou “vista do lado secundário”, é expressa pela
relação inversa:

(5.34)

As equações (5.33) e (5.34) podem ser generalizadas para afirmar que qualquer impedância em
um enrolamento pode se referir ao outro enrolamento em função do quadrado da razão de espiras
do transformador, conforme expresso nessas equações. As aspas nessas duas equações são
usadas para designar o enrolamento ao qual a impedância se refere. Esta é uma característica dos
transformadores e a base para a aplicação do transformador chamada "casamento de impedância".

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Figura 5.6: Circuito equivalente de transformador em termos de enrolamento primário

5.3.2 Configuração do circuito equivalente

A figura 5.6 mostra a configuração básica do circuito equivalente do transformador referente ao


enrolamento primário. Esta representação é adequada para a maioria dos transformadores de
potência e de áudio-frequência. Em transformadores operando em frequências mais altas, as
capacitâncias entre os enrolamentos são frequentemente importantes e devem ser incluídas no
circuito equivalente.
As relações desses parâmetros com a teoria dos transformadores e seus próprios significados são
agora resumidos. Deve-se notar inicialmente que esta é uma rede "T" passiva com parâmetros
concentrados do tipo usado para representar muitos outros sistemas e dispositivos eléctricos,
como linhas de transmissão, filtros e outros dispositivos electromagnéticos.
Os elementos de circuito da figura 5.6 representam elementos do circuito equivalente do
transformador real, geralmente obtidos por medições ou calculados se as dimensões e materiais
do transformador real forem bem definidos. Este circuito é baseado na suposição de excitação
senosoidal, e as impedâncias são as convencionais da teoria de circuitos em regime sinusoidal.
Esta é a forma mais comum de circuitos de transformadores equivalentes, embora possa ser
ajustada para uso com outros tipos de excitação e para análise de transientes, substituindo
reactâncias indutivas por indutâncias.

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Figura 5.7: Circuito equivalente de transformador em termos de enrolamento secundário.

Outra forma importante de representar sistemas interconectados por transformadores é a notação


da unidade, na qual as tensões, correntes e impedâncias em cada circuito são expressas como
uma fracção decimal de um conjunto de valores básicos para tensão, corrente e impedância. Nos
modelos que usam essa notação, a necessidade do transformador ideal é eliminada para a
representação do transformador.
Existem muitas modificações e simplificações deste básico, circuito equivalente completo. O uso
dessas variantes depende dos requisitos do problema específico a ser resolvido e do grau de
precisão desejado. A figura 5.7 ilustra o mesmo circuito equivalente completo referente ao
enrolamento secundário.
Deve se notar que o transformador ideal muitas vezes é esquecido no circuito equivalente. Se a
representação do enrolamento primário for usada como na figura 5.6, então é necessário que a
impedância de carga ZL se refira a esse enrolamento. Se esta mesma simplificação for feita na
figura 5.7, a tensão de entrada do enrolamento primário, v1, deve ser expressa em termos do
enrolamento secundário.
Outra simplificação comum do circuito equivalente é obtida ignorando o ramo de excitação que
contém xՓ e rc quando os componentes de corrente de magnetização e perdas por núcleo são
muito pequenos em comparação com os de carga, o que é verificado em muitos transformadores
de potência. Além disso, em muitos problemas, são as impedâncias em série que têm interesse no
cálculo da regulação de tensão em um transformador de potência. Nessa aproximação, o circuito
equivalente se reduz aos dois "braços" da rede T, conforme mostrado na figura 5.8b.

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a) Comumente usado b) aproximado
figura 5.8: Circuito equivalente do transformador

A impedância total dessas duas ramificações em série do circuito é frequentemente chamada de


impedância equivalente do transformador, que deve sempre ser especificada para qual
enrolamento se refere. Assim, a impedância equivalente em termos do enrolamento primário é,
da figura 5.8b,
(5.35)
De forma semelhante, se refere ao enrolamento secundário:

( ) (5.36)

5.3.3 Diagrama de fasores de transformador


O diagrama fasorial é uma representação das relações de fase dos componentes de tensão e
corrente no estado estacionário do circuito equivalente, e é um guia a ser usado na determinação
de tensões e correntes pelo circuito equivalente. É também uma boa representação visual das
relações teóricas que foram expressas como equações e ajuda o leitor a compreender a teoria dos
transformadores.
Antes do advento de computadores e calculadoras e mesmo antes do uso generalizado de réguas
de cálculo, diagramas fasoriais de escala foram desenhados, de modo que as magnitudes e fases
dos componentes fossem representadas com precisão, e métodos gráficos foram usados para
determinar os vários componentes. Este método quase não é mais usado e as quantidades
fasoriais geralmente não são plotadas em escala.

