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Transformadores e Retificadores

Professor Jocemar F. de Souza

Transformadores
Transformadores

OBJETIVO DA UNIDADE

Após o término desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ter aprendido o seguinte:
 Definição.
 Princípio de Funcionamento.
 Perdas.
TRANSFORMADORES
INTRODUÇÃO
Como se sabe, a eletricidade é um excelente meio de transporte de energia de um
ponto a outro, devido:
 grande capacidade de transmissão (economia de escala);
 grande flexibilidade de distribuição na medida do consumo;
 rapidez;
 não-poluente;
 eficiente (poucas perdas); e
 alta confiabilidade.

A energia elétrica, produzida em grande quantidade nas usinas, precisa ser


transmitida até os centros consumidores e, por sua vez, distribuída a cada consumidor.
Portanto, em um sistema de Geração, Transmissão e Distribuição costumam
coexistir grandes e pequenos fluxos de energia.

Figura: Representação de um sistema elétrico.

No transporte de energia elétrica existe uma relação direta entre o nível de tensão
e a quantidade de potência ativa transmitida, ou seja, quanto maior a tensão, maior a
potência transmitida.

Por exemplo, uma linha de transmissão trifásica de 230 kV é capaz de transmitir


cerca de 200 MW, uma linha de 500kV tem capacidade para transmitir 1200 MW e uma
linha de 750 kV cerca de 2200 MW. Isso então permite controlar a quantidade de potência
transmitida simplesmente variando o nível de tensão ao longo do sistema, o que é
facilmente realizado, em circuitos de corrente alternada, através de transformadores.
A título de informação geral, os níveis de tensão mais usados em todo o mundo, e
em particular no Brasil, que se referem aos valores de tensão de linha no caso trifásico:
 Transmissão: 230kV, 440kV, 500kV, 600 kV(CC), 750kV;
 Subtransmissão: 69kV, 138kV;
 Distribuição primária: 11,9kV, 13,8kV, 23kV, 34,5kV;
 Distribuição secundária: 115V, 127V, 220V; e
 Sistemas industriais: 220V, 380V, 440V, 2,3kV, 4,16kV e 6,6kV.

DEFINIÇÃO
O transformador é um dispositivo que, por meio da indução eletromagnética, transfere
energia elétrica de um ou mais circuitos (primário) para outro ou outros circuitos
(secundário), usando a mesma frequência, mas, geralmente, com tensões e
intensidades de correntes diferentes.

Então, o transformador é um conversor de energia eletromagnética, cuja operação


pode ser explicada em termos do comportamento de um circuito magnético excitado por
uma corrente alternada.

Princípio de funcionamento
Todo transformador é uma máquina elétrica cujo princípio de funcionamento está
baseado nas Leis de Faraday e de Lenz.

É constituído de duas ou mais bobinas de múltiplas espiras enroladas no mesmo


núcleo magnético, isoladas deste, não existindo conexão elétrica entre a Entrada e a
Saída do Transformador.

Uma tensão variável aplicada à bobina de entrada (primário) provoca o fluxo de uma
corrente variável, criando assim um fluxo magnético variável no núcleo.

Este fluxo magnético variável no núcleo induz uma tensão na bobina de saída (ou
secundário), que varia de acordo com a razão entre os números de espiras dos dois
enrolamentos.
Figura: Princípio de funcionamento de um transformador.

TRANSFORMADOR IDEAL
O os transformadores podem ser representados por um modelo idealizado, levando
ao que se convencionou chamar transformador ideal.
Para considerar um transformador ideal, as seguintes hipóteses devem ser
assumidas:
 todo o fluxo deve estar confinado ao núcleo e enlaçar os dois enrolamentos;
 as resistências dos enrolamentos devem ser desprezíveis;
 as perdas no núcleo devem ser desprezíveis;
 a permeabilidade do núcleo deve ser tão alta que uma quantidade desprezível de
fmm é necessária para estabelecer o fluxo.

Figura: Representação do transformador ideal.

