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MÁQUINAS ELÉCTRICAS I
Preparado por:
MSc.: Dmajequete @2021
5. Transformador
5.1 Introdução
Como foi analisado nos temas anteriores, o transformador é uma máquina eléctrica estática que
na base da indução electromagnética consegue transformar a energia eléctrica de determinadas
magnitudes de tensão e corrente, em outras de valores diferentes. É basicamente constituído por
dois ou mais enrolamentos acoplados por meio de fluxo magnético mútuo.
Portanto, se um dos enrolamentos, o primário, for ligado a uma fonte de tensão alterna, será
produzido um fluxo magnético alterno cuja amplitude irá depender da tensão primária, da
frequência da tensão aplicada e do número de espiras. O fluxo mútuo se vinculará com outro
enrolamento, o secundário, e irá induzir nele uma fem cujo valor irá depender do número de
espiras do enrolamento secundário, assim como da magnitude e da frequência. O processo de
transformação tem um grau de rendimento alto em relação ao de máquinas rotativas podendo
chegar até valores de ordem de 99,7% em transformadores grandes.
O mais fundamental no funcionamento do transformador é a existência do fluxo mútuo com
variação temporal concantenado em ambos enrolamentos. De facto isso pode ocorrer em dois
enrolamentos acoplados através de ar, daí que o acoplamento dos mesmos se torna mais efectiva
ao se usar um núcleo de ferro ou outros material ferromagnético, por o fluxo magnético se
manter dentro de um padrão definido e de alta permeabilidade que une ambos enrolamentos.
A importância dos transformadores deve-se ao facto de terem contribuido muito na utilização de
energia eléctrica alternada, possibilitando a realização práctica e económica de transporte de
energia a grandes distâncias. Tendo em conta que o transporte de energia eléctrica desde os
lugares de produção (centrais eléctricas) até aos diferentes centros de consumo é tanto mais
económico quanto mais alta for a tensão das linhas, pois o valor da corrente será menor e
consequentemente a secção dos condutores será menor, o que tem no tipo de estruturas a usar no
sistema.
Os transformadores são comumente usados para (1) transformar (elevar ou baixar) níveis de
tensão e corrente em sistema de energia; (2) acoplar impedâncias em circuitos de comunicação
(3) isolar electricamente, isto é, utiliza-se para eliminar ruídos electromagnéticos em diversos
Considere o transformador monofásico da figura 5.1, constituído por um núcleo magnético real
de permeabilidade finita com perdas no ferro PFe e nos enrolamentos primário e secundário,
respectivamente N1 e N2.
As convecções de sinais adoptadas para las correntes e tensões na figura 5.1 correspondem ao
sentido normal de transferência de energia, isto é, o enrolamento primário constitue um receptor
em relação a fonte de alimentação, o que significa que este enrolamento absorve uma corrente e
uma potência; o enrolamento secundário se comporta como gerador em relação a carga
conectada em seus bornes, fornecendo uma corrente e uma potência.
; (5.1)
Estas fems têm polaridades assinaladas na figura 5.1, que está de acordo com a lei de Lenz, de
oposição ao trocar do fluxo. Realmente e1 representa uma fcem porque se opõe à tensão aplicada
v1 e limita de facto a corrente do primário. A polaridade assinalada e2 na figura 5.1 tem em conta
que ao fechar o interruptor S do secundário haverá tendência de produzir uma corrente i2 no
sentido mostrado na figura, de tal modo que ao circular pelo enrolamento secundário daria lugar
a uma acção antagónica sbre o fluxo primário conforme a lei de Lenz.