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O diagrama fasorial completo, que inclui relações para o regime carregado, é mostrado na figura
5.9. O traçado de um diagrama fasorial começa com os fasores de carga aV2 e I2/a, que formam
o ângulo do factor de potência de carga, . Estes parâmetros devem ser dados ou presumidos
para poder traçar o diagrama. Em certos problemas, é prática geral assumir a corrente de carga
nominal (ou alguma fracção da corrente nominal), para a tensão de carga nominal e assumir
vários valores diferentes do factor de potência de carga, e em seguida calcula-se a tensão e
corrente de entrada do transformador requeridos para satisfazer as condições de cargade.
Começamos neste capítulo com a convenção arbitrária de chamar o enrolamento secundário a da
carga ou saída, ou enrolamento secundário, e o enrolamento primário de entrada ou enrolamento
primário. Essa convenção não é necessariamente exigida, e pode se usar qualquer convenção na
notação que for mais conveniente para resolução de problemas.
Uma vez que as fases são plotadas em regime de carga, as quedas de impedância do enrolamento
secundário são fasorialmente adicionadas à tensão de carga, obtendo-se assim a tensão induzida
no secundário aE2. As componentes da corrente de magnetização somam-se à corrente
secundária, dando a corrente de entrada ou corrente primária I1. Então as quedas de tensão
primária são calculadas para obter a tensão de entrada V1. Observe que o diagrama fasorial é
sempre desenhado em termos de um enrolamento ou de outro (o enrolamento primário foi usado
na figura 5.9); consequentemente, as mudanças na magnitude da tensão e da corrente, atribuíveis
ao transformador ideal, não aparecem e de forma alguma elucidam o que se pretende com o
diagrama fasorial.

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Figura 5.9: Diagrama fasorial de um transformador com carga.

5.4 Ensaios de transformador

Os ensaios de um transformador representam os vários ensaios que devem ser preparados para
verificar o comportamento da máquina. Na prática, é difícil realizar ensaios reais directos por
duas razões essenciais:
1) A grande quantidade de energia que deve ser dissipada em tais ensaios;
2) É praticamente impossível ter cargas suficientemente altas (principalmente quando a potência
do transformador é grande) para fazer um ensaio em situações reais.
Agora, o comportamento de um transformador, sob qualquer condição de trabalho, pode ser
previsto com precisão suficiente se os parâmetros do circuito equivalente forem conhecidos.
Tanto o fabricante quanto o usuário do transformador precisam dessas informações. No entanto,
não é fácil ou confiável obter esses parâmetros a partir dos dados do projecto.
Felizmente, os elementos que intervêm no circuito equivalente aproximado podem ser obtidos
com ensaios muito simples que também têm a vantagem de precisar muito pouco consumo de
energia (suficiente para suprir apenas as perdas da máquina), portanto, são ensaios sem carga real.
Os dois testes fundamentais que são usados na prática para determinar os parâmetros do circuito
equivalente de um transformador são: Ensaio de vácuo e Ensaio de curto-circuito.

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5.4.1 Ensaio de vazio
O objectivo deste ensaio é obter as impedâncias do ramo de excitação no circuito equivalente, a
perda sem carga, a corrente sem carga e o factor de potência. Este é um ensaio simples realizado
como o nome indica, ao transformador, estando um dos enrolamentos em circuito aberto (sem
carga) e ao outro enrolando é aplicada uma tensão (geralmente a tensão nominal na frequência
também nominal). Nessas condições é feita a medição de tensão, da corrente e da potência nos
terminais do enrolmento em sob tensão.
A tensão de circuito aberto do segundo enrolamento também é medida e com essa medição pode
se obter uma verificação da relação de espiras. Geralmente, é melhor aplicar a tensão de ensaio
ao enrolamento que tem uma tensão nominal igual à da fonte de alimentação disponível. Em
transformadores elevadores, a tensão de circuito aberto do enrolamento secundário será maior do
que a tensão aplicada e, em alguns casos, muito maior. Deve-se ter cuidado com os terminais
deste enrolamento, garantindo a segurança do pessoal envolvido nos ensaios e evitando que estes
terminais fiquem muito próximos de outros circuitos eléctricos, instrumentos, aterramento, etc.
Este teste consiste em aplicar a tensão nominal ao primário do transformador, estando o
secundário em circuito aberto. Ao mesmo tempo, deve-se medir a potência absorvida P0, a
corrente sem carga I0 e a tensão secundária, conforme diagrama de conexão da figura 5.10.
Nota: O ensaio de vazio se indica por didática que se realize alimentando o enrolamento primário, já
que se pretende obter o circuito equivalente reduzido ao primário. Na prática esse ensaio se realiza
alimentando o enrolamento de BT por a sua tensão estar compreendida nas escalas dos aparelhos de
medida empregues, e não só, como também o nível de isolamento exigido é baixo e apresenta menor
perigo ao operador

Figura 5.10: Esquema eléctrico do ensaio de vazio.