Equação Fundamental de um Transformador Ideal


Como o fluxo que enlaça os enrolamentos primário e secundário é o mesmo e
induz uma força eletromotriz (f.e.m.) nestes. Aplicando a lei de Faraday nos dois
enrolamentos,
onde:
 V1: tensão nos enrolamento primário, [V];
 V2: tensão nos enrolamento secundário, [V];
 Δφ/Δt: taxa de variação do fluxo magnético no tempo, [Wb/s];
 N1: número de espiras no enrolamento primário;
 N2: número de espiras no enrolamento secundário.

Dividindo as duas relações e considerando as tensões no primário e secundário, é


obtida a chamada equação fundamental dos transformadores:

onde:
 a: relação de transformação.

Ou seja, as tensões estão entre si na relação direta do número das espiras dos
respectivos enrolamentos, sendo a denominada de relação de espiras de um
transformador.
Conectando ao transformador ideal uma carga Z2 ao seu secundário, conforme
mostra a figura abaixo.

Figura: Transformador ideal com carga.


O fato de se colocar a carga Z2 no secundário fará aparecer uma corrente I2 tal
que:

Esta corrente irá produzir uma força magnetomotriz (fmm 2) no sentido mostrado.
Uma força magnetomotriz (fmm1) de mesmo valor mas contrária a 2 deve aparecer no
enrolamento 1 para que o fluxo não varie. Desta maneira, tem-se que:

o que indica que as correntes no primário e secundário de um transformador ideal estão


entre si, na relação inversa do número de espiras.

TRANSFORMADOR COM PERDAS


Ao contrário do transformador ideal, os Transformadores Reais apresentam
perdas que devem ser consideradas, pois nem todo o fluxo está confinado ao núcleo,
havendo fluxo de dispersão nos enrolamentos.
Da mesma forma, há perdas ôhmicas nos enrolamentos e há perdas magnéticas
(histerese magnética) no núcleo:

1. Perdas no cobre: resultam da resistência dos fios de cobre nas espiras primárias
e secundárias. As perdas pela resistência do cobre são perdas sob a forma de
calor (Perdas Joule) e não podem ser evitadas.
2. Perdas no ferro:

a) Por Histerese: energia transformada em calor na reversão da polaridade


magnética do núcleo transformador.

b) Por correntes Parasitas: quando uma massa de metal condutor se desloca


num campo magnético, ou é sujeita a um fluxo magnético móvel, circulam nela
correntes induzidas. Essas correntes produzem calor devido às perdas na
resistência do ferro (perdas por correntes de Foucault).
A figura abaixo apresenta as perdas no transformador real, que graças às técnicas
com que são fabricados, os transformadores apresentam grande eficiência, permitindo
transferir ao secundário cerca de 98% da energia aplicada no primário:

Figura: Perdas no transformador real.

Transformador operando em Vazio


Seja um transformador operando em vazio, ou seja, sem carga conectada ao
enrolamento secundário e alimentado, no primário, por uma fonte de tensão alternada
senoidal, conforme ilustra a figura abaixo.

Figura: Transformador operando em vazio.

A tensão alternada da fonte, ao ser aplicada à bobina do primário, faz circular


nessa bobina uma corrente alternada (embora não seja senoidal, devido à histerese do
núcleo). Essa corrente, chamada corrente de excitação ou magnetização, cria um fluxo
magnético no núcleo de material ferromagnético, cujo sentido é dado pela regra da mão
direita. Esse fluxo (fluxo de magnetização) é alternado e, aproximadamente, senoidal
pois a resistência da bobina e a corrente de excitação no primário são muito pequenas.

Uma pequena parte do fluxo se dispersa no ar (fluxo de dispersão), mas uma


grande parte percorre o núcleo indo atravessar as espiras do enrolamento secundário.