Uma vez designados os sentidos das fems e correntes no transformador, interessa conhecer as
relações existentes entre as tensões, fluxos e as fems. Considerando que os enrolamentos são
ideias, a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff aos circuitos primário e secundário da figura 5.1, resulta
em:
; (5.2)
O que indica que as tensões e fems vão adiantadas 90° em relação ao fluxo, sendo seus valores
eficazes:
(5.8)
; (5.10)
Deste modo, e como se indica na figura 5.1, a corrente total necesária no primário i1 será igual a:
(5.11)
Enquanto em carga, quando as correntes de circulação são I1 e I2, temos uma fmm resultante:
ℱ (5.14)
O sinal menos da expressão anterior concorda com a acção desmagnetizante do secundário e que
pode se verificar aplicando a teoria dos circuitos magnéticos ao esquema da figura 5.1. Ao
igualar a equação (5.13) e (5.14) dá:
(5.15)
de onde se deduz:
(5.16)
que corresponde a expressão (5.12) já mostrada. A plena carga, a corrente é normalmente pelo
menos vinte vezes maior do que I0, então podemos desprezar na expressão (5.16) a corrente em
vazio versus , que é chamada de corrente secundária reduzida e, consequentemente, a
expressão (5.16) torna-se aproximada:
(5.17)
A magnitude relativa das perdas no núcleo magnético também pode influenciar a forma de onda
da corrente. Em muitos transformadores, o circuito magnético é projectado de forma que o fluxo
máximo necessário opere aproximadamente no joelho da curva de saturação com a tensão
nominal aplicada. Isso reduz a quantidade de distorção da onda senosoidal da corrente de
magnetização.
A corrente de magnetização é necessária para estabelecer o fluxo mútuo que torna possível a
acção do transformador e é, portanto, um parâmetro necessário em todo transformador. No
entanto, é conveniente minimizar este componente de corrente, a fim de reduzir as perdas no
Observa-se também no transformador real que de todo o fluxo produzido pelos enrolamentos há
apenas uma parte comum a ambos e representada por Փ na figura 5.3; Esta é uma consequência
dos fluxos de dispersão que surgem nos enrolamentos e que se distribuem por percursos não
magnéticos, em particular pelos condutores e pelo ar que circunda nas bobinas. Se Փ1 e Փ2 forem
chamados de fluxos totais que passam pelos enrolamentos primário e secundário e Փd1 e Փd2 os
respectivos fluxos de fuga, o seguinte será atendido:
; (5.18)
À primeira vista, a introdução de fluxos de dispersão complica o estudo, uma vez que a ideia do
único fluxo comum que existia no transformador ideal desaparece. De qualquer maneira se esta
forma de proceder pode ser preservada se bobinas com o mesmo número de espiras dos
Com a aplicação da 2ª lei de Kirchhoff aos circuitos primário e secundário da figura 5.4, resulta
em:
; (5.21)
; (5.22)
donde Փm é o fluxo comum máximo que circula pelo circuito magnético da figura 5.4.
Se levar em conta a equação (5.23), a relação entre os valores eficazes das fems induzidas será:
(5.25)
Uma equação que sempre é válida tanto para o transformador ideal (veja a equação 5.6) quanto
no transformador real que é estudado aqui. Agora, se a equação (5.21) ou (5.24) for levada em
consideração, no transformador real as igualdades entre fems e tensões que apareceram no
transformador ideal (ver equações 5.2), de modo que no caso real a razão entre as tensões
primária e secundária não seja mais igual à razão de transformação (ver equação 5.6). Nos
transformadores usados pela indústria, as quedas de tensão em plena carga são da ordem de 1 a
10% das tensões nominais, então as relações (5.24) tornam-se as equações aproximadas:
; (5.26)
uma vez que I2 é igual a zero. Uma vez que na prática a corrente em vazio I0 é da ordem de 0,6 a
8% de I1n (corrente nominal ou de plena carga do primário), as quedas de tensão em vazio
definidas por R1I0 e X1I0 na primeira equação (5.28) são muito pequenas (na ordem de 0,004 a
0,06% de V1) e, portanto, em vazio as igualdades podem ser consideradas suficientemente
exactas:
; (5.29)
donde V20 representa a magnitude da tensão secundária em vazio. Por conseguiente, e tendo em
conta as expressões (5.25) e (5.29), poderá se escrever:
que define a relação de transformação como o quociente entre a tensão primária aplicada ao
transformador e a tensão secundária no modo em vazio.
Em operação com carga, a primeira relação aproximada (5.26) e a primeira equação (5.23)
indicam que os fluxos magnéticos em vazio e com carga são praticamente iguais, o que significa
que as fmms em ambos os estados de carga eles coincidem, de modo que a equação (5.16), que
relaciona as correntes do transformador, pode ser considerada válida para todos os efeitos e é
reescrita a seguir:
(5.31)
Ao longo dos anos diversos conceitos foram elucidados para contribuir para o entendimento da
teoria e do funcionamento dos dispositivos electromagnéticos e, portanto, facilitar sua análise.
