Você está na página 1de 18

UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 15

Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

MÓDULO II

Transformadores

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FITZGERALD, A. Máquinas Elétricas. São Paulo: Mc-Graw-Hill do Brasil.
KOSOW, I. W. Máquinas elétricas e transformadores. São Paulo: Globo, 5ª edição, 1998.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

2.1 DEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS

O transformador opera segundo o princípio da indução mútua entre duas (ou mais)
bobinas ou circuito indutivamente acoplados. Um transformador teórico de núcleo a ar, no
qual dois circuitos são acoplados por indução magnética, é visto na figura 2.1. Observe que
os circuitos não são ligados fisicamente (não há conexão condutiva entre eles).
O circuito ligado à fonte de tensão alternativa, V1, é chamado primário (circuito 1). O
primário recebe sua energia de uma fonte alternativa. Dependendo do grau de acoplamento
magnético entre dois circuitos, Eq. 2.1, esta energia é transferida do circuito 1 ao circuito 2.
Se os dois circuitos são frouxamente acoplados, como no caso do transformador a núcleo de
ar, mostrado na figura 2.1, somente uma pequena quantidade de energia é transferida doo
primário (circuito 1) para o secundário (circuito 2). Se as duas bobinas ou circuitos estão
enrolados sobre um núcleo comum de ferro, eles estão fortemente acoplados. Neste caso,
quase toda a energia recebida da fonte, pelo primário, é transferida por ação
transformadora ao secundário.

Figura 2.1 – transformador de núcleo de ar, indutivamente acoplado, com os símbolos definidos.
Fonte: KOSOW (1982).
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 16
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

As seguintes definições aplicam-se ao transformador da figura 2.1.


 V1 – é a tensão de suprimento aplicada ao primário, circuito 1, em volts.
 r1 é a resistência do circuito primário, em ohms.
 L1 é a indutância do circuito primário, em henries.
 XL1 é a reatância indutiva do circuito primário, em ohms.
 Z1 é a impedância do circuito primário, em ohms.
 I1 é o valor médio quadrático da corrente drenada da fonte pelo primário, em
ampères.
 E1 é a tensão induzida no enrolamento primário (ou circuito).
 E2 tensão induzida no enrolamento secundário (ou circuito).
 I2 é o valor médio quadrático da corrente entregue pelo circuito secundário à carga
ligada a seus terminais
 r2 resistência do circuito secundário (excluída a carga), em ohms.
 V2 é a tensão que aparece nos terminais do enrolamento secundário, em volts.
 L2 é a indutância do circuito secundário, em henries.
 XL2 é a reatância indutiva do circuito secundário, em ohms.
 Z2 é a impedância do circuito secundário (excluída a carga), em ohms.
 é a componente de dispersão do fluxo que concatena apenas com a bobina 1.
 é a componente de dispersão do fluxo que concatena apenas com a bobina 2.
 é o fluxo mútuo, compartilhado por ambos os circuitos, concatenando as bobinas
1 e 2.
 M indutância mútua entre as duas bobinas (ou circuitos) produzidas pelo fluxo
mútuo ( ), em henries.
Note-se o significado da convenção dos pontos, usada na figura 2.1 para mostrar a
polaridade instantânea positiva da tensão alternativa induzida em ambos os enrolamentos,
primário e secundário, como resultado da tensão de transformação. Assim, quando V1 é
instantaneamente positivo, uma tensão E1 é induzida no enrolamento primário, de uma
polaridade tal eu se opõe a V1, de acordo com a lei de Lenz, como mostra a figura 2.1.
Também deve-se notar na figura 2.1 que a corrente I2 está em oposição em relação a
corrente I1. Isto também está de acordo com a Lei de Lenz, uma vez que I1 produz , I2
deve circular numa direção tal que se oponha a I1, e (ao mesmo tempo) que esteja conforme
a polaridade instantânea E2, como se vê na figura 2.1. A polaridade instantânea de E2 e I2
estabelece a polaridade instantânea de V2 (terminal positivo) e a direção da corrente na
carga.
O coeficiente de acoplamento, k, entre duas bobinas, é a relação do fluxo mútuo para o
fluxo total, definido como:

(2.1)

UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 17
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

Onde todos os termos foram definidos.