Como o fluxo é alternado, ou seja, variável no tempo, uma tensão (senoidal) é


induzida no secundário, pela Lei de Faraday.
A corrente de excitação é composta pela corrente de magnetização (I0), que é
responsável pelo estabelecimento do fluxo através do núcleo, e pela corrente de perda
no núcleo, que representa a potência dissipada nas perdas por histerese e por corrente
parasita.
E, dependendo do sentido relativo dos enrolamentos (horário ou anti-horário), as
tensões V1 e V2 podem estar em fase (defasagem é nula) ou em oposição (defasagem é
180º), como uma consequência direta da Lei de Lenz.
A tensão V1 no enrolamento primário e a tensão V2 no enrolamento secundário são
normalmente diferentes em valor eficaz, guardando uma relação entre si que depende da
relação entre o número de espiras no primário (N 1) e do secundário (N2).

Contudo, com o secundário aberto a força eletromotriz (f.e.m.) E2 = ε2 é


exatamente igual a V2, e a tensão V1 é aproximadamente igual a E1=ε1. Isso ocorre pois
com o secundário em aberto e V1 na referência, a corrente de excitação é exatamente à
corrente de entrada, sendo desta maneira a tensão V1 aproximadamente igual a E1 pois a
potência de entrada sem carga é aproximadamente igual à potência dissipada no núcleo.

Transformador operando com carga


Seja um transformador alimentado no primário por uma fonte de tensão alternada
senoidal e operando em carga, ou seja, uma carga está conectada no enrolamento
secundário, conforme ilustra a figura abaixo.

Figura: Transformador operando com carga.


A corrente I2 no secundário não é mais nula, assim existe também fluxo de
dispersão no enrolamento secundário e a corrente I 1 no primário não se restringe mais à
corrente de excitação, tendo um valor bem maior que esta última.
A figura acima mostra a situação em regime permanente, que é o estágio final
alcançado após o seguinte transitório: imagine que o transformador está inicialmente em
vazio, a corrente no secundário é nula e a corrente no primário é a corrente de excitação.
Quando se conecta uma carga Zc = Z2 no secundário, a corrente I2 se estabelece
imediatamente, pois a tensão V2 está presente.

O sentido dessa corrente é dada pela Lei de Lenz, pois o fluxo magnético gerado
pela corrente do secundário deve se opor ao fluxo de magnetização produzido pelo
primário.
Portanto, o fluxo de magnetização tende a diminuir no enrolamento primário,
provocando uma reação também baseada na lei de Lenz, ou seja, a corrente I1 no
primário aumenta para evitar que o fluxo de magnetização decresça, atingindo o regime
permanente após algum tempo.
Em outras palavras, o nível da corrente no primário de um transformador sob carga
tem uma relação direta com o nível da corrente no secundário. Essa corrente no primário
é aproximadamente senoidal, pois é muitas vezes maior que a corrente de excitação que
é não senoidal.

MODELO EQUIVALENTE DO TRANSFORMADOR


O circuito equivalente do transformador é constituído de elementos de circuito:
resistências e indutâncias.
A representação das perdas Joule nos enrolamentos é realizada através da
inserção das resistências R1 e R2, como mostra a figura abaixo, as quais são as
resistências próprias dos enrolamentos do primário e do secundário.

Figura: Representação das perdas Joule do transformador.


Os efeitos do fluxo de dispersão no primário e no secundário do transformador são
simulados por reatâncias indutivas, denominadas reatâncias de dispersão, tais que as
quedas de tensão nessas reatâncias são numericamente iguais às parcelas das fem’s
induzidas pelos respectivos fluxos de dispersão.
A figura a seguir mostra a representação da dispersão nos enrolamentos primário e
secundário.

Figura: Representação da dispersão no transformador.

As perdas no ferro podem ser representadas por uma resistência, denominada de


resistência de perdas no ferro, em paralelo com a f.e.m induzida pelo fluxo mútuo. Veja
abaixo a ilustração.

Figura: Representação das perdas no ferro do transformador.

O efeito da permeabilidade finita do fluxo ferromagnético é representado inserindo


uma reatância indutiva em paralelo com a f.e.m induzida, pela qual flui a corrente I 0.
Essa reatância, mostrada na abaixo, é denominada reatância de magnetização do
transformador.

Figura: Representação da permeabilidade do fluxo magnético do transformador.