Um dos conceitos mais convenientes deste tipo é o da rede eléctrica equivalente que "modela" a
tensão, a corrente e as relações magnéticas dentro do dispositivo real. Os circuitos equivalentes
dos transformadores foram concebidos e usados muito antes da "era do computador" em que
vivemos. No entanto, essas representações de circuitos equivalentes são particularmente
adequadas para simulação de computador de sistemas eléctricos de todos os tipos.
Os circuitos equivalentes de transformadores foram usados em representações da teoria do
quadrípolos em sistemas telefônicos e outros sistemas de comunicação em alta frequência muito
antes do advento do computador digital moderno. Existem actualmente muitos programas de
software disponíveis na maioria dos computadores digitais, para os quais quase todas as formas
de circuitos equivalentes de transformador são convenientemente adequadas. Os circuitos
equivalentes também são muito úteis na compreensão da operação física de dispositivos
electromagnéticos e no estabelecimento de técnicas sistemáticas para seu projecto.
Figura 5.5: Modelo de transformador em que se mostram tensões, correntes e fluxos instantâneos.
Mediante uma análise semelhante a anterior pode se demonstrar que uma impedância do
primário referida ao enrolamento secundário ou “vista do lado secundário”, é expressa pela
relação inversa:
(5.34)
As equações (5.33) e (5.34) podem ser generalizadas para afirmar que qualquer impedância em
um enrolamento pode se referir ao outro enrolamento em função do quadrado da razão de espiras
do transformador, conforme expresso nessas equações. As aspas nessas duas equações são
usadas para designar o enrolamento ao qual a impedância se refere. Esta é uma característica dos
transformadores e a base para a aplicação do transformador chamada "casamento de impedância".
( ) (5.36)
Os ensaios de um transformador representam os vários ensaios que devem ser preparados para
verificar o comportamento da máquina. Na prática, é difícil realizar ensaios reais directos por
duas razões essenciais:
1) A grande quantidade de energia que deve ser dissipada em tais ensaios;
2) É praticamente impossível ter cargas suficientemente altas (principalmente quando a potência
do transformador é grande) para fazer um ensaio em situações reais.
Agora, o comportamento de um transformador, sob qualquer condição de trabalho, pode ser
previsto com precisão suficiente se os parâmetros do circuito equivalente forem conhecidos.
Tanto o fabricante quanto o usuário do transformador precisam dessas informações. No entanto,
não é fácil ou confiável obter esses parâmetros a partir dos dados do projecto.
Felizmente, os elementos que intervêm no circuito equivalente aproximado podem ser obtidos
com ensaios muito simples que também têm a vantagem de precisar muito pouco consumo de
energia (suficiente para suprir apenas as perdas da máquina), portanto, são ensaios sem carga real.
Os dois testes fundamentais que são usados na prática para determinar os parâmetros do circuito
equivalente de um transformador são: Ensaio de vácuo e Ensaio de curto-circuito.
(5.37)
Por outra parte, devido ao pequeno valor da queda de tensão primária, pode se considerar que a
magnitude V1n coincide praticamente com E1 resultando em diagrama vectorial de vazio da
figura 5.11b, em que se tomou a tensão primária como referência de fases. Neste esquema os
componentes de I0 valem:
; (5.38)
A tensão necessária para aplicar nesta prova representa uma pequena porcentagem em relação a
nominal (3 a 10% de V1n), pois o fluxo no núcleo é pequeno, sendo em consequência
desprezíveis as perdas no ferro. A potência absorvida em curto-circuito coincide com as perdas
no cobre, o que está de acordo com o circuito equivalente aproximado da figura 5.13a, Aqui é
desprezado o ramo em paralelo, como consequência do valor pequeno da corrente I0 em relação
a I1 .