Se as duas bobinas estão frouxamente acopladas, como no transformador de núcleo de


ar, da figura 2.1, termos e são pequenos em comparação a . Como consequência,
os termos e M são pequenos em comparação . A substituição na eq. 2.1 leva um valor
pequeno do coeficiente de acoplamento k. Isto por sua vez, leva a um valor pequeno de E2 e
V2 (em comparação a E1 e V1). Para qualquer carga dada, assim, um pequeno valor de V1
leva um pequeno valor da corrente de carga I2. Estabelece-se simplesmente, então, que para
o acoplamento frouxo, a potência transferida ao circuito secundário, E2.I2, é relativamente
pequena.
Transformadores que têm acoplamento frouxo são usados principalmente em
comunicação em alta frequência e em circuitos eletrônicos. Praticamente, todos os
transformadores usados em aplicações relativas a máquinas e potência, entretanto, são
transformadores de núcleo de ferro, fortemente acoplados.
Se as bobinas ou circuitos são estreitamente acoplados, e os fluxos dispersos
são relativamente pequenos em comparação a , a indutância mútua M entre as duas
bobinas é grande como o são os termos E2, I2 e V2. Neste caso, a energia transformadora
E2.I2.t . Tanto quando possível, o projeto dos transformadores de potência, de núcleo de
ferro, tenta fazê-los atingir um coeficiente de acoplamento unitário ( k = 1 ) tal que na eq.
2.1 √ , como no caso de um transformador ideal.
O acoplamento entre os dois circuitos é aumentado se porções de ambas as bobinas
são enroladas no mesmo formato e se são colocadas sobre um núcleo magnético de baixa
relutância. Tais considerações tendem a reduzir . Mas, mesmo com ótimos projetos,
é impossível atingir condições de transformador ideal – um que não tenha fluxos dispersos
no primário ou no secundário, e tenha acoplamento unitário. Apesar disto, a discussão
subsequente começa com um transformador ideal, com a finalidade de simplificar a
compreensão das relações do transformador que se seguem. Após, será abordado o
transformador prático de potência.

2.2 RELAÇÕES NO TRANSFORMADOR IDEAL

Considere um transformador ideal, de núcleo de ferro, conforme mostra a figura 2.2,


onde os fluxos dispersos e e k = 1. Tal transformador possui apenas fluxo
mútuo , comum a ambas as bobinas, primária e secundária. Quando V1 é
instantaneamente positivo, como se vê na figura 2.2, a direção da corrente primária I1
produz a direção do fluxo mútuo , como se vê.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 18
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

Figura 2.2 – Transformador de núcleo de ferro, caso ideal.


Fonte: KOSOW (1982).
A força eletromotriz induzida primária, E1, de acordo com a convenção dos pontos e
com a lei de Lenz, produz uma polaridade positiva na parte superior da bobina primária,
que se opõe instantaneamente à tensão aplicada V1. Semelhantemente, no secundário, para
a direção de mostrada, a polaridade positiva de E2 deve ser tal que crie um fluxo
desmagnetizante oposto (Lei de Lenz). Uma carga ligada aos terminais do secundário
produz uma corrente secundária I2, que circula em resposta à polaridade de E2 e produz um
fluxo desmagnetizante.
Estamos agora em condições de compreender qualitativamente como um
transformador desenvolve potência secundária e transfere potência do primário para o
secundário, na forma seguinte:
1. Imagine um circuito aberto, impedância infinita ou carga zero no secundário, e I2 =
0.
2. Como resultado do fluxo alternativo mútuo (criado pela tensão aplicada) são
produzidas forças eletromotrizes E1 e E2 tenso a polaridade instantânea mostrada
como respeito a (figura 2.2).
3. 3. Uma pequena corrente primária, Im, conhecida como corrente de magnetização,
deve circular mesmo quando o transformador está descarregado. A corrente é
pequena, porque a fem induzida primária, E1, se opõe à tensão aplicada, V1, a cada
instante. O valor de Im é uma função primariamente da relutância do circuito
magnético, Rm, e do valor de pico do fluxo magnetizante, , para um dado número
de espiras primárias.
4. Como mostra a figura 2.3, o valor pequeno de Im se atrasa, em relação à tensão
primária, de 90° produzindo .
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 19
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

(a) (b)

(c)