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Como as perdas em vazio são desprezíveis (devido ao pequeno valor de I0), a potência
absorvida em vazio praticamente coincide com as perdas em ferro, o que está de acordo com o
circuito equivalente aproximado da figura 5.11a, uma vez que I2 = 0. A partir das medições
realizadas, pode-se obter o factor de potência sem carga, de acordo com a equação:

(5.37)

Por outra parte, devido ao pequeno valor da queda de tensão primária, pode se considerar que a
magnitude V1n coincide praticamente com E1 resultando em diagrama vectorial de vazio da
figura 5.11b, em que se tomou a tensão primária como referência de fases. Neste esquema os
componentes de I0 valem:
; (5.38)

De donde podem se obter os valores dos parâmetros RFe e :


; (5.39)

Isto é, o ensaio de vazio permite determinar as perdas no ferro do transformador e também os


parâmetros do ramo paralelo do circuito equivalente do mesmo. Do ensaio de vazio pode se obter
também a relação de transformação, graças a tensão aplicada V1n coincide practicamente com E1
ainda que a fem E2 é igual a tensão medida no secundário em vazio e que se denomina de V20.
Em consequência, irá se cumprir de acordo com a equação (5.30):
(5.40)

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Figura 5.11: Circuito equivalente em vazio e diagrama fasorial correspondente

3.6.2. Ensaio de curto-circuito


Neste ensaio, o enrolamento secundário é curto-circuitado e uma tensão é aplicada ao
enrolamento primário que aumenta gradualmente de zero até que a corrente nominal de plena
carga flua através dos enrolamentos. O esquema e os tipos de aparelhos necessários para realizar
este ensaio estão indicados na figura 5.12.
Nota: Na prática este tipo de ensaio realiza-se alimentando o transformador do lado de AT, pois dessa
forma a corrente a medir no primário será razoável. Na mesma situação, a tensão de alimentação será
uma pequena parte da nominal, estando compreendida dentro das escalas dos instrumento de medida a
usar nos ensaios.

Figura 5.12: Circuito eléctrico de ensaio de curto-circuito.

A tensão necessária para aplicar nesta prova representa uma pequena porcentagem em relação a
nominal (3 a 10% de V1n), pois o fluxo no núcleo é pequeno, sendo em consequência
desprezíveis as perdas no ferro. A potência absorvida em curto-circuito coincide com as perdas
no cobre, o que está de acordo com o circuito equivalente aproximado da figura 5.13a, Aqui é
desprezado o ramo em paralelo, como consequência do valor pequeno da corrente I0 em relação
a I1 .

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Das medidas efectuadas pode se obter o factor potência do curto-circuito, de acordo com a
expressão:
(5.41)

Se no circuito da figura 5.13a for tomada a corriente I1n como referência, é obtido o diagrama
vectorial da figura 5.13b, da qual se deduz:
(5.42)

E em consequência:
; (5.43)

Figura 5.13: Circuito equivalente de curto-circuito e esquema fasorial de tensões.

Portanto, o ensaio de curto-circuito permite determinar os parâmetros do ramo em série do


circuito equivalente do transformador, e daí se designam os símbolos Rcc e Xcc·
Deve se destacar que o ensaio de curto-circuito determina a impedância total do transformador,
mas não dá a informação de como estão distribuidos estes valores totais entre o primário e o
secundário, ou seja:
; (5.44)

Para poder determinar os valores individuais das resistências R1 e é preciso aplicar corrente
contínua a cada um dos enrolamentos e obter as resistências R1 e R2 aplicando a lei de Ohm e
utilizando um factor corrector para ter em conta o efeito pelicular que se produz com corrente
alterna (a resistência óhmica é função da frequência, devido a distribuição não uniforme da

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corrente pela secção transversal do condutor). Não existem procedimentos para separar a 2ª
equação (5.54) X1 de . Na prática da engenharia eléctrica, quando se deseja conhecer a
distribuição de Rcc e Xcc entre ambos enrolamentos é frequente recorrer a solução aproximada:
; (5.45)