Assim, o circuito equivalente do transformador real é mostrado abaixo:

Figura: Circuito equivalente do transformador.

onde:
R1, R2: resistência das bobinas, [Ω].
X1, X2: indutância de dispersão, [Ω].
Rf: perdas no ferro, [Ω].
Xm: reatância de magnetização, [Ω].

A corrente de excitação ou de magnetização (I0) possui uma forma não senoidal


devido às não idealidades do núcleo. Veja:

Figura: Corrente de magnetização.


Simplificação do Circuito Equivalente
Em estudos em que a precisão não é tão rigorosa, algumas simplificações podem
ser feitas face às seguintes evidências:

 as resistências próprias dos enrolamentos são reduzidas, na medida em que o


cobre é bom condutor;

 a impedância resultante do paralelo entre a resistência de perdas no ferro e a


reatância de magnetização é muito maior que as demais impedâncias do circuito
equivalente do transformador.

O circuito equivalente elétrico simplificado é apresentado abaixo:

Figura: Circuito equivalente simplificado.

Na qual,

O DESEMPENHO DO TRANSFORMADOR
O desempenho de um transformador deve ser levado em consideração em
aplicações práticas. Neste caso, são importantes as relações de tensões, a potência de
saída, o rendimento e a variação da tensão com a carga. Estes dados podem ser obtidos
seja das especificações do fabricante (características de placa), seja de medidas
experimentais ou ainda de cálculos baseados em um modelo de circuito.

Características de Placa
O fabricante de uma máquina elétrica indica, normalmente, nas características de
placa as condições de operação normal do transformador.
Uma característica típica de placa pode ser:
Transformador 4400/220V, 10kVA, 60Hz.
Estas características indicam que com uma freqüência de 60Hz as tensões
nominais representam a operação próxima do joelho da curva de magnetização (região
que separa a região considerada linear da região onde ocorre a saturação) e a corrente
de excitação e as perdas no núcleo não são excessivas. Neste caso, as tensões 4400 e
220V são ditas tensões eficazes nominais, em volts, das duas bobinas, sendo que
qualquer uma pode ser o primário ou secundário.

Usando qualquer lado como secundário a saída nominal será 10kVA, o que é
importante para avaliar a corrente máxima permitida.

Rendimento
É a relação entre a potência consumida na saída do transformador e a potência
fornecida à entrada do transformador. Assim temos:

Regulação de Tensão
Para manter na saída de um transformador, sob carga variável, um nível de tensão
constante, é empregado um regulador que pode estar presente no próprio transformador,
através de derivações na bobina do primário.
Como exemplo, seja o transformador com 1100 espiras no primário e 500 espiras
no secundário apresentado abaixo.

Figura: Transformador com tap variável.

Na posição OB tem-se uma relação de espiras a = 1000/500 = 2, e desta maneira


para uma tensão de entrada de 220V teremos 110V na saída. Se devido a uma variação
da carga, a tensão na saída cair, deve-se operar as derivações para corrigir este
problema, ou seja, deve-se aumentar a tensão no secundário.
Como V2=V1/a, o valor de a deve diminuir.
Assim, se N1 passar para a posição A, teremos 900/500 = 1,8, que com V1 = 220V
resultará numa tensão maior (V2 = 122,22V), compensando a queda de tensão.

A regulação (ℜ) pode ser avaliada pela seguinte expressão:

A regulação pode ser positiva ou negativa e está ligada a uma diminuição ou


aumento do número de espiras (para o regulador atuando no primário). Uma fórmula
aproximada é dada por:

Importante:
Para se determinar a regulação, deve-se considerar a tensão V2 como sendo a
nominal, ou seja, V2=(N2 / N1) V1 e então calcular V1 para o V2 estabelecido, utilizando-se
o circuito equivalente do transformador.

MARCAS DE POLARIDADE
As marcas de polaridade são os símbolos utilizados para identificar as
polaridades dos terminais de um transformador.
Num transformador, a intensidade da corrente secundária e a sua relação de fase
com a tensão secundária dependem da natureza da carga, entretanto, a cada instante o
sentido dessa corrente deve ser tal que se oponha a qualquer variação no valor do fluxo
magnético Ø.
Esta condição está de acordo com a Lei de Lenz: o sentido da corrente induzida
sempre contrária a causa que lhe deu a origem.