Figura 2.3 – Relações fasoriais no transformador ideal: (a) relações primárias a vazio; (b) relações
secundárias, transformador carregado; (c) relações primárias, transformador carregado.
Fonte: KOSOW (1982).
5. , por sua vez, requer 90° para produzir as tensões induzidas primária e
secundária, E1 e E2. Estas tensões induzidas estão em fase uma com a outra, por
serem ambas produzidas por . Note que E1, na figura 2.3 (a) opõe-se a V1 (lei de
Lenz). Sem carga, a figura 2.3 (a) representa todas as relações de corrente e tensão
num transformador ideal.
6. Imagine uma carga em atraso (indutiva) ligada aos terminais do secundário do
transformado idela da figura 2.2. Tal carga produz uma corrente I2 atrasada em
relação a E2 de um ângulo , como se vê na figura 2.3 (b).
7. Os ampère-espiras secundários, N2I2, como mostra a figura 2.2, tendem a prooduzir
um fluxo desmagnetizante que reduz o fluxo mútuo , e as tensões indizidas E2 e
E1, instantaneamente.
8. A redução de E1 produz uma componente primária da corrente de carga, I1’ que
circula no primário, tal que I1’N1 = I2N2, restabelecendo em seu valor original.
Note-se que, na figura 2.3(b), I1’ se atrasa em relação a V1 de , enquanto I2 se
atrasa em relação a E2 de , tais que . Esta última igualdade é necessária a
fim de que os ampère-espiras primários restaurados N1I1’ sejam iguais e opostos aos
ampère-espiras secundários desmagnetizantes N2I2.
9. O efeito da componente primária da corrente de carga I1’ é visto na figura 2 3 (c),
onde a corrente primária I1 é a soma fasorial de Im e I1’ Dois pontos devem ser
notados no que diz respeito às relações do fator de potência no circuito primário da
figura:
a) O ângulo de fase do primário diminui de seu valor original sem carga de 90° a seu
valor com carga, e
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 20
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

b) O ângulo de fase do circuito primário não é exatamente o mesmo do circuito


secundário. (para uma carga em atraso ).

Os passos citados revelam a maneira pela qual o circuito primário responde à carga no
circuito secundário.

A igualdade entre a fmm desmagnetizante do secundário N2I2 e a componente


primária da fmm N1 I1’, que circula devido à carga para equilibrar sua ação
desmagnetizante, como se descreveu no item 8, pode ser sumarizada e rearranjada como:

(2.ba)
ou
(2.2b)
Sendo:
é a relação das espiras primárias para as secundárias ou a relação de transformação;
é a componente de carga da corrente primária;
é a corrente secundária ou de carga;
e são os números de espiras do primário e secundário, respectivamente.
O significado da relação de transformação, , na eq. 2.2b, é que ela é fixa (não
constante) para qualquer transformador dado (já construído) dependendo de sua
aplicação. Consequentemente, a componente de carga da corrente primária pode ser
calculada para qualquer valor da corrente secundária de carga.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 1. O lado de alta tensão de um transformador tem 500 espiras, enquanto o de
baixa tensão tem 100 espiras. Quando ligado como abaixador, a corrente de carga é de 12 A.
Calcule:
a) A relação de transformação .
b) A componente de carga da corrente primária.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 2. Calcule a relação de transformação do transformador do exercício 1, quando
usado como transformador elevador.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Os exercícios 1 e 2 mostram que a relação de transformação, , é fixa para uma dada
aplicação, mas não constante. Quando usado como transformador abaixador, = 5, mas,
quando usado como transformador elevador, ,2. Desde que os termos elevador e
abaixador referem-se às tensões, bem como aos lados de alta tensão e baixa tensão, a
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 21
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

relação de transformação pode ser estabelecida em função das tensões, usando a


quantificação de Neumann da Lei de Faraday.

(2.3)
e
(2.4)
Uma vez que a relação de variação do fluxo mútuo que concatena primário e
secundário é a mesma, , dividindo a eq. 2.3 pela eq. 2.4 teremos em função das tensões
ou

(2.5)

A equação 2.5 estabelece que as relações das tensões primárias para as secundárias são
proporcionais às relações dos números de espiras primárias para secundárias. Também se
verifica que a relação de transformação, , é a maior que a unidade para um transformador
abaixador, mas é mnor que a unidade para um transformador elevador.
Considerando as equações 2.2b e 2.5, tem-se:

(2.6)