Outro aspecto a se levar em consideração no ensaio de curto-circuito é que a potência absorvida


coincide com a perda no cobre dos enrolamentos correspondentes à corrente que flui naquela
situação.
Observe que se os parâmetros Rcc e Xcc forem considerados lineares, o que significa que seus
valores não dependem da corrente que flui por eles, o processo a seguir seria o mesmo que o
utilizado na expressão (5.43) e seriam obtidos mesmos valores. O conflito está na interpretação
de:
1) As perdas em curto-circuito, que já não serão mais as perdas no cobre pelas correntes
nominais ou de plena carga, mas perdas de cobre no regime de carga imposto pela corrente de
curto-circuito a que tenha realizado o ensaio;
2) a tensão de curto-circuito, que será proporcional à corrente na qual o ensaio foi realizado.
Estimando-se que a confusão decorra de uma indefinição das magnitudes que entram em jogo.
Para esclarecer este problema, nomearemos:
; ; (5.46)
A tensão de curto-circuito com corrente nominal, corrente de curto-circuito igual à nominal, e
potência de curto-circuito com corrente nominal, respectivamente.
Se o ensaio não for realizado com a corrente nominal, as magnitudes correspondentes serão
designadas da seguinte forma:
; ; (5.47)
Com ambos jogos de valores (3.55) e (3.56) obtém-se mesmas soluções (se o sistema for linear)
expressas em (5.43). Definidas as correntes e , as relações entre as outras
magnitudes tendo em conta o circuito equivalente da figura 5.13a, serão:
; ; (5.48)

Donde se deduz:

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; (5.49)

As igualdades (5.49) representam, portanto, as relações de transformação para transformar as


magnitudes de ambos ensaios. Portanto, se o ensaio de curto-circuito não foi realizado com
corrente nominal, deve-se aplicar as equações de transformação (5.49) para determinar as
grandezas (5.46) definidas para a corrente nominal e determinar os parâmetros do circuito
equivalente a partir das equações (5.41) e seguintes.
Normalmente, as quedas de tensão indicadas em (5.42) são geralmente expressas como uma
percentagem da tensão nominal, resultando em:
; ; (5.50)

O ensaio de curto-circuito deve ser diferenciado do defeito de curto-circuito que pode ocorrer em
um transformador alimentado por sua tensão nominal primária quando os terminais do
enrolamento secundário são acidentalmente unidos. O circuito equivalente nesta situação
também é indicado na figura 5.13 (ensaio de curto-circuito). Porém, o transformador é agora
alimentado por uma tensão (ao invés de ), aparecendo uma forte corrente de circulação
( no secundário), muito perigoso para a vida da máquina devido aos fortes efeitos
térmicos e electrodinâmicos que produz. Do ponto de vista do circuito equivalente, o valor de
será expresso por:

(5.51)

E tendo em conta que do diagrama vectorial da figura 3.23b se deduz:


(5.52)

Poderá se colocar:
(5.53)

que ao fazer o uso da 1ª identidad de (5.50) resultará:


(5.54)

Isso indica que a corrente de curto-circuito de defeito está em relação inversa com . Quanto
maior for o valor de , menor será o valor da corrente de curto-circuito.

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3.7 Queda de tensão em transformador

Considere um transformador alimentado por sua tensão nominal primária Em vazio, o


secundário fornece uma tensão V20, e quando uma carga é conectada ao seu secundário, devido à
impedância interna do transformador, a tensão medida no secundário não será mais a anterior,
mas outro valor que será denominada de V2. A diferença aritmética ou escalar entre as duas
tensões:
(5.55)
que representa a queda de tensão interna do transformador.
A queda de tensão relativa ou simplesmente regulação é chamada de queda de tensão interna, em
relação à tensão secundária em vazio (nominal), expressa como uma porcentagem e que é
designada por , (não deve ser confundido com definido pela expressão 5.50):

(5.56)

Ao trabalhar com o circuito equivalente reduzido ao primário, é mais conveniente expressar o


quociente anterior em função das grandezas primárias, se cada termo na equação (5.56) é
multiplicado pela razão de transformação a, resulta em:

(5.57)

Para calcular essa relação, vamos considerar um transformador que eleva uma corrente
secundária I2 com um factor de potência indutivo (ou retardado), conforme indicado na figura
5.14. Aplicando a 2ª lei de Kirchhoff ao circuito equivalente aproximado do transformador
reduzido ao primário, obtemos:
(5.58)
que permite calcular a tensão secundária reduzida em função da tensão aplicada ao
transformador e da corrente secundária reduzida ao primário. Obtendo na expressão anterior de
, a expressão (5.57) permitirá calcular a queda de tensão relativa do transformador.