Na ilustração abaixo, há um transformador monofásico com enrolamento do


primário no sentido anti-horário e o do secundário no sentido horário. Considerando a
corrente instantânea I1 crescente entrando no terminal superior do enrolamento primário,
criará um fluxo magnético Ø crescente, que circulará no núcleo no sentido horário (regra
da mão direita).
Para que a lei de Lenz seja satisfeita, a corrente secundária I2 deverá sair do
terminal superior do enrolamento secundário.

Figura: Transformador – enrolamento secundário no sentido horário.

A seguir, vemos um transformador monofásico, com uma única diferença em


relação à figura anterior: o enrolamento do secundário está no sentido anti-horário. Para
este caso, a corrente secundária I2 deverá sair do terminal inferior do enrolamento
secundário.

Figura: Transformador – enrolamento secundário no sentido anti-horário.

É óbvio que, o sentido da corrente instantânea no secundário depende


exclusivamente do sentido relativo dos enrolamentos. Para indicar os sentidos dos
enrolamentos é que se utiliza o conceito de polaridade.

Regra de Polaridade:
No enrolamento primário, a corrente entra pela marca de polaridade, enquanto que
no enrolamento secundário a corrente sai pela marca de polaridade.

Polaridade Aditiva ou Subtrativa


Polaridade Subtrativa: é quando os fluxos dos enrolamentos primário e
secundário se subtraem. Ao ligar um terminal primário a um terminal secundário
correspondente e aplicar a tensão a um dos enrolamentos, a tensão entre os terminais
não ligados é igual à diferença das tensões nos enrolamentos. Veja as marcas de
polaridade.

Figura: Transformador com polaridade subtrativa.

Polaridade Aditiva: é quando os fluxos dos enrolamentos primário e secundário


se somam. Ao ligar um terminal primário a um terminal secundário não correspondente e
aplicar a tensão a um dos enrolamentos, a tensão entre os terminais não ligados é igual à
soma das tensões nos enrolamentos. Veja as marcas de polaridade abaixo.

Figura: Transformador com polaridade aditiva.

Teste de Polaridade
Para determinar a polaridade de um transformador pode ser utilizada uma tensão
de corrente contínua (bateria de 6 a 10 V), uma chave e um galvanômetro com zero
central, ligados conforme o esquema a seguir.

Figura: Esquema para teste de polaridade de um transformador.

O procedimento deste método é o seguinte: ao fechar a chave faca, deve-se


observar o sentido da deflexão do ponteiro do galvanômetro. Se a deflexão for no sentido
positivo, a polaridade será subtrativa; se a deflexão por no sentido negativo, a polaridade
será aditiva.

TRANSFORMADOR MONOFÁSICO E TRIFÁSICO


Os transformadores podem ser monofásicos ou trifásicos, dependendo do tipo de
circuito onde estão conectados.

Transformador Monofásico
Um transformador monofásico é constituído por dois enrolamentos (bobinas)
instalados em um mesmo núcleo de material ferromagnético
Conforme já visto, um dos enrolamentos é chamado primário e o outro chamado
secundário, sendo que cada um deles pode ter um número de espiras diferentes.

Figura: Representação de um transformador monofásico.

Relação de Transformação
A relação de transformação em um transformador monofásico, como já foi vista,
é definida como a relação entre as tensões primária e secundária:

onde:
 V1: valor da tensão eficaz no enrolamento primário, [V];
 V2: valor da tensão eficaz no enrolamento secundário, [V].

Especificação de um transformador monofásico


Os transformadores monofásicos são normalmente especificados usando dois
parâmetros:
 sua relação de transformação (a).
 sua potência aparente (VA).
 sua frequência de operação (Hz).
Por exemplo, um transformador abaixador para uso doméstico tem a seguinte
especificação: 220/127 V, 300VA, 60Hz.