Se no circuito da figura 5.13a for tomada a corriente I1n como referência, é obtido o diagrama
vectorial da figura 5.13b, da qual se deduz:
(5.42)
E em consequência:
; (5.43)
Para poder determinar os valores individuais das resistências R1 e é preciso aplicar corrente
contínua a cada um dos enrolamentos e obter as resistências R1 e R2 aplicando a lei de Ohm e
utilizando um factor corrector para ter em conta o efeito pelicular que se produz com corrente
alterna (a resistência óhmica é função da frequência, devido a distribuição não uniforme da
Donde se deduz:
O ensaio de curto-circuito deve ser diferenciado do defeito de curto-circuito que pode ocorrer em
um transformador alimentado por sua tensão nominal primária quando os terminais do
enrolamento secundário são acidentalmente unidos. O circuito equivalente nesta situação
também é indicado na figura 5.13 (ensaio de curto-circuito). Porém, o transformador é agora
alimentado por uma tensão (ao invés de ), aparecendo uma forte corrente de circulação
( no secundário), muito perigoso para a vida da máquina devido aos fortes efeitos
térmicos e electrodinâmicos que produz. Do ponto de vista do circuito equivalente, o valor de
será expresso por:
(5.51)
Poderá se colocar:
(5.53)
Isso indica que a corrente de curto-circuito de defeito está em relação inversa com . Quanto
maior for o valor de , menor será o valor da corrente de curto-circuito.
(5.56)
(5.57)
Para calcular essa relação, vamos considerar um transformador que eleva uma corrente
secundária I2 com um factor de potência indutivo (ou retardado), conforme indicado na figura
5.14. Aplicando a 2ª lei de Kirchhoff ao circuito equivalente aproximado do transformador
reduzido ao primário, obtemos:
(5.58)
que permite calcular a tensão secundária reduzida em função da tensão aplicada ao
transformador e da corrente secundária reduzida ao primário. Obtendo na expressão anterior de
, a expressão (5.57) permitirá calcular a queda de tensão relativa do transformador.
Na prática, uma vez que a queda de tensão do transformador representa um valor reduzido
(<10%) em relação às tensões envolvidas, a expressão fasorial (5.58) não é normalmente usada
para calcular , mas sim recorre-se a um método aproximado proposto no final de o último
século pelo professor Gisbert Kapp. A figura 5.15 mostra o diagrama fasorial correspondente ao
circuito equivalente da figura 5.14, que em última análise representa a equação fasorial (5.58),
onde a tensão foi tomada como referência e um fp indutivo ( atrasa em relação a ).
Observa-se neste gráfico que o numerador na expressão (5.57) é expresso por:
| | | | | | (5.59)
O triângulo de queda de tensão PTM é chamado de triângulo Kapp e suas dimensões são muito
menores do que e , mas na figura 5.15, o seu tamanho foi exagerado para maior clareza do
diagrama. Levando em consideração que é cumprido:
| | | | | | | | | | (5.61)
resulta:
| | (5.62)
Pelo que a queda absoluta de tensão será:
(5.63)
é denominado de índice de carga e ao quociente entre a corrente secundária do transformador
e o correspondente nominal, ou seja:
(5.64)
(5.66)
Conforme já discutido nos capítulos anteriores, uma máquina eléctrica tem perdas fixas e perdas
variáveis. As perdas fixas são compostas pelas perdas mecânicas, que não existem no
transformador (pois esta máquina não possui partes móveis), e pelas perdas no ferro. As perdas
variáveis, que mudam de acordo com o regime de carga, são devidas às perdas no cobre.
Portanto, ambas as perdas podem ser obtidas nos ensaios do transformador. É preciso lembrar
que foi cumprido:
; [ ] (5.68)
A segunda identidade representa as perdas no cobre em plena carga, uma vez que o ensaio de
curto-circuito é realizado com corrente nominal. Em geral, para uma corrente secundária (ou
reduzida ) será satisfeito o seguinte:
(5.69)
; (5.72)
resultando um índice de carga óptimo a qual se obtém o rendimento máximo dado por:
√ (5.75)
Se o transformador sempre trabalha a plena carga, o índice anterior deveria ser igual à unidade,
dessa forma a máquina trabalharia com máximo rendimento. No entanto, é normal que um
transformador trabalhe com cargas variáveis, e isso significa que na prática essas máquinas são
projectadas com um índice de carga entre 0,5 e 0,7 para grandes transformadores das centrais e
entre 0,3 e 0,5 para pequenos transformadores de distribuição de energia.