Que pode ser transposta para conduzir à relação fundamental de potência entre o primário
e o secundário.
(2.7)
E, se a componente de carga da corrente primária, , é muito maior que a corrente de
magnetização, Im, pode-se escrever:
( é ) (2.8)
Para um transformador ideal, sem perdas, não tendo fluxos dispersos primários nem
secundários (reatâncias de dispersão nulas), podemos dizer que:
( ) (2.9)
A eq. 2.9 verifica a definição fundamental de um transformador como dispositivo que
transfere energia de um circuito para outro. Para um transformador ideal, os volt-ampères
drenados da fonte alternativa, V1I1 são iguais aos volt-ampères transferidos ao secundário e
entregues à carga V2I2, onde todos os termos foram definidos na seção 2.1. A eq. 2.9 também
estabelece um meio de especificar um transformador volt-ampères (VA) ou quilovolt-
ampères (kVA), onde V1 e I1 são os valores nominais da tensão e da corrente primária,
respectivamente, e V2 e I2 os valores nominais secundários da tensão e da corrente,
respectivamente.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 22
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

Exercício 3. Um transformador de 4,6 kVA, 2300/115 V, 60 Hz foi projetado para ter uma
fem induzida de 2,5 volts/espira. Imaginando-o um transformador ideal, calcule:
a) O número de espiras do enrolamento de alta.
b) O número de espiras do enrolamento de baixa.
c) A corrente nominal para o enrolamento de alta.
d) A corrente nominal para o enrolamento de baixa.
e) A relação de transformação funcionando como elevador.
f) A relação de transformador funcionando como abaixador.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Como visto no exercício 3, a relação volts/espiras é a mesma para ambos os
enrolamentos, de alta e baixa tensões.
Pode-se mostrar que este valor é diretamente proporcional ao valor de pico do fluxo
mútuo, , e à frequência, conforme expressa a relação volts/ espira.

4,44 ( ) (2.10)

Sendo que:
Bm é a máxima densidade de fluxo permissível
A é a área do núcleo do transformador
O significado da eq. 2.10 não pode ser desconsiderado, por que estabelece o máximo
fluxo permissível ou a máxima densidade de fluxo permissível a uma dada frequência e a
uma dada tensão. Assim, os transformadores projetados para operação a uma dada
frequência não podem ser operados em outras frequência sem as correspondentes
alterações na tensão aplicada.
Nestas condições, para o caso de um transformador com dois enrolamentos,
considerando um mesmo k e mesmo , a alteração na tensão aplicada no transformador
por conta da modificação da frequência de operação pode ser calculada com a seguinte
relação: de ser feita do modo seguinte:

Sendo:
a tensão de projeto;
a tensão de operação;
a frequência de projeto;
a frequência de operação.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 23
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

Nota: Dedução da equação 2.10

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 4. Um transformador de 600/20 V, 400 Hz, 3000/100 espiras deve ser utilizado a
partir de uma rede de 60 Hz. Mantendo a mesma densidade de fluxo permissível, calcule:
a) A máxima tensão que se pode aplicar nos enrolamentos de alta e baixa tensão.
b) A relação Volt/espira a 400 Hz e a 60 Hz na AT.
c) A capacidade em kVA no transformador a 60 Hz.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 5. Um transformador de 1 kVA, 220/110 V, 400 Hz deve ser usado em 60 Hz.
Calcule:
a) A tensão que pode ser aplicada no lado de alta tensão e a máxima saída do lado de
baixa tensão.
b) Os kVA nominais do transformador sob as condições de frequência reduzida.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
2.3 IMPEDÂNCIA REFLETIDA, TRANSFORMAÇÃO DE IMPEDÂNCIA E TRANSFORMADORES
REAIS

O transformador a núcleo de ferro da figura 2.2, é mostrado novamente na figura


2.4(a), com uma carga ZL ligada aos terminais do secundário. Note-se que, se a carga for
removida, o transformador fica a vazio, I2 = 0; e a impedância, ZL, é infinita (desde que ZL =
V2/ I2). Para qualquer valor da impedância de carga, ZL, a impedância secundária, vista
olhando-se os terminar secundário a partir da carga, como mostra a figura 2.4(b), é
(2.11)
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 24
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

Similarmente, a impedância equivalente de entrada, olhando-se os terminais


primários a partir da fonte, como mostra a figura 2.4(b), é

(2.12)