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Figura 5.14: Circuito eléctrico equivalente para determinar a queda de tensão de um transformador.

Na prática, uma vez que a queda de tensão do transformador representa um valor reduzido
(<10%) em relação às tensões envolvidas, a expressão fasorial (5.58) não é normalmente usada
para calcular , mas sim recorre-se a um método aproximado proposto no final de o último
século pelo professor Gisbert Kapp. A figura 5.15 mostra o diagrama fasorial correspondente ao
circuito equivalente da figura 5.14, que em última análise representa a equação fasorial (5.58),
onde a tensão foi tomada como referência e um fp indutivo ( atrasa em relação a ).
Observa-se neste gráfico que o numerador na expressão (5.57) é expresso por:
| | | | | | (5.59)

onde S é o ponto de intersecção da recta prolongada de com a circunferência desenhada com


centro em O e raio . Uma vez que em transformadores industriais as quedas de tensão são
pequenas em comparação com as magnitudes de e , pode se admitir que:
| | | | (5.60)
Sendo R a projecção do vector V1 sobre a recta OS.

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Figura 5.15: Diagrama fasorial de um transformador em carga.

O triângulo de queda de tensão PTM é chamado de triângulo Kapp e suas dimensões são muito
menores do que e , mas na figura 5.15, o seu tamanho foi exagerado para maior clareza do
diagrama. Levando em consideração que é cumprido:
| | | | | | | | | | (5.61)

resulta:
| | (5.62)
Pelo que a queda absoluta de tensão será:
(5.63)
é denominado de índice de carga e ao quociente entre a corrente secundária do transformador
e o correspondente nominal, ou seja:

(5.64)

A expressão (5.63) pode se colocar:


(5.65)
Ou em valores relativos:

(5.66)

donde foi levado em consideração, de acordo com (5.42) e (5.50), que:

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(5.67)

3.8 Perdas e rendimento de um transformador

Conforme já discutido nos capítulos anteriores, uma máquina eléctrica tem perdas fixas e perdas
variáveis. As perdas fixas são compostas pelas perdas mecânicas, que não existem no
transformador (pois esta máquina não possui partes móveis), e pelas perdas no ferro. As perdas
variáveis, que mudam de acordo com o regime de carga, são devidas às perdas no cobre.
Portanto, ambas as perdas podem ser obtidas nos ensaios do transformador. É preciso lembrar
que foi cumprido:
; [ ] (5.68)

A segunda identidade representa as perdas no cobre em plena carga, uma vez que o ensaio de
curto-circuito é realizado com corrente nominal. Em geral, para uma corrente secundária (ou
reduzida ) será satisfeito o seguinte:
(5.69)

Levando em consideração a definição do índice de carga e a expressão (5.62), a perda de


potência no cobre para qualquer regime de carga pode ser expressa como:
(5.70)

Como em qualquer máquina eléctrica, o rendimento é o quociente entre a potência útil ou


potência secundária e a potência total ou de entrada no primário, ou seja:
(5.71)

onde PP representa a potência perdida. Se o secundário fornecer uma corrente na tensão V2


com factor de potência , teremos:

; (5.72)

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onde as relações (5.64), (5.68) e (5.70) foram utilizadas. Portanto, o rendimento do
transformador acaba sendo:
(5.73)

onde o produto representa a potência nominal do transformador em kVA. É de salientar


que o rendimento baixa quanto menor forem o factor de carga e o índice de carga. Portanto, o
rendimento é máximo para casos em que as perdas fixas e variáveis coincidam, ou seja, quando
se cumpre o seguinte:
(5.74)

resultando um índice de carga óptimo a qual se obtém o rendimento máximo dado por:

√ (5.75)

Se o transformador sempre trabalha a plena carga, o índice anterior deveria ser igual à unidade,
dessa forma a máquina trabalharia com máximo rendimento. No entanto, é normal que um
transformador trabalhe com cargas variáveis, e isso significa que na prática essas máquinas são
projectadas com um índice de carga entre 0,5 e 0,7 para grandes transformadores das centrais e
entre 0,3 e 0,5 para pequenos transformadores de distribuição de energia.

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I. Bibliografia de referência:

 NASAR, S.A.; UNNEWEHR, L.E. Electromecânica Y Máquinas eléctricas. México:


Editora Limusa, 1982.
 FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen D. Máquinas eléctricas:
com introdução à electrónica de potência. Porto Alegre: Bookman, 2006.
 KOSOW, Irving L. Maquinas eléctricas e transformadores. São Paulo: Globo, 1995.
 MORA, Jesus Fraile. Máquinas Eléctricas, 5ª Edição. McGrawHill

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