Em geral, os transformadores monofásicos possuem pequena capacidade de


potência aparente, chamada capacidade de transformação (1000VA). Quando há a
necessidade de maiores potências são utilizados transformadores trifásicos.

Transformador Trifásico
Um transformador trifásico é constituído de pelo menos três enrolamentos no
primário e três enrolamentos no secundário, os quais podem estar conectados tanto em Y
(estrela) quanto em Δ (triângulo ou delta).
A ligação em Y ou Δ dos enrolamentos é estabelecida através da conexão dos
seus terminais, conforme mostra a figura abaixo.

Figura: Conexão Y ou Δ.

Essas várias formas de conexão dão origem aos quatro tipos de ligação dos
transformadores trifásicos: Y-Y, Y-Δ, Δ-Y e Δ-Δ.
Cada um desses tipos possui propriedades diferentes que determinam o uso mais
adequado conforme a aplicação.
Os transformadores trifásicos são normalmente construídos de duas maneiras: em
banco ou mononuclear. A escolha da associação adequada depende de diversos fatores
como: acesso a neutro, bitola dos condutores por fase, sistema de aterramento, nível de
isolamento, defasagem angular requerida, etc.
Um banco trifásico é constituído por três transformadores monofásicos idênticos,
sendo que os respectivos enrolamentos primários, bem como os respectivos
enrolamentos secundários, podem estar conectados em Y ou em Δ.
Figura: Representação de um transformador trifásico (Y-Δ).

A vantagem da conexão em banco trifásico é a facilidade de manutenção e


substituição dos transformadores monofásicos, bem como permite modularidade na
instalação. Outra maneira de construir transformadores trifásicos é utilizar uma estrutura
mononuclear.
Um transformador trifásico mononuclear é constituído de apenas um núcleo de
material ferromagnético sobre o qual são colocados os enrolamentos primários e
secundários idênticos, conforme ilustrado abaixo, na qual se representa uma conexão Y-
Δ.
O transformador com núcleo trifásico leva vantagem sobre a associação ou banco
de transformadores monofásicos, devido à economia de ferro no núcleo: como os fluxos
das três fases somam zero a todo instante, pode-se eliminar o caminho de retorno do
fluxo, o que leva a uma estrutura magnética plana com uma perna do núcleo para cada
fase.

Figura: Transformador trifásico mononuclear com ligação Y-Δ.


Relação de Transformação
Em transformadores trifásicos, a relação de transformação é dada pelo quociente
entre a tensão de linha do primário e a tensão de linha do secundário.
De acordo com o tipo de conexão, a relação de transformação pode não ser igual
à relação de espiras. Isso acontece nas formas de conexão Y-Δ e Δ-Y. Seja um banco
trifásico de três transformadores monofásicos ideais, conectados na forma Y-Δ, conforme
mostrado a seguir.

Figura: Transformador trifásico com ligação Y-Δ.

Nesta figura, os enrolamentos aa' (em vermelho) correspondem ao primeiro


transformador monofásico, os enrolamentos bb' (em verde) correspondem ao segundo
transformador monofásico e os enrolamentos cc' (em azul) correspondem ao terceiro
transformador monofásico do banco.
A relação de espiras a = N1/N2 se refere aos enrolamentos aa', bb', cc'.
Se o primário está conectado em Y e a tensão de linha é V1, então a tensão de
fase é Vf1=V1/√3. Essa tensão de fase está aplicada no enrolamento primário a e
utilizando a equação fundamental das tensões, é obtida a tensão de fase no enrolamento
secundário a' como: Vf2=V1/a√3

Lembrando que na conexão Δ a tensão de fase é igual a tensão de linha, então a


relação de transformação fica:

Evidentemente a relação de transformação é diferente da relação de espiras. O


mesmo raciocínio é utilizado para obter a relação entre as correntes de linha no primário e
no secundário.
Uma situação semelhante será observada no caso de uma conexão Δ-Y, conforme
ilustrado abaixo. Essa forma de ligação é normalmente utilizada nos transformadores
abaixadores de tensão nas redes urbanas de distribuição, em que os alimentadores
primários ficam conectados no lado primário do transformador (Δ) e do lado secundário
(Y) saem os alimentadores secundários de distribuição com neutro (220V e 127V).