Desde que qualquer alteração na impedância de carga e na corrente do secundário


reflete-se como uma alteração na corrente primária, é, algumas vezes, conveniente
simplificar o transformador representando-o por um único circuito equivalente. Isto
implica refletir a impedância secundária ao primário, como

Mas , como se viu na eq. 2.5, e , como mostra a eq. (2.6); então

(a)
(b)

(b)
Figura 2.4 – Impedância refletida ao secundário e ao primário: (a) Transformador real com carga; (b)
Impedância equivalente de saída e de entrada; (c) Impedância equivalente refletida.
Fonte: KOSOW (1982).
Mas V2/ I2, é a impedância secundária Z2, como mostra a eq. 2.11. Então,

( ) (2.13)

A figura 2.4(c) mostra a impedância olhando-se para dentro dos terminais a partir da
fonte quando a impedância secundária foi refletida de volta ao primário. Admita-se agora
que o secundário está a circuito aberto, com forme a figura 2.4(c), e que a impedância do
enrolamento secundário é desprezível comparada à impedância da carga ZL, que é igual a
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 25
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

Z2. A eq. 2.13 estabelece que a relação da impedância de entrada para a de saída é (igual a)
o quadrado da relação de transformação. Desde que , esta relação implica em que
os transformadores podem servir como dispositivos para o acoplamento de impedâncias,
de modo a prover a máxima transferência de potência de um circuito a outro. Um exemplo
comum é o caso de um transformador de saída, usado para acoplar a impedância da carga
do alto falante à impedância de saída de um amplificador de áudio.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 6. O lado de alta tensão de um transformador abaixador tem 800 espiras e o lado
de baixa tensão tem 100 espiras. Uma tensão de 240 V é aplicada do lado de alta e uma
impedância de carga de 3 Ω é ligada do lado de baixa tensão Calcule:
a) A corrente e a tensão secundárias.
b) A corrente primária.
c) A impedância de entrada do primário a partir da relação entre a tensão e a corrente
primárias.
d) A impedância de entrada do primário por meio da eq. (2.13).
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 7. Um servo- amplificador CA tem uma impedância de sa da de 25 Ω e o servo-
motor CA, que ele deve acionar, tem uma impedância de 2,5 Ω Calcule:
a) A relação de transformação do transformador que faça o acoplamento da
impedância do servo- amplificador à do servo-motor.
b) O número de espiras do primário se o secundário tem 10 espiras.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
2.4 O TRANSFORMADOR REAL
Um transformador real, de núcleo de ferro, carregado é representado na figura 2.5(a).
Embora “hermeticamente” acoplado pelo núcleo de ferro, uma pequena porção do fluxo
disperso é produzida nos enrolamentos primário e secundário, e , respectivamente,
além do fluxo mútuo, , como mostra a figura 2.5(a).
O fluxo disperso primário produz uma reatância indutiva primária XL1. O fluxo
disperso secundário produz uma reatância indutiva secundária, XL2. Além disto, os
enrolamentos primário e secundário são constituídos de condutores de cobre, que têm
certa resistência. A resistência interna do enrolamento primário é r1 e a do secundário é r2.
As resistências e reatâncias dos enrolamentos do primário e secundário,
respectivamente, produzem quedas de tensão no interior do transformador, como
resultado das correntes primária e secundária. Embora estas quedas de tensão sejam
internas, é conveniente representá-las externamente como parâmetros puros em série com
um transformador ideal, como mostra a figura 2.5(b).
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 26
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

(a) Fluxos dispersos em um transformador real carregado.

(b)Resistências e reatâncias primárias e secundárias, ocasionando quedas de tensão.


Figura 2.5 – Transformador real.
O transformador ideal, mostrado na figura 2.5(b), é imaginado sem quedas internas
nas resistências e reatâncias de seus enrolamentos. A dispersão foi incluída na queda de
tensão primária I1Z1, e na queda de tensão secundária I2Z2. Uma vez que estas são quedas de
tensão indutivas, pela teoria da corrente alternada podemos dizer que a impedância interna
primária do transformador é
, sendo que todos os termos foram definidos na seção 2.1 (2.14)
E a impedância secundária interna do transformador é
,sendo que todos os termos foram definidos na seção 2.1 (2.15)
É possível agora ver a relação entre as tensões terminais e induzidas do primário e
secundário, respectivamente. De acordo com a equação 2.10, as fem induzidas primária e
secundária podem ser avaliadas a partir da relação fundamental:
4 44 (2.16)

4 44 (2.17)

Onde todos os termos foram definidos anteriormente.


Mas, desde que é relativamente difícil avaliar , a máxima densidade de fluxo
permissível no transformador a partir de medições de tensão e corrente, as relações que
seguem, e que também provem da figura 2.5(b), permitem que sejam computadas as fem
induzidas primária e secundária:
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 27
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

̇ ̇ ( ̇) ̇ ( ) (2.18)

̇ ̇ ( ̇) ̇ ( ) (2.19)

Note-se, pela figura 2.5(b) e eq. 2.18, que a tensão aplicada ao primário, V1, é maior
que a fem induzida no enrolamento primário, E1. E também pela figura 2.5(b) e eq. 2.19, que
as fem induzida no enrolamento secundário, E2, é maior que a tensão nos terminais
secundário, V2. Assim, pode-se escrever:
e (2.20)

Para um transformador real, carregado.


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 8. Um transformador abaixador de 500 kVA, 60 Hz, 2300/230 V, tem os seguintes
parâmetros: r , Ω, XL ,3 Ω, r2 , Ω, XL , 3 Ω Quando o transformador é
usado como abaixador e está com carga nominal, calcule:
a) As correntes primária e secundária.
b) As impedâncias internas primária e secundárias.
c) As quedas internas de tensão primária e secundária.
d) As fem induzidas primária e secundária, imaginando-se que as tensões nos termnais
e induzidas estão em fase.
e) A relação entre as fem induzidas primária e secundária, e entre as respectivas
tensões terminais.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 9. A partir das tensões terminais e correntes primárias e secundárias do exercício
8, calcule:
a) A impedância de carga ZL.
b) A impedância primária de entrada, Zp.
c) Compare ZL com Z2 e Zp com Z1.
d) Estabeleça as diferenças entre as impedâncias do item c.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
2.5 CIRCUITOS EQUIVALENTES PARA UM TRANSFORMADOR REAL DE POTÊNCIA

É possível usar transformações de impedância para desenvolver o circuito equivalente


de um transformador real. Um tal circuito equivalente é útil na solução de problemas
correlatos com o rendimento e regulação em tensão de um transformador.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 28
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

2 2
I1 r1 x1 I’2 α r2 α x2
Im

V1 Rm Xm α2.ZL

(a) Circuito equivalente de um transformador de potência.


I1 I’2 α2r2 α2x2

Im

V1 Rm Xm αV2 α2.ZL

(b) Circuito equivalente aproximado com resistências e reatâncias refletidas ao primário.

I1 Re1 xe1

V1 α V2 α2.ZL

(c) Circuito equivalente simplificado imaginando nula a corrente de magnetização (Im<<I1).


Figura 2.9 – Circuitos equivalentes para o transformador de potência.

A figura 2.9(a) mostra um circuito com a impedância de carga e a reatância internas


secundárias refletidas de volta ao primário. Nota-se que a corrente primária, I1, é a soma da
componente primária de magnetização, Im, e da componente correspondente à corrente de
carga, I’2. Rm representa o parâmetro equivalente às perdas de potência no ferro e no núcleo
do transformador (perdas por histerese e correntes parasitas) e devidas à corrente de
magnetização, Im. Xm está em paralelo com Rm e representa a componente reativa do
transformador.

A figura 2.9(a) é a representação de um transformador que satisfaz as condições dele


a vazio e carregado. Se o secundário do transformador mostrado está a circuito aberto, I’2 =
0 e apenas Im circula (I1 = Im) produzindo uma pequena queda interna de tensão na
impedância primária Z1 e a queda de tensão primária I1.Z1 são relativamente pequenas, é
possível obter-se um circuito equivalente aproximado deslocando o ramo paralelo L-R
diretamente junto à fonte de suprimento V1. Fazendo isto, é possível agrupar as resistências
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 29
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

e reatâncias internas dos circuitos primário e secundário, respectivamente, como mostra a


figura 2.9(b), de modo a produzir os seguintes parâmetros equivalentes:

â á

â á

Se o transformador é algo carregado, e a componente primária da corrente de carga,


I’1, excede Im, esta pode ser considerada como desprezível, como mostra o circuito
equivalente da figura 2.9c. Para um transformador carregado, a corrente primária,
dependendo da natureza da carga, é

̇ ̇ ( ) ( )

( ) ( )

Sendo:

+jXL representa a reatância de uma carga indutiva e,

-jXL representa a reatância de uma carga capacitiva.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 10. Para o transformador dado no exercício 8, calcule:
a) A resistência interna equivalente referida ao primário.
b) A reatância interna equivalente referida ao primário.
c) A impedância interna equivalente referida ao primário.
d) A impedância secundária equivalente a uma carga de , Ω (resistiva), referida ao
primário.
e) A corrente primária de carga se a fonte é de 2300 V.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A aproximação da figura 2.6(c) despreza a componente de magnetização, Im, da corrente
primária, I1. Com efeito, isto significa que o ângulo de fase da carga secundária é refletido
diretamente para primário sem alteração. Se a componente de magnetização da corrente
primária é desprezada, obtém-se um diagrama fasorial equivalente simples para o
transformador carregado sob quaisquer condições de carga em atraso, em adianto ou fator
de potência (FP) unitário, como mostra a figura 2.7.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 30
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

A corrente de carga secundária refletida, , adianta-


se em relação à tensão secundária refletida da carga,
, de um ângulo de fase em avanço . A diferença
fasorial entre e , é a queda de tensão na
impedância equivalente . A queda na resistência
equivalente está em fase com . A queda na
reatância equivalente, , adianta-se 90° em relação
a . Devido a estas quedas de tensão equivalentes, a
tensão ainda se adianta em relação a de um ângulo
. O ângulo de adianto é, necessariamente menor
que , devido ao fato de o transformador ser,
(a) Carga com FP em avanço. internamente, indutivo.

A corrente de carga secundária refletida, , atrasa-se


em relação à tensão secundária refletida da carga, ,
de um ângulo de fase em avanço . A diferença fasorial
entre e , é a queda de tensão na impedância
equivalente . Neste caso, o ângulo em atraso é
maior que o ângulo de fase emm atraso , devido de o
transformador ser altamente indutivo e isto tornar o
circuito mais indutivo ainda.
(b)Carga com FP em atraso.
A corrente de carga secundária refletida, , está em
fase com a tensão secundária refletida da carga, ,a
um FP unitário, sendo resistiva a carga no secundário
do transformador. A diferença fasorial entre e ,é
a queda de tensão na impedância equivalente .A
corrente primária atrasa-se em relação a de um
pequeno ângulo . Com FP unitário no secundário, o
(c) Carga com FP unitário. primário vê um pequeno atraso entre a corrente
primária e a tensão primária, devido a indutância
interna total equivalente do transformador.
Figura 2.7 – Transformador de potência com condições variáveis de carga secundária.

2.6 REGULAÇÃO DE TENSÃO DE UM TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA


A regulação de tensão de um transformador (trafo) é definida como sendo a variação
de tensão nos terminais do secundário quando se passa da condição sem carga para carga
total. É expressa usualmente como uma percentagem da tensão em plena carga. Em
aplicações de sistemas de potência, a regulação é uma figura de mérito de um
transformador: um valor baixo indica que as variações de carga do secundário do
transformador não afetam de forma significativa o valor da tensão fornecida à carga. É
calculada supondo que a tensão do primário permanece constante quando a carga é
removida do secundário do transformador. Portanto, regulação percentual de tensão é:

(2.21)

Sendo:
= fem induzida no secundário do trafo.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 31
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

= tensão terminal no trafo com carga nominal.


( ) (2.22)

- carga capacitiva + carga indutiva

Lembrando que:

Figura 2.9 – Regulação da tensão secundária de transformadores – todas as tensões e correntes referidas ao
secundário – tensão secundária usada como fator de referência.
Fonte: KOSOW (1982).
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exercício 11. Foram feitas medidas num transformador de 500kVA, 2300/230V e
encontraram-se os seguintes valores para reatância e resistência equivalente referidos ao
secundário (230V).
, 6
, 2
Calcule:
a) A fem induzida, E2 quando o transformador estiver entregando a corrente nominal
secundária a uma carga de FP unitário.
UFT – Palmas – Engenharia Elétrica 32
Conversão de Energia
a
Prof Dra. Stefani Freitas

b) Para uma carga com cos = 0,8 em atraso.


c) Para uma carga com cos =0,6 em avanço.
d) A regulação de tensão para os itens a, b e c.
e) Comente as diferenças na regulação de tensão com referência à figura 2.9.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Você também pode gostar