Figura: Transformador trifásico com ligação Δ-Y.

Nesse caso, a relação de transformação é dada por:

É importante destacar que a relação de transformação e a relação de espiras


coincidem no caso das conexões Y-Y e Δ-Δ.

Importante: Uma característica da associação Y-Δ é o deslocamento angular de ±


30° que resulta entre as tensões terminais correspondentes do primário e do secundário.
O sentido da defasagem depende da sequência das fases. Esse deslocamento
pode ser percebido através de um diagrama fasorial.
A tensão de linha VAB do secundário está atrasada de 30° em relação à tensão
correspondente Vab do primário. Se trocarmos a sequência das fases, a defasagem muda
de sinal. Portanto, é necessário tomar cuidado com as defasagens quando, por exemplo,
desejasse conectar dois transformadores trifásicos em paralelo.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Questão 1: O primário de um transformador alimentado por uma corrente elétrica


alternada tem mais espiras do que o secundário. Nesse caso, comparado com o primário,
no secundário:

a) a diferença de potencial é a mesma e a corrente elétrica é contínua.

b) a diferença de potencial é a mesma e a corrente elétrica é alternada.

c) a diferença de potencial é menor e a corrente elétrica é alternada.

d) a diferença de potencial é maior e a corrente elétrica é alternada.

e) a diferença de potencial é maior e a corrente elétrica é contínua.

Gabarito: C, O enrolamento primário do transformador possui mais espiras do que o


secundário, sendo assim, o transformador é um abaixador de tensão, ou seja, a tensão é
menor no enrolamento secundário do transformador. A resposta correta é dada na
alternativa c.

Questão 2: As companhias de distribuição de energia elétrica utilizam transformadores


nas linhas de transmissão. Um determinado transformador é utilizado para baixar a
diferença de potencial de 3 800 V (rede urbana) para 115 V (uso residencial).

Nesse transformador:

I. O número de espiras no primário é maior que no secundário;

II. A corrente elétrica no primário é menor que no secundário;

III. A diferença de potencial no secundário é contínua.

Das afirmações acima:

a) Somente I é correta.

b) Somente II é correta.

c) Somente I e II são corretas.

d) Somente I e III são corretas.

e) I, II e III são corretas.


Gabarito: C,
Afirmação I – Verdadeira
A relação entre o número de espiras nos enrolamentos primário e secundário do
transformador é dada pela equação:
NP = VP
NS VS
Dados:
VP = 3.800V e VS = 115 V
NP = 3.800
NS 115
NP = 33,04
NS
NP = 33,04 NS
NP > NS

Afirmação II – Verdadeira
A relação entre a corrente elétrica e os enrolamentos primário e secundário do
transformador é dada por:
VP iP = VS iS
3.800iP = 115 iS
iP = 115 iS = 0,03 iS
3800
iP <iS

Afirmação III – Falsa


Os transformadores só funcionam com tensões alternadas.
Alternativa correta – c
Questão 3: O transformador é um dispositivo destinado a transmitir energia elétrica ou
potência elétrica de um circuito a outro. Esse dispositivo do século XIX funciona através
da indução de corrente elétrica, seguindo os princípios básicos da Lei de Faraday e da Lei
de Lenz. Funcionando apenas com corrente alternada, o transformador tem papel
fundamental no uso doméstico e na transmissão de energia elétrica das grandes usinas
de energia.

Utilize o esquema do funcionamento do transformador ideal para avaliar quais afirmações


a seguir estão corretas:

I - A corrente alternada aplicada no enrolamento primário gera um fluxo magnético


constante que, transmitido pelo núcleo, fornece um fluxo magnético constante no
enrolamento secundário e, consequentemente, uma corrente alternada.
II - Quanto maior o número de espiras, maior será a voltagem gerada no transformador,
apesar da potência nos dois enrolamentos ser igual.
III - Como a potência nos enrolamentos é a mesma, o lado de maior tensão tem a menor
corrente.
a) I, II e III. c) II e III.
e) II.
b) I e II. d) III.

Gabarito: C, conforme regra de transformadores.


Questão 4: A corrente elétrica que passa pelo enrolamento primário do transformador,
que tem 800 espiras, é i P = 15A. Calcule a corrente no enrolamento secundário do
transformador, sabendo que ele possui 100 espiras.

Gabarito:

Questão 5: A tensão elétrica fornecida pelas empresas energéticas em alguns estados do


Brasil é 220V, porém muitos aparelhos domésticos trabalham com tensões bem inferiores
e já possuem transformadores integrados. Supondo que um aparelho funcione com
tensão elétrica de 20V e possua um transformador integrado com 1500 espiras no
enrolamento primário. Quantas espiras são necessárias no enrolamento secundário para
que a tensão não supere os 20V?

Gabarito:
Questão 6: Marque a alternativa ERRADA.
a) Transformadores são dispositivos eletromagnéticos que transformam o valor da tensão
elétrica alternada, aplicada em sua entrada, para uma tensão alternada diferente na
saída.
b) Os transformadores podem ser usados tanto para aumentar quanto para diminuir o
valor da tensão.
c) Um transformador consiste em duas bobinas enroladas no mesmo núcleo de ferro.
d) Um transformador consiste em uma bobina enrolada em dois núcleos de ferro.
e) Em transformadores com dois enrolamentos, é comum denominá-los de enrolamento
primário e enrolamento secundário.

Gabarito: D, conforme teoria de transformadores.

Questão 7: Um transformador abaixador tem no lado primário uma tensão de 13,2 kV e


uma corrente de 2 A. Se a tensão no secundário é de 220 V, logo a corrente do lado
secundário, desprezando as perdas, é igual a:
a) 120 A. c) 200 A.
e) 500 A.
b) 150 A. d) 400 A.

Gabarito: A, conforme teoria de transformadores.

Questão 8: A tensão elétrica fornecida pelas empresas energéticas em alguns estados do


Brasil é 220V, porém muitos aparelhos domésticos trabalham com tensões bem inferiores
e já possuem transformadores integrados. Supondo que um aparelho funcione com
tensão elétrica de 20V e possua um transformador integrado com 1500 espiras no
enrolamento primário. Quantas espiras são necessárias no enrolamento secundário para
que a tensão não supere os 20V?

Gabarito: Ns = 137 espiras, conforme teoria de transformadores.


Questão 9: As companhias de distribuição de energia elétrica utilizam transformadores
nas linhas de transmissão. Um determinado transformador é utilizado para baixar a
diferença de potencial de 3 800 V (rede urbana) para 115 V (uso residencial).
Nesse transformador:
I. O número de espiras no primário é maior que no secundário;
II. A corrente elétrica no primário é menor que no secundário;
III. A diferença de potencial no secundário é contínua.
Das afirmações acima:
a) Somente I é correta. c) Somente I e II são corretas.
e) I, II e III são corretas.
b) Somente II é correta. d) Somente I e III são corretas.

Gabarito: C, conforme teoria de transformadores.


Referências

HARARI, Yuval. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. Edição em Português.


Editora L&PM; 1ª edição, de 2 março de 2015.

BELICO, Líneo dos Reis. Geração de energia elétrica. Editora Manole; Revisada,
ampliada e atualizada edição, de 24 de julho de 2017.

ATKINS, P.W. &JONES, L. Princípios de química: Questionando a vida moderna e o


meio ambiente. São Paulo: Bookman, 2014.

POMEROL, C.; LAGABRIELLE, Y.; RENARD, M.; GUILLOT, S. Princípios de geologia-


técnicas, modelos. 14. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

NUSSENZVEIG, Herch Moysés . Curso de Física Básica: Fluidos oscilações e ondas


calor. 5.ed. São Paulo: Blucher, 2017. v.2.

DEL TORO, Vicent. Fundamentos de Máquinas Elétricas. 1º Edição. Rio de Janeiro:


LTC. 2013.

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